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97 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Unidade III Nas duas últimas unidades deste livro‑texto, destacamos os aspectos relacionados com a economia do setor público (também conhecida como finanças públicas). Todos que se envolvem com o estudo de Economia têm como primeira lição o confronto entre as necessidades ilimitadas dos agentes econômicos (famílias, empresas, governos etc.) comparativamente aos recursos finitos de que dispõem para atendê‑las, expressos nas disponibilidades fundamentais de terra, capital e trabalho. 5 LIVRES MERCADOS OU INTERVENCIONISMO ESTATAL Adam Smith (considerado o “pai” da Economia, escreveu, em 1776, A Riqueza das Nações) entendia que os mercados deveriam ser mantidos livres e que as ações racionais dos agentes acabariam por conduzir ao alcance do bem comum, almejado pela sociedade. É a ideia da “mão invisível”, segundo a qual os indivíduos, mesmo praticando ações em seu próprio benefício, chegarão ao bem comum, num sistema de mercados livres de influência governamental. Um dos críticos mais severos, Karl Marx considerava que a economia capitalista apresentava distorções fundamentais e, com o tempo, seria substituída por outra, que entendia ser o comunismo. As crises econômicas (desde o século XIX), aliadas ao crescimento promovido com a degradação do meio ambiente, davam a entender que a liberdade total de atuação dos mercados não se justificava. Segundo a visão dos economistas clássicos, que surgiu no século XVIII a partir das ideias de Adam Smith, o governo deve intervir o menos possível nas atividades econômicas, restringindo‑se às funções de: • segurança nacional; • distribuição da justiça; • manutenção da ordem; • oferta de bens públicos (aqueles que, por falta de interesse ou de recursos, não são produzidos pela iniciativa privada). O governo deve possibilitar ao mercado que opere com liberdade suficiente visando alcançar a eficiência econômica. O argumento repousa na ideia de que no sistema perfeitamente competitivo milhares de consumidores e produtores atuam livremente, com condições de resolver os problemas econômicos fundamentais. As críticas mais comuns a esse tipo de sistema econômico, porém, são as 98 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III de que os preços nem sempre flutuam livremente de acordo com as forças de mercado, por sofrerem influências, por exemplo, de: • atuação dos sindicatos; • poder dos monopólios e oligopólios. No entanto, a maioria dos estudiosos entende que a livre iniciativa é mais eficiente no tratamento dos problemas, tomadas de decisão e implantação de soluções, em geral. Conforme a teoria econômica, a competição entre os agentes econômicos leva ao equilíbrio (ou ótimo) de Pareto, situação em que ninguém conseguirá melhorar a sua situação sem causar algum tipo de prejuízo a outros agentes econômicos. O equilíbrio aqui ressaltado, porém, depende de uma série de condições ótimas, sendo necessário: • a inexistência (ou não influência) de alterações tecnológicas; • que o mercado esteja organizado da forma conhecida como concorrência perfeita entre os agentes, caracterizada, entre outros aspectos, pela existência de um grande número de vendedores e de compradores, comercializando produtos iguais ou bastante parecidos; • que não ocorra a possibilidade de um agente individual afetar o preço que está sendo praticado com relação ao respectivo produto ou serviço; • que os agentes de mercado, pelo seu tamanho, pela disseminação de informações entre os concorrentes, sejam incapazes de influenciar os preços dos produtos e serviços. Há situações, porém, em que essa eficiência não é claramente obtida, sendo constatadas as chamadas falhas de mercado. Nesses casos, apesar de operarem de forma livre, os mercados falham em conseguir a desejada eficiência e, mais ainda, quando se trata de atender aos problemas de distribuição de recursos entre as camadas da sociedade. Esse modelo clássico de pouca intervenção do Estado na economia funcionou até a chegada da Grande Depressão de 1929. Lembrete Como indicamos anteriormente neste livro‑texto, a crise mostrou, claramente, os limites trazidos pelos mercados se deixados livres, sem grandes controles ou interferências dos governos. O enfraquecimento da economia americana, pelo seu porte e relacionamento com os outros países, repercutiu em todo o mundo. 99 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO A ocorrência de crises desse tipo demandam a intervenção do governo nas atividades econômicas, adotando medidas como: • fixação do salário mínimo a ser pago à força de trabalho da economia; • definição dos preços mínimos e máximos a serem aplicados pelos produtores de bens e serviços; • congelamento e tabelamento de preços; • cobrança de impostos e concessão de subsídios aos agentes econômicos; • controle das taxas de câmbio e de juros. Surgiu, então, outra abordagem, desenvolvida pelo economista John Maynard Keynes, conhecida como keynesiana, que pregava exatamente essa maior participação do governo para estimular a demanda agregada (representada pela soma das procuras ou desejos de compra de bens e serviços por todos os agentes que participam da economia), com a criação de empregos e a geração de renda. Saiba mais Leia a seguinte obra de Keynes, publicada em 1936: KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Saraiva, 2012. Fazendo uma análise das alternativas de intervenção do Estado numa economia de livres mercados, o economista Samuel Pessoa (2014), em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, edição de 19 de janeiro de 2014, sob o título Crescimento, Fenômeno Institucional, comenta: Há varias formas de institucionalizar uma economia de mercado. Países anglo‑saxões preferem um Estado leve e muito espaço para o setor privado e não gostam de muito seguro social. Já as economias do Leste Asiático favorecem um Estado que intervém muito na economia, mas também não são entusiastas do seguro social. Finalmente, as sociedades da Europa Continental apreciam muita intervenção estatal na economia além de muito seguro social. Não existe fórmula única e, para tornar tudo mais complicado, a construção institucional tem que ser local e compatível com as crenças de cada sociedade. 5.1 Funções clássicas do Estado Retomando as razões que justificam a intervenção do Estado na economia, temos: 100 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III • aumento da eficiência econômica; • estabilização da economia; • estímulo ao crescimento econômico; • procura da equidade social. O Estado executa, então, as chamadas funções macroeconômicas, que podem ser classificadas em: • alocativas; • estabilizadoras; • de distribuição de renda. 5.1.1 Função alocativa Consiste no fornecimento pelo Estado de bens e serviços públicos que não são oferecidos regularmente e/ou de forma eficiente pela iniciativa privada. Estão enquadradas nesta categoria os serviços como os de segurança nacional e aqueles de cobertura jurídica ao funcionamento da sociedade. Em termos de bens físicos, por exemplo, podemos lembrar o caso de uma hidroelétrica que, em função dos altos custos e demora no retorno dos benefícios (lucros), é usualmente construída com uso de recursos do governo. Observação Na atualidade, empreendimentos de grande porte têm sido realizados pela combinação de recursos e competências, públicas e privadas.Sintetizando, essa função relaciona‑se à alocação de recursos por parte do governo com a intenção de oferecer: • bens públicos (rodovias, segurança etc.); • bens semipúblicos ou meritórios (educação e saúde, principalmente). Bens públicos são aqueles que podem ser usufruídos por todas as pessoas, independentemente do pagamento de qualquer preço, como é o caso de vias públicas, praias, iluminação pública etc. O bem, para ser considerado público, não precisa ser fornecido necessariamente pelo Estado, mas deve possuir as características de não rivalidade e não exclusão do consumo. 101 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Empresas privadas podem também fornecer bens públicos, obtendo financiamentos ou apoio do Estado, de modo que o consumo do bem não esteja condicionado a nenhuma prestação pecuniária pelo consumidor. Devem ser, também, considerados os bens meritórios ou semipúblicos, entendidos como imprescindíveis para a garantia mínima da condição de vida do cidadão, e que podem ser oferecidos pelo Estado ou pelo mercado. Em outras palavras, são os bens que, embora possam ser explorados economicamente pelo setor privado, devem ou podem ser produzidos pelo governo para evitar que a população de baixa renda seja excluída de seu consumo, por não poderem arcar com o pagamento do preço correspondente. É o caso dos serviços de educação e saúde. Um dos principais objetivos ou argumentos para esse tipo de macrofunção (se não o maior) é a promoção do desenvolvimento (como a construção de usinas, portos, aeroportos etc.) da região ou país. 5.1.2 Função de estabilização Para manter a economia estabilizada, isto é, capaz de suportar as flutuações inerentes às operações dos mercados, o governo precisa praticar políticas relacionadas com o nível de emprego e das atividades econômicas. Em situações de recessão e desemprego, espera‑se que o governo adote políticas que facilitem a expansão da economia, como: • aumento de seus dispêndios; • redução da tributação que aplica sobre os agentes econômicos; • combinação dessas duas medidas. Em épocas de muito emprego e com tendência ao crescimento do nível da inflação, o governo deve praticar medidas que visem “desaquecer” a economia, por exemplo: • redução de seus dispêndios; • aumento da tributação que aplica sobre os agentes econômicos; • combinação dessas duas medidas. Essa macrofunção pretende que se atinja a estabilização da moeda do país, com a manutenção de preços mais equilibrados, via controle da inflação. Neste conjunto, podemos incluir as atividades que se relacionam com a manutenção do nível geral de emprego dos fatores de produção (terra, mão de obra e capital) na economia. Entre as medidas a serem conduzidas pelos governos, podem ser mencionados os controles sobre, entre outros, os níveis e flutuações de valores de: 102 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III • inflação: a inflação é definida como o aumento continuado de preços na economia durante um determinado período. Entre os custos gerados pela inflação, podemos indicar: —― concentração de renda; —―desequilíbrio do balanço de pagamentos. As importações e remessa de valores nacionais devem ser compatíveis com os níveis de exportação e de obtenção de recursos do exterior; —―piora das expectativas dos agentes econômicos; —―desestímulo às aplicações financeiras; —―surgimento da ilusão monetária, conduzindo a decisões equivocadas pelos agentes econômicos. Figura 17 – Inflação (aumento de preços) • taxa de juros: esse indicador revela o preço da moeda nacional em um determinado momento. Assim, se houver aumento dessa taxa, isso implica diminuição do valor (poder de compra) da moeda nacional e vice‑versa; • taxa de câmbio: esse indicador demonstra o preço, em unidades da moeda nacional, para a aquisição da divisa (moeda) estrangeira (normalmente é calculado o do dólar norte‑americano, que é usualmente empregado no comércio de bens e serviços no mercado internacional); Se, por exemplo, essa taxa aumentar, implica que ficou mais caro comprar uma unidade de moeda estrangeira e que a moeda nacional perdeu poder aquisitivo. Veja: Tabela 1 – Cotação de fechamento do dólar no dia 30/04/2014, quarta‑feira: Data Taxa de Compra Taxa de Venda 30/04/2014 2,2354 2,2360 Fonte: Banco Central do Brasil (2014). 103 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Entre os exemplos de instrumentos de que dispõe o governo para a execução da macrofunção estabilizadora, temos: • instrumentos fiscais (a chamada política fiscal): compras e vendas de bens e serviços governamentais, política tributária; • instrumentos monetários (a política monetária): controle da oferta de papel‑moeda, dos depósitos compulsórios do setor financeiro e da taxa de juros. 5.1.3 Função social e distributiva Esta macrofunção é relacionada com a distribuição da renda do PIB (produto interno bruto) entre os agentes econômicos. As transferências entre esses agentes podem ocorrer, por exemplo, com base: • na cobrança de impostos maiores sobre as camadas de maior poder aquisitivo; • na definição do tipo de serviço que será oferecido pelas entidades governamentais; • na distribuição de subsídios às camadas mais pobres da população, como é o caso do programa Bolsa Família no Brasil (transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza). No que tange ao Bolsa Família, Pessoa (2014) comenta que esse programa deve, possivelmente, aumentar a eficiência econômica, em função dos efeitos benéficos sobre a melhora da escolaridade das crianças assistidas. [...] O Bolsa Família provavelmente alinha o interesse da sociedade, que as crianças tenham uma boa educação, com os [...] das famílias de terem condições melhores para conseguir promover essa melhor educação. Observação A gestão do programa instituído pela Lei nº 10.836/2004 e regulamentada pelo Decreto nº 5.209/2004 é descentralizada e compartilhada entre a União, estados, Distrito Federal e municípios. Os entes federados trabalham em conjunto para aperfeiçoar, ampliar e fiscalizar a execução (BRASIL, s.d.d). Há, portanto, várias situações econômicas nas quais os critérios de equidade social justificam, ainda que parcialmente, uma redução da eficiência. O objetivo fundamental desse tipo de macrofunção é o de tornar a sociedade menos desigual, seja: • quanto ao acesso à renda; 104 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III • no que se refere à possibilidade de obtenção de produtos e serviços; • quanto aos benefícios gerais da convivência social. Além do Bolsa Família, podemos citar, entre os exemplos de políticas que visam atender à macrofunção distributiva: • tributação maior para os artigos classificados como de luxo, comparativamente aos essenciais, como é o caso de alimentos; • benefícios previdenciários (pensões e rendas) maiores do que os custos para determinadas faixas da população; • programas de assistência social, sem caráter contributivo. A assistência social, política pública não contributiva, é dever do Estado e direto de todo cidadão que dela necessitar. Entre os principais pilares da assistência social no Brasil estão a Constituição Federal de 1988, que dá as diretrizes para a gestão das políticas públicas, e a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), de 1993, que estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações (BRASIL, s.d.b). Um medidor adequado parao controle do nível de distribuição de renda de um país ou região é o Coeficiente de Gini, desenvolvido pelo matemático Corrado Gini. O coeficiente varia entre zero e um: quanto mais próximo do zero, menor é a desigualdade de renda num país; quanto mais próximo do um, maior a concentração de renda num país. Observação O Índice de Gini é apresentado em pontos percentuais (coeficiente x 100). O Índice de Gini do Brasil é de 51,9 (dados de 2012), revelando uma alta concentração de renda, apesar de haver ocorrido melhoras em relação às medições anteriores. Saiba mais Obtenha mais informações sobre o Coeficiente de Gini consultando o documento a seguir: GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. Entendendo o Índice de Gini. Disponível em: <www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/Entendendo_Indice_ GINI.pdf>. Acesso em : 6 maio 2014. 105 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO A desigualdade de renda é algo que preocupa várias nações, mesmo as que estão em franco crescimento. Uma reportagem da Folha de São Paulo, edição de 28 de outubro de 2012, sob o título China enfrenta explosão de desigualdade (MAISONNAVE, 2012), comentava que determinada pesquisa demonstrou que os 10% dos domicílios mais ricos concentravam 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país. Outra, do mesmo jornal, em 1º de janeiro de 2012, sob o título Estados Unidos vivenciam pico de desigualdade social, assinada por Luciana Coelho, era concluída com a observação: Duas coisas amplamente citadas como razões para isso estarão no foco da campanha presidencial de 2012. Uma é a política tributária – sobretudo os cortes de impostos para os mais ricos implantados por George W. Bush, que Barack Obama manteve. Outra é a regulação do sistema financeiro, desmantelada nas décadas de 1980 e 1990 por Ronald Reagan, George Bush pai e Bill Clinton (COELHO, 2012). 5.2 Estado produtor x Estado regulador A partir da década de 1930, passou a predominar no Brasil o modelo econômico baseado em forte intervenção estatal na produção de bens e serviços, fomentando a política de substituição de importações. Observação O símbolo dessa atuação estatal foi a constituição da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), em 1942. Nos dias atuais, a maior participação do Estado nessa modalidade pode ser auferida na operação de instituições como a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Com a orientação trazida pelo neoliberalismo e suas expectativas de Estado mínimo, diminuiu muito esse tipo de participação do Estado, ao menos até a ocorrência da crise mundial de 2007, sendo substituída pelo modelo regulador. A ideia do Estado mínimo considera que deve ser muito reduzida a participação do Estado na economia, o qual deve se preocupar, acima de tudo, com suas funções essenciais (segurança, justiça etc.). Foram criadas as agências reguladoras visando ao controle de atividades executadas pela iniciativa privada, mas de interesse coletivo/social, com foco na garantia de fornecimento, qualidade e tarifas/ preços adequados para os diferentes produtos e serviços. 106 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III 5.3 Políticas econômicas adotadas pelo governo 5.3.1 Política cambial Refere‑se ao conjunto de normas estabelecidas e de medidas tomadas pelo governo, visando influenciar a relação de preços entre a moeda nacional e a estrangeira. No Brasil, adotamos o regime de câmbio flexível e, assim, o valor da moeda estrangeira (por exemplo, o do dólar norte‑americano) depende de sua demanda e oferta no mercado. Há situações, todavia, em que o Banco Central atua diretamente no mercado, comprando e vendendo títulos de forma a alterar e/ou manter dentro de certos limites a cotação do câmbio. Existem benefícios e perdas decorrentes de aumento ou diminuição da taxa de câmbio, que é expressa pela fórmula a seguir. Ela permite o cálculo do preço, em moeda nacional (no caso, o Real) de 1 Dólar norte‑americano: taxacâmbio = R US $ $1 Entre as influências econômicas, uma taxa de câmbio valorizada significa que houve uma perda relativa de valor da moeda nacional (no nosso caso, o Real), o que encarece para os importadores estrangeiros os preços de nossos bens e serviços, reduzindo, pois, o total de nossas exportações. Na situação contrária, uma taxa de câmbio desvalorizada implica aumento relativo de valor da moeda nacional, fazendo com que haja para os importadores estrangeiros uma redução de preços de nossos bens e serviços, com consequente aumento das exportações. É importante considerar que o expediente da taxa de câmbio desvalorizada tem sido muito utilizado no Brasil, mais frequentemente no passado, com o objetivo de manter relativamente estável o nível dos preços internos na economia, de forma a reduzir as expectativas de inflação. Observação Grande parte da estabilidade da moeda brasileira, na época de implantação do Plano Real, foi obtida mantendo‑se o valor da moeda estrangeira abaixo do que ocorreria se o mercado cambial fosse deixado livre – na ocasião, a taxa de câmbio era mantida fixa pelo governo. Entre os fatores que determinam a cotação da taxa de câmbio, podemos indicar: • nível e flutuação das taxas de juros, interna e externa; • expectativas quanto ao futuro de demais variáveis econômicas; 107 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO • fluxo de investimentos estrangeiros; • percepção de risco dos investidores; • nível e flutuação da inflação (interna e externa); • fluxo de comércio exterior; • liquidez do mercado. 5.3.2 Política comercial Conjunto de normas estabelecidas e de medidas adotadas pelo governo com o intuito de influenciar o comércio de bens e serviços do país com o exterior. Se o objetivo for o de proteger as empresas nacionais, o governo pode atuar no sentido de impedir ou dificultar a importação de produtos estrangeiros. Entre as medidas que visam à proteção das empresas nacionais, podem ser mencionadas: • barreiras tarifárias: via aumento de tributos, como é o caso do imposto de importação, o que implica/equivale (a) aumento de preço do produto estrangeiro, comparativamente ao nacional; • barreiras não tarifárias: restrições à importação do tipo financeiro ou com base em limitações de cunho administrativo, podendo ser, por exemplo, de ordem sanitária (produtos com potenciais prejuízos à saúde), técnica (riscos à segurança do consumidor) ou ambiental (produto com potencial dano ou ameaça ao ambiente). Saiba mais Para obter mais detalhes sobre barreiras ao livre comércio internacional, consulte o site: BRASIL. Barreiras comerciais. [s.d.]e. Disponível em: <http://www.mdic. gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/id/28>. Acesso em: 6 maio 2014. 5.3.3 Política monetária Aqui, tratamos o conjunto de normas estabelecidas e de medidas adotadas pelo governo com o intuito de influenciar os níveis de dinheiro existentes na economia (base monetária). Neste caso, estão as medidas como: 108 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III • controle das emissões de moeda: autorização para a produção/emissão de mais papel‑moeda para circulação na economia; Figura 18 – Controle do volume de dinheiro na economia • aumento do depósito compulsório dos bancos no Banco Central, o que permite aos primeiros aumentar as alternativas de financiamentos aos agentes econômicos, acarretando a expansão dos meios de pagamentos; Observação O depósito compulsórioconsiste na custódia pelo Banco Central de parte dos depósitos recebidos do público pelos bancos comerciais. Esse instrumento atua diretamente sobre o nível das reservas bancárias (recursos em poder dos bancos), aumentando ou diminuindo a liquidez (disponibilidades financeiras) da economia. Observação O processo de fixação pelo Banco Central da taxa de juros mínima (piso) da economia brasileira, conhecida como Selic, é acompanhado com grande ansiedade e interesse pelas repercussões nas atividades de todos os agentes econômicos. • operações de empréstimos efetuadas pelos bancos, junto ao Banco Central, dos títulos descontados em seu poder, decorrentes de transações com os seus clientes; • compra e venda de títulos públicos no mercado feitas pelo governo (via Banco Central). Uma venda de títulos equivale a um “enxugamento de moeda” antes disponível para as transações dos agentes econômicos. Uma compra de títulos equivale a um aumento de disponibilidade da moeda para utilização pelo público em suas transações econômicas; 109 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO • controle das taxas de empréstimos do Banco Central em operações realizadas com as instituições financeiras. Visam, também, à expansão ou retração da quantidade de moeda disponível na economia; • fixação do valor da taxa de juros básica da economia, que afeta as demais taxas de juros existentes no país. Uma taxa de juros mais alta inibe as transações dos agentes econômicos, afetando as vendas das empresas. Já uma taxa de juros mais baixa pode incentivar o consumo e redundar em aumento de inflação no país; Lembrete A fixação da taxa de juros básica, no Brasil e em vários outros países, é um dos mais importantes instrumentos para o controle das taxas de inflação e de crescimento da economia. • Controle e seleção do crédito disponível aos agentes internos da economia. Observação O governo brasileiro procurou aumentar a oferta de crédito aos agentes econômicos, valendo‑se, inclusive, de intervenções junto às instituições financeiras oficiais, como o BNDES, principalmente, mas, também, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. 5.3.4 Política fiscal Conduzida a partir da administração dos montantes (valores) das receitas e despesas do governo. É o caso, por exemplo, de alterações na política de cobrança de impostos que promovem modificações globais no consumo, no investimento e na situação de equilíbrio da renda nacional. Podemos classificar a política fiscal em: • tributária: relacionada com a fixação e cobrança de tributos junto à sociedade; • orçamentária: aumento ou redução dos gastos das entidades governamentais. Quando o governo gasta mais do que arrecada num determinado ano ou período, incorre em déficits. Os superávits, por outro lado, acontecem em situações de maior volume de receitas (arrecadações de tributos) comparativamente às despesas (gastos) do governo. 110 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III Observação No momento em que este livro‑texto foi redigido, eram severas as críticas à manutenção de grandes gastos pelos governos, principalmente o federal, que impediam o adequado crescimento da meta de superávit fiscal, estabelecido para o pagamento da dívida pública brasileira. Saiba mais Leia o seguinte artigo, que comenta os resultados fiscais insatisfatórios e inferiores a anos anteriores para o abatimento da dívida pública: PATU, G.; FERNANDES; S. Alta de gastos do governo no 1º trimestre é a maior sob Dilma. Folha de São Paulo, 1º maio 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/1 909‑alta‑de‑gastos‑do‑governo‑no‑1‑trimestre‑e‑a‑maior‑sob‑dilma. shtml>. Acesso em: 5 maio 2014. 5.3.5 Inter‑relação entre os vários tipos de política econômica Em um grande número de situações, a utilização de uma política voltada a um determinado objetivo pode obter resultados sobre outros aspectos. Uma política de cunho inicialmente alocativo – por exemplo, nos casos de investimentos em construção civil em determinadas comunidades carentes – faz com que se alcancem, também, metas de cunho distributivo, promotoras de equidade. Essa mesma providência, pode, também, pelos multiplicadores de mercado da construção civil, redundar em vantagens sob o ponto de vista de estabilização e crescimento, por contribuírem para a expansão de renda de uma comunidade ou país. Há vários casos que poderemos mencionar e que ilustram os impactos múltiplos das políticas econômicas com vistas ao atendimento a vários objetivos e metas de caráter macroeconômico, político e social. 6 FALHAS DE MERCADO 6.1 Externalidades negativas e positivas A teoria indica que uma economia estará equilibrada quando, ao preço de mercado, a quantidade dos produtos que os compradores desejam adquirir equivale à que os vendedores pretendem negociar, considerando a relação custos/benefícios. Quando isso não ocorre, no confronto entre os custos e os 111 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO benefícios privados decorrentes da negociação de bens e serviços, temos o fenômeno das externalidades. A existência de falhas de mercado (isto é, de externalidades) ocorre quando uma ação de um agente privado pode fazer com que os custos sociais – de outros – sejam aumentados, requerendo a participação do governo na economia. Essa ação pode estar refletida no consumo dos indivíduos e famílias ou na produção dos bens pelas empresas. Podemos considerar a ocorrência de dois tipos de externalidades. A externalidade positiva ocorre sempre que a ação de um agente econômico melhora os resultados de outro, redundando num benefício social maior do que o privado. Nesse caso, deverá haver a intervenção do governo na economia para a realização de ações que atinjam as metas desejadas pela sociedade. Entre os exemplos relacionados com as ocorrências de externalidades positivas, podemos mencionar: • práticas de reciclagens de bens; • invenções científicas; • despoluição do meio ambiente; • investimentos em infraestrutura. Por exemplo, a construção de uma rodovia pode permitir aos produtores agrícolas próximos custos de transporte mais baixos e acesso mais rápido aos mercados consumidores (SANDRONI, 1999, p. 193). A externalidade negativa, por outro lado, acontece nos casos em que a ação executada por um agente econômico afeta negativamente outro. Também neste caso, essa ação pode estar relacionada com o consumo de indivíduos e famílias ou a produção das empresas que fazem parte da economia. O custo social será maior do que o privado, que é suportado diretamente pelo executor da ação. O governo intervém no mercado quando são produzidos mais bens com externalidades negativas do que o desejado pela sociedade. Entre os exemplos relacionados com as ocorrências de externalidades negativas, podemos mencionar: • congestionamentos de veículos em ruas, estradas etc.; • aumento dos níveis de poluição ambiental; • uso de substâncias tóxicas ou nocivas à saúde. Teoricamente, os efeitos das externalidades podem, em substituição às intervenções governamentais, ser eliminados ou mitigados por meio das transações (acordos) entre os próprios agentes econômicos do setor privado. O governo pode atuar no sentido de corrigir as externalidades, executando uma ou várias 112 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III das medidas indicadas a seguir: • estabelecimento de direitos de propriedade: regulaçãodo direito de uma agente realizar a ação que produza a externalidade; Observação Como exemplo, pode ser definido que um determinado músico somente pode praticar com seu instrumento até determinada hora do dia, incorrendo em multa aplicada pelo condomínio se esse horário for ampliado. • internalização da externalidade: adotar medidas que façam com que os agentes econômicos assumam, integralmente, a responsabilidade (e custos) de seus atos. Um exemplo, neste caso, é da determinação para despoluição de derramamento de água no mar, assumindo quem realizou a operação todos os custos de despoluição do ambiente. A intervenção do governo pode se dar via: • mecanismos baseados no funcionamento dos próprios mercados: determinação de imposto ou multa, concessão de subsídio ou, ainda, venda de direitos de produção de externalidades negativas (como poluição); • regulamentações de atos normativos: restringir a atividade econômica nociva e estimular aquela que é benéfica à sociedade. 6.2 Fornecimento de quantidade adequada de bens públicos Para os bens alocados pelo próprio mercado, que constituem a maioria em nossa economia, os preços são os sinais que guiam as decisões de compradores e vendedores. Entretanto, quando os bens são gratuitos, as forças de mercado deixam de funcionar e não servem como guia. Observação Naturalmente, há também os bens livres para os quais não há a determinação de preços, dado que são oferecidos gratuitamente na natureza, como é o caso da luz do sol ou da força dos ventos nos casos de geração de energia. 113 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Figura 19 – Fornecimento de bens públicos Os bens públicos são os que o mercado por si só não consegue produzir, ao menos nas condições requeridas pela sociedade, pela dificuldade em se estabelecer o seu preço. O fato é que esses bens têm como característica sua indivisibilidade e, portanto, não são excludentes (como ocorre com os bens privados), ou seja, são não rivais. Um bem não rival é aquele cujo consumo não impede o de outro consumidor, como é o caso da utilização de ondas de rádio. Quanto à exclusividade, podemos considerar: • bem excluível: aquele em que é possível impedir uma pessoa de usá‑lo, como é o caso dos pedágios em rodovias; • bem não excluível: aquele que não é possível ou viável excluir as pessoas de consumi‑lo, como são os casos de utilização da luz solar, peixes para a pesca etc. Uma vez constituído ou liberado, não há como se impedir o consumo desse tipo de bem ou serviço, mesmo por aqueles agentes econômicos que não tenham participado, de alguma forma, dos custos de sua produção. Essas características inerentes ao bem público fazem com que, efetivamente, seja muito difícil a sua produção pelo setor privado da economia. O bem privado, de outra parte, pode ser individualizado e precificado, determinando que usuários que não incorrem em seus custos sejam excluídos de seu consumo/utilização. Observação Se, numa comunidade de um milhão de habitantes, a produção de serviços de defesa custa, anualmente, 500 milhões de reais, e o padrão ideal de atendimento a toda a população requer um montante de recursos duas vezes mais elevado, não se pode concluir que metade da população 114 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III fica automaticamente excluída do consumo desse serviço. Caso sejam produzidos anualmente 300 mil automóveis e existam 500 mil indivíduos em condições de adquiri‑los, 200.000 desses indivíduos deixarão de obter o automóvel. Independentemente de suas preferências, uma peça de vestuário feita para uma pessoa não pode ser usada por duas ao mesmo tempo. Entre os exemplos que identificam bens públicos, mencionamos os bens e serviços relacionados com: • segurança nacional; • justiça; • praças; • ruas e avenidas. Esses bens acabam gerando também o chamado efeito free rider (carona), em que parcela da sociedade pode utilizar os seus benefícios sem ter arcado com os custos de sua fabricação ou preparação. É o caso, por exemplo, da iluminação pública, pois todos os que transitam nas ruas dela se beneficiam ainda que não tenham feitos pagamentos específicos para a sua instalação. Devido ao problema do carona, o setor privado não consegue ofertar bens públicos em uma quantidade socialmente desejável. O quadro a seguir relaciona as características que distinguem os bens públicos, privados e meritórios: Quadro 10 – Classificação de bens públicos, meritórios e privados Bens privados Bens meritórios Bens públicos Individualizados Sua característica de bem privado costuma ser menos importante do que a sua utilidade social (dado que gera externalidade) Não individualizados Rivais Não rivais Excluídos quando consumidos por um determinado agente econômico Não excluídos se consumidos por um determinado agente econômico São normalmente produzidos e oferecidos à sociedade pelo setor privado São normalmente produzidos e oferecidos à sociedade pelo setor público Fonte: Nascimento (2014, p. 34). Os bens públicos, para o seu fornecimento, demandam a cobrança de impostos aos agentes econômicos. Diferentemente do que ocorre com os bens e serviços do setor privado, quando a escolha de sua produção é relacionada com a relação entre seus custos e benefícios, que propicia o estabelecimento de preços, neste caso, essa preferência é feita indiretamente pela sociedade, via voto, pelo processo eleitoral, votando‑se nos partidos ou plataformas que prevejam a liberação desses bens. A não exclusão implica que o consumo de bens públicos é exercido coletiva, e não individualmente. 115 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO O crescimento da população é um dos fatores que exercem efeito direto sobre o volume ofertado de bens públicos e semipúblicos. Esse fornecimento é também afetado, entre outros fatores, por: • alargamento da base da pirâmide etária em países em desenvolvimento (escolas, assistência médica, ambulatórios especializados); • incrementos na urbanização (ruas, praças, trânsito, saneamento, polícia, bombeiros etc.); • achatamento da base da pirâmide etária em países desenvolvidos (transferências com pensões, aposentadorias, assistência médica etc.); • elevação do nível de renda per capita e do padrão de vida da população, ampliando o tempo disponível para o lazer (museus, parques, jardins, praias etc.); • poluição cada vez maior do meio‑ambiente, que acompanha o processo de industrialização. 6.3 Assimetria de informação A assimetria de informação é identificada como insuficiência ou falta de informação ou de conhecimento pelos agentes que atuam nos mercados e podem gerar barreiras em relação à desejada mobilidade dos fatores de produção. É comum, por exemplo, que alguma parte envolvida em uma transação, geralmente o consumidor, não possua informação completa sobre o produto que está negociando. O modelo padrão de comportamento econômico, admitido pela teoria clássica e descrito por Adam Smith, supõe que os participantes do mercado atuam sempre de forma racional e se mantenham constantemente bem informados. Em O Livro da Economia (2013a, p. 209), há uma ilustração que comenta a propósito do seguro de viagem, que pode fazer com que o segurado, por se sentir mais protegido quanto aos custos e riscos, realize atividades e esportes mais perigosos, fazendo com que as seguradoras aumentem o valor do prêmio (preço) para a cobertura do risco. Aqueles que são mais prudentes e avessos aos riscos acabampagando um preço maior para a sua cobertura, em situações de sinistros. Observação No mercado de seguro, sinistro refere‑se a qualquer evento em que o bem segurado sofre um acidente ou prejuízo material. Representa a materialização do risco, causando perda financeira para a seguradora. O governo deve agir legislando que toda informação relevante a respeito de um determinado produto seja divulgada a todos os participantes do mercado. Essa prática é muito adotada na 116 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III operação dos mercados financeiros e de capitais em que o órgão regulador (no caso brasileiro, a CVM, Comissão de Valores Mobiliários) fiscaliza o cumprimento dessa exigência (também denominada disclosure) pelas empresas que têm ações ou outros papéis/títulos negociados na Bolsa de Valores. Outro exemplo é o de estabelecimento de leis que obrigam as entidades do Sistema Financeiro Nacional a informar a taxa de juros que cobram de seus clientes. No caso das empresas comerciais, em geral, é requerido que informem, destacadamente, os valores dos produtos, se adquiridos à vista ou de forma parcelada. Podemos considerar, também, as dificuldades ou até mesmo a impossibilidade de abertura de novas empresas. Utilizemos o exemplo contido em Nascimento (2014, p. 36): “O mercado não consegue informação precisa sobre a oferta de trabalho; neste caso, cria‑se um órgão (Sine) pra intermediar a informação entre a demanda ([das] empresas) e a oferta de mão de obra ([das] famílias)”. Acrescidos aos aspectos anteriormente discutidos, como o de ocorrência de externalidades e de suprimento inadequado de bens públicos pelos mercados, esse fator (informação assimétrica) é também importante para que a produção desses bens seja feita diretamente pelo governo. Contudo, os economistas clássicos, considerados ortodoxos, defendem que a produção desses bens também pode ser realizada exclusivamente pelo setor privado. Neste caso, deve haver basicamente o apoio ou incentivo do setor público, via política fiscal e/ou monetária. Assim, a informação assimétrica é verificada sempre que, em uma negociação ou transação econômica, uma das partes dispõe de melhores ou mais completos dados do que o outro. Essa assimetria gera o que se define na microeconomia como falhas de mercado. Os exemplos mais claros de efeitos negativos da assimetria de informação sobre o mercado estão resumidos nos conceitos de seleção adversa e risco moral (moral hazard). Intuitivamente, a seleção adversa consiste, justamente, no efeito que a assimetria de informação tem na escolha do agente. Dada a incapacidade de o contratante separar o joio do trigo (por falta de conhecimento), os bons (fornecedores, contratados, segurados) tendem a afastar‑se de mercado em que a assimetria de informação é crítica, com o objetivo de não serem contaminados pelos problemas (má qualidade/reputação, baixos salários, elevadas mensalidades) que afetam determinado mercado. Exemplo clássico está no mercado de carros usados. Como só o dono do carro consegue precisar onde estão os problemas do carro (mesmo um mecânico contratado levaria dias para encontrar problemas esporádicos), o consumidor tende a olhar sempre com desconfiança para esse mercado. Daí a opção cada vez mais frequente pelo carro zero ou pela procura por concessionárias, que, embora vendam o produto a preços superiores, conferem maior garantia à venda (benefício para o consumidor) e elevam a expectativa de qualidade do veículo (benefício para o vendedor de produto de boa qualidade). 117 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Da mesma forma, em um plano de saúde ou em um seguro qualquer, a seguradora não sabe o efetivo risco que o cliente carrega consigo. Só este é capaz de precisar quais os problemas de saúde que carrega. Aliás, não é incomum alcoólatras, fumantes e adeptos de esportes radicais mentirem a respeito dos seus hobbies e hábitos com o simples intuito de baixar a sua mensalidade/franquia. Por outro lado, a mensalidade/franquia do cidadão de baixo risco fica acima do ideal, porque ele paga pela informação enganosa prestada por indivíduos que não assumem pertencer às classes de risco. Neste caso, é fácil perceber que os cidadãos que oferecem maior risco à seguradora têm incentivos muito maiores para contratar o seguro que aquele que, em tese, consegue poupar, sozinho, recursos suficientes para consultar‑se esporadicamente, em sinistros verdadeiramente inesperados. Ou seja, o seguro tem a capacidade de atrair os indivíduos que a seguradora (e os indivíduos verdadeiramente fora do grupo de risco) menos gostaria(m) de atrair: grupos de risco não assumido (seleção adversa). O risco moral, por sua vez, decorre de comportamento assumido por indivíduo segurado que toma atitude de risco por saber‑se coberto. Ou seja, o comportamento de risco surge, também, como uma consequência indesejada da condição de segurado. Observação Exemplo disso está no comportamento esperado dos grandes bancos. Em razão da comoção pública que ocorreria em caso de falência de um grande banco – o que levaria à perda das economias de uma vida de milhares de famílias –, determinados bancos são administrados na certeza de que podem assumir determinados riscos que, no limite, seriam cobertos pelo Estado (too big to fail). A questão do risco moral voltou a ser debatida, de forma intensa, após a última grande crise financeira e econômica, em 2007/2008. Problemas com as instituições financeiras costumam levar grande parte da economia à recessão e, por isso, elas creem que o governo irá socorrê‑las sempre que contarem com problemas. Muitos consideram que, por isso, os bancos costumam assumir investimentos com riscos maiores do que os prudentes/necessários. Um banco pode reunir e guardar informação privada sobre investimentos, assim como oferecer aos depositantes um rendimento que só ele próprio, com seu monitoramento, consegue concretizar. Muitos estudiosos consideram que até algumas medidas de segurança, como a garantia de depósitos, incentivam os clientes a relaxarem em suas preocupações quanto às entidades em que manterão seus depósitos e aplicações. 118 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III Leia o texto a seguir: CMN confirma aumento de garantia de depósito bancário para R$ 250 mil Decisão já havia sido anunciada pelo FGC no final de abril. A inclusão das LCA entre os créditos garantidos também foi formalizada. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou o aumento, de R$ 70 mil para R$ 250 mil, da garantia dos depósitos de um correntista contra instituições associadas ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Deste modo, em caso de falência, insolvência ou liquidação extrajudicial de uma instituição financeira, os depósitos até R$ 250 mil dos clientes estarão garantidos pelo FGC. A decisão, que já havia sido anunciada no final de abril, foi confirmada nesta quinta‑feira (23) pelo CMN – que é formado pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. “O aumento da garantia visa proporcionar maior segurança aos depositantes e aos demais credores das instituições financeiras, alinhando‑se esse valor aos limites praticados em países de economias similares a do Brasil”, informou o Banco Central. O FGC é uma entidade privada criada em 1995 para ser um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores. O fundo permite a recuperação dos depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira em caso de falência, insolvência ou liquidação extrajudicial.Segundo o governo, também foi autorizada a inclusão das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) entre os créditos garantidos. Isso decorre, de acordo com o Ministério da Fazenda, da natureza deste título, que é “preponderantemente um instrumento de varejo”. O CMN aprovou também a equiparação do FGC às instituições financeiras para fins de sigilo bancário (Lei Complementar nº 105, de 2001), para permitir àquele Fundo o acesso às informações do Sistema de Risco de Crédito do Banco Central para fins de análise das operações de crédito recebidas em garantia. Fonte: Martello (2013). Os bancos só mantêm em caixa uma porcentagem relativamente pequena de seus depósitos. Se todos os depositantes [...] aparecessem para retirar seu dinheiro no mesmo dia, só os que estiverem na frente da fila o receberão (O LIVRO..., 2013a, p. 319). 119 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Saiba mais Dois filmes recentes que abordam as repercussões da crise mundial de 2007/2008 dramatizam a questão aqui abordada: O DIA antes do fim. Dir. J. C. Chandor. EUA: Before the Door Pictures/ Washington Square Films/Untitled Entertainment/Sakonnet Capital Partners, 2011. TRABALHO interno. Dir. Charles Feguson. EUA: Sony Pictures Classics, 2010. Muitos acreditam, também, que grande parte dos problemas enfrentados pelos países europeus podem ser classificados como de risco moral, exemplificando com o caso da dívida pública e da sustentabilidade econômica e financeira da Grécia. 6.4 Problemas de competição e de concentração econômica Tratamos, aqui, dos casos em que há concentração de fornecedores de bens e serviços, denominados de monopólio ou oligopólio, que determinam a ocorrência do mercado incompleto. No primeiro caso a concentração é total, enquanto no segundo um reduzido número de empresas é encarregado dessa tarefa. Podemos classificar os monopólios em naturais e legais. Nos naturais, a própria estrutura do mercado favorece a concentração da oferta com o fito de propiciar um melhor atendimento para a sociedade, dado o menor preço pela economia de escala do fornecedor. Um exemplo é a exploração de minerais nucleares. Os monopólios naturais são também conhecidos como técnicos, e como exemplos dessa ocorrência podemos considerar os serviços relacionados ao fornecimento de eletricidade, gás e telefonia. É importante ressaltar que, neste caso, em que muitos riscos não conseguem ser suportados pela iniciativa privada, há a necessidade do suporte pelo governo. Viceconti e Neves (2012, p. 349) apontam o exemplo da impossibilidade de as empresas privadas desenvolver em energia atômica para suprir as necessidades da comunidade. Isso, em teoria, poderia ser feito com a junção de capitais, por meio da associação de várias empresas privadas. Todavia, é quase certo que esse tipo de consórcio deva ter uma efetiva participação governamental. O custo total da pesquisa é enorme; vários anos são necessários antes que o processo possa ser colocado em níveis econômicos, e mesmo que uma das empresas se dispusesse a correr o risco, teria dificuldade em colher os benefícios, obtendo o monopólio de uma patente e mantendo‑o em tempo suficiente para recuperar o seu investimento. Assim, o pesado risco tecnológico é complicado porque os benefícios não podem ser colhidos totalmente por quem corre o risco (VICECONTI; NEVES, 2012, p. 349). 120 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III O artigo 177 da Constituição Federal de 1988 indica que constituem monopólio da União: I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III – a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; V – a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal (BRASIL, 1988). Outros exemplos ajudam a entender melhor a questão da concentração econômica e a necessidade de intervenção do Estado visando a maior eficiência e equidade na atividade econômica: • desinteresse dos agricultores pela produção, necessária para o suprimento de alimentos, determinando a aplicação de subsídios governamentais para que ela ocorra; • aumentos de salários ou incentivos à educação para a formação de trabalhadores qualificados, capazes de atender às demandas dos diferentes setores da economia. Historicamente, desde o final do século XIX e início do anterior, tem sido estabelecida uma extensa legislação para combater as práticas de concentração de mercados, como as formações de associações, conluios, cartéis, trustes etc. A teoria econômica clássica admite a concorrência como elemento fundamental para o funcionamento dos livres mercados. Quando vários produtores e vendedores estão operando, há um incentivo maior à produção e ao estabelecimento de preços baixos. Entre os processos de concentração econômica, pode ser mencionada a cooperação (acordo) entre empresas. 121 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO Observação Em O Livro da Economia (2013a, p. 71) é mencionado o exemplo de Unilever e Procter & Gamble, que se uniram visando à fixação de um preço para a comercialização do sabão em pó na Europa, em 2011. O texto prossegue citando o caso da Iata (International Air Transport Association), que, ao ser criada, tinha como um de seus principais objetivos a fixação dos preços das passagens, o que gerou a acusação de conluio das empresas do setor. Outro tipo de associação é constituído pelos cartéis, formados pela cooperação entre governos de países produtores de determinado produto, como é o caso da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo). Como o cartel é baseado na confiança entre os seus membros, “Os integrantes de um cartel não podem apenas determinar preços, precisam acordar cotas de produção para [mantê‑los] e, claro, sua parte nos lucros” (O LIVRO..., 2013a, p. 72). Alguns economistas discordam da aplicação pelo governo de leis contrárias ao estabelecimento de cartéis, alegando a sua instabilidade e o fato de que os governos são ambíguos à medida que admitem certas formas de cooperação entre os agentes econômicos. É o caso de George Stigler (“Os economistas têm seus louros, mas não acredito que as leis antitrustes sejam um deles”) (O LIVRO..., 2013a, p. 73). Ele menciona o exemplo de argumento pró‑cartéis públicos em certos setores em ocasiões de depressão econômica, visando à cooperação entre produtores para estabilizar a produção e os preços e proteger os consumidores e os pequenos produtores, tornando o setor como um todo internacionalmente competitivo. Lembra, ainda, que cartéis públicos foram comuns na Europa e nos Estados Unidos da América nas décadas de 1920 e 1930, mas a maioria desapareceu após a Segunda Guerra Mundial. No site do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), ligado ao Ministério da Justiça, comenta‑se: O modelo de combate a cartéis no Brasil, com a crescente cooperação entre as autoridadesadministrativas e criminais, foi o tema da conferência telefônica da Rede Internacional da Concorrência hoje. Desde 2003, a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça passou a considerar o combate aos cartéis prioridade absoluta, por ser a conduta anticompetitiva que mais danos diretos traz ao consumidor, tendo sido impostas multas recordes pelo Cade. Mais recentemente, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) passou a dar suporte para a repressão criminal a cartéis, por meio de acordos de cooperação e convênios com as autoridades criminais (Policia Federal, Ministério Público Federal e Estaduais, Secretarias de Segurança Pública) (MODELO..., [s.d.]). 122 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III Citamos, também, a Rede Internacional da Concorrência (International Competition Network – ICN), criada em 2001 por 14 autoridades de órgãos antitruste do mundo, que tem como objetivo promover da convergência global em matéria de concorrência e prover um fórum independente e especializado nessa matéria. A ICN iniciou suas atividades como uma rede virtual composta por autoridades encarregadas de analisar a concorrência nos mercados. Posteriormente, teve sua estrutura institucionalizada, sendo instituídas suas áreas de atuação, critérios de admissão e as competências dos respectivos grupos de trabalho. Saiba mais Mais detalhes sobre os aspectos relacionados com a formação e manutenção de cartéis podem ser obtidos no trabalho a seguir: FALCO, G. de P.; ASSIS, F. A. A.; MUNCK, J. G. A. Formação de cartéis e impactos econômicos. Revista das Faculdades Integradas Vianna Júnior – Vianna Sapiens, v. 1, n. 2. Disponível em: <http://www.viannajunior.edu.br/ files/uploads/20131001_110607.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2014. 6.5 Falhas de governo Assim como há as falhas de mercado, descritas anteriormente neste livro‑texto, os teóricos adeptos do livre funcionamento dos mercados insistem no fato de que estes são muito mais eficientes do que o setor público na alocação dos bens e serviços requeridos pela sociedade. Entre os aspectos costumeiramente discutidos quando se abordam os problemas trazidos pela intervenção do governo nas atividades econômicas e que ficaram conhecidos como falhas de governo, podem ser mencionados os relacionados com: • accountability: problemas de responsabilização política dos governantes em relação à sociedade, como a ausência ou a prestação irregular de contas das entidades públicas, a ineficiência de estrutura dos órgãos encarregados do controle e o que consideram pouco estímulo à transparência fiscal e à participação da sociedade na condução das políticas públicas; • orçamento: estrutura ineficaz e atrasos na publicação das leis orçamentárias. Essa situação foi bastante alterada no Brasil, notadamente a partir da implantação do Plano Real, que reduziu bastante as condições de imprevisibilidade de projeções econômicas e financeiras e, consequentemente, dos processos de elaboração de planos e orçamentos; • campanhas eleitorais: falta de transparência e regulamentação; • corrupção: via caçadores de renda (rent seeking), pagamentos de propinas e centralização estatal; 123 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO [...] se para uma empresa for mais rentável criar um escritório em Brasília, para brigar por uma isenção de imposto ou por uma alíquota maior de importação, do que investir em inovação tecnológica, a economia sofrerá por causa disso. A atividade de inovação tecnológica aumenta a renda da economia como um todo, enquanto a [...] de criar uma isenção tributária ou uma alíquota maior de tarifa de importação somente transfere renda dos contribuintes ou dos consumidores ao fabricante [...] gera‑se um retorno privado sem que haja um [...] equivalente para a sociedade [...] [e] a eficiência econômica se reduz (PESSOA, 2014). • políticas públicas: via intercâmbio de votos, manobras para contornar limitações das regras de maioria de votos para aprovação de projetos de interesse do governo; • indicadores econômicos: descuido pela geração de valores negativos ou a própria manipulação dos indicadores de forma a demonstrar uma situação melhor do que aquela que efetivamente está ocorrendo em termos de contas públicas. Resumo Nesta unidade, abordamos os primeiros tópicos relacionados com as finanças públicas. Seu conhecimento é importante para os alunos de Gestão Pública, pois poderão avaliar motivações gerais de economia e política, que justificam programas e ações expressos em políticas públicas executadas em suas regiões. Iniciamos com a discussão do conflito entre aqueles que defendem maior ou menor intervenção estatal nas atividades dos agentes econômicos e sociais. Mapeamos as macrofunções (de alocação, manutenção da estabilidade e distribuição) e tipos de políticas (fiscal, monetária, comercial, cambial) adotadas pelo governo com o intuito de regular as atividades econômicas. Foram considerados, também, os fatores que, numa economia de livres mercados, justificam a intervenção do Estado na economia, como é o caso, por exemplo, das ocorrências de externalidades e da necessidade de fornecimento de bens públicos. 124 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III Exercícios Questão 1. Observe atentamente a charge: Figura Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=charge+sobre+o+bolsa+fam%C3%ADlia&rlz=1C1GCEA_enBR803BR803&t bm=isch&source=iu&ictx=1&fir=4a3iSnNtS546FM%253A%252C3b0S9ASHiFdCmM%252C_&usg=AFrqEzdyGo‑>. Acesso em: 29 ago. 2018. Veja as afirmativas a seguir: I – O programa Bolsa Família praticado nos governos dos presidentes Lula, Dilma Roussef e Michel Temer é um exemplo de assistência social, que é papel primordial do Estado. II – Atuar pela distribuição de renda que, no Brasil, segundo o índice Gini, ainda é muito desigual, é uma das várias funções macroeconômicas do Estado. III – O Estado mínimo é o padrão ideal a ser atingido, independentemente dos índices de distribuição de renda. IV – As funções clássicas do Estado são o aumento da eficiência economia, a estabilização da economia, o estímulo ao crescimento econômico e a procura da equidade social. V – Programas de distribuição de renda como o Bolsa Família são úteis apenas para as famílias contempladas e nada significam para o conjunto da sociedade brasileira. Agora, assinale a alternativa correta: 125 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 INTRODUÇÃO À TEORIA DO ESTADO A) I e III. B) II e IV. C) III e IV. D) I e V. E) III e V. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: o Bolsa Família não é um programa de assistência social, mas de distribuição de renda, que permitiu uma renda mínima para famílias selecionadas a partir de critérios objetivos e mediante a comprovação do cumprimento de alguns deveres sociais, como manter os filhos regularmente matriculados em escola e cumprir os programas de vacinação infantil. II – Afirmativa correta. Justificativa: em conformidade com índices internacionais e científicos de medição, o Brasil é um país de injusta distribuição de renda, razão pela qual compete ao governo federal implementar programas que acelerem melhor distribuição de renda, como o Bolsa Família. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: não existem elementos técnicos e científicos que justifiquem o Estado mínimo em situação comprovada de injusta distribuiçãode renda. O Estado só pode ser mínimo após haver cumprido a tarefa de garantia da equidade social. IV – Afirmativa correta. Justificativa: o Estado tem essas funções e deve provê‑las por meio de políticas públicas que tenham objetivos e indicadores para que sejam mensurados os resultados obtidos, no prazo de tempo em que os programas foram desenvolvidos. V – Afirmativa incorreta. Justificativa: programas de distribuição de renda são úteis para toda a sociedade, porque garantem que as pessoas saiam da faixa de profunda desigualdade social para um patamar em que seja possível manter os filhos na escola, prevenir doenças pela vacinação e melhorar paulatinamente as condições de vida das famílias beneficiadas pelos programas sociais. 126 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 3/ 05 /2 01 4 Unidade III Questão 2. A foto a seguir foi tirada alguns dias depois do rompimento da barragem de dejetos da mineradora Samarco. Ela retrata um pouco daquele que está sendo considerado o maior acidente ecológico do mundo: Figura Assinale a alternativa correta: A) O fato ocorreu por culpa da empresa mineradora e nenhuma responsabilidade pode ser atribuída ao Estado brasileiro. B) O acidente pode ter se originado de causas naturais, um tremor de terra e, exatamente por isso, não há responsabilidade para ser atribuída a ninguém, empresa ou Estado brasileiro. C) A apuração realizada até o momento aponta que a ruptura da barragem ocorreu por falta de manutenção adequada e de fiscalização do Estado, que caracteriza o accountability. D) A ruptura da barragem da mineradora era um fato esperado e não havia nada que pudesse ser feito para impedir. É o preço do progresso que todos almejamos, mas que tem seus aborrecimentos. E) Não há nenhuma informação técnica sobre as causas da ruptura da barragem e, por isso, não há como apontar responsabilidades. Resolução desta questão na plataforma.
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