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Seguridade Social Autor: Maria Lucimar Pereira Tema 03 A Construção da Política de Saú- de de Direito Universal seç ões Tema 03 A Construção da Política de Saúde de Direito Universal PEREIRA, Maria Lucimar. Política de Seguridade Social: A Construção da Política de Saúde de Direito Universal. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017. SeçõesSeções LEITURAOBRIGATÓRIA FINALIZANDO REFERÊNCIAS GABARITO CONTEÚDOSEHABILIDADES AGORAÉASUAVEZ GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES 4 Tema 03 A Construção da Política de Saúde de Direito Universal 5 A terceira unidade do livro da disciplina de Seguridade Social pretende apresentar elementos para a reflexão acerca da universalização do direito à saúde através da implantação do Sistema Único de Saúde – SUS. O estudo prioriza o resgate da trajetória histórica da saúde desde a sua implantação no Governo de Getúlio Vargas em 1930, considerando o cenário político, econômico e social referente ao período. O destaque da associação do direito à saúde atrelado à contribuição previdenciária a partir da criação das CAPs, reordenando para os IAPs e posteriormente para o INAMPS até a evolução para o SUS. Neste contexto identificam-se os maiores dilemas e desafios para a institucionalização da saúde pública contributiva e a sua transcendência para a construção de uma política de direito a todos os cidadãos brasileiros, conforme determinação da Constituição Federal de 1988. CONTEÚDOSEHABILIDADES 6 LEITURAOBRIGATÓRIA A Saúde como Direito Universal A compreensão de política de seguridade social, consagrada na Constituição Federal de 1988, significou um dos maiores avanços da atualidade no campo da proteção social. Esta conquista é produto do processo histórico das reivindicações dos trabalhadores ao longo do século XX. A seguridade constitui-se como um conjunto de ações integradas que visam garantir o direito à saúde, à previdência e à assistência social. Além de definir o que compreende a proteção social, também rompeu com os paradigmas contratualistas que até aquele momento vigoravam e afirmou esses direitos como de todos os cidadãos brasileiros. Romper com a cultura do direito contributivo de proteção e implantar outra totalmente diferente, na ótica da concepção do direito social e de responsabilidade estatal, requer desafios. A última Constituição Federal também destacou que, além da responsabilidade do Estado em proteger socialmente todos os cidadãos e indicar quais as políticas sociais responsáveis, ainda definiu que para a ampliação desta proteção é necessário financiamento e novas formas de fazer a gestão destas políticas, necessariamente sendo democrática, descentralizada e contando com a participação da população, especialmente nos espaços institucionais de participação, como os conselhos gestores e as conferências. Foi neste contexto que a saúde adquiriu o status de direito social fundamental. Sendo um direito fundamental, é necessário que todos tenham acesso, assim fica estabelecido na Constituição Federal de 1988 que o acesso à saúde pública é direito de todos os cidadãos brasileiros indistintamente, independentemente da contribuição previdenciária e da classe social, e constituiu como dever do Estado criar as estratégias para que este direito seja de acesso universal e igualitário a todos os serviços da política de saúde. Também se definiu nesta Constituição que para acessar esses serviços também é necessário que eles sejam integrados a uma rede regionalizada e hierarquizada, fazendo parte do Sistema Único de Saúde – SUS, conforme estabelece o art. 196, que dispõe: LEITURAOBRIGATÓRIA 7 LEITURAOBRIGATÓRIA “[...] a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2016, p. 118). Além do art. 196 que consagra a saúde como um direito, também consta na mesma Constituição a reafirmação da saúde como um direito social: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2016, p. 18). A forma de operacionalização do direito universal à saúde também está expressa logo a seguir, no artigo 198: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I– descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III– participação da comunidade” (BRASIL, 2016, p. 119). O mesmo artigo 198, em seus incisos, estabelece as normas sobre o financiamento do novo sistema e ainda responsabilizando todos os entes federados no custeamento das ações. O Art. 198 também estabelece as diretrizes previstas para o SUS, bem como os princípios organizativos e doutrinários, e aqui vale destacar alguns deles: • Universalidade: refere ao acesso a toda rede de serviços de saúde e todos os níveis de assistência conforme a necessidade do cidadão. A universalidade indica que o atendimento a parte da população, ou seja, aqueles que contribuem para a previdência social, ficou no passado. A partir de então a saúde é direito de todos os brasileiros. • Equidade: A equidade parte do princípio de que as disparidades sociais e regionais existentes no Brasil devem ser reduzidas, e tão importante como as outas políticas, a saúde também é responsável por implantar condições para atingir esta redução. Reduzir estas disparidades implica em investir tecnicamente no combate às situações agudas. Para isso se faz necessário o conhecimento dos territórios e das famílias, para a avaliação das diferentes estratégias e o estabelecimento de prioridades. 8 LEITURAOBRIGATÓRIA • Descentralização político-administrativa: Este princípio perpassa também pela descentralização dos recursos de forma regular e contínua e pela descentralização de poderes, ou seja, a descentralização envolve a transferência de responsabilidades para o município, mas também a transferência de poder e recursos das três esferas: União, Estados e Municípios. • Integralidade: Este princípio denota que os serviços da política de saúde devem considerar as necessidades das pessoas e grupos, mesmo se o grupo constitui numa minoria em relação ao todo. Já percebemos ações direcionadas aos grupos, considerando suas especificidades, como as mulheres, jovens, idosos, pessoas com deficiência, as gestantes, as pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas, as pessoas com distúrbios mentais e, mais recentemente, a população indígena, quilombola e ribeirinha. • Financiamento: indica que para a realização das ações que a população tem direito requer recursos, para tanto é necessário que todos os entes federados tenham responsabilidade orçamentária, ou seja, Governo Federal, Governos Estaduais e Governos Municipais, de destinar recursos públicos para a área da saúde, conforme indicação constitucional. • Participação: a partir da Constituição Federal, a decisão sobre as políticas sociais é local e necessariamente com a participação da população. Para isso foram legitimados os espaços dos Conselhos Gestores e das Conferências como institucionais de participação. O Conselho de Saúde é considerado o mais atuante das políticas públicas. Esses princípios expressam a concepção de direito de cidadania e democracia. Vale destacar que o processo de construção dos princípios do SUS iniciou antes da aprovação da Constituição Federal de 1988. A Carta Magna expressou o resultado da mobilização provocada pela Reforma Sanitária. A implantação das ações na área da saúde, revestidas com esses princípios, vai intervir diretamentena qualidade e condição de vida da população. Os princípios do Sistema Único evidenciam a compreensão que a população deve ter sobre este Sistema, pois expressam a direção que as ações devem seguir. Os serviços devem ser estruturados a partir das necessidades da população, e para tal é necessária a responsabilização do Estado na proteção social a todos os brasileiros. Essa proposta implicava em romper com uma forma de ver, pensar e agir de uma política pública. 9 LEITURAOBRIGATÓRIA O direito à saúde consiste no direito de segunda geração. Como os demais direitos desta geração, o acesso dos cidadãos a estes direitos deve ser garantido pelo Estado. Além de ser garantido na Carta Magna, o direito à saúde também foi reafirmado a partir da regulamentação da Lei Orgânica da Saúde – LOS, Lei nº 8.080/90, enquanto um dos dispositivos que foram aprimorados após a Constituição Federal. Quase tão importante quanto a Constituição Federal de 1988, que marcou a história da proteção social brasileira, a Lei Orgânica da Saúde também é resultado do mesmo processo de mobilização e organização da população na defesa da saúde universal. A LOS reafirma o “direito de todos e dever do Estado” (BRASIL, 2016, p. 118), organiza as ações e serviços da política de saúde em todo território brasileiro e ainda define os princípios, diretrizes e os objetivos do Sistema Único de Saúde. Simon (2015) relata que o SUS foi implantado de forma gradual. Primeiramente chegou o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde – SUDS, que orientava para a universalização do atendimento. Em seguida, a incorporação do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social – INAMPS ao Ministério da Saúde, e depois a aprovação da LOS, que orientava para a operacionalização do SUS. A regulamentação do funcionamento do SUS foi sendo construída durante a década de 1990. Outra importante legislação do período foi a Lei nº 8.142, de 1990. Ela concede o direito de a população participar na gestão do SUS e ainda trata sobre as transferências intergovernamentais dos recursos da área da saúde. O arcabouço jurídico elaborado a partir da Lei Orgânica de Saúde direcionou para enfrentar as dificuldades da população em acessar o sistema, aliás, para além do acesso, mas garantir o acesso com qualidade. Uma das condições para esta operacionalização é a população acessar serviços públicos da política de saúde tendo como referência a aproximação da residência. O Sistema Único de Saúde que temos hoje sendo executado nos municípios está longe de ser o SUS projetado nos documentos legais, muito menos o que foi sonhado. O que se percebe foi a formatação de um modelo destinado àqueles que não tinham condições de pagar um sistema privado de saúde. O que foi previsto na Constituição foi o modelo universal, sendo que este não se efetivou ainda, há de se considerar que houve importantes avanços nesta trajetória, por exemplo, o acesso para além da contribuição previdenciária, a 10 LEITURAOBRIGATÓRIA implantação do sistema de imunização e de vigilância epidemiológica e sanitária que está universalizado, e ainda os avanços na alta complexidade, como os transplantes de órgãos, que são referência mundial. Para o fortalecimento do SUS é necessário executar e ampliar a proteção social conforme orientação da Constituição Federal de 1988, reafirmada pela Lei Orgânica de Saúde – LOS e demais normativas. Entretanto, para tal se faz necessário – e urgente – o posicionamento em defesa deste sistema, pois há debates ocorrendo na sociedade e no governo. O debate gira em torno da universalidade do direito à saúde e as ações focalistas. A defesa de que o Estado deve garantir o acesso à saúde apenas aos segmentos mais pobres está cada vez maior e, ainda com a redução do financiamento, a perspectiva universalista está cada vez mais distante de ser implantada. Para compreender que o SUS faz parte de um processo histórico, construído com a participação de importantes atores sociais, faz-se necessário o conhecimento sobre a trajetória histórica desta política, que não aconteceu de uma hora para outra. Construção da Saúde como Política Pública Para melhor compreensão acerca da conquista do direito universal à saúde e da situação atual em que se encontra o Sistema Único de Saúde, é necessária a reflexão sobre os determinantes históricos, políticos, sociais e econômicos que fazem parte deste processo. A política de saúde no Brasil, e as demais políticas sociais, foram influenciadas pelos processos que o país e toda sua população passaram ao longo da história, ou seja, não é possível dissociar a evolução da história da política de saúde com o desenvolvimento da política social e econômica do Brasil. Vamos usar como referência de tempo histórico, deste resgate histórico, o período a partir da Velha República, que inicia ao final do século XIX. Bering e Boschetti (2006) relatam que desde o período final do século XIX a agricultura foi o que predominou na economia no Brasil, especialmente baseada no cultivo e exportação do café. Tanto a produção deste como o investimento do Estado estavam totalmente direcionados para sua produção. Em relação à responsabilidade do Estado nas expressões da questão social, era inexistente. No final do século XIX e início do século XX, os grandes centros estavam tomados por epidemias. Em especial a cidade do Rio de Janeiro presenciava graves doenças, como a 11 LEITURAOBRIGATÓRIA varíola, a malária, a febre amarela e a peste. O Estado, que estava em função da oligarquia cafeeira, passou a preocupar-se com a situação quando este cenário passou a sofrer as consequências destas situações. O comércio exterior passou a ameaçar de não permitir que os navios atracassem em portos brasileiros, pois a tripulação corria o risco de contaminar-se e ainda levar as doenças para os seus países. Polignano (s/d) conta que o presidente Rodrigues Alves, que ficou no comando do Brasil de 1902 a 1906, indicou o médico Oswaldo Cruz, que com sua experiência como sanitarista assumiu o compromisso de extirpar a febre amarela no Rio de Janeiro. Para enfrentar a situação crítica em que se encontrava esta epidemia, o médico recrutou um exército de 1.500 pessoas para trabalhar no combate ao mosquito transmissor, como guardas sanitários. Até aquele momento nunca tinha havido nenhuma ação do governo na área da saúde, e a prática militar com que os guardas sanitários agiram fez com que a população se revoltasse diante das arbitrariedades. O método utilizado perpassava literalmente pela invasão das residências e o uso da repressão como mecanismo para obrigar a população a vacinar-se, e muitas vezes, a se desfazer de seus móveis e roupas, que eram queimados, havendo em alguns casos a destruição da própria casa. Essas ações eram complementadas com a vacinação compulsória. O modelo das campanhas sanitaristas visou primeiramente o combate das doenças no espaço urbano e posteriormente também no espaço rural. Além das doenças transmitidas pelos mosquitos, também foram iniciadas campanhas contra a tuberculose, a hanseníase e a psicose. A população, que não possuía recursos para pagar pelo tratamento de saúde para combater essas doenças, contava com as irmandades. As medidas tomadas pelo exército de campanhistas, que no início provocava receio e medo na população, foram ficando mais agravantes, levando à organização de um grande movimento popular de revolta, que marcou a história como A Revolta da Vacina em 1904. Embora o modelo cometia excessos na relação com a população, também computou importantes avanços contra as epidemias, tanto que a febre amarela foi erradicada na cidade do Rio de Janeiro. 12 LEITURAOBRIGATÓRIA Polignano (s/d) relata que ainda neste período o médico Oswaldo Cruz organizou a saúde pública com uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitária, um serviço de profilaxia da febre amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecçãoe o instituto soroterápico, que mais tarde ficou nacionalmente conhecido como Instituto Oswaldo Cruz. A forma na abordagem com a população mudou apenas na década de 20, com a criação do Departamento Nacional de Saúde ligado ao Ministério da Justiça. Desta vez, quem estava à frente das ações era o médico Carlos Chagas, que mudou o método repressivo para um método mais próximo da população, desta vez utilizando propagandas e a educação sanitária. Ao final da década de 1920, o Brasil também é vítima da Grande Depressão americana. Segundo Bering e Boschetti (2008), a economia e a política brasileira foram abaladas pelos acontecimentos mundiais que ocorreram nas três primeiras décadas do século XX. A quebra da Bolsa de Nova York repercutiu diretamente nas correlações de força no cerne da classe que dominava o país. Mas os trabalhadores também foram prejudicados. Como falamos anteriormente, a produção de café brasileira era exclusivamente para fins da exportação para os Estados Unidos. Com a crise internacional, os Estados Unidos deixaram de exportar seus produtos para outros países e, consequentemente, deixaram de comprar de países como o Brasil. A bolsa de valores americana, que até este período estava supervalorizada, de um dia para o outro caiu expressivamente, ao ponto de quebrá- la. A quebra da Bolsa de Valores de Nova York refletiu diretamente no Brasil, já que toda a produção de café era para este mercado. A oligarquia cafeeira brasileira perde seu único e exclusivo mercado. Esses produtores ficaram sem perspectiva, tanto que grande parte dos grandes produtores erradicou a plantação de café. Entretanto, não foi apenas nisso o prejuízo da oligarquia cafeeira, o espaço político também desestabilizou, pois as demais oligarquias, como do açúcar e do gado, que até aquele momento estavam excluídas do poder político, aproveitaram o momento para diversificar a economia brasileira. Bering e Boschetti (2008) afirmam que foi com o apoio destas oligarquias que passam a ocupar o cenário político, e também com a participação dos militares e da população, que Getúlio Vargas assume o poder, mesmo não sendo eleito, pois ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais em 1930. 13 Além destas oligarquias que passam a cobrar mudanças na condição política, também tem os industriais, que contribuem para a quebra da hegemonia do café. Um dos compromissos de Getúlio Vargas é de investir para o desenvolvimento industrial. Assim, no mesmo ano que deu o golpe, ou seja, 1930, o governo inicia a construção de um polo industrial nacional. As empresas estatais de produção de bens intermediários passam a ter investimentos durante toda a Era Vargas (1930 a 1945). As empresas implantadas neste período foram a Companhia de Siderurgia Nacional, Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Motores, Hidrelétrica do Vale do São Francisco. Enquanto o Estado investe nas empresas estatais de áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, as indústrias de bens de consumo ficam com os empresários brasileiros. Para esta nova política econômica foi necessária a ampliação de mão de obra de trabalhadores dos centros urbanos e também dos imigrantes europeus que chegavam ao país fugindo dos regimes fascista e nazista. Tanto os trabalhadores imigrantes como os brasileiros viviam nas mesmas situações, em péssimas condições de vida e de trabalho. Além da pobreza e da miséria, ainda conviviam com as doenças, a falta de instalações sanitárias, moradias que não ofereciam nenhum conforto e segurança. Para agravar a situação, não tinham nenhum direito trabalhista. As relações de trabalho eram conforme os patrões ditavam. Os governos de Getúlio Vargas, que totalizaram três durante os 15 anos ininterruptos, foram o período da reestruturação do papel do Estado. As características deste governo foram desde a centralidade do poder nas mãos do presidente, as relações populistas com os trabalhadores e a implantação de um Estado de ditadura. Entretanto, foi neste período que se assume o compromisso de atender as demandas da classe operária, na perspectiva de construir um sistema de proteção social. Para Bering e Boschetti (2006), a partir do Governo Vargas se inicia o processo de regulação social, o que se pode chamar de período da implantação das políticas sociais brasileiras. Em relação ao trabalho, foi neste período que o Brasil inicia a construção da proteção social para os trabalhadores a partir de referências dos países desenvolvidos, iniciando com a regulação dos acidentes de trabalho, depois as aposentadorias e pensões e, posteriormente, o auxílio doença, maternidade, família e seguro desemprego. Para a estruturação das políticas sociais e também para mediar as conflituosas relações entre trabalhadores e patrões, cria-se o Ministério do Trabalho assim que o então presidente LEITURAOBRIGATÓRIA 14 assume, ou seja, em 1930. Em 1932 cria-se a Carteira de Trabalho, sendo este o documento que expressava a cidadania no Brasil. A partir desta concepção, quem estava fora do mercado de trabalho não era cidadão. O primeiro sistema público de previdência social também é datado neste governo, a partir da implantação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão – os IAPs, que se expande com a cobertura de risco da perda da capacidade produtiva, como em caso de idade avançada, morte, invalidez e doenças. Os IAPs funcionavam a partir da associação de trabalhadores, a organização era a partir da categoria profissional. Entretanto, nem todas as categorias tinham o seu Instituto, e aqueles que existiam não tinham uma padronização de benefícios, mas todos eles tinham a exigência da contribuição tanto dos trabalhadores como dos empregadores e também do Estado. Além da participação na contribuição financeira para o sistema, o Estado também era o responsável pela gestão, tanto que a indicação do presidente de cada IAP era do presidente da República. O primeiro IAP a ser implantado foi dos trabalhadores marítimos, em 1933, a sequência foi a partir da capacidade de organização de cada categoria e a sua relevância para o desenvolvimento do país. A cada IAP que se implantava era uma Caixa de Aposentadoria e Pensão - CAP que se extinguia, sendo que a última transição foi em 1953. A Caixa de Aposentadoria e Pensão foi criada em 1923 a partir da Lei Eloy Chaves. Neste ano, apenas os trabalhadores ferroviários foram atendidos, mas foi a partir desta referência que outras categorias começaram a mobilização e reivindicação para ter o mesmo direito. A diferença entre CAP e IAP é que a primeira foi implantada por empresa. Cada empresa, em que havia profissionais com profissões regulamentadas pelo Estado que também foram atendidas com a ampliação da Lei Eloy Chaves, foi contemplada, ou seja, implantava-se uma Caixa. O financiamento era por conta dos trabalhadores e empregadores. O Estado assumia a regulamentação e a fiscalização. Enquanto que o IAP passa a ser implantado a partir das categorias profissionais, sendo que as categorias regulamentadas tinham o seu Instituto. Outra diferença importante é que na CAPs a gestão era dos trabalhadores e dos empregadores, e no IAP era do Estado. Os Institutos de Aposentadoria e Pensão ofereciam a seus associados um conjunto de serviços e benefícios que se organizavam a partir das contribuições. Vale destacar que a LEITURAOBRIGATÓRIA 15 contribuição era a partir de um percentual dos ganhos dos trabalhadores, assim, o que se oferecia dependia também da capacidade de arrecadação. Até 1930 não havia uma política de saúde estruturada. Foi também neste período que se inicia a implantação efetiva. Foram dois eixos estruturados de imediato, a saúde pública e a saúde previdenciária. Bering e Boschetti (2006) relatam que a saúde pública foi organizada a partir das campanhas sanitaristas, especialmente no controle das epidemias, como vimos anteriormente. Também havia a saúde privada e filantrópica para o atendimento médico-hospitalar,para aqueles que podiam pagar, e o atendimento assistencial aos pobres, que era oferecido pelas Irmandades. Deve-se lembrar que nem em todas as cidades havia as Santas Casas de Misericórdia para socorrer a população. Nestes casos, os farmacêuticos e as benzedeiras cumpriam papel fundamental, caso contrário a população sem acesso morria à mingua. Os trabalhadores que eram contemplados com o IAP, além dos benefícios previdenciários, ainda podiam contar com os serviços de saúde. O plano de assistência à saúde do IAP permitia que o trabalhador procurasse diretamente os hospitais. Este acesso à assistência à saúde era diferenciado de um IAP para outro, considerando que a estrutura era organizada a partir da arrecadação. Aqueles que eram considerados os desvalidos da sorte, ou seja, que não estavam inseridos no mundo formal de trabalho, contavam apenas com o favor das instituições filantrópicas. Bering e Boschetti (2006) enfatizam que em relação à assistência social o caráter das ações era fragmentado, diversificado, desorganizado e instável na sua configuração. Uma determinada organização se inicia com a criação da Legião Brasileira de Assistência – LBA, apenas em 1942. Esta instituição, coordenada pela primeira-dama, senhora Darci Vargas, foi organizada primeiramente para atender as famílias dos pracinhas, que tinham sido disponibilizados pelo governo para servir na Segunda Guerra. Com o tempo, a LBA passa a se configurar como articuladora da assistência social no Brasil. A LBA contava com uma rede de instituições privadas que recebiam recursos públicos e também da sociedade. As ações tinham marcas assistencialistas, seletivas e a promoção do primeiro-damismo. Essas relações e concepções só começam a ser alteradas com a LEITURAOBRIGATÓRIA 16 Constituição de 1988. Ainda no governo Vargas, especificamente em 1941, inicia o processo de discussão para a unificação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão. Esta proposta enfrenta muita resistência dos associados, pois a preocupação era que, com a unificação, os IAPs mais estruturados, que ofereciam mais benefícios e com mais qualidade, poderiam perder, sendo nivelados à padronização a partir dos IAPs menores e com menos benefícios. Diante dos conflitos de opiniões, o projeto de Lei que havia sido encaminhado para o Congresso Nacional em 1947 foi aprovado apenas em 1960. A Lei Orgânica da Previdência Social - a LOPS - unificou todos os institutos em um único modelo, no Instituto Nacional de Previdência Social – o INPS, destinado a atender os trabalhadores que também eram atendidos pela legislação da Consolidação das Leis Trabalhistas. Apesar de a LOPS incluir mais trabalhadores urbanos do que os IAPs, ainda manteve, naquele momento, de fora os trabalhadores rurais. Silva (1996) relata que a demanda por assistência médica e previdenciária aumentou a partir da década de 1960. O crescimento da medicina privada também. Foi expressivo o aumento a partir da criação de empresas médicas e da indústria de equipamentos hospitalares. O setor farmacêutico foi incrementado por políticas de investimento ao capital internacional. Em pleno governo militar, que inicia em 1964 e finda em 1985, mesmo com o conturbado contexto político, os trabalhadores da saúde, juntamente com estudantes de Medicina, começam a questionar o modelo centralizador e contributivo da política de saúde. Surge então um movimento que começa a debater e propor um novo modelo de assistência médica e previdenciária. As principais questões da pauta de discussão são a regionalização dos serviços, a hierarquização do atendimento, a racionalização de recursos, entre outros. O debate vai crescendo e o conceito de um novo modelo, com novas práticas e conceitos de política de saúde, se expande entre os usuários desta política e quem ainda não se inseria nela. Paralelamente a este movimento, o governo instituía condições para o crescimento da participação da saúde privada no Brasil. Para Silva (1996), a elaboração do Plano Nacional de Saúde – PNS ofertava oportunidades para a assistência médica privada; esta, por sua vez, passava a ter mais condições para disponibilizar para seus beneficiários melhores serviços de assistência médica do que a proposta do modelo público. O investimento do governo nesta área era desde a criação de legislações que permitiam a LEITURAOBRIGATÓRIA 17 implantação, até os financiamentos para a construção de estruturas físicas e de equipamentos para o setor privado. O investimento neste setor era superior aos investimentos no sistema público. A mesma autora ainda acrescenta que o Estado custeava as internações de associados do INPS nas unidades de serviços privados e pagava por elas. O financiamento não avaliava a qualidade prestada, mas apenas a quantidade dos procedimentos. Assim, o uso da rede privada pelo setor público passou a ser uma prática com crescente extensão. Tanto que o atendimento dos pacientes do INPS passou a ser um grande negócio financeiro para a iniciativa privada. O Estado justificava os gastos com a medicina privada pela insuficiência de serviços públicos, principalmente no que refere a serviços hospitalares. A escala de pagamento por este serviço é crescente. Silva (1996) denuncia que de 1969 a 1975 o pagamento de serviços terceirizados somou um montante de 90% da arrecadação do INPS. Em 1978 foi ainda pior, a rede privada levou 96,7%, em contrapartida à rede pública, 3,3%. A iniciativa privada não se interessou pelo atendimento ambulatorial, que era pouco lucrativo, ficando este na responsabilidade da rede própria. Além da medicina privada ter mais lucros com as internações e outros procedimentos hospitalares, ainda era comum a utilização de artifícios para ganharem mais, como o uso de internações mais caras, realização de procedimentos cirúrgicos desnecessários, o que induzia a “transformar o paciente, diante da medicina mercantil, num cheque ao portador” (SILVA, 1996, p. 35). Neste período, algumas categorias de trabalhadores ainda permaneciam excluídas do sistema de proteção. A partir da década de 1970, especificamente em 1971, é que os trabalhadores rurais passaram a fazer parte do INPS, e os trabalhadores domésticos e os autônomos em 1972. O sistema direcionado pelo INPS, a cada dia, tornava mais complicado para fazer a gestão da arrecadação das contribuições, pagamento das despesas médicas e ainda pagar os benefícios previdenciários. Esta situação provocou a implantação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS em 1978, o qual passa a fazer a gestão da saúde previdenciária. Até 1974 a previdência social estava na estrutura do Ministério do Trabalho, a partir de então passou a ter uma estrutura própria, sendo o Ministério da Previdência e Assistência Social. Silva (1996) descreve que com o agravamento da crise financeira da previdência, o sistema LEITURAOBRIGATÓRIA 18 passa a investir no setor da saúde pública, até aquele momento este setor atendia muito mais pessoas com o custo muito menor em relação à medicina privada. A partir de 1983, o INAMPS passa a pagar serviços prestados pelos estados, municípios, hospitais da rede filantrópica e pública e os hospitais universitários. Isso foi possível a partir da criação das Ações Integradas de Saúde – AIS, que previam ações entre os ministérios da Previdência, Saúde e Educação. Nesta perspectiva, o setor passou a integrar ações tanto curativas, preventivas e educacionais, paralelamente. Neste contexto, as políticas sociais ofertadas passaram a ter maior visibilidade e também passaram a ser motivos de reivindicações e pressões da população para melhoria na oferta de serviços públicos e, ainda, o acesso a todos os brasileiros. Uma das áreas em que a população mais manifestava insatisfação foi a saúde. Neste ínterim é que emerge o movimento da reforma sanitária. 3.3. A Saúde na Constituição Federal de 1988 O movimento pela reforma sanitária se fortalece em meados dadécada de 1970, quando trabalhadores demonstram a insatisfação com o modelo vigente e dissemina-se a concepção de uma outra forma de praticar a saúde pública. A discussão é ampliada a outros movimentos sociais, também insatisfeitos com os problemas sociais provocados pelos longos anos de desproteção social a grande parte da população. Os movimentos manifestavam resistência pela manutenção do governo ditatorial e defendiam a retomada do processo democrático no país, a defesa dos direitos civis, políticos e a ampliação dos direitos sociais, entre eles a universalização da saúde. O espaço escolhido para defender e aprovar com mais eficácia o direito à saúde para todos os brasileiros foi a VIII Conferência Nacional de Saúde, que aconteceu durante os dias 17 a 21 de março de 1986, em Brasília. Este evento foi o marco na trajetória de construção da política de saúde, foi reconhecido pela ampla participação da população, totalizando mais de 4 mil delegados. As discussões foram fomentadas pela necessidade de transformar a concepção da saúde construída e implantada desde a década de 1930. A partir da deliberação por uma saúde de direito universal, que contemplasse todos os brasileiros, tornando-os assim cidadãos de direitos, independentemente da contribuição previdenciária e de responsabilidade do Estado em operacionalizar tal proposta. Entretanto, LEITURAOBRIGATÓRIA 19 para sua efetivação ainda era necessária a garantia jurídica, que deveria constar na Constituição Federal. Vale destacar que a saúde já havia implantado conferências a partir da Lei 378, de 1º de janeiro de 1937, especificamente no artigo 90, que estabelece a obrigatoriedade da realização das conferências. Entretanto, o formato destas conferências era de caráter apenas consultivo, o caráter deliberativo foi a partir da Constituição Federal de 1988 e da regulamentação da Lei Orgânica de Saúde – LOS em 1990. A proposta aprovada na VIII Conferência de Saúde foi apresentada à Assembleia Nacional Constituinte em 1988. Além da universalização da saúde, ainda foi reivindicado que para a mudança na política de atenção à saúde também era necessário o acesso a políticas públicas que garantissem a mudança na relação entre o setor público e o setor privado, a descentralização das ações, o controle e avaliação continuados dos serviços, a criação de financiamento nas três esferas de governo, a implantação de espaços constitucionais que fossem efetivos de participação dos cidadãos e a equidade de atendimento entre a população urbana e rural. A VIII Conferência teve tanta influência que em março de 1987 foi iniciada a proposta de implantação do Sistema Único de Saúde, o SUS, antes mesmo da aprovação da Constituição Federal de 1988. Para acelerar o processo, o governo Sarney, então presidente, decidiu pela implantação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde – SUDS por meio do Decreto 94.657, de 20 de junho de 1988. O SUDS inicia com a função de intermediar a implantação definitiva do SUS. Este processo contou com a participação do movimento de reforma sanitária e de técnicos dos Ministérios de Saúde e da Previdência. A implantação do SUDS acontece com muitas dificuldades. O clima foi de participação e democratização, entretanto ele é criado a partir de um instrumento autoritário, o que era contraditório à própria proposta do sistema. Mas esta não foi a maior dificuldade, pois a resistência do setor privado prevaleceu diante das demais. E assim, a luta pela saúde universal passou a compor o corpo da nossa última Constituição Federal, no Capítulo VIII da Ordem Social e na seção II, que trata sobre a política de saúde, definindo em seu artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2016, p. 118). LEITURAOBRIGATÓRIA 20 Vídeos: Série SUS - Os princípios do SUS A Constituição Federal de 1988 inovou universalizando o direito à saúde. É importante ficar claro que o arcabouço jurídico da política de saúde orienta a implantação de uma política pública. Esses instrumentos jurídicos norteiam de forma a colocar em prática os objetivos, as diretrizes e os princípios do Sistema Único de Saúde. O vídeo sugerido trata, de forma didática, quais são e o que são alguns princípios do SUS. Sugerimos que este vídeo seja assistido assim que você começar a ler sobre a Seguridade Social. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PzVxQkNyqLs>. Acesso em: 20 set. 2017. Revolta da Vacina / Fragmento do filme nacional Sonhos Tropicais O vídeo mostra o cenário político e social do início do século XX. As condições de vida da população e as relações políticas. Sugerimos que o vídeo seja assistido assim que iniciarem a leitura sobre as campanhas sanitaristas. Para quem quiser assistir ao filme inteiro, também estamos disponibilizando o endereço. Fragmento do filme Sonhos Tropicais Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PnkFwxtBAIo>. Acesso em: 20 set. 2017. O filme completo ‘Sonhos Tropicais’: <https://www.youtube.com/watch?v=fieH3FqzrZ0>. O SUS nos seus 20 anos: reflexões num contexto de mudanças O artigo faz a reflexão do SUS após 20 anos da sua regulamentação pela Lei Orgânica de LINKSIMPORTANTES 21 Saúde. Destaca-se a retrospectiva da construção da política de saúde, bem como os limites e os desafios para a consolidação deste sistema. Sugerimos que a leitura seja realizada após a leitura da unidade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n3/04.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Política de Saúde O documento sugerido tem a finalidade de apresentar a intervenção do serviço social na política de saúde. Para tanto, contextualiza a política de saúde a partir da consagração da seguridade social. Brusca, brevemente, recapitular a trajetória da saúde, destacando o contexto da organização e mobilização dos trabalhadores na área da saúde por uma política pública universal. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_ Assistentes_Sociais_na_Saude.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. LINKSIMPORTANTES 22 Instruções: Agora chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. Bom estudo! AGORAÉASUAVEZ Questão 1: A seguridade social brasileira, formada pe- las políticas de saúde, previdência e assis- tência social, constitui-se como um conjun- to de ações integradas que visam garantir o direito referente a estas políticas. Quais os grandes desafios para a implan- tação da proteção social pela via da segu- ridade social? Questão 2: O Art. 198 da Constituição Federal esta- belece as diretrizes previstas para o SUS, bem como os princípios organizativos e doutrinários. Em que consiste o princípio da participa- ção e controle social? Questão 3: Identifique se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmativas abaixo: ( ) A Constituição Federal de 1988 é fruto da pressão e mobilização dos amplos se- tores da sociedade que lutavam contra a ditadura militar e por direitos sociais para todos os cidadãos brasileiros. ( ) A Constituição Federal de 1988 expres- sa nova concepção para a proteção social, propondo o distanciamento da lógica do seguro social e sua efetivação na perspec- tiva do direito social. ( ) A política de saúde foi implantada no Governo de Getúlio Vargas, na década de 1920, juntamente com o investimento para o desenvolvimento industrial do país. 23 AGORAÉASUAVEZ Questão 5: As medidas tomadas pelo exército de cam- panhistas, no início do século XX, provoca- ram receio e medo na população. A situação ficou sem controle, levando a(o): a) Revolta das Campanhas. b) O exílio do seuidealizador Oswaldo Cruz. c) Criação de estruturas de política de saúde de acesso universal à população. d) A Revolta da Vacina. Questão 4: Faz parte do arcabouço da política de saú- de universal: I - Lei nº 8.142, de 1990. II – Constituição Federal de 1988. III – Lei Orgânica de Assistência Social. IV – Lei Orgânica de Saúde. V – Legião Brasileira de Assistência. Assinale a alternativa correta: a) I, III e V. b) I, II e IV. c) III, IV e V. d) I, II, III, IV e V. ( ) A reforma sanitária foi a gênese para a implantação de um sistema de saúde uni- versal e de responsabilidade estatal. ( ) A Constituição Federal garantiu o direito a todos os trabalhadores contribuintes da previdência do acesso à política de saúde pública e universal, o que foi reafirmado na Lei Orgânica de Saúde em 1990. Assinale a alternativa correta: a) V – V – V – V – V. b) F – V – V – F – V. c) V – V – F – V – F. d) F – F – V – V – V. 24 FINALIZANDO A conquista dos direitos à saúde, conforme expressa nos documentos legais, como a Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica de Saúde de 1990, afirma e reafirma o princípio da universalidade de acesso a todos os cidadãos brasileiros. Destacam-se no processo de construção da política de saúde dois grandes momentos, o primeiro com a criação da Caixa de Aposentadoria e Pensão por meio da Lei Eloy Chaves, instituindo a origem do sistema previdenciário no Brasil e o seu reordenamento para Instituto de Aposentaria e Pensão; e o segundo momento a partir da universalização da proteção social através da Seguridade Social, desta vez atendendo todos os cidadãos. No caso da política de saúde, o acesso foi garantido para além da contribuição previdenciária, com a regulamentação do Sistema Único de Saúde. É importante ressaltar o processo de luta dos trabalhadores nas conquistas dos direitos sociais, e, portanto, para a real universalização, atendendo aos princípios do sistema, é necessária a mobilização, participação e envolvimento da população. Para tal, também é necessária a publicização dos direitos de proteção social, bem como o processo de conquista. 25 GLOSSÁRIO Financiamento: o termo se refere ao conjunto de recursos monetários que se propõe a cumprir uma determinada atividade específica ou projeto econômico. No caso do financiamento das políticas públicas, são determinados valores em dinheiro público, ou seja, arrecadado a partir dos impostos e demais contribuições, definido constitucionalmente o percentual, e que são repassados de um nível de governo para outro, para serem investidos nos serviços das políticas públicas, tanto na perspectiva de implantação como implementação. Direitos de segunda geração: são aqueles que foram conquistados após os direitos de primeira geração. Os direitos de primeira geração são aqueles conquistados com a Revolução Francesa e Americana. Surgiram no final do século XVIII, na perspectiva de evitar abusos por parte do Estado. São eles: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à participação política e religiosa, à inviolabilidade de domicílio, à liberdade de reunião, entre outros. Os direitos de segunda geração foram conquistados na passagem do Estado Liberal para o Estado Social na perspectiva da proteção da população em geral, mas em especial àqueles mais desprotegidos financeiramente. Esses direitos são de responsabilidade do Estado garanti-los. São eles: direitos sociais, econômicos e culturais. A Revolta da Vacina: foi uma manifestação de revolta da população da cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 a 16 de novembro de 1904. O motivo da revolta foi a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, imposta pelo governo federal. O objetivo do governo era positivo, entretanto a forma autoritária e violenta é que é questionável. Os agentes sanitários invadiam as casas e utilizavam da violência para vacinar as pessoas. Além da violência, outro agravante foi o desconhecimento da população em relação a este procedimento, pois nunca tinha havido uma intervenção do Estado no enfrentamento de alguma expressão da questão social. Grande Depressão: também é conhecida como a Crise de 1929. Foi considerada a pior e maior crise do século XX. Foi uma recessão mundial que iniciou em 1929, com a quebra da 26 bolsa de valores nos Estados Unidos, e continuou até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A quebra da bolsa de valores de Nova York teve impactos em muitos países, pois bancos, indústrias e pessoas faliram. Neste período, o Brasil dependia economicamente da produção de café para exportação para os Estados Unidos, e de um dia para o outro, esta produção não foi mais comprada. Grande parte das plantações de café foi erradicada. Era Vargas: foi a denominação ao período em que o presidente Getúlio Vargas governou o país de forma ininterrupta, sendo de 1930 a 1945, iniciando com o golpe de 1930. Este período ficou marcado na história do Brasil devido às grandes mudanças que Vargas provocou: iniciou a Nova República, introduziu o processo de industrialização brasileira, regulamentou importantes direitos sociais e implantou uma ditadura. GLOSSÁRIO 27 Questão 1 Resposta: Romper com a cultura histórica do direito contributivo de proteção e implantar outra que transcende esta lógica, que, além de universalizar os direitos, também amplia a concepção do direito social de responsabilidade do Estado. Questão 2 Resposta: Além da garantia dos direitos sociais e da proteção pela via da seguridade social, a Constituição Federal de 1988 também garante o direito de participar na gestão das políticas sociais. No caso específico da política de saúde, a decisão em relação a ela necessariamente deve ter a participação da população, bem como o poder desta população em controlar as ações do governo nesta área. Os espaços institucionais de participação são os Conselhos de Saúde em todos os níveis e as conferências. Questão 3 Resposta: Alternativa C. A Constituição Federal de 1988 representou conquistas históricas para a proteção social. Essas conquistas são resultado da pressão e mobilização de vários movimentos sociais da sociedade que lutavam pelo fim da ditadura militar e pela universalização dos direitos sociais para todos os brasileiros. Esta Constituição expressou novas concepções acerca da proteção social para além do direito aos contribuintes da previdência social, propôs ainda o distanciamento da lógica do seguro social e sua efetivação na perspectiva do direito social. A política de saúde universalizou o acesso dos usuários, com a consagração da Seguridade Social. Entretanto, esta política não é nova, é datada, sua implantação durante o Governo GABARITO 28 GABARITO do presidente Getúlio Vargas na década de 1930, paralelamente com o investimento para o desenvolvimento industrial do país. O questionamento sobre o formato da política de saúde iniciou com os trabalhadores da área, e posteriormente ampliou para vários outros setores da sociedade, constituindo no Movimento pela reforma Sanitária. O resultado da mobilização da sociedade foi a garantia do direito social à saúde a todos os cidadãos brasileiros, bem como o acesso aos serviços da política pública de forma universal. A partir da Constituição, o direito do cidadão e o dever do Estado foram reafirmados na Lei Orgânica da Saúde em 1990. Questão 4 Resposta: Alternativa B. Fazem parte do arcabouço da política de saúde: I - Lei nº 8.142, de 1990. II – Constituição Federal de 1988. IV – Lei Orgânica de Saúde. Questão 5 Resposta: Alternativa D. A Revolta da Vacina foi a expressão de medo, insegurança e indignação da população contra a campanha obrigatória de vacinação no ano de 1904. 29 REFERÊNCIAS BEHRING, Elaine; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006. BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das polí- ticas de previdência e assistência social noBrasil. Brasília: Letras Livres, 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 2016. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_ EC91_2016.pdf?sequence=1?concurso=CFS%202%202018>. Acesso em: 20 set. 2017. BRASIL. Casa Civil. Lei nº 8.142/90. Dispõe sobre a participação da comunidade na ges- tão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm>. 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