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FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA CRISTIAN PEREIRA DOS SANTOS ATIVIDADE CONTEXTUALIZADA DA DISCIPLINA FARMACOLOGIA Vitória da Conquista-BA 2019 Disciplina: Farmacologia Professor: Stephanye Carolyne Christino Chagas Tutora: Milena Feitosa Período: 01/04/19 a 27/05/19 Paciente FMS, gênero masculino, 36 anos, agricultor deu entrada em um serviço de urgência de um hospital de pequeno porte apresentando os seguintes sintomas: visão turva, fraqueza, sudorese e salivação intensas, dificuldade de respirar, episódios de vômito, defecação e micção involuntárias. Após exame clínico, foi observada miose acentuada e hipotensão. Devido à falta de informações dadas pelo paciente em virtude do seu estado de saúde debilitado e por adentrar ao serviço desacompanhado, o Centro de Assistência Toxicológica – CEATOX foi acionado para prestar auxílio à equipe no cuidado do paciente. Diante da descrição do caso, o CEATOX direcionou a conduta clínica para o tratamento de intoxicação por organofosforados. Inicialmente a equipe foi instruída quanto aos primeiros-socorros e imediata remoção das vestimentas do paciente. Para o tratamento geral do paciente foi prescrito sulfato de atropina e pralidoxima, além de monitorização respiratória, limpeza de secreções, gasometria e raio X de tórax, monitorização cardíaca, controle hidroeletrolítico, avaliação da função renal e hepática, medidas sintomáticas e de manutenção. A conduta clínica adotada teve sucesso terapêutico e a intoxicação por organofosforados foi posteriormente confirmada por um familiar, relatando que o paciente havia realizado aplicação foliar do organofosforado malationa (classificação toxicológica III) em culturas de alface. A intoxicação por organofosforados apresenta estatísticas relevantes no âmbito da saúde pública mundial, seja por tentativa de suicídio ou por exposição ocupacional. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, em 2012, estima-se que 193.460 pessoas morreram em todo o mundo por envenenamento não intencional. Destas mortes, 84% ocorreram em países de baixa e média renda. Diante da relevância desse tema, tendo como base as informações aqui fornecidas e o seu aprendizado no decorrer da disciplina de Farmacologia Básica, explique qual o mecanismo pelo qual os organofosforados causam intoxicação e relacione esse mecanismo, com detalhes moleculares e cascatas de sinalização envolvidas, com os sinais e sintomas citados no caso clínico. Comente a conduta farmacológica tomada no caso, explicando/justificando o emprego de cada fármaco utilizado. Os organofosforados são agrotóxicos altamente lipossolúveis e biodegradáveis, eles são rapidamente hidrolisados tanto nos meios biológicos quanto no ambiente, se distribuindo de forma rápida pelos tecidos orgânicos e ultrapassando as barreiras placentárias e hematoencefálicas. A absorção no organismo humano se dá pelas vias oral, cutânea e respiratória, sendo sintetizado rapidamente. Seu mecanismo de ação se dá principalmente pela inibição enzimática das enzimas acetilcolinesterase (encontrado em tecidos nervosos e eritrócitos) e a butirilcolinesterase (plasma). Como resultado desta inibição enzimática, o substrato acetilcolina se acumula. A estimulação contínua e eventual paralisia dos receptores de acetilcolina vão ser responsáveis pelos sinais clínicos e sintomas da intoxicação por organofosforados. Estes receptores abrangem os muscarínicos e nicotínicos, levando a efeitos no sistema nervoso central e periférico. Conforme observadas no caso clínico, as manifestações mais comuns dos efeitos muscarínicos se dão no sistema nervoso parassimpático (salivação, lacrimejamento, micção, diarreia, desconforto gastrointestinal e vômitos), sintomas de intoxicação aguda. Outros efeitos muscarínicos frequentemente vistos incluem bradicardia, broncorréia e miose. Além disso, considerando a experiência da equipe do Centro de Assistência Toxicológica, as medidas de primeiros socorros tomadas foram bem sucedidas, pois a remoção imediata dos trajes do paciente evitou assim maior contaminação com o inseticida. Para o tratamento padrão de envenenamento por pesticidas que bloqueiam a acetilcolinesterase foi indicado atropina, um antagonista competitivo da acetilcolina, para inverter as alterações bioquímicas resultantes de excesso de acetilcolina que ocorrem nas sinapses, e a utilização de pralidoxima para regenerar a acetilcolinesterase que fora desativada devido à intoxicação pelo agrotóxico. A manutenção das vias aéreas com aspiração endobrônquica (remover todo o muco pela hiperestimulação do sistema nervoso parassimpático e fornecer oxigênio necessário) foi outra medida importante para evitar que o paciente não tenha uma parada respiratória por decorrência da inativação do diafragma, pois o diafragma poderia ficar completamente contraído e não promover mais a respiração espontânea. Quanto monitorização respiratória, limpeza de secreções, gasometria e raio X de tórax, monitorização cardíaca, controle hidroeletrolítico, avaliação da função renal e hepática, são medidas sintomáticas e de manutenção necessárias para acompanhamento da resposta terapêutica. Referências: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2014/08/inibid_enzim_intox.pdf. Acessado em 05/05/2019. https://www.ecycle.com.br/6021-organofosforados. Acessado em 05/05/2019. http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/zoonoses_intoxicacoes/Intoxicacao_por_Agrotoxicos.pdf. Acessado em 05/05/2019.
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