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4 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS Profa. Dra. Graziela Zamponi TURMA: EA, EQ, EB, EP TÓPICO 2 2 RESUMO 2.1 Resumo (de um texto de outro autor) Primeiramente justifico a inserção desse tópico no programa de Leitura e Produção do Texto Acadêmico. O resumo é importante nas atividades acadêmicas das mais diversas disciplinas, sendo exigido para a produção de resenhas e relatórios, como veremos ainda neste curso. Portanto, a produção de resumos é atividade indispensável para você, aluno do curso de engenharia. Estudiosos do assunto têm afirmado que o processo de resumir está diretamente relacionado à capacidade de compreensão do texto. Poderíamos até afirmar que só se resume o que se compreende e só se compreende o que se pode resumir. Em situação normal de leitura, e com compreensão, ocorre um processo de redução da informação através do qual o leitor constrói uma espécie de resumo do texto, selecionando as informações básicas e eliminando as acessórias. Isso você comprova em situações corriqueiras que certamente já vivenciou. Por exemplo, após a leitura de um texto, por mais curto que seja, você é capaz de se lembrar das idéias mais importantes e não das palavras, orações e períodos que o compõem. Esse é um processo de redução que fazemos praticamente sem muito esforço. Resumir um texto significa criar um novo texto mais curto, utilizando as informações mais importantes do texto original. É claro que esse processo envolve uma intervenção direta do leitor no texto de partida, principalmente se considerarmos que “as informações mais importantes” podem variar dependendo do objetivo da realização da tarefa de resumir. Na atividade de resumir, o autor (= o que resume) deve-se colocar em segundo plano, esforçando-se para ser objetivo1, no intuito de criar uma síntese coerente e compreensível, o mais próximo possível da intenção comunicativa do autor do texto original. Isso é, com certeza, mais desejável se se trata de um resumo de texto científico. Mas essa não é uma tarefa fácil. Existem resumos de variada extensão, assim como resumos mais próximos ou mais distantes do texto original. Essas variações se devem ao propósito da leitura, à intenção do autor, ao tipo de situação em que se processa a leitura, ao tipo de contexto social e ao conjunto de conhecimentos que o leitor traz para o texto, incluindo-se aí seu conhecimento linguístico, enciclopédico, genérico (dos gêneros discursivos), além de suas crenças e valores. A influência desse conhecimento prévio do leitor sobre a compreensão e, portanto, sobre a produção do resumo, explica por que, em determinadas circunstâncias, somos incapazes de reduzir a informação de um texto, quando não temos o conhecimento prévio necessário. Por exemplo, tomemos a seguinte sequência: Maria saiu de casa, dirigiu-se à Liberdade, entrou na primeira porta que encontrou, tirou os sapatos, sentou-se no chão ao lado da mesa e pediu peixe cru. Se o leitor não souber que Liberdade é um bairro da cidade de São Paulo, habitado principalmente por japoneses, e não conhecer as características particulares de um restaurante japonês, ele será totalmente incapaz de efetuar a seguinte redução possível: Maria foi comer em um restaurante japonês. Considerando essas observações, temos de concordar que a produção de resumo não é um processo homogêneo. Mas temos de alertar que ela também não é um processo anárquico, pois existe no texto um conjunto de pistas deixadas pelo autor, que o leitor tem necessidade de identificar, principalmente 1E nisso o resumo se diferencia da resenha, que, apresentando as informações selecionadas do texto de origem, traz o comentário ou avaliação de quem a produz. 5 no contexto da leitura escolar, a fim de poder distinguir aquilo que o autor considera como relevante daquilo que ele mesmo, leitor, considera como importante. Nesses anos de docência, pudemos perceber que, em geral, o aluno, quando voltado à atividade de resumir, lê o texto parágrafo por parágrafo, prestando mais atenção às relações locais entre as idéias do que ao todo do texto. A redação do resumo é geralmente iniciada antes da leitura do texto inteiro, já que se faz a cada parágrafo, refletindo fielmente a estrutura do texto original. Nem sempre desse procedimento resulta um bom resumo. RESUMIR NÃO É COPIAR FRASES DO TEXTO ORIGINAL, SEM ASPAS, EM UM APARENTE TRABALHO DE REDAÇÃO. A seguir, damos algumas orientações importantes para que você produza um bom resumo. 1. Leia o texto integralmente (mais de uma vez, se necessário). 2. Estabeleça o tema. 3. Estabeleça os diferentes aspectos do tema (embora não necessariamente, esses aspectos podem estar focalizados em diferentes parágrafos). 4. Estabeleça o objetivo do seu resumo: qual a finalidade dele? 5. Antes de iniciar, organize um roteiro com as idéias e a ordem em que elas serão apresentadas. Estabeleça um plano para o texto. Só escreve com clareza quem tem as idéias claras na mente. 6. Trabalhe com um dicionário e uma gramática ao seu lado e não hesite em consultá-los sempre que surgirem dúvidas. ♦ Resumo: um primeiro contato Texto A publicidade e a indústria do fumo Ronaldo Laranjeira* O objetivo da indústria do fumo, como o de qualquer empresa, é maximizar as vendas e os lucros. Isso requer que sua atenção seja focalizada não somente em manter as vendas existentes, mas em ampliar as vendas para novos consumidores. Entretanto, esta indústria enfrenta um desafio único que não ocorre com outras áreas do comércio. O produto, quando usado, encurta a vida de cerca de 50% de seus consumidores e, por isso, tem sido rejeitado pela absoluta maioria dos países desenvolvidos, bem como pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que consideram o fumo a principal causa de morte que pode ser prevenida nesses países. Uma forma desta indústria compensar essas “dificuldades” tem sido investir enormes somas de dinheiro em publicidade. Usam-se vários argumentos para justificar esses dinheiros gastos. Alegam que nos países que tentaram proibir a propaganda isso não diminui o consumo. Alegam também que os bilhões de dólares gastos em campanhas publicitárias têm o objetivo de fazer com que os fumantes mudem a sua marca preferida e não o de induzir os jovens a iniciarem a dependência da nicotina. E como último reduto usam o argumento do liberalismo econômico para defender o seu direito de divulgar o seu produto. Em primeiro lugar, a proibição da propaganda efetivamente diminui o consumo. Países que tiveram essa proibição e fizeram estudos detalhados, como a Nova Zelândia, o Canadá, e a Finlândia, mostraram que o consumo decresceu de 4% a 7% no primeiro ano. Nos 22 países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com diferentes formas de proibição, tem sido possível mostrar que quanto maior a proibição da propaganda menor o consumo de cigarros. Em segundo lugar, a propaganda praticamente não altera o comportamento de quem fuma. Existe uma lealdade muito grande ao tipo de cigarro fumado, e somente 10% mudam de marca de cigarro em um ano. Em terceiro lugar, a análise da propaganda de cigarros mostra o objetivo claro de aliciar os jovens a iniciarem o hábito. O Surgeon General, dos Estados Unidos, num relatório recente mostrou de uma forma muito clara que a propaganda 6 aumenta o uso de cigarro entre os jovens. Por ano a indústria do fumo necessita acrescentar milhares de novos fumantes para compensar aqueles que param de fumar ou morrem, e esses números devem ser enfatizados. No Brasil, cerca de 200 mil pessoas ao ano têm sua vida reduzida pelo fumo. [...] Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra e um dos coordenadores da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da UNIFESP(Universidade Federal de São Paulo) Exercícios 1. Leia os três resumos que seguem e escolha o que lhe parece melhor. Resumo 1 Ronaldo Laranjeira, em seu texto A publicidade e a indústria do fumo, afirma que, contrariamente ao que alega a indústria de tabaco, a proibição da propaganda de cigarro diminui o consumo do produto e alicia os jovens a adquirirem o hábito de fumar. Resumo 2 Em seu texto A publicidade e a indústria do fumo, Ronaldo Laranjeira defende a tese de que a publicidade de cigarro deve ser proibida. O autor rebate as alegações apresentadas pela indústria de cigarro para justificar os investimentos feitos nessa área, sustentando-se em dois argumentos. Em primeiro lugar, o médico apresenta dados, oriundos de estudos realizados em países desenvolvidos, que mostram que quanto maior a proibição da propaganda, menor o consumo de cigarro. Em segundo lugar, também com base em dados, ele afirma que a propaganda, em vez de levar o fumante a mudar de marca, incentiva os jovens a adquirirem o hábito de fumar, o que compensaria a perda de consumidores. Laranjeira não apresenta contra-argumento para a alegação da indústria, que, em nome do liberalismo econômico, invoca o direito de divulgar seu produto. Resumo 3 Ele afirma que o objetivo da indústria do fumo é maximizar as vendas e os lucros, mas seu produto é rejeitado. A vida de 50% dos consumidores de cigarro é encurtada e, por isso, a indústria investe milhares de dólares em propaganda. Nos países em que foi proibida a propaganda, o consumo decresceu de 4% a 7%; por isso, a propaganda de cigarro é proibida no Brasil.Além disso, apenas 10% dos fumantes mudam a marca, o que seria um dos argumentos da indústria que investe em propaganda. O verdadeiro motivo da propaganda de cigarro é repor os fumantes que morrem ou param de fumar, diz o autor. 2. Assinale as alternativas que justifiquem a escolha do melhor resumo dentre os três que foram dados. (Este exercício foi emprestado de MACHADO, A.R (coord.); LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L. S. Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.) a) correção gramatical e léxico adequado à situação escolar/acadêmica; b) seleção das informações consideradas importantes pelo leitor e autor do resumo; c) seleção das informações colocadas como as mais importantes no texto original; d) indicação de dados sobre o texto resumido, no mínimo autor e título; e) o resumo permite que o professor avalie a compreensão do texto lido, incluindo a compreensão global, o desenvolvimento das ideias do texto e articulação entre elas; f) apresentação das ideias principais do texto e de suas relações; g) comentários pessoais misturados às ideias do texto; h) menção do autor do texto original em diferentes partes do resumo e de formas diferentes; i) menção de diferentes ações do autor do texto original (o autor questiona, debate, explica...); j) texto compreensível por si mesmo; k) cópia de trechos do texto original sem guardar as relações estabelecidas pelo autor ou com relações diferentes. 7 2.1.1 ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE RESUMOS 1. Apagamento ou cancelamento de informações. Quando resume um texto, normalmente você sublinha alguns conteúdos que acha mais importantes. Isso sinaliza que aquilo que você não sublinhou é um conteúdo que pode ser descartado. Nesse caso, você está empregando uma regra de cópia-apagamento ou cópia-cancelamento. Por cópia entendemos o que deve ser mantido; por apagamento, o que deve ser eliminado. Assim, é possível cancelar as palavras e segmentos que se referem a detalhes, quando não necessários à compreensão de outras partes do texto. Que elementos poderiam ser considerados “não necessários”? • Conteúdos irrelevantes- um conteúdo não contém nenhuma informação necessária para a compreensão de outros conteúdos e não é central para o desenvolvimento do tema. • Conteúdos redundantes – um conteúdo contém uma informação equivalente à de outro. Assim, de maneira geral, podemos cancelar • conteúdos facilmente inferíveis (a partir do nosso conhecimento de mundo); • expressões equivalentes (sinônimos); • explicações e justificativas; • exemplos; • conteúdos equivalentes (como na paráfrase, por exemplo). Com essa regra, as informações irrelevantes canceladas se perdem definitivamente; as redundantes, só parcialmente. Leia o excerto abaixo e, com base nessa orientação, aponte os conteúdos que você eliminaria. Publicidade: alguns conceitos Inicialmente, é importante registrar o uso de dois termos – Publicidade e Propaganda –, que, apesar dos pontos distintivos, freqüentemente são usados como sinônimos. Em função disso, torna-se necessário retomar tais pontos para que fique clara a finalidade de uma e de outra. O ponto convergente entre os dois termos, de onde nasce a possibilidade de sinonímia, reside no fator ‘divulgação’, incluindo-se aí os meios e as técnicas de divulgação. Isso quer dizer que tanto a Publicidade quanto a Propaganda cumprem a tarefa de divulgar, isto é, tornar público, expor. Para cumprir essa tarefa, podem-se usar os mesmos meios (impresso, radiofônico e televisual) e também as mesmas técnicas de construção da mensagem publicitária e da mensagem de propaganda. O que distingue a Publicidade da Propaganda é exatamente o que cada uma delas divulga: enquanto a Publicidade divulga produtos, marcas e serviços, a Propaganda divulga idéias, proposições de caráter ideológico, não necessariamente partidárias (propagação). Nesse sentido, a Publicidade vincula- se ao objetivo de auxiliar a gerar lucros, enquanto a Propaganda liga-se ao objetivo de gerar adesões. Enfim, a Publicidade espera a compra, o consumo como resposta, enquanto a Propaganda espera a aceitação de um dado que confirme ou reformule um determinado sistema de crença. (BIGAL, Solange. O que é criação publicitária ou (O Estético na Publicidade). 2. ed. São Paulo: Nobel, 1999. p. 19-20) 2 2Solange Bigal é professora-doutora do Curso de Design, na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP Campus Bauru SP). É Mestre e Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP 8 2. Construção Essa regra consiste na substituição de uma sequência de proposições, expressas ou pressupostas, por uma proposição que seja normalmente inferida delas. Aqui também se inclui a construção de uma proposição a partir de inferências autorizadas pelo texto. Esse procedimento pressupõe um leitor mais maduro, mais proficiente, capaz de gerar uma informação nova, respaldada no que é declarado. 3. Generalização Quando no texto há uma sequência de elementos ou de ações/eventos, muitas vezes é possível substituí-la por um termo mais genérico que esses elementos. Assim, por exemplo, podemos substituir por “fez exercícios físicos” o que está grifado na seguinte sequência: Durante a semana, ela fez musculação e pilates; além disso, nadou e participou dos treinamentos do time de vôlei. Ainda que pequena, trata-se de uma redução significativa. EXERCÍCIO 1. Leia com atenção o texto abaixo. Indique o tema e a tese; em seguida, aponte, nas alternativas abaixo, os conteúdos que deveriam constar de um resumo. A genética dos grandes atletas3 Sergio Danilo Pena Um dos meus ídolos pessoais é o mineiro Alberto Santos Dumont (1873-1932). Diz a lenda que, quando ele era ainda criança, lhe perguntaram "Homem voa?" – ele respondeu desafiadoramente: "Voa!!!". E voar ele voou, aos 28 anos de idade, contornando a Torre Eiffel em 1901 com um balão dirigível. O feito tornou-o um super-herói da aviação e um dos homens mais famosos do planeta na época. Mas os humanos nãoprecisam de aviões para voar – basta-lhes ter uma habilidade atlética que lhes permita alçar voo com sua própria musculatura, como verdadeiros Ícaros esportivos. Vejam (...) o grande atleta americano Michael Jordan (1963-), apelidado de “Air Jordan”. Na Grécia antiga, o vencedor de um evento olímpico tornava-se um semideus. Ele era premiado com um ramo de oliveira, recebia grandes somas de dinheiro (em Atenas, recebia 500 dracmas, uma pequena fortuna) e muitos prêmios. Escultores criavam suas efígies e os poetas compunham e recitavam odes que os louvavam. Desde então se discute o que engendra um atleta de elite e como promover sua formação. Já recebi dezenas de consultas de jornalistas esportivos sobre esse tema, geralmente em época de Olimpíadas ou de outros grandes eventos esportivos. Neste ano teremos a 19ª Copa do Mundo de futebol, de 11 de junho a 11 de julho na África do Sul. Assim, o assunto retornará à baila. Repito: o que faz um atleta de elite? Aqui podemos adaptar uma famosa frase de William Shakespeare (1564-1616) em sua peça Décima-segunda noite: "Alguns [atletas] nascem grandes, alguns conseguem grandeza, e alguns têm a grandeza lançada sobre eles”. A constatação de que indivíduos que chegam ao píncaro do atletismo compartilham características físicas e fisiológicas que muitas vezes são inatas sugere que a genética tenha um papel importante na produção de um grande atleta. De fato, um considerável número de “polimorfismos de melhora de desempenho” (performance enhancing polymorphisms, ou PEPs, na sigla em inglês) já foi identificado no genoma humano. Exemplos incluem variações genéticas de genes importantes na função cardíaca e respiratória, genes de receptores adrenérgicos, genes do DNA mitocondrial, genes que influenciam o fluxo sanguíneo, genes que afetam a estrutura muscular (com destaque para o gene ACTN3 da alfa-actinina-3) e o gene da enzima conversora de angiotensina (ECA). 3 Disponível em < http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/a-genetica-dos-grandes-atletas> 9 Quando fazemos o exame da frequência desses PEPs em populações de diferentes continentes, observamos que as diferenças são discretas. Assim, não existe nenhuma evidência genética de que haja qualquer diferença geográfica ou “racial” (entre aspas para enfatizar o fato de que, do ponto de vista genético, raças humanas não existem) em habilidade esportiva. O sucesso de indivíduos de diferentes cores e regiões geográficas em certos esportes aparentemente tem muito mais a ver com ambientes de criação (ver abaixo) e oportunidades de mercado de trabalho do que propriamente com qualquer “fator genético”. Vale lembrar que as principais estrelas do basquetebol americano na atualidade são afro-americanos, mas no início do século 20 eles eram em sua maioria brancos judeus. Certamente gostaríamos de saber até que ponto as combinações dos polimorfismos genéticos de alta performance influenciam a capacidade física dos atletas. Recentemente, muitos pesquisadores têm concentrado a atenção na ideia de que não basta ter variantes específicas em alguns poucos genes, mas que, para elevada expressão atlética, são necessárias amplas constelações de variantes genéticas propícias que funcionam coordenadamente. Relembro aqui o fato, já discutido anteriormente, de que temos um genoma singular e personalíssimo que é caracterizado por uma determinada combinação de variantes genéticas. Entretanto, essa constelação específica, que pode estar ligada a determinadas habilidades, inclusive esportivas, é geneticamente efêmera, sendo forçosamente quebrada na reprodução. Os filhos de um atleta vão receber apenas 50% de genes paternos, sendo os outros 50% herdados da mãe. É por isso que irmãos podem ter constelações de variantes gênicas relativamente similares. Isso pode ser constatado empiricamente em exames de compatibilidade genética para doação de órgãos que dependem de diferentes locos do complexo HLA. Raramente o pai ou a mãe podem ser doadores de órgãos para filhos. Entretanto, é muito mais provável que entre irmãos haja concordância de todos os alelos relevantes, permitindo que eles possam doar órgãos entre si com maior segurança. Frequentemente vários membros de uma mesma família são esportistas de elite, reforçando a ideia da importância genética. Mas dentro desse modelo de “constelações gênicas” podemos esperar que este fenômeno seja mais comum entre irmãos do que em pares de pai-filho. Certamente inúmeros casos de irmãos atletas de elite vêm à mente: Sócrates e Raí, Zico e Edu, e Bobby e Jack Charlton, estes dois últimos da seleção inglesa que foi campeã mundial em 1966. Por outro lado, também vêm à mente casos em que filhos não conseguiram ter o sucesso atlético dos pais, especialmente o de Pelé, o maior futebolista de todos os tempos. Nem seu pai, Dondinho, que jogou no Fluminense, nem seu filho, Edinho, que jogou no Santos, como o pai, foram atletas de elite. Não podemos nunca nos esquecer que famílias compartilham não somente genes, como também o ambiente – o interesse e prática de esportes sendo um dos principais deles. Independentemente da genética, é mais provável surgir um grande atleta em uma família de esportistas, onde a prática do esporte é sempre ’o assunto do dia‘, do que em uma família de intelectuais ou músicos, nas quais nem sempre há valorização dos esportes e, às vezes, não há sequer uma bola em casa. Com o sucesso na elucidação funcional do genoma humano e o conhecimento íntimo de nossa genética, esperamos em breve ter uma melhor idéia dos detalhes da estranha mistura de genética e ambiente que faz o esportista de elite. A ignorância atual só aguça a nossa admiração e a nossa reverência aos grandes atletas, que, embora humanos como nós, são capazes de feitos quase divinos. Sérgio Danilo Pena é médico, doutor em genética humana, é professor titular de Bioquímica no Departamento de Bioquímica e Imunologia- Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Foi presidente do Programa Latino-Americano do Genoma Humano e presidente do Comitê Sul-Americano do Programa de Diversidade Genômica Humana. 10 TEXTO – A GENÉTICA DOS GRANDES ATLETAS • Admiração do autor por Santos Dumont • Habilidade de “voar” de Michael Jordan • Glória alcançada pelos vencedores olímpicos na Grécia antiga • Consulta dos jornalistas esportivos • Citação de Shakespeare • Partilhamento de inatas características físicas e fisiológicas de atletas vencedores • Exemplos de PEPs • Falta de comprovação da influência genética no desempenho esportivo • Papel do ambiente na formação do atleta • Atletas afro-americanos da atualidade X atletas judeus brancos do início do século XX • Efemeridade da combinação de variantes genéticas • Compatibilidade genética entre irmãos • Maior probabilidade de doação de órgãos entre irmãos • Exemplos de sucesso esportivo de irmãos e não de pais e filhos 2.1.2 O AUTOR DO TEXTO RESUMIDO: REFERÊNCIA E AÇÕES Num resumo acadêmico, é preciso citar o nome do autor do texto a ser resumido. Segundo Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004: 47), “um resumo é um texto sobre outro texto, de outro autor, e isso deve ficar sempre claro, mencionando-se frequentemente o seu autor, para evitar que o leitor tome como sendo nossas as idéias que, de fato, são do autor do texto resumido.” São várias as possibilidades de fazer essa referência. Você pode usar • o nome completo do autor ou apenas o sobrenome (OBS.: NUNCA FAÇA REFERÊNCIA AO AUTOR USANDO O PRENOME); • expressões nominais com base no papel que ele desempenha (“o autor”); • expressões nominais que identifiquem o autor com base no que você sabe sobre ele (“o psicanalista”, “o professor”, “o pesquisador”... ); para isso, você deve lançar mão de seu conhecimentode mundo; • pronomes. NO CASO DO DISCURSO ACADÊMICO, A CITAÇÃO DO AUTOR DURANTE O TEXTO DEVE SER FEITA DE ACORDO COM A NBR 10520 ABNT (DISPONÍVEL DO STOA). Além disso, é fácil supor que, fazendo referência ao autor, você atribua a ele determinadas ações, determinadas a partir de sua interpretação com base no texto. Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004: 49) afirmam que “no resumo, o autor do texto original aparece como se estivesse realizando vários tipos de atos, que, frequentemente, não estão explicitados no texto original.” Cabe ao autor do resumo interpretar e enunciar esses atos. Veja a relação abaixo (dada pelas autoras): 11 AÇÕES PRESSUPOSTAS VERBOS a. posicionamento do autor em relação à sua crença na verdade do que é dito • afirma, nega, acredita, duvida b. indicação do conteúdo geral • aborda, trata de c. organização das idéias do texto • define, classifica, enumera, argumenta d. indicação de relevância de uma idéia do texto • enfatiza, ressalta e. ação do autor em relação ao leitor • incita, busca levar a Alguns exemplos. Exemplo 1 Texto Chat, para quem não sabe,é um lugar onde fica uma porção de chatos, todos com pseudônimos (homem diz que é mulher e mulher vira homem) a te perguntar: você está aí? (Mário Prata, Chats e chatos pela Internet. O Estado de S.Paulo, 02/12/1998) Resumo O autor define o chat de forma irônica. Exemplo 2 Texto As obras mais significativas no campo da economia foram redigidas por especialistas de outras áreas. Adam Smith, por exemplo, tido como o “pai da economia”, era um professor de filosofia moral. Resumo O autor afirma que as obras mais importantes da economia são feitas por especialistas de outras áreas, exemplificando com Adam Smith. Exemplo 3 Texto O início do ano escolar no mês de fevereiro merece ser revogado, voltando à antiga praxe de começo das aulas em março. O carnaval geralmente cai em fevereiro e interrompe as aulas recém-iniciadas. O verão escaldante torna as aulas penosas e com baixo rendimento. Finalmente, as férias escolares comandam grande parte das férias dos trabalhadores. E as férias destes são motor do turismo, atividade geradora de empregos e riqueza para o País. (...) Portanto, há grande vantagem para todos na transferência do início das aulas para o mês de março. Resumo O autor defende a tese de que as aulas devem voltar a começar em março, apresentando os seguintes argumentos: o carnaval cair em fevereiro, a intensidade do calor e o consequente prejuízo para a aprendizagem, o benefício para a economia, já que as férias dos trabalhadores normalmente coincidem com as férias escolares. 12 Obs.: Segue um quadro com alguns verbos que podem ser utilizados para indicar esses atos. apontar – definir – descrever – elencar – enumerar – classificar – caracterizar – dar características – exemplificar – dar exemplos – contrapor – confrontar – comparar – opor – diferenciar – começar – iniciar – introduzir – desenvolver – finalizar – terminar – concluir – pensar – acreditar – julgar - afirmar – negar – questionar – criticar – descrever – narrar – relatar – explicar – expor – comprovar – provar – defender a tese – argumentar – dar argumentos – justificar – dar justificativas – apresentar – mostrar – tratar de – abordar – discorrer – esclarecer – convidar – sugerir – incitar – levar a Se buscássemos uma categorização desses atos, poderíamos ter algo como segue: Atos de pesquisa Atos de cognição (processos mentais) Atos de discurso (expressão verbal) Procedimentos Resultados analisar calcular explorar examinar estabelecer observar descobrir constatar mostrar acreditar / pensar julgar / ver conceituar / considerar ponderar / concluir hipotetizar dizer / discutir declarar / expor afirmar / argumentar propor / descrever discorrer / apresentar destacar / citar mencionar Exercícios 1. Faça um levantamento das expressões que você poderia usar para fazer referência à autora de “Publicidade: alguns conceitos”. Observe que, no final do texto, há um pequeno “curriculum” dela. _______________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 2. Releia o texto com atenção, se necessário. Interprete os atos do autor e escolha, na lista abaixo, aqueles que podem ser atribuídos a ele. Associe esses atos com os conteúdos do texto. 1. contrapor-se 2. enumerar 3. argumentar 4. comparar 5. acreditar 6. convidar 7. negar 8. classificar 9. defender a tese 10. incitar 11. exemplificar 12. reconhecer 13. recusar 14. definir 15. diferenciar 16. finalizar 17. questionar 18. abordar 19. caracterizar 20. descrever 13 3. Crie uma frase que expresse o assunto geral do excerto e possa ser usada no início de um resumo acadêmico. 2.2 RESUMO ACADÊMICO OU ABSTRACT (autor do texto = autor do resumo) Mota-Roth e Hendges (2010, p. 152) afirmam que o resumo acadêmico tem o objetivo de sumarizar, indicar e predizer, em um parágrafo curto, o conteúdo e a estrutura do texto integral que segue. Em que situações, você, aluno(a) de Engenharia, deverá elaborar um resumo científico? Na sua vida acadêmica, você poderá vivenciar algumas situações em que será necessário redigir um texto como esse. Provavelmente você participará de congresso ou seminário e, para isso, terá de enviar um resumo do trabalho a ser apresentado. Esse texto, que constará do caderno de resumo (se o trabalho for aceito, naturalmente), antecipa o conteúdo da sua pesquisa. A coletânea de resumos (incluindo o seu) orienta os participantes do evento a selecionar os trabalhos de seu interesse. Esse tipo de resumo ainda aparecerá no seu TCC, permitindo que o leitor tenha acesso mais rápido ao conteúdo do texto. No caso dos gêneros estudados no nosso curso, um resumo desse tipo integrará seu projeto de pesquisa e relatório. Como leitor, você também terá contato com o resumo acadêmico. Quando busca as informações teóricas que dão suporte à sua pesquisa, você lerá primeiramente o abstract, selecionando o que é interessante ler. Desse modo, além de sumarizar o conteúdo de um texto, o resumo científico funciona como “fonte de informação precisa e completa, ajudando os pesquisadores a ter acesso rápido e eficiente ao crescente volume de publicações científicas.” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 152) 2.2.1 ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DO RESUMO Como vimos, o resumo acadêmico reflete o conteúdo e a estrutura do trabalho que resume. Se o trabalho é experimental – como o caso da maioria dos trabalhos que você vai desenvolver na Universidade, por conta da natureza do seu curso –, o resumo deve apresentar o problema e/ou a justificativa da pesquisa, o(s) objetivo(s), a metodologia, os resultados e a conclusão. Veja o resumo abaixo. Resumo 1 Células hematopoiéticas estão sendo intensamente investigadas devido a seu potencial como alvo de terapia gênica. Tem sido mostrado entretanto que a transferência de genes exógenos pode alterar biologicamente as células alvo, diminuindo sua capacidade de proliferação e diferenciação. O presente trabalho teve como objetivo a análise das características biológicas de células da linhagem hematopoiética K562, previamente transfectadas com o gene repórter egfp (enhanced green fluorescent protein), cuja expressão é detectada por citometria de fluxo. Células K562 transfectadas ou normais foram cultivadas em diferentes condições, e comparadas com relação a diferentes parâmetros que incluiram a expressão de marcadores de superfície. Os principaisresultados encontrados foram: (1) quando cultivadas na ausência de pressão seletiva, a expressão do gene repórter mostrou um rápido declínio; (2) células K562 transfectadas apresentaram uma capacidade mitótica diminuída quando co-cultivadas com células K562 normais, em diferentes concentrações; e (3) os níveis das moléculas de adesão CD11c, CD31 (baixo) e CD49e (alto) não foram afetados pela transfecção, enquanto a baixa expressão dos marcadores CD62L e CD117 mostraram uma tendência a aumentar nas células transfectadas. Estes resultados mostram que dois dos principais problemas dos protocolos de terapia gênica, manutenção da expressão do transgene e expansão das células transfectadas, podem ser analisados para correção in vitro. Objetivo Metodologia Resultados Justificativa da pesquisa / Problema Conclusão 14 Motta-Roth e Hendges (2010, p. 155)4 apontam algumas variações possíveis: 1. Objetivo(s); metodologia; resultado(s); conclusão(ões); 2. Objetivo(s); metodologia; resultado(s); 3. Objetivo(s); metodologia; resultado(s); validade dos resultados; conclusão(ões); aplicações. Em algumas áreas, como a da medicina, é comum o resumo já apresentar as informações marcadas por meio de subtítulos. Tal recurso busca guiar o leitor no processamento das ‘peças’ de informação da pesquisa realizada, como vemos no próximo texto. Resumo 2 OBJETIVO: Analisar o consumo alimentar, o ambiente socioeconômico, a frequência de anemia ferropriva e o estado nutricional de pré-escolares. MÉTODOS: A população estudada constituiu-se de 89 crianças de 24 a 72 meses de idade, assistidas em creches municipais de Viçosa, MG. Foram avaliados: nível de hemoglobina, peso, estatura, presença de parasitose, consumo alimentar dos pré-escolares e o perfil biossocioeconômico de suas famílias. RESULTADOS: O estado nutricional do grupo foi considerado satisfatório, e a prevalência de anemia relativamente baixa (11,2%). Condições adequadas de saneamento, nível razoável de escolaridade dos pais, baixo número de filhos e ausência de parasitas envolvidos com a gênese da anemia podem justificar o perfil observado. Não foi observada associação da anemia ferropriva nem com desnutrição nem com parasitose. CONCLUSÃO: Apesar de alguns fatores biossocioeconômicos apresentarem-se favoráveis ao estado nutricional e à baixa prevalência de anemia, observa-se, entretanto, que a insuficiente renda per capita e a dieta deficiente poderão levar esse grupo de pré-escolares, no futuro, a um pior estado de saúde. . Quando o resumo não apresenta esses subtítulos, é necessário ter o cuidado de fornecer pistas por meio de marcadores, itens lexicais que caracterizam as informações que representam as diferentes seções do trabalho. Dessa forma, o resumo ficará mais claro e o leitor poderá encontrar a informação que deseja mais facilmente, guiado justamente por essas marcas, como ocorre no resumo 1 acima. 2.2.2 CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DO RESUMO ACADÊMICO a) Verbos no pretérito perfeito (simples e composto) e presente do indicativo, terceira pessoa, voz passiva; b) Sentenças declarativas, sem abreviações; c) Linguagem econômica com sentenças simples, evitando redundâncias tais como exemplos, ilustrações, excesso de detalhes. Exercícios 1. Que informações estão presentes no Texto 1 e 2 (resumos retirados de revistas especializadas)? Identifique os marcadores que caracterizam as informações correspondentes às diferentes seções do trabalho. 4 MOTTA-ROTH; Désirée; HENDGES; Graciela Rabuske. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 15 Texto 1 Avaliaram-se as características fermentativas e a composição químico-bromatológica de silagens de capim- elefante contendo níveis crescentes de subproduto desidratado do maracujá (SDM). Foram testados cinco níveis de SDM (0,0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%) em relação à matéria natural do capim, em um delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. A gramínea foi cortada aos 60 dias de idade, triturada e ensilada, obtendo-se densidade de 600 kg/m³. Após 28 dias, os silos foram abertos e amostras foram coletadas para análises laboratoriais. Os níveis crescentes de SDM tiveram efeito linear crescente sobre o teor de MS das silagens e efeito linear decrescente sobre o teor de ácido propiônico. Houve efeito quadrático com ponto de máximo para o teor de ácido lático. Os teores de ácido butírico foram desprezíveis. Os valores de pH e os teores de N-amoniacal, de ácido acético e de FDA não foram afetados. Verificou-se efeito linear dos níveis crescentes de SDM sobre os teores de PB e de EE das silagens. Os teores de FDN e hemicelulose das silagens foram afetados pelos níveis crescentes de SDM, com resposta linear decrescente. A adição de SDM na ensilagem do capim-elefante favoreceu o processo fermentativo e melhorou a composição químico-bromatológica das silagens, portanto, esse subproduto pode ser utilizado em quantidades de até 14% em relação à matéria natural da gramínea. (CÂNDIDO, Magno José Duarte et al. Características fermentativas e composição química de silagens de capim-elefante contendo subproduto desidratado do maracujá. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, out. 2007.) Texto 2 Composição físico-química de uvas para vinho fino em ciclos de verão e inverno Este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial de maturação das cultivares Pinot Noir, Tempranillo, Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay e Sauvignon Blanc submetidas ao regime de dupla poda, em Cordislândia, região cafeeira do sul de Minas Gerais. As plantas foram submetidas a dois ciclos de produção, um de primavera-verão, compreendido entre agosto e janeiro, e outro ciclo de outono-inverno, entre janeiro e julho. Como parâmetros de qualidade, foram avaliados os diâmetros transversal e longitudinal da baga, acidez, ácidos tartárico e málico, pH, sólidos solúveis, antocianinas, fenólicos totais e os teores de glicose, frutose e sacarose. Todas as variedades apresentaram maiores teores de pH, sólidos solúveis, açúcares, antocianinas e fenólicos totais, e redução nos diâmetros transversal e longitudinal na safra de inverno. A cultivar Syrah destacou-se das demais no conteúdo de antocianinas e fenólicos totais tanto no verão quanto no inverno, entretanto apresentou o menor conteúdo de açúcares. A alteração do ciclo de produção da videira através da técnica da dupla poda para colheita, no período de inverno, na região cafeeira de Minas Gerais, favorece a maturação dos frutos e melhora consideravelmente a qualidade das uvas para vinificação. (MOTA, Renata Vieira da et al. Composição físico-química de uvas para vinho fino em cilos de verão e inverno. Revista Brasileira de Fruticultura, v.32 n. 4, dez. 2010.) 2. O seguinte texto divulga uma pesquisa científica. A partir das suas informações, redija (em no máximo 8 linhas) um resumo acadêmico, fazendo as adaptações necessárias para adequá-lo a esse gênero. Mais uma vez, as ovelhas. Seis delas, da raça Grivette, recebem toda a atenção de cientistas franceses no desenvolvimento de uma técnica para que mulheres que ficaram estéreis em tratamentos contra o câncer possam recuperar a capacidade de reprodução. 16 O estudo foi apresentado ontem durante o 17º Encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, que ocorre em Lausanne, Suíça. Entre setembro de 1999 e janeiro de 2000, cientistas do Departamento de Medicina Reprodutiva do Hospital Edouard Herriot, em Lyon, retiraram um dos ovários das seis ovelhas. Os órgãos foram cortados, congelados e armazenados em nitrogênio líquido, a uma temperatura de –196ºC, por períodos de até 45 dias. Pesquisadores então descongelaramos pedaços de ovário, que foram incubados por 30 minutos. Depois os tecidos foram enxertados de volta nas ovelhas, no lugar dos ovários extirpados. De dois a quatro meses depois dos enxertos, os tecidos cresceram recompondo aos poucos os ovários, que voltaram a funcionar, produzindo hormônios. Segundo especialistas, a área em que ficam os órgãos é muito vascularizada, daí a rapidez. No verão do ano passado, quatro das ovelhas ficaram grávidas de seis filhotes, dos quais três ainda estão vivos. Um morreu logo após o nascimento e outros dois não resistiram após nascerem prematuros. Segundo os pesquisadores, não há relação entre as mortes e a técnica. Para o grupo, o sucesso com as ovelhas traz esperanças para mulheres esterilizadas por tratamento contra o câncer, como a quimioterapia e a radioterapia. (...) (Folha de S.Paulo, 3/7/2001, p. A-10)
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