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QUÍMICA GERAL E INORGÂNICA Josemere Both Reações de oxirredução Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as reações de oxirredução. Definir oxidação e redução em função do número de oxidação. Distinguir agente oxidante e agente redutor. Introdução Assim como as demais ciências, a química envolve não apenas a obser- vação e a descrição de fenômenos naturais por meio da realização de experimentos controlados, em laboratório, mas também a tentativa de generalizar os resultados das observações, tentando entender como e por que ocorrem. Neste capítulo, você iniciará os estudos de uma importante generaliza- ção feita pelos químicos: o comportamento de substâncias que possuem caráter oxidante e redutor. O termo “oxidante” não deve ser desconhecido para você, pois esse fenômeno, de oxidação, está presente em alimentos (quando a superfície da maçã escurece ao ser cortada e deixada em contato com o ar), na formação de ferrugem (a partir da interação de um metal com oxigênio e água) e até no aspecto envelhecido da pele. Após identificar as reações em que as substâncias oxidam, estuda- remos também o processo de redução, pois esses dois fenômenos não acontecem isoladamente. Nesse contexto, você vai conhecer as reações químicas que envolvem a transferência de elétrons entre reagentes. Esses processos, denominados reações de oxirredução, envolvem substâncias com tendência a doar elétrons e substâncias com tendência a receber elétrons. Ao longo dos estudos, você verá que nem sempre é fácil perceber, apenas observando a equação química, que uma reação envolve trans- ferência de elétrons, mas isso será descomplicado quando estudarmos os processos de oxidação e redução pelo conceito de número de oxidação. Ao final, você entenderá que uma substância que oxida em uma reação química é o agente redutor, e uma substância que reduz é o agente oxidante. O que são reações de oxirredução? Entre as primeiras reações estudadas pelos pioneiros da Química estavam aquelas que envolviam o oxigênio. Você já dever ter visto inúmeros exemplos de reações de combustão, em que a queima dos combustíveis e as reações dos metais com oxigênio dão origem a óxidos que, por sua vez, eram descritas pelo nome genérico: oxidação. Já a retirada do oxigênio dos óxidos metálicos para a obtenção de metais puros era descrita pelo termo redução. Entretanto, com o passar dos tempos, os cientistas perceberam que as reações envolvendo oxigênio eram, na realidade, casos especiais de um fenômeno mais geral, em que os elétrons são transferidos de uma substância para outra. As reações que envolvem transferência de elétrons passam a ser chamadas coletivamente de reações de oxirredução, ou apenas reações redox (BRADY; RUSSEL; HOLUM, 2002). O termo oxidação foi aplicado à perda de elétrons por um reagente, enquanto redução foi aplicado ao ganho de elétrons por um segundo reagente envolvido em uma mesma reação química (ATKINS; JONES, 2012). Para ilustrar esses conceitos em uma reação química, poderemos utilizar a reação simples entre o sódio (Na) e o cloro (Cl), que envolve uma perda de elétron pelo sódio (oxidação do sódio) e um ganho de elétrons pelo cloro (redução do sódio). A maneira de se representar essas mudanças em forma de equação inclui os elétrons que serão perdidos e recebidos pelo símbolo de e-, como segue: Na → Na+ + e- (oxidação) Cl2 + 2e- → 2 Cl- (redução) Nessa situação, dizemos que o sódio é oxidado, e o cloro, reduzido. Vamos analisar outra situação que envolve transferência de elétrons. A reação entre o zinco metálico (Zn) e o ácido clorídrico (HCl) é uma maneira simples de obter gás hidrogênio (H2) em laboratório. A formação de H2(g) ocorre quando os íons H+(aq), presentes na solução, tomam contato com o pedaço de zinco, recebem elétrons do metal e se transformam em H2(g). A corrosão do zinco ocorre porque seus átomos, presentes no sólido, ao perderem elétrons para os H+(aq), transformam-se em íons Zn2+(aq), que deixam o sólido e passam Reações de oxirredução2 para os íons H+(aq), transformando-se em íons Zn2+(aq), que deixam o sólido e passam para a solução. A reação química que ocorre pode ser equacionada da seguinte forma: Representando o elétron como e-, podemos indicar, nessa equação química, a transferência de elétrons do zinco para os íons hidrogênios: No exemplo, cada Zn perde 2 e-, e cada H+ recebe 2 e-. As equações podem ser também representadas da seguinte forma: Zn(s) → Zn2+(aq) + 2 e- 2H+ + 2 e- → H2(g) Oxidação e redução ocorrem ao mesmo tempo, não existindo uma sem a outra, pois o total de elétrons perdidos por uma espécie química deve ser igual ao total de elétrons ganhos por outra espécie, ou seja, o número de elé- trons permanece inalterado (eles não aparecem, nem desaparecem) (CHANG; GOLDSBY, 2013). Assim, podemos somar ambas as equações, a oxidação do zinco e a redução do hidrogênio, obtendo a equação global do processo: 3Reações de oxirredução Os conceitos de oxidação e redução são fáceis de aplicar na reação entre zinco metálico com solução aquosa de ácido clorídrico, pois a transferência de elétrons do Zn para o H+ é relativamente fácil de ser percebida. Existem, porém, processos de oxirredução em que a transferência de elétrons não é tão evidente na equação química. É o caso, por exemplo, do processo representado por NH3 + O2 → NO + H2O. Casos como esse evidenciam a necessidade de intro- duzir um outro conceito para tornar mais clara a identificação da ocorrência de reações de oxirredução. Esse conceito é o número de oxidação, introduzido na química para facilitar a análise de processos de transferência de elétrons. O Quadro 1 pode ajudá-lo a organizar seu raciocínio ao procurar por reações de oxirredução e usar suas terminologias. Fonte: Adaptado de Kotz e Treichel Júnior (2005, p. 154). Oxidação Redução Em termos do número de oxidação Aumento do número de oxidação de um átomo Diminuição do número de oxidação de um átomo Em termos de elétrons Perda de elétrons por um átomo Ganho de elétrons por um átomo Em termos de oxigênio Ganho de um ou mais átomos de O Perda de um ou mais átomos de O Quadro 1. Reconhecendo reações de oxirredução Oxidação e redução em função do número de oxidação O número de oxidação (Nox) de um elemento em um composto particular é obtido de acordo com um conjunto de regras, que serão descritas mais adiante. No caso de íons simples, monoatômicos, como NaCl, os números de oxidação são idênticos às cargas relativas dos íons. Desse modo, o número de oxidação do Na+, no cloreto de sódio, é Nox = +1, e o número de oxidação do Cl- é Nox = -1. Isso ocorre porque são compostos iônicos, em que átomos de um elemento metálico se unem a um elemento não metálico, envolvendo cátions e ânions que compõem o retículo cristalino. Nestes, os átomos dos elementos que estão Reações de oxirredução4 presentes, de fato, estão sob a forma de íons. Assim, consideramos que cada um deles apresenta carga elétrica. Essas cargas elétricas dos íons de um elemento em um composto iônico informam o número de oxidação desse elemento no composto (ATKINS; JONES, 2012). Alguns exemplos de compostos iônicos além do NaCl são: MgBr2, CaS e Al2O3. Como já vimos, o Nox do NaCl, o MgBr2, o número de oxidação do Mg é +2, e o do bromo é -1. No CaS, o número de oxidação do cálcio é +2, e o do enxofre é -2. No Al2O3, o número de oxidação do alumínio é +3, e do oxigênio é -2. A grande utilidade do conceito do número de oxidação deve-se ao fato de ele também poder ser aplicado a átomos em compostos moleculares (JES- PERSEN; HYSLOP; BRADY, 2017), e não apenas a compostos iônicos, como vimos nos exemplos até agora. É importante compreender que,nesses casos, o número de oxidação não está ligado ao valor relativo de nenhuma carga de um átomo. Para garantir que não haja confusão entre os números de oxidação e as cargas elétricas reais, vamos colocar o sinal antes do algarismo quando quisermos escrever os números de oxidação, e depois do algarismo quando quisermos representar cargas elétricas. Assim, um íon de sódio tem carga 1+, e o número de oxidação é Nox = +1. Um termo frequentemente utilizado, com o mesmo significado de número de oxidação, é estado de oxidação (CHANG; GOLDSBY, 2013). Voltando ao exemplo do NaCl, em que o sódio tem Nox = +1, dizemos que ele está no estado oxidado +1. De modo semelhante, dizemos que o cloro, no mesmo composto, está no estado de oxidação -1. Algumas vezes, é conveniente especificar o estado de oxidação de um elemento quando escrevemos o seu nome. Isso é feito escrevendo o número de oxidação entre parênteses, em algarismos romanos, após o nome do elemento. O ferro (III), por exemplo, representa ferro no estado de Nox = +3. Com esses novos termos definidos, podemos utilizá-los para determinar uma reação de oxirredução – uma reação de oxirredução é uma reação quí- mica em que ocorrem variações nos números de oxidação. O Nox é definido do seguinte modo (ATKINS; JONES, 2012): A oxidação corresponde ao aumento do número de oxidação. A redução corresponde à diminuição do número de oxidação. 5Reações de oxirredução Veremos que é fácil analisar reações de oxirredução observando as variações nos números de oxidação. Para isso, no entanto, devemos ter um procedimento simples para associar números de oxidação a átomos. Determinação dos números de oxidação (Nox) Como mostrado anteriormente, é possível determinar o número de oxidação de um elemento observando a fórmula em que ele se encontra. Caso não seja tão óbvio, devemos procurar por uma variação no número de oxidação de um elemento no curso da reação. O Nox de um átomo em um íon ou molécula é definido como a carga que um átomo tem, ou aparenta ter, conforme deter- minado por algumas regras de atribuição dos números de oxidação (KOTZ; TREICHEL JÚNIOR, 2005). É importante que você compreenda a lógica envolvida em cada uma dessas regras, o que torna mais fácil sua assimilação. Essas regras são (ATKINS; JONES, 2012): 1ª regra: cada átomo em um elemento (ou substância simples) apresenta número de oxidação igual a zero, pois, como os átomos são todos do mesmo elemento químico, não há diferença de eletronegatividade entre eles e, assim, o número de oxidação do elemento é zero. Como exemplo de substâncias simples forma- das por elementos metálicos (portanto, substâncias metálicas), podemos citar Fe, Zn, Cu, Au, Ag, Pb, entre outros. Como exemplos de substâncias simples formadas por elementos não metálicos (portanto, substâncias moleculares), podemos citar H2, O2, N2, F2, Cl2, Br2, I2, S8, C(graf), C(diam), entre outros. 2ª regra: para íons monoatômicos, o número de oxidação é igual à carga do íon. Elementos dos grupos periódicos 1A-3A formam íons monoatômicos com carga positiva e número de oxidação igual ao número do grupo. O Mg forma o íon Mg2+ e, portanto, seu Nox = +2. 3ª regra: o flúor sempre tem o Nox = -1 em todos os seus compostos. 4ª regra: Cl, Br e I sempre têm Nox = -1 em compostos, exceto quando combi- nados com oxigênio e flúor. Isso significa que o Cl tem Nox = -1 em NaCl (em que Na é +1, conforme previsto pelo fato de que ele é um elemento do grupo 1A). Porém, no íon ClO-, o Cl tem Nox +1 (e o oxigênio tem Nox = -2). Isso se justifica com a próxima regra. Reações de oxirredução6 5ª regra: o Nox do H é +1, e do O é -2 na maioria de seus compostos. Embora essa regra se aplique a um enorme número de compostos, existem exceções importantes. Sobre o hidrogênio e seus compostos — Compostos químicos (substâncias compostas) são formados por dois ou mais elementos químicos. Quando o hidrogênio se liga aos não metais (o que ocorre por ligações covalentes, exem- plo A, em que são mais eletronegativos que ele, atrairá menos intensamente o elétron do que o outro elemento ligado). Assim, seu Nox será +1. Ao ligar-se aos metais, formando os hidretos metálicos (exemplo B), o hidrogênio, por ser mais eletronegativo que eles, terá Nox = -1. Assim, podemos enunciar que: o Nox do hidrogênio em seus compostos é +1, exceto nos hidretos metálicos, em que Nox = -1. No caso de CaH2, o Nox do Ca é +2 (igual ao número do grupo), e o do H é Nox = -1. A B Sobre o oxigênio e seus compostos — O oxigênio está no grupo 16 (ou 6A) da tabela periódica. Apresenta 6 elétrons na camada de valência e completa o octeto ao receber ou compartilhar 2 elétrons. No caso de ligação iônica, o oxigênio recebe dois elétrons para completar o octeto e transforma-se em íon O2- (íon óxido), adquirindo o número de oxidação -2 (Nox = -2). É, por exemplo, o caso dos óxidos iônicos Na2O e CaO (exemplos C e D). C D No caso de ligação covalente, o oxigênio recebe dois elétrons para completar o octeto. Acontece que, como o oxigênio só não é mais eletronegativo que o flúor, ao se combinar com os demais elementos, atrai os elétrons compartilhados mais intensamente do que o outro átomo ligado, ficando com Nox = -2. É o que acontece, por exemplo, em H2O e CO2 (exemplos E e F). 7Reações de oxirredução E F Assim, o oxigênio em substâncias compostas adquire, em geral, número de oxidação -2. Porém, ao se ligar ao flúor, a situação se inverte, pois o flúor é mais eletronegativo que o oxigênio. No OF2, portanto, o número de oxidação do oxigênio será Nox = +2. Outra situação que destoa do valor -2 para o oxigênio é nos peróxidos. O H2O2, peróxido de hidrogênio, comercializado em solução aquosa com o nome de água oxigenada, é um peróxido molecular cuja estrutura está ilustrada no exemplo G. Por causa dessa estrutura, o número de oxidação do oxigênio é -1. O oxigênio é mais eletronegativo que o hidrogênio, mas se iguala com o outro oxigênio. Na estrutura dos peróxidos dos metais alcalinos e alcalinos- -terrosos (exemplo H e I), existe o íon O22- (íon peróxido). Já que, nesse íon, dois átomos de oxigênio têm carga 2-, concluímos que cada um tem Nox = -1. G H I Assim, podemos generalizar que o Nox do oxigênio em seus composto é -2. Exceções são o fluoreto de oxigênio, OF2, em que é Nox= -2, e os peróxidos, em que é -1. 6ª regra: a soma algébrica dos números de oxidação em um composto neutro deve ser zero. Uma molécula é uma espécie quimicamente neutra. Como elétrons não aparecem nem desaparecem, para cada carga positiva atribuída dentro de uma molécula, deve-se atribuir também uma carga negativa. Em outras palavras, quando somamos os números de Nox de todos os átomos que são parte de uma molécula, necessariamente, obteremos zero como resposta. Veja os exemplos J e L. Reações de oxirredução8 J L Um composto iônico, considerado como um todo, é um conjunto de cátions e ânions que, considerados individualmente, apresentam carga elétrica: os cátions são positivos, e os ânions, negativos. Contudo, o total de cargas po- sitivas deve contrabalançar o total de negativas, resultando em um composto eletricamente neutro, ou seja, no qual a caga total é nula. 7ª regra: Em um íon poliatômico, a soma deve ser igual à carga do íon. Essa regra, como a anterior, envolve a ideia de contabilizar os elétrons. Se a sua espécie é eletricamente neutra, a soma dos números de oxidação dos átomos que a compõem é igual a zero, que é a carga total da espécie. Por outro lado, se estamos diante de uma espécie química eletricamente carregada, como NO3-, SO42-, PO43-, O22- e NH4+, a soma de todos os números de oxidação deve resultar na carga elétrica dessa espécie química. Veja os exemplos M e N. M N Vamos agora, usando o que aprendemos até aqui, analisar alguns exemplosque ilustram a aplicação dessas regras, especialmente, no caso em que elas não cobrem a situação de todos os átomos em uma fórmula para determinar números de oxidação. 9Reações de oxirredução Exemplo 1 O dissulfeto de molibdênio, MoS2, devido à sua estrutura, pode ser usado como lu- brificante seco, de modo semelhante à grafite. Quais são os números de oxidação dos átomos de MoS2? Resposta: Temos, nesse exemplo, um composto binário formado por um metal e um não metal. Logo, vamos supor que o MoS2 contém íons, com a finalidade de obtermos os números de Nox. O molibdênio é um metal de transição e, assim, não existe regra simples para descobrir quais são seus íons. O enxofre, no entanto, é um não metal do grupo VI A, e seu íon é S2-. Uma vez conhecido o Nox do enxofre, podemos utilizar a regra 6 (a regra da soma) para determinar o número de oxidação do molibdênio. Dissulfeto de molibdênio (MoS2) Para a soma ser nula, o valor de x deve ser +4. Portanto, os números de Nox devem ser Mo Nox = +4 e S Nox = -2. Exemplo 2 O íon clorito, ClO2 -, é um poderoso desinfetante, e soluções desse íon são usadas algumas vezes para desinfetar sistemas de ar-condicionado em automóveis. Qual é o Nox do cloro e do oxigênio nesse íon? Resposta: Examinando as regras, podemos perceber que existe uma que se aplica ao oxigênio (regra 5). Assim, vamos utilizá-la juntamente com a regra de soma (regra 6) para obter o número de oxidação do cloro. Íon clorito (ClO2 -) Para a soma ser -1, o valor de x deve ser +3, que deve ser o número de oxidação do cloro. Assim, Nox de Cl = +3 e O = -2. Reações de oxirredução10 Exemplo 3 O cálcio reage com o hidrogênio para formar o composto CaH2. Quais são os Nox dos átomos nessas substâncias? Resposta: O cálcio é um metal do grupo II A. Portanto, esperamos que apareça como Ca2+ em seus compostos. Então, de acordo com a regra 2, o número de oxidação do Ca deve ser +2. A regra 6 diz que a soma dos números é igual à carga da molécula, que é nula nesse caso. Temos também uma regra para o hidrogênio (regra 5). Nesse caso, o hidrogênio ligado a um metal forma um hidreto metálico. O hidrogênio, por ser mais eletronegativo que o Ca, terá o número de oxidação -1. Obtemos então: Hidreto de cálcio (CaH2) Exemplo 4 A bolsa inflável como dispositivo de segurança em automóveis modernos é inflada pela decomposição muito rápida de um composto iônico, o nitreto de sódio, NaN3. A reação produz sódio elementar e nitrogênio gasoso. Qual é o Nox médio do nitrogênio no nitreto de sódio? Resposta: O sódio, em compostos iônicos, aparece como íon Na+. Logo, o íon nitreto (N3 -) deve ter carga 1- (pois NaN3 é neutro). Nitreto de sódio (NaN3) A soma dos números de oxidação dos três átomos de nitrogênio nesse íon deve ser -1, portanto cada nitrogênio deverá ter o Nox = -1/3. Exemplo 5 Nesse exemplo, vamos utilizar o número de oxidação na análise de reação de oxirre- dução. Identifique a substância oxidada, a substância reduzida, bem como os agentes oxidante e redutor na reação: 2 KCl + MnO2 + 2 H2SO4 → K2SO4 + MnSO4 + Cl2 + 2 H20 11Reações de oxirredução Resposta: Para identificar variações de oxidação e redução utilizando os números de oxidação, primeiramente, devemos associar esses números a cada átomo em ambos os lados da equação. Empregando as regras, temos: Agora, vamos procurar pela variação, sempre lembrando que um decréscimo do número de oxidação indica redução, e um aumento, oxidação. Logo, o Cl no KCl é oxidado, e o Mn no MnO2 é reduzido. O agente redutor é o KCl, e o agente oxidante é o MnO2. Balanceamento de equações químicas de reações de oxirredução Em uma reação de oxirredução, há transferência de elétrons. Já que elétrons se conser- vam, o número total de elétrons cedidos pelo agente redutor (que contém o elemento que oxida) deve ser igual ao número total de elétrons recebidos pelo agente oxidante (que contém o elemento que reduz). Utilizando esse simples princípio, o balanceamento de equações complexas de oxirredução pode ser bastante facilitado. Vamos começar analisando um exemplo já conhecido e que está corretamente balanceado. Cada átomo de zinco perde dois elétrons, e cada íon H+ recebe um elétron. O número de elétrons perdidos ou recebidos é dado pelo módulo da variação do número de oxidação dos elementos, representado por ∆. Reações de oxirredução12 De acordo com o balanceamento, dois íons H+ reagem com um átomo de zinco. Ambos H+ recebem dois elétrons, o mesmo número de elétrons perdidos pelo átomo de zinco. Esquematicamente: Perceba que, empregando o ∆ do elemento zinco como coeficiente do H+ e o ∆ do elemento hidrogênio como coeficiente do Zn, realizamos o correto balanceamento da equação que, nesse caso, não apenas expressa a conservação dos átomos, mas também a conservação dos elétrons. Vamos a outro exemplo! A reação química entre sulfeto de hidrogênio e ácido nítrico, representada pela equação química: H2S + HNO3 → H2SO4 + NO + H2O Primeiramente, determinamos o número de oxidação de todos os elementos pre- sentes, tanto nos reagentes como nos produtos (pare a leitura por um momento e faça isso como exercício). A seguir, registramos os números de oxidação que variam e o módulo dessas variações (∆). Assim, temos esquematicamente: Portanto, colocando o coeficiente 3 na frente do H2S e o coeficiente 8 na frente do HNO3, asseguramos que o balanceamento expresse que o número de elétrons perdidos é igual ao número de elétrons recebidos. 3 H2S + 8 HNO3 → H2SO4 + NO + H2O 13Reações de oxirredução Agente oxidante e agente redutor Sabendo das regras que determinam os números de oxidação, é possível de- finir quais reações podem ser classificadas como oxirredução e quais devem ser de outro tipo. Em muitos casos, entretanto, uma reação de oxirredução parecerá óbvia, pois envolve um elemento não combinado ou algum tipo bem conhecido de oxidante ou redutor. O Quadro 2 apresenta agentes oxidantes e redutores comuns. Fonte: Adaptado de Kotz e Treichel Júnior (2005, p. 152). Agente oxidante Produto de reação Agente redutor Produto da reação O2, oxigênio O 2-, íon óxido ou O combinado em H2O H2, hidrogênio H + (aq), íon hidrogênio ou H combinado em H2O ou com outras moléculas Halogênios, F2, Cl2, Br2 ou I2 Íon haleto, F-, Cl-, Br- ou I- M, metais como Na, K, Fe e Al Íons metálicos como Na+, K+, Fe2+ ou Fe3+ e Al3+ HNO3, ácido nítrico Óxido de nitrogênio*, como NO e NO2 C, carbono (usado para produzir óxidos metálicos) CO e CO2 Cr2O7 2-, íon dicromato Cr3+, íon cromo (III) (em solução ácida) MnO4 -, íon permanganato Mn2+, íon manganês (II) (em solução ácida) * NO é produzido com HNO3, ao passo que NO2 é um produto de ácido concentrado. Quadro 2. Agentes oxidantes e redutores comuns O restante do balanceamento pode ser feito sem grandes dificuldades, por meio de tentativa e erro, ou de outra forma. A equação corretamente balanceada é: 3 H2S + 8 HNO3 → 3 H2SO4 + 8 NO + 4 H2O Reações de oxirredução14 As civilizações antigas aprenderam a transformar óxidos e sulfetos me- tálicos em metais, ou seja, a reduzir o minério ao metal puro. Um exemplo moderno é a redução do óxido de ferro (III) com o monóxido de carbono para formar o ferro metálico. Nessa reação, o monóxido de carbono é o reagente que causa a redução do minério de ferro a ferro metálico, de modo que o monóxido de carbono é chamado de agente redutor. Quando Fe2O3 é reduzido pelo monóxido de carbono, o oxigênio é removido do minério de ferro e adicionado ao monóxido de carbono, que é oxidado pela adição do oxigênio para formar o dióxido de carbono. Todo o processo em que o oxigênio é adicionado a outra substância é uma oxidação. Na reaçãodo oxigênio com magnésio, por exemplo, o oxigênio é o agente oxidante porque é o agente responsável pela oxidação (CHANG; GOLDSBY, 2013). As teorias trabalhadas até o momento apontam para conclusões importantes: Se uma substância for oxidada, outra substância, na mesma reação, deve ser reduzida. O agente redutor é oxidado, e o agente oxidante é reduzido. A oxidação é o oposto da redução. Por exemplo, a remoção do oxigênio é redução, e a adição do oxigênio é oxidação. 15Reações de oxirredução Agora, podemos destacar o agente oxidante e o agente redutor em uma reação de oxirredução. Vamos analisar outro exemplo para compreender esses conceitos, a reação entre a prata e o cobre metálico. Quando uma substância aceita elétrons, dizemos que ela é reduzida, porque há uma redução na carga em um átomo da substância. Na equação iônica líquida mostrada aqui, o Ag+ carregado po- sitivamente é reduzido a Ag(s) sem carga ao aceitar elétrons do cobre metálico. Uma vez que o cobre fornece os elétrons para a prata e faz com que os íons Ag+ sejam reduzidos, o Cu é o agente redutor. Quando a substância perde elétrons, a carga positiva em um átomo da substância aumenta. Dizemos que a substância foi oxidada. Em nosso exemplo, o cobre libera elétrons ao passar para Cu²+, de forma que o cobre é oxidado. Para que isso aconteça, algo deve estar disponível para receber os elétrons oferecidos pelo cobre. Nesse caso, o Ag+ é o receptor de elétrons, e sua carga é reduzida a zero na prata metálica. Assim, o Ag+ é o agente que causa a oxidação do cobre metálico, de modo que o Ag+ é o agente oxidante. Em cada reação de oxirredução, um reagente é reduzido (e, consequentemente, é o agente oxidante), e outro é oxidado (e, consequentemente, é o agente redutor). Podemos resumir os conceitos de agente redutor e agente oxidante da seguinte forma (KOTZ; TREICHEL JÚNIOR, 2005): A reação de oxirredução X + Y → Xn+ + Yn- pode ser dividida em duas partes: a) X → Xn+ + n e- : X é oxidado, perdendo n elétrons para Y, formando Xn+. X é o agente redutor do processo. Reações de oxirredução16 b) Y + n e- → Yn- : Y é reduzido, ganhando n elétrons fornecidos por X para formar Yn-. Y é o agente oxidante no processo. Vamos aplicar esse resumo de conceitos para identificar o agente redutor e o agente oxidante em outros exemplos. Exemplo 1 A reação entre o cloro com sódio metálico. Na libera 1 e– por átomo. O número de oxidação aumenta. Na é oxidado e Na+ e é o agente redutor. Cl2 ganha 2 e – por molécula. O número de oxidação diminui 1 por Cl. Cl2 é reduzido a Cl – e é o agente oxidante. 2 Na(g) + Cl2(g) -> 2NaCl(s) O cloro acaba como Cl-, tendo adquirido 2 elétrons (de dois átomos de Na) por molécula de Cl2. Dessa forma, o número de oxidação de cada átomo de cloro diminui de 0 para -1. Isso significa que o Cl2 foi reduzido e é, portanto, o agente oxidante. Exemplo 2 O ácido nítrico, HNO3, é um excelente agente oxidante. Em reação com o cobre metálico, o ácido oxida o cobre metálico, formando nitrato de cobre (II), e o íon nitrato do HNO3 é reduzido ao gás castanho NO2. A equação iônica global para a reação é: 17Reações de oxirredução O nitrogênio foi reduzido de +5 (no íon NO3 -) para +4 (em NO2); consequentemente, o íon nitrato na solução ácida é um agente oxidante. O cobre metálico, como todos os metais, é o agente redutor; aqui, cada átomo do metal fornece dois elétrons para produzir o íon Cu2+. Nas reações do sódio com o cloro e do cobre com ácido nítrico, os metais são oxidados. Isso é típico de muitos metais que, em geral, são bons agentes redutores. Certamente, os metais alcalinos e alcalinos terrosos são agentes redutores especial- mente bons. Exemplo 3 Outro exemplo de metal como agente redutor é a reação do potássio com a água. Aqui, o potássio reduz o hidrogênio da água ao gás H2. Exemplo 4 O alumínio metálico é outro bom agente redutor, capaz de reduzir o óxido de ferro (III) a ferro metálico em uma reação chamada térmita. Nessa reação, a quantidade de calor liberada é tão grande que o ferro é produzido no estado fundido. ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. BRADY, J. E.; RUSSEL, J. W.; HOLUM, J. R. Química: a matéria e suas transformações. 3. ed. v. 1. Rio de Janeiro: LTC, 2002. CHANG, R.; GOLDSBY, K. Química. 11. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. JESPERSEN, N. D; HYSLOP, A.; BRADY, J. E. Química: a natureza molecular da matéria. 7. ed. v. 1. Rio de Janeiro: LTC, 2017. KOTZ, J. C.; TREICHEL JÚNIOR, P. M. Química geral e reações químicas. v. 2. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. Reações de oxirredução18 Leitura recomendada BROWN, T. L.; LEMAY JÚNIOR, H. E.; BURSTEN, B. E. Química: a ciência central. 9. ed. Rio de Janeiro: Pearson Education, 2005. 19Reações de oxirredução Conteúdo:
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