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" '< '- \_ !\..._ '- \_ '· \... ( \.. ' " \.. 3N 85·203-2047-3 c ,I ' ! ! '788520 11 3204 71 c·~ " LUIZ FLA VIO GOMES ALICE BIANCHINI CRIMES DE ~,,LSPO NSABILID AD E "o~~~~ . FISCAL Lei 10.028/00 o Crimes contra as finan~as publicas " Crimes de responsabilidade fiscal de prefeitos "Legisla~ao na Integra (Lei 10.028 e LC 101/00) : '·""'"~~ElHE AS CIENCIAS CRIMINAlS NO SECULO XXI VOLUME 2 EDITORAili1 REVISTA DOS TRIBUNAlS l l ( l. ( ( l l ( ( ( t ( ( ( ( ( ( ( ( ' \ ( ( ( _., 6 CRIMES DE RESPONSAB ILIDADE FISCAL Somos gratos tam bern a Editora Revista dos Tribunais pela pronta disponibilidade para pub!icar este trabalbo. Sao Paulo/Tubarao, 18 de fevereiro de 2001. LUIZ FLAVIO GOMES ALICE BIANCHINI SUMARIO fcc.;?22"i"'c-NOTA DOS AUTO RES 5 ~~'c!NTRODUCAO ........................................................................................ . 11 I- NOCOES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DISPOSI- TIVOS DA LEI 10.028/00 ............................................... 15 1.0 •••••••••••••••••••••••••••••• , ...................................................... :......... 15 2.0 •••••••••••••••••••••••••• : •••• :.:.:.: •• :: •• : •••••••••• : •• : •• :: ••••••••••••••••••••••••••• :.... 18 3-:o;:::;;:~:-~-;;-~-:~.~----- ---------- 19 ·················································································· ~-x:==Artigo 4.0 ·······················•········································································ 21 ::~-~-arttao 5.0 ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 28 34 II- CRIMES CONTRA AS FINAN CAS PUBLICAS (ART. 2.0 DA LEI 10.028/00) .................................................... 35 Quest6es comuns aos novas tipos penais .............................................. 36 Bemjurfdico ................................................................................. 36 Requisito subjetivo ....................................................................... 37 Sujeito ativo e sujeito passivo ....................................................... 38 Lei penal em branco ............................................................•........ 38 Retroatividade da Lei ................................................................... 39 1.6 Suspensao condicional do processo .............................................. 40 1.7 Penas altemativas ......................................................................... 40 2. Analise de cada urn dos tipos penais ..................................................... 40 2.1 Contrata<;ao de opera<;ao de credito .............. ............................... 40 2.2 Inscril'iio de despesas nao empenhadas em restos a pagar .... ........ 44 2.3 Assun<;lio de obrigaqao no ultimo ano do mandata ou legislatura ... 45 2.4 Ordena<;iio de despesa nao autorizada .......................... ................ 46 2.5 Presta9ao de garantia graciosa 51 ! i F ,,. TI I( t I' + J ! t --·-· --- -- .~ ..... ...,.,..,, .,..,,,.. .... ~.._,,,v..._:. l'hlO......ri.L 2.6 Nfio cancel amen to de restos a pagar 2. 7 Aumento de despesa total com pessoal no ultimo ano do manda- te ou legislatura 2.8 Oferta publica ou colocaqao de titulos no mercado CAPiTuLO III-CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL DE PREFEITOS (ART. 4.• DA LEI 10.028/00) 1. Quest6es comuns aos noVO$ tipos penais 1.1 Bemjuridico 1.2 Requisito subjetivo ................................... .. I.3 Sujeito ativo ...................................................................... . a) prefeito ................................................................................... .. b) ex-prefeito .............................................................................. .. c) vereadores ............ .. I .4 Sujeito passivo ..................... .. 1.5 Concurso de agentes ................................................................... .. 1.6 Classificaqao dos crimes funcionais a) quanto ao sujeito ativo b) quanto ao resultado ......................................................... , ...... .. 1. 7 San goes penais ............................................................................ .. a) sobre a aplicabilidade das "peiiasacess6rias'' .... .-.. ~.: .... " ......... . b) perda do cargo ...................................................................... , .. c) inabilitaqao para funqao publica ............................................ .. 1.8 Natureza jurfdica dos crimes de responsabilidade de prefeitos ... .. 1.9 Afastamento temponirio do cargo de prefeito .............................. . 52 54 55 56 59 59 59 60 60 60 64 65 65 65 65 66 67 67 70 70 71 71 1.10 Competencia ................................................................................. 72 1.11 Lei penal em branco ..................................................................... 75 1.12 Suspensao condicional do processo 1.13 Retroatividade da Lei 1.14 Penas alternativas 2. Analise de cad a urn dos novos tipos·penais 2. I Deixar de ordenar, no prazo, reduqao do montante d1 divida con- solidada _ 2.2 Ordenar ou autorizar a abertura de cr6dito em desacordo corn os - limites 76 76 77 77 79 80 SUMARIO 2.3 Deixarde pro mover ou de ordenar a anula<;ao de operaqao de cre- dito com inobserv3.ncia de limite, condi9ao ou montante 2.4 Deixar de prom over ou de ordenar a liquidaqao integral de ARO ate o encerramento do exercfcio financeiro 2.5 Ordenar ou autorizar o refinanciamento ou. postergac;ao de dfvida contrafda anteriormente 2.6 Cap tar recursos a titulo de antecipaqao de receita de tributo ou con- tribuiqao cujo fato gerador ainda nao tenha ocorrido 2. 7 Ordenar ou autorizar a destina9ao de recursos provenientes da emisssao de titulo para finalidade diversa da prevista em lei que a autorizou 2.8 Realizar ou receber transferencia voluntaria em desacordo com a lei 9 82 83 84 86 89 89 CONSIDERACOES FINAlS..................................................................... 91 BIBLIOGRAFIA .................................................... 95 ANEXOS I. Exposiqao de Motivos da Lei 10.028/00 ................................................ 99 2. Lei 10.028, de 19 de outubro de 2000 ................................................... 101 ~e.:c·_· -_-··-· .. 3. Lei Complementar I OI, de 4 de maio de 2000 ...................................... I 07 ~ ----:: -~- •, - - -- - - - -F:==:~c:c:::-_~'[.Leis quetratamdematerias correlat.S a resporisabilidade fiscaL......... 141 j:-_: •~-=--- 5. Projetos que t;~tam de fi1ateri,;_, corre1atas a responsabilidade fiscal..... 143 ;---- --, ·outros traba1hos publicados pelos autores............................................. 145 ~ r' ,-.. -~ -~ /~ ,.--- ~ '"' r ~- r ~- r- ~ ~ ~ r- r- -~ r- r-. ' r .r- r ~ r- ' c' ~ .r- .'- '- (___ '- '- \__ \ \__ ( ( ( ( ( / ·, ( / \ ' ( ( r ( (' ( r r· -------- ---------- INTRODU(:AO A Lei 10.028/00 trouxe grande intranqiiilidade para muitos agen- polfticos. Parte significativa da po!emica girou em torno de even- implica~6es de carater penal que poderiam envolver chefes de exe- "':cutivo municipal, deixando-se de se considerar que a Lei criminaliza '·condutas passiveis de serem praticadas, tambem, por outros administra- ~dores publicos. Seu ambito de abrangencia, todavia, esteride-se para a! em ~da'J1J!lo gue foi o objeto principal depreocupa~6es.l ' , A legisla~ao referida e decorrenciadireta da Lei de Responsabili- '<\Fisca.I='LRF; editadi erii. 4 demaTif ile'2b()b (tel Ccimpleinentar' UO). Ambas sao de autoriado Poder Executive Federal. 0 Projeto deu origem (621199- Camara dos Deputados) foi aprovado em :ambas as Casas Legislativas sem sofrer nenhuma altera91io. · Consoante Flavia Regis Xavier de Mo\]ra e Castro, a LRF "in te- o conjunto de medidas do Programa de Estabilidade Fiscal - PEF 'apresentado a sociedade brasileira e tern como objetivo a drastica e ve- redu91io do deficit publico e a estabiliza9ao do montante da divida •{'7publica em rela9ao ao Produto Interne Bruto da economia" .2 Ainda de acordo com o mesmo aut or, a Lei foi editada com o firme iE nron6sito de atender exigencias advindas do FMI, do Banco Mundial e :=:T!!!::='~c;,':Tao logo a Lei 10.028/00 entrou em vigor, passou a ser manchete nos principais ~~3_~·:e·c~·co···,· JC~rn~lS o "levante" de prefeitos a Brasilia, buscando, dentre outras reivindica- qoes: altera(:iiO no seu prazo de vigencia. Empossados os novos chefes do execu- tive municipal em I.' de janeiro de 2001, o que era preocupa<;ao dos mandataries anteriores remanesceu. V3.rias sao as articula~5es que visarn a mudanyas na Lei (Prefeitos insistem em mudar a lei fiscal. Gazeta Mercantil, 8 jan./01, p. A-8; Prefeitos preparam pressao contra LRF. Folha deS. Paulo, 5 fev./01, p. A-5). C2l Prefacio. In: MOTTA, Carlos Pinto Coelho, SANTANA, Jair Eduardo, FERNANDES, Jorge Ulisses Jacob, ALVES, Leoda Silva. Responsabilidade fiscal: Lei Complementar 101 de 04.05.2000. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 14-15. ' l ·;. ·., ;~ ., I' ~ :;; f! --- " !i 11 li li II !1 ;j " li i1 p ;; ' '·' JL CK!MES DE RESPONSAB!LIDADE FISCAL dos paises que integram o G7. "Tanto isso e verdade que o proprio De- putado Pedro Novais, Relator do Projeto na Camara Federal, asseverou que o PEF, anunciado em final de 1998 e apoiado pelo Fundo Monetario Intemacional, contempla medidas de curto prazo e de natureza estrutu- ral, dentre as quais se inclui a LRF" .3 A Emenda Constitucional 19/98 fixou o prazo de seis meses para o Poder Executive apresentar ao Congresso o projeto de lei complementar referido no art. 163 da Carta,< o que foi cumprido dentro do limite esta- belecido, dando origem a LRF. A principal finalidade da Lei e proibir OS entes da Federa9iiO de gastarem mais do que arrecadam, estabelecendo, para tanto, limites e condi96es para o endividamento publico. Ela surge no bojo de uma una- nimidade na opiniao publica, reclamando que as finan9as publicas deveriam ser disciplinadas por regras inflexiveis, para por termo aos gastos exacerbados. Quatro sao os eixos em que a LRF se ap6ia:5 1. Planejamento: "e aprimorado pela cria9ao de novas informa- 95es, metas, limites e condi96es para a renuncia e para a gera9iio de despesas, inclusive com pessoal e de seguridade, para a assun9iio de dfvidas, para a realiza9iio de opera96es de credito, incluindo ARO, e para a eoncessao de garantias". · 2. Transparencia: ''e con~~etlzadacom a divulga9ao ampla(.:.)de · quatro relat6rios de acompanhamento de gestaofiscal, que permitem identificar receitas e despesas:. Anexo de Metas Fiscais, Anexo de Ris- cos Fiscais, Relat6rio Resumido da Execu9iio Or9amentaria e Relat6rio de Gestae Fiscal". 3. Controle: "e aprimorado pela maior transparencia e pela quali- dade das informa96es, exigindo uma a9iio fiscalizadora mais efetiva e continua dos Tribunais de Contas". 1 " Prefacio. In: MOTTA, Carlos Pinto Coelho, SANTANA, Jair Eduardo, FERNANDES, Jorge Ulisses Jacob, ALVES, Leoda Silva. Responsabilidade fiscal: Lei complementar 101 de 04.05.2000, op. cit., p. 15. 1 '> Art. 163. Lei complementar dispora sobre: I- finans:as publicas. 1 '> KHAIR, Amir Ant6nio. Lei de responsabilidade fiscal: guia de orientas:ao para prefeituras. Brasilia: Ministerio do Planejamento e Ors:amento, Ors:amento e Gestao; BNDES, 2000, p. 15-16. fNTRODU<;AO 13 4. Responsabilizarao: "deveni ocorrer sempre que houver o des- cumprimento das regras, com a suspensao das transferencias volunt<i- rias, das garantias e da pennissao para a contrata9ao". Concementemente a responsabiliza9ao, o art. 73 da LRF estabe!e- ce que as infra<;5es as suas disposi<;6es serao punidas de acordo com o C6digo Penal, as Leis 1.079/50 (Lei que define os crimes de responsabi- lidade e regula o respective processo e julgamento) e 8.429/92 (Lei de improbidade administrativa), o Decreto-lei 201/67 (Lei de responsabili- dade de prefeitos e vereadores) e demais nonnas pertinentes. A dispersao, desperdicio e descaso com os bens publicos impunha urgencia na elabora9ao de urn con junto normative capaz de responsabi- lizar os agentes publicos niio muito afeitos aos limites or9amentiirios. Com o prop6sito de tutelar o bern jurfdico finanras publicas inclusive penalmente surgiu a Lei 10.028 (Lei dos crimes de responsabilidade fiscal - LCRF), que entrou em vigor no dia 20.1 0.2000, tendo alterado substancialmente dispositivos de tres outros conjuntos normativos: I . C6digo Penal a) incluiu novas condutas no art. 339, que trata da denuncia9iio caluniosa (art. 1.0 da LCRF); b) inscreveu todo rim novo capftrilo no titulo que trata dos crimes :r:::.::. contra a administra9ao publica~~Dos crimes contra as finaU<;as publicas (art. 2.0 da LCRF), II. Lei 1.079/50 (Define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo e julgamento) a) acrescentou oito novas condutas ao rol dos ilicitos polftico- administrativos previstos no art. 10 (art. 3.0 da LCRF); b) estendeu a responsabiliza9iio pelas condutas pre vistas no art. I 0 a outras pessoas de direito publico (arts. 39-A e 40-A, da Lei 1.079/50, com a nova reda9ao dada pelo art. 3.0 da LCRF); c) instituiu o rito das a96es penais ajuizadas contra as pessoas que podem ser responsabilizadas pela pratica das condutas previstas no art. 10 (art. 41 -A, primeira parte, com a novareda9ao dada pelo art. 3.0 daLCRF); d) permitiu, a qualquer cidadao, o oferecimento de den uncia (ter- mo adotado pela Lei e que sera discutido no momenta oportuno) pela pnitica de condutas previstas no art. 10 (art. 41-A, segunda parte, com a nova reda9ao dada pelo art. 3.0 da LCRF). ~ ~ "'' " " ~. ~ "' ~. ~ " 14 CRIMES DE RESPONSAB!LillAD]O FISCAL Ill. Decreto-lei 201/67 (Lei de responsabilidade de prefeitos e vereadores) a) as mesmas condutas acrescentadas a Lei 1.079/50 constam, agora, tam bern, no rol de crimes de responsabilidade previstos no art. 1. 0 do Decreto-lei (art. 4.0 da LCRF). 0 livro encontra-se dividido em tres capftu1os. Seu objeto de estudo recai sobre os tipos penais de caniter fiscal criados pe1a Lei 10.028/00 e que constam nos seus arts. 2.0 (Crimes contra as finangas publicas) e 4.0 (Crimes de responsabilidade fiscal de prefeitos), o que sera realizado, respectivamente, nos capftulos II e ill. Antes, entretanto, de se efetuar a analise dos novos tipos penais, cada urn dos dispositivos da Lei 10.028/00 sera brevemente analisado (Capftulo I), intentando, com isso, propiciar uma visao global da Lei. Capitulo I NO<;OES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DISPOSITIVOS DA LEI 10.028/00 SUMARIO: 1. Artigo 1.'- 2. Artigo 2.0- 3. Artigo 3.'- 4. Artigo 4.0- 5. Artigo 5.'- 6. Artigo 6.'. m :g:::-~-~=- ~=- :"Lei_dos crillles de responsabilidade fiscal-LCRF:'"'"e COinposta- )i;'; '¥~~:; <Ie sers Artigo 1.0 0 art. 339 do Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940, passa . a vigorar com a seguinte redagao: "Art. 339. Dar causa a instauragao de investigagao policial, de pro- cesso judicial, instauragao de investigagao administrativa, inquerito ci- vil ou agao de improbidade administrativa contra alguem, imputando- lhe crime de que o sabe inocente:"(NR) "Pena [ ... ]" "§ l.o [ ... ]" "§ 2.0 [ ... ]" Acrescentou, o legislador, ao !ado das condutas ja existentes, a de dar causa a instaura(Ciio de investigafiiO administrativa, de inquerito Civil OU a GfiiO de improbidade administrativa. Nao se pode perder de vista que a imputa9ao falsa, em face da determinagao contida no proprio art. 339, deve versar sobre crime ou COntraven9a0 penal (neste Ultimo caso, inclusive, a pena e diminufda da metade- § 2.0 ). L 1- l l: li !~ \( ;; l) ' ' • \· i l· ~· t !' i -· I ''~ I 1 I 1...-ri.l!Vl£;..;) ut Kt...SPUN.SAB1LIDADE FISCAL 0 inquerito civil possui carater pre-processual, sendo ato prepara- t6rio para a Aqao Civil Publica. Nao ha obrigatoriedade quanta a sua instauraqao, uma vez que se destina a coligir as provas necessarias para o exercfcio responsavel da aqao judicial. A coleta dos elementos de con- vicqao reclamados ao julgamento eo reptidio as !ides temenirias justifi- cam a existencia desta fase investigat6ria. As pessoas com legitimidade autonoma para propor a Aqao Civil Publica nao estao vinculadas ao inquerito civil, podendo ajuizar a a<;iio, ainda que o inquerito tenha sido arquivado por solicitaqao de representante do Ministerio Publico. A investiga~;fio administrativa nao se confunde com a aqao de im- probidade administrativa, que e regulada pela Lei 8.429, de 2 de junho de 1992, que disp5e sobre as aqoes aplicaveis aos agentes publicos nos casas de enriquecimento ilfcito no exercfcio de mandata, cargo, empre- go ou funqao na administraqao publica. Sua natureza nao e penal, muito em bora varias das condutas nela contidas coincidam, em seus elemen- tos, com tipos penais previstos em outras normas. A investigaqao admi- nistrativa, por seu tumo, pode ser levada a cabo por qualquer autoridade administrativa, des de que haja indfcios de cometimento de algum ilfcito da mesma natureza. A inovaqao legislativa e louvavel, tendo em vista que ela atualiza o C6digo Penal, trazendo para o ambito tfpico da denunciaqao caluniosa outros procedimentos que, ao tempo em que o Estatuto Penal fora: elac ---,·.· .. ]'~~;-_,., b6rado, airida nao existiam. - -- · · · - E de se observar, porem, que a tipificaqao penal da aqao de repre- _ sentarpor ato de improbidade de agente publico ou de terceiro benefici- ano sabido inocente ja constava na mencionada Lei de improbidade admi- nistrativa que, em seu art. 19, preve pena de deten<;ao de 6 a I 0 meses e mu!ta. 1 Teria a Lei 10.028/00 revogado o art. 19 da Lei 8.429/92? A resposta ja foi dada com precisao por Damasio E. de Jesus2 nestes termos: "Cremos que nao, pais as duas disposi<;5es podem coe- xistir pacificamente de acordo com duas regras: J.•) quando o denun- _ '') Preve o dispositive refetido: Aut. 19. Constitui crime a representa9~0 por atode improbidade contra agente publico ou terceiro beneficiiirio quando o autor da denuncia o sabe inocente. Pena -deten9ilo de 6 (seis) a] 0 (dez) meses emulta. "" Phoenix 37, nov./00. NO<;:OES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DISPOSITIVOS DA LEI I 0.028/00 17 ciante atribui falsamente a vitima ato de improbidade que configura in- fraqao administrativa. porem nilo configura crime, aplica-se o art. 19 da Lei 8.429/92. Ex.: ato praticado com desvio de finalidade (art. II, L da Lei 8.429/92); 2.') quando a denunciaqao incide sobre ato que. alem de a ten tar contra a probidade administrativa, constitui tambem deli to, apli- ca-se o art. 339 do CP. Ex.: art. l 0, VIII, da Lei 8.429/92, em que a fraude em arremataqao judicial, alem de configurar ato de improbidade apminis- trativa, encontra-se tamb6m definida como crime (art. 358, CP). De ob- servar-se que a denuncia9ao e atfpica quaudo seu objeto configura ato meramente infracional, uao possuindo natureza· improba nem criminosa". A pena prevista no art. 339 e de reclusao, de 2 a 8 anos (art. 339 do CP com a nova redaqao dada pel a LCRF)3 0 bemjurfdico tutelado pela nonna e a regular administra~;iio da justif:a, que deve ficar a salvo de falsas imputaqoes de crimes ou de contravenqoes, que deem lugar a instauraqao de investigaqao policial, de processo judicial;-instauraqao de investigaqao administrativa; de in- querito civil, ou a prop6situra de aqao judicial, que vise a apurar impro- bidade administrativa. Qualquer pessoa, inclusive o delegado de polfcia, o promotor de justiqa eo magistrado que, sabendo dait_l_O<;e_I)ciado acusado, der causa a instaura9il0 de investigaqao policial; de processo judicial, de investi- ~~~---"- 13) Recentemente, por conta da Medida Provis6ria 2.088-35/00, surgiu outra ino- va9lio no trato da materia. 0 .seu artigo 3° acrescentou ao rol das condutas que caracterizam at9 de improbidade administrativa que atentam contra os princf- pios da Administra9ao Publica a a9ao de "instaurar temerariamente inqueriio policial ou procedimento admiilistrativ"o Ou propor a9ao de natureza civil, cri- minal ou de improbidade, atribuindo a outrem fato de que o sabe inocente", pre vistas na Lei 8.429/92- Lei de improbidade administrativa (art. 11, VIII). A Medida Provis6ria acrescentou-a Lei mencionada, tambem, ao lado das san- goes jii nela constantes (art. 12), outra especie de multa, agora, a reverter em favor da prOpria vftima, fixando como seu valor maximo o montante de cento e cinqlienta e urn mil reais, a ter aplica9ao nos casas em que a imputa9ao tenha sido considerada manifestamente improcedente (§ 11 do art. 17). E de se notar que a inova9ao nao representa esp6cie de deli to de denuncia9ao caluniosa, ten- do em vista nao contemplar san~ilo de carater penal. Quando da reedi~ao da Medida, em 26.0 1.200 I, o govern a federal, ap6s acirrada contenda. principal- mente, com mcmbros do Minist&rio PUblico, suprirniti estas altera96es. :--' ('" ('· /-~~ [' '"--, .~ - ---"' 18 CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL ga9ao adrninistrativa, de inquerito civil, ou de a9ao de irnprobidade ad- rninistrativa, podeni ser sujeito ativo do crime. Tarnbern, aqui, qualquer pessoa podeni vir a ser o sujeito passivo. 2. Artigo 2. o N()\:OES GERAIS SOBRE CADA UMDOS DISPOSITIVOS DALE! 10.028100 "Art. 359-D. Ordenar despesa nao autorizada por lei:" (AC) "Pen a- reclusao, de 1 (urn) a 4 (quatro) anos." (AC) "Presta9ao de garantia graciosa" (AC) 19 "Art. 359-E. Prestar garantia em opera9ao de credito sem que te- nha sido constitulda contragarantia em valor igual ou superior ao valor ' · · · da garantia prestada na forma da lei:" (AC) 0 T1tulo XI do Decreto-leJ2.848, de 1940, passa a v1gorar acresc1- ' . , , C do do seguinte capitulo e artigos: · "Pena- deten9ao, de 3 (tres) meses a 1 (urn) ano. (A ) "CAPITULO IV "Nao cancelarnento de restos a pagar" (AC) DOS CRIMES CONTRA AS FINAN<;AS POOLICAS" (A C) "Art. 359-F. Deixar de ordenar, de au:oriz~r ou de pro mover o can- celamento do montante de restos a pagar mscnto em valor supenor ao "Contrata9ao de operac;;ao de credito" (AC) lei:" (AC) . "Art. 359-A. Ordena~ ~utorizar ou_ reali~ar ~pe~~c;;ao de credito, "Pena _ deten 9 ao, de 6 (seis)meses a 2 (dois) anos." (AC) mterno ou externo, sem prevm autonza9ao leg:~slatlva: (AC) · . 1 1 'It· . ·do rnandato .. -~·"Aumentodedespesatota compessoa nou 1moano "Pena-reclusao, de I (urn)a2 (dois) anos:'(ACJ·_ = :· __ . ···. _ .. ou_legislatura" (AC) __ · ..... :.:·· :::''Panigrafo unico.-Incidena·mesmapena-quel11.ordena;autorizaou··· -- . "Art. 359~G. Ord<onar, autoiizar ou executar ato que acarrete au- n:aliza operac;;iio de credito;interno ou externo:" (AC) ·· · · -· ··- ···~en to de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores "I- com inobservancia de limite, condic;;ao ou montante estabele- . ao final do mandato ou da legislatura:" (AC) cido em lei ou em resolu9ao do Senado Federal;" (AC) "Pena_ reclusao, de l(urn) a 4 (quatro) anos." (AC) "II- quando o montante da dfvida consolidada ultrapassa o limite maximo autorizado por lei." (A C) ·· ... "Inscric;;ao de despesas nao empenhadas em restos a pagar" (AC) "Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscric;;ao em restos a pagar, de despesa que nao tenha sido previamente empenhada ou que exceda li- mite estabelecido em lei:" (AC) "Pena- detenc;;iio, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos." (AC) _ (A C) "Assunc;;ao de obriga9ao no Ultimo ano do mandato ou legislatura" "Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assun9ao de obriga9iio, nos dois ultimos quadrimestres do ultimo ano do mandata ou legislatura, cuja despesa nao possa ser paga no rnesmo exercfcio financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercfcio seguinte, que nao tenha contrapar- tida suficiente de disponibilidade de caixa:" (AC) "Pena- reclusao, de 1 (urn) a 4 (quatro) anos." (AC) "Ordenac;;ao de despesa niio autorizada" (AC) '±~..:. ___ · --"Oferta publica ou colocac;;ao de tltulos no rnercado" (A C) · ''Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta publica ou a colocac;;ao no mercado financeiro de tftulos da dlvida publica sem que tenharn sido criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema centralizado de liquidac;;ao e de custodia:" (AC) "Pena- reclusao, de 1 (urn) a 4 (quatro) anos." (AC) ··=: !==~--·-···· A todas essas inova96es introduzidas no .C6digo Penal se dedicara ·· o capitulo segundo infra, que encorttracse divididoem duas partes. Na I primeira, serao destacadas as questoes que sejam comuiJs aos novos tipos penais:A segunda traz comentarios, de forma individualizada, acer- ca de cada urn dos delitos acrescentados ao Estatuto Penal. 3. Artigo 3. 0 A Lei 1.079, de 10 de abril de 1950, pass a a vigorar corn as seguin- res altera96es: "Art. 10. [ ... )" ~v CK!!\'11::'.0 UC K.t.~t'U.'\.SAtilLI!.JAUb FISCAL "5) deixar de ordenar a reduc;ao do montante da divida consolida- da, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplica~iio do limite maximo fixado pelo Senado Fe- deral;" (AC) "6) ordenar ou autorizar a abertura de credito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei or9amentaria ou na de credito adicional ou com inobservancia de pres- cri~ao legal:" (AC) - "7) deixar de promover ou de ordenar na forma da lei, o cancela- mento, a amortiza9ao ou a constituigao de reserva para anular os efeitos de operagiio de credito realizada com inobservancia de limite, condigao ou montante estabelecido em lei;" (AC) "8) deixar de pro mover ou de ordenar a liquida9iio integral de ope- ra9ao de crectito por antecipa9ao de receita or9amentaria, inclusive os respectivos juros e demais encargos, ate o encerramento do exercicio financeiro;" (AC) _ _ ____ --, _ _ ---- "9}cirdenar ou autorizar, em desacordocom a lei, a realizayao de opera~ao de credito com qualquer urn dos demais entes da Federa9ao, inclusive suas entidades da administragao indireta, ainda que na forma de nova9ao,refinanciamento ou posterga9ao de-di vida contrafda ante- ri()Dl1e_nte;?YCA<::) _ -- ---- - ----~ -- "10) cap tar recursos a titulo de antecipa9ao de receita de tributo ou coritribui~ao cujo fato gerador aincfa riilo tenlla ocorrii:Io;'; (AcF ---- _ "11) ordenar ou autorizar a_destina9ao dere_cursos provenientes da emissao de titulos para finalidade divers ada pre vista na lei que a au tori- zou;" (AC) - -- "12) realizar ou receber transferencia voluntaria em desacordo com limite ou condi9ao estabelecida em lei." (A C) :'Art. 39-A. Constituem, tambem, crimes de responsabilidade do Presidente do Supremo Tribunal Federal ou de seu substituto quando no exercicio da Presidencia, as condutas pre vistas no art. 10 desta Lei, quan- do par eles ordenadas ou praticadas." (A C) "Panigrafo unico. 0 disposto neste artigo aplica-se aos Presiden- tes, e respectivos substitutes quando no exercicio da Presidencia, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais de Justi~a e de A! gada NO<;:OES GERAIS SOBRE CADA liM DOS DISPOS!T!VOS DA LEIIO 028/00 21 dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juizes Diretores de Foro ou fun~ao equivalente no primeiro gran de jurisdi9ao." (AC) "Art. 40-A. Constituem, tambem, crimes de responsabilidade do Procurador-Geral da Republica, ou de seu substituto quando no exercf- cio da chefia do Ministerio Publico da Uniao, as condutas previstas no art. !0 desta Lei, quando por eles ordenadas ou praticadas." (AC) "Paragrafo unico. 0 disposto neste artigo aplica-se:" (AC) "I- ao Advogado-Geral da Uniao;" (AC) "II -aos Procuradores-Gerais doTrabalho, Eleitoral e Militar, aos Procuradores-Gerais de Justi~a dos Estados e do Distrito Federal, aos Procuradores-Gerais dos Estados e do Distrito Federal, e aos mem- bros do Ministerio Publico da Uniao e dos Estados, da Advocacia-Geral da Uniao, das Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, quando no exercicio de fun9ao de chefia das unidades regionais ou locais das respectivas institui96es." (AC) "Art. 41-A. Respeitada a prerrogativa de foro que assisteas autori- dades a-que se referem 0 paragrafo unico do art. 39-A e 0 in.c. II do paragrafo unico do art. 40~A; as ag6espenais contra elas ajuizadas pela pnitica dos crimes de responsabilidade previstos no art. 10 desta Lei serao processadas e julgadas de acordo com o rito institufdo- pel a Lei 8.038, de 28 demaio-de 1990, perihiticlo;ca todocidada(l; g ofetecimen~ -tocdadeliiiricia:"(AC)-c':'":':'- '::----- : ' ·- ALei 1:679,c de I 0 de abril de 1950, orig!naii.anien1:e, tratou do processoe julgamento dos crimes deresponsabilidade do Presidente da Republica, dos Ministros de Estado, dos Ministros do Supremo Tribu- nal Federal, do Procurador-Geral da Republica, dos Govemadores e dos Secretaries de Estado. Referido diploma legal original ganhou varios riovos dispositivos com a Lei 10.028/00- LCRF: 1. na parte primeira, titulo I, capitulo VI (Dos crimes contra a lei oryamenuiria), foram adicionadas_ oito novas condutas ao art. 1 0; 2. na parte terceira, titulo I, capitulo I (Dos Ministros do Supremo Tribunal Federal), houve a inclusao do art. 39-A e de urn paragrafo ao art. 39; 3. na parte terceira, titulo I, capitulo II (Do Procurador-Geral daRe- publica), foram criados o art. 40-A eo paragrafo unico, I e II, do art. 40; e 4. na parte terceira, titulo II (Do Processo e Julgamento), capitulo I (Da Den uncia), o legislador acrescentou o art. 41-A. /-~ ."- ~- /' .-. "- -~ 22 CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL Os crimes deresponsabilidade (art. I 0 da Lei 1.079/50), ainda quan- do simplesmente tentados, sao passfveis da pena de perda do cargo, com inabilita~ao de ate cinco anos para o exercfcio de qualquer fun~ao publi- ca (art. 2.0 ~ arts. 74 e ss). Tal conseqiiencia, por fon;:a das altera~6es promovidas pela LCRF, alcan~a. tambem, os agentes publicos arrolados nos arts. 39-A, 40-A e panigrafo unico, I e II: • Presidente do Supremo Tribunal Federal ou de seu substitute quaq- . do no exercfcio da Presidencia; • Presidentes e respectivos substitutos quando no exercfcio da Pre- sidencia, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Contas, dos Tribu- nals Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais deJus- tic;a e de Al~ada dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juizes Dire to res de Foro ou func;ao equivalente no primeiro grau_dejurisdi~ao; • Procurador-Gera1 da Republica, ouseu substituto quando no exer- cfcio dachefia doMinisterioPublico da Uniao; -- ·Aavciga\f8=0'btili<iauili~t';c~ · --- ··-··· - - • P~oc~~adores-Gbraisdo Traballio, Eleitoral e Militar; Procurado- rescGerais de Justi<;:a dos Estados edo Disti:ito Federal; Procuradores- Gerais dos Estados e do Distrito Federal; membros do Ministerio Publi- co da Uniao e dos Estados, da Advocacia-Geral da Uniiio, das Procura- dorias dos Estados e do Distrito Federal, quando no exercfcio de func;ao de chefia das unidades regionais ou locais das respectivas instituic;6es. As mesmas condutas acrescentadas ao art. 10 da Lei 1.079/50 tam- bern o foram ao art. 1.0 do Decreto-lei 201167, que trata dos crimes de responsabilidade praticados por chefes do executivo municipal.4 _ E de se notar, ademais, que as san<;:5es previstas aos agentes acima nencionados, por pnitica de quaisquer dos ilfcitos tipifii:"ados no-arC Jb ja Lei 1.079/50, nao possuem carater penal, ainda que tenha o legisla- lor se valido da 1ocu~ao crimes de responsabilidade, causando com isso :erta confusao acerca do seu verdadeiro significado. Ve-se, assim, que, lpesar da existencia do vocabulo crime, muitos sao os casos em que a :onduta nao se encontra descrita em nenhuma norma penal, caracteri- cando-se, exclusivamente, urn ilicito polftico-administrativo. ~) Elas serao analisadas por ocasHlo dos coment8.rios acerca das alteraq5es produ- zidas no Decreto-lei 201/67, capitulo ill. N()\:OES GERAIS SOBRECADA UMOOS D!SPOSITIVOSDAIE!I0.028100 23 0 Supremo Tribunal Federal decidiu inumeras vezes no sentido de que "a expressao crime comum, na linguagem constitucional, e usada em conttaposic;ao aos impropriamente chamados crimes de responsabi- ]idade, cuja sanc;ao e polftica, e abrange, por conseguinte, todo e qual- quer deli to" .5 E do impeachment que a Lei 1.079/50 trata: institute de natureza eminentemente polftica e que, de acordo com Tito Costa, "consiste em impor a determinados agentes polfticos seu afastamento do cargo, em virtude de uma acusac;ao de natureza polftica. E, em suma, medida polftica, aplicada em face de urn problema polftico".' Para Cretella Junior, o impeachment configura urn "processo de ~;-__ acusagao de_ natureza polftica, imaginado menos para punir o culpado - ·- ······ ·· para garantir a sociedade contra a malversac;ao do funciom1rio. "'~c. , ... , ~. medidade natureza polftico-administrativa que temper flnalida- .c:c · r~-;-(l,.:s";J1vestir de funq5es- piJJ)Iicas -todo membro do govemo que, pela me·· de- responsabilioade;'ou cae •crime comum;- fix ado em a tonfianqa do povo" .7 - Tonforme Paulo Brossard "tao marcante e a natureza polftica do instituto que, sea autoridade corrupta,violenta ou inepta, em umapala- vra, nociva, se des1igar definitivamente do cargo, contra ela nao sera instaurado processo e, se iniciado, nao prosseguira".' Tambem colabora para dissipar qualquer duvida sobre a natureza juridica do institute do impeachment o fato de que, da decisao final, seja condenat6ria, seja absolut6ria, nao cabe recurso ao Poder Judiciario. "Se o constituinte conferiu ao Senado a incumbencia de julgar certas autoridades investidas de eminentes func;oes, porque, entre outros moti- ves, os magistrados, alheios, em regra, ao manejo dos neg6cios gover- 7"¥~~. -- riativos, cafeceni da:adequaaa· apiidao para apreciar a boa ouma execu- <;ao dos atos que terao de julgar, e ainda porque nao e criminal, mas polftica, a pena aplicavel, seria incongruencia palpavel que as decis6es da Camara e do Senado ficassem sujeitas ao crivo judicial. Sem falar no '" Apud BROSSARD, Paulo. 0 impeachment. 3. ed. Sao Paulo: Saraiva, 1992, p. 7l. "' Responsabilidade de prefeitos e vereadores. 3. ed. Sao Paulo: RT, 1998, p. 33. ''' Do impeachment no direito brasileiro. Sao Paulo: RT, 1992, p. 18. "' 0 impeachment, op. cit., p. 134. ., ., . -~:; '• ., ., ) ! L."t U<IMco DE RESPONSABILJDADE FISCAL inconveniente de sujeitar a Poderes distintos julgamentos de funda re- percussao nacional, sob o risco de pro,·ocardecisoes contradit6rias, fru- to de diversos criterios de aprecia~ao"9 As raz6es adequadas aos tribu- nais, fundadas em exclusiva legalidade. nao seriam convenientes nessas questoes. E fora de tais razoes, impr6pria em si a presen~a do Judiciario. Pode, entretanto, o Poder Judiciario decidir a respeito de crimes de responsabilidade quando eventual mente se Jratar de ilicito de natureza penal ou civil, cujo processo tramita independentemente daquele que versa sobre questao polirico-administrativa. Paulo Brossard, ao comentar a coexistencia de processo politico- administrativo com outrode natureza diversa, entende que "nem exis- te criticavel superposi<;:ao de crimes nem deve haver necessaria corre- la~ao de figuras delituosas nas duas leis, que sao distintas e de distinta natureza". 10 Mesmo o ato condenavel sendo unico, pode haver duplicidade de san<;:oes, uma decorrente de infra<;:iio politica (ofensa a lei deresponsa, bilidade) e outra de infra<;:ao criminal (ofensa a lei penal). As infra<;:oes sao .aut6nomas e a natureza das san<;:6es aplicaveis diversa. A duplice pen a ad vern da natureza diferente de cada san<;:ao, conseqtiencia de dife- rentesilicitos. · . · . _ ccc:D:impeachment:e urn instrumento incorporado as pratjcas demo- craticas. Considerando que democr.acia nao .6, tao, so, a elei<;:iio, nem entrega ao eleito urn poder descompromissado, pode-se considerar que o impeachmenteumaatualiza<;:ao da democracia, que vern a constituir o Estado modemo, decorrencia muito propria da natureza das formas de- mocraticas, sempre em reconstru9ao, sempre em aprimoramento. 0 im- peachment consubstanciajuridicamente a icteia politica de que o gover- nante tern poder sob comprometimento, nao se lhe devendo suportar formas irresponsaveis de atua<;:ao, sob pena de se estar train do uma id6ia anterior, a·ideia de democracia, da qual o processo eleitoral e o proprio mandato do govemante sao instrumentos. "E democracia supoe a res- ponsabilidade dos que dirigem a coisa publica."11 191 BROSSARD, Paulo. 0 impeachment, op. cit., p. 139-140. ooJ 0 impeachment, op. cit, p. 71. '"' BROSSARD, Paulo. 0 impeachment, op. cit., p. 201. NO(:OES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DISPOSITIVOS DA LEI I 0.028/00 25 Apesar de algumas alteraqoes constitucionais no que se refere ao impeachment, tribunais e doutrina tern entendido que a Lei 1.079/50, em geral, foi recepcionada pela Constitui<;:iio FederaJI 2 Conforme Paulo Brossard, "o fato de a Camara, hoje, nao declarar a procedencia da acusa<;:i.io, mas de autorizar a instaura<;:ao do processo, nao elide, por si s6, as providencias marcadas na Lei 1.079; e claro que, sobre ela, prevalece a Constitui,ao no que dispuser em contnirio; se a, lei, fie] ao que prescrevia a Constitui,ao de 1946, dispunha que 'se da aprova<;:iio do parecer resultar a procedencia da acusa<;:ao, considerar-se- a decretada a acusa<;:ao pela Camara dos Deputados' (art. 23, § 1.0 ), a clausula hade ser !ida atraves da Constitui<;:ao, e em Iugar da acusa,ao decretada se !era ' ... autorizada a instaura<;:ao do processo .. .', sem que haja necessidade de alterar a lei, pois elaja foi alterada pela Constitui- <;:iio superveniente". '3 A Lei 1.079/50 deve sertida por revogada, enfim, apenas naquilo que colide com a CF. No plano formal, outra altera<;:ao· trazida pelo legislador da Lei 10.028/00 diz respeito a compethtcia. Passon aconstarno art. 41-A da Lei 1.079/50 determina<;:ao no senti do de que as a<;:oes penais emdecor- rencia da pratica dos crimes de responsabilidade previstos no art. 1 0 desta Lei devem ser processadas e julgadas deacordo como rito instituido pel a Lei 8.038, de 28 de maio de 1990, perrnitido 1! t0docidadao o ofe- __ recitnemJo·_ de :cteD:un~ia"~~a~-~~()cPOucas_ as peij}Iexidacles _que o. novo texto legal encerra. -- --------- - Primeiramente, se .for entendido que as condutas pre vistas no art. 1 0 da Lei 1.079/50 sao de carater penal ( e isso jii foi anteriormente afas- tado);tornacse absurdo permitir a todocidadao o oferecimento dade- nuncia, pois amplia o rol dos legitimados para propositura de a,ao pe- nal, em total afronta ao art. 129, I, da Constitui<;:ao, que estabelece a competencia privativa do Miuisterio Publico. Caso, entretanto, seja admitidainterpreta<;:iio no senti do de que a normae exclusivarnente de carater politico-administrativo, nao e conce- bivel que se tenha valido da expressao "a~ao penal" e que detem1ine que ,,,, E 0 caso de Cretella Junior, para quem "0 rito do impeachment e, hoje, aquele que a Constituiqao Federal ordena, nao tendo tido recepqao, neste particular, nem a Lei 1.079/50, nem a Lei !.579/52, a nao ser nas partes nao conflitantes com a Constitui9ao vigente". (Do impeachment no direito brasileiro, op. cit, p. 67). "" 0 impeachment, op. cit., p. 11. ~ "~ r- ~- ~- ; '- \ ', ( : ' ( / \.. 26 CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL se obede~a ao rito previsto na Lei 8.038/90, pois esta trata, com exclusi- vidade, de as:oes de competencia origimiria do Supremo Tribunal Fede- ral e do Superior Tribunal de Justiqa, nao incidindo sobre processos que contemplem ilfcitos polftico-administrativos. Urn ultimo reparo ao art. 41-A: sob que pretexto as condutas descritas no art. 10 daLei 1.079/50 (Capitulo VI- Crimes contra a Lei Or9amentaria) mereceriam ser apu- radas por meio da Lei 8.038/90, enquanto queaquelas alcan~adas nos outros sete capftulos se imporia o triimite pre vis to na propria Lei que as preve? Outro tema que comporta discus sao e o referente a retroatividade, ou nao, da LCRF no que tange as altera96es promovidas na Lei 1.079/ 50. Embora chame de crimes as condutas que descreve, em verdade, conforme ja mencionado, a Lei nao con tern nenhum tipo penaL As puni- q6es cominadas sao, todas, exclusivamente, de natureza polftico-admi- nistrativa. Nao sendo lei penal, em essencia, surgem duvidas a respeito da possfvel puni~ao de condutas ant;riores ao momentoem que a Lei entrou em :vigor .. _: ______ ~., __ :_:_-_ c:·_-::· · · -------- - ::.c:c=: _______ ::_:;:- A pC>ssibilidade de o agente politico vir a ser resporisabiliiadcl poi fatos que tenha praticado antes de se tomarem ilfcitos (ainda que so administrativocpolfticos) deve merecer censura.-Estar-se-ia dan do con- seqiiencias indevidas (que, no caso da Lei, sao gravfssimas) a condutas que; qliaiJ.do praticadas;eiam totalmente regulares ou pelo menos nao se achavam proibidas por lei especffica. Parece-nos correto, em conseqiien- cia, afirmar que o administrador nao pode ser responsabilizado nesses casos, seja a que titulo for. Entendimento contn'irio implicaria profunda e descabida intranqiiilidade para os gestores da coisa publica, na medida em que urn ato normal praticado no correr do desempenho de suas ativi- dades, no porvir, podeni ser considerado irregular ou ilegal. Nao e a isso que serve o direito. 0 risco que os agentes politicos de nfvel federal e estadual correm eo de serem condenadqs pelo Senado Federal (no caso do Presidente) ou pelaAssembleia Legislativa (em se tratando de Govemador) no pro- cesso administrativo que investiga a pratica (anterior a sua vigencia) de uma das novas condutas acrescentadas a Lei 1.079/50 e, buscando alte- ra9ao pela via judicial, nao obterem ex ito de causa, por en tender, 0 or- gao julgador, tal qual a instiincia polftica que os condenou, que, em se tratando de ilfcito de natureza polftico-administrativa, nada obsta venha a Lei a retroagir, alcan~ando os fatos praticados antes da sua vigencia. NO<;:OES GERAIS SOBRECADA UM DOS DISPOSITIVOS DA LEI 10.028/00 27 Nao e, entretanto, o que se espera que ocorra, vez que as garantias, sen- do materiais {como e o caso da que se analisa), passam a ter validade para os ilfcitos da natureza dos que sao contemplados na Lei 1.079/50. A Constituiqao preve; expressamente, a proibi~ao de a norma vir a retroagir, porem, refere-se, com exclusividade, a categoria penal (inc. XL, art. 5."). Estaria isso a significar que para os demais ilfcitos poderia alguem vir a ser responsabilizado por aquilo que era permitido ( ou pelo menos nao en( proibido) aotempo em que o praticou? Parece que esta interpreta~ao nao se encontra autorizada pela Constitui9ao, principal- mente porque ha, na Carta, preocupa~ao com as garantias de ordem material a serem respeitadas, inclusive, nos processos administrativos. Assim e que o inc. LV, art. 5.0 ,- assegura, mesmo em tais processos, o . contraditorio e a ampla defesa. Tendo em conta esta ultima determina- ~ao e que se deve interpretar a Constitui~ao no sentido garantista, isto e, deJa devemos extrair as implica~6es que mais se harmonizem com crite- rios de razoabilidade e justi9a. -·. ----. - - --~-- - .. Sen do assim, espera-se que nos nfveis estadual efederal, quando se cui dar, tam bern, de infra~ao polfticocadministrativa, nao venhaa Lei a ter nenhuma aplicabilidade em rela9ao aos casos ocorridos antes da sua vigencia. 4. Artigo 4.0 0 art. 1.0 do Decreto-lei 201, de 27 de fevereiro de 1967, passa a vigorar com a seguinte reda~ao: "Art. 1.0 [ ... ]" "XVI- deixar de ordenar a redu~ao do monrante da dfvida conso- lidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplica~ao do limite maximo fixado pelo Senado Federal;" (AC) "XVII - ordenar ou autorizar a abertura de credito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei or9amentaria ou na de credito adicional ou com inobservancia de prescri9ao legal;" (AC) "XVIII - deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei, o cancelamento, a amortiza~ao ou a constitui9ao de reserva para anular os efeitos de opera~ao de credito realizada com inobservancia de limite, condi9ao ou montante estabelecido em lei;" (AC) . ! :r " L.O LKJMt:S Ut: KC:)PONSABIUDADE FISCAL "XIX- deixar de promover ou de ordenar a liquida~ao integral de opera~ao de credito por antecipac;ao de receita orc;amentaria, inclusive os respectivos juros e demais encargos, ate o encerramento do exercicio financeiro;" (AC) "XX- ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realizac;ao de operac;ao de credito com qualquer um dos demais entes da Federa- c;ao, inclusive suas entidades da administra~ap indireta, ainda que na forma de nova~ao, refinanciamento ou postergac;ao de divida contraida anteriormente;" (AC) "XXI- cap tar recursos a titulo de antecipac;ao de receita de tributo ou contribuic;ao cujo fato gerador ainda nao tenha ocorrido;" (AC) "XXII- ordenar ou autorizar a destinac;ao de recursos provenien- tes da emissao de titulos para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou;" (AC) "XXIII- realizar ou receber transferencia voluntaria em desacor- d()~com limite-on condi~ao estabelecida em leL" (AC) "[ ... ]" No capitulo III seriio feitas anotac;6es as condutas que a Lei 10.028/00 agregou ao art.1.0 do Decreta-lei 201/67, e que foram acima transcritas. - - -:Encoiitra~seo cit<1do capitulo dividido em duas partes; t~l q~~~ ocorr~ nocaj)ftulo queo ar1tec;ede. Na primeira, serao feitas considerac;oes co- muns a todos os delitos; na segunda, serao elaborados comentarios es- pecificosacerca de cada urn deles. 5. Artigo S;" "Constitui infrac;ao administrativa contra as leis de finan~as pu- blicas:" "I- deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tri- bunal de Contas o relat6rio de gestao fiscal, nos prazos e condic;6es estabelecidos em lei;" "II propor lei de diretrizes or~amentarias anual que nao contenha as metas fiscais na forma da lei;" "III- deixar de expedir ato deterrninando limitac;ao de empenho e movimentac;ao financeira, nos casos e condi<;6es estabe!ecidos em lei;" NO<;OES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DlSPOSITIVOS DA LEI !0 028/00 29 "IV - deixar de ordenarou de promover, na forma e nos prazos da lei, a execuc;ao de medida para a reduc;ao do montante da despesa total com pessoal que houver excedido a reparti~ao por Poder do limite maximo." "§ 1." A infra<;ao prevista neste artigo e punida com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que !he der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoaL" "§ 2." A infra~ao a que se refere este artigo seniprocessada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalizac;ao contabil; financei- ra e orgarrieniiiria· da pes so a juridica de dire ito publico envolvida." 0 art. 5." da Lei 10.028/00 preve quatro infra~6es administrativas praticaveis contra as leis de financ;as publicas, com suas respectivas pu- nic;oes, bern como fixa a competencia para processa-las e julga-las. E no caput que se vao encontrar as condutas consideradas ificitas. Sao elas: , "I- deixar de divulgar ou de enviarao Poder Legislative e aoTri- bunalde Conias o relat6rio de gestao fiscal; nos prazos e condic;oes estabelecidos em lei;" ·A sec;ao IV da LRF, que disp6e sabre o relat6rio de gestao fiscal- RQF, in@a:se com a indica9ao d.o prazo em que ,;]e_ devera seremitido __ ecd~J)essOl(fqiieOiJeve@o-sugscrever:::- ~ ~---------_· · - "1:\Ji, 5<LAofiJ1aldecada_g_u_11drJIIl~Sl!eser<i_emitido pelos titulares dos Poderes e 6rgaos .referidos no art. 20 Relat6rio de Gestao Fiscal, assinadopelo:" _ __ ....... __ ... . "I - Chefe do Poder Executivo;" "II - Presidente e demais membros da Mesa Diretora ou 6rgao decis6rio equivalente, conforrne regimentos internos dos 6rgaos do Po- der Legislative;" · "III- Presidente de Tribunal e dem<jis membros de Conselho de Administra<;ao ou 6rgiio decis6rio equivalente, conforrne regimentos internos dos 6rgaos do Poder Judiciario;" "IV- Chefe do Ministerio Publico, da Uniao e dos Estados." "Paragrafo unico. 0 relat6rio tambem sera assinado pelas autori- dades responsaveis pela administra<_:ao financeira e pelo controle inter- no, bem como por outras definidas por ato proprio de cada Poder ou 6rgao referido no art. 20." ~ -~ ~. "' 30 CRIMES DE RESPONSABIL!DADE RSCAL No artigo seguinte, aLRF indica o conteudo indispensavel do RGF: comparative com os lirnites referidos na propria LRF; indicaqao das medidas corretivas, quando qualquer dos lirnites tenha sido ultrapassa- _ do; demonstratives, no_ ultimo quadrimestre, da disponibilidade de cai- xa em 31 de dezembro,da inscri<;ao em restos a pagar e do cumprimento dos prazos das antecipaqoes de receitas orqamentanas- AROs. Ainda de acordo como art. 54,§ 2.0 , "o relat6rio sera publicado ate trinta dias- ap6s o encerramento do perfodo a que corresponder, com amplo acesso ao publico, inclusive por meio eietr6nico", constituindo- se, assim, em importante instrumento para o acompanhamento eo con- trole da gestao fiscal e permitindo verificar se os limites e condiq6es estabelecidos peia LRF estiio sen do cumpridos. "II - propor lei de diretrizes orqamentarias annal que niio conte- nha as metas fiscais na forma da lei;" _ A competencia para e~tabelecer a Lei de Diretrizes OrqamenUirias - LDO, e do Poder!<;xecutivo (art.165, II, C_fl:_D_eacordo com o § 2.0 - __ + - clo niesm6-c-cii~<5srtivo -constitl.icioiiaf, den ire --;;utras incumbencias, a LDO - --- -~-· oriental-a a elaboraqiio da lei orqamentatia annaL - A LRF preve que o Projeto de Lei de diretrizes orqamentarias de- vera vir acompanhado do "Anexo de Metas Fiscais, em que serao esta- belecidas metas anuais, em valores correntes e· constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primario-e mbntin1te da dfvida publica, para o exercfcio a que se referirem e para os dois seguintes" (art. 4.0 , § 1.0 ). No mesmo artigo citado, em sen § 2.0 , sao estabelecidos os itens que obrigatoriamente deveriio constar do referido anexo, incluindo-se, dentre ontros, avaliaqiio do cumprimento das metas reiativas ao ano an- terior, demonstrativos das metas anuais, evolugao do patrim6nio lfqui- do e demonstrativo da estimativa e compensa<;iio da renuncia de receita. "III- deixar de expedir ato determinando limitaqao de empenho e movimentaqao financeira, nos casas e condi<;6es estabelecidos em lei;" A seqao IV, que trata da execugao orgamentaria e do cumprimento das metas, inserida no capitulo II, que aborda os aspectos sabre o plane- jamento, estabeiece, no sen art. 9.0 : "Art. 9.0 Se verificado, ao final de urn bimestre, que a realizaqao da receita podera nao comportar o cumprimento das metas de resultado primario ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Pode- NO<;:OES GERAIS SOBRE CADA UM DOS DISPOSITIVOS DA !Ell0.028100 31 res eo Ministerio PUblico promoverao, por ato proprio enos montantes necessaries, nos trinta dias subseqiientes, lirnita<;iio de empenho e movi- menta<;ao financeira, segundo os criterios fixados pela lei de diretrizes or<;amentanas." A limitaqiio do empenho passa a ser, portanto, obrigat6ria. A sua nao promoqao caracteriza o ilfcito politico~administrativo em comento. De acordo com AmirAntonio Khair, esta obrigatoriedade "pode constituir urn freio a execuqiio orqamentana. Tal fato reforqa ainda mais a necessidade de que a elaboraqao do Anexo de Metas Fiscais se proce- da de forma realista, calcada em dados bastante seguros, e a melhores planejamento e gestao das receitas" .14 ___ _ 0 contingenciamento da despesa eo corte linear das ernissoes sao ~~c·-"a.Iguns dosmecanismos decontengao de empenhos emitidos. "0 con- tingenciamento consiste no bloqueio efetuado pelo 6rgao que centraliza ~--·-·as--autorizaqoes·de emprenho em ·determinada(s)unidade(s) ou em ~deterrninada(s )-funqiio(oes ), ou,ainda, em deterrninado(s) elemento( s) 'c.''_7:':'.:cae'despesa(s)."15-0 corte linear, mais radical, atinge,:indistintamente, ;;,.c_c tnri-'s-os 6rgaosem deterririnado percentual de redugao. "IV - deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos prazos da lei, a execugao de medida para a reduqiio do montante da despesa ::C-:.::cctotalcom pessoal que houver excedido a repartigiio por Poder do limite A Lei de Responsabilidade Fiscal deterrnina: "Art. 23. Sea despesa total com pessoal, do Poder ou 6rgiio referi- do no art. 20, ultrapassar os lirnites definidos no mesmo artigo, sem prejufzo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente tera de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos urn ten;o no primeiro, adotando-se, entre outras, as providencias previstas nos §§ 39 e 4.0 do art. 169 da Constitui~ao." Os paragrafos do artigo transcrito mencionam situagoes por meio das quais se pode alcanqar a redugao da despesa com pessoal (§§ 1.0 e 2.0), bern como estabelecem as san~6es administrativas aplicaveis ao ente publico que nao promova a reduqao no prazo estabelecido (§§ 3.0 e 4.0 ). "" Lei de responsabilidadefiscal: guia de orienta,ao para prefeituras, op. cit., p. 25. ""CRUZ, Flavio da (coord.). Lei de responsabilidade fiscal comentada. Sao Paulo :Atlas, 2000, p. 49. " " JL CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL 0 dispositive constitucional mencionado no art. 23 da LRF autori- za a "reduqao em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissao e funqoes de confianga" (art. 169, § 3. 0 , I), bern como a "exonera9ao dos servidores nao estaveis" (§ 3.0 , II), como medidas ten- dentes a reduzir despesas excedentes com pessoal. Caso, entretanto, tais medidas nao sejam suficientes para se atingir os limites previstos para despesa com pessoal, o § 4. 0 preve a possibilidade de o servidorestavel vir a perder o cargo, desde que nas condi96es e restri96es estabelecidas no proprio dispositive. . A todas as infrag6es administrativas previstas no art. 5.0 , a LCRF preve a pena de multa: "§ 1.0 A infragao prevista nesteartigo e punida com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sen do o pagamento de multa de sua responsabilidade pessoal." A responsabilizagao, conforme ja mencionado naintrodugao, cons- titui urn dos eixos principais da LRF, ao ]ado do planejamento, da trans- parenciae do controle. A LRF, no entanto, trata apenas da responsabilizagao dos entes publicos, nada referindo sobre o agente publico violadorda norma. Mais do que isso, faz remissao, em seu art. 73; a outros dispositivos legais nos quais consta.a responsabiliza<;aq pessoal (em alguns casos penal, em outross61lcJ.Itlinistrativa).- ........ - - - ..... --~- =.:q > Diferentemente eo que ocorre e.mJylagi[Q ~-LCBJ'.l'!ela,juexiste qualquer previsao deresponsabilizagao ao ente estatal, prevendo-se, com exclusividade, a responsabilidade pessoal, seja pela pratica de condutas criinirJOsas, seja pela realiza9ao de a<;6es que constituam tao-somente ilicitos politico-administrativos. Rui Stoco chama a atengao para o fato de que houve urn exagero por parte do legislador, no que se refere a quantidade de punigoes a incidir sobre uma mesma conduta. Assim, "em decorrencia de urn mes- mo fato, o agente publico podera ser condenado criminalmente pela pra- tica de crime de responsabilidade fiscal e receber pena privativa de li- berdade ou multa, perder o cargo como pena acess6ria ou proibiqao do exercicio do cargo, funqao ou atividade publica, bern como de mandata eletivo, como interdiqao temporaria de direito. Podera, tambem, com base na L~;i de improbidade administrativa, ser sancionado com a perda dos bens oJl valores acrescidos ilicitamente ao seu patrim6nio; ressarci- mento integral do dano, quando houver; perda da fun<;ao publica; sus- NO<;:OES GERAIS SOBRECADA UM DOS DISPOS!TIVOS DA LEI !0.028100 33 pensao dos direitos politicos; pagamento de multa civil de ate tres vezes o valor do acrescimo patrimonial e proibiqao de contratar com o Poder Publico ou receber beneficios fiscais ou crediticios, direta ou indireta- mente, ainda que por intermedio de pessoa jurfdica da qual seja s6cio majoritirio. Podeni, ainda, ser punido pelo Tribunal de Contas com multa de 30% dos seus vencimentos anuais", 16 por forqa do artigo que ora se comenta. A fim de evitar uma puni~ao desll1edida, o an tor aconselha a que o Poder Judiciario impregne-se de comedimento na ocasiao em que for aplicar as sanqoes. As preocupaqiies, aqui, voltam-se para a aplicaqao dos princfpios da proporcionalidade e do non bis in idem. 0 primeiro quando aplicado as questoes de cunho sancionat6rio exige uma corres- pondencia entre a gravidade do fato e a gravidade da pena; o segundo proibe que se puna duplamente uma mesma agao. Acrescente-se, ainda, que o julgador ha que ter presentes os dispositivos relatives ao conflito aparente de normas, buscando, por meio dos principios que instruem esta_ materia (especialidade, subsidiariedadee consu!lq~o), a forma mais correta de chegar a uma justa puni<;ao. . . - .. A sanqao administrativa pre vista no dispositivocomentado- mul- ta-, caso nao honrada, devera serinscrita em divida ativa e executada pela Procuradoria-G_e~aJ~d()E~ta,d(), nos(!'n.nos.da.Lei 6.830_de.22 de setembro~de~l980 (dispoesobre acobrangajudicialda:divida ativa da fazenda publicae da outras providef1_ci_as}_:____ . - - ----------- ~- - ----- . Acompetenciapara processar e julgar acusados da pratica de quais- quer das condutas encontra-se prevista no panigrafo seguinte: "§ 2.0 A infraqao a que se refere este artigo sera process ada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalizaqao contabil, financei- ra e orqamentaria da pessoajuridica de direito publico envolvida." E obrigaqao daquele que gere o dinheiro publico ou os interesses da comunidade prestar contas de seus atos administrativos ao 6rgao competente para a fiscaliza~ao apropriada. Este controle e realizado pel a Cas a Legislativa de cada entidade estatal, por meio do Tribunal de Con- tas competente, o qual auxilia o controle externo da administra~ao fi- nanceira. '"' Improbidade administrativa e os crimes de responsabilidade fiscal Boletim IBCcrim. 99, fev./01, p. 4. ~ "~ /~ ~. ., ~- ~ 34 CRIMES DE RESPONSABILJDADE FISCAL As infra~oes ao art. 5.0 da Lei 10.028/00 implicarao a responsabi- lidade pessoal do gestor publico, nos termos do panigrafo anterior, e serao processadas e julgadas pela Corte de Contas. 6. Artigo 6. 0 "Esta Lei entra em vigor na data de sua publica9ao." A Lei encontra-se datada de 19 de maio. Sua publica<;ao, porem, den-se somente no dia seguinte, sendo, portanto, o dia 20 de maio o do inicio da sua vigencia. Com tudo o que acaba de ser exposto pretendeu-se apresentar, ain- da que singelamente, os dispositivos constantes na Lei 10.028/00. Doravante, considerando o escopo inicia!mente tragado, somente aspectos crirfiil1ais e que digam respeito as finan9as publicas (capitulo II) ou a crimes de responsabilidade fiscal de prefeitos. ( capftulo ill) e que serao · anaJis·ados-:--·c: ---·-c · c• N'e;te'traoaJJio"preteildt;hiO:s i~~eritar· ~-~Iiera95es cte. ~atureza penal advindas da LCRF, sem deixai- de verificar as conseqiiencias de: correntes· da falta de atualiza9ao legislativa nos documentos que sofre- ram modifica96es, a fim de torna"los compativeis com a Carta. E por essa razao que temascomo a constitucionalidade do Decreta-lei 201/67, vigencia depenas·acessorias; natureza dos crimes de responsabilidade; dentre outros, seriio abordados, buscando-se resgatar, aiuda que muito modestamente, tanto na doutrina quanta na jurisprudencia, as discus- s6es em torno dessas materias. Capitulo ll CRIMES CONTRA. AS FINAN(:AS PUBLICAS (ART. 2.0 DA LEI 10.028/00) SUMARl:O: 1. Quest5es comuns aos novos tipos penais: 1.1 Bern juri- dice; 1.2 Requisito subjetivo; 1.3 Sujeito ativo e sujeito passivo; 1.4 Lei penal em branco; I5Retroatividade da Lei; I .6 Suspensiio condicional · do processo; 1.7 Penas altemativas- 2. Analise de cada urri dos tipos penais: 2: I Contrata>iiode operaqa6de credito; 2.2 Inscri>iio de despe. _ _ sas n~o emperihadaS e;, ~estos'a pagar; 2.3 Assun<;ao de obriga<;ao no _ •- ~:[.S::l~_:::~-_:::: ::':.::: • ultimo_ ano do ma~da:~~ ~u legislat~ra;_ 2.4_ Ordena>a~ de_despesa n1i9 -- ··---· autonzada; 2.5 Prestaqao de garant~a·gracJOsa;-2.6 Nao cancelamento de restos a pagar; 2.7 Aumento de despesa total com pessoal no ultimo ano do mandata oulegislatura; 2.8 Oferta publica ou colocaqaode titu- los no mercado. A Lei Complementar 101/00 busca, principalmente, resgatar a res- ponsabilidade na gestao fiscal, conforme se de preen de de seu art. 1.0 , in verbis: "Esta Lei Complementar estabelece norrnas voltadas para a res- ponsabilidade na gestao fiscal, com amparo no Capitulo IT do Titulo VI da Constitui91io:" · E o pariigrafo unico do mesmo artigo refor9a o entendimento: "A responsabilidade na gestao fiscal pressupoe a agao planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de alterar o equilfbrio das contas publicas, mediante o cumprimento de metas e resultados entre receitas e despesas e a obediencia a limites e condi- 96es no que tange a renuncia de receita, gerw;ao de despesas com pes- soal, da seguridade social e outras, dividas conso!idada e mobiliiiria, opera96es de credito, inclusive por antecipa9ao de receita, concessao.de garantia e inscri9ao em Restos a Pagar." I I i ' i ~; ;; " .. I t E I. I 1t 1 ~ i j; il j\ II• i'' li! ,,, ; ... ·~· i ·i·' ! ~· ' r '' ,, ·c t I I I jtJ CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL Dessa mesma preocupa9ao reveste-se a Lei 10.028/00. 1 E por is so que o legislador, quando acrescentou todo urn novo capituloao Estatuto repressive, buscando dar efetividade a LRF, tutela, de forma preponde- rante, conforme se vera, quando se tratar do bern jurfdico em cada urn dos tipos penais, o equilibria das contas publicas (arts. 359-B, 359-E, 359-F, 359-G). Em urn segundo plano aparece o controle legisla[ivo do on;amento e das contas publicas (arts. 359-A,359-D e 359-H). Aqui, caminhando no mesmo sentido, prestigia-se o controle legislative, para obter mais equilibrio nas contas pUblicas. Para alem de toda a preocupa9ao declarada, os novos dispositivos penais auxiliam a que seja implementado urn desenvolvimento propor- cional, urn compromisso entre despesa e receita, uma destina9ao mais adequada aodinheiro publico, evitando que o uso impr6prio dessas ver- bas traga, como costumeiramente trouxe, tantos custos para o pais. L Questoes comunsaos noyQs tipos penais, . 1.1 Bemjurfdico Ha uma impressao inicial de que o bern jurfdico tutelado nesses tiposseria as finanfaspLiblicas. Mas isso,entretanto, seria muito gene~ rico e inapre:iiisivel:-=o legisladot~"6m alguns cas6s, na sua tarefa de . descrever a conduta criminalizada, cuidou de especifica-lo·mais detida- mente. No extremo inverso, em outros, embaralhou apossibilidade de se faze-lo devidamente. Houve momentos em que sinalizou com a exis- tencia de bemjurfdico diverso daquele que da origem ao titulo do capi- tulo (jinanr;as publicas). A correta especificagao do bern juridico tutela do pela norma penal tern adquirido, nos Ultimos tempos, grau elevado de importancia. Isso decorre, principalmente, do fato de que a puni9ao de uma conduta nao mais se exaure na n:iera subsun9ao do comportamento a descrigao tfpica - na tipicidade formal (que s6 significa antinormatividade). Exige-se mais: que a conduta ofenda (lesione ou exponha a concreto peri go) o bern jurfdico protegido pela norma (leia-se: que seja materia/mente antijurfdica). Dessa forma, a fim de que se constate, em cada caso con- '" Ver exposiqao de motives da Lei I 0.028/00- anexo 1. CRIMES CONTRA AS FINAN<;:AS. PUBLICAS 37 creto, a existencia da lesao ( ou do peri go concreto de lesao ), faz-se ne- cessaria identificar com clareza o exato bern juridico protegido2 So- mente a partir daf e que se pode concluir pel a existencia ( ou nao) de lesao (ou perigo concreto) que a conduta tenha ocasionado. Em outras palavras, o moderno enfoque constitucional do Direito penal nao autoriza que o tipo penal continue sen do encarado como mera subsunqao formal da conduta a descri9iio legal.3 Esse prismaformalista do Direito penal (que vern do positivisino de Binding e de Rocco, sobre- tudo) esta com sua validade expirada. Tampouco o delito se esgota no mero desvalor da' m;iio ou da conduta ( conforme a cren9a dos finalistas, a come9ar por Welzel). Nem significa pura frustragao das expectativas sociais (consoante o funcionalismo de Jakobs). 0 crime, em sentido material e constitucional, exige sempre urn resultado jurfdico (lesao ou perigo concreto de lesao ao bern juridico ); 0 que mais importa para a moderna ciencia penal, portanto, e esse conceito material de crime. 0 sentido ultimo desses crimes muito provavelmente poderia ser resumido em duas afirmagoes (ou admoestaqoes ao administrador pu- blico): 1.•) e proibido gastar mais do que se arrecada; 2.') e proibido comprometer o orqamento rnais do que esta permitidQ pelo (controle do) poder legislativo. · · · .. ·. . 1 c:c:=:c L4 R(;quiifiosubjetivo --- -- Taml5eiriecomuma todas as condutas induid~s n~-C6digo Penal a exigencia, como elemento subjetivo, do dolo. Nao existe previsao da forma culposa. No modein6 Direito pe!lal duas especies de imputagoes sao fundamentais: a objetiva e a subjetiva. A primeira vincula o resulta- do juridico como ambito do risco proibido criado pela conduta do agen- te. A segnnda, que mais propriamente deveria chamar-se imputagao sub- jetivo-normativa, vincula o agente com o seu fato, que deve ser expres- sado como "obra sua" (responsabilidadeindividual), seja na forma dolosa, seja na forma imprudente (culposa). No que concerne aos delitos que Vamos estudar logo abaixo a unica forma de imputaqao concebida pelo legislador foi a dolosa. "' ]\1JR PillG, Santiag~~ Derecho penal. 5. ed. Barcelona: PPU, 1998, p. 133 e ss. "' GOMES, Luiz Fh\vio. Teoria constitucional do deli to no limiar do 3.0 milenio. Boletim IBCCrim 93, ano 8, agoJOO, p. 3. ~. /" .-~ r' ~ ,, ~ /' ~ ·,___ l \_ \_ '-- ·~ \_ f"- ' '-- ·, \_ ( \_ . \ ( ( ' \_ I \_ \ ( ( ( • r ( ( ( ( ( ( ( 38 CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL 1.3 Sujeito ativo e sujeito passivo Oito foram as novas condutas acrescentadas ao C6digo Penal e agrupadas no Titulo tambem criado, pela Lei. Todas elas tern, basica- mente, os mesmos sujeitos ativos e passivos. Os crimes previstos sao pr6prios, exigindo uma especial qualidade do sujeito ativo, no caso, ser funcionfuio publico. E a propria lei penal que fornece o conceito legal de funcionario publico (art. 327 do C6digo Penal): "Considera-se funcionario publico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunera9ao, exerce cargo, emprego ou ful19ao publica". 0 C6digo Penal, portanto, adota a expressao no sentido mais amplo possivel, correspondendo ao conceito doutrinario na esfera admiriistrativa de agente publico.• · · . No queserefere ao sujeito passivo aparece erll primeiro Iugar a administra9ao publica. De forma indireta pode, tambem, vir a atingir outras vftimas.- · · ··-·--· ·- ~-----------~---------- --- - ------- IA l,eipenaleiif8raizcoc . -~--,~ -- -- -- ------ Leis pen'ais ein branco (Blankettstrafgesetze, na termino!ogia de Binding) sao as leis que necessitam de urn complemento normativo para exprimirem a integralidade .da cond11ta proibida. Sao leis que deixam de expressar, total on parcialmente, o fato incriminado e que fazem-remis' sao (explfcita ou implicita) a outras disposi96es, que devem cobrir o vazio deixadopelo diploma legal principal. Dividem-seasieis penais em branco em duas especies: em sentido amplo (quando o complemento esta na mesma lei ou pro vern da mesma instil.I1cia legislativa- ex.: art. 359-A, I e I!, como se vera em seguida) e em senti do estrito (quando o complemento ad vern de uma instilncia nor- mativadistinta- ex.: arts. 12 e 16 da Lei de T6xicos). Com freqiiencia a realidade e a prudencia exigem flexibiliza96es na reda9ao e formula9ao dos tipos penais. A doutrina moderna salienta que, desde que respeitados certos Iimites, a tecnica das leis penais em (-t) 0 § 1.0 do citado dispositive penal equipara "a funciomlrios pdblicos quem exerce cargo, emprego ou fun<;iio em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de servi90 contratada ou conveniada para a execu9ao de atividade tipica da Administra>lio Publica" ( conforme a nova reda,ao dada pel a Lei 9.983/00). CRIMES CONTRA AS FINAN<;:AS PUBLICAS 39 bran co constitui urna formula imprescindivel de abertura e coordena9ao do Direito penal com outros distintos setores e subsistemas do ordena- mento juridico5 Nao sao poucos os tipos penais nos crimes contra as finan9as publi- cas que assumiram a recnica das leis penais em branco. 0 art. 359-A, I, por exemplo, diz: "Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou re3liza opera9ao de credito, interno ou extemo:. I- com inobservancia de limite, condi9ao ou rnontante estabelecido em lei ori em resolu9ao do Senado Federal". 0 inc. II do mesmo dispositivo proclama: II- quando o montante da di vida consolidada ultrapassa o limite maximo autoriza- . do por lei. Em ambos os·incisos temos exemplos de lei penal em branco em sentido amplo: sao leis penais em branco porque a descri9ao do proibi- , ·-""'.do depende de urn complemento normative; sao em senti do amplo por- Te"~' ,- que ocomplemento normativo pro vern da mesma instancia legislativa. . ~- ..... ~. - 0 ultimoincisoCitad<i_(II)Jl()§$fl11ite, cl~_:ot!liQJado,ainda_que. ~:' ·:::£ ~rt1uito sup-erij~ialiiieht~; r~~arcaranftida diferen9a eritre ·lei penal em --'+c7iiS-: - bralu::oeteijitfsito noriniliivoiiiitijjii'. 0 referid() inCiso mencloria ''mori- tante da divida consolidada": divida consolidada e urll requisito norma- ----i':··;_ -.• ::;.=.:.- . tivo do tlpoporque depende de urn complementar juizo de valor. Que se en ten de p(lr ''dfyida con_solidada':?,Ca.bera aointerprete ( e aojuiz) dar o selltido dessa locu9ao, valendo-se-de outros conceitos normativos:-De qualquer modo,· esse· montante nao pode u!trapassar o limite maximo . . . autorizado por lei (nesse passo o tipo penal exprime uma lei penal em branco porque necessita-se de uma lei que estabele9a o limite maximo que nao pode ser superado). I.S Retroatividade daLei No atinente as altera96es produzidas no C6digo Penal, nao ha ne- nhuma duvida de que a possibilidade de a Lei retroagirinexiste, pois se esta diante de ilicitos penais. As normas penais s6 retroagem para bene- ficiar o reu (art. XL da CF e art. 1.0 do C6digo Penal) - o que nao e o caso, pois trata-se, aqui, de criminaliza9ao de condutas que, antes, quando muito, eram tidas como ilicitos administrativos. "' GARCIA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Derecho penal: Intro.ducci6n. 2. ed. Madrid' Universidad Complutense de Madrid, 2000, P- 257. !' ------- -- ·-· ·-·~·~· ........... • ...,.._n.~ 1.6 Suspensao condiciona/ do processo Todos os delitos introduzidos no C6digo Penal pelo art. 2. 0 da Lei 10.028/00 admitem a suspensao condicional do processo prevista na Lei 9.099/95 (art. 89) porque suas penas mfnimas nao ultrapassam o limite de urn ano. Nao importa que esses delitos tenham sido criados por uma lei especial. Aliiis, nem sequer quando os delitos acham-se contem- plados exclusivamente em lei especial ha impedimenta para a suspen- sao condicional do processo. Considerando-se que o referido art. 2.0 acabou agregando ao C6digo Penal novas de!itos, indiscutfvel o cabi- mento da suspensao, desde que preenchidos todos os seus requisitos legais (que sao objetivos e subjetivos). 1. 7 Penas a/ternativas Indiscutivel tam bern a possibilidade, em tese, de aplicac;:ao das pe- nas alternativas, isto e, substitutivas, previstas nos arts. 43 e ss. do CP (corn redac;:ao dada pela Lei 9.714/98). No que concerne aos delitos dolosos, como e sabido, impos o legislador duas restric;:oes: (a) crimes violentos (cometidos com vioH\ncia ou grave ameac;:a a pessoa); (b)cri- mes cuja penaaplicada nao ex cede a quatro anos. Os delitos contra as financ;:asp~blicas nao sao violentos obviamente. Sendo assim, desde que a pena aplicada. niio excedii ll quatro anos e passive! a substituic;:ao d<\ pen a deprisaopi:laspenasresfritivas-oumulta;·desdeque preenchi- · dosos demaisrequisitos subjetivos: · 2. Analise de cada urn dos tipos penais 0 art. 2.0 da LCRF criou urn novo capitulo ao C6digo Penal (Dos crimes contra as financ;:as publicas), e nele fez inserir oito tipos penais, os quais serao a seguir analisados: 2.1 Contratarao de operarao de credito "Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operac;:ao de credito, interno ou externo, sem previa autorizac;:ao legislativa:" (AC) "Pena- reclusao, de 1 (urn) a 2 (dais) anos." (AC) As normas gerais para contratac;:ao de operac;:oes de credito encon- tram-se previstas nos arts. 32 a 39 da LRF. 0 conceito deste tipo de operac;:ao pode ser encontrado no inc. III do art. 29 da mesma Lei: CRIMES CONTRA AS FINAN(:AS PUBLICAS 41 "Art. 29. ( ... )" "III- operac;:ao de credito: compromisso financeiro assumido em razao de mutua, abertura de credito, emissao e aceite de titulo, aquisi- c;:ao financiada de bens, recebimento antecipado de val ores provenientes da venda a termo de bens e servic;:os, arrendamento mercantil e outras operac;:6es assemelhadas, inclusive como uso de derivativos financeiros;" A conduta tipica prevista no art. 359-A e ordenar, autorizar ou rea- lizar operaqao de credito sem autorizac;:ao legislativa. Nao obstante a falta de unicidade doutrinaria em direito financeiro relativamente a ma- teria, no senti do de que os emprestimos de veri am estar contemplados ou a titulo de receita ou a titulo de despesa, o fato eque durante a execuc;:ao or<;amentaria, em func;:ao do fluxo de caixa, eventualmente, h<i necessi- dade de tal contratac;:ao. Conquanto implique incremento de receita, a administrac;:ao publica acaba, nomina!mente, pagando alem do efetiva- mente recebido, razao pela qual, para fins de classificac;:ao e efeitos de interpreta<;ao do tipo penal e de sua objetividade juridica, o emprestimo deve ser conslderado como despesa publica;Sendo assim, M de. ser efe- tuado de ·acordo com as leis or<;amentarias e com a LRF, cuja execuc;:ao se fara, estritamente, segundo as discriminac;:oes respectivas. Conseqtientemente, na esteira das determinac;:(ies constitucionais e daLRF, toda opera.;aode credito, internaou extema;deveser pry_Cedida de~autoriza<;aolegislativa {e _quando:se:tratai:~de::opera<;iio•de credito externo, nos termos do inc. IV do§ 1.0 doart.,32 daLRF, fazcse n.eces- saria imtorizac;:ao especifica doSenado Federal). · ·· . E pressuposto, portanto, que exista lei ·aii resolzirao do Senado Federal, exclnindo~se decretos ou quaisquer outros atos administrati- vos, que regulamente e determine os limites, condic;:oes e montante da divida consolidada. A primeira conduta tipificada (art. 359-A) caracteriza-se por criminalizar violac;:ao a uma outra norina que determine a obrigatorieda- de de autorizac;:ao legislativa para o ato que descreve ("Ordenar, autori- zar ou realizar opera<;iio de credito, interno ou extern a, sem previa auto- rizarao legis/ativa"- grifou-se). A dificuldade de se estabelecer o bem jurfdico tutelado no tipo penal referido decorre do fato de que a Lei trata de incriminar a conduta sem especificar a lesao 'que deJa possa advir. Descreve, tao-s6, a a<;iio e o requisito norrnativo pertinente a previa autorizac;:ao legislativa. Isso permitiria, a primeira vista, afirmar, segundo os parametros do velho ~. -~ -~ ~. ., ~ ., ~ ~ ~ ' -~ ~ ~ ' "' ' "' 42 CRIMES DE RESPONSAB!LIDADE FISCAL Direito penal formalista, tratar-se de urn crime de mera conduta. No entanto, ja niio e aceitavel conceber a existencia de delito sem que haja a produ9ao de urn resultadojurfdico (CP, art. 13, que exige resultado em todo delito), justamente porque nenhum crime pode exaurir-se no sim- ples desvalor da ar;iio. · A interpreta9iio possfvel (e necessaria), neste caso, a fim de que a descri9iio legal possa adquirir status de crime (em sentido material), exige algo mais que a realiza9ao da conduta sem a devida autoriza9ao legislativa. A probidade administrativa ja foi apontada como o bern jurfdico protegido pela norma penal em destaque.6 Ocorre que a inexistencia de autoriza9ao legislativa, por si, nao significa que o ato reveste-se de impro- bidade. Ele nao e regular, isso sim, pois carece de requisite que a Lei exige. Mas pode riao configurar' hip6tese de improbidade, porque se poderia estar diantede uma sitila9ao em que tanto o ato de ordenar quanto odeaurorizar:ou·o~defealiiar cipeii9ao -de creilito intemo ou·extemo - esteja: devidamente planejado eriaocvenhaca-afetar o ·equilfbrio or9anieri~ -tario·oudas tontas pubJicas:O qiiejusiificaria; entao,'apl1niyaO, jaque nao se terri uin ato que resulte em improbidade administrativa?7 0 tipo penal em questao, segundo essa perspectiva, visa a: impedir o arbftrio administrativo perpetradoquando da contrata9iio
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