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Processo Penal_Sujeitos Processuais_TJPE

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DOS SUJEITOS PROCESSUAIS
 
Os sujeitos processuais dividem-se em principais e secundários. Principais são 
aqueles cuja ausência torna impossível a existência ou a complementação da 
relação jurídico-processual: são o juiz e as partes. O juiz é o sujeito processual 
imparcial e as partes são os sujeitos processuais parciais, representados pela 
acusação, que é o Ministério Público ou o querelante, e pela defesa, que é o 
réu ou o querelado. Secundários são aqueles que não são indispensáveis ao 
processo, mas que nele intervêm de alguma forma: são os órgãos auxiliares da 
justiça, os serventuários, os peritos e os intérpretes.
O assistente de acusação é também chamado de parte contingente, pois não é 
um integrante necessário da relação jurídico-processual.
 
Juiz
 
O juiz exerce o papel de maior relevo no processo. A lei confere-lhe os 
poderes necessários para zelar pelo processo e solucionar a lide. Para tanto, 
são necessários alguns pressupostos processuais subjetivos relativos à função 
de juiz.
 
São eles:
· Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido 
regularmente investido na autoridade de juiz, atualmente pela aprovação em 
concurso público de provas e títulos, observando-se nas nomeações a ordem 
de classificação (art. 93, inc. I, da Constituição Federal).
· Imparcialidade: o juiz deve estar, no processo, acima e eqüidistante das 
partes, super et inter partes. Se presentes algumas das causas de suspeição 
(art. 254 do Código de Processo Penal), impedimento (art. 252 do Código 
de Processo Penal) ou incompatibilidade (art. 253 do Código de Processo 
Penal), o juiz deverá ser afastado do processo. Nos casos de impedimento, o 
juiz tem algum vínculo com uma das partes; são causas graves que afetam a 
imparcialidade, acarretando a inexistência do ato realizado pelo juiz impedido. 
Na suspeição, o juiz tem interesse no resultado do processo. Esta gera a 
nulidade absoluta do processo. Para parte da doutrina, o rol que trata do 
impedimento e da suspeição, por ser restritivo de direitos, é um rol taxativo 
que não pode ser ampliado.
Obs: O Código de Processo Civil, em seu art. 135, par. ún., permite que o 
magistrado se afaste da causa argüindo motivo de foro íntimo. O Código 
de Processo Penal não faz essa previsão. Poderá, mesmo assim, o juiz do 
processo penal fazê-lo?
R: Sim. No processo penal, o juiz também pode declinar de sua atuação por 
motivo de foro íntimo.
· Competência: o juiz deve ser o competente para julgar a lide, segundo as 
regras de competência previstas na Constituição Federal e no Código de 
Processo Penal.
 
 
Acusador
 
O acusador, no processo penal, é representado pelo Ministério Público, no 
caso da ação penal pública, e pelo querelante (ofendido ou seu representante 
legal), no caso de ação penal privada ou ação penal subsidiária da pública. 
O Ministério Público atuará sempre no processo penal, seja como parte na 
ação penal pública, seja como custus legis, isto é, fiscal da lei na ação penal 
privada. Conforme o art. 68 do Código de Processo Penal, o Ministério 
Público também tem legitimidade para promover a ação civil ex delicto em 
nome do ofendido. Nesse caso, o Ministério Público atua como substituto 
processual.
A Constituição Federal, no art. 129, relaciona as funções institucionais do 
Ministério Público e prevê, no § 2.º, que essas funções só podem ser exercidas 
por integrantes da carreira. A Constituição Federal vedou a possibilidade 
do promotor ad hoc, isto é, a nomeação de uma pessoa que faça as vezes do 
promotor para algum ato processual.
O Ministério Público, porque exerce a acusação pública, possui algumas 
peculiaridades, como a possibilidade de impetrar habeas corpus e de recorrer 
em favor do réu; além disso, seus membros estão sujeitos à disciplina das 
suspeições e impedimentos, entre outras. Uma vez que atuam em nome 
da instituição e não em nome próprio, podem ser substituídos no curso do 
processo, proibindo-se, entretanto, designações discricionárias feitas pelo 
Procurador-Geral de Justiça.
 
Os membros do Ministério Público não se encontram subordinados, quer ao 
Poder Executivo, quer ao Judiciário, possuindo total independência.
 
Acusado
 
O acusado é aquele contra quem se dirige a pretensão punitiva. É o sujeito 
passivo da relação jurídico-processual. O acusado deve ser identificado 
com o nome e com os demais dados. O Código de Processo Penal permite a 
propositura da ação penal somente com a descrição das características físicas 
do indivíduo.
É necessário que o acusado tenha capacidade para ser parte (sujeito de direitos 
e obrigações) e capacidade para estar em juízo em nome próprio, o que advém 
com a idade de 18 anos. 
A Constituição Federal previu a possibilidade de a pessoa jurídica ser o sujeito 
passivo da infração penal nos casos de crime contra a economia popular, 
contra a ordem econômica e financeira e nas condutas lesivas ao meio 
ambiente.
A Constituição Federal prevê uma série de garantias ao acusado no processo 
penal, entre as quais:
· o direito ao respeito à integridade física e moral;
· o direito ao devido processo legal;
· o direito ao contraditório e à ampla defesa, que inclui a autodefesa e a defesa 
técnica feita por defensor;
· o direito ao silêncio.
O acusado poderá, sem o defensor: impetrar habeas corpus, interpor recurso, 
interpor revisão criminal, pagar fiança arbitrada pelo juiz e argüir suspeição.
 
Advogado
 
O defensor não é sujeito processual, mas sim o representante do acusado, 
que age em nome e no interesse dele. Exerce a defesa técnica do acusado, 
que é tão importante e indisponível que poderá ser exercida ainda que contra 
a vontade do representado ou mesmo na sua ausência. No processo penal, 
o contraditório e a ampla defesa são efeitos. A ciência e a participação são 
necessárias.
A ampla defesa, no processo penal, constitui-se de autodefesa, feita pelo 
próprio acusado no interrogatório, e de defesa técnica, desempenhada por 
pessoa legalmente habilitada, o advogado (art.133 da Constituição Federal).
Se o acusado não possuir defensor constituído, também chamado de 
procurador, o juiz irá nomear-lhe um defensor, chamado de defensor dativo. 
Se o acusado possuir habilitação técnica, ele mesmo poderá defender-se.
A constituição do defensor faz-se por meio de outorga de procuração com 
cláusula ad judicia. A constituição do defensor pode ser também apud acta, 
isto é, o próprio acusado em seu interrogatório indica quem é seu defensor.
Para a realização de alguns atos no processo, o defensor precisa de poderes 
especiais, como poderes para argüir a suspeição, argüir falsidade de 
documento e concordar com perdão do querelante.
Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o defensor dativo não 
tem a obrigação de recorrer, mas, se o acusado interpuser recurso, o defensor 
dativo tem a obrigação de arrazoar o recurso.
A intimação do defensor dativo é feita pessoalmente e a intimação do defensor 
constituído é feita por publicação na imprensa oficial. A Lei n. 1.060/50, art. 
5.º, § 5.º, que trata da assistência judiciária, prevê o prazo em dobro para o 
defensor público.
A falta do defensor, ainda que motivada, não implica adiamento do ato 
processual, devendo o juiz nomear ao réu um substituto ad hoc para o ato.
 
Assistente do Ministério Público
 
O assistente de acusação é parte contingente no processo. Podem intervir 
no processo, como assistentes do Ministério Público, o ofendido, seu 
representante legal, ou, na falta, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão 
do ofendido, por intermédio de advogado, para reforçar a acusação e acautelar 
a reparação civil.
Atualmente tem sido admitida a intervenção como assistente da(o) 
companheira(o) do ofendido.
 
Atenção: O Estado pode intervir como assistente da acusação?
 
O Decreto-lei n. 201/67, que trata da responsabilidade dos prefeitos, prevê 
expressamentea possibilidade de o Estado atuar como assistente da acusação. 
O assistente da acusação intervém em todos os termos da ação penal, logo, 
não toma parte do inquérito policial e da execução. Intervém a partir do 
recebimento da denúncia até o trânsito em julgado da decisão. Intervém 
no processo no estado em que ele se encontra; assim, não pode pretender a 
renovação de atos processuais sobre os quais já ocorreu a preclusão.
O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente. 
Manifesta-se sobre a legalidade. Da decisão que admite ou não o assistente de 
acusação não cabe recurso, podendo, entretanto, ser impetrado mandado de 
segurança ou correição parcial.
O art. 271 do Código de Processo Penal relaciona os poderes do assistente no 
processo penal. É um rol taxativo. Conforme a Súmula n. 210 do Supremo 
Tribunal Federal, o assistente pode recorrer, inclusive extraordinariamente 
(e especial), contra acórdãos que julguem apelação ou recurso em sentido 
estrito. Da decisão concessiva de habeas corpus, o assistente de acusação não 
pode recorrer, conforme a Súmula n. 208 do Supremo Tribunal Federal. O 
prazo para o assistente interpor recurso em sentido estrito é de 5 dias, se ele 
já estiver habilitado nos autos, ou de 15, se não estiver habilitado, pois, nesse 
caso, não é intimado da decisão. O termo inicial para o assistente interpor 
recurso é supletivo e inicia-se no primeiro dia subseqüente ao término do 
prazo do Ministério Público. Se o Ministério Público já interpôs recurso, não 
cabe ao assistente propor novamente. Se o Ministério Público só recorreu de 
parte da decisão, o assistente pode recorrer da parte não recorrida. Atenção: O 
co-réu pode ser assistente de acusação? Ex: lesões corporais recíprocas. Não 
há, nesse caso, legítima defesa. Ambos são denunciados pelo mesmo delito. 
Serão ao mesmo tempo réu e vítima. Um deles poderá habilitar-se como 
assistente de acusação?
O art. 270 do Código de Processo Penal dispõe que o co-réu no mesmo 
processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público, 
concluindo-se, portanto, pela impossibilidade da intervenção do co-réu 
como assistente da acusação. A doutrina, entretanto, observa a seguinte 
possibilidade: no processo, um deles é absolvido, o Ministério Público 
conforma-se com a decisão e esta transita em julgado, enquanto o outro é 
condenado e apela de sua decisão. Aquele que foi anteriormente absolvido 
posteriormente pode intervir como assistente da acusação, pois não é mais co-
réu.
O assistente que não tiver legítimo interesse ou que perturbar deliberadamente 
a acusação poderá ser afastado. O assistente que faltar injustificadamente a um 
ato do processo não será intimado dos demais.

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