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Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis - RJ Unidade Maracanã Química Inorgânica Professor Rodrigo PARTE C: 7. Teoria dos Orbitais Moleculares 67 7.1 – A formação dos orbitais moleculares 67 7.2 – Diagrama dos orbitais moleculares e ordem de ligação 72 8. Conceitos Ácido-Base 82 8.1 – De Arrhenius a Brønsted-Lowry 82 8.2 – O Conceito ácido-base de Lewis 84 9. Compostos de Coordenação 86 9.1 – Um breve histórico sobre Compostos de Coordenação 86 9.2 – Classificação dos ligantes e nomenclatura de complexos 89 9.3 – Isomeria em compostos de coordenação 92 9.4 – Teoria do Campo Cristalino (TCC) 94 Exercícios Parte C 101 Bibliografia Parte C 103 2007 CEFET Química Química Inorgânica 67 7. Teoria dos Orbitais Moleculares Embora a Teoria da Ligação de Valência (TLV) seja simples de se tratar, atenda grande parte dos compostos e explique muitas propriedades observadas para certas moléculas, ela falha em alguns aspectos, principalmente em compostos envolvendo átomos de metais. Deixando de lado os compostos de coordenação, uma falha mais conhecida da TLV está na descrição da molécula de oxigênio.a Segundo a TLV, a molécula de gás oxigênio tem todos os seus elétrons emparelhados, o que caracteriza uma substância diamagnética. Isto entra em conflito com sua medida experimental, onde verifica-se que o O2 é uma molécula paramagnética. Mas a descrição de uma ligação química não é restrita à TLV. Enquanto Pauling, Slater e Wheland desenvolveram as bases matemáticas e mostraram aplicações da TLV, Mülliken, Hund e Hückel buscaram uma descrição quântica diferente da ligação química. O pensamento fundamental aqui é que os elétrons de uma molécula estão sob ação de todos os núcleos dos átomos que formam tal molécula. Os elétrons estariam deslocalizados por todo espaço molecular. Para isso os orbitais atômicos também devem estar deslocalizados por toda a molécula. Uma descrição deste tipo para a ligação química leva a uma combinação dos orbitais atômicos para formar novos orbitais, os chamados orbitais moleculares. A Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM) é largamente utilizada na interpretação de diversos fenômenos químicos, sendo usada também na previsão de novos compostos. Trata-se uma teoria com teoremas fundamentais que não serão abordados aqui. Assim como na TLV, trataremos principalmente dos aspectos qualitativos. 7.1 – A formação dos orbitais moleculares O primeiro passo a ser dado na TOM é compreender como se dá a formação dos orbitais moleculares. Os orbitais moleculares são resultado da combinação linear de orbitais atômicos, o que matematicamente significa que funções matemáticas (como são os orbitais, funções de onda) foram combinadas resultando em outras funções, como mostra a Figura 46. Pode-se, por exemplo, somar duas funções de onda – o que se chama de interferência construtiva (Figura 46a), assim como tem-se a outra combinação, a Na página 50, foram apresentados apenas argumentos qualitativos da TLV. No entanto, a TLV é um modelo baseado na mecânica quântica e possui um formalismo matemático não trivial. A afirmação de que a descrição da molécula de oxigênio é uma falha da TLV não é aceita por muitos pesquisadores, uma vez que existe uma descrição para esta molécula onde os elétrons não estão emparelhados (HOFFMANN, 2003). O problema é que esta descrição não é de simples entendimento, de maneira que pode-se afirmar que os argumentos qualitativos da TLV é que são falhos neste caso. CEFET Química Química Inorgânica 68 a subtração, o que leva a uma interferência destrutiva (Figura 46b). Analisemos um sistema contendo dois átomos A e B, e dois orbitais do tipo 1s, representados pelas funções de onda As1φ e Bs1φ . Ao combinarmos estes dois orbitais teríamos as seguintes possibilidades: B s A s 111 φφψ += (16) e B s A s 112 φφψ −= (17) onde ψ1 e ψ2 são as funções de onda dos orbitais moleculares formados. Pode-se utilizar os orbitais atômicos para ilustrar o resultado das equações (16) e (17), como é visto na Figura 47. A equação (16) representa a combinação construtiva, que nada mais é que a combinação de fases iguais dos orbitais. Assim como a subtração na equação (17) é a combinação de fases diferentes dos orbitais. Também não é difícil relacionar estas equações e os orbitais com as interferências construtivas e destrutivas (Figura 46). Figura 46. Interferências entre duas funções de onda. (a) Construtiva e (b) destrutiva. A linha azul é a resultante do somatório das duas funções. Percebe-se que a formação de orbitais moleculares a partir da combinação de orbitais de mesma fase levam à um aumento da densidade eletrônica na região internuclear. Já a combinação de orbitais de fase diferente, cria uma região nodal entre os núcleos. Neste ponto é importante recuperar a interpretação física dos orbitais (atômicos ou moleculares) de que definem uma região no espaço onde existe a probabilidade de encontrar o elétron. E que em uma região nodal a probabilidade de encontrar o elétron é nula. Uma região nodal entre dois núcleos atômicos significa, então, que estes dois CEFET Química Química Inorgânica 69 núcleos estarão expostos um à ação do outro. Sem nenhum elétron entre eles para minimizar a repulsão. Com os núcleos se repelindo, tenderão a se afastar, o que nada mais é que o enfraquecimento da ligação química (ou em casos extremos, um rompimento da ligação). Já nos orbitais moleculares onde há um aumento da densidade eletrônica entre os núcleos, a repulsão é atenuada, e os núcleos tendem a se aproximar pois estão atraindo os mesmos elétrons. Desta forma, a ligação é fortalecida, a molécula se mantém unida. Por este motivo, os orbitais moleculares onde há uma soma de fases são conhecidos como orbitais moleculares ligantes, enquanto os que são resultado de uma interferência destrutiva são os orbitais moleculares antiligantes. Os orbitais ligantes estabilizam o sistema e, portanto, são orbitais de menor energia. Os orbitais antiligantes são de maior energia, pois ocupá-los enfraquece a ligação. Existem também os orbitais não-ligantes, que são orbitais que não influenciam a ligação. B s A s 111 φφψ += BsAs 112 φφψ −= A B A B A B A B Plano Nodal Figura 47. Orbitais atômicos 1s formando dois tipos de orbitais moleculares. Ao se combinar dois orbitais atômicos, deve-se obter dois orbitais moleculares. O número de orbitais moleculares será sempre igual ao número de orbitais atômicos combinados. Para orbitais do tipo s, as combinações as vistas acima. Orbitais atômicos do tipo p, dão origem a outro tipo de orbitais moleculares. Um subnível p possui três CEFET Química Química Inorgânica 70 orbitais do tipo p que estão orientados em cada um dos eixos cartesianos (Figura 7). Dois orbitais do tipo p, um de cada átomo, podem fazer uma ligação em um mesmo eixo. Novamente, forma-se um orbital molecular ligante (Figura 48) e um antiligante (Figura 49). zz y XX zz y XX Orbitais py de mesma fase Orbital molecular ligante de orbitais do tipo p Figura 48. Orbitais py formando um orbital molecular ligante. Uma vez que os orbitais atômicos se combinam de forma frontal, o que na TLV recebe o nome de ligação σ, os restantes só poderão se combinar paralelamente, o que na TLV é uma ligação π. Ao invés de ligações σ e π, na TOM tem-se orbitais moleculares σ e orbitais moleculares π. E existem os orbitais moleculares do tipo σ ligantes e antiligantes (Figuras 48 e 49 respectivamente). Assim como existem os orbitais moleculares π ligantes (Figura 50) e os orbitais moleculares π antiligantes (Figura 51). Como são dois os orbitais p restante de cada átomo, o número total de orbitais moleculares π são quatro: doisligantes e dois antiligantes. Como os orbitais atômicos do tipo p são degenerados, os orbitais moleculares π também serão. Então, os dois orbitais moleculares ligantes π têm a mesma energia, assim como os antiligantes que também são duplamente degenerados. CEFET Química Química Inorgânica 71 zz y XX zz y XX Orbitais py fora de fase Orbital molecular antiligante de orbitais do tipo p Figura 49. Orbitais py formando um orbital molecular antiligante. zz y XX zz y XX Orbitais pz em fase Orbital molecular π ligante Figura 50. Orbitais pz formando um orbital molecular π ligante. zz y XX zz y XX Orbitais pz fora de fase Orbital molecular π antiligante Figura 51. Orbitais pz formando um orbital molecular π antiligante. CEFET Química Química Inorgânica 72 Orbitais do tipo d também podem fazer combinações semelhantes embora sejam mais complexas. Para orbitais atômicos do tipo d também há a possibilidade da formação de orbitais moleculares do tipo δ (Figura 52), presentes em casos raros onde um átomo está ligado a outro por quatro ligações, como no complexo [Re2Cl8]2–. Figura 52. A formação de um orbital molecular δ ligante a partir de orbitais do tipo d. Uma vez que já se conhece, qualitativamente, as diferentes maneiras que os orbitais atômicos podem se combinar para formar os orbitais moleculares, pode-se analisar como a TOM descreve certas moléculas e suas ligações. 7.2 – Diagrama dos orbitais moleculares e ordem de ligação Como foi dito anteriormente, a molécula de oxigênio, O2, não é descrita corretamente pela TLV. Veremos então como a TOM descreve a molécula de O2. O oxigênio tem a seguinte configuração eletrônica: 8O = 1s2 2s2 2p4. Estes elétrons estarão distribuídos nos orbitais moleculares formados pela combinação dos orbitais atômicos dos dois oxigênios. Serão, portanto dezesseis elétrons, que serão distribuídos em 10 orbitais moleculares (cada oxigênio têm cinco orbitais atômicos: um orbital do subnível 1s, um orbital do subnível 2s e três orbitais atômicos no subnível 2p). Por questões de simetria e energia, só serão permitidas combinações entre orbitais de um mesmo subnível.b Isto é, o orbital do tipo s, do subnível 1s de um oxigênio, irá se combinar com o mesmo orbital, do mesmo subnível do outro átomo de oxigênio. E assim será com todos os outros orbitais, em combinações de dois orbitais, um orbital de cada átomo, gerando sempre um orbital molecular ligante e um antilingante. b Esta consideração é uma aproximação, mas é uma aproximação razoável para moléculas diatômicas. É sempre importante lembrar que aqui está sendo apresentada apenas uma versão qualitativa da TOM. CEFET Química Química Inorgânica 73 Começando a combinação pelos níveis de menor energia, os orbitais do tipo s da primeira camada, ter-se-á a formação dos orbitais moleculares como os mostrados na Figura 47. Como os orbitais s são esféricos, qualquer orientação na combinação levará a formação de orbitais moleculares σ. Assim, a primeira parte do diagrama dos orbitais moleculares seria representada da seguinte maneira: 1s 1s σ1s σ*1s O O2 O E O orbital molecular σ ligante (σ1s), como já foi dito anteriormente, estabiliza o sistema e, portanto, é um orbital de menor energia que os atômicos. Para o orbital molecular antiligante (σ*1s), tem-se um maior nível energético. Os dois elétrons no subnível 1s de cada oxigênio se distribuirão nos orbitais moleculares seguindo os mesmos princípios da distribuição eletrônica dos elementos. Primeiro se ocupa os níveis de menor energia, o orbital molecular σ1s, para então ocupar o orbital molecular antiligante σ*1s. O princípio da exclusão de Pauli e a regra de Hund também se aplicam aqui. Desta forma, a distribuição dos elétrons nesta primeira etapa da molécula ficaria: 1s 1s σ1s σ*1s O O2 O E Percebe-se que não há ganho energético na formação e ocupação destes orbitais moleculares oriundos de orbitais atômicos internos. Ao ocupar com o mesmo número de elétrons tanto o orbital molecular ligante quanto o antiligante de uma mesma combinação, não se favorece a formação da molécula, visto que todo o ganho energético vindo da ocupação do orbital molecular ligante é “cancelado” pela ocupação do orbital molecular antiligante. E neste ponto, vale lembrar a TLV e o uso apenas de elétrons de valência. Como foi visto, orbitais atômicos internos não contribuem de maneira efetiva na formação da ligação química, inclusive na TOM. Ao seguirmos a ordem de energia de orbitais atômicos, chega-se nos orbitais do tipo s do subnível 2s. A situação é muito parecida com a anterior. A principal diferença são as energias dos orbitais atômicos CEFET Química Química Inorgânica 74 envolvidos e dos orbitais moleculares formandos. O diagrama de orbitais moleculares ficaria: 2s 2s σ2s σ*2s O O2 O E O subnível 2p, com três orbitais degenerados, apresenta diferentes situações já que há a possibilidade de formação de dois tipos diferentes de orbitais moleculares. Assim, um orbital p de um oxigênio formará, combinado com um orbital p do outro átomo, os orbitais moleculares σ. Os dois orbitais p restantes em cada átomo, formarão os orbitais moleculares π. O diagrama dos orbitais moleculares para este subnível teria a seguinte forma: E 2p2p σ2p σ∗2p π2p π*2p O OO2 CEFET Química Química Inorgânica 75 Cada oxigênio possui quatro elétrons no subnível 2p. A ordem de distribuição dos elétrons nos orbitais moleculares seguirá a ordem de energia começando pelo orbital σ2p e terminando (se houverem elétrons) no orbital σ*2p.Como os orbitais moleculares π são degenerados, a regra de Hund é aplicada. Dessa forma, o diagrama com elétrons seria: E 2p2p σ2p σ∗2p π2p π*2p O OO2 Juntando todos níveis apresentados, tem-se o diagrama dos orbitais moleculares para a molécula de oxigênio (Figura 53). Percebe-se que nos orbitais moleculares π antiligantes existem elétrons desemparelhados, o que seria a origem do paramagnetismo desta molécula. A TOM mostra de um modo muito simples porque existem elétrons desemparelhados nesta molécula. Mas a TLV tem a vantagem de ser mais intuitiva para um químico, já que trata diretamente de ligações entre os átomos. Na TOM, onde o conceito de ligação é um pouco mais difuso, tem-se o que se chama de ordem de ligação (OL). A ordem de ligação é definida como: 2 )esantiligant (e ligantes) (e OL ∑∑ −− −= (18) A ordem de ligação aproxima a TOM do conceito de ligação, como visto na TLV. Para a molécula de oxigênio, teríamos como ordem de ligação: 2 2 610 =−=OL (19) CEFET Química Química Inorgânica 76 o que pode ser interpretado como uma dupla ligação entre os átomos de oxigênio, uma descrição semelhante àquela obtida com a TLV. A diferença é que a TOM descreve corretamente as propriedades magnéticas desta molécula. E 2p2p σ2p σ∗2p π2p π*2p O OO2 2s σ2s σ*2s 2s 1s 1s σ1s σ*1s Figura 53. Diagrama dos orbitais moleculares para a molécula de oxigênio (O2). CEFET Química Química Inorgânica 77 A ordem de ligação também pode ser calculada apenas com elétrons do último nível energético ao invés de se contar todos. Para o O2, considerando apenas os elétrons do subnível 2p: 2 2 26 =−=OL (20) O diagrama para a molécula de F2 terá aspecto semelhante ao observado para o oxigênio, com exceção que terá dois elétrons a mais, que ocupariam os orbitais moleculares π*2p. As configurações eletrônicas destas moléculas podem ser escritas como para os átomos, da seguinte forma: O2 (16 e–) = 1σ1s2 1σ*1s2 2σ2s2 2σ*2s2 2σ2p2 1π2p4 1π*2p2 F2 (18 e–) = 1σ1s2 1σ*1s2 2σ2s22σ*2s2 2σ2p2 1π2p4 1π*2p4 A ordem de ligação para o F2 é igual a um, o que corresponde a uma ligação simples, como é esperado para esta molécula. A molécula de nitrogênio, N2, tem uma diferença no diagrama de orbitais moleculares em relação à molécula de O2 e F2. A ordem energética dos orbitais moleculares σ2p e π2p é invertida. Esta inversão pode ser detectada através de técnicas experimentais, como a espectroscopia fotoeletrônica, ou através de métodos teóricos de cálculo. Esta inversão entre os orbitais σ2p e π2p é observada em outras moléculas diatômicas, como mostra a Figura 54. Pode-se ver que, a inversão não é exclusividade do nitrogênio. De fato, no segundo período da tabela periódica a inversão é mais comum do que o que se espera. Se a ordem de ligação fosse calculada para todas as moléculas diatômicas vistas na Figura 54, o interessante valor de zero seria encontrado para a molécula de Be2. Qual é o significado de uma ordem de ligação zero? Se a ordem de ligação está relacionada com a idéia de ligação da TLV, então a ordem de ligação zero, significa que não há ligação. Isto é, não há qualquer ganho energético quando esta molécula é formada. Logo, nestes casos, não há a formação da molécula. O mesmo acontece quando se calcula a ordem de ligação para moléculas diatômicas de gases nobres, como He2 ou Ne2. Sabe-se que estes elementos não formam estas moléculas, o que está de acordo com a TOM (e também pela TLV). O diagrama dos orbitais moleculares completos e os orbitais moleculares calculados para o N2 podem ser vistos nas Figuras 55 e 56, respectivamente. A ordem de ligação para o N2 é igual a três. CEFET Química Química Inorgânica 78 Figura 54. Diagrama dos orbitais moleculares para moléculas diatômicas de átomos do segundo período da tabela periódica. Até então, foram apresentados apenas diagramas de orbitais moleculares para moléculas diatômicas homonucleares (formadas pelos mesmos átomos). A construção dos orbitais moleculares para moléculas diatômicas heteronucleares também é simples e pode ser feita sem grandes problemas, tendo em vista apenas alguns detalhes. O primeiro é que os níveis energéticos dos orbitais não será o mesmo, pois os átomos são diferentes. Os átomos de maior carga nuclear efetiva terão orbitais de menor energia. Um outro fator a ser considerado é que as contribuições dos orbitais atômicos para a formação do orbital molecular serão diferentes, uma vez que são orbitais de átomos diferentes. Estes fatores influenciam pouco numa abordagem qualitativa, mas são de grande importância na descrição completa da TOM. A Figura 57 mostra o diagrama dos orbitais moleculares para a molécula de CO. Pode-se ver que também existe a inversão entre os orbitais σ2p e π2p. Isto irá acontecer sempre que a molécula for formada por ao menos um dos átomos que apresenta tal inversão (Figura 54). CEFET Química Química Inorgânica 79 E 2p2p σ2p σ∗2p π2p π*2p N NN2 2s σ2s σ*2s 2s 1s 1s σ1s σ*1s Figura 55. Diagrama dos orbitais moleculares para o N2. CEFET Química Química Inorgânica 80 Figura 56. Superfície dos orbitais moleculares do N2. Método de Cálculo Hartree-Fock, base de cálculo STO-4G, GAMESS US (SCHMIDT, 1993). CEFET Química Química Inorgânica 81 E 2p 2p σ2p σ∗2p π2p π*2p C OCO 2s σ2s σ*2s 2s 1s 1s σ1s σ*1s Figura 57. Diagrama dos orbitais moleculares para o CO. A TOM e a TLV são as principais teorias aceitas hoje em dia para a descrição da ligação química dos compostos. Ambas têm seus pontos fortes e seus pontos fracos. Ao se explicar certo fenômeno deve-se ter em mente que não existe uma mais certa que a outra, mas sim qual é mais adequada para tratar certo problema. CEFET Química Química Inorgânica 82 8. Conceitos Ácido-Base 8.1 – De Arrhenius a Brønsted-Lowry A primeira teoria ácido-base foi proposta pelo sueco Svante Arrhenius. Em seus estudos de condutividade em solução aquosa, dentre outras coisas, ele convencionou que uma substância seria considerada um ácido se originasse íons H+. Por outro lado, uma base daria origem a íons OH–. Foi o primeiro sentido químico para ácidos e bases. O modelo de Arrhenius carregava o “problema” de apenas tratar de sistemas aquosos. No entanto, suas idéias sobre os íons H+ e OH– foram o início da caracterização de ácidos e bases. A história diz que as idéias de Arrhenius não foram bem aceitas no início, e em seu exame de doutorado sua nota foi a menor possível para a aprovação. Como a ciência nunca está parada, a situação se modificou e, por seu trabalho sobre de dissociação de eletrólitos, Arrhenius foi laureado com o Prêmio Nobel de Química de 1903. Em 1923, o dinamarquês Johannes N. Brønsted e o inglês Thomas M. Lowry apresentaram suas idéias sobre ácidos e bases. A particularidade deste modelo é que eles trabalharam de maneira independente e chegaram numa mesma formulação, numa mesma época. O conceito ácido-base de Brønsted-Lowry pode ser considerado uma extensão das idéias de Arrhenius. A primeira vantagem da teoria de Brønsted-Lowry é que ela não é restrita ao meio aquoso. Além disto, uma nova definição de ácido e base é proposta. É chamada de ácido uma espécie capaz de doar um próton (o íon H+), enquanto a base é a espécie que irá receber o próton. A partir desta definição, chegava-se a novos conceitos, como o de ácidos e bases conjugados. Numa reação ácido-base, teríamos dois pares de ácidos e bases conjugadas. Na equação ácido1 + base2 base conjugada1 + ácido conjugado2 (21) o ácido1 transfere um próton para a base2 e assim origina a base conjugada1. Da mesma forma, a base2 ao ser protonada, origina o ácido conjugado2. A equação (21) mostra o equilíbrio entre duas reações ácido-base. O parâmetro termodinâmico energia livre de Gibbs, ΔG, indica o sentido preferencial da reação num equilíbrio. Além de ΔG, também é muito utilizada a constante de equilíbrio do sistema. Para simplificar a notação, a equação (21) será escrita da forma HA + B A + HB+ (22) A constante de equilíbrio, Kc, para esta reação é CEFET Química Química Inorgânica 83 [B][HA] ][HB][AK c ⋅ ⋅= +− (23) Para o estado gasoso, a constante de equilíbrioc e o parâmetro ΔG se relacionam por ΔG = –RT.ln Kc (24) onde R é a constante dos gases ideais e T a temperatura. Para uma melhor análise, extraindo-se o logaritmo em (24), encontra-se Kc = e–ΔG/RT (25) Dessa forma é mais simples entender a dependência entre ΔG e Kc. Se o valor de ΔG é negativo, o valor de Kc será sempre maior que um. Neste caso, o sentido direto é o favorecido. Por outro lado, se ΔG é positivo, Kc terá valores menores que um, ou seja, a reação mais favorecida é a do sentido inverso. Dessa forma estabeleceu-se o conceito de força de ácidos e bases. O ácido HA será mais forte que HB+ se o Kc da reação (22) for maior que 1. Da mesma forma que B será uma base mais forte que A–. Portanto, um ácido forte terá uma base conjugada fraca e vice e versa. Em solução, por exemplo em meio aquoso, as constantes de equilíbrio dos ácidos e bases foram medidas em relação ao solvente. A forma de dedução para a constante é a mesma feita para o Kc. Considerando um sistema aquoso e um ácido HA, tem-se HA + H2O A + H3O + (26) Como a água é o solvente, sua concentração é muito maior que as das outras espécies envolvidas no equilíbrio. Desta forma, convencionou-se que a concentração da água é constante em relação as outras espécies do equilíbrio. A expressão da constante de equilíbrio para esta reação será: O][H[HA] ]O[H][A K 2 3 c ⋅ ⋅= +− ⇒ [HA] ]O[H][A O][HK 32c +− ⋅=⋅ ⇒ [HA] ]O[H][A K 3a +− ⋅= (27) Uma outra forma de se expressar estas constantes é usar o valor de pKa epKb, que são definidos como c Normalmente para o estado gasoso a constante de equilíbrio é denotada Kp. CEFET Química Química Inorgânica 84 pKa = –log Ka (28) pKb = – log Kb (29) Neste caso, quanto menor o valor de pKa (ou pKb) mais forte é o ácido (ou base). 8.2 – O Conceito ácido-base de Lewis O modelo ácido-base de Brønsted-Lowry demonstrou uma grande evolução em relação ao de Arrhenius. Um outro conceito ácido-base, proposto por Gilbert Lewis, é ainda mais completo. Segundo Brønsted-Lowry ácidos eram as espécies que transferiam íons H+ para as bases que, por sua vez, nada mais eram que ânions ou espécies neutras com alguma característica especial. Foi Lewis quem percebeu essa característica, de que a base só poderia receber o íon hidrogênio do ácido se tivesse ao menos um par de elétrons para uma nova ligação. Ademais, ter um par de elétrons disponível era o requisito para formar ligações com cátions. A visão de Lewis para a situação era muito clara: não era a transferência do íon hidrogênio que era importante e sim a disponibilidade dos elétrons na base. Portanto, era preciso uma nova definição para ácidos e bases. E foi assim que Lewis definiu uma base como sendo uma espécie doadora de par de elétrons enquanto o ácido é a espécie que receberia o par de elétrons. Embora Lewis tenha introduzido seu conceito no mesmo ano de que Brønsted e Lowry, suas idéias só tiveram a devida atenção a partir da década de 30. O modelo de Lewis pode ser aplicado a uma série inimaginável de reações químicas. Como por exemplo em reações orgânicas. As reações de substituição eletrofílica ou nucleofílica são simplesmente reações entre um ácido e uma base de Lewis. Também as de eliminação e adição. Um exemplo clássico disto são as reações de alquilação de Friedel-Crafts (Figura 58). Neste tipo de reação há uma grande seqüência de reações ácido-base de Lewis. Para o estudo de química inorgânica as idéias de Lewis são fundamentais. Os metais são facilmente identificados como ácidos de Lewis. Nas reações de formação de complexos, os ligantes são as bases de Lewis que irão doar o par eletrônico para o metal central. Nem só com metais isso é observado. Reações deste tipo também são vistas com ametais e semi-metais, como por exemplo em compostos de enxofre, silício e boro. Estes são apenas alguns exemplos de reações envolvendo ácidos e bases de Lewis, mas qualquer reação que envolva doação de par de elétrons pode ser interpretada como sendo uma reação ácido-base de Lewis. CEFET Química Química Inorgânica 85 C2H5 Cl AlCl3 C2H5Cl AlCl3+ + C2H5 Cl AlCl3 H C2H5 + Cl AlCl3 C2H5 ++ AlCl3 HCl Figura 58. Uma alquilação de Friedel-Crafts. Na primeira etapa, o cloroetano (C2H5Cl), faz o papel da base de Lewis através do átomo de cloro. O cloreto de alumínio (AlCl3) é o ácido de Lewis, e tem papel de catalisador nesta reação. Na segunda etapa, o benzeno atua como base de Lewis, enquanto que o composto C2H5ClAlCl3, através do carbono, é o ácido. Na terceira etapa, temos novamente o cloro, ou mais precisamente o AlCl4– como base de Lewis e o hidrogênio como ácido de Lewis. O exemplo da formação do oleum é muito importante na discussão de ácidos e bases. Nesta reação, o anidrido sulfúrico, SO3, é o ácido de Lewis que receberá o par de elétrons do ácido sulfúrico, a base de Lewis nesta reação (Figura 59). Vemos aqui o ácido sulfúrico, um ácido forte em meio aquoso segundo Brønsted-Lowry, atuando como uma base segundo Lewis. Este comportamento é, talvez, o mais ilustrativo do que realmente são os conceitos ácido-base. S O O O O S OH OHO Figura 59. A formação do Oleum, que envolve a dissolução de SO3 em ácido sulfúrico é um exemplo interessante de reação ácido-base de Lewis. Aqui o ácido sulfúrico é a base de Lewis, enquanto o SO3 é o ácido. Sistematizar o estudo de força de ácidos e bases de Lewis é uma tarefa mais complicada do que para o conceito de Brønsted-Lowry. Isto se deve ao fato de que no conceito de Brønsted-Lowry o ácido é sempre fixo (o íon H+) e quanto maior afinidade da base em relação a este íon, mais forte ela é. No conceito ácido-base de Lewis, o ácido pode ser uma infinidade de compostos ou íons. E a particularidade de cada sistema CEFET Química Química Inorgânica 86 influenciaria na construção de uma “escala de força” para ácidos ou bases de Lewis. De maneira geral, pode-se dizer que quanto mais fácil é para uma espécie a doação de elétrons, mais forte é a base de Lewis. Enquanto que, para um ácido, o inverso é verdadeiro. Quanto mais ávido por elétrons for a espécie, mais forte será o ácido de Lewis. Existem alguns outros conceitos ácido-base, uns com aplicação restrita, outros com aplicação mais ampla. Assim como no caso da TLV e da TOM, não há um conceito certo e o outro errado. Não existe um ácido absoluto, dependendo do modelo que se escolhe, o comportamento pode variar. Vale citar uma frase encontrada no início do capítulo sobre ácidos e bases do livro de James E. Huheey: “Podemos fazer um ácido ser o que quisermos – a diferença ente os vários conceitos ácido-base não está em qual é o certo, mas qual é o mais conveniente para o uso em uma situação particular.” 9. Compostos de Coordenação 9.1 – Um breve histórico sobre Compostos de Coordenação Atribui-se a Alfred Werner o início do estudo com compostos de coordenação. Werner estudava o comportamento de sais que possuíam seis moléculas de amônia (ou o grupo amina). Antes dele, C.W. Blomstrand e P.T. Cleve além de S.M. Jørgensen tentavam desvendar o arranjo de uma molécula como o CoCl2.6NH3. A sugestão inicial era de que as moléculas de amônia estariam ligadas como numa corrente (Figura 60a). Sabia-se que em compostos como esse, que alguns dos ânions (como o cloreto no caso do CoCl2.6NH3) possuíam características distintas. Algumas das ligações destes íons eram mais intensas que outras. Nessa disposição em corrente (Figura 60a) não há como se explicar tal fato. Uma outra proposta, feita por Blomstrand, tentaria corrigir este problema. Nesta nova proposta, alguns dos ânions apareciam ligados diretamente ao metal. Portanto, se o ânion está ligado ao metal, sua ligação é mais forte; enquanto que se o ânion está no final da “corrente” de amônia, sua ligação é mais fraca. Mas Jørgensen demonstrou que este novo modelo, proposto por Blomstrand, também possuía falhas, uma vez que não admitia mais de um ânion ligado ao metal. Jørgensen propôs então um outro modelo para as ligações em compostos deste tipo (Figura 60b). CEFET Química Química Inorgânica 87 a) Co NH3 NH3 NH3 Cl NH3 NH3 NH3 Cl b) Co NH3 NH3 NH3 XNH3 H3NX H3NX Figura 60. a) Proposta de representação da molécula de CoCl2.6NH3 por Blomstrand. A amônia e cloreto numa disposição em corrente. b)Modelo proposto por Jorgensen para um composto com cobalto III. Em negrito estão as moléculas que podem trocar de posição. O modelo proposto por Jørgensen permitia entender a característica dos ânions presentes nestes compostos. Pois às vezes só havia um deles ligado diretamente ao metal, às vezes dois e às vezes nenhum. Neste modelo admitira-se a troca de posição entre os ânions e as moléculas de amônia (em negrito na Figura 60b). No entanto, este modelo ainda seria abalado pela constatação de Werner, que mais de dois ânions poderiam estar ligados diretamente ao metal. Desta forma, ele concluiu que as moléculas de amônia não poderiam estar ligadas numa corrente. O arranjo que possibilitava isso era um com as seis moléculas de amônia ligadas diretamente ao metal (Figura 61). Com este arranjo os ânions teriam apenas uma molécula de amônia entre eles e o metal. NH3 NH3 NH3 H3N H3N H3NM X X X Figura 61. Proposta de Werner para a estrutura de hexamino sais. M representa um metal de carga +3 e X um ânion de carga –1. Ainda assim, não era muito claro porque um metal faria tantas ligações. Nesta época Lewis ainda não havia proposto seu modelo de ligações químicas e a valência era tratada como uma capacidade dos átomos de se combinarem. Segundo esta definição de valência, um metal com carga positiva de três, deveria se combinar três vezes com um outro composto que fosse monovalente. É aqui que se percebe como a idéia de Werner foi revolucionária na época. Ele percebeu que para explicar o comportamento destes compostos precisava romper com o conceito de valência da época (ao observar os outros dois modelos propostos, nas Figuras 60a e 60b, vê-se claramente o acordo com o conceito de valência da época). CEFET Química Química Inorgânica 88 Com sais de hexaminocromo(III), Werner observou a troca de moléculas de amônia por moléculas de água. Logo, os sais hidratados também eram uma espécie de complexos, nome que foi dado a compostos desse tipo. O trabalho com o cloreto de cromo (III) também produziu interessantes resultados. Este composto apresenta duas cores: verde-escuro e azul violáceo. Werner conseguiu demonstrar que o cloreto de cromo (III) azul era um composto com formula [Cr(H2O)6]Cl3 (seis moléculas de água estavam ligadas diretamente ao cromo). Já no verde, a fórmula poderia ser escrita como [Cr(H2O)4Cl2]Cl.2H2O (dois cloretos estão ligados diretamente ao metal). Além de propor que os metais possuíam uma “valência secundária”, Werner também deduziu, a partir de simples argumentos, que a geometria de complexos com seis ligantes coordenados ao metal deveria ser octaédrica. Werner postulou que os seis ligantes iriam se distribuir de maneira simétrica ao redor do metal. Desta forma, ele chegou a três estruturas básicas: um hexágono planar, uma forma prismática e de um octaedro (Figura 62). Em um complexo com todos os seis ligantes iguais, não haveria como diferenciar as estruturas, visto que todas as posições seriam equivalentes. No entanto, com ligantes diferentes, em proporções diferentes, isto poderia ser feito. Um complexo formado por um metal (M) e dois ligantes diferentes (A e B), de fórmula MA4B2 tem um número diferente de isômeros para cada uma das estruturas. Para o hexágono planar, seriam três os isômeros. O mesmo número de isômeros seria encontrado para a forma prismática. Já na estrutura octaédrica, um complexo de fórmula MA4B2. Em um complexo de fórmula MA3B3 se observaria exatamente o mesmo número de isômeros para cada uma das diferentes estruturas. Bastaria Werner investigar quantos isômeros eram formados em complexos MA4B2 e MA3B3 e o resultado observado, independente de metais e ligantes, foi que o número de isômeros era sempre dois. Desta forma, Werner mostrou que os complexos formados por seis ligantes tinham geometria octaédrica. Em 1917, Werner ganhou o prêmio Nobel de química “pelo seu trabalho na ligação de átomos em moléculas, o qual trouxe uma nova luz nas recentes investigações e abriu um novo campo de pesquisa especialmente em química inorgânica”. Embora brilhante, o trabalho de Werner ainda deixava perguntas, como sobre a origem das cores dos complexos ou da estabilidade dos mesmos. CEFET Química Química Inorgânica 89 A A AA A A A A A A A A A A A A A A (i) (ii) (iii) Figura 62. As estruturas propostas por Werner para um complexo MA6. (i) Um hexágono plano, (ii) em forma de prisma e (iii) o octaedro. O metal (omitido nas figuras) se posiciona no centro das estruturas. 9.2 – Classificação dos ligantes e nomenclatura de complexos Os ligantes são classificados, principalmente, de acordo com o número de ligações que pode fazer com o metal. Existem ligantes monodentados, que são aqueles que fazem somente uma ligação e ligantes ditos quelantes, onde há mais de um ponto de coordenação com o metal. Os ligantes quelantes também são chamados de ligantes polidentados. Existem diversos tipos, como os bidentados (dois pontos de coordenação), tridentados (três pontos de coordenação) ou tetradentados (quatro pontos de coordenação) e assim por diante. Existem também ligantes do tipo ambidentados. São ligantes que possuem dois pontos de coordenação, mas não é possível usá-los juntos com o mesmo metal. Isto é, ou se ligam por um dos pontos ou pelo outro. São portanto ligantes monodentados, mas com mais de uma opção de coordenação. São clássicos ligantes ambidentados o SCN–, que pode se ligar pelo enxofre ou pelo nitrogênio e, também, o NO2– que pode se ligar tanto pelo nitrogênio como pelo oxigênio. A Figura 63 mostra a estrutura de alguns ligantes comuns em compostos de coordenação. A nomenclatura de complexos segue uma sistemática própria definida pela IUPAC. As regras básicas são: a) O nome do ânion antecede ao do cátion. b) Quando há vários ligantes iguais são usados os prefixos di, tri, tetra, penta, etc para indicar a quantidade de cada ligante. A exceção desta regra se dá quando o nome do ligante já contém a indicação de um número, como por exemplo etilenodiamina ou bipiridina. Nestes casos usam-se outros prefixos para indicar o número de ligantes: bis, tris e tetraquis, como nome do ligante sendo colocado entre parênteses. O uso destes prefixos está resumido na tabela abaixo. CEFET Química Química Inorgânica 90 Tabela 12. Prefixos para indicar o número de ligantes. Prefixos Número de ligantes Prefixos Número de ligantes Mono (opicional) 1 Hepta 7 Di, bis 2 Octa 8 Tri, tris 3 Nona 9 Tetra, tetraquis 4 Deca 10 Penta, pentaquis 5 Undeca 11 Hexa 6 Dodeca 12 OO Acetilacetonato (acac) N N Bipiridina (bipy) H2N O O Glicinato (gly) H2N NH2 Etilenodiamina (en) O O O O (CH3COCHCOCH3) (NC5H4)2 Oxalato (ox) NH2CH2CO2 NH2CH2CH2NH2 C2O4 2 N Piridina (py) NC5H5 N O O N O O ou Nitrito ou Nitro NO2 N N O O O OO O O O Etilenodiaminotetraacetato (edta ou Y) S C N S C N ou Tiocianato SCN ou Isotiocianato NCS Figura 63. Alguns ligantes importantes para os compostos de coordenação. Em vermelho os átomos que se coordenam ao metal e entre parênteses as abreviações para alguns dos ligantes. CEFET Química Química Inorgânica 91 c) Ao escrever o nome do complexo, os ligantes são citados em ordem alfabética, qualquer que seja a sua carga e não levando o prefixo em consideração. O nome do metal deve seguir os dos ligantes, com a indicação de seu estado de oxidação entre parênteses, utilizando algarismos romanos. Não há espaço entre nenhum dos nomes, prefixos ou parênteses. Os ligantes e seus nomes para o uso em nomenclatura de compostos de coordenação, bem como abreviações, estão listados na Tabela 13. d) Ao escrever a fórmula química de um composto de coordenação, deve-se agrupar o metal e ligantes com colchetes. O metal é escrito primeiro, seguido dos ligantes em ordem de carga. Primeiro os negativos, seguido dos neutros e, então, os positivos. No caso de dois ou mais ligantes de cada tipo, considera-se a ordem alfabética de acordo com o símbolo do elemento coordenado ao metal. e) O nome de íons complexos positivos ou de complexos neutros não sofre qualquer alteração. f) Ao nome de íons complexos negativos deve ser adicionado o sufixo “ato”. Existem outras regras, para complexos com mais de um centro metálico ou para ligantes em ponte, mas estas regras ou complexos deste tipo não serão abordados. Por exemplo, os complexos [Co(NO2)3(NH3)3] e K4[Fe(CN)6] são nomeados, segundo as regras citadas, como triaminotrinitrocobalto(III) e hexacianoferrato(II) de potássio, respectivamente. Analisando cada caso separadamente,começando pela fórmula química do [Co(NO2)3(NH3)3], como o NO2– é um ânion e a amônia é uma molécula neutra, o primeiro aparece antes na fórmula química. O NO2– é um ligante ambidentado e, portanto, tem duas opções de coordenação. Da maneira que a fórmula está escrita, nota-se que é o nitrogênio que está ligado ao metal – o que leva ao nome nitro. A amônia, NH3, quando coordenada recebe o nome de amino e, portanto, vem antes no nome do complexo. Como são três espécies NO2– e NH3, usa-se o prefixo “tri”. Por fim, o estado de oxidação do cobalto é descoberto pelo somatório das cargas. O complexo como um todo é neutro e cada íon nitrito possui carga –1, dando um total de três cargas negativas. Portanto, o cobalto no complexo citado acima deverá ser +3. O outro composto, normalmente chamado de ferrocianeto de potássio, possui um cátion (K+) que não faz parte do íon complexo, que é a parte abrigada entre os colchetes: [Fe(CN)6]4–. Cada íon cianeto tem carga –1, o que leva ao estado de oxidação +2 para o ferro. Sendo seis o número de ligantes, usa-se o prefixo “hexa” antes de “ciano”, que é a nomenclatura CEFET Química Química Inorgânica 92 para o íon cianeto quando coordenado. Por se tratar de um ânion, é preciso adicionar o sufixo “ato” ao final do nome. Tabela 13. Nome de alguns ligantes para nomenclatura dos complexos.1 Espécie Nome no complexo Espécie Nome no complexo Fluoreto (F–) Fluoro Piridina (py) Piridino Cloreto (Cl–) Cloro Bipiridina (bipy) Bipiridino Brometo (Br–) Bromo Etilenodiamina (en) Etilenodiamino Iodeto (I–) Iodo Cianeto (CN–) Ciano Trifenilfosfina (P(C6H5)3)2 Trifenilfosfino Amideto (NH2–) Amido Água (H2O) Aquo Hidroxido (OH–) Hidroxo Amônia (NH3) Amino3 Óxido (O2–) Oxo Peróxido (O22–) Peroxo Monóxido de carbono (CO) Carbonil Acetato (CH3COO–) Acetato Óxido Nítrico (NO) Nitrosil Acetilacetonato (acac) Acetilacetonato Gás oxigênio (O2) Dioxigênio Carbonato (CO32–) Carbonato Gás nitrogênio (N2) Dinitrogênio Glicinato (gly) Glicinato Hidreto (H-) Hidrido Nitrato (NO3–) Nitrato Tiocianato (SCN–) Tiocianato4 Sulfato (SO42–) Sulfato Tiocianato (NCS–) Isotiocianato5 Oxalato (ox) Oxalato Nitrito (ONO–) Nitrito6 Fenil (C6H5*, Ph ou φ) Fenil Nitrito (NO2–) Nitro7 1 O ligante etilenodiaminotetraacético, edta, permanece com o mesmo nome. 2 P(C6H5)3, PPh3 ou Pφ3. 3 Também se encontra o uso de “amin”. 4 Quando ligado pelo enxofre. 5 Quando ligado pelo nitrogênio. 6 Quando ligado pelo oxigênio. 7 Quando ligado pelo nitrogênio. 9.3 – Isomeria em compostos de coordenação Existem diversas formas de isomeria em compostos de coordenação, mas o foco aqui será apenas em dois tipos de isomeria: a geométrica e a de ligação. A isomeria geométrica vem de diferentes arranjos com os mesmos ligantes em um complexo octaédrico ou quadrado planar. O primeiro caso de isomeria em geometria octaédrica vem de complexos com fórmula química MA4B2. Como pode-se ver na Figura 64, existem dois arranjos para esta fórmula. Este arranjo faz lembrar o caso de isomeria cis- e trans- de compostos orgânicos cíclicos. E este é da mesma forma que chamamos estes isômeros. O isômero trans- apresenta os mesmos ligantes (B) em lados opostos em relação a um plano contendo os outros ligantes. No isômero cis-, os ligantes iguais estão CEFET Química Química Inorgânica 93 em posições adjacentes no octaedro. Complexos com geometria quadrado planar também apresentarão este tipo de isomeria, mas para complexos do tipo MA2B2. A denominação cis- ou trans- para o complexo deve vir antes do nome do mesmo. B A A A M B A A A A A M B B Isômero cis Isômero trans Figura 64. Isomeria geométrica em complexos do tipo MA4B2. Nos complexos octaédricos ainda existe outro tipo de isomeria, para compostos com dois tipos de ligantes e fórmula MA3B3. A Figura 65 mostra os dois isômeros, nomeados de mer- e fac-. No isômero mer-, que deriva de meridional, os três ligantes iguais estão contidos em um mesmo plano que passa pelo centro do octaedro, ou seja, um plano que contém o metal. No isômero fac-, que significa facial, os três ligantes iguais estão contidos em uma das faces do octaedro. Assim como no caso para os isômeros cis- e trans-, o caso de isomeria mer- e fac- deve ser escrita no nome do complexo. B A B A B A M B B B A A A M Isômero mer Isômero fac Figura 65. Isomeria geométrica em complexos do tipo MA3B3. Em vermelho a face do octaedro com três ligantes do mesmo tipo. A isomeria de ligação ocorre quando o complexo tem um ligante que é ambidentado. Por conta disto, existirão complexos com a mesma fórmula, mas estruturas diferentes, como mostra a Figura 66. Neste caso de isomeria não é preciso acrescentar CEFET Química Química Inorgânica 94 nada ao nome dos compostos de coordenação, já que o nome do ligante muda dependendo do ponto de coordenação. O NH3 H3N H3N Co NH3 NH3 N O 2+ N NH3 H3N H3N Co NH3 NH3 O 2+ O (I) (II) Figura 66. Isomeria com o ligante NO2– em um complexo [Co(ONO)(NH3)5]2+ (I) (pentaaminonitritocobalto(III)) e [Co(NO2)(NH3)5]2+ (II) (pentaaminonitrocobalto(III)). 9.4 – Teoria do Campo Cristalino (TCC) Quando Bohr teve sucesso na descrição do espectro atômico do hidrogênio através de sua teoria das órbitas quantizadas, ficou claro que espectroscopia e a configuração eletrônica das espécies estavam intimamente ligados. Para entender, por exemplo, as cores dos compostos de coordenação, era preciso uma teoria que envolvesse a configuração eletrônica destes. A Teoria do Campo Cristalino (TCC) foi uma das teorias que surgiram para explicar o comportamento eletrônico dos compostos de coordenação. Com argumentos bastantes simples, a TCC explicava diversas propriedades dos compostos de coordenação e, por isso, passou a ser utilizada para prever e explicar o comportamento desses compostos. Segundo a TCC cada ligante é tratado como um ponto esférico de densidade negativa que, ao se aproximar do metal, entra em repulsão em com os elétrons que ocupam orbitais do tipo d dos metais. A repulsão causada pelos ligantes irá depender do arranjo destes em relação ao metal (e seus orbitais d). Quando são seis os ligantes, a geometria é octaédrica (o que se chama na TCC de campo é octaédrico). Para quatro ligantes, o campo é tetraédrico (se a geometria for tetraédrica). No campo octaédrico, os ligantes se aproximam na direção dos eixos espaciais x, y e z. Os orbitais do tipo d, posicionados nos eixos, experimentarão uma maior repulsão do que os posicionados na região entre os eixos (Figura 67). Quando analisamos os cinco orbitais d, os dois que estão posicionados nos eixos ( 2y2xd − e 2zd ) aumentarão de CEFET Química Química Inorgânica 95 energia, enquanto os três entre os eixos (dXY, dXZ e dYZ) terão uma energia menor (Figura 68). Há, portanto, uma quebra na degenerescência dos cinco orbitais d, dando origem ao desdobramento dos orbitais d, onde os orbitais 2y2xd − e 2zd são chamados de orbitais eg e os orbitais dXY, dXZ e dYZ são chamados de t2g. A diferença de energia entre os orbitais eg e t2g é chamada de parâmetro de desdobramento do campo cristalino, simbolizado por Δo (Dq ou 10Dq também são usados para expressar esta diferença de energia). A estabilidade dos complexos (e algumas outras propriedades) dependerá de como os elétrons estarão distribuídos. Define-se a energia de estabilização do campo cristalino, EECC, como sendo Oge2gt )Δ0,6n0,4n(EECC +−= (30) onde n é o número de elétrons que ocupa os orbitais. Quanto mais negativa for EECC, maior é o ganho em estabilidade causado pelo desdobramento. Por exemplo, o íon Cr3+ tem configuração d3. Portanto seus três elétrons irão ocupar osorbitais t2g. Então a energia de estabilização para um complexo deste íon seria: OOCr 1,2Δ0)Δ0,630,4(EECC −=⋅+⋅−= (31) A partir de íons com configuração d4 existem duas possibilidades: ou ocupar os orbitais de maior energia (eg) ou ter elétrons emparelhados nos orbitais de menor energia. Sempre que a energia de desdobramento (ΔO) for maior que a energia gasta para o emparelhamento de elétrons (P) o sistema terá elétrons emparelhados. Estes complexos são chamados de complexos de campo alto ou de spin baixo. Entretanto, se o desdobramento for menor que a energia de emparelhamento, o elétron ocupa um orbital de maior energia. Os complexos com configuração eletrônica deste tipo são chamados de complexos de campo fraco ou de spin alto. Por tais motivos torna-se de fundamental importância saber que fatores influenciam na magnitude de ΔO. E são dois os mais importantes: o metal (quanto ao número de oxidação e a série de transição a que pertence) e o ligante. CEFET Química Química Inorgânica 96 Figura 67. Orbitais d do metal em um campo octaédrico. Δo -2/5 Δoorbitais d eg t2g +3/5 Δo Figura 68. Desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico. O metal exerce forte influência no desdobramento. Ao aumentarmos a carga do metal o desdobramento aumenta, pois quanto maior é a carga, maior é a atração entre o metal e o ligante. Ademais, séries de transição mais elevadas geram maiores desdobramentos. Tal comportamento é explicado, pois orbitais mais volumosos necessitam de menor energia para o emparelhamento de elétrons e, por serem mais difusos (maior polarizabilidade), geram maiores interações com os ligantes. Como exemplo deste efeito podemos citar o [Fe(H2O)6]3+ que possui ΔO = 14000 cm-1 (1,74 eV) enquanto o [Ru(H2O)6]3+ tem ΔO = 28600 cm-1 (3,55 eV). A natureza do ligante também é responsável pela magnitude do desdobramento. Os ligantes que forçam o emparelhamento ou, em outras palavras, causam um grande CEFET Química Química Inorgânica 97 desdobramento, são chamados de ligantes de campo forte. Já os ligantes que irão formar um complexo de spin alto são chamados de ligantes de campo fraco. A determinação dos valores de ΔO se dá por espectroscopia. Analisando-se as transições e energias envolvidas pode-se calcular os valores de ΔO. Com base nesses dados, construiu-se a série espectroquímicaa: I–<Br–<S2–<SCN–<Cl–<NO2–<<F–<OH–<C2O42– (ox)<O2–<H2O <NCS–<CH3CN<NC5H5 (py)<NH3<NH2CH2CH2NH2 (en) <2,2´-NC5H5C5H5N (bipy)<NO2–<P(C6H5)3<CH3–<CN–<CO Os ligantes do início da série são considerados de campo fraco e os do final os de campo forte. A TCC não consegue explicar a ordem dos ligantes na série espectroquímica. Levando-se em conta a força da interação eletrostática era de se esperar que um ligante carregado causasse uma ligação mais intensa do que ligantes neutros (e, portanto, um maior desdobramento). Outro exemplo da imprecisão da TCC na série espectroquímica é que a água é um ligante mais fraco que a amônia, mesmo tendo um momento de dipolo maior. A série espectroquímica foi explicada mais tarde por uma outra teoria, baseada nos orbitais moleculares. A abordagem feita para o campo octaédrico também foi feita para o tetraédrico. A diferença é a posição dos ligantes em relação aos orbitais d. Em um complexo octaédrico, os ligantes estão posicionados nos eixos (Figura 67), enquanto no campo tetraédrico, os ligantes estão posicionados fora dos eixos. Portanto, os ligantes de um complexo com geometria tetraédrica irão afetar os orbitais d do metal de forma diferente da observada em um campo octaédrico. Os orbitais d fora do eixo (dXY, dXZ e dYZ) serão mais afetados pela presença dos ligantes e, por isso, serão os de maior energia no diagrama dos orbitais – onde são identificados como orbitais t2. Já os dois orbitais que ficam nos eixos serão os de menor energia, chamados de orbitais e. A Figura 69 mostra o desdobramento dos orbitais d para um campo tetraédrico. O parâmetro de desdobramento do campo cristalino para complexos tetraédricos (Δtd) são pequenos se comparados com complexos do mesmo metal em um campo octaédrico. Normalmente, os complexos tetraédricos são de campo fraco: Δtd é menor que a energia de emparelhamento dos elétrons. a Em negrito está o átomo que fará a ligação em ligantes ambidentados. As abreviações são: oxalato (ox); piridina (py), etilenodiamina (en) e bipiridina (bipy). Esta série é resultado de uma média de parâmetros, podendo haver inversões em alguns casos. CEFET Química Química Inorgânica 98 Δtd +2/5 Δtd orbitais d e t2 -3/5 Δtd Figura 69. Desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico. A geometria tetraédrica não é a única possível para o número de coordenação 4. Há também a geometria quadrado planar. A geometria quadrado planar pode ser vista como um caso extremo do efeito de Jahn-teller. O efeito de Jahn-Teller causa uma distorção geométrica em complexos octaédricos, principalmente em complexos onde os metais possuem configuração eletrônica d8 e d9. A distorção causada pelo efeito de Jahn-Teller pode ou alongar ou encurtar as ligações de alguns dos ligantes e isto leva a uma mudança no diagrama de orbitais. A Figura 70 mostra a distorções que levará até um complexo com geometria quadrado planar. L L L L L M L L L L L L M L L L L L M a) b) c) Figura 70. Uma distorção causada pelo efeito de Jahn-Teller. a) Um complexo octaédrico regular; b) os ligantes no eixo z se afastam; e c) um complexo com geometria quadrado planar. Ao considerar que os ligantes do eixo z irão se distanciar, até que não haja mais ligação entre eles e o metal, admite-se que a repulsão nos orbitais localizados no eixo z irá diminuir. Assim, um novo desdobramento irá ser observado, onde os orbitais com CEFET Química Química Inorgânica 99 componentes no eixo z terão energia menor do que no campo octaédrico, enquanto os outros orbitais sofrem um acréscimo energético em relação à situação anterior (Figura 71). Os complexos quadrado planar são, tipicamente, de campo forte. Desta forma, emparelha-se os elétrons antes de se ocupar um orbital de maior energia. orbitais d eg t2g dxz dyz dxy dz2 dx2-y2 Quadrado PlanarOctaédrico Figura 71. Desdobramento em um complexo com geometria quadrado planar. Após entender todos os diagramas dos orbitais para as geometrias mais comuns dos complexos, voltemos à questão das cores dos complexos. Segundo a TCC, as cores observadas nos complexos se devem a transições eletrônicas entre os orbitais d do metal, portanto, um reflexo do desdobramento destes orbitais. Quanto maior for desdobramento, mais energia será necessária para as transições eletrônicas acontecerem. Dessa forma, o comprimento de onda absorvido será menor.b Quando a luz branca (luz visível) atravessa o composto, este absorve um dado comprimento de onda com energia idêntica ao da magnitude do desdobramento dos orbitais d, e os outros comprimentos de onda presentes passam sem serem absorvidos. Portanto, enxergamos uma mistura de cores de todos os comprimentos de onda – menos o que foi absorvido! É o que chamamos de cores complementares. A Tabela 14 mostra as cores e suas cores complementares. Voltando ao caso descrito por Werner para os isômeros CrCl3.6H2O. Quando se tinha o complexo [Cr(H2O)6]3+, era observada uma cor azul para violácea. Isto significa b Lembre-se: pela relação de Planck, E = h.c/λ. Então, quanto menor o comprimento de onda (λ) maior é a energia (E). CEFET Química Química Inorgânica 100 que a absorção se dá numa faixa entre 560 e 595 nm. Já o complexo [Cr(H2O)4Cl2]+ exibe uma cor verdeescura, sinal de que absorve o comprimento de onda característico da cor vermelha, na faixa de 650 à 750 nm. Isto está de acordo com a série espectroquímica. O cloreto é um ligante mais fraco que a água e, portanto, a troca de moléculas de água por íons cloreto causa uma diminuição na magnitude do desdobramento dos orbitais. Portanto, observa-se que o íon-complexo [Cr(H2O)4Cl2]+ tem seu máximo de absorvância num comprimento de onda maior (de menor energia) que o do íon-complexo [Cr(H2O)6]3+. Tabela 14. Cores e suas cores complementares. Comprimento de onda (nm) Cor Cor Complementar. 400 – 435 Violeta Amarelo esverdeado 435 – 480 Azul Amarelo 480 – 490 Azul esverdeado Laranja 490 – 500 Verde azulado Vermelho 500 – 560 Verde Roxo 560 – 580 Amarelo esverdeado Violeta 580 – 595 Amarelo Azul 595 – 650 Laranja Azul esverdeado 650 – 750 Vermelho Verde azulado CEFET Química Química Inorgânica 101 Exercícios Parte C 1 – Explique porque a ocupação de orbitais moleculares do tipo ligante favorece a formação da molécula enquanto ocupar os orbitais moleculares do tipo antiligante favorece a dissociação da molécula. 2 – Desenhe o diagrama de orbitais moleculares para as espécies NO, NO+ e NO–. Preveja que espécie terá a maior energia de ligação entre nitrogênio e oxigênio. 3 – A energia de ionização do N2 é 1503 kJ/mol, do O2 é 1164 kJ/mol e do NO é de 894 kJ/mol. Explique porque a energia de ionização varia deste modo para estas moléculas. 4 – Explique, usando a TOM e a TLV, porque a molécula de Ne2 não existe. 5 – A molécula de HeH+ pode ser estável? Explique. 6 – Nas reações abaixo, identifique o ácido e a base de Lewis: a) HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l) b) BH3 + NaH → NaBH4 c) CsF + SF4 → Cs[SF5] d) CoCl3 + 4NH3 → [CoCl2(NH3)4]Cl 7 – Em reações de substituição nucleofílica de primeira ordem há a formação de carbocátions. A estabilidade dos carbocátions segue a seguinte ordem: C(CH3)3+ > CH(CH3)2+ > CH2CH3+ > CH3+ Explique porque a estabilidade diminui – ou seja, a reatividade aumenta – quando o número de grupos alquila ligados ao carbono positivo diminui. 8 – Use argumentos da Teoria da Ligação de Valência para mostrar que os compostos de boro do tipo BX3 (X = H, Cl, Br e I) são ácidos de Lewis. 9 – Dentre os compostos possíveis citados na questão anterior, qual seria o mais forte? Justifique sua resposta. 10 – Nomeie os compostos abaixo: a) Ni(CO)4 e) Fe(CO)5 i) [Co(H2O)6]Cl2 b) Fe[CoF6] f) K3[Fe(CN)6] j) Na2[Zn(OH)4] c) [RuCl2(NH3)4]Cl g) [Cr(NH3)3(H2O)3]Cl3 l) [Fe(acac)(NH3)3(H2O)] d) [Co(NH3)6][NiCl4] h) [AgCl2]– m) Na[Fe(EDTA)] CEFET Química Química Inorgânica 102 11 – Considere o íon-complexo com a fórmula [Co(SCN)2(NH3)4]+: a) Quantos são os isômeros para este complexo? b) Escreva a fórmula estrutural de todos os isômeros. c) Nomeie todos os isômeros. 12 – Explique porque o complexo [Ru(ox)3]3– é um complexo de spin baixo enquanto o [Fe(ox)3]3– é de spin alto. Mostre também o diagrama dos orbitais mostrando a distribuição de cada um dos complexos. 13 – O complexo [Cr(H2O)4Cl2]+ tem seu máximo de absorvância num comprimento de onda maior que o do íon-complexo [Cr(H2O)6]3+. Explique porque isto é observado. 14 – Por que os orbitais 2zd e 22 yxd − são de maior energia quando a geometria é octaédrica e de menor energia quando a geometria é tetraédrica? 15 – Por que a TCC não pode ser usada para explicar a ordem de força dos ligantes? Por exemplo F– e OH– são ligantes mais fracos que P(C6H5)3 e CO. 16 – Preveja qual dos compostos apresentará o maior Δo e justifique sua escolha: a) [CoF6]3– ou [Co(CN)6]3– b) [Ru(CN)6]3– ou [Fe(CN)6]3– c) [Fe(CN)6]3– ou [Fe(CN)6]4– 17 – Preveja, com base nas informações dadas, se os complexos são de campo forte ou fraco. Justifique suas escolhas. a) O complexo [Mn(H2O)6]2+ é incolor. b) O complexo [Ru(NH3)6]2+ é diamagnético. c) O complexo [Fe(H2O)6]3+ tem coloração amarela intensa. CEFET Química Química Inorgânica 103 Bibliografia Parte C ATKINS, P. W. e SHRIVER, D. F. Inorganic Chemistry. 3a edição. Oxford: Oxford University Press, 1999. HUHEEY, J. E. Inorganic Chemistry: Principles of structure and reactivity. 3a edição. New York: Harper Collins Publishers, 1983. JONES, C.J. A Química dos Elementos do Bloco d e f. Porto Alegre: Bookman, 2002. LEE, J. D. Química Inorgânica Não Tão Concisa. 4a edição. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1996. SCHMIDT, M.W.; BALDRIDGE, K.K.; GORDON, M.S. et al. J. Comput. Chem., 14, 1347– 1363, 1993. SKOOG, D.A.; WEST, D.M. e HOLLER, F.J. Analitical Chemistry, An Introduction. 6a edição. Saunders College Publishing, 1994. WERNER, A. “On the Constitution and Configuration of higher-order Compounds.” Nobel Lectures, Chemistry 1901–1921, p.256-269, 1913. Referências para as figuras: Figuras 46, 52 e 54: Extraídas e adaptadas de: ATKINS, P. W. e SHRIVER, D. F. Inorganic Chemistry. 3a edição. Oxford: Oxford University Press, 1999. Figura 67 Extraída e adaptada de: mooni.fccj.org/~ethall/cobalt/cobalt.htm Capa Parte C.pdf Inorgânica_C_2007.pdf
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