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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA André Neves de Oliveira Daydvison Alex de Souza Coelho Fernando de Assis Rocha Gabriel Freitas da Silva Patrick John da Costa Leal Vinicius Rezende Souza e Silva ESTUDO DAS CAUSAS E IMPACTOS NAS RODAS FERROVIÁRIAS OCASIONADOS POR DESVIOS DAS TOLERÂNCIAS DIMENSIONAIS. CONTAGEM 2018/2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4 1.1. Objetivo Geral .................................................................................... 4 1.2. Objetivos Específicos ......................................................................... 5 1.3. Justificativa ......................................................................................... 5 2. METODOLOGIA .................................................................................... 5 3. DESENVOLVIMENTO ........................................................................... 6 3.1. Referencial Teórico ............................................................................ 6 3.1.1. Rodas ............................................................................................ 6 3.1.2. Trilhos .......................................................................................... 11 3.2. Coleta de Dados ............................................................................... 14 3.2.1. Perda da circularidade da banda de rodagem ............................. 14 3.2.2. Diminuição da espessura e altura do friso ................................... 20 3.2.3. Diminuição da espessura do aro ................................................. 24 3.3. Análise de Dados ............................................................................. 27 4. CONCLUSÃO ...................................................................................... 30 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 31 APÊNDICE A ................................................................................................ 33 APÊNDICE B ................................................................................................ 36 ANEXOS ....................................................................................................... 40 3 RESUMO A presente pesquisa acadêmica procura apresentar de forma clara, direta e objetiva, a relevância e importância do cumprimento das tolerâncias dimensionais aplicadas nas rodas ferroviárias do metrô de Belo Horizonte – MG. As normas que permeiam as tolerâncias dimensionais aplicadas nas rodas ferroviárias são determinadas no Brasil pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas e internacionalmente pela AAR - Association of American Railroads (Associação de Ferrovias Americanas), em visitas realizadas ás duas oficinas de manutenção em específico aos setores de eixamento e reperfilamento de rodas da CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos que é a responsável pelo controle do metrô de Belo Horizonte e outras cidades do Brasil foram levantados dados sobre as tolerâncias dimensionais aplicadas nas rodas dos trens e os principais impactos gerados do descumprimento destes parâmetros. Somados as visitas realizadas, foi realizado um grande trabalho de pesquisa acadêmica em literatura técnica específica fornecida pela CBTU, monografias e/ou dissertações de temas referentes a ferrovias para o máximo embasamento das informações. Cada desvio de tolerância dimensional foi devidamente esclarecido, foram abordados as causas e fatores geradores, ferramentas e métodos de identificação e controle, normas e tolerâncias aplicadas, impactos gerados e por fim foram propostas medidas para minimizar os desgastes estudados. Desta forma foi possível demonstrar através de uma atividade básica do nosso cotidiano como o deslocamento do trabalho para casa ou de casa para a faculdade, a influência - mesmo que de forma implícita - da tolerância dimensional no nosso conforto, bem estar e principalmente na segurança dos que utilizam o metrô. É importante relatar que os níveis de segurança e tolerâncias dimensionais aplicados na prática, atendem fielmente o que determinam as normas aplicáveis. 4 1. INTRODUÇÃO Da sua criação até os atuais 120 anos, Belo Horizonte / MG é uma cidade em constante crescimento, principalmente quanto ao número de habitantes, e com isso sofre com os problemas de uma cidade que não foi planejada para as demandas de uma metrópole, um dos maiores transtornos de uma metrópole é o deslocamento de sua população, com o número de habitantes sempre em expansão aliado a falta de grandes projetos e espaço físico para comportar o número crescente de veículos, o transporte de passageiros em massa é, de longe, a melhor alternativa para minimizar os impactos a cidade O metrô de Belo Horizonte sob o controle da CBTU - Companhia Brasileira de Trens Urbanos foi idealizado no início de 1981 e está em operação desde 1986 (trecho Eldorado – Lagoinha) os atuais 28,1 Km de extensão transportam 210 mil passageiros por dia e com sua última ampliação no ano de 2012 (trecho São Gabriel – Vilarinho) e com a maior parte dos trens oriundos de sua inauguração em meados da década de 80 os cuidados com a manutenção e conservação dos veículos é primordial para o bom funcionamento da cidade como um todo. Apesar de basicamente se tratar de mecânica pesada, um detalhe quase imperceptível tem papel fundamental no funcionamento de todo sistema: a tolerância dimensional, e em especial no componente mecânico roda, o qual será objeto do estudo apresentado nesta produção científica. 1.1. Objetivo Geral Estudar as causas e impactos nas rodas ferroviárias ocasionados por desvios das tolerâncias dimensionais. 5 1.2. Objetivos Específicos Definir o equipamento para análise de impactos; Estudar e analisar as normas técnicas regentes em relação as tolerâncias dimensionais nas rodas; Apontar as falhas mais recorrentes e suas consequências nas rodas do metrô através de entrevistas; Desenvolver modelos em escala reduzida (protótipos) para visualização e entendimento das não conformidades de tolerância na geometria recomendada das rodas; Analisar os dados coletados e propor alternativas para eliminar os fatores geradores de desvios de tolerância dimensional. 1.3. Justificativa Surgimento do interesse no grupo pelo tema proposto devido ao conhecimento prévio do assunto de um dos integrantes. 2. METODOLOGIA A definição do equipamento que será alvo do estudo de causas e impactos, será realizada através de pesquisas nas seguintes literaturas técnicas: 1 – Brina- Vol 2- material rodante e 2 – Rodas e eixos ferroviários – Minicucci MWL. As tolerâncias dimensionais aplicáveis serão analisadas através do estudo das normas técnicas AAR M-107 e M-208 (Association of American Railroads), EN- 13262 (European Standards) e JIS E-5402-1 (Japanese Industrial Standards). As falhas mais recorrentes e suas consequências serão apontadas através de análise dos dados coletados após as visitas técnicas nas empresas CBTU com o coordenador operacional Sr. Francisco José Freitas Lopes e na empresa 6 K&L Equipamentos com o eng.º de Automação Sr. Lourenço Bueno (Apêndices A e B), além de dados coletados na internet e estudos de caso. Os modelos em escala reduzida serão elaborados com a utilização de softwares de modelagem paramétrica (Autodesk Inventor e Solidworks), produzindoos protótipos com torno CNC e reuniões externas do grupo. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1. Referencial Teórico 3.1.1. Rodas As rodas ferroviárias são componentes de liga metálica que sustentam e mantém o trem em uma trajetória fixa na via permanente sobre os trilhos, são as responsáveis por transmitir a força motriz gerada pelo motor para a via férrea, podem ser forjadas (várias vidas) ou fundidas (uma vida). A classificação das rodas ferroviárias utilizadas no Brasil é realizada a partir da norma AAR (Association of American Railroads) M-107 e M-208 conforme anexo elaboradas nos Estados Unidos. Existem outras normas ferroviárias, dentre as quais se destacam EN-13262 (European Standards) e JIS E-5402-1 (Japanese Industrial Standards). O teor de carbono e a dureza dentre as três normas citadas podem ser observadas na tabela a seguir: 7 Tabela 1 - Classificação de rodas ferroviárias segundo as normas internacionais, fonte: Okagata, 2013. No geral as rodas ferroviárias são de liga ferro-carbono e possuem médio ou alto teor de carbono a depender da finalidade da roda conforme classificação abaixo: Classe L Serviços de alta velocidade com condições de frenagem severas e cargas leves. Classe A Serviços de alta velocidade com condições de frenagem severas e cargas moderadas. Classe B Serviços de alta velocidade, condições de frenagem severas e altas cargas por roda. Classe C Serviços com alta carga de frenagem e altas cargas por roda ou serviços com condições severas de frenagem onde são aplicados freios fora da pista de rolamento. Classe D Transporte de carga pesada (Heave Haul). Indicada especialmente para transporte de minério com carga por eixo acima de 30 Ton. As rodas desta classe são microligadas. Tabela 2 - Classificação por aplicação conforme norma AAR M-107, fonte: Minicucci, 2011. 8 A regra prática para uso das classes da norma AAR são: Classes B e C Uso geral para vagões de carga e locomotivas. Classe L, A e B Uso geral para carro de passageiros. Classe D Transporte Heave Haul, acima de 30 Ton./eixo. Tabela 3 - Regra prática de aplicação da norma AAR M-107, fonte: Minicucci, 2011. Para atender os níveis mais altos de esforço mecânico, resistência a tração, tensões e vibrações o processo de fabricação das rodas de liga forjada deve possuir os mais altos padrões tecnológicos no que se refere a materiais empregados, processo produtivo e controle dimensional. Rodas forjadas em aço são fabricadas através de sucessivas operações de conformação em blocos de aço aquecidos. Após a obtenção do formato final da roda, para ambos os processos de fabricação, aplica-se o resfriamento controlado. A adoção da desgaseificação no processo de produção das rodas trouxe elementos de alta performance, confiabilidade e durabilidade a vida útil da roda ferroviária (MINICUCCI, 2011). Após a etapa de forjamento ou fundição, a norma AAR define que as rodas ferroviárias devem ser austenitizadas e em seguida passar por um processo de resfriamento diferencial na superfície de rolamento seguida de um revenimento. A têmpera superficial gera tensões residuais compressivas que inibem a propagação de trincas de fadiga na direção radial que, caso ocorram, geralmente são catastróficas (COLPAERT, 2008). A seguir vemos em forma de fluxograma como são as etapas do processo de construção de rodas ferroviárias microligadas forjadas pela MWL Brasil que atualmente é a única fabricante de rodas ferroviárias de aço forjado no Brasil, com toda certificação da AAR. 9 Fluxograma 1 - Processo de fabricação de rodas forjadas, fonte: MWL Brasil (www.mwlbrasil.com.br). No metrô de Belo Horizonte nos carros da linha 900 (antigos) são utilizadas as rodas forjadas modelo A38, fabricadas peça empresa MWL Brasil localizada em Caçapava- SP, que seguem as normas da AAR, esmiuçando o modelo: Classe A ver tabela 2 (classificação) e Ø38” de diâmetro nominal, tem vida útil estimada em 100.000 Km sendo o resultado alcançado de 70% das previsões. No Brasil para uso de transporte de carga são utilizadas as rodas da classe C que suportam baixas velocidades e altas cargas por eixo. 10 Figura 1 - Nomenclatura da roda, fonte: Minicucci, 2011. As rodas ferroviárias são dimensionadas para serem substituídas por desgaste e nunca por ocorrência de algum defeito, porem devido as diferentes condições de serviços e ocorrências ligadas ao seu processo de fabricação alguns defeitos ocorrem durante o seu uso tendo como consequência a necessidade do reperfilamento ou sucateamento da roda (MINICUCCI, 2000). Tem crescido cada vez mais a pesquisa científica relativa ao transporte ferroviário no Brasil devido a busca pela redução no custo e aumento da competitividade no transporte sob trilhos. Para tal fim é necessário o estudo das principais falhas existentes, desenvolvimento de novas soluções e desenvolvimento de novos materiais e ligas (VILLAS BÔAS, 2010). Denomina-se rodeiro ao conjunto composto por um eixo, com duas rodas caladas em suas extremidades, quando o rodeiro pertence a um truque motor o rodeiro terá ficada em seu eixo uma engrenagem (coroa), a qual será acoplada ao motor de tração através da engrenagem chamada pinhão. Conforme figura a seguir. (BRINA, 1988). 11 Figura 2 - Rodeiro reboque (A) e rodeiro tração (B), fonte: Lopes, 2017. 3.1.2. Trilhos Os trilhos cumprem duas funções principais: constituem a superfície de rolamento pelo qual trafegam os veículos ferroviários, servindo como guia, e transmitem os esforços decorrentes do movimento do veículo (carga dos eixos, esforços de aceleração e frenagem e esforços devido à variação de temperatura) para a infraestrutura no Brasil. O perfil básico utilizado em trilhos ferroviários convencionais é o tipo “Vignole”, que é composto por boleto, alma e patim. Figura 3 – Padrão do perfil trilho “Vignole”, fonte: Skyttebol, 2005. 12 É definido boleto como a parte do trilho destinada ao apoio e deslocamento da roda ferroviária, e alma como a parte do trilho compreendida entre o boleto e o patim. Este é definido como a base do trilho constituída pela massa mais longa do duplo T, através do qual o trilho é apoiado e fixado nos dormentes. (SEMPREBONE, 2005). Para exercer a sua função de superfície de rolamento e suporte das cargas transportadas pelos veículos, é necessário que o trilho tenha dureza, tenacidade, elasticidade e resistência à flexão. Entre todos os materiais, é o aço que oferece as melhores vantagens para o emprego na fabricação dos trilhos. Os principais componentes do aço e sua influência nas características fundamentais são: Ferro – aproximadamente 98% da composição do trilho é o ferro. Carbono – o carbono proporciona maior dureza ao aço, mas à medida que aumenta a sua porcentagem, este pode se tornar quebradiço, principalmente se não for reduzida a porcentagem de fósforo. Manganês – este material aumenta a dureza do aço, entretanto, uma elevada porcentagem torna o aço difícil de trabalhar. Silício – este material aumenta a resistência à ruptura no aço, sem sacrificar a ductilidade ou tenacidade. Fósforo – é um elemento indesejável, pois torna o aço quebradiço; entretanto, esta ação diminui de intensidade à medida que decresce o teor de carbono. Enxofre – é também um elemento indesejável. Combina – se com o ferro, tirando suas principais qualidades, formando as chamadas “segregações”. A segregação ocorre devido à diminuiçãoda solubilidade do enxofre no aço. (BRINA, 1983). A maioria dos trilhos fabricados em todo o mundo é de aço – carbono, as especificações americanas para os trilhos de aço-carbono, são seguidas no Brasil. São classificadas conforme Norma Americana ASTM-A-1 (American Society for Testing Material) e AREA (American Railway Engineering Association). Estabelecem a seguinte composição química (%). 13 Tabela 4 - Composição química dos trilhos, fonte: Brina. 1983. A fundição produzida pelos altos fornos é uma liga de ferro com alto teor de carbono, duro, frágil e não maleável. No curso de sua transformação em aço, ao mesmo tempo em que se abaixa o teor de carbono, deve-se eliminar tanto quanto possível as impurezas, como enxofre e fósforo, que se encontra em quantidades variáveis nesta liga. A tecnologia de fabricação do aço tem evoluído muito, obtendo-se atualmente aços de alta qualidade, tendo em vista a destinação do mesmo. O aço obtido da concha de fundição é vertido em moldes piramidais de fundo móvel, chamados lingoteiras. Sua seção média é de 50 x 50 cm e contém aproximadamente cinco toneladas de aço. Os fenômenos físico-químicos que se produzem durante a solidificação da liga, na lingoteira, prejudicam a homogeneidade do aço e dão origem a vários defeitos, que poderão prejudicar a peça resultante, quando em serviço. Os trilhos são laminados a quente, a partir dos blocos provenientes dos lingotes. A seção do trilho é obtida pela passagem sucessiva do bloco aquecido, numa série de cilindros de laminação, projetados de tal modo que a fôrma retangular do bloco é gradualmente desenvolvida na seção do trilho. Esta operação requer precisão de desenho dos diversos contornos dos cilindros e uma supervisão constante na fase de laminação, para obter a seção desejada. 14 Até 1996, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) manteve laminador para produção de trilho ferroviário no Brasil. “A produção foi descontinuada porque não havia procura que justificasse sua manutenção”, afirma a entidade por meio de posicionamento enviado por sua assessoria de imprensa. E finaliza: “a capacidade mínima para implantação de um laminador deste tipo é da ordem de 500 mil toneladas. Hoje, o Brasil ainda não tem mercado suficiente que justifique investimentos em um novo laminador para produção de trilho ferroviário” (REVISTA FERROVIÁRIA, 2018). 3.2. Coleta de Dados 3.2.1. Perda da circularidade da banda de rodagem Conforme dito por Minicucci (2000) “As rodas ferroviárias são dimensionadas para serem substituídas por desgaste e nunca por ocorrência de algum tipo de defeito, porém devido as diferentes condições de serviço e ao seu processo de fabricação, alguns defeitos ocorrem durante o seu uso tendo como consequência a necessidade de reperfilamento / sucateamento da roda”. O defeito que acarreta mais impactos ao sistema ferroviário do metrô de Belo Horizonte – MG segundo os próprios responsáveis pelos setores de eixamento e manutenção de rodas da CBTU é a perda da circularidade da banda de rodagem, conhecida vulgarmente por “calo”. O Calo pode ser caracterizado como uma planicidade na superfície de rolamento da roda, ocasionado pelo travamento indevido da roda no momento da frenagem em função do esforço de frenagem ser superior ao limite de aderência entre a roda e trilho, assim ocorrendo o deslizamento das rodas, isso ocorre com mais frequência em veículos antigos, ou seja, os que não possuem a tecnologia dos freios ABS (Sistema de Freio Anti-bloqueio), também pode ocorrer – porém em menor escala - durante o início dos períodos chuvosos onde a superfície do trilho fica recoberta por uma fina lâmina d’água o que proporciona a condição para o 15 deslizamento das rodas, algo similar à aquaplanagem nos veículos nas ruas e também pode ocorrer desta vez de forma excepcional devido à contaminação acidental dos trilhos por graxa, óleo ou outra substância que interfira no atrito do conjunto. A seguir é possível verificar dois casos de calo em roda ferroviária, no primeiro (figura - a) ocorreu o deslizamento da roda sob o trilho pelo travamento dos freios o que acarretou em região plana concentrada em um único ponto, no segundo caso (figura – b) durante o deslizamento da roda aconteceram pequenos giros o que resultou em uma série de calos de menor proporção ao longo de toda banda de rodagem. Figura 4 - Calo na roda ferroviária (A) e múltiplos calos (B), fonte: Lopes, 2017. A identificação dos calos nas rodas ferroviárias são realizadas basicamente de duas formas, através da percepção acústica do ruído que o dano provoca ao tocar os trilhos, esta identificação geralmente é identificada pelo operador da composição, pelos fiscais de via que ficam no decorrer da via permanente e em alguns casos por algum usuário mais incomodado. Pode também ser identificado durante as vistorias diárias que são realizadas após o recolhimento dos trens que acontece após as 23:15. Já a gravidade ou extensão da parte plana na pista de rolamento do trem é realizada através de gabarito certificado pela norma NBR 7899/1983 – Gabaritos para roda ferroviária. 16 Segundo as normas NBR 5565/2010 - Rodeiro Ferroviário e a norma NBR 7899/1983 – Gabaritos para roda ferroviária e o Manual de campo da AAR “A roda será rejeitada quando apresentar uma parte plana na superfície da roda (calo) isolada de 2” (50,8 mm), ou dois ou mais calos adjacentes de uma polegada e meia (38,1 mm) ou mais. Figura 5 - Gabarito “Matriz” tipo passa – não passa, fonte: Lopes, 2017. Na figura a seguir podemos verificar como é realizada a medição de um calo em roda ferroviária: Figura 6 - Medição da extensão do calo, fonte: Lopes, 2017. 17 Sendo identificada alguma condição que seja rejeitada segundo o que rege a norma, a roda ferroviária “não conforme” deve passar pelo processo de reperfilamento, lembrando que o sistema de frenagem mecânica é atuante nas duas rodas de forma simultânea, portanto o calo acontece nas duas rodas do rodeiro, porém a extensão da superfície plana pode variar entre rodas do mesmo rodeiro por inúmeros fatores: temperatura, composição química, etc. No reperfilamento a usinagem é realizada em torno especial onde não há a necessidade de remoção do rodeiro, nem qualquer tipo de desmontagem do trem, o travamento é realizado de forma hidráulica diretamente no truque e as duas rodas são usinadas simultaneamente. Após o travamento e posicionamento do conjunto sensores de posição realizam as medições em pontos específicos das rodas e as medidas coletadas são comparadas com o perfil padrão da roda que fica armazenado na memória da máquina e define qual a quantidade de material deverá ser removida para que a roda volte aos parâmetros aceitáveis, restando ao operador apenas confirmar os comandos da máquina e observar possíveis anomalias no processo de usinagem, em média o reperfilamento de duas rodas dura em torno de 40 minutos. Figura 7 - Equipamento para o reperfilamento de rodas, fonte: Do autor em visita à CBTU. 18 A formação de uma superfície plana na banda de rodagem da roda ferroviária não é o único dano que ocorre na roda, o deslizamento da roda sobre o trilho ocasiona uma alteração súbita nos gradientes de temperatura em pontos localizados, essa elevação da temperatura é seguida por um resfriamento brusco ocasionado após o destravamento pelo contato da parte aquecida da roda com o trecho posterior do trilho que está em temperatura ambiente, isso leva a alteração da estruturacristalina do metal pois na região afetada ocorre acidentalmente uma têmpera localizada. Sabemos que a formação de martensita no trecho plano e adjacências forma uma superfície dura e quebradiça, que somada aos impactos que a parte plana da banda de rodagem sofre ao tocar o trilho inicia um processo de erosão deste material endurecido o que potencializa os danos causados. Figura 8 - Esquemático do calo em corte, fonte: Lopes – CBTU. Um calo ou uma seção de múltiplos calos em uma roda ferroviária se não forem corrigidos rapidamente, podem trazer impactos a todo sistema ferroviário, o principal deles é o aumento do impacto causado quando a seção plana da banda de rodagem toca o trilho, segundo Bogdevičius, utilizando método computacional por elementos finitos, foram obtidos resultados que mostraram que uma roda com um calo de 100 mm, com profundidade de 2,53 mm, com carga estática de 100 kN e com deslocamento a uma velocidade de 100 km/h, perde seu contato com o trilho por um tempo de 0,388 a 0,398 segundos, quando o calo aparece na zona de contato roda/trilho. A magnitude das forças de impacto é alta, com duração no 19 tempo muito curta (cerca de 2 a 10 milissegundos), portanto, com frequências elevadas. Na figura abaixo podemos ver o comparativo da situação descrita: Figura 9 - Diagrama com os efeitos estático e dinâmicos da roda com calo sobre a via (representação exagerada do calo para melhor visualização), fonte: Barbosa, 2009. Estima-se que este impacto seja aumentado em 4 vezes em comparação com uma roda sem calo, na via permanente isso acarreta em quebra dos trilhos por fratura, quebra de dormentes de concreto, rachaduras nos dormentes de madeira, quebra das fixações do trilho (grampos elásticos, parafusos, placas amortecedoras), deformação na geometria do lastro e por consequência deformações do nivelamento e alinhamento da via permanente, já no material rodante temos como consequências diretas a quebra de rolamentos, mancais, molas de suspensão e suportes e em casos graves a roda pode vir a fraturar completamente, por último temos as consequências geradas ao usuário do metrô que são o desconforto com a trepidação e excesso de ruído durante a viajem o que pode vir a afetar a população que reside no entorno das vias permanentes. 20 3.2.2. Diminuição da espessura e altura do friso O friso também conhecido como flange é o rebordo localizado na face interna da roda, tem como principal função fazer com que o rolamento do rodeiro permaneça sobre o trilho, ou seja, toda vez em que o rodeiro tende à se deslocar lateralmente principalmente durante as curvas, o friso ao tocar a face lateral do trilho faz com que toda composição permaneça estável e devidamente centralizada sobre a via permanente, garantindo assim estabilidade, conforto e principalmente a segurança dos usuários. Figura 10 - Detalhamento da roda, fonte: Brina (editada), 1988. Com relação aos parâmetros do friso da roda ferroviária temos dois pontos importantes a serem observados: a espessura e a altura do friso. A espessura do friso é afetada diretamente durante o movimento de curva que o trem realiza, neste momento o friso da roda que percorre o trilho da parte externa da curva é o responsável por conter o movimento tangencial que o trem tende a realizar durante o movimento conforme pode ser observado na figura nº 9. Conforme dito anteriormente o trajeto do metrô de Belo Horizonte possui a particularidade de possuir muitas curvas, e algumas destas curvas com raio mais agudo o que potencializa o atrito e desgaste do friso, outra atenuante que também é uma particularidade do metrô de Belo Horizonte é que a CBTU não possuí um dispositivo para “virar” os trens ou área específica para esta manobra, o fato do 21 trem realizar a viajem de ida de frente e o retorno de ré proporciona que o lado que possui mais curvas seja o lado em que o desgaste seja mais acentuado. Figura 11 - Contenção do movimento tangencial pelo friso externo a curva, fonte: Bombardier, 2007. Já o desgaste referente à altura do friso tem ligação direta com a espessura do aro, conforme a pista de rolamento se desgasta, seja ela pelo desgaste normal de uso ou seja esse desgaste acentuado devido à perda material por outros tipos de fratura também precisa corrigido. Figura 12 - Desgaste da pista (A) e desgaste lateral do Friso (B), fonte: Pascual e Marcos, 2004. 22 A conferência dos parâmetros e a identificação de não conformidades assim como os outros danos abordados se dá nas oficinas de manutenção através de inspeções de rotina realizadas nas paradas dos trens quando o expediente do metrô é interrompido e também é realizada através de gabaritos do tipo analógico e matriz conforme pode ser observado na figura a seguir: Figura 13 - Medição dos parâmetros do friso com gabarito matriz (A) e gabarito analógico (B), fonte: Lopes, 2017. A medida do friso em uma roda ferroviária nova é de aproximadamente Ø1.3/16” (30 mm) e segundo a norma NBR 7899/1983 – Gabaritos para roda ferroviária, a espessura mínima do friso para vida intermediária deve ser de Ø15/16” (24 mm) e de Ø13/16” (21mm) para última vida, já a altura máxima do friso deverá ser de Ø1.1/2” (38 mm) conforme figura nº 13. Quando a espessura do friso atinge a medida de Ø15/16” (24mm) que é conhecido como “meia vida” do friso a roda ferroviária deverá passar pelo processo de reperfilamento onde o perfil geométrico da roda será refeito, e quando a medida do friso for inferior a Ø13/16 (21 mm) a roda deverá ser descartada e substituída pois o fabricante da roda não garante a segurança da operação com estas condições. Já a altura do friso como está diretamente relacionada à espessura do aro sempre que este é reperfilado para a correção de alguma fratura, a altura do friso também é corrigida. 23 Figura 14 - Medição da altura do friso, fonte: Lopes, 2017. O friso da roda ferroviária tem papel direto na segurança da operação, o não cumprimento das tolerâncias dimensionais especificadas pelas normas aplicáveis e recomendações do fabricante podem trazer impactos extremamente graves, a espessura do friso está diretamente ligada a bitola da via permanente que em Belo Horizonte é de 1,6 metros vulgarmente conhecida como “Bitola Larga”, portanto a medida de friso á friso do rodeiro identificada como “ponto de bitola” obrigatoriamente deve estar dentro dos parâmetros e tolerâncias aceitáveis caso contrário durante o movimento de curva a roda da parte interna do rodeiro pode “cair” na dentro da via permanente ocasionando um grave acidente, já com a altura do friso superior a Ø1.1/2” (38 mm), segundo o fabricante durante o movimento de rolamento da roda sobre o trilho, caso o friso esteja com a altura acima do recomendado, haverá uma tendência da roda “escalar” o trilho, podendo assim ocorrer o descarrilamento de toda a composição. Figura 15 - Bitola da via permanente, fonte: Stefller, 2013. 24 3.2.3. Diminuição da espessura do aro Segundo Brina (1983) “O aro é a porção periférica da roda que transmite as cargas ao trilho, é dividida em quatro partes: superfície de rolamento, friso, face interna e face externa”, conforme a figura a seguir: Figura 16 – Roda, terminologia de componentes, fonte: Brina, 1988. Superfície de rolamento: É a superfície do aro que mantém contato com o trilho durante o rolamento da roda. Friso: É o rebordo do aro destinado a garantir o rolamento dorodeiro sobre o trilho. Face externa do aro: É a superfície do aro na face externa roda, limitada pela superfície de rolamento e pela superfície de concordância com o disco. Face interna do aro: É a superfície do aro na face interna da roda limitada pelo friso e pela superfície de concordância com o disco. 25 A via permanente do metrô de Belo Horizonte – MG tem exatos 28,1 km de extensão, se comparar proporcionalmente com o metrô de outras cidades do Brasil é o que possui o maior número de curvas por Km, conforme esclarecido e esmiuçado no item 3.2.2. deste trabalho, o deslizamento da roda ferroviária durante as curvas ocasiona um maior desgaste na pista de rolamento da rodas, outro fator que também é uma particularidade do metrô de Belo Horizonte é a proximidade entre estações, essa proximidade acarreta em um grande número de frenagens bruscas em um curto intervalo de tempo, estes dois fatores somados potencializam o desgaste da pista de rolamento do aro. Figura 17 - Trajeto metrô Belo Horizonte (A) e Recife (B), fonte: www.cbtu.gov.br . A medição da espessura do aro e identificação de uma possível não conformidade são realizados durante as paradas para manutenção preventiva e preditiva nas oficinas de manutenção da CBTU e para isso é utilizado o gabarito do tipo analógico. Segundo a norma NBR 7899/1983 – Gabaritos para roda ferroviária a roda será rejeitada quando atingir uma espessura mínima de Ø1” (25,4 mm) conforme pode ser observado na figura a seguir: 26 Figura 18 - Medição da espessura de aro usado, fonte: Lopes, 2017. As rodas ferroviárias utilizadas no metro de Belo Horizonte – conforme dito anteriormente – são do modelo A38 que possuem Ø38” de diâmetro, a espessura do aro de uma roda nova é de aproximadamente Ø2.1/2” (65 mm) conforme observado na figura nº11, durante a sua vida útil a roda passa por reperfilamentos, frenagens e aliado ao trajeto sinuoso de Belo Horizonte a roda que possui aproximadamente Ø1.1/2” (40 mm) me material disponível para ser “gasto” até que seja atingido o parâmetro mínimo de Ø1” (25,4 mm), após isso as duas rodas do rodeiro serão deseixadas e posteriormente descartadas para o uso porém como sua composição é formada de uma liga metálica com materiais nobres as rodas descartadas ainda são utilizadas como moeda de troca na compra de rodas novas. Figura 19 - Medição da espessura do aro novo com a utilização do gabarito, fonte: Lopes, 2017. 27 O impacto de se utilizar uma roda ferroviária com a espessura do aro fora da tolerância dimensional especificada pelo fabricante pode ser devastador, com uma espessura de aro com medida inferior a Ø1” a roda não possui resistência mecânica para suportar o peso dos trens e tampouco as vibrações no decorrer da via permanente, podendo ocorrer a fratura total ou parcial da roda o que ocasionaria com o possível descarrilamento do trem. Figura 20 - Fratura parcial de roda ferroviária, fonte: Minicucci, 2011. 3.3. Análise de Dados Analisando os dados anteriormente expostos e levando-se em consideração os impactos gerados aos mais diversos meios, há de se ressaltar que atualmente a CBTU possui um bom planejamento e controle das tolerâncias dimensionais das rodas ferroviárias, bem como a atuação rápida e efetiva na correção dos danos encontrados. Porem existem pontos passíveis de melhoras para que sejam obtidos melhores resultados na vida útil das rodas que hoje estão em aproximadamente 70% da vida útil prevista pelo fabricante. A ideia central das melhorias que serão propostas tem um foco específico: reduzir o número de reperfilamentos que a roda ferroviária tem durante sua vida útil, estes reperfilamentos provocam a remoção de material para que sejam 28 mantidos os parâmetros mínimos determinados por normas e pelos fabricantes. Conforme foi exposto, o “calo” por ser inicialmente uma fratura térmica e posteriormente uma fratura mecânica provoca danos profundos na pista de rolamento das rodas ferroviárias e para que a mesma não provoque ainda mais danos, o reperfilamento que será aplicado para corrigir esta avaria deve ser bem agressivo, removendo assim toda a zona termicamente afetada e por consequência uma grande quantidade de material, para que os travamentos que são os maiores geradores de calos nas rodas não ocorram, listamos duas medidas sendo uma de custo mais elevado que terá um resultado melhor e outra de baixo custo que poderá trazer benefícios sem o desprendimento de grandes valores: deslizamentos: Medida de baixo custo Substituição das sapatas existentes por modelos de melhor desempenho. Medida de alto custo Substituição dos freios a sapatas atuais para freios a disco / ABS conforme já utilizado com sucesso nas composições novas. Tabela 5 – Medidas para eliminação de travamentos de roda, fonte: do autor. Já para a redução do friso das rodas ferroviárias foi observado que o desgaste lateral do friso é o maior fator gerador de reperfilamentos, uma vez que o desgaste na altura do mesmo está diretamente ligado a espessura do aro, devido a particularidade da via permanente do metrô de Belo Horizonte possuir um trajeto sinuoso o desgaste lateral do friso é mais acentuado e para minimizar esse fator chegou-se as seguintes medidas: Medida de baixo custo Realizar o rodízio periódico das rodas, para minimizar o desgaste desigual das mesmas. Medida de alto custo Instalação de área de manobras do tipo "pera" para que o trem retorne no sentido inverso da ida, assim os frisos seriam desgastados por igual. Tabela 6 – Medidas para eliminação do desgaste desigual dos frisos, fonte: do autor. 29 E por fim, mas não menos importante a redução na espessura do aro se dá principalmente por micro fraturas térmicas provenientes de deslizamentos das rodas durante o percurso e os deslizamentos laterais durante a realização de curvas, para evitar o deslizamento das rodas durante as curvas devido à diferença do perímetro externo da curva ser maior que o perímetro interno uma vez que o metrô não possui diferencial como os carros, já existe a angulação da pista de rolamento que torna a mesma concêntrica e aliando-se as medidas citadas abaixo é possível obter melhores resultados. Medida de baixo custo Lavagem externa dos trens, para evitar que fluídos das composições contaminem os trilhos. Medida de alto custo Adequação do trajeto aumentando o raio das curvas para minimizar o deslizamento lateral. Tabela 7 – Medidas para eliminação de deslizamentos, fonte: do autor. Mantendo o atual plano de manutenção preditiva e preventiva, somado as medidas propostas é possível ter ganhos de médio a longo prazo a depender do nível de investimento aplicado, como não foi possível obter dados financeiros sobre custo de reperfilamentos e rodas novas os ganhos aqui mencionados são de forma qualitativa. 30 4. CONCLUSÃO Após o trabalho de pesquisa, visitas de campo, entrevistas, seguido da coleta e processamento de todas as informações, o grupo chega à conclusão que em se tratando da segurança de pessoas o cuidado com as tolerâncias dimensionais recebe por parte dos órgãos certificadores uma atenção especial, as normas são rígidas e foi observado na prática que estas são seguidas fielmente pela CBTU. 31 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAR - ASSOCIATION OF AMERICAN RAILROAD, Manualof stands and Recommended Pratices – Whel and Axless, AAR M-107/M-208, USA, 2009. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022 – Informação e documentação – Artigo em publicação periódica científica impressa – Apresentação, ABNT, Brasil, 2003. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023 – Informação e documentação – Referências – Apresentação, ABNT, Brasil, 2003. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028 – Informação e documentação – Resumo – Apresentação, ABNT, Brasil, 2002. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7899 – Roda ferroviária- Gabarito de desgaste do aro, ABNT, Brasil, 1983. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520 – Informação e documentação – Citações em documentos – Apresentação, ABNT, Brasil, 2002. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724 – Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação, ABNT, Brasil, 2002. BARBOSA, Maria Cristina Beirão. Caracterização e avaliação dos efeitos do estado de conservação de rodas de composições ferroviárias na infraestrutura, Dissertação de mestrado, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2009. BRINA, Helvécio Lapertosa. Estradas de ferro 2 – Tração-Frenagem-Material Rodante- Circulação dos trens Belo Horizonte: Editora UFMG, Brasil, 1988. BRINA, Helvécio Lapertosa. Estradas de ferro 1 – Via permanente. Belo Horizonte: Editora UFMG, Brasil, 1988. CBTU – COPANHIA BRASILEIRA DE TRENS URBANOS, Portal do site <www.cbtu.gov.com.br/portal>. Acessado em 29/10/2018. 32 LOPES, Francisco José Freitas. Aplicação de sensores de vibração e ruído instalados nos trilhos da via para detecção de danos em rodas ferroviárias. Dissertação de pós graduação em Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte, Brasil, 2017. MINICUCCI, Domingos José. Rodas e eixos ferroviários conceitos básicos. MWL Brasil Rodas e Eixos Ltda., Caçapava, Brasil, 2011. MWL - MWL Brasil Rodas e eixos Ltda <www.mwlbrasil.com.br>. Acessado em 15/10/2018. PEIXOTO, Daniel Filipe Coutinho. Estudo do contato roda/carril: análise de tensões e fadiga. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2008. ROSA, Edison da. Análise de Resistência Mecânica (Mecânica da Fratura e Fadiga), UFSC, Dep. de Eng. Mecânica, Florianópolis, Brasil, 2002. SEMPREBONE, Paula da Silva. Desgastes em Trilhos Ferroviários – Um estudo Teórico. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas – São Paulo, 2005. SKITTEBOL, A. et al. Fatigue Crack growth in a Welded Rail Under the Influence of Residula Stress. Engineering Fracture Mechannics, 2005. VILLAS BÔAS, Renato Lyra. Desenvolvimento de aço microligado para rodas ferroviárias. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Mecânica, universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil, 2010. STEFFLER, Fábio. Via permanente aplicada: guia teórico e prático. Rio de Janeiro, Editora LTC, 2013. 33 APÊNDICE A – Principais pontos da entrevista realizada em 13/08/2018 na empresa CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos no pátio localizado no bairro Novo Eldorado em Contagem com o coordenador operacional da oficina eletromecânica eng.° Francisco Freitas Lopes. P - Quais serviços são realizados nesta oficina eletromecânica? R – As manutenções da CBTU são setorizadas, nesta oficina são realizados os serviços de manutenção da via permanente (linha férrea) como soldas aluminotérmicas, substituição de trilhos, também realizamos as manutenções nos rodeiros (que é conjunto formado pelo eixo e um par de rodas) além de reparos gerais dependendo da disponibilidade da oficina. P – A montagem dos rodeiros e feita aqui? R – Não, este serviço necessita de uma prensa hidráulica de 300 Ton. que a CBTU não possui, o serviço é licitado e realizado externamente porém seguindo as nossas especificações. P – O controle dimensional desta montagem deve ser bem rigoroso certo? Qual norma técnica que é utilizada para este controle? R – Muito rigoroso, principalmente por se tratar de transporte de pessoas, a segurança neste caso é redobrada. No Brasil tudo relacionado a ferrovias segue as normas da AAR - Association of American Railroads (Associação de Ferrovias Americanas), o número da norma ao certo não me recordo mas posso disponibilizá- la para vocês. P – Nosso objetivo com esta entrevista é entender a aplicação, controle e importância das tolerâncias dimensionais aplicadas mais precisamente nas rodas do metrô, o que pode nos dizer a respeito? R – O controle dimensional das rodas é parte fundamental do nosso dia a dia, é uma peça de desgaste e que fica em constante atrito com os trilhos e com as sapatas de freio no caso dos trens antigos (os novos possuem freios a disco), qualquer desvio na geometria da peça tem impactos diretos na segurança e conforto do usuário além de se tratar de uma peça com custo elevado e como disse 34 anteriormente precisa ser montada em uma empresa externa o que não é realizado rapidamente pela burocracia envolvida em uma estatal. P – Como é feito o controle e acompanhamento da geometria das rodas? R – De várias formas, por exemplo quando uma roda perde sua circularidade “calo” isso gera um forte ruído quando o carro está em movimento, que é perceptível ao operador e este relata para o setor de manutenção para então ser aberta uma ocorrência para correção, os outros desvios que não são facilmente identificados são encontrados através das inspeções que são realizadas diariamente após o recolhimento dos trens que acontece as 23:15 quando acontece o final a operação e onde se inicia a inspeção e manutenção tanto dos trens quanto da via permanente. P – Existe algum instrumento para medir estes desvios? R – Sim, a inspeção e feita com o auxílio de dois tipos de gabaritos chamados de matriz e analógico, com o auxílio destas ferramentas é possível realizar a inspeção de vários parâmetros da roda. P – Quais parâmetros? R – O gabarito matriz verifica a espessura e ângulo do friso, altura do ponto de bitola, partes planas na superfície de rolamento (calos e covas) e alguns parâmetros localizados no eixo do rodeiro, já o gabarito analógico verifica a altura do friso, espessura do aro e também a espessura do friso. P – Encontrados desvios além das especificações recomendadas, o que realizado para corrigir o problema? R – As rodas que o metrô utiliza são do modelo A-38, o nome vem do diâmetro que é de 38” polegadas, são rodas do tipo “múltiplas vidas” que são forjadas e diferentemente das rodas fundidas que só possuem uma “única vida” as rodas forjadas podem ser usinadas para que recuperem sua geometria dentro dos parâmetros aceitáveis. P – Essa usinagem e feita em um torno? É preciso desmontar o conjunto? R – Sim e realizado em um torno, porém um torno especial de fabricação alemã, ele é automático e possui sensores que medem o perfil da roda atual e 35 compara as medidas padronizadas gravadas em sua memória, assim ele define qual a usinagem deve ser realizada e o operador apenas confirma os comandos, as duas rodas do rodeiro são usinadas o ao mesmo tempo para que haja a sincronia do movimento entre elas e não há necessidade de remover o rodeiro do truque (conjunto de 2 rodeiros + sistema de suspensão + sistema de tração). P – Em média qual a vida útil de uma roda? R – As rodas são projetadas para rodar 1.000.000 de Km. Em média o metrôde BH roda 100.000 Km anuais o que nos daria uma vida útil de 10 anos porém devido aos desgastes e usinagens em média cada roda dura 7 anos. P – Para finalizarmos, qual o problema relacionado a tolerância mais recorrente nas rodas, porque ele ocorre e quais os problemas que ele traz para o funcionamento do trem? R – Vamos por partes: O problema mais recorrente ligado a tolerância das rodas é o “calo” que também e conhecido como “cova”, o calo é a perda da circularidade ou excesso de planicidade na banda de rodagem acima da tolerância que é de Ø2”, basicamente isso ocorre quando a roda do trem desliza sobre o trilho ou quando acontece o travamento da roda durante a frenagem causando a elevação acentuada da temperatura no local do deslizamento, essa elevação de temperatura provoca deformações e tensões na região. O impacto de uma porção plana em uma forma geométrica circular é o aumento do impacto no local o que danifica ainda mais a roda pelas áreas adjacentes que foram sofreram alterações na estrutura cristalina do material e a fadiga precoce na via permanente, o que causa quebra de trilhos, grampos e até dos dormentes de concreto armado, é um grande problema que precisa ser rapidamente corrigido pelos danos que provoca. 36 APÊNDICE B – Principais pontos da entrevista realizada em 11/09/2018 na empresa K&L Equipamentos e Engenharia – localizada na Av. Solferina Ricci Pace, nº 761, CDI, Vale do Jatobá BH-MG com eng.° Lourenzo Bueno. P - Quais serviços são realizados nesta empresa? R - A K& L equipamentos tem 30 anos de existência, todos baseados conhecimentos em normas técnicas e know hall em diversos equipamentos tais como: pontes rolantes, carros especiais sob-rodas ou com trilhos, carregador de navios, pórticos rolantes, elevadores de canecas, galpões para pontes rolantes, guindastes giratórios, talhas elétricas de cabo de aço, moitão para ponte rolante, transportadores de correia, transportadores de talisca, tenaz. Além de serviços de diversas naturezas na área de manutenção, consultoria em soluções e elaboração de projetos. P – Quais são as normas aplicáveis utilizadas para este tipo de equipamento? R – A principal norma que rege os equipamentos de movimentação de cargas é: NBR 8400. P – Quais são as considerações para se chegar no produto final das rodas? R – Toda tolerância de rodas precisa passar por uma evolução, onde, o início de todo o processo é a compreensão de que todo e qualquer equipamento deve ser dimensionado considerando o grupo mecânico o que é facilmente orientado pelas determinantes: Relação de tempo de trabalho x carga x solicitação do equipamento. P – Como se chega ao dimensionamento básico das rodas? R – Depois de determinar os diversos grupos e fatores que influenciam e interferem no cálculo da estrutura do equipamento, aplicar os coeficientes de majoração, coeficientes de segurança e principalmente calcular o peso total do equipamento mais carga, chegam-se nas rodas. P – As montagens das rodas são feitas na K&L? 37 R – sim, nosso processo utiliza o nitrogênio líquido que é utilizado nas pontas dos eixos, e um aquecimento de forma lenta é realizado nos furos das rodas, ao final é feita a montagem de forma suave até o ponto de montagem ideal. P – O controle dimensional desta montagem deve ser bem rigoroso? Qual norma técnica que é utilizada para este controle? R – certamente que sim, é necessário orientar se principalmente pelos desenhos técnicos elaborados, estes sim, são elaborados seguindo rigorosamente as tolerâncias dos caminhos de rolamento conforme as normas técnicas aplicáveis. No Brasil os principais fabricantes de máquinas e equipamentos utilizam-se das normas principalmente: Normas F.E.M, Fédération Européenne De La Manutention section II chapter 6. Deste capítulo especificamente são extraídas as informações sobre tolerâncias dimensionais a serem respeitadas nos projetos de montagem Rodas/trilhos destes equipamentos. Na nossa empresa utilizamos as seguintes normas: NBR 8400: Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios fornece toda a diretriz baseada na F.E.M, juntamente com as normas NBR 8400: Cálculo de equipamento para levantamento e movimentação de cargas e seu anexos. P – Nosso objetivo com esta entrevista é entender a aplicação, controle e importância das tolerâncias dimensionais aplicadas mais precisamente nas rodas das pontes rolante, o que pode nos dizer a respeito? R – Toda tolerância de rodas, bem como o seu controle é de extrema importância para o funcionamento correto do equipamento, desde distâncias mínimas e máximas, ângulos individuais de cada roda, cambagem e outros, até mesmos destes mesmos itens levando-se em consideração aos conjuntos montados seja quando está em fase de fabricação/ montagem bem como do seu acompanhamento nas manutenções programadas. Os descumprimentos destes parâmetros podem ocasionar desvios na geometria das rodas gerando um efeito dominó em todo o equipamento, trazendo outros problemas ao mesmo. P – Como é feito o controle e acompanhamento da geometria das rodas? R – Como fabricantes o nosso controle é feito principalmente na fabricação e montagem destes equipamentos, e durante o período de garantia dos mesmos. No 38 entanto existe um documento do projeto chamado de manual de operação onde são mencionados os pontos chaves de controle dimensional para um bom funcionamento e a maior durabilidade não somente das rodas e trilhos, mas do equipamento como um todo. Além disso, um dos nossos carros chefe é a consultoria para inspeção nas pontes rolantes dos clientes. P – Existe algum instrumento para medir estes desvios? R – Sim, inicialmente a inspeção e feita com o auxílio de inspeção visual, teodolito, relógio comparador e paquímetro, podendo chegar à casos onde utilizamos de ensaios não destrutivos tais como: Líquido penetrante, ultrassom, partícula e / ou magnética, este último evitamos na maioria dos casos por se tratar de um ensaio mais caro. Estas são as nossas ferramentas e procedimentos. P – Quais parâmetros utilizados? R – Verifica-se a espessura e ângulo do friso, altura do ponto de bitola do trilho, partes planas na superfície de rolamento da roda e trilhos tais como: calos e covas, fissuras, lascas e alguns parâmetros localizados no eixo tais como: já o gabarito analógico verifica a altura e espessura do friso. P – Encontrados desvios além das especificações recomendadas, o que é realizado para corrigir o problema? R – Todo trabalho de inspeção é lançado em relatório técnico dimensional e enviado ao cliente com as devidas propostas para correção dos problemas, além de investigação das causas para correção preventiva evitando que o mesmo problema continue ocorrendo. As soluções são das mais diversas podendo desde a recuperação de rodas e eixos até mesmo o sucateamento e substituição por novos. Além de outras correções rotineiras: tai como troca de rolamentos, retentores, etc. Lembrando que nossas rodas são feitas a partir de aço SAE 1045 – pré usinadas, temperadas e revenidas e acabadas para uso final. P – Essa usinagem e feita em um torno? É preciso desmontar o conjunto? R – Sim e realizado em um torno, geralmente desmonta-se a roda dos truques, e faz-se o preenchimento de solda com temperatura de forma controlada pois, o aço SAE 1045 tem a característica de soldabilidade diferente dos aço com 39 baixo teor de carbono posteriormente usina-se novamente seguindo-se os critérios do projeto original. P – Em média qual a vida útil de uma roda? R – As rodas são projetadas para uma vida útil que giraem torno de 10 à 20 anos, porém isso altera bastante com a forma de utilização e o fator de serviço do cliente, bem como de sua manutenção. Na maioria dos casos dos nossos clientes tem-se obtido uma vida útil inferior à 10 anos. P – Para finalizarmos, qual o problema relacionado a tolerância mais recorrente nas rodas, porque ele ocorre e quais os problemas que ele traz para o funcionamento do trem? R – Dos problemas mais recorrentes ligados a tolerância das rodas temos o “calo” pequenos ressaltos ou áreas planas na pista de rodagem devido à ocorrência de deslizamento das rodas sobre os trilhos provocando deformações e tensões na região das rodas, o desgaste da pista lateral das rodas também são bastante comuns, uma vez que sempre ocorre a torção da máquina nos trilhos em função principalmente de falta de sincronia no sistema de tração bem como do transporte de carga fora do centro de gravidade da máquina. 40 ANEXOS Trecho citado da norma AAR M-107 e M-208, páginas 6 e 7.