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SDE0250 –PSICOLOGIA EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE 1 Psicologia da saúde - a estruturação de um novo campo de saber 2 Busca explorar os contornos possíveis de um campo de pesquisa e prática ancorado na perspectiva da psicologia social crítica. A inserção dos psicólogos na saúde e a abertura de novos campos de atuação - transformações na prática que requerem novas perspectivas teóricas. O que determina o surgimento de condições apropriadas para a estruturação de uma psicologia da saúde: É o saber acumulado na prática; A necessidade de contextualizar esta prática; A ampliação no número de psicólogos envolvidos nesta área. Psicologia da saúde - a estruturação de um novo campo de saber 3 A psicologia chega tardiamente à área da saúde... buscando ainda definir seu campo de atuação, sua contribuição teórica efetiva e as formas de incorporação do biológico e do social ao psicológico, procurando abandonar os enfoques centrados em um indivíduo abstrato e a-histórico A psicologia chega tardiamente à área da saúde... 4 A emergência da psicologia da saúde, como campo de saber, está intimamente relacionada com as transformações que vêm ocorrendo na inserção do psicólogo na saúde. 5 As atividades em consultórios particulares - exercida de forma autônoma, não inserida no contexto dos serviços de saúde - restritas a clientela mais abastadas. As atividades exercidas em hospitais e ambulatórios de saúde mental - subordinada aos paradigmas da Psiquiatria – predominando a internação e medicação A atuação da psicologia se resumia a duas vertentes: 6 Na área clínica, os psicólogos, trabalhavam de forma isolada - adotava a perspectiva médica. Sua inserção na equipe era como facilitador do processo de tratamento. Nesta perspectiva, caberia aos psicólogos preparar o paciente para a cirurgia e outras intervenções e, de modo geral, “segurar a barra” quando o paciente expressasse suas emoções, restituindo-o ao papel de agente passivo. 7 São Paulo 1982 - adoção de uma política explícita, por parte da Secretaria da Saúde, de desospitalização e de extensão dos serviços de saúde mental à rede básica - origens trabalho de Franco Basaglia na Itália. Inserção dos psicólogos nos serviços de saúde (a grande virada) Política adotada - criação de equipes de saúde mental: psiquiatra, assistente social e psicólogo, que passaram a atuar nos centros de saúde do Estado. Uma rede de serviços teoricamente integrados com atuação nos níveis primário, secundário e terciário. 8 Resistência por parte dos demais profissionais que não compreendiam o papel atribuído aos membros dessas equipes. Faltava o embasamento teórico-prático necessário - que fugia aos parâmetros da atuação tradicional dos profissionais que as integravam. Daí se inicia um processo de delineamento de novos campos de atuação do psicólogo nos serviços de saúde - um campo específico de saber. Algumas dificuldades de inserção e constituição dessas equipes nos centros de saúde: Na estruturação de um marco teórico da psicologia da saúde. O predomínio do modelo psicodinâmico na formação dos psicólogos, ênfase nas aplicações clínicas na área da saúde mental e total ausência das temáticas relacionadas à saúde pública. A predominância dos enfoques em que o indivíduo é tratado como ser abstrato e a-histórico, desvinculado de seu contexto social. A hegemonia do modelo médico na definição do objeto de investigação/intervenção e a ausência de paradigmas verdadeiramente psicológicos para o estudo do processo saúde/doença. As possíveis dificuldades... O modelo médico está embasado nos conhecimentos derivados empiricamente. Nessa perspectiva o comportamento do paciente passa a ser avaliado, em função de sua adequação ao saber médico – se o paciente não segue o tratamento é tido como rebelde ou ignorante. A aceitação da autoridade do profissional na relação com o paciente - fruto da formação clínica predominante entre os psicólogos. A crença na verdade absoluta das ciências naturais – a variância e o desvio da norma deverão ser buscados no paciente. A forma de inserção do psicólogo no setor saúde - predominantes a falta de autonomia e a subordinação ao médico - o que não encoraja um saber independente. A hegemonia reflete: As três dimensões a serem incorporadas na busca de um embasamento mais globalizante para a psicologia da saúde - tendo por eixo central a explicação do processo saúde/doença. o saber oficial; o saber popular (ou do senso comum); a sociedade. As representações - são formas de conhecimento social que orientam a ação, individual ou institucional, para a prevenção da doença e a promoção ou recuperação da saúde. A perspectiva construtivista privilegia a relação dialética individual/social e pensamento/atividade. Estabelece um diálogo com a Teoria das Representações sociais. As representações sociais são formas de conhecimento prático - o saber do senso comum. A análise das representações sociais reflete sobre como os indivíduos, os grupos, os sujeitos sociais, constroem seu conhecimento. A construção social do saber sobre a saúde e a doença: uma perspectiva psicossocial R. S. São estruturas de conhecimento cognitivas, afetivas e avaliativas, oriundas da relação de reciprocidade entre o indivíduo e a sociedade, que facilitam e orientam o processo da informação social. Saúde/doença na perspectiva construcionista, enfatiza, as representações do processo saúde/doença Tal postura implica em dois saltos qualitativos: 1ª Aborda a doença não apenas como uma experiência individual, mas também como um fenômeno coletivo - sujeito às forças ideológicas da sociedade; 2ª Inverte a perspectiva: deixa de privilegiar a ótica médica e passa a legitimar também a ótica do paciente. O paciente tem direitos de opinar sobre seu atendimento - possibilita confronto entre o significado (social) da experiência e o sentido (pessoal) que lhe é dado pelo indivíduo. 1) A compreensão da doença como fenômeno coletivo, ou seja, privilegiando o discurso de uma dada sociedade sobre as enfermidades e os enfermos. 2) A construção do saber leigo, (senso comum) ou seja, os modelos explicativos que embasam as diferentes interpretações das doenças e a busca de alternativas terapêuticas. 3) A interface entre o saber oficial- mediado pela constituição do campo da prática médica e das instituições médicas - e a representação da doença prevalecente em determinadas épocas e/ou grupos. Amplitude dos temas possíveis 17 A formação necessária para a inserção institucional do psicólogo na área da saúde 18 Termo instituição: refere-se, simultaneamente, às normas de um grupo social - regulam sua vida e seu funcionamento - e indicam um estabelecimento, uma organização ou associação instituída para a promoção de um determinado objetivo. 19 A organização é sobredeterminada por normas mais gerais, que estão intimamente vinculadas às representações coletivas que, com o passar dos anos, atingem o estatuto de normas universais ou leis. 20 O processo de institucionalização destas normas - pano de fundo - formata o cenário de nossa prática profissional. É através do processo de institucionalização, que determinadas trocas simbólicas, adquirem objetividade e força de instituições sociais. E uma vez legitimada - as instituições adquirem força de lei - surgem daí mecanismos para a manutenção da ordem estabelecida - repressão de perspectivas diferentes que ameaçam o status quo - estado atual. 21 É no processo de transferência acrítica do referencial teórico para o contexto institucional - resultado da formação básica do psicólogo para atuação clínica, centrada no indivíduo e localizada no consultório que o psicólogo serve de instrumento para a manutenção do status quo. A compreensão dos processos de institucionalização é passo essencial na formação para a prática nas chamadas instituições de saúde 22 Trabalhar com a instituição como totalidade – no sentido de compreenderos sujeitos como constitutivos e constituídos (formado) pela trama de relações concretas que aí se estabelecem (análise institucional) Trabalhar com o paciente que é cliente da instituição. O psicólogo tem dois níveis de atuação possíveis: 23 Referencial Contextual - buscar dados que permitam a compreensão das determinações sociais mais amplas que afetam a relação profissional do psicólogo com o seu cliente. Referencial teórico - conseguir trabalhar com a alteridade (distinto) - aceitação de uma realidade multiforme, fruto da pertença a uma sociedade de classes e segmentos sociais específicos. O trabalho do psicólogo em instituições requer uma expansão do referencial utilizado em dois sentidos distintos: 24 Duas ordens de fenômenos estão implicados: 1ª a organização social mais ampla - incluindo aqui as especificidades de classe. Os serviços de saúde são diferencialmente distribuídos entre a população (medicina de ricos e medicina de pobres). Tentar, entender o problema do cliente institucional sem entender a problemática social seria insuficiente. 25 Duas ordens de fenômenos estão implicados: 2ª A realidade institucional propriamente dita - dois níveis de fenômenos relacionados: Instituição como aparelho ideológico remete à compreensão de sua constituição histórica (hospital). (Foucault, 1977). Instituição como cultura organizacional nos leva à busca dos rituais, dos mitos, das representações compartilhadas que sustentam a ação conjunta chegando, portanto, à questão do poder - o grande motor das análises institucionais. 26 É no reconhecimento da realidade multiforme que nos permite trabalhar a questão da (diferença) = > alteridade (possível exercer a cidadania e estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes -realidades-) A alteridade face aos demais profissionais - trabalho em equipes multidisciplinares. O médico como bode expiatório - acabaram por criar um nós-e-eles que imobilizava o "nós" na falta de poder. O trabalho do psicólogo em instituições 27 A convivência com a alteridade no contexto institucional, seja ela referente ao paciente ou ao trabalho conjunto com os demais profissionais, é um contínuo jogo de desconstrução e reconstrução de representações. 28 Referência Resumo do texto: SPINK, Mary Jane P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003. Cap. 1 - Psicologia da saúde: a estruturação de um novo campo de saber. Cap. 7 - A formação do psicólogo para atuação em instituições de saúde.
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