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Etica Geral e Profissional - Livro Texto – Unidade II

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O agir ético é buscar a ação 
desinteressada, a universalidade de 
valores e homens como portadores de 
história e de dignidade.
Ser ético é ser responsável.
3 ética profissional
Se entendermos ética como a conduta do ser humano em 
sua comunidade e em sua classe profissional, uma reflexão 
mesmo que superficial, pode nos levar a ponderar que um tipo 
de conduta nem sempre tem o mesmo valor social nos diferentes 
tempos históricos. 
Algumas normas de conduta desaparecem, uma vez que o 
conhecimento científico nos convence de que tal atitude, longe 
de proteger o tecido social, pode levar ao esfacelamento da 
sociedade. Isso porque a ética não é imutável. Sendo racional 
por excelência, tudo que a ciência nos prova como erro altera 
nossa maneira de pensar uma determinada atitude. Por exemplo, 
até a segunda guerra o valor “coragem” era entendido como a 
capacidade do homem de matar em defesa de seu país ou nação. 
A tolerância era vista como fraqueza e falta de honra, tanto que 
qualquer ofensa era motivo para duelo entre dois homens.
Hoje, não só se alterou o sentido, como coragem tornou-se 
um valor também feminino. Coragem hoje é a luta metafórica. É 
buscar agir de acordo com o coração, para pôr em prática projetos 
pessoais, independentemente do que outras pessoas pensem. É ir 
além dos limites físicos e psicológicos para promover o bem. E 
a Tolerância (assim mesmo com letra maiúscula) é para muitos 
filósofos a virtude ética fundamental, num período histórico em 
que pessoas das mais diversas etnias, culturas e religiões devem 
(imperativo ético) cooperar entre si, para defender a vida de nosso 
maior bem comum: o planeta Terra. 
A coragem e a tolerância são 
exemplos de virtudes cujo sentido foi 
alterado com o tempo.
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Ética Geral e Profissional
 Como é sabido, o Brasil faz parte do que se convencionou 
chamar civilização ocidental. No ocidente, as ações consideradas 
éticas são dirigidas por valores construídos durante o processo 
civilizatório. Tal processo inclui desde o decálogo mosaico, 
passando pelas inovações cristãs de caridade, solidariedade, 
igualdade e fraternidade, até as contribuições do pensamento 
humanista cuja ideia de moral se funda na razão, e, portanto, o agir 
ético é buscar a ação desinteressada, a universalidade de valores 
e os homens como portadores de história e de dignidade.
Assim, construiu-se no ocidente capitalista e liberal a 
convicção de que cada pessoa é portadora em sua humanidade 
de todo o universo civilizatório, sendo insubstituível e livre, 
mesmo quando suas ações são contrárias às leis e aos costumes. 
Foram essas reflexões que permitiram ao Ocidente a promoção 
de constituições de direito pleno e de órgãos internacionais e 
nacionais de defesa dos direitos da pessoa humana, denunciando 
internacionalmente as nações, instituições e pessoas que os 
desrespeitam. Por exemplo: Declaração Universal dos Direitos da 
Pessoa Humana - ONU, 1948.
Uma pessoa ética não só deve pautar seu comportamento 
dentro de normas de conduta consideradas civilizadas, mas 
estar sempre em busca de uma reflexão teórica que analisa, 
critica ou legitima os fundamentos e princípios que regem um 
determinado sistema moral. Não é raro na história o surgimento 
de filósofos ou profetas que propõem um sistema ético criticando 
a moral vigente e propondo uma revolução nos valores e normas 
estabelecidos na sociedade. Sócrates, por exemplo, questionou, 
com sua filosofia, os valores da democracia ateniense; Jesus, com 
sua prática e ensinamentos, criticou profundamente a moral 
judaica do seu tempo; os filósofos iluministas e os reformadores 
protestantes demonstraram que a sociedade cristã, nos séculos 
XVI e XVII, havia se afastado dos valores morais cristãos. 
Na verdade, a experiência ética fundamental para os dias 
de hoje é justamente essa sensação de “estranhamento” frente 
Uma pessoa ética não só deve 
pautar seu comportamento dentro 
de normas de conduta consideradas 
civilizadas, mas estar sempre em busca 
de uma reflexão teórica que analisa, 
critica ou legitima os fundamentos e 
princípios que regem um determinado 
sistema moral.
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à realidade. É uma capacidade que vem da reflexão sistemática 
e metódica sobre o que é o bem comum e que nos faz perceber 
que algo está fora da normalidade, isto é, o modo como funciona 
a sociedade ou até mesmo o modo de ser e agir de outrem não 
têm coerência com aquilo que a ética nos ensina como modo de 
vida que produza o bem comum.
Se antes essa experiência ética fundamental ocorria a cada 
milênio ou séculos, hoje, devido à velocidade de tudo, ela é 
uma constante, sobretudo na esfera profissional; portanto, ser 
ético hoje é mais do que nunca estar refletindo entre o que eu 
devo fazer e como eu devo agir em tal situação, quando tenho 
que escolher entre meu desejo e o meu dever, entre um bem 
comum e o bem de alguns. Essa situação de escolha é o dilema 
ético, companheiro constante de um profissional no mundo 
pós-moderno.
3.1 as origens da ética profissional
A experiência ética fundamental para os protestantes 
puritanos nos séc. XVI e XVII inaugura a ética profissional 
moderna. Eles perceberam que a práxis dos cristãos, nessa época, 
era bem diferente daquilo que a Bíblia pregava. Naquele tempo, 
devido ao poder político da Igreja Católica, moral confundia-se 
com religião e com ética. Isso foi provado por Weber em seu 
livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (1996). Diz 
ele que o que denominamos ‘vocação’, ou seja, o sentimento de 
amor e realização em algum tipo de trabalho, é que nos leva a um 
plano de vida; nem os povos predominantemente católicos, nem 
a Antiguidade Clássica conheceram um termo equivalente. 
Os protestantes, nesse período, e só eles ao longo da História, 
ao traduzir a Bíblia, alteraram o sentido da palavra para justificar 
a nova mentalidade burguesa. Na Bíblia, a palavra vocação 
significava um chamamento, uma ordem divina para sair do 
mundo e dedicar a vida a Deus em conventos e monastérios. 
Devido à mentalidade – de reforma da religião cristã - do 
Dilema ético consiste na dúvida 
de escolha entre o que desejo fazer e 
o que devo fazer. É uma escolha entre 
um bem e outro bem.
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tradutor, ela passa a ser interpretada como chamamento divino, 
para agir no mundo e transformá-lo para a glória de Deus; 
construir o reino de Deus no mundo, por meio do trabalho. 
Desse modo, a palavra vocação ganha um novo sentido, 
o sentido que damos a ela até hoje, e o valor que até então 
era dado ao trabalho é alterado. O trabalho deixa de ser uma 
punição para se tornar (até hoje o vemos assim) uma salvação 
e um projeto coletivo de promoção do bem comum e da 
felicidade geral. Portanto, essa mentalidade que resultará 
no espírito do capitalismo é produto da Reforma Religiosa 
Protestante. 
Também é produto da Reforma a valorização do cumprimento 
do dever nas profissões, ao se fazer o trabalho da forma mais 
perfeita possível, como se o labor cotidiano demonstrasse a 
presença divina na execução das tarefas; e mais, comose todo 
o trabalho fosse feito para o próprio Deus. Como acreditavam 
que a qualquer momento o Cristo encarnado poderia voltar 
para julgar os seres humanos de acordo com sua conduta, 
era imprescindível que o crente estivesse sempre trabalhando 
segundo uma disciplina rígida. 
Os valores de disciplina ascética, poupança, austeridade e 
dever foram incorporados ao mundo do trabalho, relacionando-se 
assim o conceito de competência à ética profissional do mundo 
capitalista até os dias atuais. Quando Kant escreveu Crítica da 
razão prática, em 1788, em que desenvolve sua reflexão sobre 
o desinteresse e a universalidade como pilares da moral para 
construir sua noção de dever. Tais valores já eram praticados na 
vida cotidiana dos protestantes puritanos.
Os textos orientam as diversas práticas profissionais, quando 
definem profissão como “trabalho que se pratica com habitualidade 
a serviço de terceiros” ou quando reforçam que a profissão além da 
utilidade para o indivíduo é uma rara expressão social e moral; ou, 
ainda, considerando-a alta expressão de humanidade. A profissão 
A palavra vocação significava 
um chamamento, uma ordem divina 
para sair do mundo e dedicar a vida a 
Deus em conventos e monastérios. 
Ela passou a ser interpretada como 
chamamento divino sim, mas para agir 
no mundo e transformá-lo para a glória 
de Deus. Construir o reino de Deus no 
mundo, por meio do trabalho.
Os valores de disciplina ascética, 
poupança, austeridade e dever serão 
incorporados ao mundo do trabalho, 
relacionando-se assim o conceito de 
competência a ética profissional do 
mundo capitalista até os dias atuais.
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permite ao indivíduo ao mesmo tempo status social e realização 
plena. Por meio da profissão provamos nossa capacidade, habilidade, 
sabedoria e inteligência. Ela treina nossa personalidade para vencer 
os obstáculos, entre eles o domínio de nossos desejos e paixões. 
Na verdade, tais textos desenvolvem um raciocínio de acordo 
com a ética kantiana: liberdade, virtude da ação desinteressada 
(boa vontade) e preocupação com o interesse geral definem as 
modernas morais do dever. 
Como vimos acima, essa ideia do dever gerou de maneira 
indelével na cultura ocidental a ideia do mérito, pois só as pessoas 
são capazes de compreender a importância do dever. Se a alguém 
consegue vencer seus interesses privados e praticar ações que levem 
ao interesse comum, ela se supervaloriza, ela se torna competente. 
A competência, sobretudo a profissional, é um valor fundamental 
da ética profissional na civilização ocidental.
3.2 a competência como valor fundamental da 
ética profissional
Competência, na sua raiz etimológica, significa saber fazer 
bem. E se procurarmos o significado do advérbio, “bem” indica 
algo que diz respeito tanto à verdade, do ponto de vista do 
conhecimento, como ao valor, do ponto de vista da atitude que 
se exige do profissional. Ser competente é saber fazer bem o 
dever. Ao dever articulam-se, além do saber, o querer e o poder. 
É fundamental um saber, o domínio dos conteúdos específicos 
da atividade profissional, mas esse saber perde seu significado 
se não estiver ligado a uma vontade política (no sentido de vida 
em sociedade), a um querer que determina a intencionalidade do 
gesto para com o outro no espaço do trabalho. Esse gesto não 
se exerce, se não se contar com a liberdade enquanto poder de 
direcionamento do processo.
Somos seres sociais e, desta maneira, nosso caráter, nosso espírito 
e atitudes são construídos socialmente, isto é, tudo o que sentimos, 
pensamos e nossos valores (o certo e o errado, o bem e o mal, o belo 
e o feio) nos foram ensinados. E, não só pelas nossas famílias, cursos, 
Por meio da profissão provamos 
nossa capacidade, habilidade, 
sabedoria e inteligência. Ela treina 
nossa personalidade para vencer os 
obstáculos, entre eles o domínio de 
nossos desejos e paixões.
Ser competente é saber fazer bem 
o dever. Ao dever se articulam, além do 
saber, o querer e o poder.
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grupos, mídia, mas também por todo o nosso entorno social. Alguns 
filósofos têm representado os seres humanos como aprendentes. 
Assim, a competência profissional, que é um valor ético profissional, 
foi, durante toda a modernidade, ensinada pelas gerações de 
profissionais anteriores à nossa na carreira que escolhemos.
Enfim, quando se ingressava numa carreira, os profissionais 
mais velhos ensinavam o habitus ético da categoria profissional a 
que iríamos pertencer por toda nossa vida.
Carreira significava originalmente, na língua 
inglesa, uma estrada para carruagens, e, como 
acabou sendo aplicada ao trabalho, terminou por 
ter o sentido que hoje damos ao conceito: um 
canal para as atividades econômicas de alguém 
durante a vida inteira (Sennet,1999, p. 9).
O conceito de habitus foi criado pelo sociólogo francês Pierre 
Bourdieu para a análise da realidade social, hoje tão fragmentada 
e com um tão grande número de subculturas, que o conceito de 
classe social não é mais confiável. O conceito de classe social foi 
um instrumento de análise social até mais ou menos a década 
de 80 do século XX. Até esse momento, a inserção individual era 
bem definida na esfera da produção da sociedade capitalista. 
Aprendia-se uma profissão trabalhando nela.
Até a instalação do capitalismo flexível, entre as décadas 
de 80 e 90 do século XX, havia três possibilidades de se 
inserir no mundo do trabalho; a carreira na indústria, onde se 
entraria como aprendiz de operário aos 14 anos ou menos, com 
instrução elementar (as séries iniciais bastavam desde que se 
soubesse ler e escrever e realizar as quatro operações); como 
profissional técnico burocrático, com educação de nível médio/
técnico; ou profissional liberal, para aqueles de famílias com 
recursos econômicos suficientes para bancar os estudos até a 
universidade.
Havia ainda a classe dos donos do capital, como consequência 
direta do poder político que tinha uma educação elitista, quase 
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sempre na Europa ou mais recentemente nos Estados Unidos. 
Essas classes se reproduziam por meio da ideologia que permeia 
a cultura de classe. O setor de serviços era exclusividade e dever 
do Estado, que era forte e regulava com rigidez as relações entre 
capital e trabalho, por meio de leis construídas historicamente, 
com a luta política da classe trabalhadora e dos partidos políticos 
com ela comprometidos. Denominado “welfaire state” ou Estado 
do bem-estar social, o Estado democrático estava compromissado 
com as classes que o apoiavam politicamente. Todos os setores 
sociais tinham compromissos e obrigações que as estruturavam 
por meio da cultura.
Costuma-se definir cultura como um conhecimento coletivo 
que pode ser percebido nas interações sociais, mas também como 
um conjunto de conhecimentos, ideias e crenças que foram 
acumulados na memória social. Por isso, cultura implica princípios, 
modelos, esquemas de conhecimento geradores, conservadores 
e, muitas vezes, regeneradores1 de ideologias que dirigem a 
consciência coletiva. Ora, a linguagem e o mito são elementos 
constituintes da cultura; então
A cultura não contém somente uma dimensão 
cognitiva; ela é um instrumento cognitivo, cuja 
prática é de natureza cognitiva. Neste sentido,poderíamos dizer – metaforicamente – que a 
cultura de uma sociedade é uma espécie de 
complexa mega-unidade de cálculo que armazena 
todas as entradas (informações) cognitivas e, 
por dispor de propriedades quase lógicas, (...) 
formula normas praticas, éticas e políticas dessa 
sociedade (Ortiz,1994, p. 72-73).
Assim, cada indivíduo ao ingressar no mundo do trabalho 
adquiria não só a competência, mas a produtividade, a 
sociabilidade, a honestidade, fidelidade, o zelo, e o sigilo – valores 
essenciais da ética profissional com seus companheiros no próprio 
cotidiano de labor e durante uma vida inteira. Vivemos, hoje, na 
era da informação e do capitalismo flexível, fragmentam-se a 
burocracia e a rotina do trabalho, mudando-se até a terminologia 
O setor de serviços era 
exclusividade e dever do Estado, que era 
forte e regulava com rigidez as relações 
entre capital e trabalho, por meio de 
leis construídas com a luta política 
da classe trabalhadora e dos partidos 
políticos com ela comprometidos.
1 Segundo Adorno, essa capacidade da cultura de regenerar mitos e 
crenças, às vezes muito antigas, pode ter sido a responsável pela barbárie do 
nazismo e o consequente holocausto dos judeus.
Cada indivíduo ao ingressar no 
mundo do trabalho adquiria não só 
a competência, mas a produtividade, a 
sociabilidade, a honestidade, fidelidade, 
o zelo, e o sigilo – valores essenciais 
da ética profissional com seus 
companheiros no próprio cotidiano de 
labor e durante uma vida inteira.
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que usamos para ele. A palavra “job” (serviço, emprego), em inglês 
do século XIV, queria dizer um bloco ou parte de alguma coisa 
que se podia transportar numa carroça de um lado para outro. 
“A flexibilidade hoje traz de volta esse sentido arcano de job, na 
medida em que as pessoas fazem blocos, partes de trabalho, no 
curso de uma vida” (Sennet,1999, p. 9).
Atualmente, o mundo do trabalho não permite que tenhamos 
planos de uma carreira para a vida toda e, muito menos, as 
certezas de nossos avós que, devido à certeza que uma sociedade 
estruturada em valores duros lhes dava, poderiam prever toda 
uma vida. Tomemos, por exemplo, um operário. Aos 14 anos, ele 
poderia planejar sua vida: ingressar como aprendiz numa grande 
fábrica e sonhar com ascensão profissional, chegar a chefe de 
secção, casar-se, morar na vila operária, pagar mensalmente as 
prestações da casa; enquanto os filhos cresciam, ensinar-lhes sua 
profissão e os atributos morais ligados a ela; instruí-los na luta 
sindical, a votar nos partidos da classe trabalhadora, ter a carteira 
assinada e os direitos de assistência social. 
Esse trabalhador (junto com outros) construiá uma rede de 
solidariedade geralmente ligada ao sindicato, às associações 
de bairro ou a comunidades religiosas. Poderia ter acesso a 
um conjunto de orientações burocráticas para organizar suas 
experiências a longo prazo. As leis estruturavam rigidamente 
salários, benefícios e pensões. Assim, ao final da vida, podia 
aposentar-se e ingressar numa velhice achacada por doenças 
profissionais, mas tranquila dentro dos mesmos valores morais, 
religiosos e éticos, da mesma vila e junto à mesma comunidade 
em que nascera ou para onde migrara. Em São Paulo, podemos 
perceber ainda essas vilas em regiões de grande concentração 
de fábricas no início do século XX. Por ex.: Brás, Barra Funda 
Jaçanã, Mooca, entre outros.
A competência é um valor ético fundamental do mundo 
profissional. De nada adianta praticar todos os princípios éticos, 
se não tivermos a competência necessária para nosso trabalho. 
Afinal, é impossível até ser honestos no campo profissional 
É impossível até ser honestos no 
campo profissional se não tivermos 
competência, pois faremos os mais 
simples registros contábeis com erros 
graves, prejudicando o erário público, 
a empresa e nós mesmos enquanto 
profissionais.
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se não tivermos competência, pois faremos os mais simples 
registros contábeis com erros graves, prejudicando o erário 
público a empresa e nós mesmos enquanto profissionais. Cada 
vez que eu faço um trabalho ele me lança desafios novos que só 
poderão ser resolvidos ao buscar novas teorias. Sempre foi assim 
nessa sociedade, em que, desde o início, tudo é feito em termos 
de balanço e de previsão dentro de operações racionais, em que 
toda a ação individual é baseada em cálculo. Hoje, ainda mais, 
pois o novo é novo para todos e não podemos contar, como as 
gerações anteriores, com que os mais velhos de profissão e ou 
de empresas nos ensinem competências.
A “descoberta” da perspectiva ética presente na competência 
profissional pode contribuir para uma melhoria na qualidade do 
trabalho que fazemos, se formos competentes em nosso espaço 
profissional. Isso se consegue vivendo de maneira relacional 
entre teoria e práxis na nossa profissão. A teoria se consegue por 
meio do saber cientifico historicamente acumulado; ao aplicá-la 
(a práxis) vou ter que buscar novos saberes que me possibilitarão 
outras formas de ação competentes e assim sucessivamente. Há 
uma relação dialética entre saber e fazer. 
Outro valor ético fundamental nas relações de trabalho 
dentro da burocracia capitalista é o zelo, que consiste no 
cuidado amoroso com os instrumentos do trabalho, e na própria 
execução da tarefa como se estivéssemos trabalhando para a 
própria divindade. Faz parte do zelo profissional o cuidado com 
a higiene pessoal e com tudo que se relaciona com o corpo do 
profissional e com sua aparência dentro dos hábitos do grupo de 
trabalho de que faz parte. 
Além disso, deve haver em cada um de nós o sigilo, que é 
a capacidade de não revelar a ninguém que não componha 
os quadros da empresa as informações que só interessam aos 
profissionais da organização. Ao sigilo se refere o falar baixo e 
claro dentro da empresa, bem como evitar comentários da vida 
privada, tanto nossa como de outrem.
O zelo que consiste no cuidado 
amoroso com os instrumentos do 
trabalho, e na própria execução da tarefa 
como se estivéssemos trabalhando 
para a própria divindade.
O sigilo é a capacidade de não 
revelar a ninguém que não componha 
os quadros da empresa as informações 
que só interessam aos profissionais da 
organização.
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Por fim, temos a honestidade como valor ético profissional 
fundamental. Do latim, honestus, sinônimo de honoris status, 
tem a ver com o homem íntegro e virtuoso. A honestidade é 
diferente da coação externa, feita, por exemplo, por medo ou 
culpa. Não é o mesmo que sinceridade. Valor de respeito ao outro 
e ao coletivo é construído a partir de várias formas de educação 
que recebemos. Ninguém nasce honesto. A honestidade é uma 
construção do entorno social. 
Honestidade significa a capacidade de respeitar a propriedade 
alheia. Por propriedade alheia se entende desde o dinheiro até o 
computador e tudo que a ele se refere. É antiético colocar, por 
exemplo, fotos de parentes nossos no computador, onde deveria 
estar o logotipo da empresa. Não existe meia honestidade. 
Todo o material da empresa está sob nossa guarda para ser 
utilizado apenas e tão somente em serviços profissionais, jamais 
em trabalhos pessoais. Até inconscientementeas pessoas 
pressentem o risco de caos que seria viver entre desonestos.
A competência, o zelo, a honestidade e o sigilo se relacionam 
de maneira dialética. Quando desenvolvemos um desses 
valores acabamos por desenvolver todos os outros. Além disso, 
lembramos que ética é conduta e que conduta se muda pelo 
exemplo. Pode ocorrer que, se cada um de nós tiver valores 
éticos fortes, possamos elevar o nível de conduta e de aspiração 
para o grupo de trabalho a que pertencemos.
3.3 construir uma vida ética profissional 
factível
A ética ocidental nos impõe um conjunto de valores que 
norteiam nossa conduta e que fundamentam as nossas opções 
entre o bem e o mal, o justo e injusto. Tais opções correspondem 
à única forma possível de liberdade. Liberdade que gera a 
responsabilidade por nossos atos e pelo “bem viver” dos outros, 
sobretudo os mais fracos e dependentes. Isso será possível se 
cumprirmos bem nosso dever. Agir de acordo com os nossos 
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deveres como cidadãos, profissionais e pessoas nos levará a 
gerar laços de solidariedade. Para melhorar o mundo hoje, o 
viver solidário é o traço fundamental para recuperarmos o “viver” 
ético nas relações de trabalho, nas organizações empresariais 
públicas ou privadas e na sociedade como um todo. 
Agimos quase automaticamente dentro daquelas normas 
de conduta que nos foram ensinadas pelo nosso entorno social 
ao longo de nossas vidas. As normas de conduta que dirigem 
nossas ações no cotidiano (ética que temos) são pautadas em 
valores. Tais valores formam as crenças que foram construídas 
ao longo de nossas vidas pelas convicções políticas, pelo exemplo 
de comportamento de família, pela educação escolar, pelos 
amigos, pela TV e pelo rádio, pela religião, pela cultura e pelos 
companheiros mais velhos de profissão, entre outros.
No Brasil, hoje, há duas éticas distintas e antagônicas: 
de um lado, a ética do capitalismo neoliberal (que inverteu 
a ética protestante original e colocou o poder no lugar do 
dever) competitivo, narcisista, individualista e centrado nas 
leis do mercado e regido pelo lucro; por outro lado, a ética da 
solidariedade, do amor ao próximo, da compaixão não só pelos 
seres humanos, mas por toda forma de vida, da tolerância com o 
outro que, sendo diferente, não deixa de ser fraterno para mim. 
É a ética pela qual clama a sociedade civil, os movimentos pelos 
direitos sociais e as religiões. 
É urgente que reflitamos sempre sobre a diferença entre o que 
temos a fazer e o que devemos fazer. Examinando constantemente 
as questões que se encontram em jogo nas nossas ações quer 
pessoais, profissionais ou políticas, de preferência em comum 
com os mais diversos grupos a que pertençamos, podemos nos 
tornar profissionais mais livres e justos e promotores do bem 
comum. Para evitar a rede da antiética que está por todos os 
lados e que pode nos seduzir com facilidades e “jeitinhos” e que 
nos pode levar à escravidão dos vícios e à prisão por crimes, 
É urgente que reflitamos sempre 
sobre a diferença entre o que temos a 
fazer e o que devemos fazer.
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longe, portanto, da felicidade pessoal que os fundadores do 
capitalismo e da ética profissional sonharam para nossa época. 
Somente por meio dessa reflexão constante e profunda é 
possível favorecer um projeto mais consistente de sociedade 
e de trabalho condizentes com a essência humana de busca 
da felicidade, o que só será possível se houver plenitude da 
tolerância e do respeito à dignidade humana. 
Precisamos ter coragem para colocar a ética em primeiro 
lugar, para não permitir que nossas mentes se fechem para o 
sofrimento do outro. Coragem para estar abertos às mudanças 
e pensar em novas questões que a princípio possam parecer 
extremadas; e, acima de tudo, precisamos ter coragem de agir 
e de buscar soluções para as nossas preocupações políticas e 
sociais. Coragem para tomar decisões éticas que contribuam 
para o planejamento de nosso futuro comum, participando 
ativamente em nossa comunidade. Isso é essencial para todos 
os profissionais e cidadãos. Afinal, vivemos numa sociedade em 
rede cujo valor fundamental é a tolerância.
Cuidando do outro como de nós mesmos, pode nascer uma 
revolução, porque esse modo de agir toca o outro, que se interroga 
e sente o desejo de começar e experimentar também. Desse modo, 
são recuperadas as razões da convivência e as motivações das 
exigências éticas. Somente os valores éticos, já que são uma síntese 
de todo o processo civilizatório, podem fortalecer o tecido social e 
melhorar a convivência humana. Na verdade, a ética necessita ser 
construída e reconstruída em cada pessoa e em cada geração, no 
dia-a-dia da vida, a partir das pequenas coisas. Como diria Renato 
Russo: “disciplina é liberdade e compaixão é fortaleza”.
3.4 os desafios e propostas para a prática da 
ética profissional
Hoje, parafraseando Edgar Morin, a única certeza que temos 
é que não temos certeza. O campo de trabalho criou uma cultura, 
se é que o podemos chamar por esse nome, onde tudo é efêmero: 
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as comunicações eletrônicas substituíram o senso de comunidade 
e os contratos substituem o conjunto burocrático. Há uma 
frequência de mudança de emprego que põe em cheque a noção 
de responsabilidade. A carreira tradicional, que avança passo a 
passo pelos cargos de uma ou duas instituições ao longo da vida, 
e também a utilização de um único conjunto de qualificações no 
decorrer de uma vida de trabalho estão fenecendo.
Como construir no mundo atual a competência? E como 
desenvolver em curto prazo os compromissos de lealdade e 
solidariedade? De que maneira é possível o sigilo, como valor 
ético, se a posse de uma informação nova é capital para ingresso 
em uma empresa concorrente e com salários mais altos? A 
“descoberta” da perspectiva ética presente na competência 
profissional pode contribuir para uma melhoria na qualidade do 
trabalho que fazemos?
Nada se fez até agora com base apenas no 
fervor e na espera. É preciso agir de outro modo, 
entregar-se ao trabalho e responder as exigências 
de cada dia – tanto no campo da vida comum, 
como no campo da vocação. Este trabalho será 
simples e fácil, se cada qual encontrar e obedecer 
ao demônio que tece as teias de sua vida (Weber, 
2000, p. 52).
Ao obedecermos ao demônio que tece as teias da vida, 
aceitamos o desafio de lecionar ética profissional para uma 
geração que está constantemente ensinada pelo entorno social, 
inclusive religioso, para uma verdadeira civilização do indivíduo; 
em que se privilegiam o narcisismo, o consumismo de objetos 
tornados pessoas e pessoas objetos, além de uma competitividade 
exacerbada. Para isso, tivemos de primeiro saber o significado da 
palavra “desafio”.
O dicionário dá o seguinte conceito de desafio: “ato de 
proposição de combate de luta”. Se o relacionarmos com a 
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ética profissional, tem razão de ser a proposição do tema, 
considerando, de um lado, que irá tratar de uma situação que 
inspira cuidados, de uma circunstância que prenunciaum mal 
para alguém ou para alguma coisa e, de outro, que, sendo tal 
consideração, deverá desembocar consequentemente num 
incitamento a um combate, a uma luta.
Cremos que insistir em determinadas ideias é de fundamental 
importância num momento como o atual. Hoje, as organizações 
operam como estruturas de rede flexível, frouxa, e não têm um 
comando de cima para baixo que determinar um código ético a 
ser seguido. As empresas tendem a deixar para o profissional a 
culpa por deslizes no campo ético. A cobrança social e as possíveis 
punições recairão sobre o contador. É o profissional que recebe 
as demandas por ética de parte dos cidadãos, atualmente vistos 
por tais organizações apenas como consumidores ou clientes.
Propomos uma ética profissional que esteja voltada para a 
ideia de que somos seres culturais por excelência e que os seres 
humanos constroem essa cultura, ao mesmo tempo em que são 
por ela construídos, graças ao recurso cognitivo da linguagem. Ela 
mesma foi historicamente elaborada a partir dos conhecimentos 
adquiridos, aptidões desenvolvidas, experiências vividas, 
consciência histórica e crenças místicas, em íntima solidariedade 
– portanto corpórea – com os demais membros da sociedade 
em que vivemos. Dessa maneira, os ‘simbolismos coletivos’, 
‘consciência coletiva’ e ‘universo imaginário coletivo’ constroem 
as linguagens e são por elas, ao mesmo tempo, construídos. 
Como dissemos acima, a cultura determina não só as 
regras e normas que organizam a sociedade, como também o 
comportamento individual. Por isso, ao mudar as linguagens, 
mudam-se os comportamentos e, além de o inverso ser verdadeiro, 
ocorre um íntimo intercâmbio complexo entre conduta, visão de 
mundo e linguagens usuais. A linguagem, sendo respeitosa e 
ética, pode contribuir para uma ação ética no mundo do trabalho, 
uma vez que não é mais possível construir a ética profissional 
como era construída pelas gerações anteriores.
As empresas tendem a deixar 
para o profissional a culpa por deslizes 
no campo ético. A cobrança social e 
as possíveis punições recairão sobre o 
contador. É o profissional que recebe 
as demandas por ética de parte dos 
cidadãos.
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O ser humano desenvolveu uma linguagem, diferente de 
outros animais, para solucionar as situações-problema do 
presente por meio de um conjunto de representações simbólicas 
que foram herdadas do passado – individual e/ou coletivo. Toda 
sua compreensão de um fenômeno qualquer envolve perspectivas 
de futuro. Dessa maneira, a linguagem, que é o veículo do 
pensamento, se tornou, com o tempo, um conjunto complexo. 
Nossas linguagens se estabeleceram em comunidades, 
voltadas ao trabalho ou para as festas das atividades agrícolas, 
o início de tudo. Comunidades eram voltadas aos ritos de 
passagem das fases da vida humana. Elas se fizeram e fizeram 
os seres humanos ao mesmo tempo. A linguagem é produto dos 
seres humanos, devido a nossa própria incapacidade de vivermos 
sós e nossa capacidade de previsão de nossas necessidades 
futuras. Resgatando-se a linguagem cordata, elegante, mansa 
e eficaz, talvez possa se resgatar a moral de nossos ancestrais 
na atividade profissional.
Dessa maneira, devemos, sim, nos indignar eticamente quando 
as linguagens, aparentemente inocentes, utilizadas pelos nossos 
companheiros de trabalho ou por nós mesmos, denotarem um 
desrespeito à vida, de qualquer espécie. As regras e normas culturais 
geram os processos sociais e os regeneram, nem sempre para um 
mundo melhor, em critério global e dentro de uma complexidade 
social própria dessa cultura mundializada. Cuidar da linguagem, 
então, pode ser uma outra forma de zelo profissional. 
Cultura e sociedade, então, estão em interdependência 
generativa e, nessa interdependência, as pessoas nas suas 
interações umas com as outras estão, constantemente, 
produzindo uma nova cultura, que por ser nova nem sempre 
traz o melhor. Essas interações podem regenerar a sociedade, tal 
como se apresenta, mas podem também promover o retorno à 
barbárie que Adorno anunciava. Não podemos nos esquecer de 
que os dois males do mundo do escritório hoje, o assédio moral 
e o assédio sexual, têm sua origem em linguagens inapropriadas 
Resgatando-se a linguagem 
cordata, elegante, mansa e eficaz, talvez 
se possa resgatar a moral de nossos 
ancestrais na atividade profissional.
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às relações trabalhistas. Seria uma barbárie, um caos, numa 
sociedade da comunicação, uma linguagem fora dos padrões 
morais de conduta civilizada. 
Para aceitar o desafio de sermos éticos em nossa vida 
profissional, civilizando a Terra, primeiro temos que tomar 
consciência de que estamos no mesmo barco, isto é, o que 
acontece em qualquer lugar do planeta nos diz respeito. Se a 
angústia de tantos sofrimentos que temos causado aos filhos 
da Terra e seus ecossistemas e a incerteza com relação ao nosso 
futuro comum nos acercam, é importante lembrar que, como 
diria o próprio Morin, é o amor o antídoto à angústia. E, se só 
posso amar aquele em que me reconheço, a saída possível para 
civilizar a Terra é treinar nossos espíritos para reconhecermo-nos 
nos outros. Vê-los como nossos irmãos. É estar solidários com 
toda a criatura humana e ser responsáveis com a civilização.
A salvação que o intelectual busca sempre é uma 
salvação de ‘aflição íntima’ e, por isso, por um 
lado de caráter mais estranho à vida, porém, por 
outro, de caráter mais profundo e sistemático do 
que a salvação da miséria concreta que é própria 
das camadas não-privilegiadas. O intelectual, 
por caminhos cuja casuística chega ao infinito, 
procura dar a seu modo de viver um sentido. (...) 
Quanto mais o intelectualismo reprime a crença 
na magia, ‘desencantando’ assim os fenômenos 
do mundo, e estes perdem seu sentido mágico, 
somente ‘são’ e ‘acontecem’, mas nada 
‘significam’, tanto mais cresce a urgência com 
que se exige do mundo e da ‘condução da vida’, 
como um todo, que tenham uma significação 
e estejam ordenados segundo um sentido 
(Weber,1994, p. 343-4).
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4 a ética profissional EM contabilidadE
4.1 o conceito de ética profissional
Denomina-se ética profissional um conjunto ou série de 
normas que impulsionem o indivíduo à aquisição de hábitos 
e à formação do seu caráter de tal maneira que passe a agir 
em conformidade com o tipo de profissional que a sociedade 
construiu, ao longo da história, para uma determinada 
profissão. Tais normas constam de um código que inclui os 
deveres e os direitos que cada profissional deve possuir. Além 
do mais, tais normas contribuiriam para o viver harmônico 
do profissional com os seus pares de profissão dentro de 
uma organização.
Algumas profissões estão tão intrinsecamente ligadas 
à ética – e a contabilidade é uma delas – e, muito antes 
de a sociedade pós-moderna clamar por valores éticos 
nas condutas de profissionais, elas já tinham um código 
normatizado para o agir profissional. Hoje, as pesquisas 
têm revelado que o comportamento ético ainda é o melhor 
caminho para o sucesso profissional de qualquer trabalhador 
e que a fama de profissional íntegro alarga a rede de 
relações com outros profissionais e empresas, promovendo 
a empregabilidade, fator tão importante em nossosdias. Se 
tais verdades valem para todos os profissionais ainda mais o 
seriam para profissões em que a ética é quase sinônimo de 
competência. Tal profissional contador ganhará, por certo, a 
confiança dos clientes e empregadores.
Os valores estruturantes da ética profissional não surgiram 
da vontade de alguns empresários ou órgãos de classe. Eles 
possuem um respaldo filosófico construído ao longo da 
história da humanidade, sobre o qual foram desenvolvidos 
determinados padrões de comportamento especificos para 
determinadas atividades. Tais padrões podem ser utilizados, 
inclusive, como parâmetro para definir os limites de um 
Ética profissional é um conjunto 
de normas reunidas em um código que 
inclui os deveres e os direitos que cada 
profissional deve possuir.
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determinado tipo de trabalho e o que se esperar ou não de 
determinada profissão.
4.2 a profissão contábil
A profissão contábil é uma das profissões liberais. É uma 
profissão de vocação, isto é, conforme Weber (1997, p. 151), 
uma ocupação contínua do homem sob a divisão do trabalho, 
que é normalmente sua fonte de renda e, a longo prazo, a 
base econômica de sua existência. É expressa dentro de um 
conteúdo ético e derivada das obrigações compulsórias da velha 
comunidade cívica.
O contabilista, por sua formação, pode ser designado 
contador. E, são assim chamados os bacharéis de ciências 
contábeis que, portanto, obtiveram formação em nível 
superior. Podem ser assim designados, também, os técnicos em 
contabilidade, aqueles que têm formação em nível médio e, no 
âmbito de sua profissão, podem atuar de muitas e diferentes 
formas. 
O código de ética profissional dos contabilistas especifica 
alguns tipos de trabalho que são privativos dos contadores. 
Aponta como área de atuação dos contabilistas: contabilidade 
privada ou pública, perícia contábil, auditoria interna ou 
independente, controladoria e consultoria.
Nessas áreas, o contabilista pode atuar tanto como 
empregado quanto como empregador e, adicionalmente, 
como profissional liberal. Por força da profissão, a contabilista 
lida diariamente com aquele que é hoje apontado como um 
dos bens mais preciosos de uma economia: a informação, 
e, normalmente, informação relacionada com negócios 
pertencentes a terceiros. Tal fato, por si só, já é suficiente 
para demonstrar que esse profissional quase sempre se 
encontra com dilemas éticos.
A profissão contábil é uma das 
profissões liberais. É expressa dentro 
de um conteúdo ético e derivada das 
obrigações compulsórias da velha 
comunidade cívica.
Por força da profissão, o 
contabilista lida diariamente com aquele 
que é hoje apontado como um dos 
bens mais preciosos de uma economia: 
a informação, e, normalmente, 
informação relacionada com negócios 
pertencentes a terceiros.
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Atuando no setor privado, o contador tem conhecimentos 
de informações estratégicas dentro de qualquer empresa 
como, por exemplo, custo unitário de produtos, taxa de juros 
praticada, seja como aplicador, seja como captador de recursos, 
no planejamento operacional e estratégico e nas decisões de 
investimentos. No setor público, o contador tem conhecimentos 
abrangentes do orçamento do órgão ao qual se acha vinculado, 
aqui incluídos os projetos, nível de despesas correntes ou de 
capitais.
Enquanto auditor, o contador é chamado a opinar a respeito 
de trabalhos elaborados por profissionais de sua própria classe 
e sobre as demonstrações contábeis das empresas por ele 
auditadas, pois deve ter conhecimento completo de todas as 
informações relevantes da empresa. O comportamento esperado 
do contabilista, enquanto administrador de pessoas, iguala-se 
ao comportamento esperado de qualquer outro profissional na 
mesma situação.
A discussão a respeito da administração de pessoas passa, 
obrigatoriamente, pela discussão da questão da liderança. 
Muitas características são normalmente apontadas como 
componentes necessários à personalidade de um líder, como 
honestidade, carisma, coragem, honradez, denodo, polidez 
e, sobretudo, a capacidade de perceber os talentos de seus 
colaboradores. Em qualquer ramo de atividade humana (artes, 
ciência, política, religião) podem ser encontrados exemplos 
de liderança. Qualquer que seja a definição dos papéis de 
um líder, é certo que ele terá sempre a responsabilidade de 
conduzir pessoas com o intuito de alcançar determinado 
objetivo. O contador pode muito bem assumir a liderança 
em qualquer tipo de empresa, sobretudo nos dias atuais, 
em que a tecnologia o libertou do trabalho exaustivo de 
guarda-livros. 
Hoje, vivemos no que se convencionou chamar sociedade 
da informação, em que a informação é capital e mercadoria. 
 São componentes necessários à 
personalidade de um líder: honestidade, 
carisma, coragem, honradez, denodo, 
polidez e, sobretudo, a capacidade 
de perceber os talentos de seus 
colaboradores.
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Todas as decisões tomadas, envolvendo as atividades de uma 
empresa, qualquer que seja o nível dessa decisão, têm por 
base algum tipo de informação. Nesse contexto, o papel 
do contabilista é importante, uma vez que as informações 
relacionadas ao capital e aos bens da empresa estão sob seu 
controle.
Muitas pessoas necessitam e, efetivamente, fazem uso 
de informações que cotidianamente são elaboradas pelos 
contabilistas. Entre os principais usuários das informações 
contábeis estão: os proprietários de empresas, seus 
administradores, o governo, os fornecedores de produtos e 
serviços, os clientes das empresas, as instituições financeiras 
e os investidores. Cada usuário requer um tipo específico de 
informação, que é utilizada para tomada de decisões dentro 
de seus interesses econômicos. 
Os proprietários das empresas buscam, junto aos 
contabilistas, informações que lhes indiquem maior 
rentabilidade para seus investimentos. Administradores de 
empresas necessitam de informações confiáveis que lhes 
permitam conduzir com segurança o negócio administrado. 
Mas, não é só isso, também os órgãos governamentais 
buscam informações sobre andamento de projetos sociais. 
É no aspecto tributário que os contadores são essenciais: 
na provisão, na distribuição e no recolhimento de impostos 
que financiem o bem comum. Cabe ao contabilista um papel 
preponderante na licitação de obras públicas a cargo de 
empresas privadas.
O papel do contador é suprir, com as informações desejadas, 
cada um desses usuários de informações, sem buscar o benefício 
ou o privilégio de qualquer um em particular. Para alcançar a 
excelência profissional, o contabilista deve comportar-se de 
maneira irrepreensível, probo e, acima de qualquer tipo de 
corrupção. Sempre que se achar em dilema ético, o profissional 
deve buscar refúgio no código de ética profissional e na ética de 
Entre os principais usuários 
das informações contábeis estão: 
os proprietários de empresas, seus 
administradores, o governo, os 
fornecedores de produtos e serviços, os 
clientes das empresas, as instituições 
financeiras e os investidores.
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modo geral, uma vez que, assinando os documentoscontábeis, é 
sobre ele que recairão as punições cabíveis. Não é possível mentir 
para todos, o tempo todo, já diriam os antigos, e a mídia, o quarto 
poder de uma sociedade democrática, tem constantemente 
denunciado os casos de corrupção, improbidade e sonegação 
fiscal1.
Devemos lembrar que os órgãos de defesa da profissão existem 
para nos proteger, pois é muito difícil a luta do trabalhador 
sozinho frente ao Capital. Costuma-se denegrir a imagem 
do contabilista, mas muitas vezes injustiças ocorrem com o 
profissional. É por isso que os órgãos de classe só admitem como 
contador aqueles que apresentarem sua habilitação legal para o 
exercício da profissão. O exercício da profissão do contabilista 
na Brasil exige, além da formação escolar em nível médio ou em 
nível superior, que o profissional esteja devidamente registrado 
em um conselho regional de contabilidade, autarquia federal a 
quem compete o registro e fiscalização da profissão. 
O exercício da profissão, sem que o profissional se 
encontre devidamente registrado em seu Conselho Regional 
de Contabilidade (CRC) de origem, configura crime e sujeita 
o infrator às penalidades impostas pelo CRC, sem prejuízo de 
outras penalidades civis ou criminais. Mais que isso, coloca em 
dúvida a validade das informações por ele elaboradas. Devemos 
lembrar que esses órgãos defendem a profissão e como vimos 
acima o princípio ético de qualquer profissão é a competência. 
Sem um saber fazer, provado pelo diploma, é impossível exercer 
com competência uma profissão.
O profissional não capacitado que aceita a tarefa de executar 
determinado trabalho coloca em risco não apenas sua reputação, 
mas a da própria categoria profissional que um dia pretende 
assumir, pois, sem as competências necessárias, pode induzir 
1 Corrupção: quando se recebe algo para fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa.
Improbidade: quando o funcionário público ganha algum valor para 
fazer algo em favor de alguém.
Sonegação fiscal: a não-contabilização de recursos monetários.
Os órgãos de defesa da profissão 
existem para nos proteger, pois é muito 
difícil a luta do trabalhador sozinho 
frente ao Capital.
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os usuários das informações por ele elaboradas a decisões 
equivocadas. Como sabemos, dentro da nova administração está 
o conceito de otimização de recursos, e , no Brasil, tal conceito 
significa: pagar o menor salário possível. Assim, muitos gestores 
admitem estagiários para fazer o trabalho de profissionais. 
Infelizmente para a categoria, vários não formados fazem o 
trabalho e só um formado assina. Essa prática, do “jeitinho” 
brasileiro, acaba concorrendo para o aviltamento da profissão 
contábil. 
Atuando como contador nas empresas, o profissional 
contador, seja ele um bacharel em ciências contábeis, seja 
um técnico em contabilidade, como empregado ou por conta 
própria, precisa conhecer de maneira profunda os princípios 
fundamentais de contabilidade, tanto os em vigor no Brasil, 
como aqueles em vigor no país de origem da empresa, 
quando for o caso de ela não ser brasileira. Vale destacar que 
esse conhecimento implica atualização constante: conhecer 
profundamente o sistema tributário do país, especialmente no 
que diz respeito aos tributos inerentes à atividade da empresa; 
conhecer de forma ampla a atividade da empresa, aqui incluído 
o seu mercado de atuação; conhecer de maneira clara o modelo 
de decisão dos usuários das informações contábeis.
Sendo portador dos conhecimentos apontados, e dos outros 
mais específicos para cada caso, resta ao profissional aplicá-los 
de forma adequada. Nesses termos, um princípio de orientação 
geral seria elaborar as informações contábeis respeitando as 
regras a elas inerentes, tanto as externas à empresa (princípios 
fundamentais de contabilidade e leis do país), quanto as internas, 
baseadas no modelo de decisão da empresa. 
4.2.1 Exemplos de pressão do patronato sobre o 
profissional contador
O profissional, especialmente quando na condição de 
empregado da empresa, não deve deixar que sua eventual 
Atuando nas empresas, o 
profissional contador precisa conhecer 
de maneira profunda os princípios 
fundamentais de contabilidade.
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dependência econômica ao empregador o obrigue a divulgar 
informações não verdadeiras. Atualmente, ocorrem muitos 
exemplos de situação em que o profissional pode pensar 
estar obrigado a atuar de maneira oposta a sua competência 
profissional. Vejamos alguns exemplos e de que maneira é 
possível encontrar saídas éticas:
a. Alegando um suposto “planejamento tributário”, a direção da 
empresa resolve praticar determinadas transações que se 
caracterizam por verdadeira elisão de tributos. Portanto, o 
contador é convidado a “maquiar” o efeito das transações. 
Nessa situação, o profissional deve orientar a direção da 
empresa sobre os riscos que as transações trazem, mas, 
acima de tudo, deve recusar-se a seguir a orientação que 
lhe foi dada.
b. Os dirigentes de uma empresa de capital aberto, para 
assegurar o sucesso de uma captação de recursos no 
mercado de valores mobiliários por meio da emissão de 
um lote de debêntures, resolvem divulgar para o mercado 
um prospecto com demonstrações que não refletem a 
realidade da empresa. Em situação dessa natureza, além 
de o profissional recusar-se a assinar as demonstrações, 
ele deve comunicar o fato aos órgãos competentes, entre 
eles, o conselho regional de contabilidade e a comissão de 
valores mobiliários.
c. Um contador, por meio de suas análises de rotina, 
descobre que determinada transação realizada no mercado 
financeiro acarretou prejuízos para a empresa. Nesse caso, 
o profissional não pode agir privilegiando suas amizades 
pessoais, e, portanto, a operação deve ser imediatamente 
comunicada à direção da empresa.
d. O contador de uma companhia de capital aberto sabe 
que a iminente divulgação do balanço da companhia 
demonstrará um ótimo resultado financeiro no exercício 
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anterior. Tais resultados provocarão uma alta no valor das 
ações da companhia e, dias antes de a informação ser 
divulgada para o mercado, ele fornece essas informações 
para que pessoas ou empresas de suas relações pessoais 
comprem essas ações de maneira privilegiada. Nesse caso, 
o profissional estará agindo de má-fé, sujeitando-se às 
penalidades previstas nas leis, inclusive, quando for o caso, 
as penais. Este exemplo, de tanto acontecer nos mercados 
de capitais mundiais, recebeu até um conceito próprio em 
Inglês: é o insider information.
4.3 função social da profissão contábil na era 
da informação2
Na atual sociedade da informação, uma revolução está 
começando a ocorrer no seio das organizações, porque, apesar 
de não serem produtoras da informação, somente as empresas 
são capazes de transformar informação em produtividade e 
competitividade, em benefício dos clientes, colaboradores e 
parceiros. Na sociedade da informação conhecimento é poder. 
Mas, o verdadeiro poder não está na capacidade de produzir 
e operar a tecnologia de manipulação da informação e sim na 
capacidade de usar a informação para promover diferenciais e 
benefícios aos seus usuários.
O contador é uma categoria das mais privilegiadas nessanova sociedade, uma vez que há muito tempo é o responsável 
pelas empresas para as quais presta serviços. A ampliação, bem 
como a solidificação do papel do contador, passa por duas 
formas distintas, mas interligadas de atividade: contribuir com 
a produtividade e contribuir com a competitividade dos seus 
clientes, além da otimização dos recursos. O contador pode 
contribuir de muitas maneiras para aumentar a produtividade 
de seus clientes. Vejamos alguns exemplos:
1. Redução de custos: são inúmeros os custos que o contador 
pode ajudar a reduzir para os seus clientes. Conseguem-se 
reduzir desde aqueles custos mais notórios, como por 
A ampliação, bem como a 
solidificação do papel do contador, 
passa por duas formas distintas, mas 
interligadas, de atividade: contribuir 
com a produtividade e contribuir com 
a competitividade dos seus clientes, 
além da otimização dos recursos.
2 Foi utilizado como base o texto de Milton Santos publicado na 
revista do SESCON, SP, ano 10, n° 120, nov/98.
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exemplo, os custos fiscais e tributários, por meio da 
oferta de um bom planejamento tributário, até aqueles 
relacionados à operação do negócio pelo fornecimento 
de informações e análise crítica da estrutura de custos da 
empresa do cliente. Isso é possível por meio de relatórios 
bem estruturados, disponibilizados em tempo hábil e 
acompanhados de análises comparativas dentro do próprio 
segmento em que trabalha o cliente e de indicadores gerais 
de desempenho econômico-financeiro.
2. Racionalização das atividades: é a capacidade de interligar 
os processos executados internamente pela empresa e 
aqueles executados pelo contador externo, visando reduzir 
as duplicações de informações e retrabalhos. Neste tópico, 
o contador pode e deve lançar mão de todo o aparato 
tecnológico de equipamentos e programas disponíveis, 
hoje em dia, para oferecer simplificação de processos e 
agilidade aos seus clientes. Interligar computadores e 
sistemas de clientes e contadores, oferecendo em troca 
serviços adicionais, é um grande benefício para o cliente e 
garante a fidelidade do gestor, em relação ao seu contador.
3. Adequação de informações: embora legalmente existam 
padrões que devam ser seguidos, nada impede que o 
contador, utilizando uma mesma base de informações que 
possui, gere relatórios gerenciais adequados à linguagem 
e características culturais de seus clientes. A linguagem 
econômico-financeira não é o forte da maioria dos 
dirigentes de pequenas e médias empresas. Uma vez que 
o cliente percebe no contador uma fonte confiável de 
informações, análise e críticas de seu negócio, é possível 
estabelecer-se entre as partes um vínculo afetivo. É possível 
que a empresa do cliente cresça e se desenvolva. Uma das 
características do mundo atual é a rede de informação, 
assim, ao manter seu cliente satisfeito, pode-se contar 
com mais clientes.
O contador pode contribuir, também, na construção ou no 
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reforço da competitividade do seu cliente. Compreendemos, 
aqui, competitividade como a capacidade de uma empresa para 
manter-se e crescer no nicho do mercado com o qual e para 
o qual ela trabalha. Nesse aspecto, a contribuição do contador 
pode ser muito significativa e pode ocorrer de diversas maneiras. 
Vejamos alguns exemplos:
1. Elaboração de cenários: o contador é o profissional, por 
excelência, competente na compreensão e interpretação 
dos ambientes legal, fiscal, trabalhista e econômico do 
país. Elaborar, fornecer e discutir tendências sobre estes 
aspectos junto aos seus clientes permite que eles se 
preparem melhor diante dos riscos e aproveitem melhor as 
oportunidades que se apresentam no horizonte.
2. Informação sobre o segmento: num aprofundamento da 
qualidade e quantidade de informações que o contador 
fornece ao cliente devem ser incluídas perspectivas do 
segmento do mercado no qual o cliente é especializado. 
No seu trabalho cotidiano, o contador deve manter-
se atualizado, buscando o maior número possível de 
informações sobre o mercado e que possam ser úteis aos 
seus clientes. Ao estruturar, interpretar e disponibilizar tais 
informações ao cliente, o contador contribuirá para que ele 
se torne mais capacitado e preparado para a competição 
no mercado.
3. Fornecimento de ferramentas gerenciais: todo aparato 
de gestão econômico-financeira que o contador possui 
por formação pode e deve ser disponibilizado a seus 
clientes, sobretudo às pequenas e médias empresas. Isso 
porque quase nunca elas podem dispor de um economista 
ou administrador de empresas em seus quadros de 
profissionais. Esses conhecimentos possibilitarão aos seus 
clientes melhor gestão de seus negócios e tomar decisões 
que favoreçam a vida da empresa e o emprego de seus 
funcionários. Além do mais, conhecimento é o grande 
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O contador é o profissional 
por excelência, competente na 
compreensão e interpretação dos 
ambientes legal, fiscal, trabalhista e 
econômico do país.
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capital da sociedade da informação e em rede em que 
vivemos. E, por mais paradoxal que possa parecer, pela 
primeira vez na História temos um capital que, quanto 
mais se dá, mais se tem.
4.4 ética profissional em contabilidade
Certas profissões não podem perder os valores éticos sob pena 
de perder sua própria definição enquanto trabalho específico. A 
contabilidade é uma delas. Como sempre, como polo dinâmico 
da economia capitalista, foi dos Estados Unidos o clamor mais 
veemente para um retorno à conduta pautada na moral ocidental 
por parte de profissionais da contabilidade. Os reclamos por 
ética profissional passam a ser ouvidos, sobretudo, a partir dos 
escândalos financeiros em que se envolveu a empresa Enron.
Hoje se fala muito em intuição, em sensibilidade para 
perceber os desejos e as tendências do mercado para tal tomada 
de decisão. Contudo, só a intuição não basta; para além dela é 
preciso bom senso, isto é, um bom juízo pautado em valores. É 
preciso uma preparação adequada, atualizada e objetiva e isso 
se consegue por meio do dever de estudar sempre, isso porque, 
nos momentos de crise, hoje os ciclos de crise capitalista estão 
cada vez mais próximos um do outro, é preciso estar bem 
alicerçado em valores morais. Muitas vezes é necessário escolher 
entre os empregos dos homens e as técnicas. Decidir entre o que 
é devido e o que é indevido. Entre o que deve ser feito e o que 
não deve ser feito. Pautar a tomada de decisões de uma maneira 
ética é optar pelos direitos das pessoas e respeitar as decisões da 
justiça. Nesse sentido, a ética profissional é uma arte que deve 
ser aprendida dia após dia.
 
Uma das formas de dominação na sociedade capitalista, 
segundo Max Weber, é a “competência”. Isso porque a autoridade 
democrática é a autoridade burocrática, e essa autoridade advém 
da posição hierárquica que o cargo tem na organização societária 
do trabalho. Assim, profissão passa a significar nas sociedades 
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modernas, dever de “fidelidade” ao cargo, uma vez que a finalidade 
das ações, nessetipo de sociedade, é sempre impessoal e objetiva, 
porque racional e voltada a interesses subjetivos. 
Para que possa agir da maneira acima exposta no seu 
cotidiano profissional, o contador precisa ser, antes de tudo, um 
profissional ético. Entendemos ética profissional como a relação 
dialética entre as seguintes virtudes: zelo, sigilo, honestidade e 
competência. Por competência entendemos a relação dialética 
entre teoria e prática. Assim, não é possível ser competente sem 
estar constantemente refletindo sobre as questões do nosso 
tempo, denunciando a injustiça, defendendo o bem comum – 
mesmo o bem da categoria profissional da qual fazemos parte 
– preservando a vida e a liberdade individual e coletiva. Numa 
palavra: ética profissional.
As informações confiadas ao profissional contador devem 
ser inteiramente sigilosas, isto é, só interessam aos usuários 
das informações. A situação financeira de uma empresa, por 
exemplo, só interessa aos acionistas, e o comportamento 
sigiloso do contador quanto à divulgação desses dados é 
de caráter imprescindível para um comportamento ético e, 
consequentemente, competente.
O zelo é uma virtude essencial à competência profissional 
do contador e consiste no trabalho feito com lisura, buscando 
a perfeição, por mais simples que possa parecer uma tarefa. É a 
virtude da execução dos serviços confiados ao profissional, de 
modo perfeito, como se tais serviços nos fossem confiados pelo 
próprio Deus.
A honestidade é uma virtude inteiramente relacionada 
com confiança, respeitabilidade, bom nome, todos os atributos 
muito caros ao capitalismo. Isso porque sem confiança e 
respeitabilidade não é possível o investimento, o financiamento 
e os acordos comerciais a prazo. E, sem esses mecanismos, o 
capitalismo não funciona.
Esses valores interagem dentro de nossa consciência de 
Entendemos ética profissional 
como a relação dialética entre as 
seguintes virtudes: zelo, sigilo, 
honestidade e competência. Por 
competência, entendemos a relação 
dialética entre teoria e prática.
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modo dialético, isto é, à medida que desenvolvemos o zelo, por 
exemplo, seremos mais honestos. E, sendo mais honestos, seremos 
mais sigilosos. Sendo sigilosos, seremos mais competentes. Mais 
competentes, seremos mais zelosos.
Contudo, há uma forma de “organizarmos racionalmente”3 
nossa consciência para o agir ético. É a ética da responsabilidade 
e consiste nos seguintes pontos: buscar acreditar em algum 
valor intangível, de alto significado para a civilização, como a 
bondade, a caridade, a fraternidade, a tolerância e a esperança, 
entre outras; desenvolver a capacidade de reflexão antes de 
qualquer ação, ponderando quais serão os efeitos de todas 
as nossas ações; procurar atuar, sempre, com espírito de 
comunidade. É bom lembrar que as empresas nasceram de 
organizações familiares e comunitárias e delas guardam os 
princípios da colaboração mútua e da inter-relação entre seus 
agentes.
O trabalho do contador sempre deve ser pautado pela ética 
profissional, já que, perante a sociedade, toda a classe é elogiada 
pela boa conduta de um unico profissional. Como já disse Santo 
Agostinho em seu livro célebre, Confissões, apenas uma falha 
ética cometida por um profissional pode gerar a desconfiança 
da sociedade nos serviços de todos os outros profissionais. A 
responsabilidade pela ética profissional é de todos, mediante 
uma atuação séria, consciente e íntegra de cada contabilista 
em seu cotidiano profissional, objetivando a respeitabilidade da 
contabilidade brasileira no mundo globalizado e da sociedade 
da informação.
4.4.1 Ética na profissão contábil
Há certas características próprias de determinadas profissões. 
Devido ao fato de que na execução de suas tarefas ordinárias o 
contador está constantemente tomando decisões que envolvem 
bens de pessoas e organizações, o contabilista sempre se verá 
envolvido com questões e dilemas éticos. Por isso, é necessário 
O trabalho do contador sempre 
deve ser pautado pela ética profissional, 
já que, perante a sociedade, toda a 
classe é elogiada pela conduta de 
um único profissional. O contador 
representa todos os contadores.
3 A consciência forma-se em relação com os outros desde o nosso 
nascimento até por volta dos sete anos. É aquilo que as pessoas comuns 
denominam “ética de berço”. E os filósofos, ética da convicção, que não é 
possível mudar na idade adulta, a não ser, como diria Weber, pela “conversão”.
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desde o inicio definir tais conceitos.
A questão ética relaciona-se com a formulação do 
problema. Acontece quando o bem comum, o bem que promove 
a vida da comunidade, da nação ou até do planeta Terra, entra 
em choque com interesses de algumas pessoas, organizações ou 
nações. A questão ética se dá sempre entre dois bens que não 
podem ser satisfeitos ao mesmo tempo, por exemplo: um país 
em desenvolvimento decide desenvolver sua indústria; tal ato 
oferecerá mais empregos a uma população pobre, mas, de outro 
lado, poluirá mais ainda o ar, que é um bem comum de toda a 
humanidade.
O dilema ético lida com a solução do problema. Acontece 
quando a questão se estabelece e eu tenho que decidir entre 
um bem e outro bem, ou decidir qual é o mal menor, e sempre 
envolve a escolha de ações conflitantes entre si. A solução nem 
sempre é transparente. Assim, no exemplo acima referido, o 
dilema consiste em atender à demanda de emprego, e, portanto, 
de vida melhor para essa população ou impedir que as indústrias 
se estabeleçam para evitar a produção de gás carbônico, que 
polui a terra.
Como vivemos numa sociedade que dirige nossa ação para a 
prática do “jeitinho” de buscar vantagens e não o cumprimento do 
dever, quase sempre o contador, que pode obter vantagens para 
as pessoas, se verá dentro de dilemas éticos. Muitos sucumbem 
à tentação de usufruir lucros, superiores ao salários, imediatos; 
porém, a médio e longo prazo, este fato apenas contribui para 
denegrir não somente o profissional que o praticou, mas a 
comunidade contábil como um todo. Tais atitudes reforçam o 
desprezo da sociedade para com a profissão.
Ao recusar-se a praticar atos incompatíveis com a legislação, 
o contabilista prova que sua conduta é coerente não só com a 
ética, mas também com a profissão que escolheu executar. Para 
fazer com que a ética realmente seja aplicada na contabilidade, 
A questão ética relaciona-se com 
a formulação do problema.
O dilema ético lida com a solução 
do problema.
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um dos caminhos escolhidos pelo mundo dos negócios foi o de 
exigir que se ensinasse ética profissional no decorrer do curso 
de ciências contábeis. Um dos objetivos é sensibilizar os futuros 
profissionais para a reflexão sobre a importância dos valores 
éticos na própria estrutura da sociedade capitalista. Formar 
profissionais que compreendam a importância de seu papel 
na sociedade e das consequências que as condutas não éticas 
provocam na classe contábil é o objetivo principal dos cursos de 
ciência contábil.
A discussão ética para a profissão contábil requer um 
conjunto de regras de comportamento do contabilista 
no exercício de suas atividades profissionais. Qualquer 
profissional deve conhecer a sua profissão e não seria 
diferente para o contabilista,que deve conhecer os aspectos 
técnicos, as prerrogativas e as regras de conduta moral da 
profissão. 
Na visão do Institute of Certified Management Accountants e 
o Institute of Management Accountants, os padrões de conduta 
ética a serem seguidos pelos profissionais de contabilidade 
estão relacionados com as responsabilidades de desenvolverem 
suas atividades de acordo com o grau de competência, 
confidencialidade, integridade e objetividade: competência 
(realizar suas obrigações profissionais em consonância com as 
leis, regulamentações e padrões técnicos); confidencialidade 
(Informar aos subordinados com os devidos cuidados a respeito 
da confidencialidade da informação obtida na execução dos 
trabalhos e monitorar suas atividades a fim de assegurar o sigilo 
da informação. Privar-se de utilizar informações confidenciais 
para obter vantagens ilicitamente, sejam elas de interesse pessoal 
ou de terceiros.); integridade (Evitar conflitos de interesses e 
aconselhar as devidas partes quanto a qualquer possível conflito. 
Privar-se de corromper os verdadeiros objetivos da organização e 
da ética.) e objetividade (comunicar a informação de forma clara 
e objetiva).
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Nem sempre o profissional que está atendendo o seu cliente, 
aplicando todos os conhecimentos e os meios disponíveis para 
resolver os problemas apresentados por ele, estará agindo de 
maneira ética. Ser ético é apontar as propostas e soluções 
compatíveis com os princípios morais e éticos. Observa-
se que, dentre todas as profissões, a do contabilista talvez 
seja aquela que mais exija do profissional um agir ético, isso 
porque é a atividade contábil aquela que, por seus relatórios, 
registros, demonstrativos e principalmente pela assinatura da 
responsabilidade técnica pelo serviço prestado, mais expõe o 
profissional à crítica de responsabilidade social.
4.4.2 A importância da ética na formação profissional
É pela profissão que o indivíduo se destaca e se realiza 
plenamente, provando suas capacidade, habilidade, sabedoria 
e inteligência; comprovando sua personalidade para vencer 
obstáculos; gerando recursos para sua manutenção e o seu 
progresso financeiro. Aliás, na modernidade, o sujeito passa a 
ser sua profissão. Quando nos apresentamos a alguém sempre 
nos referimos a nossa pessoa seguida da nossa profissão. Por 
exemplo, eu sou professora. 
A contabilidade é uma das profissões mais antigas do 
homem e evoluiu junto com a sociedade. Nunca deixou de 
ser útil à sociedade e ao Estado, mas foi com o advento da 
modernidade que se tornou imprescindível, uma vez que 
tudo é feito de maneira racional e tendo por base o cálculo 
contábil entre lucro e perdas. Tal profissão é o próprio cerne do 
capitalismo, e por isso até hoje continua essencial. O contador 
tem reserva de mercado de trabalho, pois outro profissional não 
pode, por lei, executar suas tarefas. Entre os diversos objetivos 
da profissão está o de prover informações e orientações aos 
gestores públicos ou privados. Seu papel principal consiste na 
proteção à vida da riqueza das células sociais e na capacidade 
de produzir informes qualificados sobre o comportamento 
patrimonial.
O reconhecimento profissional constrói-se passo a passo, 
desde a escolha da profissão, que segundo Lopes Sá (1998, p. 137) 
Os padrões de conduta ética a 
serem seguidos pelos profissionais de 
contabilidade estão relacionados com 
as responsabilidades de desenvolverem 
suas atividades de acordo com o grau 
de competência, confidencialidade, 
integridade e objetividade.
A contabilidade é uma das 
profissões mais antigas do homem e 
evoluiu junto com a sociedade. Com 
o advento da modernidade tornou-se 
imprescindível, uma vez que tudo é 
feito de maneira racional, tendo por 
base o cálculo contábil entre lucro e 
perdas.
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“implica o dever do conhecimento e o dever do conhecimento 
implica o dever da execução adequada”, e estende-se por toda a 
vida profissional.
Nesse aspecto, Lopes Sá (1998, p. 120) afirma:
A profissão contábil consiste em um trabalho 
exercido habitualmente nas células sociais, com 
o objetivo de prestar informações e orientações 
baseadas na explicação de fenômenos 
patrimoniais, ensejando o cumprimento de 
deveres sociais, legais, econômicos, como a 
tomada de decisões administrativas, além de 
servir de instrumentação histórica da vida e da 
riqueza.
A grande missão do profissional contábil é desempenhar 
suas atividades com honestidade, independência e lisura, 
embasando-se sempre nos princípios fundamentais de 
contabilidade, nas normas brasileiras de contabilidade e 
no código de ética da profissão, o qual, segundo Lisboa (1997, 
p. 61), “além de servir como guia à ação moral, possibilita que 
a profissão de contador declare seu propósito de: a) cumprir 
as regras da sociedade; b) servir com lealdade e diligência; c) 
respeitar a si mesma”.
Conclui-se que a ética profissional representa um conjunto 
de normas que direciona a conduta dos integrantes de 
determinada profissão.
4.4.3 Relação entre a ética e a conduta do contador nas 
empresas
Ao trabalhar como empregado em uma empresa, sobretudo 
as de grande porte e, ainda mais, as estrangeiras, o contador, 
como já dissemos acima, deve buscar conhecer a legislação 
específica para cada situação. Se surgirem dilemas éticos de 
difícil solução dentro dos parâmetros comuns, ou quando 
a solução não esteja prevista no código de ética da classe 
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contábil, o contador deve discutir a questão com um superior 
imediato que, de preferência, não tenha interesses envolvidos 
no caso. Somente a ele deve esclarecer conceitualmente a raiz 
da dúvida na intenção de obter um curso de ação e, se o conflito 
persistir, é melhor submeter o caso a um órgão representativo 
da organização.
 Em nível mais fundamental, as violações aos códigos de ética 
podem ser identificadas como conflitos de interesses ou dilemas 
éticos do contador solucionados de maneira simplista. Qualquer 
falha no reconhecimento e encaminhamento apropriado 
de um conflito, tanto real como potencial, pode trazer sérias 
consequências para os agentes envolvidos e para as empresas.
Os controles de coerção internos e o código de ética da 
empresa são mecanismos que podem solucionar os conflitos de 
interesses mais imediatos e fornecer garantias para os clientes 
quanto à qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Contudo, 
no que se refere às informações privilegiadas, a cargo do 
contador, tais controles são inócuos e, muitas vezes, impossíveis 
de serem evitados. É pelo fato de as fraudes terem aumentado 
em número e grau que algumas empresas transnacionais têm 
aplicado as punições específicas dos Estados Unidos em toda as 
partes do globo.
Isso porque as consequências das ações fraudulentas 
acarretaram falência de empresas gigantescas, desemprego em 
massa, perda de melhoria das condições socioeconômicas da 
coletividade. Hábitos aparentemente inocentes e comuns ao 
nosso “jeitinho”, como a sonegação de impostos, podem gerar 
pagamentos de multas gigantescas para uma megaempresa, 
além de danificar o bem mais caro no capitalismo: a imagem. De 
tão corriqueiro esses fatos produziram, além de diversos danos

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