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Política ambiental

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Política ambiental
Aula 1: O meio ambiente e as relações internacionais: surgimento e evolução histórica do tema no cenário global
Nos dias atuais os temas ligados ao meio ambiente estão presentes em todas as pautas de debates político e cientifico no mundo inteiro. Seja na ação dos governos, nas negociações dentro das organizações internacionais, na mobilização da sociedade civil, nas peças de propaganda e promoção das grandes empresas, as preocupações com o meio ambiente se tornaram o grande tema contemporâneo. Esse cenário, no entanto, nem sempre foi assim. Como veremos nesta aula, o tema ambiental ou, na verdade, as preocupações com a degradação ambiental começaram a surgir ainda no século XIX, mesmo que de maneira esporádica e bastante segmentada.
A partir de então, as questões ligadas à preservação do meio ambiente e os efeitos nocivos da rápida industrialização, principalmente entre os países economicamente mais desenvolvidos, acompanharam o próprio avanço do capitalismo global e as transformações nos meios de produção e consumo. Por um lado tivemos uma postura apreensiva dos governos, seja em prevenir a degradação ambiental ou priorizar a industrialização a qualquer custo, por outro, a própria sociedade civil mobilizada em torno da defesa do meio ambiente.
Mas como tudo isso começou? Em que ponto a degradação se tornou tão clara que os governos não conseguiram mais menosprezá-la?
E, afinal, o que é a questão ambiental? Para compreender tudo isso é fundamental voltarmos no tempo e entender os primeiros sinais de que o meio ambiente não resistiria aos infortúnios provocados pela industrialização em geral. Também é preciso identificar as primeiras iniciativas políticas em prol da preservação de áreas florestais e, naturalmente, as leis pioneiras no tema.  
Para compreendermos os elementos em torno da questão ambiental nas Relações Internacionais, é fundamental traçarmos alguns esclarecimentos sobre a origem das preocupações com o meio ambiente propriamente dito, os reflexos da ação do homem neste contexto, as principais transformações sociais que acarretaram consequências na relação do homem com a Terra e, não menos importante, a atuação dos governos frente aos novos desafios.
Mas, afinal, o que é 
a “questão ambiental”?
Compreendendo a questão ambiental
Para pensarmos a questão ambiental, é preciso diferenciar o que é o ambiente natural do ambiente social no qual interagem as sociedades e os homens. Para isso, vamos pensar em duas esferas:
Na primeira, podemos ver o ambiente natural do planeta Terra, com seus ecossistemas e mudanças climáticas e geológicas naturais ao longo dos tempos.
Já na segunda esfera, vemos o ambiente dos homens, com as transformações sociológicas típicas do decorrer da política mundial, com seus avanços tecnológicos e questionamentos intelectuais.
A questão ambiental, à qual nos referimos, é justamente o encontro – problemático – entre a primeira esfera (natural, a Terra) e a segunda esfera (social, o Mundo), ou melhor, a atuação da segunda esfera sobre a primeira esfera.
A compreensão sobre essas duas esferas é de grande valia para entendermos a questão ambiental não do ponto de vista unilateral, a um Estado ou a um determinado grupo de Estados, mas pelo seu aspecto transfronteiriço, portanto, global.
Esse encontro, onde o equilíbrio não foi prioritário por muito tempo, produziu consequências vistas, atualmente, com focos de atenção e preocupação de toda a humanidade. E por isso, como sabemos, é tema recorrente na política internacional.
A questão ambiental – ou problema ambiental – não se dá como fator inerente às transformações naturais da Terra, mas do comportamento da humanidade – o Mundo – sobre os elementos da natureza e do meio em que vivemos. 
Tradicionalmente, podemos ver essa relação entre o Mundo e a Terra a partir de três perspectivas, quais sejam: 
1) a economia clássica e a visão bíblica são orientadas segundo a perspectiva antropocêntrica, ou seja, colocam o homem como centro e a Terra como fornecedora ilimitada de recursos;
2) a perspectiva geocêntrica coloca a Terra como superior ao Mundo, portanto carrega em seu bojo elementos que fomentarão o debate entre a preservação e conservação ambiental e o desenvolvimento..
3) a terceira perspectiva busca alinhar o antropocentrismo com o geocentrismo, reconhecendo as limitações da Terra frente ao crescimento econômico ininterrupto. Ou seja, conciliar o bem-estar da humanidade com as condições limitadas de renovação do meio ambiente, gerando o debate sobre o uso racional dos recursos. 
Dentro dos estudos orientados pelo debate político, no âmbito das Relações Internacionais, a terceira perspectiva nos explica o teor global da questão ambiental, diferenciando este assunto dos chamados assuntos internos dos Estados, portanto objetos de preocupação da política nacional.
Em outras palavras, as consequências dos efeitos negativos do homem sobre o meio ambiente atingem a todos, não respeitando fronteiras, diferenças políticas ou ideológicas. Isso, contudo, não quer dizer que todas as nações e povos desempenham o mesmo papel quando se fala dos efeitos nocivos da atividade humana sobre o meio ambiente.
Na verdade, como veremos a seguir, os efeitos nocivos sobre o meio ambiente têm como origem, principalmente, a industrialização acelerada nos países mais ricos ao longo da segunda parte do século XIX e, mesmo nos dias atuais, entendendo o problema ambiental como o resultado das relações incongruentes entre o Mundo e a Terra, não podemos descartar o papel central que ocupam as nações mais industrializadas nesta questão (BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHELEICHER, p. 100-130, 2004).
A industrialização e o meio ambiente: os primeiros passos da questão ambiental
Ao longo do tempo, as atividades desencadeadas pelo homem têm modificado a Terra sob diversos aspectos. Seja através da agricultura, das transformações de planícies em grandes cidades, do desmatamento de florestas ou da aplicação de novas pesquisas científicas voltadas para a alimentação, a Terra vem sofrendo alterações no curso normal da renovação do meio ambiente e na sua capacidade de regenerar-se.
Para termos uma ideia dos resultados da ação do homem sobre a Terra, basta verificarmos os números regularmente divulgados pelos organismos internacionais, ONGs e comunidade científica, segundo os quais, o homem remove todos os anos maior quantidade de solo e rochas do que todo o processo histórico de erosão dos solos, ou os efeitos nocivos à camada de ozônio produzidos pela refrigeração artificial, sem esquecermos o tema mais desconcertante da atualidade: a possibilidade de um aquecimento global que poderia levar até mesmo ao fim das espécies, incluindo o homem.
Mas quando todas essas questões vieram à tona?
A industrialização e o meio ambiente: os primeiros passos da questão ambiental
O termo “mudança global”, para indicar as consequências da atuação humana sobre o meio ambiente, começou a ganhar espaço após divulgações científicas, em torno da década de 1970, segundo as quais as emissões de gazes poderiam alterar a química da atmosfera, resultando em chuvas ácidas, aumento da exposição aos raios ultravioletas do sol e o aquecimento global por conta do efeito estufa (PRESS, JORDAN, p. 585-98, 2006). Mas, como é simples concluir, o que temos ao longo da década de 1970 é apenas a conclusão científica de ocorrências que já vinham atuando sobre o meio ambiente há um período relativamente grande.
Nos tempos modernos, para muitos autores, o advento da Revolução Industrial a partir do século XVIII pode ser visto como um divisor de águas na relação do homem com o meio ambiente. O que vemos é que o desenvolvimento acelerado do período não foi acompanhado de preocupações políticas ou pesquisas científicas que pudessem indicar os efeitos nocivos da rápida industrialização sobre a natureza e o meio ambiente.
E que processos de degradação ambiental, que antes se davam ao longo de um período substancialmente grande, agora aconteciamde maneira tragicamente acelerada e sob condições ainda mais desgastantes à natureza ambiental. É bem verdade, também, que existia nesse período uma visão de que a natureza tinha uma capacidade quase infinita de renovação e cabia ao homem explorar todos os recursos providos pela Terra.
A industrialização e o meio ambiente: os primeiros passos da questão ambiental
Por outro lado, quaisquer iniciativas no sentido de proteger áreas ambientais ou criar legislação de defesa do ecossistema foram esporádicas e bastante isoladas. Podemos citar como ações pioneiras:
1846
É aprovada uma regulação de proteção ao solo na área de Capoe Flats, próxima à Cidade do Cabo, visando “melhor preservação” da área.
1861
É aprovada uma regulação de proteção ao solo na área de Capoe Flats, próxima à Cidade do Cabo, visando “melhor preservação” da área.
1863
A aprovação por parte do Parlamento Inglês do Alkali Act em 1863, visando regular as indústrias de vidro que emitiam muitos poluentes no ar.
1868
Onze países europeus assinam um tratado de proteção aos pássaros úteis à agricultura.
1872
A criação do Parque Yellowstone nos Estados Unidos em 1872, tornando-se o primeiro parque nacional que se tem notícias.
Como podemos ver, embora dotadas de grande significado para o período, todas as iniciativas no âmbito da questão ambiental ainda eram demasiadamente tímidas, e jamais conseguiriam reverter ou suspender as ações predatórias do homem sobre a natureza (BURSTYN, PERSEGONA, p. 23-347, 2008).
Importante termos em mente que a poluição e a degradação ambiental não começam exatamente com a Revolução Industrial. Podemos colher exemplos em diversas eras e comunidades ao longo dos séculos onde a atuação do homem sobre o meio ambiente gerou efeitos danosos e, algumas vezes, irreversíveis.  Mas foi com as transformações próprias da Revolução Industrial que a poluição passa a ser vista como um problema da humanidade, pois, com o aumento significativo do grau de poluição em decorrência da industrialização e urbanização, sua escala deixa de ser local e passa a se tornar uma questão global.
Lembram do que falávamos sobre o aspecto transfronteiriço da questão global? Pois é. O que temos aqui é um claro exemplo em que um fato desencadeado pela ação de uma determinada sociedade acaba gerando efeitos muito mais amplos, tornando-se global. Esse efeito não se deu apenas pelo alto nível poluente das indústrias naquela época, mas também porque o sistema ou modo de produção que se consolidava e mundializava, o capitalismo, tem na atividade industrial e econômica elementos propulsores da urbanização e concentração humana em grandes cidades, gerando ainda mais problemas ambientais, tais como o acúmulo de lixo, altíssimo volume de dejetos que poluem rios e mananciais, ou seja, aumento da poluição como um todo.
A relação entre capitalismo e degradação ambiental nos parece cada vez mais clara. Se o capitalismo pode ser compreendido como um sistema voltado para a produção, acumulação e consumo de bens, e que tais elementos nada mais são do que produtos (mercadorias) produzidos a partir da transformação de recursos naturais, então podemos afirmar que, quanto maior o desenvolvimento capitalista, maior a exploração do meio ambiente.
Com a expansão do modelo capitalista, sobretudo a partir da Revolução Industrial, o meio ambiente baseado na natureza passa a ser gradualmente substituído por um novo meio: o ambiente urbano. Constituído pelo homem para satisfazer as novas demandas por consumo e bem-estar, o ambiente urbano tem um efeito significativo sobre o meio ambiente natural ao, por exemplo, canalizar rios, aterrar lagos e litorais, substituir vegetações nativas por produtos agrícolas, realocar a fauna para a expansão de cidades e indústrias, entre outros.
A questão ambiental no séc. XX: de coadjuvante ao destaque na agenda internacional
Como vimos, o tema ambiental já estava timidamente presente na agenda política das nações mesmo no séc. XIX, mas é na segunda parte do séc. XX que os Estados e as organizações internacionais passam a encarar essa questão como um tema global, definindo novos parâmetros de observação ao meio ambiente e avançando no reconhecimento do homem como
Na década de 1960, um grupo de cientistas passa a utilizar modelos matemáticos para prever os riscos impostos ao meio ambiente com o crescimento econômico contínuo, resultando no relatório “Limites ao Crescimento”, publicado em 1972. Embora nem todas as projeções do relatório tenham se confirmado ao longo dos anos, essa iniciativa teve o importante papel de conscientizar sobre os limites da exploração do planeta e fez surgir os primeiros movimentos
Além da conscientização, os trabalho publicados pelo chamado Clube de Roma refletiam uma preocupação comum no período: o crescimento populacional, o aumento da desnutrição e os efeitos da rápida industrialização no desgaste e desaparecimento dos recursos não renováveis. A conscientização, portanto, passa pelo objetivo de criar novos valores sociais em que o reconhecimento das limitações do planeta em gerar recursos deve dirigir as iniciativas frente ao desenvolvimento e aos hábitos de consumo das populações (RICUPERA, ABDALA, MARIANO, p. 2-12, 1995).
Na virada do séc. XX para o XXI, o tema ambiental atinge seu ponto mais alto com as discussões em torno do aquecimento global e as negociações que resultaram no Protocolo de Kioto, mais tarde Tratado de Kioto. Os debates sobre as mudanças climáticas ganham prontamente adeptos em todos os setores da sociedade, desde a mídia até comunidades científicas, que alimentam uma dialética – por vezes ideológica – sobre os limites do aquecimento da Terra frente à sobrevivência da humanidade e os reais agentes desencadeadores desse fenômeno.
O direito ambiental: uma breve apresentação
“O Direito Internacional do Meio Ambiente é o conjunto de regras e princípios que regulam a proteção da natureza na esfera internacional”. (VARELLA, p.7, 2009)
Embora o Direito Ambiental seja um importante elemento na tentativa de regular a atuação do homem sobre os elementos que se inserem na questão ambiental, não faremos aqui mais do que uma breve apresentação do tema tendo em vista não se tratar de uma disciplina de Direito, mas um estudo voltado para a observação do meio ambiente como objeto da agenda política internacional e as repercussões da ação humana sobre a Terra.
Como vimos no início dessa aula, já no séc. XIX há iniciativas em torno de regular através de leis nacionais os efeitos nocivos da industrialização sobre o meio ambiente e combater a degradação ambiental. Tais ações, contudo, se mantinham geralmente no âmbito interno dos Estados e não exerciam influência no contexto do Direito Internacional. É, então, a partir da metade do séc. XX com a percepção das mudanças ocorridas nas sociedades motivadas pelo desenvolvimento econômico e as transformações na relação do homem com a natureza, que começa a se desenhar no plano internacional as primeiras tentativas de normatizar a ação do homem sobre o meio ambiente.
A construção do arcabouço normativo do Direito Ambiental, no entanto, não se dá de forma linear justamente por pender entre as diversas concepções da questão ambiental e os diferentes níveis hierárquicos – quando viáveis – de aplicação das normas jurídicas. Isso porque as normas podem ser produzidas através de negociações multilaterais ou bilaterais por diferentes fontes – como as negociações ocorridas dentro de organizações políticas internacionais ou negociações diretas entre Estados –, produzindo normas que se sobrepõem, e até mesmo entram em conflito, na regulação de assuntos idênticos.
Ademais, a ausência de uma instituição reguladora no âmbito global faz com que todos os elementos normativos criados para a questão ambiental sejam provenientes de diferentes instituições e acordos internacionais, dificultando a implementação prática do Direito Ambiental sobre as nações.
Uma questão importante para a compreensão dos limites do DireitoAmbiental é a soberania dos Estados, em termos de assuntos nacionais, e a aplicabilidade das normas negociadas no âmbito internacional. Esse delicado limite ocorre porque o Direito Internacional do Meio Ambiente não visa apenas constituir-se num arcabouço de regras e princípios que regulem a proteção ao meio ambiente e as questões da degradação ambiental (tais como a poluição transfronteiriça ou as mudanças climáticas), mas também vincular o contexto da preocupação global com soberania dos Estados, em termos de assuntos nacionais, e a aplicabilidade das normas negociadas no âmbito internacional. Esse delicado limite ocorre porque o Direito Internacional do Meio Ambiente não visa apenas constituir-se num arcabouço de regras e princípios que regulem a proteção ao meio ambiente e as questões da degradação ambiental (tais como a poluição transfronteiriça ou as mudanças climáticas), mas também vincular o contexto da preocupação global com a proteção da natureza aos elementos internos dos Estados (VARELLA, p. 7-8, 2009).
Em outras palavras, a soberania dos Estados – com seus regimes jurídicos próprios – confere ao Direito Ambiental a necessidade de atuar em parceria com os Estados no contexto do Direito Internacional Público. E isso porque, mesmo sendo essencialmente o Estado o sujeito central do Direito Ambiental Internacional, as organizações internacionais detêm um papel fundamental nas negociações e formulações de normas deste ramo do Direito e na aplicabilidade destas normas no contexto interno dos Estados (SOUZA, n. 2125, 2009).
Por fim, é importante compreendermos que o Direito Ambiental Internacional segue em constante expansão à medida que novas soluções jurídicas e normativas são demandas com o surgimento de novos problemas em torno da questão ambiental.
No contexto das organizações políticas internacionais, as negociações que se seguem refletem, entre outros, interesses dos Estados- membros e pesquisas divulgadas pelas comunidades científicas, obrigando a revisão dos conceitos e verdades já estabelecidos quando pensamos em proteção do meio ambiente e instrumentos de combate aos efeitos da degradação já ocorrida no passado.
Sabemos que os objetivos relacionados ao desenvolvimento econômico, entre outros, é garantir riqueza às sociedades, abrindo oportunidades de consumo e satisfação das necessidades humanas. Mas será que a Terra está apta a satisfazer toda a humanidade em suas expectativas de consumo? Dados da Conferência Latino-Americana Sobre Meio Ambiente e Responsabilidade Social – EcoLatina – mostram a população dos Estados Unidos (que corresponde a 5% da população mundial) consome até 25% de toda a energia planetária. Na verdade, os povos oriundos de países desenvolvidos (cerca de 1/5 da população mundial) consomem nada menos do que 80% de todos os recursos naturais disponíveis no planeta Terra.
E quando aos outros 4/5 da população mundial? Se essa imensa população que vive à margem da riqueza de países desenvolvidos, passar a ter as mesmas condições econômicas dos americanos e europeus, por exemplo, terá a Terra condições de oferecer recursos para atender uma demanda tão grande?  Para a EcoLatina, o mundo já consome 25% a mais do que a Terra pode produzir em condições normais. E se populações de todas as nações alcançassem as mesmas condições de consumo que tem hoje um americano e um europeu? A Terra suportaria tal pressão?
Aula 2: As conferências internacionais e as transformações na percepção das questões ambientais globais 
Introdução
No contexto da consolidação do tema ambiental na agenda global do sec. XX, as conferencias internacionais tiveram um papel importantíssimo, seja no sentido de ampliar o escopo da conscientização aos Estados, seja para apresentar novas concepções do tema e demandas por políticas que revertessem o quadro de degradação já em andamento.
Nesse sentido, as primeiras conferencias, ainda no sec. XIX, já exerceram um papel relevante, mas é na segunda parte do sec. XX – apos a II Guerra Mundial – que os resultados desses encontros transformaram por completo a visão sobre a questão ambiental e infligiu à comunidade internacional uma nova postura para tentar reverter as catástrofes ambientais previstas pelos cientistas e estudiosos do tema.
Introdução
Por trás desses eventos, torna-se fundamental compreender a atuação das organizações intergovernamentais, sobretudo a Organização das Nações Unidas, e o funcionamento de seus órgãos.
Ademais, os debates e esclarecimentos ocorridos nas grandes conferencias também devem ser vistos como elementos contínuos na produção cientifica sobre os efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente.
Por isso esses encontros se sucedem e renovam aquilo que compreendemos em termos ambientais, propostas por um desenvolvimento menos nocivo à natureza e políticas positivas por parte dos Estados.
Transformações políticas globais e a questão ambiental
É importante compreendermos que a ascensão do tema ambiental ao cenário internacional pode ser considerado, também, uma consequência da descentralização global em torno dos temas “desenvolvimento” e “segurança”, sobretudo se considerarmos a Guerra Fria como estrutura central na segunda parte do sec. XX.  
O monopólio que o tema da segurança internacional causava na agenda internacional também replicava no quesito desenvolvimento econômico, pois as grandes potências enxergavam no apoio econômico, aos países mais pobres, uma forma de manter intacta suas áreas de influência e, em consequência, a expansão do capitalismo liberal – do lado dos Estados Unidos – ou da economia planificada socialista – do lado da União Soviética.
Transformações políticas globais e a questão ambiental
É, portanto, justamente a partir da década de 1980 que entra em foco a proposição do “ajuste estrutural” rumo a novas articulações que estabeleceriam a perspectiva de uma economia mundial em rede, globalizada e interligada. Com o fim da Guerra Fria e do antagonismo da bipolaridade, a agenda entra em continuo processo de “descongelamento”, agregando aos debates internacionais novos valores e reflexões sobre temas pontuais.
A história do desenvolvimento, no entanto, de tão ligada e influente na expansão do capitalismo ocidental, torna-se, também, parte importante na compreensão da questão ambiental e como esse tema é visto na divisão internacional do trabalho e na posição dos países frente aos acordos e debates internacionais.
Temos que ter em mente que a ligação entre a pobreza nos países do hemisfério sul e o surgimento de novos problemas ecológicos gerou uma clara percepção de que todas as medidas tomadas no passado para promover o desenvolvimento econômico nas regiões mais pobres do globo tinham sido em vão ou insuficientes – ou até mesmo promovedoras da manutenção da pobreza.
Sendo assim, fazia-se necessário que o desenvolvimento voltasse seu escopo de analise para elementos que iam além da questão econômica apenas, englobando também a percepção ambiental, através da ecologia (GUERRA, RAMALHO, p. 9-11, 2007).
Principais relatórios e conferências ambientais
Além da iniciativa das Nações Unidas em torno do Relatório Brundtland, outras conferências merecem nossa atenção por conta de seus impactos na percepção dos temas ambientais e conscientização de governos e sociedades. Importante percebermos que as primeiras mobilizações em torno das questões ambientais se deram entre as nações mais ricas, e isso justamente porque nestes países, onde a industrialização predatória já era uma realidade em meados do sec. XIX, os efeitos da degradação ambiental também foram inicialmente identificados.
Os limites do crescimento:
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, características típicas do crescimento econômico acelerado como o aumento populacional, a expansão da desnutrição nas regiões menos favorecidas e as dúvidas quanto aos recursos não renováveis, fez com que o chamado Clube de Roma investigasse e produzisse, em 1974, o importante relatório “The Limits do Growth”, cujo conteúdo apontava asprincipais preocupações ambientais dos países membros.
Segundo o relatório, o mundo passava de um processo de crescimento global para equilíbrio global, devendo, portanto, refletir sobre as transformações decorrentes da industrialização e debater novas políticas que corrigissem a degradação provocada no período de rápido crescimento econômico.
Para os autores envolvidos, a saída para essa questão estava plenamente ao alcance dos homens, dependendo apenas de uma decisão política em assumir os custos de uma nova postura econômica frente ao meio ambiente.
A cooperação entre as nações, a conscientização e o planejamento global em busca de um equilíbrio, seriam os meios viáveis e eficientes na transformação da percepção individual e dos Estados.
Embora lento e de custos altos, esse seria o único caminho rumo a uma mudança que de fato pudesse garantir um futuro harmônico entre o homem, o desenvolvimento econômico e o meio ambiente.
O principal elemento apontado por este trabalho, portanto, foi indicar a necessidade de se alterar os valores sociais frente a limitação ambiental em termos de renovação de recursos e capacidade de sobrevivência sob a exploração industrial, além de questionar as bases do comportamento humano sobre a natureza e o meio ambiente.
Interessante observar que, assim como outros relatórios e pesquisas que ainda surgiriam no contexto global, o trabalho desenvolvido pelo Clube de Roma deixa uma importante e fundamental lacuna: e qual seria então o modelo a ser adotado?
A questão girou em torno da denuncia dos problemas decorrentes da degradação e do modelo de industrialização e seus impactos no meio ambiente. Ademais, a conscientização em si não era um instrumento final nas mudanças políticas globais se não fosse oferecido, também, alternativas ao modo de produção que indicassem caminhos ou posturas a seguir.
Visando preencher essa lacuna, em 1976, um novo relatório é produzido a partir do encontro realizado na Áustria, e buscava indicar os caminhos para uma nova ordem internacional factível e praticável aos estadistas e grupos sociais em geral.
Essa ordem, ou modelo de governança, deveria atender as demandas urgentes das populações contemporâneas e futuras.
Desse encontro resultou a Declaração e Programa de Ação, que recomendava a institucionalização do tema através de organismos internacionais para a questão ambiental e a responsabilidade da sociedade em assegurar a satisfação das necessidades individuais e coletivas sem comprometer a renovação ambiental e sem promover ainda mais degradação.
Em termos de institucionalização, os autores pensaram em confederações funcionais de organizações sem centralização operacional – que permaneceria local ou regional – mas, por outro lado, com centralidade no âmbito dos debates e decisões relacionados ao meio ambiente. O tema e os debates, portanto, deveriam ser vistos de forma comum por todos os países envolvidos, ficando a cargo de cada um promover políticas e instrumentos legais para por em prática uma postura responsável quanto a questão ambiental.
Outro elemento de grande importância deste relatório foi a ideia de “eco-desenvolvimento”, trazendo pela primeira vez ao debate internacional uma postura diferenciada de desenvolvimento econômico e industrial, baseado na premissa ambiental de limites e posturas voltadas à preservação da natureza e garantia dos recursos para as gerações futuras. O chamado “eco-desenvolvimento” demandava não uma solução única em termos globais, ao contrário, recomendava a pesquisa de soluções especificas para questões regionais.
Conferência de estocolmo e as ações da ONU
Na esteira das preocupações quanto ao crescimento econômico e industrial ao longo da década de 1960 e suas consequências na degradação ambiental, realiza-se em 1972, em Estocolmo, uma grande conferencia cujo objetivo era institucionalizar a questão ambiental no cenário internacional, abordando o desenvolvimento e sem esquecer das preocupações com a segurança militar.
O meio ambiente, então, é tratado na sua abrangência ampla, ao incorporar temas na área de economia e na esfera social, reconhecendo que a questão ecológica esta atrelada a própria questão do desenvolvimento em si.  
Logo, a partir de Estocolmo, a questão ambiental passa a ser encarada como parte de um processo de desenvolvimento formado pelas esferas econômicas e sociais (VILLA, p. 23-26, 1992).
A Conferencia sobre Meio Ambiente em Estocolmo, como é conhecido esse encontro, buscou refletir sobre as providências a serem tomadas para garantir a Terra como um lugar adequado à vida humana para aquela e para as próximas gerações. Havia também uma clara preocupação com a gradativa escassez de recursos naturais, que viriam a impactar na qualidade de vida e afetariam a relação do seu humano com o meio ambiente. Portanto, era preciso fortalecer a importância das agências ambientais nacionais, oriundas aos governos presentes.
Também em 1972, como decorrência da busca por institucionalização do tema ambiental no contexto global, é criado dentro da ONU o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o objetivo de promover pesquisas na área e acordos e convenções que levem a formulação de uma agenda internacional comum quando se fala em meio ambiente.
O PNUMA teve um significativo papel ao evidenciar os interesses econômicos capazes de polarizar aqueles países que defendiam a criação de uma organização internacional para o tema ambiental e os países contrários, indicando a posição dos países do Norte que defendiam a perspectiva de que era o desenvolvimento dos países do sul a grande ameaça ao meio ambiente.
Os países do norte, portanto, deveriam pressionar as nações subdesenvolvidas do sul a aceitar as normas tidas com fundamentais para a interrupção do processo de degradação ambiental (BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHLEICHER, p. 115, 2004).  
Já a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (CNUAH), foi a primeira iniciativa em termos de conscientização global e formulação de padrões de comportamento compatíveis com os desafios próprios da interdependência do tema ambiental, indicando o caráter transnacional tanto do controle como do descontrole ambiental.
Um obstáculo poderoso aos trabalhos da CNUAH foi o próprio período em vigência na época, a Guerra Fria, que acabou limitando seus esforços em agregar importância e atenção em torno da questão ambiental, já que o posicionamento ideológico e a disputa de poder entre as superpotências Estados Unidos e União Soviética monopolizavam a agenda internacional.
Apesar disso, a CNUAH foi responsável pela conscientização dos temas de proteção das especiais em risco de extinção e da preservação dos recursos naturais não renováveis.
Por fim, cabe ressaltar que a Conferencia de Estocolmo não produziu de fato nenhum acordo ou resolução que mudassem os rumos da relação desenvolvimento versus meio ambiente.
Por outro lado, o encontro garantiu importância no contexto político mundial ao trazer o tema ambiental – e todas as suas vertentes – para o âmbito da diplomacia e ação conjunta entre as nações, ampliando a agenda internacional e agregando novos atores relevantes a compreensão do tema (MARIANO, p. 19-21, 1995).
Relatório Brundtland
Na década de 1980, a Assembléia Geral das Nações Unidas toma um importante passo rumo a estruturação de um escopo político e acadêmico para a compreensão da questão ambiental, o desenvolvimento e o papel do homem.
E em 1983, o então secretario geral da ONU Javier Pérez de Cuéllar indica a Primeira Ministra da Noruega, a senhora Gro Harlem Brundtland, para presidir a recém criada Comissão Mundial do Meio Ambiente e do Desenvolvimento (CMMAD).
Se valendo do apoio de grupos ambientalistas e ONGs ligadas ao tema, que prestaram ajuda na construção de um relatório o mais amplo possível e dentro das expectativas dos países dos hemisférios Norte e Sul, em 1988 é publicado o texto NOSSO FUTURO COMUM, cujas revelações não poderiam mais ser ignoradas pelos governos e que demandavam por umanova postura política e legislativa.
O relatório é tido como o principal documento oficial produzido sobre o tema, e seu conteúdo chamou atenção para o papel do homem nas ameaças ao perfeito equilíbrio ao meio ambiente planetário, apontando processos já em andamento como erosão de solos, derrubada de florestas, transformações químicas na atmosfera terrestre como o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio, os riscos do desenfreado crescimento demográfico e urbano sobre os recursos hídricos e energéticos, a extinção de espécies animais, entre outros.
Mesmo não sendo a primeira mobilização em torno do tema ambiental, o relatório produzido por esta comissão – também chamado de Relatório Brundtland – deve ser visto como diferenciado e inovador por atrelar os valores caros ao desenvolvimento das nações aos temas ambientais, colocando sob o mesmo escopo os desafios da preservação ambiental e as condições estruturais do desenvolvimento em voga até então.
Cabe ressaltar que, ao avaliar a condições do desenvolvimento sob a perspectiva crítica ao meio ambiente, o relatório apresentou um painel diferenciado entre os países ricos e pobres – mesmo que todos tivessem uma reconhecida parcela de responsabilidade sobre a degradação do meio ambiente –, e reconheceu as necessidades de expansão econômica como desenvolvimento legitimo aos países subdesenvolvidos.
Esse reconhecimento, inclusive, conciliou dois conceitos opostos:
A atividade humana como predatória ao meio ambiente.
Inviabilidade de ignorar o desenvolvimento dos povos que ainda não tinham acesso às condições mínimas de sobrevivência.
Embora o Relatório Brundtland não instrumentalizasse propostas diretas que guiassem a ação dos Estados ou ao menos servissem de parâmetro para avaliar o trato da questão ambiental, este material teve um importante papel na construção daquilo que entendemos como Desenvolvimento Sustentável.
A ausência de propostas diretas, inclusive, se tornou alvo de criticas quanto à operacionalidade resultante do reconhecimento sobre as questões ambientas e a dualidade encontrada em determinados trechos do documento final. Vejamos alguns pontos polêmicos:
a) A pressuposição de um sujeito coletivo, a humanidade, e sua total responsabilidade sobre o desenvolvimento sustentável, sem indicar ações diretas a países e/ou regiões de responsabilidades diferenciadas.
b) O atendimento das necessidades presentes da humanidade sem comprometer as condições para atender as gerações futuras, sem elementos que permitam identificar o que são realmente as necessidades presentes e futuras.
c) O modo de produção baseado no modelo industrial não é citado, e sim – e apenas – a atividade humana e seus efeitos sobre a biosfera.
d) A condenação da pobreza sem o reconhecimento de que ela é parte de uma estrutura de desenvolvimento que não garante o desenvolvimento de forma igualitária e harmônica a todos os povos.
e) A condenação da pobreza como “um mal em si”, garantindo ao desenvolvimento um papel de caráter superior, diferentemente da percepção de que o desenvolvimento acarreta tanta degradação quanto a pobreza em termos ambientais.
f) A indicação de que a economia e a ecologia deveriam caminhar unidas sob um ambiente de desenvolvimento sustentável, sem a indicação de como esse processo poderia se dar em termos efetivos.
g) A equivalência entre sociedades com níveis de industrialização diferenciadas, com potenciais de crescimento e bases econômicas distintos, indicando dinâmicas que desprezam as especificidades de cada pais ou região e, ainda, pouca clareza na questão dos recursos naturais renováveis e não renováveis.
Sobre esse último ponto vale ressaltar que o Relatório acabou mostrando pouca isenção, pois, se de um lado enxergou a responsabilidade sobre o meio ambiente como tarefa igualitária entre todas as nações – não diferenciando o papel poluidor que no passado contribuiu para o crescimento e desenvolvimento das potencias do Norte –,  por outro ainda recomendou que amplas áreas nos países do Sul, necessárias ao desenvolvimento local da sua população, fossem mantidas intactas e atrasadas para o “equilíbrio do planeta”, desprezando os mesmos argumentos que colocavam o subdesenvolvimento e a miséria como ameaças ao meio ambiente. (GUERRA, RAMALHO, p. 11-2, 2007).
Conferencia das nações unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento - ECO-92
No ano de 1988 uma resolução aprovada pela Assembléia Geral da ONU indica a necessidade de realizar uma conferência na qual fosse possível avaliar a ação dos países a partir da Conferência de Estocolmo de 1972.
No ano seguinte, em 1989,  a Assembléia Geral então convoca a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – também conhecida como Cúpula da Terra – e marca sua realização para o mês de junho de 1992, de maneira a coincidir com o Dia do Meio Ambiente e tinha como principais objetivos:
Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo de desenvolvimento vigente.
Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não-poluentes aos países subdesenvolvidos.
Estabelecer um sistema de cooperação internacional para prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos emergenciais.
Reavaliar o sistema de organismos da ONU, eventualmente criando novas instituições para implementar as decisões da conferência.
A organização do evento coube ao Comitê Preparatório da Conferência (PREPCOM) que, entre outras inovações no processo organizacional do evento, promoveu um amplo debate de ideias entre os atores envolvidos, fossem eles as delegações dos países membros da ONU, representantes de setores da sociedade civil, comunidades acadêmicas e entidades diversas.
A participação considerável de representantes não estatais foi uma clara demonstração de força e importância desses atores nas negociações internacionais sobre os temas ambientais, garantindo a eles um lugar efetivo nas encontros e debates ocorridos ao longo dos anos seguintes.
A ECO-92 ou Rio-92, como ficou conhecida a Conferência, gerou uma mobilização inédita na comunidade internacional em termos de atitudes urgentes que transformassem o comportamento social e político visando preservar o meio ambiente e a vida na Terra.
1 - Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que explicitou princípios que visassem um novo estilo de vida baseado na proteção aos recursos naturais e na busca do desenvolvimento sustentável, na melhoria das condições de vida dos povos e na preocupação com um crescimento aliando oportunidade aos países e preservação ambiental.
2 - Agenda 21, um importante plano de ação a longo prazo a ser implementado pelos governos, órgãos da ONU, grupos e entidades setoriais independentes e agências de desenvolvimento, respeitando as diferentes situações e condições das regiões e a plena observação dos princípios contidos na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
3 - Princípios para a Administração Sustentável das Florestas, adotado pelos participantes do evento visando um consenso global sobre o manejo, conservação e desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas.
4 - Convenção da Biodiversidade, objetivando a conservação, uso sustentável e divisão equitativa e justa dos benefícios da biodiversidade.
5 - Convenção sobre Mudança do Clima, onde são expostas as preocupações sobre a atividade humana e seu impacto na atmosfera, gerando fenômenos como o efeito estufa e o aquecimento global e afetando adversamente ecossistemas naturais e a humanidade.
O evento reuniu 172 países (apenas seis membros das Nações Unidas não estiveram presentes), representados por aproximadamente 10.000 participantes, incluindo 116 chefes de Estado. Além disso, receberam credenciais para acompanhar as reuniões cerca de 1.400 organizações não-governamentais e 9.000
A ECO-92 foi um importante marco na consagração do conceito de desenvolvimento sustentável e na ampla conscientização sobre as “responsabilidade comuns, porém diferenciadas”, ou seja, de que a degradaçãoambiental era majoritariamente causada pelos países desenvolvidos, embora as nações em desenvolvimento também tivessem uma responsabilidade sobre o tema.
Dentro dessa perspectiva, destacou-se e necessidade de apoio financeiro e tecnológico para que os países em vias de desenvolvimento pudessem estabelecer uma agenda sustentável de preservação ambiental (NOVAES, p. 79-93, 1992).
“Há só uma Terra, mas não só um Mundo. Todos nós dependemos de uma biosfera para conservar nossas vidas. Mesmo assim, cada comunidade, cada país luta pela sobrevivência e pela prosperidade quase sem levar em consideração o impacto que causa sobre os demais”.
     
Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum.
Aula 3: Os debates teóricos sobre desenvolvimento e meio ambiente
Nas aulas anteriores compreendemos o que é a questão ambiental e como ela se torna um elemento de grande importância na agenda internacional. Através das conferencias e relatórios internacionais, vimos a evolução do tema ambiental através das organizações globais e como elas foram importantes na conscientização do tema e na promoção de ferramentas de cooperação entre os Estados. A fim de compreender, no entanto, as diversas perspectivas defendidas nesses grandes eventos internacionais e exploradas em extensos relatórios e declarações conjuntas, torna-se fundamental conhecer e analisar as diferentes correntes cujas abordagens integram os debates políticos e científicos na temática ambiental.
Assim como outros temas das Relações Internacionais, tais como a atuação dos Estados e questões de segurança internacional, o tema ambiental é cercado de inúmeras polêmicas, desde aquelas que questionam a validade de dados científicos para justificar grandes mudanças de padrão comportamental, até as variadas concepções sobre as saídas para a degradação ambiental e a harmonia na relação entre o homem e a natureza.
Um elemento importante e que devemos nos atentar ao estudar as concepções teóricas dos estudos do meio ambiente é que essas correntes e pensamentos estão por trás de todos os debates na área, portanto são de fundamental importância por servirem de base cientifica e sociológica para a própria compreensão dos fatos ambientais e, logo, na busca de soluções para a degradação ambiental e na formulação de políticas sustentáveis ou, por outro lado, na desconsideração de determinadas analises e prerrogativas.
Como já vimos, a expansão desenfreado do capitalismo promovendo o crescimento econômico mundial ao longo das décadas de 1950 e 1960 trouxeram à tona uma preocupação em torno da sustentabilidade dos recursos naturais e as condições ambientais de vida na Terra num futuro próximo.
Essas analises focadas na questão ambiental, cujo primeiro exemplo pode ser percebido no relatório produzido pelo Clube de Roma, estavam voltadas para a dicotomia entre a preservação ambiental e o crescimento econômico. Importante lembrar que as orientações oriundas do relatório produzido pelo Clube de Roma apontavam na direção do crescimento zero como meio de trazer de volta o equilíbrio do meio ambiente e dos recursos naturais em escala global (MEADOWS, 1992).
Nesse contexto, Ignacy Sachs – acadêmico presente na Conferencia Preparatória para a I Conferencia Mundial do Meio Ambiente da ONU – indicou pela primeira vez a ideia do eco desenvolvimento, referindo-se a um modo de desenvolvimento compatível com a renovação dos recursos naturais a fim de garanti-los às gerações futuras. Essa preocupação, no entanto, não era nova, e para entendermos o desenvolver dos debates teóricos na questão do meio ambiente é necessário voltarmos um pouco no tempo.
Quanto ao meio ambiente
No limiar do sec. XIX para o sec. XX, o ambientalismo começou lentamente a se aproximar das discussões políticas e preocupações reais das elites, sobretudo nos meios acadêmicos e políticos, e isso porque diversas posições sobre o mundo natural – a Terra – começavam a se traduzir em posturas e atores diferenciados. Neste momento, nos Estados Unidos principalmente, emerge o debate entre os preservacionistas e os conservacionistas (LEIS, p. 6. 1992).
Mas quem são esses grupos?
O que pensam?
Os preservacionistas, observando o estágio de desenvolvimento da produção e os danos causados ao meio ambiente, defendiam uma postura radical de preservação ambiental baseada na proteção integral de determinados ecossistemas, com o objetivo de garantir sua intocabilidade pelo homem ou que fossem assimilados pela lógica da expansão do desenvolvimento urbano.
Esse grupo teve um importante papel na criação dos primeiros parques nacionais nos Estados Unidos, como o Parque Nacional de Yellowstone (1872) e o Parque Nacional de Sequoia (1890).
Os conservacionistas, por sua vez, admitiam os riscos da exploração dos recursos naturais e também o avançado estágio da degradação produzido pelo desenvolvimento. No entanto, defendiam um uso racional e eficiente justamente como garantia para a preservação. Como assim?
Bem, para os conservacionistas conservar era justamente utilizar a natureza de uma maneira sustentável, consumir adequadamente de acordo com necessidades equilibradas e considerar as necessidades futuras, e não – como defendiam os preservacionistas – guardar esses recursos e ignorar as necessidades humanas.
A maior parte dos movimentos ambientalistas inclusive, se baseia na visão conservacionista, que se tornou, gradualmente, um consenso entre as nações ao longo do sec. XX e está na base das políticas instruídas pela ideia de desenvolvimento sustentável.
Voltando ao debate entre esses dois grupos, os preservacionistas adotavam posições radicais, defendendo que grandes áreas fossem garantidas em sua intocabilidade e fossem, no máximo, usadas para fins recreativos ou educacionais.
Já os conservacionistas defendiam uma postura mais moderada, defendendo a viabilidade em explorar recursos naturais de uma maneira racional, sem promover a degradação ambiental ou extinguir recursos para as gerações futuras.
Quanto ao meio ambiente
Além desses dois grupos, convém indicar também os chamados desenvolvimentistas adeptos de que o crescimento econômico deveria acontecer a qualquer custo, sem qualquer preocupação quanto às questões ambientais ou aos danos provenientes da exploração contínua e de grandes proporções sobre os recursos naturais.
“Desenvolvimento, progresso e industrialização transformam-se em termos equivalentes, almejados por todas as nações. Caberia, assim, às nações subdesenvolvidas alcançarem as demais através da industrialização” (NOVAES, p.31, 2000).  
Essa concepção compreende que crescimento econômico e desenvolvimento são as mesmas coisas, portanto, é natural ao ser humano – e as suas demandas por desenvolver-se em sociedade – o consumo crescente de recursos naturais e energia.
O homem, a terra, a tecnologia: quem é o centro?
Nas décadas posteriores, os debates dentro da esfera ambiental basicamente se polarizaram entre o antropocentrismo e o ecocentrismo (MENDONÇA, 2009).
O antropocentrismo percebe a natureza como um conjunto de elementos que servem ao homem, e a este todos os direitos de utilização dos recursos naturais através de meios científicos e tecnológicos. Essa concepção se baseia na premissa de que a natureza é um tipo de reserva, sem valor em si ou importância autônoma, ou seja, o papel da natureza seria atender as demandas e necessidades do homem. Logo, todas as consequências da atuação do homem sobre a natureza são legitimadas pelas necessidades naturais da humanidade. Por outro lado, há um aspecto de sustentabilidade a medida que há a necessidade de assegurar a máxima utilização sustentável dos recursos naturais, contando com o controle eficiente do Estado.
O ecocentrismo (ou biocentrismo), ao contrario da premissa anterior que privilegiava o homem, baseia-se na ideia de que a natureza e o mundo natural – a Terra – possuem um valor em si, e não são apenas reservas de recursos para as necessidades humanas. Na verdade, para os defensores desta premissa a natureza já tem um valor em si, mesmo quenão apresente recursos necessários ou úteis à humanidade, por isso estão bastante influenciados pelas ideias preservacionistas da proteção total e intocabilidade humana. Logo, há uma incompatibilidade entre as atividades humanas e esse estado de preservação ambiental.
O homem, a terra, a tecnologia: quem é o centro?
Também podemos falar do tecnocentrismo, cuja característica principal é o otimismo quanto a evolução tecnológica e as soluções que esses meios poderão oferecer em termos de gestão eficiente dos recursos naturais e assuntos afins.
Para os tecnocentristas, a postura cientifica e a racionalidade econômica são elementos fundamentais na compreensão dos problemas ecológicos e próprios da sociedade.
O berço filosófico do tecnocentrismo encontra-se na revolução científico-tecnológica do século XVII, responsável por colocar a ciência e a tecnologia num alto grau de confiabilidade por parte dos homens.
O tecnocentrismo, então,  pode ser visto como um pensamento antropocentrista, a medida que coloca nas mãos do homem a atuação sobre o meio ambiente, de acordo com suas necessidades e interesses (MC CORMINCK, p. 170, 1992).
Nos dias atuais, tanto o ecocentrismo como o tecnocentrismo se valem de resultados científicos a fim de fortalecer suas proposições e ideias. As interpretações sobre tais resultados, entretanto, diferem de acordo com a linha de pensamento, a ver:
Na visão tecnocentrista a evolução cientifica prova as possibilidades humanas de administrar e dominar a natureza.
Já o ecocentrismo reivindica as relações de harmonia com a natureza amparadas na ecologia e leis naturais.
Raízes teóricas
Embora importante, o debate entre o antropocentrismo, ecocentrismo e tecnocentrismo remonta a outras linhas teóricas que estão na base dessas concepções (LEIS, p. 06,1992). São elas:
Ecologia Profunda: trata-se de um conceito filosófico que enxerga o homem como parte integral da complexa estrutura da natureza, portanto, assim como as outras espécies, o homem deve ser preservado e respeitado para garantir o equilíbrio da biosfera.
Ecologia Social: este grupo sustenta que os problemas ecológicos estão ligados aos problemas na evolução da própria sociedade sob um sistema político hierárquico e dominante. Dessa forma, apenas medidas tomadas pela coletividade no sentido de romper os tradicionais laços sociais podem surtir efeito sobre as questões ecológicas.
Eco-Socialismo: este pensamento, como o próprio nome indica, se apodera das reflexões marxistas sobre as consequências do capitalismo para analisar a degradação ambiental como resultado da expansão do modelo econômico vigente e dominante, ou seja, o próprio capitalismo. Para os partidários desse pensamento, então, a expansão do capitalismo gerou a exclusão social, a miséria, a guerra e, evidentemente, a degradação ambiental. Eco-socialistas, portanto, defendem que apenas o desmantelamento do capitalismo e do Estado poder impedir a continuidade da degradação humana e ambiental.
Teoria de Gaia
Também conhecida como Hipótese Biogeoquímica, a Teoria de Gaia baseia-se na proposta de que a biosfera e os elementos físicos da Terra estão completamente integrados, de forma a gerar um complexo sistema interligado que mantém as condições viáveis de sobrevivência e transformação do Planeta Terra, em outras palavras, a Terra seria um super organismo vivo e a biosfera seria um ser único auto regulável.
Proposta pelo cientista britânico James E. Lovelock, a Teoria de Gaia foi originalmente vista com descrédito pela comunidade cientifica internacional, se aproximando apenas de grupos ecológicos, místicos e alguns grupos de investigadores interessados em respostas avessas às tradicionais teorias vigentes.
Ao longo do tempo, no entanto, com o aquecimento global e as transformações climáticas na Terra, a hipótese levantada por Lovelock – que sempre a considerou uma teoria cientifica –, tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões sobre a questão global (PFEIL, 2006).
Teorias sobre economia ambiental
Até agora, vimos diferentes concepções e debates quanto à formulação da questão ambiental e o papel do homem nesse contexto, discutindo a relação humana com a natureza e a representação desta frente às necessidade da humanidade.
Neste ponto, já podemos começar a abordar teorias que visam explicar e indicar caminhos para reverter o processo de degradação ambiental, aceitando, portanto, que a atuação do homem e o desenvolvimento foram – e são – fatores reais e impactantes sobre o meio ambiente.
Antes de mais nada, é preciso levar em conta que interromper a degradação ambiental ou promover políticas baseadas no conceito de desenvolvimento sustentável geram custos, e esses custos deverão – ou deveriam – ser distribuídos internacionalmente a medida que aceitamos o componente transfronteiriço dos problemas ambientais.
Temas inseridos numa relação de interdependência – como as questões ambientais – implicam em custos para os envolvidos e, a principio, não podemos definir se os benefícios gerados deste relacionamento serão maiores que seus custos, pois nada garante que as relações de interdependência possuam benefícios mútuos, mesmo assim não é viável desconsiderar essas questões (KEOHANE, NYE, 1989).
Temos, portanto, uma questão a ser analisada: como a relação entre economia e meio ambiente tem sido vista desde a ascensão dos temas ambientais na década de 1960/70?
Inicialmente podemos dizer que há ao menos três posturas a serem observadas, e todas concordam que a intervenção do Estado deve ocorrer a fim de resolver as questões do meio ambiente. E então começam as diferenças: como deve ser essa intervenção?
Para o Professor americano Richard Coase e o britânico A. C. Pigou, não há como negar que o meio ambiente é profundamente influenciado pela economia mas, por outro lado, enquanto o Professor Coase acredita que “as livres forças de mercado (são) capazes de, quase por si só, chegar a acordos”, o Professor Pigou diz que “a intervenção estatal é necessária em certos casos para corrigir as falhas do mercado e garantir a conservação dos recursos naturais”.
Por outro lado, o Professor americano Mark Sagoff acredita que “a esfera econômica nada tem a fazer nos domínios da natureza, a qual possuiria valores intrínsecos ou implícitos que os homens deveriam ser obrigados a respeitar” (VIGEVANI, p. 46, 1994).
Teorias sobre economia ambiental
Podemos, enfim, relacionar essas três visões às chamadas visões globais, sobre a relação economia e meio ambiente, do americano James Turner, que são:
Orientada para o desenvolvimento dos recursos e crescimento, próxima à visão do Professor Coase.
De tutela dos recursos e crescimento controlado, presente no pensamento do Professor Pigou e o papel intervencionista do Estado.
De conservação de recursos e crescimento limitado.
Preservação extrema que prevê um crescimento zero, como coloca o Professor Sagoff” (VIGEVANI, p. 47, 1994).
O Estado e o Sistema Internacional: a questão do meio ambiente
Antes de finalizarmos essa aula, é preciso apresentar um último escopo conceitual, proveniente das posturas recomendadas em âmbito global quando se fala em modelos de gestão internacional do meio ambiente e comportamentos esperados das nações. Importante registrar que, neste item, a base teórica não se constrói a partir de um debate ideológico – como nas primeiras teorias estudadas nessa aula –, ou por uma visão econômica – como no segundo item estudo – mas, como resultado da ação acadêmica, política e diplomática oriunda, sobretudo, de organismos internacionais.
Na verdade, as três abordagens que apresentaremos aqui para compreender a questão da gestão coletiva em meio ambiente, representam importantes movimentos de cooperação internacional, mas não podem ser entendidas dentro de uma abordagem teórica porque, como coloca Marie-Claude Smouts, carecem enormemente de um refinamento teórico típico das ciências sociais no mundo contemporâneo (SMOUTS, p. 135-89, 1998). São elas:
Relação entre governança global, regimes internacionaise abordagens organizacionais
O Estado e o Sistema Internacional: a questão do meio ambiente
Abordagens Organizacionais
Com grande impacto nos estudos das Relações Internacionais na década de 1960, a ideia de abordagem organizacional nasce nas discussões em torno de um “governo mundial” e da suposta necessidade de regulação, ou legalização, das relações interestatais.
Inicialmente percebe-se um pré disposição em compreender o sistema internacional como um ambiente que caminhava rumo a uma centralização de poder, ou seja, para uma organização ou governo mundial, capaz de unir as principais demandas transfronteiriças ou bens comuns da humanidade através de um mesmo escopo político diplomático.
A governança internacional, portanto, seria justamente o resultado da ação dessas organização no âmbito global.
Como era de se prever, a abordagem organizacional não ganha impulso ao longo do tempo, e isso se da, principalmente, por conta da chamada “crise do multilateralismo” no pós Guerra Fria e a ascensão de diferentes pólos de poder em diversas regiões do globo.
Para muitos autores, mesmo durante a Guerra Fria a abordagem organizacional já entra em declínio por conta do afastamento das grandes potencias desses espaços lineares de decisão política, privilegiando a ação unilateral moldada pelo interessa nacional e pelas demandas típicas da bipolaridade (SUHR, p. 95-6, 1997).
Regimes Internacionais
A partir da década de 1970, mesmo com a ausência de um poder central que exercesse o papel de governança global, os autores das Relações Internacionais passam a perceber uma tendência de movimentação de alguns Estados em direção a redes institucionais não hierárquicas ou formalmente estabelecidas. Nesse ambiente surgiam regras implícitas ou explicitas que resultavam na modificação do comportamento dos Estados sob a luz de determinados temas. Em outras palavras, a interação se dá independente de um ente organizacional, ou governamental, superior que possa regular esse relacionamento.  
“Os regimes são estas instituições de caráter não-hierárquico em torno das quais as expectativas dos atores convergem.
Eles são deliberadamente construídos pelos atores com o propósito de mitigar o caráter de auto-ajuda das RI ao demonstrar aos Estados a possibilidade de obter ganhos conjuntos por meio da cooperação” 
(HASENCLEAVER, p.3, 2000).
Regimes Internacionais
Alguns autores, como Robert Keohane, compreendem os regimes internacionais como modelos que “involuntariamente” interferem na atuação do Estado, gerando resultados esperados no ambiente internacional. Segundo o Professor Arthur do Amaral, os regimes internacionais ganham cada vez mais importância nas relações internacionais contemporâneas e na formação de cooperação e modelos de comportamento frente aos desafios da agenda internacional atual (AMARAL, n. 10, 2010).
“Regimes internacionais são definidos como princípios, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão, sobre os quais as expectativas dos atores convergem em uma determinada área temática” (KRASNER, p. 01, 1995).
Na área ambiental, por exemplo, os regimes são fundamentais por indicar uma série de padrões a serem seguidos pelos Estados que compartilham as mesmas percepções sobre a degradação ambiental e as necessidades de preservação dos recursos naturais. Mesmo aqueles que estão de fora desse regime, torna-se possível “enquadrá-los” a partir de uma perspectiva do que deveria ser feito, e aceito pelos Estados, no sentido de se adequar às recomendações das grandes conferencias internacionais.
Governança Global
Embora os debates sobre governança global não sejam recentes, há, paralelo ao movimento de integração política em grande parte do mundo, principalmente a partir da década de 1970, uma percepção crescente sobre a necessidade – ou conveniência – da adoção de aspecto transnacionais de regras e normas para a gestão de temas transfronteiriços, ou seja, que “atingem” livremente diferentes nações e espaços geográficos. Mas, afinal, o que é Governança Global? Podemos entender Governança Global como uma:
“(...) Concepção político-ideológica de uma nova ordem mundial caracterizada por um sistema transnacional de gestão (leis e instituições) estabelecido por um Pacto Global, cuja autoridade normativa e executiva supera a soberania absoluta dos Estados-Nação, para solução dos problemas de âmbito nacional (globalização econômica, criminalidade internacionalizada, pobreza, fome e doenças mundiais, direitos humanos e meio-ambiente), para a preservação da paz e promoção da prosperidade geral” (COUTINHO, PEREIRA, 2009).
Como dizíamos, o contexto da globalização do final do séc. XX fez acelerar as percepções positivas sobre as idéias da governança global. E, mesmo não sendo recente, o debate ganha força com a evidente aproximação política e econômica de parte do globo no pós Guerra Fria e a ascensão dos problemas transnacionais. Importante lembrar que esses problemas, por estarem fora da jurisdição do Estado – ou compartilhado em um número superior de Estados –, levantam a indagação sobre quem deveria gerir suas soluções, a fim de atender as demandas por equalização do problema sem ferir os interesses nacionais (BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHLEICHER, p. 114, 2004).
A governança global, entretanto, só é viável se imaginarmos uma estrutura normativa aceita pelos Estados.
Caso contrário, teríamos um sistema de pouca ou nenhuma legitimidade, e isso porque dificilmente haveria condições políticas de impor aos Estados um conjunto de leis internacionais que entrasse em conflito com os interesses nacionais ou a cultura local.
Para atender essa necessidade de legitimar uma proposta de governança global então, partiríamos do pressuposto de uma ordem global construída “de baixo para cima” no que tange o papel dos Estados (SMOUTS, p. 154, 1998).
Atividade de sensibilização
 
Em 1972, foi realizada a I Conferência Ambiental de Estocolmo com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre as consequências do desenvolvimento sobre o meio ambiente e, assim, atender as necessidades da população presente sem comprometer as gerações futuras. A conferência das Nações Unidas foi a primeira atitude mundial voltada para a preservação ambiental. Acreditava-se, então, que o meio ambiente fosse uma fonte inesgotável, mesmo reconhecendo a desigualdade na relação do homem com a natureza. De um lado os seres humanos gananciosos tentando satisfazer seus desejos de conforto e consumo; do outro, a natureza com toda a sua riqueza e exuberância, sendo a fonte principal para as ações dos homens e, portanto, em crescente processo de degradação.
Com a conferência de Estocolmo, esse pensamento foi modificado e os principais problemas ambientais são apontados. A Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu, então, lançar a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. Como podemos entender essa atitude das Nações Unidas?
POLÍTICA AMBIENTAL
Aula 4: Capitalismo e desenvolvimento sustentável: saídas para a crise ambiental global
Sustentabilidade
Introdução
Como vimos nas aulas anteriores, a questão ambiental foi gradativamente sendo atrelada a questão do desenvolvimento, isso porque o meio ambiente é diretamente impactado pelas formas de crescimento econômico e desenvolvimento das sociedades. Desde o Relatório Brundtland, a questão do desenvolvimento, temas sociais e a economia passam a ser vistos como parte do escopo em que se insere o meio ambiente, por isso a fundamental importância de compreendermos as medidas necessárias no âmbito do desenvolvimento para atender as preocupações com preservação ambiental e, também, as demandas pelo desenvolvimento econômico dos povos.
Introdução
Elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e usado pela primeira vez no Relatório Brundtland, é na Rio-92 que se consagra o conceito de desenvolvimento sustentável como grande elemento catalisadorde transformações no comportamento das sociedades em torno de um modelo de produção que permitisse a renovação dos recursos naturais, o crescimento sem gerar impactos na degradação da natureza e novas formas de exploração da Terra.
Mas, afinal, o que é o desenvolvimento sustentável? Quais são suas bases teóricas e como este modelo de desenvolvimento pode “salvar” o planeta de uma crise ambiental catastrófica?
Atividade de sensibilização
Cada brasileiro gasta por ano uma quantidade de papel equivalente a duas árvores, segundo dados do Instituto Akatu. Reutilizar e reciclar papéis pode salvar uma árvore e meia por ano e ainda economizar 2 mil litros de água e 120 litros de petróleo gastos na fabricação do papel. Preste atenção se você não gasta folhas sem necessidade e procure reaproveitá-las sempre que possível. Para verificar como anda a sua percepção de sustentabilidade e a ação humana, assinale com um X as alternativas que parecem compatíveis com uma atuação/consumo/produção consciente:
GABARITO COMENTADO: Produtos produzidos em lugares longes dos centros de consumo precisam de maiores investimentos em termos de transporte e conservantes, com isso há maior emissão de poluentes nos alimentos e no meio ambiente, além de mais gastos com combustíveis para transporte, gerando poluição no ar. 
GABARITO COMENTADO: Enquanto embalagens de papel levam em média 1 a 4 meses para sua degradação total no meio ambiente, sacos e copos plásticos podem levar até 500 anos. Embalagens de vidro, inclusive, não tem se quer um período pré determinado para sua degradação completa. Quando for comprar produtos no mercado ou for servir refrigerantes, lembre-se disso, embalagens de papel. O planeta e as próximas gerações agradecem.
Capitalismo e desenvolvimento sustentável
Para compreendermos a ideia de desenvolvimento sustentável, é importante lembrar os antecedentes do Relatório Brundtland, assim como os diversos documentos e encontros realizados apos a década de 1980, quando este conceito passa a ser visto como a melhor saída para os impactos do desenvolvimento no meio ambiente.
Importante compreender que além dos acontecimentos que marcaram a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, o progresso tecnológico e a ampla conscientização social sobre a questão ambiental foram fatores cruciais para a chegada deste conceito na agenda internacional e nacional dos governos.
De forma geral, o conceito de sustentabilidade cresceu como resposta às assimetrias globais, aos problemas de desenvolvimento local e os impactos transfronteiriços em termos ambientais. Vejamos o gráfico abaixo:
1965
Criação do Clube de Roma
1970
The Limits to Growth (Os limites do crescimento).
O relatório publicado pelo Clube de Roma foi feito por pesquisadores do Massachussetts  Institute os Technology, e buscou simular a evolução humana com base no modelo de exploração vigente nas décadas anteriores. O dados mostraram que no sec. XXI haveria um impacto fulminante na população humana devido a degradação ambiental.
Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano das Nações Unidas.
Neste evento o tema ambiental é levado pela primeira vez às esferas globais, e são debatidas as mudanças necessárias para evitarmos inúmeros desastres ambientais.
1975
“Princípio responsabilidade”, do filósofo Hans Jonas.
1980
Estratégia Global para a conservação da Natureza.
Publicado em 1980, o relatório produzido pela União Internacional para a conservação da natureza aborda, pela primeira vez, o conceito de desenvolvimento sustentável.
1985
Relatório Brundtland (“Our Common Future”).
Através do texto “Nosso Futuro Comum”, é formalizado o conceito de desenvolvimento sustentável.
1990
Segunda Cimeira da Terra
Nascimento da (“Agenda 21”).
Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, é aprovada a agenda 21, entre outros documentos, colocando o desenvolvimento sustentável como elementos fundamental na relação entre desenvolvimento e meio ambiente. 
V Programa Acção Ambiente da União Europeia.
Primeira Conferência sobre Cidades Europeias Sustentáveis.
1995
Segunda Conferência sobre Cidades Européias Sustentáveis.
Terceira Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.
Protocolo de Quito.
2000
Declaração do Milênio.
Terceira Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis.
Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10).
Em Johanesburgo o Desenvolvimento Sustentável é reafirmado como elemento central da Agenda Internacional e são indicados novos caminhos à ação no combate a pobreza e na preservação do meio ambiente. 
Conferência sobre Diversidade Biológica e Declaração Kuala Lumpur.
2005
Conferência Aalborg + 10
Sexto Programa de Acção Ambiental para o Ambiente da União Europeia.
Carta de Leipzig
Cimeira de Bali
2010
Declaração de Gaia.
Mas o que é o desenvolvimento sustentável?
Vejamos a explicação sobre o conceito elaborada para o relatório Brundtland de 1987:
“O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais”.
Mas o que é o desenvolvimento sustentável?
Como pode ser visto, o conceito de desenvolvimento sustentável abrange várias áreas na busca por um equilíbrio entre as necessidades humanas e o crescimento econômico, visando atender as demandas das populações atuais e futuras.
De acordo com o relatório, a perspectiva de desenvolvimento sustentável era viável, pois aceitava que as demandas por desenvolvimento existiam e precisavam ser sanadas, ao mesmo tem que garantia para as gerações futuras condições de sustentação através do meio ambiente preservado.
É claro que, para tanto, era preciso que os países ricos adotassem estilos de vida que diminuíssem a forte pressão sobre os recursos naturais, ao mesmo tempo em que houvesse um equilíbrio entre a densidade demográfica nas cidades e o aumento da população (MARIANO, p. 24, 1995).
A equidade social e o meio ambiente, portanto, são vistos como valores interdependentes, sendo impossível a exclusão de um para a garantia do outro. Essa relação pode ser facilmente identificada na declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, onde a diversidade cultural é vista como uma área política própria do desenvolvimento sustentável:
“(…) A diversidade cultural é tão necessária para a humanidade como a biodiversidade é para a natureza (...) as raízes do desenvolvimento entendido não só em termos de crescimento econômico mas também como um meio para alcançar um mais satisfatório intelectual, emocional, moral e espiritual”.
As primeiras iniciativas em torno da criação de uma arcabouço que reunisse as premissas de sustentabilidade do meio ambiente giravam em torno da idéia de ecodesenvolvimento, ou seja, uma definição simplista de desenvolvimento harmônico com a preservação ambiental, que ao longo do tempo foi mudando graças à resistência dos países mais ricos que temiam apoiar a criação de barreiras ao próprio desenvolvimento econômico.
Isso se dava porque até Estocolmo não existia dialogo entre os ambientalistas e os defensores do crescimento econômico. Assim, havia por parte dos governos um temor de que quaisquer políticas voltadas para o tema significasse um entrave ao crescimento. Outro ponto é que a concepção de ecodesenvolvimento era uma visão critica ao modelo industrial adotado pela sociedade contemporânea (MARTINS, p. 60, 2004).
Nas reuniões preparatórias para a Conferência de Estocolmo, Maurice Strong, surgiu com o conceito de desenvolvimento sustentável, embora a ideia ainda não carregasse nenhum conteúdo como os que viriam a construiro tema ao longo dos tempos.
A partir de então, autores como amartya sen e Ignacy Sachs tiveram um importante papel ao discutir o que seria o desenvolvimento sustentável e abordando as primeiras concepções que o construiriam conforme conhecemos hoje (VARELLA, p. 15, 2009).
Além de importantes autores e acadêmicos, a publicação de numerosos documentos- como podemos ver na LINHA DO TEMPO- contribuíram para a formulação de um conceito mais rico, que englobasse as razões pelas quais existia a preocupação real com um modelo de sustentabilidade e que apontasse quais eram as vertentes prioritárias na questão ambiental.
“De acordo com esses documentos, a destruição da natureza era provocada pela  forma de existência do homem. Nessa lógica, os principais problemas ambientais são  provocados pelos dois extremos da pirâmide social global.
Os mais pobres do mundo destroem a natureza, porque precisam cortar lenha para se aquecer e preparar seus alimentos destruindo florestas, não tratam seu lixo e, muitas vezes, sequer têm coleta de lixo, destroem os rios com a poluição e têm uma qualidade de vida muito reduzida. Os mais ricos têm um nível de consumo que jamais poderia ser utilizado como um objetivo a ser buscado pelas demais civilizações do planeta, o consumo exorbitante de energia, de alimentos e de dejetos por habitante poderiam também comprometer a continuidade da vida no planeta” (VARELLA, p. 15, 2009).
Compreendendo o desenvolvimento sustentável:
a estrutura da sustentabilidade
Além da composição “desenvolvimento”, o quesito sustentabilidade passou a ser visto pela ONU em termos de sustentabilidade fraca, sustentabilidade e ecologia profunda, dando margem a uma significativa polemica em torno da formação de indicadores que pudessem “mediar” esse grau de proteção ambiental, desenvolvidos e apresentados pela Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em 1995.
Compreendendo o desenvolvimento sustentável: a estrutura da sustentabilidade
Para compreendermos melhor as áreas conceituais do desenvolvimento sustentável, podemos falar em três esferas:
Sustentabilidade Ambiental
Entende-se como sustentabilidade ambiental a capacidade própria da natureza e meio ambiente em renovar-se, ou seja a capacidade que o ambiente natural tem de manter as condições propicias de vida aos seres vivos, levando em consideração a habitabilidade, preservação da paisagem ambiental e renovação das fontes naturais. Através das Metas do Milênio (a ONU busca garantir ou melhorar a sustentabilidade ambiental através de 4 metas principais:
A- Integração entre os princípios de desenvolvimento sustentável e as agendas políticas e programas nacionais para reverter o quadro de degradação dos recursos ambientais.
B- Ampla redução da perda de biodiversidade.
C- Redução à metade dos índices de populações sem acesso à água potável e saneamento básico.D
D- Promover até 2020 políticas para a retirada de pelo menos 100 milhões de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza.
Sustentabilidade Econômica
Busca justamente integrar os princípios de sustentabilidade ambiental às estruturas de desenvolvimento econômico e industrial, transformando antigas concepções de mais valia e lucro em novas propostas que ambicionam valorizar as questões ambientais dentro da prática econômica.
Entre outras palavras, o lucro, por exemplo, passa a ser visto não apenas por sua vertente financeira, mas também em termos ambientais e sociais, estimulando a utilização correta e sustentável dos recursos naturais em termos gerais.
Fala-se também em gestão mais eficiente dos recursos naturais, introduzindo elementos que permitam “medir” graus aceitáveis de exploração de recursos que garantam a renovação ambiental.
Sustentabilidade Sócio-política
Compreende-se como o ponto de equilíbrio em termos de desenvolvimento e no âmbito sócio-econômico, dando uma nova “roupagem” a economia através dos princípios sustentáveis do conceito, desenvolvendo a idéia de que o caráter social e cultural da humanidade são valores intransponíveis. É neste contexto, inclusive, que são criadas a Agenda 21 e as Metas de Desenvolvimento do Milênio  que são: 
1.Erradicar a extrema pobreza e a fome.
2.Atingir o ensino básico universal.
3.Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.
4.Reduzir a mortalidade infantil.
5.Melhorar a saúde materna.
6.Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças.
7.Garantir a sustentabilidade ambiental.
8.Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Criticas ao modelo de desenvolvimento sustentável
Ao pensarmos sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, temos que ter em mente as principais representações presentes nos debates que geraram todo o entendimento sobre o tema.
Tanto os trabalhos do Clube de Roma como o Relatório Brundtland são oriundos de situações onde a grande presença de países do Norte – desenvolvidos – levou a construção de um arcabouço teórico e proposições para políticas práticas que, na visão de alguns autores, refletem seus interesses e/ou modo de enxergar a questão ambiental.
A própria base teórica na qual se constrói o conceito de desenvolvimento sustentável pode nos indicar uma parcialidade importante, afinal, a opção ecocêntrica – em detrimento de uma opção sociológica que respeitasse a pluralidade do campo de analise – revela uma interpretação que pode comprometer a aplicabilidade das propostas por novas estratégias de desenvolvimento. Percebe-se, inclusive, que os títulos e metáforas dão base a formação de uma responsabilidade comum a toda a humanidade e, portanto, indicam a diluição das diferenças entre os povos, e sua substituição por uma estrutura sem espaço para o debates sobre conflitos de interesses e contradições nas posturas defendidas.
Criticas ao modelo de desenvolvimento sustentável
Como consequência, podemos apontar:
A efetiva presença dos países desenvolvidos e hegemônicos na orientação de políticas e instrumentos a serem aplicados em áreas geográficas fora de suas soberanias territoriais, a medida que essa “intervenção” pode ser justificada pelos interesses de preservação ambiental e os riscos de uma catástrofe planetária;
A efetividade dos organismos internacionais idealizados pelos países hegemônicos como fóruns propícios para a institucionalização do tema ambiental e formulação de diagnósticos e propostas politicas. Não podemos esquecer que esses organismos são amplamente influenciados pelos países desenvolvidos e, alguns, são diretamente dirigidos e administrados por representantes europeus e americanos.
A formulação de políticas que não deverão se tornar obstáculos aos interesses dos financiadores internacionais ou à garantia do crescimento econômico dos países desenvolvidos (GUERRA, RAMALHO, SILVA, VASCONCELLOS, p. 12-13, 2007).
Interessante notar que, mesmo repleto de polêmicas e pontos claramente tendenciosos, a idéia de desenvolvimento sustentável é uma das mais aceitas em termos mundiais, encontrando apoiadores e defensores entre os mais diversos e conflitantes setores da sociedade. Na opinião de Wolfgang Sachs, a ambiguidade presente na construção conceitual de desenvolvimento sustentável é justamente o que garante a ampla aceitação de seus termos e ideias (SACHS, p. 76, 2000).  
Aula 5: Questões teóricas e evolução histórica do tema ambiental 
Introdução
Nessa primeira parte da disciplina apresentamos os elementos históricos e conceituais da questão ambiental. Como vimos, esta precisou de esclarecimentos sobre os impactos do desenvolvimento na biosfera, sobretudo a partir de 1960.
Vimos, também, as bases teóricas para um grande número de avaliações e recomendações sobre atuação dos homens e governos. Desde as primeiras reflexões sobre o impacto do crescimento econômico até a concepção de desenvolvimento sustentável, amplos debates foram estabelecidos entre as correntes ambientais, tanto em termos do papel do homem, como na função da Terra em relação às necessidades

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