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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO HENRIQUE SUHADOLNIK SILVEIRA ARBITRAGEM E TRANSAÇÃO COMO MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DE UM SISTEMA TRIBUTÁRIO EM CRISE Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do curso de pós-graduação lato sensu (especialização) em direito tributário pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto/SP. Orientação: Fábio Pallaretti Calcini RIBEIRÃO PRETO 2018 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO HENRIQUE SUHADOLNIK SILVEIRA ARBITRAGEM E TRANSAÇÃO COMO MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DE UM SISTEMA TRIBUTÁRIO EM CRISE RIBEIRÃO PRETO 2018 2 Silveira, Henrique Suhadolnik. Arbitragem e transação como mecanismos de solução de controvérsias no âmbito de um sistema tributário em crise/ Henrique Suhadolnik Silveira. – Ribeirão Preto, SP: [s.n.], 2018. 144 f. Monografia (Especialização em Direito Tributário). Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito de Ribeirão Preto. Orientador: Fábio Pallaretti Calcini 1. Direito tributário. 2. Arbitragem. 3. Transação. 3 HENRIQUE SUHADOLNIK SILVEIRA ARBITRAGEM E TRANSAÇÃO COMO MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DE UM SISTEMA TRIBUTÁRIO EM CRISE Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do curso de pós- graduação lato sensu (especialização) em direito tributário pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto/SP, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Pallaretti Calcini. BANCA EXAMINADORA Presidente: _________________________________________________________ Prof. Dr. Fábio Pallaretti Calcini 1° Examinador: ______________________________________________________ 2° Examinador: ______________________________________________________ Ribeirão Preto/SP, _____ de ____________ de 2018. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, razão de tudo, pelo dom da vida, por me amparar e, principalmente, colocar, em minha caminhada, os motivos pelos quais dedico algumas linhas; A meus pais, Denise e Fernando; meus irmãos, Rodrigo e Eduardo e meus avós, Maria Elza, Franz, Lourdes (in memoriam) e Expedito, que sempre depositaram confiança em mim; À minha companheira Evelyn e seu poder de me alegrar, acalmar, fortalecer e me fazer acreditar; A meus segundos pais em Ribeirão Preto, Paulinho e Raquel, que, de forma especial, me deram imensurável apoio desde minha mudança para a cidade, sem o que eu, certamente, não teria vencido mais uma etapa; Aos amigos que, simplesmente por estarem presentes em meu dia-a-dia, assumiram o papel de válvula de escape para as minhas menores e, por isso, piores preocupações e aos colegas de trabalho que, por vezes, tomaram para si um pouco do meu fardo, para que pudesse empregar forças na conclusão da pesquisa; Ao meu orientador, Fábio Pallaretti Calcini, por seu vasto conhecimento na área, pelo profissional exemplar no qual me espelho nesta busca pelo saber e por toda a compreensão e suporte durante o percurso deste trabalho; A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração, que me abriram as portas para um novo horizonte, ainda mais amplo; Àqueles que se debruçaram sobre o tema, trazendo contribuições expressivas à discussão e à ciência do Direito Tributário, e que foram importante fonte à pesquisa; A tudo e a todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte de minha formação e que me acompanharam durante esta fase; E à vida, por tanto me ensinar que sou capaz de me levantar, vencer e ser melhor que eu mesmo a cada desafio: meus sinceros e eternos agradecimentos. 1 SILVEIRA, Henrique Suhadolnik. Arbitragem e transação como mecanismos de solução de controvérsias no âmbito de um sistema tributário em crise. 2018. 144 f. Monografia (Especialização em Direito Tributário) – Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto/SP, 2018. RESUMO É inegável que o processo tributário brasileiro se encontra sobrecarregado, moroso, ineficiente e, por todas estas razões, dispendioso aos cofres públicos e completamente ultrajado. Não diferente é o atual panorama da arrecadação tributária, que clama por fomento, ante a dificuldade de se recuperar crédito tributário pela Fazenda Pública e a irrecuperabilidade de grande parte da dívida tributária, o que revela um sistema tributário em crise. Diante disto, o Estado, enquanto gestor do interesse público, não dispõe de meios e recursos para promover a função social do crédito tributário e, assim, assegurar, aos cidadãos, direitos e garantias básicas. Assim, a presente investigação busca, sem encerrar o debate, mas promovê-lo, solucionar impasses doutrinários impeditivos à adoção de meios alternativos de solução de controvérsias, mais precisamente os institutos da transação e da arbitragem, exitosos em outras searas do direito e, inclusive, na área tributária, como demonstra a experiência internacional e iniciativas conciliatórias esparsas promovidas por alguns estados brasileiros. Desta forma, intenta contribuir com alternativas para o atual problema da precariedade da arrecadação estatal, da crise do sistema processual tributário e da necessidade de solucionar a questão da irregularidade fiscal do contribuinte de forma mais eficaz, célere e participativa. Para tanto, analisa o conceito contemporâneo de supremacia do interesse público e a questão da indisponibilidade do crédito tributário, invocados por grande parte da doutrina como obstáculos à atuação da Administração Pública para transacionar ou solucionar o conflito tributário pela via arbitral, no exercício da estrita conformidade à lei. Constatada a praticabilidade e, principalmente, a efetividade do manejo de indigitados instrumentos como possibilidade complementar à tradicional via de contribuintes e administração tributária se comporem, inclusive à luz dos pilares constitucionais, num segundo momento, o trabalho se direciona a delimitar suas hipóteses de cabimento, requisitos, limites, bem como analisar os projetos que, atualmente, tramitam no legislativo. Assim, reinventar o papel do Estado, que deve atuar no mesmo compasso das transformações sociais e dos anseios da coletividade da forma mais eficiente e justa possível, além de transparente e ética, sendo factível o exercício da discricionariedade dos entes e agentes públicos no âmbito destes mecanismos alternativos, mesmo em observância à estrita legalidade. Transformação, é claro, que não incremente o risco de corrupção, nem os transforme em instrumentos políticos, ou favoritismos, mas em vias concretas de pacificação social, de estreitamento das relações entre Fisco e contribuinte, entre Administração e administrado e que exalte o interesse público, com a arrecadação e maior e mais sólida implementação de recursos na concretização dos interesses coletivos. Palavras-chave: arbitragem.transação. solução de controvérsias. sistema tributário em crise. tributário. SILVEIRA, Henrique Suhadolnik. Arbitragem e transação como mecanismos de solução de controvérsias no âmbito de um sistema tributário em crise. 2018. 144 f. Monografia (Especialização em Direito Tributário) – Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto/SP, 2018. ABSTRACT It´s undeniable that the Brazilian tax process is overloaded, time consuming, inefficient and, for all these reasons, costly to the public coffers and completely outraged. No different is the current panorama of tax collection, which calls for development, given the difficulty of recovering tax credit by the Public Finance and the irrecoverability of a large part of the tax debt, which reveals a tax system in crisis. In view of this, the State, as a manager of the public interest, does not have the means and resources to promote the social function of the tax credit and, thus, ensure to citizens basic rights and guarantees. So, the present research seeks, without closing the debate, promoting it, to solve doctrinal impediments deterrent the adoption of alternative means of dispute settlement, more precisely the institutes of transaction and arbitration, successful in other fields of law and even, in the tax area, as demonstrated by the international experience and sparse conciliatory initiatives promoted by some Brazilian states. In this way, it tries to contribute with alternatives to the current problem of the precariousness of the state collection, the crisis of the tax process system and the need to solve the issue of fiscal irregularity of the taxpayer in a more effective, fast and participative way. In order to do so, it analyzes the contemporary concept of supremacy of the public interest and the question of the unavailability of the tax credit, invoked by much of the doctrine as obstacles to the performance of the Public Administration to transact or solve the tax conflict by arbitration, the law. Given the practicality and, above all, the effectiveness of the management of nominated instruments as a complementary possibility to the traditional way of taxpayers and tax administration are composed, even in the light of the constitutional pillars, in a second moment, the work is directed to delimit their hypotheses of fit, requirements, limits, as well as to analyze the projects that currently are in the legislature. Thereby, to reinvent the role of the State, which must act in the same compass of social transformations and collective aspirations in the most efficient and just as possible, as well as transparent and ethical, being the exercise of the discretion of public entities and agents in the scope of these alternative mechanisms, even in compliance with strict legality. Transformation, of course, which doesn’t increase the risk of corruption, nor transform them into political instruments, or favoritisms, but in concrete ways of social pacification, closer relations between the Treasury and taxpayer, between Administration and administered and that exalts the public interest, with the collection and greater and more solid implementation of resources in the realization of collective interests. Keywords: arbitration. transaction. disputes resolution. tax system in crisis. tax. 1 "[...] no Brasil, ao contrário de qualquer outro país do mundo, as causas tributárias normalmente se arrastam por 10 anos, 15 anos ou mais nas barras dos tribunais administrativos e judiciais […] Não vejo a doutrina brasileira denunciar, com o vigor com que deveria fazê-lo, este patente fracasso institucional, esta incapacidade crônica do poder judiciário brasileiro aplicar com um mínimo de segurança e previsibilidade nosso direito tributário. ” (Marciano Seabra de Godói) 0 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 2 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA ABORDADA: CRISE NA ARRECADAÇÃO E FALHAS NA PRESTAÇÃO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL PELO ESTADO NO ÂMBITO DAS CONTROVÉRSIAS TRIBUTÁRIAS.....................7 2.1 O sistema de arrecadação tributária e a atual conjuntura econômica brasileira .................................................................................................................... 7 2.2 A cobrança administrativa e judicial do crédito tributário e a sobrecarga do Poder Judiciário ........................................................................................................ 9 2.2.1 Representatividade das execuções fiscais em trâmite no Judiciário brasileiro...10 2.2.2. Do custo-benefício da execução fiscal: análise sobre o custo da demanda, tempo médio de julgamento e êxito na recuperação do crédito tributário....................11 2.3. Medidas judiciais e administrativas adotadas no sentido de ampliar a arrecadação..............................................................................................................17 3 DESMITIFICAÇÃO DO DOGMA DA INDISPONIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO COMO ÓBICES À AUTOCOMPOSIÇÃO E À ARBITRAGEM EM CONFLITOS TRIBUTÁRIOS .......... 22 3.1 Resistência doutrinária à adoção de métodos independentes de solução de controvérsias em matéria tributária e o fundamento normativo e axiológico da indisponibilidade do crédito tributário....................................................................23 3.2 Real interesse público: supremacia do interesse na pacificação social e da concretude das finalidades estatais e das diretrizes constitucionais, com efetivo custeio das necessidades públicas a partir da tributação....................................27 3.2.1 A indisponibilidade da atividade arrecadatória em conformidade ao moderno conceito de interesse público e a distinção entre interesse público da Administração e interesse público geral................................................................................................27 3.2.2 Da necessária redução da conflitividade e da ausência de segurança jurídica e confiança recíproca entre Estado e contribuinte, pela promoção da credibilidade de um sistema fiscal justo................................................................................................33 3.3 O permissivo constitucional de composição dos conflitos e a exigência restrita à observância dos princípios constitucionais.........................................................................................................38 1 3.4. Disposição do crédito tributário no Código Tributário Nacional e renúncia estatal........................................................................................................................46 3.5 Caráter relativo da indisponibilidade do crédito tributário ante a consumação da prescrição e da decadência................................................................................48 3.5 Indisponibilidade do crédito tributário e competência tributária....................................................................................................................60 4 MANEJO DA ARBITRAGEM E DA TRANSAÇÃO EM CONFLITOS TRIBUTÁRIOS...........................................................................................................63 4.1 Arbitralidade das controvérsias tributárias e a adoção do procedimento arbitral.......................................................................................................................63 4.1.1 Breves considerações sobreo procedimento e suas vantagens diante do atual sistema tributário........................................................................................................63 4.1.2 Arbitragem tributária no plano internacional.......................................................68 4.1.3 Requisitos..........................................................................................................75 5 A TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA................................................................................93 5.1 Considerações sobre o instituto e a possibilidade de sua adoção em matéria tributária....................................................................................................................93 5.2 A transação tributária na experiência internacional........................................99 5.3 A transação tributária no Brasil.......................................................................100 5.3.1 O Projeto de Lei n° 5.082/2009.........................................................................100 5.3.2 Legislação esparsa sobre o tema e outras medidas.........................................114 5.3.3 Críticas ao Projeto de Lei n° 5.082/2009..........................................................115 5.3.4 A regulamentação da transação tributária........................................................125 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................128 REFERÊNCIAS........................................................................................................132 2 1 INTRODUÇÃO A solução dos conflitos em matéria tributária, no Brasil, encontra-se num ciclo vicioso: não se nega que o Poder Judiciário, sobrecarregado de demandas, é incapaz de oferecer prestação jurisdicional efetiva e célere aos jurisdicionados e de gerar retorno ao Estado, ao passo em que a adoção de meios alternativos de composição de litígios, exitosa em outras áreas, é rechaçada por grande parte dos operadores do Direito.1 Nesta senda, o trabalho apresenta, como escopo principal, averiguar, à luz das ciências, a viabilidade de se adotar outros métodos de solução de controvérsias tributárias e, desta feita, contribuir com alternativas para o atual problema da precariedade da arrecadação estatal, da crise do sistema processual tributário e da necessidade de solucionar a questão da irregularidade fiscal do contribuinte de forma mais eficaz, célere e participativa. Mais especificamente, intenta responder aos questionamentos sobre ser ou não possível a adoção de mecanismos como arbitragem e transação em matéria tributária e, em caso positivo, delimitar suas hipóteses de cabimento, requisitos e limites. Isto porque sua adoção pelo ordenamento jurídico pátrio representou significativo avanço no que tange tanto à resolução mais célere e eficaz de litígios das mais variadas naturezas, quanto ao necessário alívio na sobrecarga de demandas em trâmite no Judiciário, com a composição amigável dos conflitos. Diante da dificuldade de se recuperar crédito tributário pela Fazenda Pública, ou, até mesmo, da irrecuperabilidade de grande parte da dívida tributária inscrita em favor dos entes federativos, o Poder Executivo encaminhou, ao Congresso Nacional, 1 Éderson Garin, em recente artigo publicado na plataforma Consultor Jurídico, afirma que “Pelo menos no Brasil, a solução dos conflitos em matéria tributária encontra-se num ciclo vicioso: reconhece-se que o Poder Judiciário está sobrecarregado e não é capaz oferecer uma prestação jurisdicional qualificada e tempestiva, admite-se que o Estado é o maior litigante e quem mais ocupa o Poder Judiciário. Porém, de modo contraditório, parcela majoritária da doutrina é contra ao debate de meios alternativos de resolução de conflito em matéria tributária. A corrente majoritária defende que o único meio de solução de conflitos legítimo é a via judicial. ” (PORTO, Éderson Garin. É preciso usar meios alternativos, como transação e mediação, para cobrar tributos. Consultor Jurídico, publ. 17 jun. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jun-17/ederson-porto-preciso-usar-meios-alternativos-cobrar- tributos>. Acesso em: 15 jul. 2017). 3 o Projeto de Lei n° 5.082/20092, que tem por objetivo aplicar o instituto da transação na cobrança da dívida tributária – já expressamente prevista no inciso III do artigo 156 do Código Tributário Nacional (CTN)3 como modalidade de satisfação do crédito tributário. . Paralelamente, tramita também o Projeto de Lei Complementar nº 469/20094, que busca compatibilizar a noção de transação tributária às modificações trazidas pelo Projeto de Lei Geral de Transação e, dentre as alterações ao Código Tributário Nacional ora propostas, acrescenta o art. 171-A, que prevê a adoção da arbitragem para a solução de litígios.5 Ocorre que, na seara tributária, não é simples adentrar na temática dos meios alternativos de solução de controvérsias, tampouco transportar seus conceitos, fundamentos e regras. A possibilidade, ou não, de se adotar o uso de referidos instrumentos para a elucidação de conflitos tributários é bastante dividida entre os operadores do direito e um dos principais argumentos daqueles que rechaçam esta hipótese gira em torno da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do crédito tributário, sob o viés de que, por representar interesses próprios da coletividade, não se encontra à livre disposição de quem quer que seja, nem mesmo da própria Administração Pública, no exercício da estrita conformidade do que predispuser a intentio legis6. Assim, o objetivo primordial da pesquisa é analisar a validade de aludida hipótese de impedimento ou, se pelo contrário, é possível e vantajoso o estímulo à 2 BRASIL. Projeto de Lei n° 5.082, de 20 de abril de 2009. Dispõe sobre transação tributária, nas hipóteses que especifica, altera a legislação tributária e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 20 abr. 2009. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=431269>. Acesso em: 20 jul. 2017. 3 BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, CF, publ. 27 out. 1966 e retificado em 31 out. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017. 4 BRASIL. Projeto de Lei Complementar n° 469, de 20 de abril de 2009. Altera e acrescenta dispositivos à Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 20 abr. 2009. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=431262>. Acesso em: 15 dez. 2017. 5 “Art. 171-A. A lei poderá adotar a arbitragem para a solução de conflito ou litígio, cujo laudo arbitral será vinculante. ” (Ibidem). 6 Derivada do latim (intentio = intenção e legis = lei), a expressão refere-se à finalidade da lei, ou seu escopo (In INTENTIO LEGIS. Ideal Site Jurídico. <http://www.idealsitejuridico.com.br/diclatin/index.php?cod_termo=1044>. Acesso em: 19 jul. 2017). 4 adoção da arbitragem e da transação em matéria tributária, tendo em vista o atual modelo de cobrança administrativa e judicial do crédito tributário, considerado, por vezes, arbitrário, confiscatório, ineficiente, desacreditado, bem como as modificações ocorridas no direito tributário e a passagem de uma teoria tradicional,focada, sobretudo, na arrecadação, para uma visão contemporânea. Verificada a viabilidade quanto à transigibilidade e ao procedimento arbitral em demandas tributárias, com a instituição de mecanismos consensuais ou adjudicatórios de base consensual, ou de procedimentos privados de resolução de litígios, fundamentados na própria efetivação do interesse público e em modelos de maior eficiência econômica, devem ser esclarecidas questões atinentes às hipóteses de cabimento requisitos formais, processuais e limites para sua adoção. Portanto, o trabalho parte da existência de premissas teóricas e axiológicas calcadas expressamente, ou não, no ordenamento jurídico, que justifiquem a pertinência e possibilitem a harmonização da causa extintiva do crédito tributário, com os arraigados conceitos de supremacia do interesse público e de indisponibilidade do crédito tributário. Como este é exigido a partir de atividade estritamente vinculada à lei e protegido por privilégios e garantias previstos tanto no Código Tributário, quanto na Lei n° 6.830/80 (doravante denominada Lei de Execuções Fiscais)7, há uma tendência de resistência às alternativas à clássica, morosa e, por vezes, ineficiente, solução de conflitos relativos à sua exigência. Diante disto, toma-se por base o pressuposto de que o tributo se realiza tal como definido em lei e na doutrina – isto é, considerando seu conceito, sua finalidade e o retorno econômico e social esperado – não sendo levado em conta que, na atual conjuntura política brasileira, em vez de retorno, há uma recorrente apropriação e desvio de recursos públicos. A supremacia do interesse público, principal premissa daqueles que refutam a possibilidade de solução alternativa de conflitos em matéria tributária, é um dos principais pilares da existência estatal. 7 BRASIL. Lei n° 6.830, de 22 de setembro de 1980. Dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 set. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6830.htm>. Acesso em: 03 mar. 2017. 5 O Estado surge justamente como estrutura de garantia do bem-estar social, da convivência harmônica do homem em sociedade e seu desenvolvimento e sua existência pressupõe, ou impõe, a necessidade de sua manutenção. E, para que se mantenha o aparato estatal, é necessário que haja recursos e utilizar-se apenas de receitas originárias – isto é, aquelas oriundas da atividade econômica diretamente exercida pelo Estado – não é suficiente. O tributo surge, assim, como fonte de receita derivada, utilizado, ainda que em tese, como recurso à promoção e proteção do cidadão, de seu bem-estar e de garantias mínimas dentro da sociedade. Ou seja, a tributação justifica-se, dentre outros parâmetros, pelo interesse público. No entanto, utilizá-lo como fator impeditivo à adoção de procedimentos como arbitragem e transação não se revela, ao menos a princípio, crível. Isto porque, considerando o contexto em que inseridos e desenvolvidos ambos os institutos analisados, pode-se dizer que a economicidade, a resolução do conflito e a expectativa na solução célere, razoável e, principalmente, eficiente, do processo, estão intimamente ligadas ao interesse público. Constituem-se decorrências, consequências lógicas do interesse em solucionar determinada controvérsia social, econômica e jurídica que acaso possa se estabelecer entre particulares, entre Estados e entre o Estado e o particular. O interesse público pode ser melhor garantido se mitigado, por exemplo, pelo princípio da eficiência, tendo em vista que a defesa de sua indisponibilidade não tem solucionado o problema da arrecadação precária, nem suprido a necessidade de aumento na receita estatal, sem onerar o contribuinte. Daí o fato de o presente estudo vislumbrar a viabilidade da adoção da arbitragem e da transação para a composição de conflitos em âmbito tributário – a exemplo do que ocorre em alguns países da Europa – que pode tanto incentivar a regularização fiscal do contribuinte, pessoa física ou jurídica, quanto promover maiores chances de satisfação do crédito tributário, já que, atualmente, o Fisco não consegue recuperar quantias expressivas da dívida inscrita e ajuizada. A proposta do estudo é, portanto, apresentar possíveis soluções ao problema do sistema processual tributário em crise, com a ampliação da perspectiva da análise dos institutos de solução alternativa de conflitos, particularmente quanto à arbitragem 6 e à transação, com o fito de redimensionar seu impacto nos antigos conceitos de supremacia do interesse público e de indisponibilidade do crédito tributário de forma mais abrangente. O estudo, de caráter qualitativo, explicativo e documental, é baseado, eminentemente, em fontes doutrinárias e legislativas, com a análise de leis, projetos, dicionários, livros, trabalhos acadêmicos e artigos científicos publicados em periódicos e revistas, de origem nacional e internacional, pertinentes ao objeto central. São abordados, de forma dedutiva e sistêmica, os principais referenciais teóricos e empíricos em matéria de direito constitucional, administrativo, financeiro e tributário, que possam demonstrar eventual viabilidade da experiência de adoção de mecanismos alternativos de solução de conflitos, por meio de análise de seu conceito e seus impactos, principalmente no âmbito de um sistema tributário em crise. O primeiro passo é analisar o sistema processual tributário brasileiro e o caráter arbitrário, ineficiente e depreciado do atual modelo de cobrança do crédito tributário, a justificar a necessidade de se recorrer a mecanismos mais vantajosos. Em segundo lugar, indispensável identificar a problemática acerca da indisponibilidade do interesse público e do crédito tributário, elencada como impeditivo à autocomposição e à arbitragem em litígios de natureza tributária, a fins de se averiguar a possibilidade de cabimento e os desafios para a implementação de soluções alternativas, como a arbitragem e a transação, principalmente diante Uma vez verificada a possibilidade, é examinado, em caráter complementar, em que espécies de disputas tributárias e sob quais condições e limites a arbitragem e a transação poderiam ser operacionalizadas, a fim de se chegar à conclusão de que não só viável, como também imprescindível se faz o aperfeiçoamento do sistema processual tributário, com a adoção de referidas alternativas como ferramentas de solução de controvérsias. 7 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA ABORDADA: CRISE NA ARRECADAÇÃO E FALHAS NA PRESTAÇÃO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL PELO ESTADO NO ÂMBITO DAS CONTROVÉRSIAS TRIBUTÁRIAS 2.1 O sistema de arrecadação tributária e a atual conjuntura econômica brasileira É notório que o país sofre de insuficiência nas contas públicas e que a economia e a arrecadação não reagem como o esperado, impactadas pela crise política. Diante disto, diversas medidas têm sido adotadas pelo Governo, dentre elas a majoração de tributos; a edição da Medida Provisória n° 685/20158, já convertida na Lei nº 13.202/159 e que trata da obrigação da entrega da Declaração de Planejamento Tributário – DPLAT, pelos contribuintes que de alguma forma, tenham realizado operações que acarretaram supressão, redução ou diferimento de tributos; a Lei n° 13.254/201610, que dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) e o Programa Especial de Regularização Tributária (Pert), instituído pelas Medidas Provisórias n° 766 e 783, de 2017, posteriormente normatizadas pelaSecretaria da Receita Federal do Brasil. Conforme aponta estudo da Associação Paulista de Estudos Tributários (APET)11, no ano de 2017, a meta de déficit fiscal R$ 139 bilhões quase não foi cumprida, o que levou o governo a elevar a meta para R$ 159 bilhões, a cortar 8 BRASIL. Medida Provisória n° 685, de 21 de julho de 2015. Institui o Programa de Redução de Litígios Tributários - PRORELIT, cria a obrigação de informar à administração tributária federal as operações e atos ou negócios jurídicos que acarretem supressão, redução ou diferimento de tributo e autoriza o Poder Executivo federal a atualizar monetariamente o valor das taxas que indica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 22 jul. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/mpv/mpv685.htm>. Acesso em: 02 jul. 2017. 9 BRASIL. Lei n° 13.202, de 8 de dezembro de 2015. Institui o Programa de Redução de Litígios Tributários - PRORELIT; autoriza o Poder Executivo federal a atualizar monetariamente o valor das taxas que indica; altera as Leis nos 12.873, de 24 de outubro de 2013, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e 12.546, de 14 de dezembro de 2011; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 9 dez. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13202.htm>. Acesso em: 02 jul. 2017. 10 BRASIL. Lei n° 13.254, de 13 de janeiro de 2016. Dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por residentes ou domiciliados no País. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 14 jan. 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/l13254.htm>. Acesso em: 03 jul. 2017. 11 NOVO parcelamento fiscal limita contribuinte. Associação Paulista de Estudos Tributários. Informativo tributário. Publ. 12 jul. 2017. Disponível em: <http://www.apet.org.br/noticias/ver.asp?not_id=25535>. Acesso em: 15 jul. 2017. 8 despesas ao máximo e adiar a reoneração para 201812 – felizmente, a meta chegou a 30 bilhões aquém do esperado (ou seja, R$129 bilhões) em razão do aumento da arrecadação de dezembro e outras questões13. Ademais, recursos vindos de projetos como a repatriação e o Refis, programa de refinanciamento de dívidas, já na conta do governo, foram aquém do que se esperava – a repatriação, abaixo dos cerca de R$ 6,7 bilhões esperados para o caixa do governo federal (mais de R$ 13 bilhões brutos a serem divididos com Estados e municípios), com entrada de apenas R$ 800 milhões; o Refis, por sua vez, com relatório aprovado que diminui drasticamente a previsão de receitas de cerca de R$ 13 bilhões para R$ 416,8 milhões.14 Outras receitas previstas de concessões e permissões são incertas, de forma que a saída até então encontrada tem sido a tentativa de majoração da carga tributária, com os recentes aumentos das alíquotas de outros tributos, como PIS e Cofins; contribuições incidentes sobre o faturamento das empresas e contribuições destinadas ao financiamento da Previdência Social e do seguro-desemprego, cujas alíquotas variam de 3,65% a 9,25% (a depender do tamanho da empresa e do tipo de contabilidade e cujo aumento), as quais, apesar de passarem pelo Congresso Nacional, não devem observar a regra da noventena. Isto sem contar a possibilidade de criação e/ou majoração de outros tributos, como a Cide (incidente sobre o litro de combustíveis, com o objetivo secundário de estimular a produtividade e o uso de combustíveis mais limpos, cujo aumento dá-se por meio de decreto presidencial e não depende de aprovação do Congresso), a CPMF (que, apesar de vigorar entre os anos de 1996 e 2007, sofre chances de 12 De acordo com o Tribunal de Contas da União, não havia mais espaço para cortes de despesas: 90% (noventa por cento) dos gastos são obrigatórios por lei e, os outros 10% (dez por cento) sujeitos a cortes, já haviam voltado para o patamar de 2010 (PIVETTI, Fernando. Governo quer aumentar impostos: como isso vai atingir seu bolso. Revista Exame. Publ. 14 jul. 2017. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/governo-quer-aumentar-impostos-como-isso-vai-atingir-seu- bolso/>. Acesso em: 14 jul. 2017). Ademais, em que pese o governo tenha decidido reverter as desonerações da folha de pagamento criadas em 2011, o Congresso adiou a reoneração para 2018 e, com isso, o governo não pôde mais contar com R$ 2 bilhões previstos para o ano de 2017 (GRANER, Fábio; SIMÃO, Edna. Arrecadação em baixa 'reanima' alta de imposto. Valor Econômico. Brasília/DF, publ. 19 jul. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/5044250/arrecadacao-em-baixa-reanima-alta-de-imposto>. Acesso em: 28 jul. 2017). 13 ROMBO fiscal de 2017 deve ficar R$ 30 bilhões abaixo do previsto. Bom dia Brasil: G1 Economia. Publ. 03 jan. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/rombo-fiscal-de-2017-deve- ficar-r-30-bilhoes-abaixo-do-previsto.ghtml >. Acesso em: 04 jan. 2018. 14 GRANER; SIMÃO, 2017, op. cit., on-line. 9 retornar) e o Imposto sobre Grandes Fortunas (que, além de encontrar a resistência do empresariado, teria pouca aplicabilidade, ante a capacidade dos mais ricos de estruturar seus patrimônios por meio de pessoas jurídicas ou depositar suas fortunas no exterior, para fugir da tributação), entre outros.15 Em audiência pública com o objetivo de avaliar, periodicamente, a funcionalidade do sistema tributário nacional, realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) em 09/05/2017, definiu-se o sistema tributário nacional como disfuncional, cuja necessidade de revisão é latente. O próprio secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, apontou "assimetrias e fragmentação do sistema", que necessita de correções.16 No mesmo sentido, o Prof. José Roberto Afonso, do Instituto Brasiliense de Direto Público (IDP), afirma que, apesar de consistente, moderno e ousado quando de sua criação17, em 1965, o sistema tributário nacional, no momento presente, carece de atualização diante das mudanças na economia e na sociedade Não só a carga tributária é alta para uma infraestrutura inadequada, como o retorno aos cofres públicos é bastante módico. Exemplo disto é que apenas 1% (um por cento) do PIB deve-se à administração tributária, conforme matéria veiculada no portal da Associação Paulista de Estudos Tributários (APET).18 Gasta-se muito para administrar impostos, o contribuinte é cada vez mais onerado e, como se demonstrará adiante, o valor cobrado e efetivamente arrecadado é muito aquém do que se espera. 2.2 A cobrança administrativa e judicial do crédito tributário e a sobrecarga do Poder Judiciário “Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque a dilação ilegal nas mãos do julgador 15 PIVETTI, 2017, op. cit., on-line. 16 NECESSIDADE de reforma tributária é consenso de participantes de audiência. Associação Paulista de Estudos Tributários. Informativo tributário. Publ. 10 mai. 2017. Disponível em: <http://www.apet.org.br/noticias/ver.asp?not_id=25330>. Acesso em: 15 jun. 2017. 17 Ibidem. 18 Ibidem. 10 contraria o direito escrito das partes e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade. ”19 Assim como o fato de que a arrecadação e o sistema tributário brasileiro carecem de modernização e de melhorias que, substancialmente e de forma menos gravosa ao contribuinte,possam subsidiar o Estado e financiar a consecução dos fins públicos a que se destina, também é incontestável a sobrecarga que permeia o Poder Judiciário e sobresta, se não eterniza, a efetiva prestação jurisdicional. Por força do julgamento tardio dos litígios instaurados no Judiciário, uma das mudanças no ordenamento jurídico, além da busca de meios e filtros para evitar que os casos pendentes alcancem os tribunais superiores, tem sido a adoção de meios alternativos de solução de controvérsias, cada vez mais incentivados, como conciliação, mediação, transação e arbitragem.20 E a questão reflete muito bem no caso dos executivos fiscais, por meio dos quais não só as pessoas jurídicas de direito público, mas também entidades de classe, executam seus créditos. 2.2.1 Representatividade das execuções fiscais em trâmite no Judiciário brasileiro Cerca de 40% (quarenta por cento) dos 100.000.000 (cem milhões) de processos judiciais que tramitam no Brasil tratam de execuções fiscais, as quais têm uma taxa de congestionamento de quase 92% (noventa e dois por cento)21, enquanto, nos processos de outra natureza, a taxa gira em torno de 30% (trinta por cento). Em outras palavras, isto significa que a cada 100 (cem) processos de execução fiscal em 19 BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. 1920. 5. ed. Rio de Janeiro: Edições Casas de Rui Barbosa, 1999. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_aos_ mocos.pdf>. Acesso em 03 set. 2017, p. 40. 20 GRUPO DE ESTUDOS EM ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA DO CBAR. Arbitragem tributária é um caminho a ser explorado. Consultor Jurídico, publ. 11 jul. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jul-11/opiniao-arbitragem-tributaria-caminho-explorado>. Acesso em: 12 jul. 2017. 21 A taxa de congestionamento anual reportada pelo CNJ, mais precisamente, é de 91,9%, o que impede, de forma significativa o fluxo processual nos tribunais. (In CNJ fará pesquisa para acelerar recuperação do crédito tributário. Associação Paulista de Estudos Tributários. Informativo tributário. Publ. 12 jul. 2017. Disponível em: <http://www.apet.org.br/noticias/ver.asp?not_id=25535>. Acesso em: 15 jul. 2017). 11 juízo, apenas oito são encerrados em tempo razoável (considerado o prazo de um ano), segundo o Conselho Nacional de Justiça22. Apenas com relação aos processos em fase de execução processual (que representa metade dos processos pendentes de decisão no Judiciário), 75% (setenta e cinco por cento) das execuções pendentes são de natureza fiscal.23 Transportando-se a informação supra para a realidade dos 100.000.000 (cem milhões) de processos que correm atualmente, ou dos mais de 53.000.000 (cinquenta e três milhões) de execuções judiciais, 40.000.000 (quarenta milhões) são de natureza fiscal e, destas, 32.000.000 (trinta e duas milhões) chegam a perdurar por mais de um ano, ou mais do que o tempo médio razoável para conclusão, o que denota grande preocupação com a quantidade de feitos pendentes de julgamento e que abarrotam as prateleiras da Justiça. Isto sem contar outros processos de natureza tributária, nos quais as disputas entre Fisco e contribuintes parecem intermináveis. Os casos da constitucionalidade do crédito-prêmio de IPI e da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS/Cofins, ambos julgados pelo Plenário do STF, são exemplares nesse sentido.24 De mais a mais, além do critério quantitativo, por meio do qual denota-se um grande número de processos ativos aguardando resolução, é imprescindível a análise sobre a eficácia das execuções fiscais e, neste sentido, pesquisas demonstram que o valor arrecadado para a satisfação do crédito tributário é muito aquém do total inscrito em dívida ativa e nem sempre compensa os custos administrativos e judiciários envolvidos com o ajuizamento e o processamento das demandas. 2.2.2. Do custo-benefício da execução fiscal: análise sobre o custo da demanda, tempo médio de julgamento e êxito na recuperação do crédito tributário 22 GRILLO, Brenno. Melhor estratégia para execuções fiscais é tirá-las do Judiciário o máximo possível. Consultor Jurídico, publ. 08 out. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-out- 08/entrevista-carlos-mourao-fabrizio-pieroni-procuradores-sp>. Acesso em: 11 out. 2017. 23 CNJ fará pesquisa para acelerar recuperação do crédito tributário. Associação Paulista de Estudos Tributários. Informativo tributário. Publ. 12 jul. 2017. Disponível em: <http://www.apet.org.br/noticias/ver.asp?not_id=25535>. Acesso em: 15 jul. 2017. 24 PISCITELLI, Tathiane; MASCITTO, Andréa; FARICELLI, Priscila. Novos desafios para processos tributários. Valor econômico. Publ. 11 mai. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/legislacao/4964562/novos-desafios-para-processos-tributarios>. Acesso em: 14 out. 2017. 12 Somente no Distrito Federal, no ano de 2006, o magistrado Álvaro Ciarlini, ao publicar balanço da Justiça local, advertiu que estavam paralisados, nos escaninhos das oito varas fazendárias daquela unidade, cerca de 270.000 (duzentas e setenta mil) ações de execução fiscal, com média de trâmite de quinze anos e com desfecho nem sempre satisfatório, tendo ficado o Fisco impedido, à época, de receber cerca de R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais)25. Isto naquele âmbito, não se levando em conta a realidade de outros estados mais populosos e/ou com maior movimentação e consequente volume de demandas, como São Paulo e Rio de Janeiro. Já em plano nacional, em 2006, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, ao apresentar proposta para racionalização da cobrança do crédito público, demonstrou que o tempo de julgamento na fase administrativa levava, em média 4 (quatro) anos e 3 (três) meses; a execução fiscal, 4 (quatro) anos; os embargos à execução, 5 (cinco) anos; já para a exceção de pré-executividade e para mandados de segurança, não há prognóstico; que o litígio, como um todo, desde a fase administrativa até o trânsito em julgado no judicial, leva cerca de 16 (dezesseis) anos para o encerramento. Dos pleitos, no que se refere à cobrança judicial do crédito tributário, estudo realizado no ano seguinte (2007) pelo Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais (Cebepej), para o Ministério da Justiça e com apoio do Banco Mundial, mostrou que a arrecadação decorrente de execuções fiscais não atingia 1% (um por cento) do estoque da dívida ativa dos diversos entes federados.26 Em 2011, ou seja, quatro anos depois, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), órgão ao qual compete a representação judicial da União Federal em matéria tributária e a consultoria jurídica ao Ministério da Fazenda, demonstrou que apenas 1,37% da dívida ativa havia sido recuperada. O percentual, como se pode 25 Ibidem. 26 GRUPO DE ESTUDOS EM ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA DO CBAR. Arbitragem tributária é um caminho a ser explorado. Consultor Jurídico, publ. 11 jul. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jul-11/opiniao-arbitragem-tributaria-caminho-explorado>. Acesso em: 12 jul. 2017. 13 observar, quase não se alterou. Permaneceu extremamente débil, comparado ao estoque da dívida ativa.27 No mesmo ano, investigado o custo da execução fiscal pelo Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em parceria com o Conselho Nacional de Justiça, verificou-se baixo sucesso, que responde a apenas 33,9% dos casos28, ou seja, a probabilidade de haver pagamento do crédito cobrado em um executivo fiscal ocorre apenas em umterço dos casos. Ainda de acordo com o mesmo estudo, apenas três quintos dos processos de execução fiscal venceram a etapa de citação (sendo que em 36,9% dos casos não houve citação válida e em 43,5% o devedor não foi encontrado). Destes, a penhora de bens ocorreu em apenas um quarto dos casos (ou seja, 15% do total), mas somente uma sexta parte das penhoras resultou em leilão. Contudo, dos 2,6% do total de processos que chegaram a leilão, em apenas 0,2% o resultado satisfez o crédito e a adjudicação extinguiu a ação em 0,3%.29 Chegou-se, também, ao seguinte resultado: o pagamento ocorre em apenas 33,9% dos casos; a consumação da prescrição e da decadência, bem como o cancelamento da certidão de dívida, por sua vez – e, de forma significativa – em 27,7% e 17% dos casos, respectivamente; a extinção sem julgamento do mérito, em 11,5% e que, por tudo isto, a arrecadação foi, em média, de R$ 9.960,48.30 Ou seja, parte considerável dos feitos tramitam com falhas materiais ou processuais na exigibilidade do crédito, seja pelo decurso de prazo, pelo equívoco na constituição do crédito ou por vício processual31. Por exemplo, como forma de evitar a prescrição de créditos, os legitimados ajuízam ações executivas sem dados atualizados, corretos e precisos sobre os 27 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Publ. 2016. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/10/b8f46be3dbbff344931a933579915488.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2017 e http://www.pgfn.gov.br/noticias/PGFN%20Em%20Numeros%20- %202011.pdf. 28 BRASIL. Custo unitário do processo de execução fiscal na Justiça Federal: relatório de pesquisa. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Brasília/DF, 2011. Disponível em: < http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7862/1/RP_Custo_2012.pdf >. Acesso em: 11 dez. 2017. p. 19. 29 Ibidem, p. 34. 30 Ibidem, p. 34. 31 PORTO, Éderson Garin. É preciso usar meios alternativos, como transação e mediação, para cobrar tributos. Consultor Jurídico, publ. 17 jun. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jun- 17/ederson-porto-preciso-usar-meios-alternativos-cobrar-tributos>. Acesso em: 15 jul. 2017. 14 executados. O Judiciário, não podendo se furtar ao processamento das causas, envida esforços para localizar os supostos devedores. Já as providências tangentes à localização do devedor, ou de bens capazes a satisfazerem o crédito tributário, são reiteradamente realizadas sem sucesso, cada vez mais distantes da possibilidade de recuperação, acumulando as prateleiras do judiciário. 32 Além disso, de acordo com os dados apontados, o tempo de duração médio das execuções fiscais aumentou para 2.989 dias (pouco mais que oito anos), a corroborar o argumento de que a gestão administrativa do crédito tributário não é eficiente. No mesmo ano, num segundo estudo realizado pelo órgão, restrito às ações de competência da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, chegou-se à conclusão de que o custo unitário médio das ações de execução fiscal em geral, que é de R$ 4.368,00, e o breaking even point (ou ponto de equilíbrio, isto é, onde a execução fiscal não representa nem despesa, nem receita) é de R$ 12.885,60 (em outras palavras, este seria o valor a partir do qual seria economicamente justificável promover-se judicialmente o executivo fiscal no âmbito da PGFN, sendo que, ao executar valores inferiores ao patamar estabelecido, estar-se-ia mais gastando que obtendo a recuperação da dívida tributária inscrita e ajuizada).33 O relatório “PGFN em números”, de 201434, mostrou que, em que pese a arrecadação, o estoque da Dúvida Ativa da União, administrado pela PGFN naquele ano, no total de R$ 1,27 trilhões (sendo R$ 275.302.815.019,08 de créditos de natureza previdenciária e R$ 997.878.075.967,12 de créditos de natureza tributária não previdenciária e natureza não tributária) restou superior ao do ano de 2013%, havendo acréscimo, no entanto, de apenas 8,58% em relação ao estoque dos créditos 32 GRUPO DE ESTUDOS EM ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA DO CBAR. Arbitragem tributária é um caminho a ser explorado. Consultor Jurídico, publ. 11 jul. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jul-11/opiniao-arbitragem-tributaria-caminho-explorado>. Acesso em: 12 jul. 2017. 33 INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA). Custo e tempo do processo de execução fiscal promovido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Brasília/DF, nov. 2011. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/nota_tecnica/111230_notatecnicadiest1.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017. p. 16. 34 PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL. PGFN em números, 2014. Disponível em: <http://www.pgfn.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/pgfn-em-numeros- 2014/pgfn_numeros_2014.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2017. p. 6. 15 previdenciários e 9,09% em relação aos créditos tributários não previdenciários e não tributários. Ou seja, houve, neste período, um aumento na arrecadação com relação ao estoque de créditos púbicos previdenciários, tributários não previdenciários e não tributários, o qual, porém, ainda continua longe do esperado. Atualmente, é objeto de pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a recuperação do crédito tributário e, de acordo com recente matéria publicada pelo site Consultor Jurídico, no âmbito da Justiça Estadual, os estados e os municípios recuperam, em média, R$ 7.291,00 ao final de cada processo de execução fiscal, o qual, em média, tramita por pouco mais de seis anos até o encerramento.35 Se levada a média para cada uma das 40 milhões de execuções fiscais que ainda tramitam, em seis anos, o Fisco recuperaria cerca de R$ 291.640.000.000,00, isto é, menos de 300 bilhões de reais, comparativamente a um estoque quase R$ 1.000.000.000.000,00 (um trilhão de reais) superior, o que é preocupante. Mais recentemente, segundo o levantamento publicado em 01/11/2017, os tribunais brasileiros, no ano anterior, determinaram a devolução à instância de origem, ou determinaram o trânsito em julgado, em três milhões (de 40 milhões) de processos de execução fiscal em 2016, os quais envolviam em torno de R$ 21,9 bilhões. Ou seja, poucas ações são encerradas e o crédito tributário recuperado é baixo se comparado ao crédito inscrito em dívida ativa e cobrado. Soma-se a isso o fato de que o valor de inúmeras execuções fiscais varia de R$ 500 a R$ 1 mil, havendo também execuções de R$ 10, R$ 100, R$ 200, valores muito inferiores ao custo médio suportado pelo Poder Público (Judiciário e Executivo) para obter o pagamento da dívida (que, em Minas Gerais, chega a custar em torno de R$ 2.468 por processo – e que pode chegar a custar bem mais, se levados em conta fatores como o pagamento de intimação e outras taxas, papel, a hora de trabalho de servidores etc36. Na pesquisa capitaneada pelo Ipea em 2011, em parceria com o 35 EXECUÇÕES fiscais demoram seis anos e recuperam menos de R$ 8 mil, diz CNJ. Consultor Jurídico, publ. 01 nov. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-nov-01/execucoes- fiscais-demoram-seis-anos-recuperam-mil>. Acesso em: 06 nov. 2017. 36 Ibidem. 16 CNJ, já mencionada anteriormente, no âmbito da Justiça Federal, o custo médio girava em torno de R$ 4.685,39, praticamente o dobro do custo na Justiça Estadual37. Só com o pagamento de juízes e servidores da Justiça Federal de primeiro grau, por exemplo, foram destinados, aproximadamente, R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais).38 Denota-se, de todas as pesquisasdoravante indicadas, que os executivos fiscais são o principal problema de gestão para a Administração Pública e, também a principal barreira à efetividade da Justiça, já que seu custo benefício nem sempre compensa o prosseguimento do processo nos atuais moldes, perdurando demandas com alto custo e baixa recuperabilidade. Revela-se tanto pouco efetiva, quanto ineficiente, a forma como se dá o procedimento executivo fiscal, o qual, além de demandar tempo considerável, resulta em baixa arrecadação e gerar custos ao Judiciário e ao estado, ao empreender esforços na cobrança de créditos quase nunca recebidos. Ou seja, o contexto atual apenas contribui para a ausência de segurança jurídica, pois a prestação jurisdicional é morosa e nem sempre qualificada e os prejuízos com a demora excessiva na resolução e satisfação dos litígios estendem-se tanto ao contribuinte quanto às Fazendas públicas, o que exige medidas enérgicas e rápidas, dentre as quais muitas demonstram resultados positivos às partes e, outras, prejudiciais ao contribuinte.39 37 INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA). Custo e tempo do processo de execução fiscal promovido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Brasília/DF, nov. 2011. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/nota_tecnica/111230_notatecnicadiest1.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017. p. 22. 38 De acordo com o relatório do Ipea, “Considerando-se a folha de pagamento da magistratura federal de primeiro grau, de R$ 495,7 milhões anuais, e o total de 1.488 juízes em exercício ao longo do ano de 2009, tem-se que cada magistrado custou R$ 333,1 mil. Supondo-se que os juízes trabalhem 75,6 mil minutos por ano, tem-se que um minuto da mão de obra de um magistrado custa R$ 4,41. A folha de pagamento dos serventuários da Justiça Federal de primeiro grau, de R$ 3.302,2 milhões anuais, e o total de 20.677 servidores em exercício durante o ano de 2009 indicam que cada serventuário custou R$ 159,7 mil. Se os servidores trabalham 82,8 mil minutos por ano, tem-se que um minuto da mão de obra de um serventuário custa R$ 1,93” (In INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA). Custo e tempo do processo de execução fiscal promovido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Brasília/DF, nov. 2011. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/nota_tecnica/111230_notatecnicadiest1.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017. p. 27). 39 PORTO, Éderson Garin. É preciso usar meios alternativos, como transação e mediação, para cobrar tributos. Consultor Jurídico, publ. 17 jun. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-jun- 17/ederson-porto-preciso-usar-meios-alternativos-cobrar-tributos>. Acesso em: 15 jul. 2017. 17 2.3. Medidas judiciais e administrativas adotadas no sentido de ampliar a arrecadação Neste sentido, diante da ineficácia dos executivos fiscais, quase sempre incobráveis, algumas alternativas têm sido adotadas pelas fazendas públicas e pelo Judiciário. Algumas merecem destaque, como o Programa de Governança Diferenciada das Execuções Fiscais, instituído em 2015 pela Corregedoria Nacional de Justiça, inspirado no programa Conciliar é uma Atitude, implantado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. e que reúne Poder Judiciário, Executivo e a população em um esforço conjunto para promover o pagamento de dívidas fiscais, ao prever a negociação de débitos, redução de multas e juros e, até mesmo, o parcelamento do pagamento.40 De acordo com o Programa, que, se tornou permanente com a publicação do Provimento n° 57, de 22 de julho de 201641, se a dívida já estiver ajuizada, há a possibilidade da realização de audiências de conciliação. E, desde sua criação, foram promovidos diversos mutirões e que resultaram em um incremento na arrecadação aos cofres públicos, não somente no Distrito Federal, mas vários estados têm promovido os denominados “Mutirões de execuções fiscais”, como Espírito Santo, Pará, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraíba, Bahia, dentre outros – isto tanto âmbito da Justiça Estadual quanto a nível Federal.42 Ocorre que, também como estratégia mais eficiente à arrecadação, as fazendas públicas têm buscado ajuizar menos ações para diminuir o estoque de crédito a logo prazo e proceder à cobrança administrativa do crédito tributário de forma mais gravosa ao sujeito passivo. 40 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Programa Nacional de Governança Diferenciada das Execuções Fiscais. Brasília/DF, 08 ago. 2016. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/governanca-diferenciada-das-execucoes-fiscais/noticias>. Acesso em: 02 jan. 2018. 41 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento n° 57, de 22 de julho de 2016. Institui, de forma permanente, o Programa Nacional de Governança Diferenciada das Execuções Fiscais da Corregedoria Nacional de Justiça. Diário Oficial da União. Brasília, DF, jul. 2016. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/provimento-n57-22-07-2016-corregedoria.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2018. 42 Informações não detalhadas no presente estudo por questões metodológicas, mas que podem ser melhor encontradas no próprio portal do órgão (http://www.cnj.jus.br/). 18 Procede-se ao protesto de parcelamento rompido (por representar confissão de dívida), à penhora, penhora on-line, desconsideração da personalidade jurídica e, principalmente, ao protesto em cartório, medida mais recente autorizada pelo Supremo Tribunal Federal desde o ano de 2016. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) levou a discussão ao Supremo Tribunal Federal antes mesmo de a certidão de dívida ativa (CDA) ser incluída no rol dos títulos sujeitos a protesto43. Em novembro de 2016, no entanto, os ministros do Supremo consideraram a cobrança extrajudicial constitucional e legítima.44 Assim, a prática, com o aval da Corte, ganhou força desde então. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), por exemplo, enviou no primeiro semestre de 2017 três vezes mais títulos a cartórios, em comparação com igual período do ano anterior, ampliando em quase R$ 80 milhões a arrecadação com protesto – direcionando o trabalho dos procuradores à cobrança de grandes devedores.45 Exerce-se, desta maneira, verdadeira execução administrativa e, se o devedor se sentir prejudicado, recorre ao Judiciário. Em entrevista ao Consultor Jurídico, procuradores do Município de São Paulo afirmaram que, na esfera administrativa, a taxa de efetividade é maior que a das cobranças por meio do Judiciário, que antes demoravam em razão do papel e, agora 43 Acrescentada pelo artigo 25 da Lei 12.767, de 2012, ao parágrafo único do artigo 1º da Lei 9.492, de 1997 (In BRASIL. Lei n° 12.767, de 27 de dezembro de 2012. Dispõe sobre a extinção das concessões de serviço público de energia elétrica e a prestação temporária do serviço e sobre a intervenção para adequação do serviço público de energia elétrica; altera as Leis nos 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, 11.508, de 20 de julho de 2007, 11.484, de 31 de maio de 2007, 9.028, de 12 de abril de 1995, 9.492, de 10 de setembro de 1997, 10.931, de 2 de agosto de 2004, 12.024, de 27 de agosto de 2009, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publ. 28 dez. 2012. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/Lei/L12767.htm>. Acesso em: 09 jul. 2017). 44 Neste sentido, veja-se que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n° 5135, em que a ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI) questionou norma que incluiu, no rol dos títulos sujeitos a protesto, as Certidões de Dívida Ativa (CDA) da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. Por maioria, a Corte entendeu que a utilização do protesto pela Fazenda Pública para promover a cobrança extrajudicial de CDAs e acelerar a recuperação de créditos tributários é constitucional e legítima (In SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Protesto de certidões de dívida ativa é constitucional, decide STF. Notícias STF. Publ. 09 nov. 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=329103>. Acesso em: 05 jul. 2017). 45 ROSA, Arthur; OLIVON, Beatriz. Protesto de dívida eleva arrecadação. Valor Econômico, São Paulo, SP, publ. 16 out. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/legislacao/5156314/protesto-de- divida-eleva-arrecadacao>. Acesso em: 17 out.2017. 19 pela dificuldade em localizar o devedor, que teme muito mais o nome sujo em protesto que as decorrências do processo judicial.46 Já em âmbito estadual, atualmente, a arrecadação de dívida ativa administrativa via protesto equivale a 53%47. Os débitos acima de R$ 50,00 (cinquenta reais) e inscritos em dívida ativa são levados a protesto - mesmo com posterior aforamento de execução fiscal. De acordo com o subprocurador-geral do Estado de São Paulo, da Área do Contencioso Tributário-Fiscal, Eduardo Fagundes, "Com execução fiscal, o índice é pífio, de 1,5% do valor ajuizado" e, por meio da prática, a procuradoria afirma que vem alcançando bons índices de recuperação (no caso do ICMS, de 7,5% e, do IPVA, 28%). Com a assinatura de convênio com o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil - Seção São Paulo em 2012, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) passou a enviar aos cartórios, por meio eletrônico, certidões de dívida ativa do Estado e de suas autarquias. Daquele ano até o início de agosto, já foram protestados mais de 6,5 milhões de títulos, em um valor total de R$ 41 bilhões. Em São Paulo, apenas dívidas acima de R$ 15 mil (600 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs) são judicializadas.48 Já na Procuradoria-Geral Federal (PGF), órgão da Advocacia-Geral da União (AGU) responsável pela cobrança de dívidas com autarquias e fundações públicas federais, o índice de recuperação também é alto, de 25%. A prática foi adotada em 2010 e acelerada este ano, com a decisão do Supremo. Entre 2010 e 2016, foram enviados 110 mil títulos a protesto, enquanto só no primeiro semestre deste ano foram 76 mil, com valor total de R$ 133 milhões.49 De acordo com o presidente do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil - Seção São Paulo, José Carlos Alves, o protesto revela-se gratuito para o credor e mais eficiente. Mais de 50% das dívidas são recuperadas em cinco dias pelo 46 GRILLO, Brenno. Melhor estratégia para execuções fiscais é tirá-las do Judiciário o máximo possível. Consultor Jurídico, publ. 08 out. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-out- 08/entrevista-carlos-mourao-fabrizio-pieroni-procuradores-sp>. Acesso em: 11 out. 2017. 47 Ibidem. 48 ROSA, Arthur; OLIVON, Beatriz. Protesto de dívida eleva arrecadação. Valor Econômico, São Paulo, SP, publ. 16 out. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/legislacao/5156314/protesto-de- divida-eleva-arrecadacao>. Acesso em: 17 out.2017. 49 Ibidem. 20 Poder Público. Em razão da eficiência da demanda, o crescimento da prática tem se dado de forma acelerada - de 2014 a 2017, o protesto de CDA´s, que antes representava 8% dos protestos realizados, passou a 43% dos títulos.50 No caso da PGFN, além de elevar a arrecadação, a prática liberou procuradores para cobrança de dívidas de grandes devedores. No primeiro semestre de 2017, foram enviadas a cartório 615,4 mil certidões de dívida ativa, com arrecadação de R$ 285 milhões. No mesmo período de 2016, haviam sido encaminhadas 214,1 mil, com recuperação de R$ 206 milhões.51 A complexidade e o grande número de demandas em matéria tributária, o baixo índice de encerramento dos litígios e de recuperação do crédito tributário põe à mostra a incapacidade do Estado para atuar como o grande agente solucionador dos conflitos. A eficiência, como princípio da boa administração, torna-se ainda mais impossível de ser atendida, primeiro pelas limitações orçamentárias da administração; segundo pela inaptidão do Estado em efetivamente proteger a sociedade. O sistema, como um todo, torna-se ainda mais sobrecarregado com o aumento do número de demandas administrativas e judiciais, com o consequente aumento do volume dos créditos tributários e, portanto, a execução fiscal torna-se medida subsidiária, o que leva as Fazendas Públicas a empregarem outros meios de cobrança da dívida tributária. Não só a morosidade processual, mas a ineficiência das ações exacionais é questão relevante a ser enfrentada. Os números acima demonstram que a taxa de sucesso na recuperação de débitos inscritos em dívida ativa e cobrados judicialmente é bastante baixa, também em face do alto custo de manutenção destes feitos no Judiciário, com resultados insatisfatórios se levado em contrapartida o investimento da sociedade para viabilizar a arrecadação.52 50 ROSA, Arthur; OLIVON, Beatriz. Protesto de dívida eleva arrecadação. Valor Econômico, São Paulo, SP, publ. 16 out. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/legislacao/5156314/protesto-de- divida-eleva-arrecadacao>. Acesso em: 17 out.2017. 51 Ibidem. 52 PISCITELLI, Tathiane; MASCITTO, Andréa; FARICELLI, Priscila. Novos desafios para processos tributários. Valor econômico. Publ. 11 mai. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/legislacao/4964562/novos-desafios-para-processos-tributarios>. Acesso em: 14 out. 2017. 21 Nesta senda, arrecadação, a exemplo do protesto de CDA´s, cuja eficiência é inegável, tem sido realizada de forma cada vez mais onerosa ao contribuinte. Desta forma, a legitimação de outros mecanismos neste cenário de morosidade e onerosidade pode agregar maior nível de efetividade à arrecadação e cobrança do crédito tributário, com maior participação do cidadão no processo construtivo de soluções para os conflitos e de forma menos gravosa53, como ocorre nos casos de conciliação e pode justificar, também, a realização de transação entre Fisco e contribuinte. Assim também, a resolução de demandas por meio da instauração de procedimento arbitral, a depender do caso, pode representar importante ferramenta de alcance de decisões não só mais precisas, ante a tecnicidade do árbitro, quanto mais céleres. Faz-se imprescindível analisar, portanto, a viabilidade da adoção dos procedimentos assinalados, por muitos rechaçados sob o argumento de que a supremacia do interesse público e a indisponibilidade do crédito tributário obstam a prática. É o que se passa a analisar. 53 BRANDÃO, Luiz Mathias Rocha; MENDOZA, Melanie Claire Fonseca. Desafios contemporâneos para a prática da transação tributária: da discricionariedade compartilhada e da cooperação do contribuinte: caminho para a eficiência da atividade tributária. In VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira; ARAÚJO E MENDONÇA, Maria Lírida Calou De; FEITOSA, Raymundo Juliano (coord.). Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI – Brasília/DF, Direito Tributário e Financeiro I, CONPEDI/UnB/UCB/IDP/UDF. Florianópolis: CONPEDI, 2016. Disponível em: <https://www.conpedi.org.br/publicacoes/y0ii48h0/erhi25v6/2Y7p7oyY0sUuEip0.pdf>. Acessoem: out. 2017. p. 11-12. 22 3 DESMITIFICAÇÃO DO DOGMA DA INDISPONIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO COMO ÓBICES À AUTOCOMPOSIÇÃO E À ARBITRAGEM EM CONFLITOS TRIBUTÁRIOS Como visto, vários são os motivos pelos quais revela-se benéfica a adoção de medidas mais eficazes de recuperação do crédito tributário, no contexto de um sistema tributário carecedor de recursos. As expensas necessárias para a manutenção de feitos executivos que perduram no Judiciário sem solução e que, por muitas vezes, são encerrados sem êxito e a prática de cobrança da dívida tributária por meios mais gravosos ao contribuinte devem ser repensadas, principalmente tendo-se em vista que, de fato, iniciativas como os mutirões e programas de conciliação têm gerado resultados positivos ao Fisco. No entanto, algumas discussões em matéria tributária levadas ao Judiciário carecem de decisões céleres, técnicas, efetivas e, especificamente quanto à cobrança judicial do crédito tributário, por vezes mostra-se inócua, tanto pelas barreiras criadas pelo contribuinte de má-fé, que encontra, na morosidade do Judiciário, o lugar adequado para eternizar o problema – e aguardar quiçá um novo regime de parcelamento – quanto pelas dificuldades encontradas por aquele contribuinte que não vê vantagem alguma na protelação da controvérsia e busca regularizar sua situação fiscal e resolver o litígio da forma mais rápida e segura possível, mas que se vê impossibilitado, financeiramente, de proceder ao pagamento integral da dívida. Isto mostra que a implementação de alternativas como a transação e a arbitragem podem agregar ainda mais efetividade ao sistema, aliada à participação do contribuinte de boa-fé. A questão, não obstante, esbarra na teoria da supremacia e indisponibilidade do interesse público, que, todavia, se afigura menos como impeditivo e mais como motivo ensejador da adoção de referidos mecanismos. É que, subsistindo os litígios tributários da forma morosa, como são, o Estado acaba por prejudicar sua própria manutenção e seus escopos, principalmente sua atuação como garantidor dos direitos e garantias fundamentais, dependente da entrada de recursos necessários à consecução de seus objetivos. 23 Questiona-se, assim, qual o motivo para a defesa da concepção segundo a qual não se transaciona o crédito tributário e se realmente encontra respaldo no ordenamento jurídico e na atual conjuntura. 3.1 Resistência doutrinária à adoção de métodos independentes de solução de controvérsias em matéria tributária e o fundamento normativo e axiológico da indisponibilidade do crédito tributário O tributo sempre esteve presente como prestação pecuniária obrigatória aos súditos ou administrados das monarquias reais, parlamentares, repúblicas, como elemento fundamental de custeio das atividades do Estado – nos primórdios, destinado ao financiamento dos gastos dos reis, do parlamento e da formação dos exércitos, até o advento do estado social e edificado na lei, não mais restrito à atuação governamental, mas provedor de serviços em prol dos administrados.54 Sendo o propósito da tributação o fornecimento de recursos financeiros para que os órgãos da Administração Pública possam desempenhar suas atividades e funções em benefício da sociedade, o ordenamento jurídico pátrio, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, estatuiu diversas normas que salvaguardam o interesse público, sem prejuízo das normas preexistentes que versavam sobre o crédito tributário.55 A partir deste momento, em que o Estado é visto, de forma ampla, como um gestor da coisa pública, provedor das necessidades públicas, garantidor e concretizador dos direitos fundamentais dos cidadãos, em seu aspecto individual e também coletivo, exsurgiu o dogma da indisponibilidade do crédito tributário, o qual não se encontra expressamente, ou mesmo implicitamente, inserido no texto 54 PARISI, Fernanda Drummond. Transação tributária no Brasil: supremacia do interesse público e a satisfação do crédito tributário. 2016. 167f. Tese (Doutorado em Direito Tributário) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, São Paulo/SP, 2016, 19-20. 55 Maria Sylvia Zanella di Pietro explica, a partir das transformações do Estado, de Polícia ao Estado Democrático de Direito, bem como ao tratar da fase do Estado Social do Direito, aponta que o Estado pode tributar, mas tem o dever de empregar essas receitas no fomento de suas atividades estatais. Há um poder-dever, que se apresenta sob a feição de poder enquanto direito, prerrogativa de se exigir o cumprimento de determinado comando (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade Administrativa na Constituição de 1988. 3.ed. São Paulo: editora Atlas, 2012, p. 21-22.). 24 constitucional, mas tão somente encontra respaldo, de forma mediata, no primado da supremacia do interesse público.56 E um dos maiores dogmas envolvendo o direito público é a afirmação de que o crédito tributário, assim como o interesse da coletividade, é abarcado pela indisponibilidade e, segundo os defensores da tese da indisponibilidade do crédito tributário, por se tratar de dinheiro público, não estaria na esfera de disponibilidade da Administração, por não haver como transigir com o que pertence a todos os cidadãos. No entanto, como afirma Fernanda Drummond Parisi, em estudo dedicado à temática abordada também na presente pesquisa, Mas tal pecha de indisponibilidade, atinente o fim a que se prestam os recursos tributários, não pode ser vislumbrada de maneira literal, porque o próprio ordenamento prevê diversas situações em que essas receitas são conotadas como disponíveis frente à determinadas finalidades outras, igualmente objetivadas pelos princípios constitucionais, inclusive o da supremacia do interesse público [...] E a leitura da Carta Magna permite inferir que essas atividades não são poucas. O nosso modelo estatal prevê um Estado interventivo e responsável por garantir aos cidadãos mais do que o mínimo vital, sempre visando à efetividade da igualdade.57 Ao mesmo tempo em que a lei passou a delimitar o poder de tributar, definiu as incidências tributárias, as formas de arrecadação, também determinou a destinação das receitas tributárias aos cofres públicos, seu devido controle e efetivo emprego nos deveres e finalidades estatais, não tendo, no entanto, delimitado o conceito de “indisponibilidade do crédito tributário”.58 E, de acordo com Heleno Taveira Torres como o conceito de tributo, até hoje não definido satisfatoriamente, acompanha também essa indeterminação conceitual da sua indisponibilidade, as dificuldades doutrinárias quanto à discussão do problema permanecem: Dentre todos, é o princípio da indisponibilidade do patrimônio público (tributo) o que maiores problemas de análise e de 56 PARISI, Fernanda Drummond. Transação tributária no Brasil: supremacia do interesse público e a satisfação do crédito tributário. 2016. 167f. Tese (Doutorado em Direito Tributário) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, São Paulo/SP, 2016, p. 29. 57 Ibidem, p. 30. 58 Ibidem, p. 21-22. 25 afetação comporta. O que vem a ser, precisamente, “indisponibilidade do crédito tributário”? O princípio da indisponibilidade do patrimônio público e, no caso em apreço, do crédito tributário, desde a ocorrência do fato jurídico tributário, firmou-se como dogma quase absoluto do direito de estados ocidentais, indiscutível e absoluto na sua formulação, a tal ponto que sequer a própria legalidade, seu
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