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Fátima Garcia Chaves Lúcia Helena Borges de Oliveira Maria Emília Silva Loyola Maria Soledade Gomes Borges Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Fundamentos da Educação Infantil Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Revisão textual xxxxxxx Diagramação Jessica de Paula Ilustrações xxxx Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Fátima Garcia Chaves Mestre em Educação – Formação de Professores pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Planejamento Educacional pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em em Educação Escolar – Letras, pela Faculdade Politécnica de Uberlândia – MG. Especialista em Educação a Distância – EAD pela Universidade de Uberaba (Uniube). Graduada em Licenciatura Plena Letras – Português/ Inglês por esta universidade e em Pedagogia – Licenciatura Plena pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ituverava (FFCL). Atua no Departamento de Formação Profissional da Secretaria Municipal de Educação de Uberaba. É docente nos cursos de Pedagogia e Educação Física da Universidade de Uberaba (Uniube). Maria Emília Silva Loyola Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba. Especialista em Psicopedagogia pela Uniminas. Graduada em Psicologia pela Universidade de Uberaba (Uniube). Atua na área clínica em Uberaba. Maria Soledade Gomes Borges Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Planejaneto Educacional pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e em Orientação Educacional (Uniube). Graduada em Pedagogia pelas Faculdades Integradas Santo Tomás de Aqino (Fista); em Piano e em Música (Faculdade de Artes de Uberlândia); em Orientação Educacional pela Faculdade de Filosofia e Letras de Itapetininga (FFCLI) e em Supervisão Escolar de 1º e 2º graus (FISTA). É docente da Uniube. Sobre os autores Lúcia Helena Borges de Oliveira Coach Integral sistêmico formada pela FebraCIS, com titulação internacional, Universidade Americana da Flórida (EUA). Especialista em Avaliação na Área Escolar pelo Centro Universitário de Belo Horizonte-UNI-BH e em Processo de Ensino Aprendizagem (Faculdades Claretianas). Ministra palestras e cursos na área de Educação em Uberaba e região. Atualmente está atuando como gestora do Curso de Pedagogia a Distância e docente do Curso de Pedagogia Presencial na Universidade de Uberaba. Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Didática do Terceiro Grau pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialista em Psicopedagogia pela Universidade de Uberlândia - (UFU). Especialista em Metodologia do Ensino pela Universidade de Uberaba. (Uniube). Especialista em Supervisão Escolar pela Faculldade de Filosofia, Ciencias e Letras José Olympio (FFCLJO), Especialista em Orientação Educacional pela Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Ituverava (FFCLI); Especialista em Metodologia de ensino e da Educação a Distância (Uniube). Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Ituverava (FFCLI). É docente da Uniube. Sumário Apresentação ........................................................................................VII Capítulo 1 Concepção de Infância ........................................................ 1 1.1 O caráter histórico da concepção de infância ..................................................... 6 1.2 Uma nova “concepção” do ser criança .............................................................. 11 1.3 Considerações finais .......................................................................................... 26 Capítulo 2 Repensando a aprendizagem da criança na dimensão globalizadora do Referencial Curricular Nacional na Educação Infantil .......................................... 31 2.1 Refletindo sobre a história da Educação Infantil ............................................... 33 2.2 O cuidar e o educar sob a ótica do RCNEI2 ..................................................... 45 2.3 A importância do jogo no desenvolvimento infantil2 ......................................... 52 2.4 Compreendendo melhor os estágios sensório motor e pré-operatório do desenvolvimento infantil ................................................................................... 56 2.5 Refletindo sobre os princípios educativos citados no volume 1 do RCNEI ....................................................................................................... 66 2.5.1 O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc. ................................................................... 66 2.5.2 O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensa- mento, interação e comunicação infantil. ...................................................... 67 2.5.3 O acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética.. ... 68 2.5.4 A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma .................................................................................. 69 2.5.5 O atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade . ........................... 70 2.6 Conclusão...................................................................................................... 70 Capítulo 3 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a Base Nacional Comum Curricular - BNCC ...... 81 3.1 A etapa da Educação Infantil ......................................................................... 82 3.2 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ................................................ 86 3.2.1 Os campos de experiência ........................................................................90 3.2.2 O eu, o outro e o nós ...............................................................................92 3.2.3 Corpo, gesto, movimentos ........................................................................95 3.2.4 Traços, sons, cores e formas .....................................................................98 3.2.5 Escuta, fala, pensamento e imaginação .................................................100 3.2.6 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações...................103 3.3 Finalizando... ............................................................................................... 106 Capítulo 4 A identidade do professor da Educação Infantil ............ 109 4.1 Caminhos percorridos pelo profissional que atua na Educação Infantil: o contexto social e histórico da formação profissional do professor que atua na Educação Infantil ......................................................................111 4.1.1 Alguns recortes da história da Educação Infantil ...................................116 4.1.2 Uma breve retrospectiva da Educação Infantilna Europa: .....................117 4.1.3 A história da Educação das pequenas crianças brasileiras ...................119 4.1.4 Profissionais da Educação Infantil ...........................................................122 4.2 A formação profissional do professor que atua na Educação Infantil e as políticas públicas que nortearam sua construção... .................................... 106 4.3 Campos de atuação do professor de Educação Infantil ... ....................... 134 4.4 Considerações finais ... ............................................................................... 139 Você se lembra da cantiga “Pirulito que bate bate/pirulito que já bateu [...]”? É comum ouvir esta e outras cantigas de roda quando adentramos as escolas de Educação Infantil. As canções, as brincadeiras e os trejeitos das crianças nos levam a perceber o quanto esse momento da vida é singular. Por este motivo, enquanto futuro(a) professor(a), você não pode deixar de se atentar para as especificidades inerentes a este nível de ensino, que exige conhecimentos próprios e adequados a cada faixa etária das crianças em questão. Neste livro, traremos nosso olhar para este momento da infância, de 0 a 5 anos, tentando perceber suas singularidades e, principalmente, compreender como foi trilhado o caminho da Educação Infantil em nosso País. Sendo assim, apresentaremos os documentos norteadores para esta etapa de ensino e pensaremos sobre a sua identidade, futuro(a) professor(a). No primeiro capítulo, ”Concepção de Infância”, você terá a oportunidade de conhecer as concepções de infância que perpassaram os diferentes momentos da história da humanidade, considerando, como afirmam Steinberg e Kincheloe (2001, p.11), que “a infância é um artefato social e histórico e não uma simples entidade biológica”. Isso significa que é a sociedade que cria a ideia de infância e, sempre que mudanças sociais acontecem, também a ideia de infância se altera. No segundo capítulo “Repensando a aprendizagem da criança na dimensão globalizadora do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil”, a autora tem como objetivo possibilitar a você, estudante de Pedagogia, uma reflexão sobre a aprendizagem e o Apresentação VIII UNIUBE desenvolvimento da criança. Contemplando a perspectiva do referido referencial, veremos que somente em 1998 é que surgiram as primeiras diretrizes para Educação Infantil no Brasil, a partir de um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, RCNEI, que foi desenvolvido para servir como um guia de reflexão para os profissionais que atuam diretamente com crianças na primeira etapa da Educação Básica. No terceiro capítulo “As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a Base Nacional Comum Curricular – BNCC”, a autora nos fornece subsídios teórico-metodológicos à prática educativa, porque acredita na importância de garantir o direito de as crianças de zero a cinco anos terem acesso a experiências significativas de conhecimento e de desenvolvimento integral. Nesta perspectiva, busca estes fundamentos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI e na Base Nacional Comum Curricular - BNCC, pois esses são documentos legais que orientam a prática pedagógica na Educação Infantil. Finalizando, no quarto capítulo “A identidade do professor da Educação Infantil” a autora aborda os aspectos legais e históricos por meio de documentos que subsidiam a formação do professor de Educação Infantil atualmente. Este estudo, à luz dos desafios trilhados na recente história da Educação Infantil no Brasil, traz algumas reflexões necessárias, para que você, aluno(a) do curso de Pedagogia, compreenda a importância de ser professor(a) nesta etapa da Educação Básica. Entendemos que tais estudos contribuirão para que você comece a entender a importância da Educação Infantil e reflita sobre ser professor desse nível de ensino, a favor de uma prática pedagógica que considere as singularidades da infância, respeitando-a e contribuindo adequadamente para o desenvolvimento da criança. Bons estudos! Maria Emília Silva Loyola Maria Soledade Gomes Borges Introdução Concepção de InfânciaCapítulo 1 Para iniciarmos este estudo quero contar para você um fato relatado por uma professora que pode nos ajudar a refletir sobre o caráter histórico da concepção de infância. Figura 1: Jardins do Palácio de Versalhes. Fonte: Foto do acervo particular de Marília de Dirceu. Em uma viagem que fez à Europa, essa professora visitou o Museu de Versalhes, onde outrora fora o Palácio de Versalhes, na França. O guia que orientava a visita ia informando: aqui ficava a ala da rainha; aqui eram os seus aposentos; deste mesmo lado, os jardins da rainha; do outro lado, ficava a ala do rei; aqui eram os seus 2 UNIUBE aposentos e os jardins do rei; ali, a ala comunitária, a cavalariça. As descrições prosseguiam até que, de repente, o filho desta professora, Hugo, de 12 anos, já incomodado com uma certa dúvida, perguntou: – E onde ficavam as crianças neste palácio? Onde era o quarto delas? Surpresa geral! Ninguém havia pensado nisso. Então o guia explicou que era comum que as crianças das classes altas fossem criadas por governantas e amas, e que morassem em outro local, distante dos pais, e viessem visitá-los de vez em quando. Isso significa falta de amor pelas crianças? É o que vamos buscar entender, com os olhos do passado, neste capítulo, pois, sem saber, Hugo tocou em um assunto que contém muitas lacunas. O conhecimento histórico disponível sobre a infância na história, segundo Peter N. Stearns, ainda é muito falho. Figura 2: Quadro de Maria Antonieta. Fonte: Foto do acervo particular de Marília de Dirceu Daher. UNIUBE 3 Todas as sociedades, ao longo da história, principalmente, famílias, lidaram amplamente com a infância e a criança. Muitas características são padronizadas, independentemente de tempo ou lugar. Sempre e em toda parte as crianças precisam receber alguma preparação para o estágio adulto. Necessitam apren der a lidar com determinadas emoções, como raiva ou medo, de forma socialmente aceitável. Sempre e em toda parte, em vista do longo período de fragilidade da espécie humana, crian ças pequenas requerem que lhes providenciem alimentação e cuidados físicos. (...) As doenças infantis, sua prevenção, assim como os possíveis acidentes são preocupação dos pais desde os tempos mais remotos até os dias de hoje. Algum tipo de socialização para os papéis de gênero é parte inevitável do processo de lidar com a infância, mesmo nos mais igualitários cenários contemporâneos. (STERNS, 2006, p. 11). Entretanto, Sterns (2006), nos seus estudos sobre a infância, ob servou que existem variações muito grandes de uma sociedade para a outra e de um tempo para outro. Além disso, ele cita o fato de que existem pouquíssimos registros diretos: “As pessoas rememoram suas infâncias, adultos escrevem sobre crianças e há objetos – berços, brinquedos etc., mas isso também é trazido por intermediários adultos.” (p. 13). Por isso ele diz que é muito difícil saber realmente como as crianças do passado viveram; e que, mesmo hoje, é complicado saber como elas vivenciam o trabalho ou a escola, pois tratar da questão da infância envolve posicionamentos diferentes e que podem ser muito pessoais. Philippe Ariès, que concentrou seus estudos em crianças das elites, afirma que, para que o conceito de infância, como momento de desenvolvimento do ser humano, fosse construído, foram 4 UNIUBE necessários vários séculos. Ariès evidencia como a ideia da infância, inexistente até o fim da Idade Média, foi se constituindo até começar a ser reconhecida. O sentimento da infância era inexistente. Isso não significa que havia desprezo ou abandono das crianças, pois o sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde àconsciência da particularidade infantil. Essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. (Idem, p. 156). Sabemos que esses processos educativos nos diferentes momentos da história da humanidade ocorreram de forma intimamente ligada aos contextos de cada epóca, de tal forma que a Educação sempre esteve condicionada pela situação histórica vi vida pelos seres humanos, o que inclui: as concepções filosóficas predominantes, a visão de vida e de mundo, o progresso científico e as atitudes sociais e políticas relacionadas ao fenômeno educativo em cada período. Para dar ênfase aos diferentes momentos históricos e seus reflexos na Educação, foram feitos recortes (didáticos), embora a realidade seja única, indivisa e processual. Neste capítulo estaremos complementando as informações so bre essa viagem no tempo e espaço, tratando desse tema que está intimamente ligado aos processos educativos: a concepção de infância que se pode (ou não) perceber em cada período estudado. Para isso, teremos como ponto de partida o caráter histórico da concepção de infância e uma nova concepção do ser‑criança. Abordaremos também a influência de Rousseau nas UNIUBE 5 mudanças que ocorreram em relação à compreensão da criança, não mais vista como um adulto em miniatura ou alguém que se deve preparar para ser um adulto mais tarde, mas como um ser importante por si mesmo, em sua própria fase do desenvolvimento, e a influência dessas ideias na sua proposta educativa. Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • explicar o caráter histórico da concepção de infância; • identificar as várias concepções de infância propostas nos diversos momentos históricos; • explicar as mudanças que ocorrem na sociedade atual e a concepção de infância daí decorrente; • destacar as ideias centrais do pensamento de Rousseau com relação à infância; • mostrar a importância do pensamento de Rousseau na compreensão do ser-criança. 1.1 O caráter histórico da concepção de infância 1.2 Uma nova “concepção” do ser-criança 1.3 Considerações finais 1.4 Conclusão Objetivos Esquema 6 UNIUBE O caráter histórico da concepção de infância1.1 “Da Antiguidade, passando pelas comunidades primitivas, educação hebraica, grega, romana, Idade Média, sociedades camponesas e artesãs, podemos ver o quanto a ideia de infância toma forma e se desconfigura, não de forma linear ou gradativa no tempo, mas com idas e vindas: ora se dá valor à infância, ora a desconhece; ora a criança é algo substituível, ora imprescindível.” (LOYOLA, 2004) . Para muitos de nós, educadores, falar de fatos relativos à infância se constitui em momentos de prazer e descontração. Lembrar brincadeiras, peraltices e tantos espaços repletos de jogos vivenciados com os companheiros nos faz “viajar” na própria história e recordar saudosos momentos. De forma geral, a infância é concebida como uma fase importante da vida de todo ser humano, sendo vista como período preparatório para a vida adulta. Muitos estudos, entretanto, têm apontado a infância enquanto momento importante, não por anteceder a fase adulta, mas enquanto momento próprio da vida. Essas pesquisas são mais recentes e concebem a criança, como ser que é, por inteiro. Considerando as crianças como atores sociais que pensam, sentem, criticam e interpretam a realidade de forma peculiar, essas novas concepções valorizam o que as crianças produzem, enxergando-as como produtoras de cultura. Queremos chamar a atenção para o fato de que a concepção de infância não é algo definido e imutável, mas que varia de acordo com o momento histórico vivido por cada sociedade. Steinberg e Kincheloe (2001) afirmam que a infância é um artefato social e histórico, não uma simples entidade biológica. Isso significa que é a sociedade que cria a ideia de infância e ela se altera sempre que mudanças sociais surgem. Artefato Qualquer objeto construído. Neste caso, concepções de infância construídas socialmente ao longo dos tempos. UNIUBE 7 Stearns (2006) explica da seguinte forma as variações encontradas por meio de seus estudos sobre a infância nos diferentes tempos e espaços: Algumas sociedades admitem o trabalho da maior parte das crianças pequenas e, com frequência, trabalho pesado. Outras sociedades ficam chocadas com esse tipo de violação da inocência e vulnerabilidade infantis. Para algumas sociedades as crianças deve riam ser felizes. Para outras, embora não defendendo infâncias infelizes, essa preocupação parece estranha. Algumas sociedades admitem que grande parte das crianças pequenas morrerá e, tendo em vista esse fato, organizam sua relação com a infância, incluindo a forma como discutem a morte com as crianças. Outras trabalham arduamente para prevenir a morte das crianças. Algumas sociedades acham os bebês encantadores, outras comparam-nos aos animais. Algumas sociedades aplicam rotineiramente disciplina física nas crianças, outras ficam chocadas com isso: indígenas americanos, no século XVII, ficaram horrorizados com as surras que os imigrantes europeus davam nos filhos. Algumas sociedades admitem que a infância termina por volta da puberdade e há muitos exemplos de grandes reis e conquistadores que começaram suas carreiras na adolescência, como Alexandre, o Grande. Outras sociedades, no entanto, caracterizam a idade adulta muito mais tarde e criam categorias como a adolescência, especificamente para insistir que as pessoas pós-púberes são ainda crianças de alguma forma. A lista das variações e mudanças das carac terísticas básicas da infância é imensa. (STERNS, 2006, p. 12). Nas sociedades atuais, a unidade familiar assume configurações diversas com um grande número de mães solteiras, casais divorciados que buscam novos casamentos dos quais surgem novos filhos e até mesmo uniões homossexuais, após um casamento heterossexual, com filhos. As sociedades, na era contemporânea, transformam- se muito rapidamente, desestabilizando valores, crenças, ideais e costumes que caracterizavam nitidamente as distintas etapas da vida humana. Unidade familiar Ou unidade doméstica: uma expressão que começa a ser usada para designar as novas configurações familiares. 8 UNIUBE Há poucas décadas, as informações que as crianças possuíam vinham de seus pais ou professores, ou de um círculo familiar próximo. Hoje, as informações vêm de todos os lados com um grande apelo visual e sonoro, a qualquer hora, em qualquer tempo. Steinberg e Kincheloe,(2002, p. 11), afirmam que [...] poucos observadores notaram que a explosão de informações tão característica da era contemporânea desempenhava o papel principal num jogo destinado a minar as noções tradicionais da infância. Foram e estão sendo muitas as mudanças sociais. Aquela ideia de infância como etapa de vida caracterizada pela pureza, inocência e livre das preocupações adultas já não existe mais. No entanto muitos adultos não se deram conta disso. Percebem e reafirmam o quanto as crianças “de hoje” são mais espertas e questionadoras, mas conservam uma ideia de infância romântica e ingênua. Os adultos trouxeram as crianças ao seu mundo, na forma de vesti-las, calçá-las, de frequentar ambientes noturnos (bares, restaurantes), e não se dão conta de que essa mudança na forma de agir com as crianças afetou a vida e a constituição da infância. Há crianças por todos os cantos apreendendo informações por diversos canais: televisão, cinema, jornais, revistas, brinquedos, propagandas, livros, esportes, produzindo o seu extenso currículo cultural. Educação não se processa só na escola. E, se a criança está presente em diversos segmentos sociais, ela está sendo educada em todos eles, além da escola. As propagandas moldam padrões de consumo e as instituições comer ciais “educam”. Movidas pelas contingências da vida moderna, as crianças estão sendo educadas mais pelas corporaçõesempresariais do que pela família e pedagogia escolar. Com programas atrativos, histórias, reinos Corporação empresarial Grupo de empresas industriais ou comerciais, como emissoras de rádio e TV, que são associadas entre si. UNIUBE 9 encantados e um mundo de atrações variadas, a televisão e os videogames apresentam um mundo de prazer, onde tudo é possível. E esse possível, evidentemente, vem acom panhado dos inúmeros acessórios “à disposição”, ou seja, à venda para as crianças: roupa do herói, seu capacete, sua arma, sua pulseira. Além disso, capas de cadernos, lápis, estojo, agenda, meias, sandálias, bolsas e tantos outros objetos de uso pessoal atraem as crianças para o consumo por associarem a eles a imagem daqueles personagens glorificados pela mídia. Na literatura, a infância tem sido representada por vários autores. A seguir, há indicação de leitura de dois poemas. Leia -os com atenção: Veja os vídeos disponíveis nos sites abaixo, que apresentam um documentário de Estela Renner e Marcos Nisti sobre a influência da mídia no consumismo infantil. O que você pensa sobre isso? Como você, como professor(a), pode contribuir para a educação do consumidor – criança? Pense nisso. Criança – A alma do negócio Parte 1, 4 min 58 seg. 21 nov. 2008. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rW -ii0Qh9JQ. Acesso em: jan. 2010. Criança – A alma do negócio Parte 2, 49 min. 6 mar. 2009. Disponível em: http://video.google.com/videoplay?docid=-5229727692415880368. Acesso em: jan. 2010. PESQUISANDO NA WEB 10 UNIUBE Meus oito anos Casimiro de Abreu Ai que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais... Que amor, que sonhos que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais! (...) (ABREU, 2003). Ai que saudades Ruth Rocha Ai que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais... Me sentia rejeitada, Tão feia, tola, impotente, Apesar dos laranjais! (...) (ABRAMOVICH, 1993). Pela leitura dos poemas, podemos perceber que, apesar de trazer versos semelhantes, cada autor expõe sua percepção de infância de maneiras opostas: enquanto Casimiro fala da infância com prazer e saudosismo, Ruth Rocha mostra que foi uma fase difícil de sua vida. Poder refletir sobre essas questões, identificando como as mudanças so ciais interferem na construção da ideia de infância, faz com que nos UNIUBE 11 percebamos como agentes do processo histórico e, portanto, co-construtores da ideia de infância. Conhecendo os processos históricos, o educador se situa e compreende como a infância é conceituada e qual o seu papel nessa construção. Em seus estudos, você vai perceber o quanto a construção da ideia de infância depende da sociedade ou do contexto histórico vivido. É provável que considere até mesmo um absurdo a forma como a criança era considerada (ou desconsiderada?) pelos adultos: prática do infanticídio, não se abster de tocar em assuntos sexuais ou dizer palavras grotescas na frente das crianças, vesti-las como adultos e outros comportamentos. Uma das passagens sobre a infância citada por Ariès, “Perdi dois ou três filhos pequenos, não sem tristeza, mas sem desespero” (MONTAIGNE, Apud Ariès,1981, p. 51), pode até nos assustar, pois essa ideia, nos dias atuais, parece-nos, de maneira geral, absurda. Uma nova “concepção” do ser criança1.2 Faça a leitura do texto a seguir com atenção. Desta forma você com preenderá como são os estudos sobre a infância na atualidade. Foram selecionados para os nossos estudos os itens 1.3 e 1.4, do Capítulo 1 da dissertação de mestrado Cultura infantil: um estudo sobre as brincadeiras criadas pelas crianças numa perspectiva sociocultural. Uniube (2004). Autora: Maria Emília Silva Loyola. Capítulo 1 – Buscando origens encontrando raízes. 1.3. Encontrando parceiros Após localizar na minha própria história o nascimento da pesquisa, bus quei rever os conceitos que já havia construído sobre brincar, brinquedo, criança, infância e me deparei com uma enorme quantidade de velhos e novos trabalhos de diversos autores que tratam a criança em seu mundo. AMPLIANDO O CONHECIMENTO 12 UNIUBE Importantes e valiosos conceitos, mas insuficientes para a compreensão que esta pesquisa buscava, pois, para além da criança em seu mundo, o que desejava (e desejo) conhecer é o mundo da criança, compreendida em seu habitat, pensando, falando, duvidando, criando modos de interagir, de divergir, de criar cultura. Criança cria cultura? Que ideia é essa? Parafraseando Oliveira (2001, p. 6), se eu voltasse a ser criança (a pesquisadora), como sugere Janusz Korczak (1981), com quatro anos de idade ainda, res ponderia prontamente: Sim, as crianças criam cultura! Fazemos isso há um “tempão”, só que não nos enxergam! Só somos importantes para exibirmos nossos sorrisos e gracinhas para programas infantis. Nossa sociedade despreza o que as crianças dizem e, mais ainda, des preza as críticas que delas vêm. Os pequeninos observam tudo, percebem detalhes e manifestam (ou não) sobre essas coisas. Fazem parte da nossa sociedade, mas não tomam parte dos assuntos de nossa sociedade. Se gundo Quinteiro (2002, p. 21), pouco se conhece sobre as culturas infantis porque pouco se ouve e pouco se pergunta às crianças e, ainda as sim, quando isso acontece, a fala apresenta-se solta no texto, intacta, à margem das interpretações e análises dos pesquisadores. Estes parecem ficar prisioneiros de seus próprios referenciais de análise. Entre as ciências da educação, no âmbito da sociologia, há ainda resistência em aceitar o testemunho infantil como fonte de pesquisa confiável e respeitável. A voz das crianças, muitas vezes, só é considerada como um momento de alegoria, para descontração e prazer dos maiores, um toque pitoresco no dia a dia de quem muito trabalhou ou então a voz e a presença das crianças são sinais de aborrecimento para os adultos que, além de não dar atenção a elas, não desejam sua presença pedindo que se retirem. Consideradas à parte (ou não) pelos adultos, as crianças estão aí, por todos os lados se relacionando, falando, fazendo e expressando o que pensam, veem e sentem sobre as coisas, pessoas, fatos da vida, enfim. Quantas vezes as crianças nos mostram situações complexas, fazendo-nos pensar UNIUBE 13 profundamente em nossas próprias contradições? Se assim o fazem, não é porque pensam, interpretam, concluem? As crianças, sim, são em muitos momentos criaturas encantadoras, delicadas, inocentes e muito espontâneas, mas, além disto, são seres pensantes que criam e recriam formas de se relacionar, de interpretar e de dar sentido àquilo que veem. Oliveira (2001) cita uma passagem de Guimarães Rosa evidenciando a forma intuitiva e simples com que o menino pensa, composta de uma outra lógica, outra estrutura: [...] é o caso do garotinho, que, perdido na multidão, na praça, em festa de quermesse, se aproxima de um policial e, choramingando, indaga: – “Se o guarda, sr. não viu um homem e uma mulher sem um meninozinho assim como eu?!” (OLIVEIRA. 2001, p. 25). Vasculhando a bibliografia a respeito, comecei a perceber que outros pesquisadores têm se voltado para essa questão, apontando, inclusive, a escassez de produção científica sobre a infância nas áreas da Sociologia e da Antropologia. A esse respeito relata Prado (1998, p. 8): Todavia, encontrar locutores com os quais eu pudesse definir novos rumos, discutir, trocar ideias e indagações – ampliar o olhar da psicologia no enfoque da infância, das brincadeiras e da Educação Infantil, não foi tarefa das mais simples. [...] De um lado, a dificuldade de se encontrar a criança no âmbito das Ciências Sociais, em especial na Antropologia que tanto me apresentou a escassez de referências bibliográficas [...]. De outro lado, a dificuldade de lidar com a recente construção da área de pesquisaem Educação Infantil no Brasil. Essas pesquisas no Brasil apontam, em grande parte, as práticas educa tivas que, segundo Rocha (1999, p. 2), “vinham definindo‑se quase que exclusivamente sob parâmetros da psicologia, sobrepondo-se até mesmo às influências advindas da própria área da Educação, cujo objeto principal tem sido a educação da criança como ‘aluno’”. Oliveira (2001, p. 2) também aponta seu interesse na necessidade de “fortalecer e simultaneamente avançar na construção de possibilidades 14 UNIUBE de pesquisa, de olhar, escutar, sentir e legitimar os testemunhos orais, iconográficos e outras produções culturais infantis”, segundo ela, ângulos ainda pouco explorados. Não é para menos, pois, segundo Qvortrup citado por Quinteiro (2002, p. 23), enquanto outros profissionais, como psicólogos, psiquiatras, pedagogos etc., desenvolveram trabalhos sobre as crianças há um século, os sociólogos da infância reuniram-se pela primeira vez em 1990, no Congresso Mundial de Sociologia. A partir daí, organizações de âmbito nacional no Reino Unido, na Ex-República Federal Alemã, na França, nos países nórdicos e nos Estados Unidos da América foram criadas iniciando-se nos dizeres de Sarmento lembrado por Quinteiro (2002, p. 23) “[...] um olhar caleidoscópico sobre a sociologia, no sentido de identificar a presença da infância no desenvolvimento do pensamento sociológico e descortinar as razões da sua gritante ausência nas correntes clássicas da sociologia”. Trabalhos sobre a infância, que partem das concepções das próprias crianças, ainda são escassos. Ultimamente, esforços têm‑se configurado na busca de produção de conhecimento sobre a infância com o olhar daquele que é o próprio objeto de pesquisa: a criança. Pequeno ser que tece seu cotidiano com uma lógica que não é a do adulto, mas a sua própria lógica. No Brasil, pesquisas sobre a cultura da infância têm surgido, bem como o delineamento de metodologias de pesquisa com crianças. Por uma cultura da infância (FARIA et al., 2002), revela-se como um trabalho que parte da voz das crianças, de suas percepções e concepções, de seus sonhos, suas maneiras de interpretar o mundo. Crianças – mesmo as mais pequeninas – são portadoras e criadoras de cultura, desenhistas, falantes, sujeitos de sua história e cujas produções devem ser conhecidas, valorizadas e respeitadas. A postura “adultocêntrica” revela a criança pelo olhar do adulto. Fala sobre as crianças. Os trabalhos nessa visão tratam a criança em seu mundo. No entanto, quando o trabalho parte da voz dos pequenos, trata, não da criança em seu mundo, mas do mundo da criança. As crianças são capazes de múltiplas relações desde que nascem. A criança é portadora de cultura, é portadora de história. Mesmo as crianças pequenininhas são capazes de múltiplas relações por meio de suas brincadeiras, seus gestos, sua maneira de falar, de reivindicar, de se opor, de criar vínculos, de se fazer entender. UNIUBE 15 Observam o ambiente e nele se integram manipulando, representando e criando com objetos. Nesse sentido diz Prado (2002): Nessa sucessão de acontecimentos e de convívio no dia a dia da creche, percebia que as crianças possuíam uma forma própria de explorar o ambiente, de se rela cionar com os objetos, com seus pares, com as crianças de outras idades e com os adultos, de expressar suas emoções e de estabelecer relações sociais e afetivas diversificadas, experimentando, simulando, observando, inventando brincadeiras nos mais diversos momentos, nem sempre especificados ou permitidos para essa atividade, numa linguagem nem sempre de palavras, em que a dimensão do corpo e do movimento ganhava amplitude especial – de transgressão, de fantasia, de músicas e histórias, do inusitado, do imprevisto, da brincadeira! (PRADO, p. 104). Também busquei bibliografia referente ao trabalho com grupos de idades mistas na Educação Infantil, mas encontrei duas experiências apenas e as relato a seguir: Na Itália, em algumas das pré-escolas de Reggio Emilia (EDWARDS et al., 1999, p. 50), as classes são organizadas em grupos de idade mistas e assim são justificadas por oferecerem ambientes mais similares aos da família. Isso vem romper com a ideia de um modelo industrial para a pré -escola em que as crianças são “um material bruto a ser industrializado” dando a essa mais um modelo da grande família ou da comunidade. Aqui a criança é concebida como um ser constituinte do grupo ao qual faz parte. Pois assim é a nossa vida: convivemos com diferentes grupos em variadas situações e é aí que está a graça do convívio que mescla princípios ora convergentes, ora divergentes, mas que se sustenta na constante busca de possibilidades de convivência. Uma segunda experiência denominada “Agrupamento Vertical” encontrei no Cindi (Centro Integrado de Desenvolvimento Infantil), em Brasília (DF). Inicialmente o agrupamento vertical (AV) foi adotado para crianças de quatro meses a dois anos (AV-1), se estendendo depois para as crianças de dois a quatro anos (AV-2). Segundo a equipe interdisciplinar que coordena esse trabalho, esse tipo de agrupamento favorece: 16 UNIUBE o atendimento mais individualizado a cada criança, pois crianças de idades diferentes têm ritmos naturalmente di ferenciados. [...] Essa divisão possibilita, também, a esti mulação natural entre as crianças. Devido à composição heterogênea do grupo, as diferenças individuais são mais evidenciadas, com uma variedade maior de aptidões e de comportamentos, e essa exposição à diversidade tem se mostrado extremamente estimulante tanto para os mais novos como para os mais velhos. Observamos que os mais novos beneficiam‑se muito do convívio com os mais velhos, que lhes servem de modelo, e que estes, por seu lado, se valorizam nesse papel de modelo e mesmo de auxiliares dos menores, podendo, além disso, recordar suas próprias vivências através da observação dos outros. (ARAGÃO et al., 2001, p. 137). Consideram o agrupamento vertical como um espaço para experiências compartilhadas que proporcionam interações saudáveis para o desenvolvi- mento de todos. Postulam que no agrupamento vertical a criança pequena tem mais oportunidades de aprender com as maiores, observa-se variedade e riqueza de trocas entre as crianças, facilitando as atitudes de cooperação e de respeito entre elas. Encontrar esses primeiros interlocutores/pesquisadores foi um importante passo na continuidade desta pesquisa, pois me deparei com novos tra balhos, em especial de pesquisadores brasileiros, que descortinavam o dia a dia das crianças nas creches e em instituições de Educação Infantil, considerando-as como seres históricos, sociais e sujeitos de direitos que, apesar de terem esses mesmos direitos civis e políticos garantidos na Constituição Brasileira, não podem gozar dos mesmos, integralmente. Buscando compreender a criança além de uma concepção etapista de de senvolvimento infantil, esses estudos vêm descortinando uma infância que tem voz e vez: de falar, de opinar, de contribuir com sua visão e realmente fazer parte da sociedade. A voz dos pequeninos não espera por espaço e tempo para ser falada. Ela está aí. A voz dos pequeninos espera para ser ouvida e entrar no diálogo com todos. Fazer-se presente. Aguarda, sim, por uma escuta sensível o suficiente para compreender que o mundo infantil – do qual já fizemos parte UNIUBE 17 – precisa continuar vivo e fazer parte da história e não à parte da mesma. Buscando ver além da criança em seu mundo, essas pesquisas res gatam o mundo da criança, compreendida como um ator social, como protagonista de pouca idade, mas que pensa e sente, critica e interpreta a realidade. Autores que, além de pensarem na criança como ser que é, e não no ser que será, lançam-se na busca de conhecer suas interações, seus dilemas, seus sofrimentos, seus prazeres e o significado de tudo isso na constituição da nossa sociedade. Autores que procuram, por meiodas falas e das brincadeiras das crianças, desvendar seus mundos e suas maneiras de interpretar a realidade, considerando as suas “Cem Linguagens”: Cem Linguagens é o título do livro de Edwards, Gandini e Forman, que traz a abordagem de Reggio Emília – Itália – na Educação da Primeira Infância. A criança É feita de cem. A criança tem Cem mãos Cem pensamentos Cem modos de pensar De jogar e de falar. Cem sempre cem Modos de escutar As maravilhas de amar Cem alegrias Para cantar e compreender. Cem mundos Para descobrir. Cem mundos para inventar. (...) Poema: Ao Contrário, as cem existem – Loris Malaguzzi (Tradução livre do original italiano: Ana L.G. de Faria, Maria Carmem Barbosa e Patrízia Piozzi. Extraído do trabalho de Rocha, 1999). SAIBA MAIS 18 UNIUBE A criança começa a ser vista como um ser por inteiro, parte da história e não à parte da mesma. Alguém que é por inteiro e não um adulto imperfeito a ser aperfeiçoado nem tampouco um pequeno selvagem a ser civilizado e que se manifesta e se expressa sem cessar, porque é feita de cem formas de ser criança. Buscando fazer as conexões entre essas recentes pesquisas e as minhas primeiras questões (sem respostas) na iniciante vivência como educadora, senti necessidade em percorrer trilhas mais remotas com relação à criança/ infância. Como historicamente a criança foi considerada em diferentes épocas e como a infância, como artefato social, foi concebida em diversas sociedades? O próximo item traz um mergulho na história reconhecendo as crianças e suas infâncias, seus percursos, sua presença, sua ausência, sua voz e seu silêncio. 1.4. A infância na história: uma ciranda de muitas voltas “(...) eu penso que nunca segui um comportamento histórico que não tivesse como ponto de partida uma questão colocada pelo presente”. (ARIÈS, 1981) “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...” Ciente de que não conseguirei abarcar uma ampla e complexa de monstração da criança na história, busco aqui uma breve síntese para tentar situar a criança na história. O que pretendo é evidenciar como a criança e a ideia de infância vão sendo construídas pouco a pouco de forma não linear, muito menos gradativa. Selecionei algumas passagens que me pareceram mais significativas, mas gostaria de deixar claro que essas não são suficientes para retratar toda a história da infância visto não ser esse o foco do meu trabalho. Segundo Postman (1999, p. 20), em relação às atitudes dos adultos para com as crianças na Antiguidade, sabe-se muito pouco. Gadotti (1999, p. 23), ao abordar o pensamento pedagógico oriental, comenta que nas comunidades primitivas a comunidade era responsável pela educação, estando essa a serviço da vida: “ para aprender a usar o arco, a criança caçava; para aprender a nadar, nadava. A escola era a aldeia”. UNIUBE 19 Na educação hebraica, o ensino era conteudista, sobrecarregando a criança de trabalhos. Embora fosse o idealismo religioso o traço predominante na educação hebraica, uma passagem do Talmude lembrado por Gadotti (1999, p. 28) dedicado ao assunto pais e filhos nos dá uma ideia de que os hebreus reconheciam alguns traços es pecíficos da infância: “Aquele que bate em seu filho, incita‑o ao pecado e ao crime. Os pais nunca deveriam mostrar a sua preferência por um de seus filhos em prejuízo dos demais. [...] Não seja um daqueles que deserdam uma criança, ainda que travessa, em favor de outra”. Com relação aos gregos, mesmo sabendo que a Grécia clássica viveu um amálgama de culturas muito diferentes, parece que prestavam pouca atenção à infância como um estágio específico do desenvol vimento humano. Dentre as estátuas remanescentes nenhuma é de criança. As palavras usadas para se referirem à criança e jovem são ambíguas. Não se tem uma ideia clara do que os gregos consideravam ser infância. Postman (1999, p. 20), citando de Mause, lembra que entre os gregos, na época de Aristóteles, o infanticídio era praticado sem restrições morais ou legais. Embora acreditasse que deveria haver limites impostos a essa pavorosa tradição, Aristóteles não le vantou objeções firmes a ela. Curioso é que ao lado desse “descaso” para com a infância outras ideias (ou sentimentos?) contraditórias são evidenciadas por Heródoto numa de suas histórias, conforme apresenta Postman (1999, p. 20): dez coríntios vão a uma casa com o propósito de matar um menino que, de acordo com um oráculo, destruiria a cidade quando crescesse. Ao chegarem a casa, a mãe, imaginando que faziam uma visita amistosa, põe o menino nos braços de um dos homens. O menino sorri e, como diríamos, conquista o coração dos homens, que saem sem executar sua missão mons truosa. Não se diz a idade do menino, mas é obviamente pequeno o suficiente para ser carregado nos braços de um adulto. Talvez se tivesse oito ou nove anos, os homens não tivessem tido dificuldade de realizar seu intento. Talmude é o livro sagrado dos judeus. Heródoto: primeiro historiador (século 1V a.C.). Nascido em Alicarnasso, cidade grega – costa da Ásia Menor. SAIBA MAIS 20 UNIUBE Com esse relato podemos perceber que o sentimento para com a infância parece ter sido despertado em várias pessoas, em diferentes contextos sociais e históricos. Sabemos também o quanto os gregos eram apaixonados por educação. Foram eles que inventaram a ideia de escola, muitas fundadas em Atenas, disseminando a cultura grega. As idades dos estudantes eram mais avançadas. Segundo Postman (1999, p. 21), era na adolescência que se aprendia a ler e essa atitude de ensinar os jovens nos colégios, escolas de retórica, parece-nos ser uma consciência do valor da educação para os jovens em formação. Manacorda (1989, p. 37) traz um relato de Platão (nas Leis) no qual se refere à metodologia de ensino no Egito: Foram inventadas para as crianças pequeninas, no que se refere ao cálculo, noções aritméticas a serem aprendidas através do jogo e da diversão; subdivisão de maçãs e de coroas entre um número mais ou menos grande de alunos, dando a cada um sempre um mesmo número; ou distribui ção alternada e sucessivamente, (...). Outros, após terem misturado em certo número de taças de ouro, de prata, de bronze e de outros metais, distribuem todas essas taças para o jogo de várias formas, adaptando ao jogo aplicações úteis dos números necessários. Isso traz grande proveito para as crianças... “Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar...” Com os romanos a atenção para com a criança pequena toma uma dimen são até então desconhecida. Afirma Postman (1999, p. 22): A arte romana, por exemplo, revela uma ‘extraordinária atenção à idade, à criança pequena e em crescimento, que só seria encontrada novamente na arte ocidental no período da Renascença.’Além disso, os romanos começa ram a estabelecer uma conexão, aceita pelos modernos, entre a criança em crescimento e a noção de vergonha. Foi este um passo crucial na evolução do conceito de infância (...). A questão é, simplesmente, que sem uma noção bem desenvolvida de vergonha a infância não pode existir. UNIUBE 21 O mestre romano da retórica, Marco Fábio Quintiliano (c.35-95 d.C.), censura os adultos que não se abstêm de comentar sobre assuntos sexuais na presença das crianças. Condena o comportamento desavergonhado, canções obscenas e palavreado grotesco dos adultos, quando crianças estão por perto. Como professor de oratória e retórica, vê na infância a base para se educar um grande orador. Percebemos, dessa forma, que Quintiliano situa a infância como um tempo específico que merece cuidados e proteção. Aqui notamos um marco significativo na construção da ideia de infância com a separação clara entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças, que deveriam estar longe dos segredos dos adultos, os segredos sexuais. Para Quintiliano, o ensino precisa estar de acordo com a natureza humana e ele parece reconhecer na criança uma natureza específica. Fala do jogo e vivacidadecomo naturais à idade das crianças. Também que estas não sabem dissimular, sendo espontâneas (GADOTTI, 1999, p. 49). No ano 374 da Era Cristã, aparece a primeira lei conhecida de proibição do infanticídio. Depois dos romanos, muitas dessas ideias desaparecem. “O anel que tu me destes era vidro e se quebrou...” O historiador francês Philippe Ariès (1981), em História social da criança e da família, constatou em suas pesquisas iconográficas que a criança permaneceu no anonimato durante muito tempo. Para que o conceito de infância, como momento de desenvolvimento do ser humano, fosse cons truído, foram necessários vários séculos. Ariès evidencia como a ideia da infância, inexistente até o fim da Idade Média, foi se constituindo até começar a ser reconhecida. Na Idade Média, crianças e adultos não se distinguiam quanto ao modo de se vestirem; somente enquanto bebês, cueiros eram usados e, logo após essa fase, meninos e meninas eram vestidos como os adultos. Na arte, apenas pelo tamanho, as crianças eram representadas, pois suas expressões faciais eram de adultos e seus corpos eram retratados com músculos abdominais e peitorais. Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo (ARIÈS, 1981, p. 50). 22 UNIUBE O autor aponta essas evidências por meio de uma miniatura otoniana do século XI, cujo tema é a cena do evangelho em que Jesus diz “deixai vir a mim as criancinhas”. Nessa miniatura, oito homens estão agrupados em torno de Jesus, apenas reduzidos no tamanho. Da mesma forma, no livro de salmos de São Luis de Leyde, datado do fim do século XII, ou do início do XIII, Ismael, pouco depois de seu nascimento, tem os músculos abdominais e peitorais de um homem (ARIÈS, 1981, p. 51). Luís XIII tem um ano: ‘Muito alegre, anota Heroard, ele manda que todos lhe beijem o pênis’. Ele tem certeza de que todos se divertem com isso. Todos se divertem tam bém com sua brincadeira diante de duas visitas, o senhor de Bonnières e sua filha: ‘Ele riu muito para (o visitante), levantou a roupa e mostrou-lhe o pênis, mas sobretudo à sua filha; então, segurando o pênis e rindo com seu risinho, sacudiu o corpo todo’. As pessoas achavam tanta graça que a criança não se cansava de repetir um gesto que lhe valia tanto sucesso. Os adultos conservaram por muito tempo o hábito de brincar com o sexo das crianças, acreditando que a criança impúbere se mantinha alheia e indife- rente a questões sexuais. Nenhuma consequência negativa poderia haver no sentido de macular a inocência das crianças, visto que essa inocência não existia na concepção dos adultos. “O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...” Aos poucos e lentamente, expressões angelicais e delicadas foram sendo incorporadas à iconografia, os trajes foram se diferenciando e a criança foi saindo do anonimato, passando de “substituível” a imprescindível. A partir do século XVI, Ariès constata que um novo sentimento surge no meio familiar com relação à criança, chamado por ele de “paparicação” em que os pequenos são percebidos por sua ingenuidade, gentileza e graça, sendo fonte de distração e relaxamento para o adulto. Mais tarde um outro sentimento vindo de fora da família, dos eclesiásticos, vem evidenciar o aparecimento do sentimento da infância. A criança não só era vista como seres encantadores, mas como frágeis criaturas de Deus que precisavam ser preservadas e disciplinadas (ARIÈS, 1981). UNIUBE 23 A partir daí, cada vez mais a criança é reconhecida, saindo do anonimato e assumindo um papel relevante na família. É necessário apontar, entretanto, que a pesquisa de Ariès tem como fonte documental a cotidianidade da vida burguesa. Ladurie (1997, p. 26) lem brado por Borges (2001, p. 37) indaga sobre a possibilidade de ter sur gido nas classes baixas, entre os camponeses, o sentimento pela infância, porém não documentado: Pode-se crer também, com igual validade, que a terna afeição pelos pequenos existia há muito tempo, aqui e ali, nas sociedades camponesas ou artesãs, tendo a grande cultura, textual e pictórica, decidido interessar-se por essa paixão apenas tardiamente, por razões específicas. Segundo Borges (2002, p. 37), Ladurie fundamenta sua hipótese a partir de seus estudos sobre o dia a dia dos aldeões de Montaillou que, embora rudes, manifestavam nos momentos de descanso e lazer sentimentos de afeição, sobretudo pelas crianças da primeira infância. Para esses povos, o feto já tinha uma alma provinda de um antigo corpo morto. Ocuparia o ventre de uma mulher o feto bom, ficando o feto mau para ocupar o ventre de um animal fêmea. Dessa forma, a criança já era amada e esperada an tes mesmo de nascer. Nesse ponto Ladurie contesta Ariès de que carinho e cuidados com o recém-nascido é invenção recente da Idade Moderna e final da Idade Média. Ladurie constata sua argumentação na sua pesquisa de campo, pelas histórias de vida, como nos mostra o depoimento do admi nistrador rural Raymond Russel, morador de uma das aldeias pesquisadas, conforme relato de Borges (2002, p. 38): uma senhora de Chateauverdum tinha um bebê, do qual se despedia aos beijos antes de partir para se juntar aos heréticos. O bebê ria sempre que a mãe se aproximava e ela, embevecida, volta várias vezes ao berço, sem cora gem de afastar‑se. Como um gesto final, sabendo o que lhe espera, a mãe pede à criada que leve o bebê para fora da casa, para que ela possa então seguir o seu destino: a fogueira. Também constata Ladurie que a morte dos filhos entristecia profundamente os pais. Por essas evidências, situa-se o sentimento da infância muito antes da Idade Moderna. 24 UNIUBE No século XVII, grandes transformações econômicas ocorreram (transformação da sociedade feudal, transformação no campo, mudanças na indústria) bem como uma renovação intelectual (revalorização do homem, este enten dido como uma totalidade), sinalizando aqui uma mudança considerável na concepção da infância. A família passa a se organizar em torno da criança, preocupando-se com o que possa acontecer com ela. A criança marca sua presença na história com Rousseau, no século XVIII. Este pensador revela a natureza infantil, destacando a importância de se respeitar a natureza das crianças. Sua obra aborda o valor da infância, dos jogos e dos instintos infantis. Sempre defendeu que as crianças sejam crianças antes de serem homens, no sentido de não se apressar o desen volvimento, que deve ser no ritmo natural de cada criança. Para este filósofo o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe. Cabe à educação o cultivo das tendências naturais das crianças em contato com a natureza, com um educador sensível que eduque e ensine sem tirar a criança do meio natural. Aliás este próprio meio é que deveria ser o campo de vivência e de trabalho educativo. Rousseau (1999, p. 49) traz a ideia de educação do “homem total” e pleno, devendo ser educado para a vida. Aborda a infância como fase totalmente distinta, com características próprias e que deve ser respeitada integralmente. A influência de Rousseau vem marcar profundamente a concepção de criança e de educação. Não mais vista, segundo a concepção de Locke (1991), como uma tábula rasa em que as experiências vão sendo impressas, o mundo da criança é visto com Rousseau como uma planta jovem que vai crescer. Tem ali suas potencialidades e suas tendências que frutificarão, cabendo ao educador criar o contexto para o desenvolvimento natural da planta: regar, podar, tirar as pragas e proteger. Até então a criança é vista como um ser que nada sabe, não tem iniciativa, não tem criatividade, sendo o professor, ou o pai ou o instrutor que ordena o mundo para ela. Rousseau desenvolve a ideia de criança no mundo infantil, capaz de tomar iniciativa, de criar, de perguntaro que quer saber. Pouco mais tarde, com Decroly, Montessori, Freinet e outros, a concepção de criança se reafirma como ser ímpar dotado de necessidades UNIUBE 25 específicas numa fase peculiar que merece toda a atenção e cuidados por parte do adulto. Com Freud, a ideia de infância se aprofunda ainda mais com a abordagem da criança como ser dotado de sexualidade. Revolucionando concepções e valores, Freud “sacode” a ideia de infância, revelando um mundo psíquico com forças inconscientes, incontroláveis que influenciam e/ou determinam ações e reações das crianças, independentemente das ações dos adultos em relação a elas. Assim, o século XX é marcado por uma explosão de trabalhos sobre a in fância. São inúmeras as pesquisas sobre desenvolvimento infantil em vários aspectos: psicomotor, afetivo, social, cognitivo, moral. Cada um desses aspectos com estudos específicos ampliando o campo das especialidades. Piaget, Vygotsky, Wallon, Leontiev, Winnicott, Benjamin, Chateau, Brougère, Kishimoto são autores que, dentre outros, se dedicaram ao estudo do desenvolvimento da criança bem como da importância do brincar em suas vidas. Fazendo essa análise histórica comparativa e sumária podemos perceber que o mundo infantil se inscreve de diferentes formas e em diferentes momentos no contexto social. De forma não linear, muito menos progressiva, a ideia de infância como fase distinta e peculiar do desenvolvimento humano aparece e desaparece; toma corpo e se desconfigura; conquista espaço e se perde no tempo. Terminamos o nosso estudo sobre a concepção de infância ao longo dos tempos. De tudo o que foi lido, analisado e discutido por meio das atividades propostas, o que é mais importante para a formação do educador? Vejamos! 26 UNIUBE Considerações finais1.3 Alguns pontos, discutidos nas leituras e atividades que foram realizadas, são muito importantes para você refletir sobre a infância, professor(a). Por isso eles estão aqui, em destaque, neste resumo final. Leia com cuidado, volte aos textos e atividades se alguma das ideias apresen tadas a seguir não ficou clara para você. Organize suas informações. Afinal, a criança que está com você todos os dias merece toda a sua atenção, não é?! • A infância é uma fase importante da vida de todo ser humano e não pode ser vista como período preparatório para a vida adulta. Muitos estudos têm demonstrado esse engano nas propostas educativas do passado. A infância é considerada hoje como momento próprio da vida e tem um valor em si mesma. • As crianças são atores sociais que pensam, sentem, criticam e inter pretam a realidade de forma muito particular. Elas não são apenas reprodutoras de cultura; são agentes vivos na transmissão, elaboração e recriação de cultura desde que nascem. • A concepção de infância não é algo definido e imutável; sofre variações de acordo com o momento histórico vivido por cada sociedade. • A infância é um artefato social e histórico, não uma simples entidade biológica (STEINBERG & KINCHELOE, 2001). Isso significa que é a sociedade que cria a ideia de infância e, sempre que mudanças sociais acontecem, a ideia de infância também se altera. • “Da Antiguidade, passando pelas comunidades primitivas, educação hebraica, grega, romana, Idade Média, sociedades camponesas e artesãs, podemos ver o quanto a ideia de infância toma forma e se desconfigura, não de forma linear ou gradativa no tempo, mas com idas e vindas: ora se dá valor à infância, ora a desconhece; ora a criança é algo substituível, ora imprescindível”. (LOYOLA, 2004) . • Existem divergências entre os posicionamentos dos estudiosos em relação ao “sentimento de infância”. Para Ariès (1981), ele era inexis- tente até a Idade Média. Isso não significava desprezo ou abandono das crianças. “Sentimento de infância” não significa “afeição por UNIUBE 27 elas”, e sim a consciência da criança como um ser que tem certas particu laridades. Essas particularidades que distinguem a criança do adulto só serão entendidas bem mais tarde. • Rousseau marca a presença da criança na história, no século XVIII. Esse pensador revela a natureza infantil, destacando a importância de se respeitar a natureza das crianças. Sua obra aborda o valor da infância, dos jogos e dos instintos infantis. Sempre defende que as crianças sejam crianças antes de serem homens, no sentido de não se apressar o desenvolvimento, que deve ser no ritmo natural de cada criança. • Para o filósofo Rousseau, o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe. Cabe à educação o cultivo das tendências naturais das crianças em contato com a natureza, com um educador sensível que eduque e ensine sem tirar a criança do meio natural. • As sociedades, na era contemporânea, se transformam muito rapidamente, desestabilizando valores, crenças, ideais e costumes que caracterizavam nitidamente as etapas da vida humana. • Há poucas décadas, as informações que as crianças tinham vinham de seus pais ou professores, ou de um círculo familiar próximo. Hoje, as informações vêm de todos os lados, com um grande apelo visual e sonoro, a qualquer hora, em qualquer tempo. Educação não se processa mais só na escola: televisão, cinema, jornais, revistas, brinquedos, propagandas, livros, esportes, tudo isso contribui para a formação das crianças. E então? A concepção histórica de infância ficou clara para você? Agora, volte aos objetivos e faça uma autoavaliação: você conseguiu atingi-los? PARADA PARA REFLEXÃO 28 UNIUBE Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. 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Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6c/ Saint_Thomas_Aquinas. jpg. Acesso em: dez. 2009. Lúcia Helena Borges de Oliveira Introdução Repensando a aprendizagem da criança na dimensão globalizadora do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Capítulo 2 Caro(a) aluno(a) do curso de Pedagogia; no desenrolar da leitura deste texto, iremos refletir um pouco sobre a aprendizagem da criança de acordo com o contexto histórico e social, descobrindo que, no Brasil, foi somente a partir de 1990 que a Educação Infantil, como um todo, inclusive sob o enfoque das questões públicas, deixou de representar várias funções, para se preocupar com a questão pedagógica. Você perceberá que foi nesse sentido que surgiu a necessidade de articular o cuidar e o brincar com a presença de profissionais qualificados para trabalhar nas escolas infantis. Você também perceberá que somente a partir de 1998 é que surgiram as primeiras diretrizes para a Educação Infantil, por meio de um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Este material-publicação foi desenvolvido com o objetivo de servir como um guia de reflexão para os profissionais que atuam diretamente com crianças em fase pré-escolar, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. O Referencial é composto por três volumes que pretendem contribuir para o planejamento, desenvolvimento e a avaliação de práticas educativas, além da construção de propostas pedagógicas que 32 UNIUBE respondam às demandas das crianças e de seus familiares nas diferentes regiões do País. Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • avaliar a importância do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) no processo educativo para as crianças de 0 a 5 anos; • perceber a evolução histórica da Educação Infantil; • entender que o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) apoia-se em normas legais que procuram contribuir para a busca de respostas aos problemas identificados na Educação Infantil; • identificar o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) como o primeiro instrumento norteador da prática pedagógica desenvolvida nesse segmento de escolaridade; • reconhecer a necessidade de rever fundamentação teórica, postura, metodologia e procedimentos do educador relacio¬nados ao trabalho na Educação Infantil; • conscientizar-se de que a criança, do século XXI, deve ser tratada como um ser de direitos. 2.1 Refletindo sobre a história da Educação Infantil. 2.2 O cuidar e o educar sob a ótica do RCNEI. 2.3 A importância do jogo no desenvolvimento infantil. 2.4 Compreendendo melhor os estágios sensório-motor e pré-operatório do desenvolvimento infantil. 2.5 Refletindo sobre os princípios educativos citados no volume 1 do RCNEI. Objetivos Esquema UNIUBE 33 2.5.1 O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc. 2.5.2 O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil. 2.5.3 O acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética. 2.5.4 A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma. 2.5.5 O atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. 2.6 Conclusão Refletindo sobre a históriada Educação Infantil 2.1 Patrícia Corsino, doutora em Educação pela PUC-Rio e professora da Faculdade de Educação da UFRJ, faz as seguintes indagações no texto publicado na Revista Presença Pedagógica: Para respondermos a tais indagações, é necessário relembrar que a Educação Infantil é uma modalidade de ensino que ficou em segundo plano por um longo período no cenário educativo. “Como as crianças brasileiras estão sendo tratadas pelas políticas públicas? O investimento na educação Infantil pode ser uma das estratégias mais eficazes para a diminuição das desigualdades sociais?” (CORSINO, 2007, p. 47). 34 UNIUBE O surgimento da Pré-escola aconteceu a partir do século XVII, na Europa (Inglaterra e França), em decorrência das transformações sociais, políticas e econômicas. A inclusão da mulher no mercado de trabalho gerou a necessidade de instituições educativas para oferecer assistência aos filhos das operárias. O modelo de trabalho adotado para a criança nessas instituições era assistencialista e, para atender a esse requisito, não havia preocupação com planejamentos de ensino, objetivos de trabalho, metodologias ou avaliações do desenvolvimento infantil. Também não era exigida a formação desses educadores, pois, nesta proposta de trabalho, esses não passavam de “tutores” da infância, em que o cuidado era destacado em detrimento do “fazer pedagógico”. Durante o século XIX, uma nova função passou a ser atribuída à Pré-Escola. Nesse momento, já é possível vislumbrar uma tendência educacional. Foi nessa época que Froebel, na Alemanha, cria os jardins da infância. Na metade do século XIX, a Pré-Escola se expandiu para os Estados Unidos e para outras partes do mundo. No Brasil, a Pré-escola surgiu aproximadamente em 1896, conjugando no fazer cotidiano os princípios educativos e assistencialistas. Foi assim até a metade da década de 1950. A função assistencialista foi aos poucos sendo substituída pela função compensatória. No entanto, vale ressaltar que, na prática, sempre aparece o conflito entre a função de assistência versus função compensatória. Na década de 1970, a função compensatória foi fortemente vivenciada no Brasil. Como o próprio nome diz, “compensatória” para compensar algo que estava faltando nesse segmento de escolaridade. O que fazer para suprir essa carência? Selecionar vários e repetitivos exercícios de prontidão com o objetivo de preparar a criança para o Ensino UNIUBE 35 Fundamental. Esta prática de treinar as crianças por meio de exercícios mecânicos e repetitivos vem exatamente para suprir as carências e deficiências linguísticas, culturais e até mesmo afetivas das classes populares. Para Kramer (1993), a Pré-escola com função compensatória incorpora o papel de preparar a criança para o Ensino Fundamental inspirada nos padrões e valores da classe dominante. Baseada no princípio do direito universal à educação, a LDB (Lei no.9.394/96) trouxe mudanças significativas, como a inserção da Educação Infantil (creches e pré-escolas) na primeira etapa da Educação Podemos dizer que algumas das atividades utilizadas pelos professores que trabalham em Pré-escolas são estereotipadas, mecânicas e não contribuem para a construção do conhecimento da criança. As Pré-escolas com função compensatória costumavam utilizar amplamente atividades que solicitavam à criança ligar pontilhados, em forma de traços retos, curvas, triângulos e outras formas. Algumas vezes, esses pontilhados tinham a forma de desenhos, sendo assim, além de ligar os pontilhados, a criança ainda tinha de colorir, tomando cuidado para que o lápis não saísse dos limites estabelecidos. Se o objetivo é desenvolver a coordenação motora fina, existem outras atividades lúdicas, criativas e desafiadoras, que despertam a curiosidade e o desejo das crianças, sendo assim, constata-se que esse não é o melhor caminho. A evolução do contexto histórico e social exigiu da sociedade mais reflexão acerca das relações e do compromisso tanto individual quanto coletivo de seus integrantes. Por extensão, torna-se necessário às escolas revisarem suas propostas e práticas educativas no sentido de se caracterizarem pedagogicamente. A Educação Infantil passa então a ser alvo de discussões no meio educacional e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9.394/96) colocou-a em pé de igualdade com o Ensino Fundamental e Médio. EXPLICANDO MELHOR 36 UNIUBE Básica. De acordo com Marilene Lima, psicóloga e mestre em Educação, no texto: “Contéudos escolares em classes de Educação Infantil – as questões: conceitual, procedimental e atitudinal”, temos: Todo cidadão tem direito à Educação básica: seu acesso, permanência e qualidade. Quanto a esse tripé, a díade “acesso-permanência” está garantida em quase todos os estados brasileiros, porém, quanto à qualidade, pode dizer que temos “ilhas de excelência” em âmbito nacional, estadual e municipal. (LIMA, 2010, p. 1). Nesse sentido, ainda se faz necessário buscarmos uma melhor qualidade na Educação Básica. Buscando mais qualidade no ensino em todos os estados brasileiros, surgem no cenário educacional os documentos norteadores da prática pedagógica desenvolvida na Educação Infantil, com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI). Estes são alguns princípios contidos no Referencial e que devem embasar o trabalho dos profissionais dessa modalidade de ensino: [...] o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma. (BRASIL,1998, p.13). Percebemos que, agora, há, claramente, uma preocupação em construir de fato uma Educação Infantil de caráter pedagógico e, nesta perspectiva, a escola é entendida como instrumento mediador entre o indivíduo e a sociedade. Daí a ênfase aos conteúdos trabalhados na sua significação humana e social, como instrumentos indispensáveis à inserção e participação dos educandos na realidade social. UNIUBE 37 É importante você compreender que nós estamos apresentando, neste texto, os Referenciais, no entanto, salientamos que eles foram um marco de referência e qualidade para a Escola Infantil, ou seja, a partir deles, outros importantes documentos foram criados: as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (BRASIL,1999) e, por último a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Para o futuro, com certeza outros documentos virão, isso porque, em Educação, tudo muda o tempo todo, assim como a letra da música do Lulu Santos, [...] nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia [...] (SANTOS: MOTTA 1987). PARADA OBRIGATÓRIA Todo esse conjunto de referências e orientações didáticas está disposto em três volumes como se vê na Figura 1: Figura 1: Capas dos RCNEI(s). Fonte: Acervo da autora. Volume 1 – Documento introdutório que traz uma reflexão sobre creches e pré-escolas no Brasil, incluindo também as concepções de criança, de educação, de instituição e do profissional da Educação Infantil. Volume 2 – O documento “Formação pessoal e social” traz reflexões pertinentes ao processo de construção da identidade e da autonomia das crianças. 38 UNIUBE Volume 3 – “Conhecimento de mundo” apresenta âmbitos de experiência, ou seja, eixos de trabalho orientados para construção das diferentes linguagens e suas relações com os diversos objetos de conhecimentos. Segundo Paulo Renato, Ministro da Educação e do Desporto na época, [...] o Referencial foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. (BRASIL,1998, p. 7). É importante compreender que a intenção desse documento
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