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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA: ENGENHARIA AMBIENTAL PROTOCOLO DE KYOTO E O MERCADO DE CARBONO BOA VISTA – RR MAIO DE 2015 ANDERSON MARTINS DE MELLO FRANCISCO DOS SANTOS SOUZA JÚNIOR HELENE SANTIAGO DAMASCENO VALESKA MONIQUE CHAVES LEITE PROTOCOLO DE KYOTO E O MERCADO DE CARBONO Trabalho apresentado à disciplina de Engenharia Ambiental, para obtenção de crédito do semestre vigente, do Curso de Bacharel em Engenharia Civil, da UFRR, sob a orientação do Professor MSc. Francisco Diego M. Nobre. BOA VISTA – RR MAIO DE 2015 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4 PROTOCOLO DE KYOTO ....................................................................................................... 5 O MERCADO DE CARBONO ............................................................................................... 12 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 17 REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 18 4 INTRODUÇÃO O efeito estufa vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, tanto pelos seus efeitos, como também pela ampla discussão que o mesmo vem incentivando em todas as áreas, sejam elas acadêmicas, sociais ou econômicas. É importante ressaltar, que o efeito estufa natural é essencial para a manutenção da vida no planeta. Trata-se, portanto, na sua origem, de um fenômeno natural, que não depende da ação do homem. Entretanto sabe-se que, o homem, em virtude do desenvolvimento das suas atividades industriais e econômicas, emite também gases do efeito estufa (GEE), principalmente o dióxido de carbono (CO2), elevando a sua concentração na atmosfera, ocasionando um processo de intensificação do efeito estufa. Devido à grande preocupação com a degradação do meio ambiente, em 1997, durante a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas realizada na cidade japonesa de Kyoto foi criado Protocolo de Kyoto, assinado por representantes de mais de 160 países como complemento à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O objetivo do Protocolo de Kyoto é a redução da concentração dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Assim, os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 5,2% em relação aos níveis de 1990, durante o período compreendido entre os anos de 2008 e 2012. Para tanto, existem algumas alternativas para auxiliá-los no cumprimento de suas metas, chamadas mecanismos de flexibilização. Visando evitar o comprometimento da economia daqueles países, o Protocolo estabeleceu que, caso seja impossível atingir as metas estabelecidas por meio da redução das emissões dos gases, os países poderão comprar créditos de outras nações que possuam projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional. A redução da emissão de outros gases, igualmente geradores do efeito estufa, também pode ser convertida em créditos de carbono, utilizando-se o conceito de Carbono Equivalente. 5 PROTOCOLO DE KYOTO 1. Como surgiu? Preocupados com o aquecimento da Terra, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA em conjunto com a Organização Meteorológica Mundial – OMM criaram o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), com a missão de analisar e publicar quinquenalmente relatórios sobre aspectos científicos da previsão da mudança do clima, dos impactos dessa mudança no meio ambiente global e das estratégias de resposta dos Estados, individualmente ou em conjunto, aos fenômenos observados. Dos relatórios produzidos destaca-se o documento elaborado por mais de trezentos cientistas no qual advertem sobre a necessidade de diminuir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) eles atestam que: “Estamos convencidos de que as emissões provocadas por atividades humanas estão aumentando substancialmente as concentrações atmosféricas de gases de estufa. (...) Estes aumentos repercutirão sobre o efeito estufa e trarão um aumento adicional no aquecimento da superfície da Terra”. O IPCC ao chegar a essa conclusão possibilitou a negociação de um Tratado Internacional criando um Comitê Intergovernamental de Negociação (INC/FCCC) para elaborar uma Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima. Desde a sua vigência até o ano de 2007 foram realizados 13 encontros, o terceiro destes encontros o COP-3, foi realizado em Kyoto, Japão, em dezembro de 1997, onde foi adotado um Protocolo: A Convenção sobre Mudança do Clima, chamado de Protocolo de Kyoto. 2. Do que trata? O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional que tem como objetivo fazer com que os países desenvolvidos assumissem o compromisso de reduzir a emissão de gases que agravam o efeito estufa, para aliviar os impactos causados pelo aquecimento global. Além disso, são realizadas discussões para estabelecer metas e criar formas de desenvolvimento que não sejam prejudiciais ao Planeta. O Protocolo estabeleceu que os países desenvolvidos e em transição para economias de mercado, o qual inclui 40 países, deveriam reduzir suas emissões totais de gases do efeito estufa. No documento, há um cronograma em que os países são obrigados a reduzir, em 5,2%, a emissão de gases poluentes, entre os anos de 2008 e 2012 6 (primeira fase do acordo, período este conhecido como primeiro período de compromisso) em relação aos níveis de 1990. No entanto há uma grande variação nas metas de cada país, indo de uma redução de 8% até um aumento de 10% do nível de emissões de 1990. Esses países se comprometeram a: Adotar políticas nacionais e medidas que levem a redução de dióxido de carbono na atmosfera aos níveis de 1990; Comunicar seus inventários nacionais de emissões discriminadas por tipo de fonte como também remoções dos gases através de sumidouros; Submeter relatórios sobre políticas públicas e medidas implementadas. As metas do Protocolo de Kyoto não foram iguais para todos, mas para que ocorra essa redução, várias atividades econômicas tem que ser modificadas através de algumas ações: Reformar os setores de energia e transporte; Promover o uso de fontes energéticas renováveis; Limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; Proteger florestas e outros sumidouros de carbono. Segundo o Protocolo, os países em desenvolvimento como o Brasil, Argentina, México e Índia, países não pertencentes ao Anexo I, não receberam metas obrigatórias para reduzir suas emissões durante este primeiro período de compromisso (2008-2012), mas esta isenção já está sendo reavaliada para um próximo período de compromisso (pós 2012), mesmo assim esses países deveriam realizar ações sustentáveis por meio de projetos destacados pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Países do Anexo I (Meta de Emissão) Alemanha......................................................................................................................-8%Austrália.......................................................................................................................+8% Áustria...........................................................................................................................-8% Bélgica..........................................................................................................................-8% Bulgária*.......................................................................................................................-8% Canadá...........................................................................................................................-6% Comunidade Européia...................................................................................................-8% 7 Croácia*........................................................................................................................-5% Dinamarca.....................................................................................................................-8% Eslováquia*...................................................................................................................-8% Eslovênia*.....................................................................................................................-8% Espanha.........................................................................................................................-8% Estados Unidos da América..........................................................................................-7% Estônia*.........................................................................................................................-8% Federação Russa*............................................................................................................0 Finlândia.......................................................................................................................-8% França............................................................................................................................-8% Grécia............................................................................................................................-8% Holanda.........................................................................................................................-8% Hungria*.......................................................................................................................-6% Irlanda...........................................................................................................................-8% Islândia.......................................................................................................................+10% Itália..............................................................................................................................-8% Japão.............................................................................................................................-6% Letônia*........................................................................................................................-8% Liechtenstein.................................................................................................................-8% Lituânia*.......................................................................................................................-8% Luxemburgo..................................................................................................................-8% Mônaco.........................................................................................................................-8% Noruega........................................................................................................................+1% Nova Zelândia................................................................................................................0 Países Baixos................................................................................................................-8% Polônia*........................................................................................................................-6% Portugal.........................................................................................................................-8% Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte........................................................-8% República Tcheca*........................................................................................................-8% Romênia*......................................................................................................................-8% Suécia............................................................................................................................-8% Suiça..............................................................................................................................-8% Ucrânia*..........................................................................................................................0 8 * Países que não haviam declarado ter intenção de ratificar o protocolo (apenas em 2007 a Austrália mudou sua posição e ratificou o protocolo). Gases do efeito estufa Os gases citados no acordo são: dióxido de carbono (CO2), gás metano(CH4), óxido nitroso(N2O), hidrocarbonetos fluorados (HFCs), hidrocarbonetos perfluorados (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). Estes últimos três são eliminados principalmente por indústrias. Mecanismos de Flexibilização do Protocolo de Kyoto Esses mecanismos ajudam a estimular o investimento verde e as Partes a cumprirem suas metas de emissão. Das ações apresentadas para o cumprimento do tratado há três Mecanismos de Flexibilização: Implementação Conjunta (CI) - mecanismo que incentiva a criação de projetos que reduzam a emissão dos gases estufa. Quando dois ou mais países desenvolvidos criam projetos para redução de gases podem fazer uma posterior comercialização. A implementação conjunta fornece às Partes um meio flexível e economicamente eficiente para cumprir uma parte de seus compromissos de Kyoto, enquanto o anfitrião do projeto se beneficia com o investimento estrangeiro e com a transferência de tecnologia; Comércio de Emissões ou Comércio Internacional de Emissões (CIE) - é um mecanismo em que os países desenvolvidos que já reduziram a emissão de gases além de sua meta, podem comercializar o excedente de suas emissões para países que não atingiram a meta; Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - mecanismo que auxilia na redução dos gases estufa. Ele consiste na implementação de projetos para o desenvolvimento sustentável que auxiliam na redução ou captura de gases poluentes. Com isso, os países recebem um certificado chamado 'Reduções Certificadas de Emissões', emitido pelo Conselho Executivo do MDL e podendo ser comercializados no mercado internacional. 9 3. Resultados do Protocolo atualmente Dez anos após ter entrado em vigor o Protocolo de Kyoto tem um diagnóstico claro: o acordo fracassou em reduzir as emissões de gases estufa que cresceram 16,2% de 2005 a 2012. O principal argumento para a não adesão dos Estados Unidos ao protocolo é o de que isso provocaria graves problemas em sua economia. Com isso, muitos países do mundo se viram desobrigados a continuarem seguindo as metas, uma vez que um dos que mais poluem não participa do tratado. Outra problemática refere-se ao fato de os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não terem nenhum tipo de meta ou obrigação a cumprir. Esses países, em razão de seus desenvolvimentos industriais – ocasionadospela instalação de empresas estrangeiras – aumentaram em muito os seus índices de poluição. A China, por exemplo, ultrapassou os estadunidenses e tornou-se a maior nação poluidora em todo o planeta. Em outras palavras, os dois países mais poluidores do mundo – China e EUA –, que juntos somam mais de 40% das emissões de gases que provocam o aumento do efeito estufa, estão atualmente sem nenhuma obrigação em cumprir qualquer tipo de meta estabelecida por Kyoto. Além disso, grupos ambientalistas vêm criticando a falta de clareza quanto aos objetivos tratados pelo Protocolo, que, até agora, não possui um substituto – o que deve ser discutido a partir de 2015. Além do mais, eles afirmam que a meta de redução de 5% das taxas de poluição por parte dos países desenvolvidos em pouco resolveria os problemas do Aquecimento Global. Tem-se que as metas de redução de emissões de 2013 a 2020, estabelecidas em 2012 no Qatar só tiveram até agora 23 adesões. Entretanto, o pacto internacional, não foi de todo inócuo e teve relativo sucesso em conscientizar uma boa parte da sociedade e implantar projetos ambientais, tecnológicos e de desenvolvimento econômico para prevenir o agravamento do aquecimento global. 10 Figura 1– Adesão de países ao Protocolo; Fonte: Alex Argozino/ Editora de Arte/Folhapress. Em um balanço, a secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) destacou que 37 países, a maioria da União Europeia, superaram sua meta de reduzir em 5% suas emissões até 2012. A agência, contudo, deixou de lado os números do aumento global das emissões e o alerta enfático feito em 2014 por seu braço científico, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática): não há mais tempo para reduzir a concentração de gases-estufa para que o aumento médio da temperatura da superfície terrestre até 2100 seja inferior a 2°C. Essa elevação traria como consequência: mais secas, o derretimento de geleiras e inundação de zonas costeiras pela elevação dos oceanos. Para evitar esse cenário, seria preciso estabilizar as emissões até 2020 e reduzir as emissões em 80% até 2050. 11 Diagrama esquemático do histórico do Protocolo Figura 2 – Cronologia do Protocolo; Fonte: Alex Argozino/ Editora de Arte/Folhapress. 12 O MERCADO DE CARBONO 1. Crédito de Carbono O crédito de carbono é uma espécie de certificado que é emitido quando há diminuição de emissão de gases que provocam o efeito estufa e o aquecimento global em nosso planeta. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) que deixou de ser produzido. Aos outros gases reduzidos são emitidos créditos, utilizando-se uma tabela de carbono equivalente. Cada tonelada de CO2e (equivalente) não emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento pode ser negociada no mercado mundial. A partir dos anos 2000, entrou em cena um mercado voltado para a criação de projetos de redução da emissão dos gases que aceleram o processo de aquecimento do planeta. Empresas que conseguem diminuir a emissão de gases poluentes obtêm estes créditos, podendo vendê-los nos mercados financeiros nacionais e internacionais. Estes créditos de carbono são considerados commodities (mercadorias negociadas com preços estabelecidos pelo mercado internacional). 2. Mecanismos do Mercado de Carbono Para ajudar os países a alcançar suas metas de emissões e para encorajar o setor privado e os países em desenvolvimento a contribuir nos esforços de redução das emissões, os negociadores do Protocolo incluíram três mecanismos de mercado; • Comércio de Emissões • Implementação Conjunta • Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os dois primeiros são exclusivos dos países que possuem metas obrigatórias. 2.1. Comércio de Emissões O comércio de emissões é um sistema global de compra e venda de emissões de carbono, baseado no esquema de mercado cap-and-trade. A expressão cap-and-trade, que na tradução livre seria algo como “limite e negociação”, é usada para denominar um mecanismo 13 de mercado que cria limites para as emissões de gases de um determinado setor ou grupo. Com base nos limites estabelecidos, são lançadas permissões de emissão e cada participante do esquema determina como cumprirá estes limites. As cotas (ou permissões) de emissão podem ser comercializadas, ou seja, aqueles países (ou firmas) que conseguem emitir menos do que foi estabelecido a eles podem vender o excedente àqueles que não conseguiram (ou não quiseram) limitar suas emissões ao número de cotas que tinham. Uma das principais corretoras para o Comércio de emissões é a European Climate Exchange. 2.2. Implementação conjunta Mecanismo onde os países do Anexo I podem agir em conjunto para atingir suas metas. Assim, se um país não vai conseguir reduzir suficientemente suas emissões, mas o outro vai, eles podem firmar um acordo para se ajudar. O mecanismo de Implementação Conjunta permite de maneira flexível e com eficiência em custo que um país possa atingir suas metas de redução, enquanto o país hospedeiro se beneficia de investimentos estrangeiros e transferência de tecnologia. 2.3. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) Este mecanismo permite projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento, que não possuem metas de redução de emissões no âmbito do Protocolo de Kyoto. Estes projetos podem se transformar em reduções certificadas de emissões (CER), que representam uma tonelada de CO2 equivalente, que podem ser negociados com países que tenham metas de redução de emissões dentro do Protocolo de Kyoto. Projetos MDL podem ser implementados nos setores energético, de transporte e florestal. Este mecanismo estimula o desenvolvimento sustentável e a redução das emissões por dar flexibilidade aos países industrializados na forma de conseguir cumprir suas metas de redução, enquanto estimula a transferência de tecnologia e o envolvimento da sociedade nos países em desenvolvimento. Os requisitos gerais que devem ser atendidos por um projeto de MDL, são: Ter a participação voluntária dos atores envolvidos; 14 Contar com a aprovação do país onde será implantado; Apoiar os objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pelo país onde será implantado; Reduzir as emissões de GEE em relação ao que ocorrerá se ele não for implementado – princípio da adicionalidade; Contabilizar o aumento de emissões de GEE que ocorra fora dos limites das suas atividades (chamadas “fugas”) e que seja atribuível a essas atividades; Trazer uma estimativa dos impactos de suas atividades – as partes envolvidas e/ou afetadas por esses impactos deverão ter sido comprovadamente consultadas; Gerar benefícios climáticos – mensuráveis, reais e de longo prazo. Depois que um projeto de MDL entra em vigor, o Conselho Executivo do MDL emite, de tempos em tempos, a Redução Certificada de Emissões (RCE), documento eletrônico que especifica os créditos de carbono alcançados por esse projeto. 3. Mercado Voluntário Existe, por sua vez, um Mercado Voluntário, onde empresas, ONGs, instituições, governos, ou mesmo cidadãos, tomam a iniciativa de reduzir as emissões voluntariamente. Os créditos de carbono (VERs - Verified Emission Reduction) podem ser gerados em qualquer lugar do mundo e são auditados por uma entidade independente do sistema das Nações Unidas. Algumas características dos Mercados Voluntários são: • Créditos não valem como redução de metas dos países; • A operação possui menos burocracia;• Podem entrar projetos com estruturas não reconhecidas pelo mercado regulado; O principal mercado voluntário é o Chicago Climate Exchange, nos EUA. 4. Comércio e Valores Os créditos de carbono são certificados outorgados às indústrias e às empresas que comprovadamente reduzam a emissão de gases causadores do efeito estufa durante a obtenção 15 de seus produtos. Cada crédito de carbono pode valer de U$ 3,00 a 40,00 dólares (R$ 8,00 a 104,00 reais), mas, em média, fica entre US$ 15,00 e US$ 20,00 (R$ 39,00 a 52,00 reais). Quem define o preço de cada crédito de carbono é a característica do projeto executado, ou seja, uma empresa que realiza reflorestamento em um local degradado por suas atividades, capta créditos mais baratos do que aqueles provenientes da instalação de um equipamento de alta tecnologia para reduzir a emissão de gases poluentes. As empresas que mais negociam esses créditos são aquelas instaladas em países desenvolvidos. Estes créditos geralmente são comprados por empresas que não conseguem reduzir a emissão dos gases poluentes, permitindo-lhes manter ou aumentar a emissão. As empresas que conseguem reduzir a emissão dos gases poluentes lucram com a venda destes créditos de carbono. Este sistema visa privilegiar as indústrias que reduzem a emissão destes gases, pois seus lucros com a venda dos créditos aumentam. Já os países mais desenvolvidos podem incentivar os países em desenvolvimento a reduzirem a emissão de gases poluentes, comprando os créditos no mercado de carbono. 5. Mercado de Carbono e Economia Em termos mundiais, o valor total do mercado de carbono cresceu 11% em 2011, alcançando a cifra de US$ 176 bilhões (o que corresponde à transação de 10,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente), conforme o relatório “State and Trends of the Carbon Market”, publicado pelo Banco Mundial neste ano. Relativamente aos números do mecanismo de desenvolvimento limpo, até julho de 2012, foram aprovados e registrados na ONU 4.329 projetos de MDL oriundos de todo o mundo. Desses, 49 % ocorreram na China. O Brasil conta com apenas 5 % do total. Muitos advogam que essa pequena participação no País é fruto da falta de regulamentação do mercado de carbono no Brasil. Esse mercado não foi implementado no Brasil. O principal motivo para que o mercado não funcione é simplesmente o fato de que não existe uma demanda para créditos de carbono no País (até existe oferta, mas não demanda). As empresas brasileiras demandariam créditos de carbono se elas possuíssem metas obrigatórias de redução de emissões (como no mecanismo cap and trade). Pode-se pensar então que a solução para começar a funcionar o mercado brasileiro de redução de emissões seja estabelecer metas obrigatórias internas. Mas isso geraria mais problemas para a economia brasileira, pois ter que se ajustar a uma meta 16 gera custos e isso diminuiria a competitividade brasileira perante os outros países em desenvolvimento, que também não possuem metas. Isso não significa que a venda de RCE não aconteça no Brasil. A BM&FBOVESPA possui um ambiente eletrônico de negociação desenvolvido para viabilizar o fechamento de negócios com créditos gerados por projetos de MDL. As operações são realizadas por meio de leilões eletrônicos, via web, e agendados pela BM&FBOVESPA a pedido de entidades – públicas ou privadas – que desejem ofertar seus créditos de carbono no mercado. A redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente – t CO2e (equivalente). Cada tonelada de CO2e reduzida ou removida da atmosfera corresponde a uma unidade emitida pelo Conselho Executivo do MDL, denominada de Redução Certificada de Emissão (RCE). Cada tonelada de CO2e equivale a 1 crédito de carbono. A ideia do MDL é que cada tonelada de CO2 e não emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento possa ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de Emissões Reduzidas (CER). As nações que não conseguirem (ou não desejarem) reduzir suas emissões poderão comprar os CER em países em desenvolvimento e usá-los para cumprir suas obrigações. 6. Ponto de Vista Crítico De modo geral vários ambientalistas culpam o mercado de carbono para o aumento da emissão de GEEs, já que os créditos de carbono tornam-se, em alguns casos, avais justos para o aumento da poluição. 17 CONCLUSÃO Em 2015 completou 10 anos da entrada em vigor do acordo mundial que visa reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Porém, dados divulgados em fevereiro de 2015 apontam que o acordo não atingiu seus objetivos iniciais, pois entre os anos de 2005 e 2012 houve um aumento da emissão mundial destes gases em 16,2%. Por outro lado, especialistas em clima afirmam que o pacto gerou alguns benefícios. Estes estudiosos dizem que se não houvesse o Protocolo de Kyoto, as emissões de gases do efeito estufa teriam sido muito maiores, aumentando os efeitos nocivos do aquecimento global no planeta. O protocolo também foi benéfico no sentido de incentivar a adoção de medidas governamentais práticas como o objetivo de diminuir os impactos climáticos negativos. Também foi positivo, pois alertou a população mundial para o problema das mudanças climáticas, além de estimular o uso de fontes de energia limpa (eólica e solar). Vale lembrar que o Protocolo de Kyoto ainda está em vigor, pois houve o estabelecimento de novas metas que deverão ser alcançadas até o ano de 2020. O grande problema é que, até o começo de 2015, apenas 23 países tinham aderido aos novos objetivos do acordo. O mercado de carbono, apesar de incipiente, já é uma realidade e o Brasil é um dos países com maior potencial de geração de crédito de carbono mediante a elaboração e aprovação de projetos de MDL. Com efeito, esse ramo do mercado torna-se extremamente interessante àqueles que pretendem investir em uma moeda que já nasceu forte. É aconselhável, entretanto, que o investidor conheça bem as características e as regras deste mercado, as formas de comercialização deste título, bem como as normas jurídicas aplicáveis à espécie. Somente assim a compra e venda de Certificados de Emissões Reduzidas, seja via bolsa, seja via contrato de compra e venda, seja via investimento, poderá se realizar com a devida segurança e trazer retorno financeiro ao investidor, ao mesmo tempo em que tenta proteger o planeta contra a degradação desenfreada. 18 REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Qual o objetivo do Protocolo. Disponível em: <http://www.ipam.org.br/saiba- mais/abc/mudancaspergunta/Qual-o-objetivo-do-Protocolo-de-Quioto-e-quais-sao-as-metas- especificas-com-as-quais-os-paises-se-comprometeram-E-para-quem-elas-valem-/21/11>. Acesso em: 26 de maio de 2015. Países do Protocolo de Kyoto. Disponível em: < http://protocolo-de-kyoto.info/paises-do- protocolo-de-kyoto.html>. Acesso em: 26 de maio de 2015. Mecanismos do Protocolo de Quioto. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/mudancas_climaticas/protocolo_de_quioto/mecanis mos_do_protocolo_de_quioto.html>. Acesso em: 26 de maio de 2015. VIDIGAL, Flávio. O Protocolo de Kyoto, o mecanismo de desenvolvimento limpo e as formas de circulação dos créditos de carbono. MACHADO, Daniela. Entendendo o Protocolo de Kyoto e o mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Dez anos depois, Protocolo de Kyoto falhou em reduzir emissões mundiais. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2015/02/1590476-dez-anos-depois-protocolo- de-kyoto-falhou-em-reduzir-emissoes-mundiais.shtml>.Acesso em: 25 de maio de 2015. Entenda como funciona o mercado de carbono. Disponível em <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/entenda-como-funciona-o-mercado-de- credito-de-carbono>. Acesso em: 25 de maio de 2015. Como o mercado de carbono opera no Brasil. Disponível em <http://www.brasil- economia-governo.org.br/2012/08/13/o-que-e-o-mercado-de-carbono-e-como-ele-opera-no- brasil/>. Acesso em: 26 de maio de 2015. 19 O que é e como funciona o mercado de carbono. Disponível em: <http://www.ipam.org.br/saiba-mais/O-que-e-e-como-funciona-o-Mercado-de-Carbono-/4>. Acesso em: 26 de maio de 2015. A quantas anda o mercado de carbono. Disponível em: <http://asboasnovas.com/economia/a_quantas_anda_o_mercado_de_carbono>. Acesso em: 26 de maio de 2015.