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31 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Unidade II 3 NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA De acordo com a Anvisa, existem quatro níveis de biossegurança: NB‑1, NB‑2, NB‑3 e NB‑4. Eles são apontados em ordem crescente, no maior grau de contenção e complexidade do nível de proteção, que consistem de combinações de práticas e técnicas de laboratório e barreiras primárias e secundárias de um laboratório. O responsável técnico pelo laboratório conduz a avaliação dos riscos e direciona a aplicação adequada dos níveis de biossegurança em função dos tipos de agentes e das atividades a serem realizadas. NB‑1 – Nível de Biossegurança 1 Corresponde a um nível básico de contenção que, baseado nas práticas padrões de microbiologia, em que não há indicação de barreiras primárias ou secundárias, com exceção de uma pia para a higienização das mãos, representam locais para treinamento educacional, treinamentos técnicos e laboratoriais. Tanto o equipamento de segurança, o projeto das instalações como as práticas são apropriados para o treinamento educacional secundário ou para o treinamento de técnicos e de professores de técnicas laboratoriais. Na porta do laboratório deve existir o símbolo de risco biológico, e deve haver um treinamento para o uso e identificação de EPI, assim como pias para a limpeza das mãos e equipamentos para a esterilização de materiais. NB‑2 – Nível de Biossegurança 2 As práticas, os equipamentos, o projeto e a construção são aplicáveis aos laboratórios clínicos, de diagnóstico, laboratórios‑escolas e outros laboratórios onde o trabalho é realizado com um maior espectro de agentes nativos de risco moderado presentes na comunidade e que estejam associados a uma patologia humana de gravidade variável. Com boas técnicas de microbiologia, os agentes de classe de risco 2 podem ser usados de maneira segura em atividades conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis é baixo. O vírus da hepatite B, o HIV, a Salmonelia spp. e Toxoplasma spp. são exemplos de micro‑organismos designados para esse nível de contenção. O laboratório de NB‑2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB‑1, com mais exigências específicas. 32 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II O NB‑2 é adequado para qualquer trabalho que envolva sangue humano, líquidos corporais, tecidos ou linhas de células humanas primárias em que a presença de um agente infeccioso possa ser desconhecida. Embora os organismos rotineiramente manipulados em um NB‑2 não sejam transmitidos por meio de aerossóis, os procedimentos envolvendo um alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com um equipamento de contenção primária, com dispositivos como a Cabine de Segurança Biológica (CSB) ou os copos de segurança da centrífuga. As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento. É preciso utilizar outras barreiras primárias, como os escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas. As barreiras secundárias, como pias para higienização das mãos e instalações para descontaminação de lixo, têm o objetivo de reduzir a contaminação potencial do meio ambiente. NB‑3 – Nível de Biossegurança 3 As práticas, o equipamento de segurança, o planejamento e construção das dependências são aplicáveis a laboratórios clínicos, de diagnóstico, laboratórios‑escola, de pesquisa ou de produções. Nesses locais realiza‑se o trabalho com agentes nativos ou exóticos que possuam um potencial de transmissão via respiratória e que possam causar infecções sérias e potencialmente fatais. São os laboratórios preparados para trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 3. O NB‑3 é aplicável a laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produções. Possui requisitos intensificados em relação aos níveis 1 e 2. Alguns agentes que podem ser trabalhados nesses laboratórios: Mycobacterium tuberculosis, o vírus da encefalite de St. Louis e a Coxiella burnetii. Os riscos primários causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação, a ingestão e a exposição aos aerossóis infecciosos. No NB‑3, enfatizam‑se mais as barreiras primárias e secundárias para a proteção dos funcionários de áreas contíguas, da comunidade e do meio ambiente contra a exposição aos aerossóis potencialmente infecciosos. Por exemplo, todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma cabine de segurança biológica (CSB) ou em outro equipamento de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras secundárias para esse nível incluem o acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que minimizem a liberação de aerossóis infecciosos do laboratório. Só devem ser admitidos em um laboratório NB‑3 funcionários com experiência em NB‑2. A manutenção do local deve ser feita por empresas especializadas e com o acompanhamento dos funcionários do NB‑3. NB‑4 – Nível de Biossegurança 4 As práticas, o equipamento de segurança, o planejamento e construção das dependências dos laboratórios são aplicáveis a trabalhos que envolvam agentes exóticos perigosos que representam 33 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança um alto risco por provocarem doenças fatais em indivíduos. Esses agentes podem ser transmitidos via aerossóis, e até o momento não há qualquer vacina ou terapia disponível contra eles. Os laboratórios com NB‑4 são projetados para manipular agentes biológicos com classe de risco 4. Esses agentes, que possuem uma relação antigênica próxima ou idêntica aos dos agentes do NB‑4, também deverão ser manuseados nesse nível. Quando possuímos dados suficientes, o trabalho com esses agentes deve continuar nesse nível ou em um nível inferior. Os vírus como Marburg ou vírus da febre hemorrágica Criméia (Congo) são manipulados no NB‑4. Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes desse nível incluem a exposição respiratória aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa e/ou da pele lesionada às gotículas infecciosas e a autoinoculação. Todas as manipulações de materiais de diagnóstico potencialmente infeccioso, substâncias isoladas e animais natural ou experimentalmente infectados apresentam um alto risco de exposição e infecção aos funcionários de laboratório, à comunidade e ao meio ambiente. O completo isolamento dos trabalhadores de laboratórios em relação aos materiais infecciosos aerossolizados é realizado primariamente em cabines de segurança biológica classe III ou com um macacão individual suprido com pressão de ar positiva. A instalação do NB‑4 é geralmente construída em um prédio separado ou em uma zona completamente isolada, com uma complexa e especializada ventilação e sistemas de gerenciamento de lixo que evitem uma liberação de agentes viáveis no meio ambiente. O sistema de ar‑condicionado deve oferecer pressão negativa do ar dentro do prédio, para garantir que, em caso de vazamento, o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas deve ser feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente. A figura a seguir apresenta o resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentes infecciosos, segundo orientação contida na publicação do CDC do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Biossegurança em Laboratórios Biomédicos e de Microbiologia, traduzida pelo Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde. 34 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Quadro 4 – Resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentesinfecciosos NB Agentes Práticas Equipamento de segurança Instalações (barreiras secundárias) 1 Que não são conhecidos por causarem doenças em adultos sadios. Práticas padrão de microbiologia. Não são necessários. Bancadas abertas com pias próximas. 2 Associados com doenças humanas, risco = lesão percutânea, ingestão, exposição da membrana mucosa. Prática de NB‑1 mais: acesso limitado; avisos de risco biológico; precauções com objetos perfurocortantes; manual de biossegurança que defina qualquer descontaminação de dejetos ou normas de vigilância médica. Barreiras primárias = cabines de classe I ou II ou outros dispositivos de contenção física usados para todas as manipulações de agentes que provoquem aerossóis ou vazamento de materiais infecciosos; procedimentos especiais como o uso de aventais, luvas e proteção para o rosto, quando necessário. NB‑1 mais: autoclave disponível. 3 Agentes exóticos com potencial para transmissão via aerossol; a doença pode trazer consequências sérias ou até fatais. Práticas de NB‑2 mais: acesso controlado; descontaminação de todo o lixo; descontaminação da roupa usada no laboratório antes de ser lavada; amostra sorológica. Barreiras primárias = cabines de classe I ou II ou outros dispositivos de contenção usados para todas as manipulações abertas de agentes; uso de aventais, luvas e proteção respiratória, quando necessário. NB‑2 mais: separação física dos corredores de acesso; portas de acesso duplas com fechamento automático; ar de exaustão não recirculante; fluxo de ar negativo dentro do laboratório. 4 Agentes exóticos ou perigosos que impõem um alto risco de doenças que ameaçam a vida, infecções laboratoriais transmitidas via aerossol ou relacionadas a agentes com risco desconhecido de transmissão. NB‑3 mais: mudança de roupa antes de entrar; banho de ducha na saída; todo o material descontaminado na saída das instalações. Barreiras primárias = todos os procedimentos conduzidos em cabines de classe III ou classe I ou II juntamente com macacão de pressão positiva com suprimento de ar. NB‑3 mais: edifício separado ou área isolada; sistemas de abastecimento e escape a vácuo e de descontaminação; outros requisitos sublinhados no texto. 3.1 Doenças ocupacionais de origem biológica mais comuns: conduta e normas de Biossegurança As doenças ocupacionais representam um risco biológico e um desafio nas profissões em que existe tal risco. É preciso identificá‑lo e inserir barreiras e métodos de imunização para limitá‑lo. Para que ocorra a doença ou a infecção, é necessário que haja um grau de contaminação do patógeno e uma maior virulência dele, ou seja, quanto maior a patogenicidade da doença, mais ela pode acometer o indivíduo. Esse indivíduo pode apresentar resistência à doença, por isso a importância dos métodos de imunização, quando existentes. O conceito de infecção cruzada é a transmissão de agentes infectantes entre pacientes e equipe de saúde dentro do ambiente clínico. Essa infeção depende de três fatores: • fonte da infeção: pode ser um indivíduo ou um ambiente contaminado; • veículo ou vetor: sangue, saliva e instrumentais; 35 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança • vias de transmissão: contato com secreções, inalação (partículas no ar) e inoculação (exposição devido a um corte com material infectado). As vias de transmissão ainda são classificadas em: direta – projeção de gotículas em mucosas, inoculação acidental e abrasão da pele; indireta – é necessário haver um veículo ou vetor para ocorrer a infecção. Exemplo: Os instrumentais ou artigos utilizados podem conter fômites, que são sujidades que abrigam micro‑organismos. Se não forem limpos e esterilizados, podem transmitir infecção para o indivíduo. Outro exemplo são os insetos, considerados como vetores, pois transmitem micro‑organismos que se transformam em doenças para o homem. Outro conceito importante em relação à infecção cruzada é a classificação do indivíduo que pode propagar a infecção: • portador: indivíduo com micro‑organismo específico, mas que não apresenta o quadro clínico da doença. Exemplo: um indivíduo com o vírus HVB (hepatite B) pode não apresentar manifestações da doença, porém quando realizado um exame sorológico, constata‑se que ele apresenta o vírus no organismo. • disseminador: indivíduo que possui a doença e seu quadro clínico e que pode eliminar o micro‑organismo no meio ambiente e transmiti‑lo a outras pessoas. Exemplo: indivíduos com o vírus da H1N1 podem eliminá‑lo por meio de gotículas no ar e transmiti‑los a outras pessoas. Saiba mais Para saber sobre as doenças ocupacionais, procure: BRASIL. Ministério da Saúde do Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho. Manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: 2001. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_ trabalho1.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015. 3.2 Cipa A NR‑5, promulgada pela Portaria GM nº 3.214, de 8 de junho de 1978, trata das Cipa. Essa NR trata da obrigatoriedade da instalação da Cipa, e da sua manutenção em regular funcionamento nas empresas. Dispõe sobre a prevenção de acidentes, doenças decorrentes do trabalho, preservação da vida e promoção da saúde do trabalhador. 36 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Observação As normas regulamentadoras (NRs) são anexos da CLT, principal documento da legislação trabalhista brasileira. A Cipa tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. As empresas devem constituir a Cipa de acordo com a atividade econômica e o número de funcionários. A formação de uma Cipa é obrigatória para todas as organizações. Tal comissão é responsável por tratar de questões sobre a segurança do trabalho e de todos os trabalhadores, independentemente do vínculo empregatício. Por exemplo, em empresas públicas que tenham funcionários estatutários (concursados), celetistas, terceirizados e autônomos em seu quadro de funcionários, todos eles são cobertos pela ação da Cipa. A NR‑5 faz diferenciação entre trabalhadores e empregados. Empregados são aqueles que têm algum tipo de vínculo de emprego, e trabalhadores são todos os indivíduos que executam atividades dentro da empresa, o que inclui os terceirizados e prestadores de serviço. A Cipa tem mandato de um ano. Possui um número igual de representantes do empregador (indicados pela empresa) e de representantes dos empregados (eleitos). É papel do empregador proporcionar aos membros da Cipa os meios necessários ao desempenho de suas atribuições, garantindo tempo suficiente para a realização das tarefas constantes do plano de trabalho. São funções dos empregados: • colaborar com a gestão da Cipa; • indicar situações de risco e apresentar sugestões para a melhoria das condições de trabalho; • observar e aplicar no ambiente de trabalho as recomendações quanto à prevenção de acidentes e doenças dele decorrentes. O presidente da Cipa deve ser escolhido pela empresa dentre os membros por ela indicados, e o vice‑presidente deve ser eleito dentre os representantes eleitos titulares. Cabe ao presidente e ao vice‑presidente da Cipa mediar conflitos, elaborar o calendário de reuniões ordinárias e constituir comissão eleitoral para regular o processo de eleição da Cipa subsequente. Quem elabora as atas das reuniões ordinárias é o secretário. 37 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Quando o estabelecimento não se enquadra na obrigatoriedade de constituição de Cipa, é exigida a designação de uma pessoa com o treinamento específico para desempenhar suas atribuições. A organização que possuir emum mesmo município dois ou mais estabelecimentos deverá garantir a integração da Cipa e dos designados, conforme o caso, com o objetivo de harmonizar as políticas de segurança e saúde no trabalho. As empresas instaladas em centro comercial ou industrial estabelecerão, por meio de membros de Cipa ou designados, mecanismos de integração com o objetivo de promover o desenvolvimento de ações de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo, podendo contar com a participação da administração do local. Saiba mais Você pode conhecer melhor a NR–5 acessando: BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). NR‑5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Portaria SIT nº 247, de 12 de julho de 2011. Brasília: 2011d. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D31190 9DC0131678641482340/nr_05.pdf>. Acesso em: 9 maio 2015. Figura 6 – Símbolo da Cipa Lembrete De acordo com NR‑5, os trabalhadores da empresa é que devem compor a Cipa, e é a própria instituição deve elaborar os mapas de risco. 3.2.1 Acidente de trabalho O acidente de trabalho é definido como uma ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ 38 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II ou lesões nos trabalhadores, e/ou danos materiais. Deve ser evitado e controlado por meio das várias técnicas prevencionistas. Do ponto de vista legal, considera‑se acidente de trabalho aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Causas de acidentes: Como todos os eventos, os acidentes possuem uma ou mais causas, e uma ou mais consequências. Sua prevenção consiste em eliminar as causas (diminuir os riscos), evitando, então, sua ocorrência. A prevenção de acidentes: • ao trabalhador: — assegura qualidade de vida; — evita perda de rendimentos; — mantém sua autoestima; — melhora a execução do trabalho. • ao empregador: — garante os ganhos de produtividade; — assegura a preservação da imagem da empresa perante a comunidade; — proporciona a redução dos custos diretos e indiretos; — possibilita a diminuição de processos trabalhistas; — propicia menor rotatividade da mão de obra. • para a sociedade e o Governo: — possibilita menores encargos previdenciários; — proporciona uma imagem positiva da nação perante conselhos internacionais; — assegura valorização do ser humano por meio de políticas públicas. 39 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Teoria de Heinrich Tanto o acidente como a lesão são causados por alguma coisa anterior, alguma coisa onde se encontra o homem, e todo acidente é causado, ele nunca acontece. O acidente ocorre porque o homem não está devidamente preparado e comete atos inseguros. Outra causa são as condições inseguras que comprometem a segurança do trabalhador Atos inseguros Os atos inseguros residem no fator humano. São decorrentes da não obediência às normas de segurança e podem ser conscientes e inconscientes, de acordo com a seguinte classificação: • consciente – há conhecimento do perigo de seu procedimento, mas assume-se o risco; • inconsciente – a pessoa desconhece o perigo que está correndo, por isso pratica o ato inseguro. Condições inseguras As condições inseguras são as causas dos acidentes do trabalho que decorrem diretamente das condições do local ou ambiente de trabalho. Elas ocorrem por falhas técnicas ou por alguns agentes ambientais que podem ocasionar acidentes. Estão relacionadas com os riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. 4 PRECAUÇÕES UNIVERSAIS: LIMPEZA, DESINFECÇÃO, ESTERILIZAÇÃO, LAVAGEM, HIGIENIZAÇÃO Antes de iniciar o processo de limpeza e desinfecção do ambiente, e necessário que todos os objetos e materiais estejam guardados, liberando as superfícies para facilitar a limpeza, além de contribuir com as condições de trabalho da equipe. 4.1 Limpeza A limpeza é o processo que remove fisicamente a contaminação por micro‑organismos e material orgânico e é essencial para o sucesso da desinfecção e da esterilização. Tem como objetivos reduzir a carga bacteriana natural dos artigos, remover contaminantes orgânicos, inorgânicos e sujidades. A limpeza é o primeiro passo para o processo de descontaminação. Consiste da remoção de toda matéria orgânica dos artigos utilizando água e detergente. Podem ser utilizados produtos enzimáticos, detergentes desencrostantes com tensoativos não iônicos. 40 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II 4.1.1 Tipos de limpeza Limpeza concorrente A limpeza concorrente é aquela considerada geral, sendo realizada diariamente. Envolve pisos, sanitários, superfícies horizontais, troca de lixo e roupas e arrumação de maneira geral. Artigo 22 – Os estabelecimentos de assistência odontológica devem apresentar, além das demais obrigatoriedades determinadas pela legislação municipal de edificações vigente, as seguintes condições referentes à área na qual serão realizados procedimentos odontológicos: I) Iluminação que possibilite boa visibilidade, sem ofuscamentos ou sombras; II) Ventilação que possibilite circulação e renovação de ar; III) Revestimentos de pisos com material lavável e impermeável, que possibilite os processos de descontaminação e/ou limpeza, sem a presença de trincas ou descontinuidades; IV) Paredes de alvenaria ou divisórias de cor clara, revestidas de material lavável e impermeável, que possibilite os processos de descontaminação e/ ou limpeza sem a presença de mofo ou descontinuidades; V) Forros de cor clara, sem presença de infiltrações, rachaduras ou mofo; VI) Instalações hidráulicas e elétricas embutidas ou protegidas por calhas ou canaletas externas para que não haja depósitos de sujidades em sua extensão (BRASIL, 1999). Limpeza operatória ou imediata Essa limpeza deve ser realizada sempre que ocorrer uma sujidade imediata com matéria orgânica. Exemplo: sangue visível. Deve ser realizada pela técnica spray‑wipe, que significa borrifar uma substância desinfectante, esfregar o local com papel toalha descartável e borrifar novamente a mesma substância, deixando secar naturalmente. Para a desinfecção, podem ser utilizados os agentes: Álcool 70% (ou 770 GL), compostos sintéticos do iodo, solução alcoólica de clorexidina (2 a 5% em álcool a 70%), compostos fenólicos ou hipoclorito de sódio (1%), de acordo com o material da superfície. 41 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Limpeza de manutenção A limpeza de manutenção exige vistoria contínua de pisos, banheiros, superfícies horizontais e lixos para garantir que tudo esteja em ordem. Limpeza de superfícies fixas Essa limpeza pode ser utilizada para o chão, paredes, bancadas e até mesmo equipamentos que permitam o contato com a água. Para equipamentos, paredes e até mesmo bancadas, podemos utilizar a limpeza manual úmida, esfregando uma esponja, espuma ou pano umedecido em solução detergente e enxugar com outro pano umedecido em água limpa. Dessa maneira, tais superfícies não entram em contato com água abundante, não danificando suas estruturas. Para a limpeza do chão, devemos realizar a limpeza manual úmida de chão. Para tanto, usamos dois mops (esfregão) diferentes: um para ensaboar, removendo as sujidades com o auxílio de um detergente tensoativo bactericida; e outro para enxaguar o chão, utilizando água limpa. Quando for possível realizar a limpeza manual molhada no chão, podemos espalhar a água com detergente tensoativo, empurrando‑a para o ralo, e enxaguar o local várias vezes com água limpa. Esse tipo delimpeza é mais efetivo, pois remove mais sujidades do chão, porém só pode ser realizado em locais onde houver ralo, sem contar que o gasto com água é maior. Para as áreas não críticas e descobertas, ou seja, que não sofrem contaminação, podemos realizar a limpeza a seco, com vassouras. Para as áreas não críticas cobertas, podemos utilizar o aspirador para auxiliar a remoção de sujidades. Os materiais utilizados nas limpezas devem ser guardados e precisam ser separados por áreas. Dentre esses materiais, temos mops distintos para cada procedimento ou baldes, detergente neutro ABS aniônico, detergentes desencrostantes ou enzimáticos, desencrostantes, tensoativos, panos e vassouras. 4.1.2 Tipos de detergentes Quando se realiza o processo de limpeza, precisamos saber quais substâncias devemos utilizar em cada caso. Para isso existem vários tipos de detergentes com características diferentes. Detergentes desencrostantes: são detergentes enzimáticos de última geração, que removem desde gorduras até sujeiras impregnadas nos artigos (instrumentos). São utilizados apenas para limpeza de artigos, pois os objetos necessitam ficar submersos por algum tempo, e esse período pode variar de acordo com a marca do detergente. 42 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Detergentes surfactantes: são preparações químicas que alteram a natureza das interfaces de contato. Diminuem a tensão superficial e facilitam a limpeza. Detergentes enzimáticos: são substâncias que apresentam enzimas que catalisam o processo de decomposição dos debris orgânicos, facilitando a limpeza dos artigos. São atóxicos, não deixam resíduos e removem com segurança a matéria orgânica de instrumentos cirúrgicos. Como os detergentes desencrostantes, o instrumental deve ficar submerso durante um tempo para facilitar a remoção da sujidade presente. Detergente tensoativo sintético biodegradável: utilizado na limpeza doméstica, esse produto é formulado à base de sais alcalinos de ácidos graxos associados a outros tensoativos. É um produto da reação natural por saponificação de hidróxido de sódio ou potássio e uma gordura vegetal ou animal. Lembrete Cada tipo de detergente possui uma indicação apropriada, e sempre é necessária a leitura das instruções encontradas no rótulo do material. 4.1.3 Limpeza dos instrumentais A limpeza do instrumental é um passo muito importante antes do processo de desinfecção e/ou esterilização dos artigos. Essa limpeza deverá ser realizada utilizando um detergente enzimático ou desencrostante. Pode ser feita de duas maneiras: Limpeza manual: é aquela usada com o auxílio de escova própria para limpeza e detergente enzimático ou desencrostante. Sugere‑se utilizar uma cuba com tampa para deixar o material submerso durante o tempo preconizada pelo fabricante, que pode variar de 15 a 30 minutos. Depois, é realizada a limpeza com o auxílio da escova. O profissional deve sempre usar equipamentos de proteção individual, como gorro, máscara, óculos de proteção, avental e luvas de borracha grossas. Limpeza ultrassônica: é realizada por cavitação. Por meio do aparelho de cuba ultrassônica, é realizada a agitação, e então a limpeza é feita por vácuo. Esse tipo de limpeza também requer detergentes específicos (os desencrostantes ou o enzimático). É a mais indicada para instrumentais. Para ambos os métodos, é necessário realizar o preparo dos instrumentais da seguinte maneira: • primeiramente, é feita imersão prévia em detergente enzimático ou desencrostrante num período de 15 a 30 minutos; • depois procede-se a lavagem dos instrumentais; • o enxágue deverá ser realizado em água abundante e, preferencialmente, o último enxágue deverá ser feito com água destilada; 43 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança • a secagem dos artigos deverá ser feita de maneira criteriosa, com o objetivo de evitar que a umidade comprometa a sua esterilização; • após a secagem, deve-se realizar a inspeção do material: todo o instrumental deve passar por um processo de inspeção sistemático e rigoroso, independente do processo utilizado (manual ou mecânico); nesse passo é que se deve observar a presença de sujidade, oxidação e a funcionalidade do instrumental. Sanitização: fase em que se utiliza uma substância para reduzir o número de micro‑organismos num local ou material até níveis aceitáveis pela legislação sanitária. Antissepsia: é o método no qual se impede a proliferação de micro‑organismos em tecidos vivos com o uso de substância químicas (os antissépticos) empregadas como bactericidas ou bacteriostáticos. É feita a inibição ou destruição de micro‑organismos na superfície de tecidos vivos. Uma mesma substância química, quando usada em objetos inanimados será chamada de desinfetante, mas quando usada em tecidos vivos, será chamada de antisséptico. Assepsia: procedimento em que se impede que determinado equipamento, objeto, medicamento, cosmético ou ambiente estéril venha a ser contaminado. 4.2 Desinfecção É a inativação de todas as formas vegetativas, com exceção de bactérias esporuladas. Pode ser obtida por processo químico, que deve ser escolhido em função das características do artigo. Agentes químicos desinfetantes Agora vamos destacar diversos tipos de agente químicos desinfetantes. Nem todos os materiais suportam temperaturas elevadas, podendo sofrer um processo de esterilização. Para esses casos, podemos utilizar produtos químicos para fazer a desinfecção, tomando muito cuidado na avaliação da compatibilidade química com os utensílios. A desinfecção química acontece porque algumas substâncias têm a capacidade de danificar a parede celular. A escolha de agente químico desinfetante deve ser feita baseando‑se nas propriedades ideais de um desinfetante: alta atividade biocida, efetividade na presença de matéria orgânica, baixa toxicidade, efeito residual, solubilidade em água e líquidos orgânicos, não ser corrosivo, não manchar. O desinfetante deve, ainda, ter as seguintes características: fácil uso, odor agradável, ser econômico, ser considerado desinfetante hospitalar para superfícies (efetivo contra Staphylococcus aureus, Salmonella chloreasius, Pseudomonas aeruginosa) ou desinfetante hospitalar para artigos (efetivo contra Staphylococcus aureus, Salmonella chloreasius, Pseudomonas aeruginosa; Micobacterium smegmatis; Micobacterium bovis; Tricophyton mentagophytes). 44 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Dependendo da resistência do micro‑organismo a ser combatido, a desinfecção por produtos químicos pode ser dividida em três níveis: desinfetantes de baixa, intermediária e alta atividade biocida. Desinfetantes de baixa atividade biocida não inativam o Mycobacterium tuberculosis, os vírus hidrofílicos, nem os esporos. São utilizados quando o objetivo é eliminar bactérias vegetativas, vírus médios ou lipídicos. Um dos produtos mais comuns nesse processo é o quaternário de amônia, utilizado na limpeza de superfícies, paredes e mobiliários; ele tem a vantagem de ser pouco tóxico para humanos, mas pode causar irritações na pele e atacar borrachas sintéticas, cimento e alumínio. Desinfetantes de intermediária atividade biocida inativam o Mycobacterium tuberculosis, as bactérias vegetativas, os vírus e fungos, porém não inativam os esporos. Exemplos: cloro; iodo; álcool. O hipoclorito de sódio é apropriado para a desinfecção de superfícies e ambientes. A concentração ideal para esse fim é a de 1%. O hiploclorito possui atividade bactericida diminuída na presença de restos orgânicos. É corrosivo a alguns metais, razão pela qual não deve exceder o tempo de contato de 30 minutos. Exige enxágue abundante. A diluição de 1:5 de uma boa qualidade de água sanitária (5.25%) (1 parte de alvejante para 4 partes de água) resulta em hipoclorito de sódioa 1%, para uso em 24 horas. O hipoclorito de sódio é amplamente recomendado como desinfetante de ambientes e superfícies. Alguns de seus produtos comerciais são: Virucid 1% e 5%; Clorolabor 2%; Virex 2%; Cândida 5,25%. Já os compostos fenólicos têm a vantagem de serem efetivos na presença de restos orgânicos, tornando‑os úteis quando a remoção completa de matéria orgânica é impossível ou não é prática. Têm amplo espectro, são tuberculicidas, eficazes em metais, vidros, borrachas e plásticos. São registrados como desinfetantes de superfície e de imersão. Os compostos fenólicos também são menos tóxicos que o glutaraldeído. Possuem as seguintes desvantagens: não são esporicidas; formam uma película cumulativa; devido ao seu alto poder de penetração, são extremamente agressivos à pele e também não são indicados para artigos que entrem em contato com as vias aéreas superiores, a menos que seja possível eliminar totalmente seu resíduo, o que é feito por meio de enxágue abundante ou do uso de álcool 70% (v/v). Isso se dá após o seu período de ação, que é de dez minutos para superfícies e de 30 minutos para imersão de artigos. Outro antisséptico que destacamos é o iodo, que é o mais antigo para aplicação em pele e mucosa. Age na síntese de proteínas sais protéicos. Além do uso como antisséptico, pode ser utilizado em associação ao álcool para desinfecção de artigos. Possui ação antimicrobiana de largo espectro, inclusive contra bactérias gram‑negativas, Micobacterium tuberculosis, esporos, fungos e a maioria dos vírus. Entretanto, o iodo colore superfícies é irritante, alergênico, corrói metais, aço, pele e tecidos, além de produzir reação de hipersensibilidade. Devido a tais inconvenientes, foram criados os iodóforos, compostos liberadores de iodo cujo carreador é a povinilpirrlidona (PVPI). 45 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Os iodóforos também têm amplo espectro antimicrobiano, mas são menos irritantes aos tecidos, menos alergênicos e têm ação prolongada após a aplicação. São amplamente usados na antissepsia de pele e mucosas, em contexto pré‑cirúrgico e de degermação das mãos. São tuberculicidas em cinco a dez minutos de exposição, porém a água dura (rica em sais de Ca e Mg) pode inativá‑los. Seus nomes comerciais são: Povidine tópico, Povidine degermante, Poviderm e PVPI. Outro desinfetante é o álcool, que é amplamente utilizado no âmbito hospitalar, principalmente o álcool etílico 70% (v/v). Seu mecanismo de ação é a desnaturação de proteínas. O seu uso é restrito por causa da falta de atividade esporicida e contra alguns vírus hidrofílicos (HVB, por exemplo), pela rápida evaporação e inabilidade de penetração em restos protéicos. O álcool é irritante à pele quando deixado por período prolongado. Dessa forma, é recomendado para antissepsia, desinfecção de artigos e superfícies com tempo de exposição de dez minutos, sendo aconselhadas três aplicações intercaladas pela secagem natural. Não é recomendado para borrachas e plásticos. As soluções de álcool iodado podem ser utilizadas em artigos, superfícies e bancadas. Após o tempo de exposição, deve‑se friccionar o álcool para evitar o efeito corrosivo, principalmente em metais. Os desinfetantes de alta atividade biocida inativam os micro‑organismos citados anteriormente, inclusive esporos bacterianos. Exemplos: ácido peracético e óxido de etileno. O ácido peracético tem atividade bactericida, fungicida, virucida e esporicida. Produz desnaturação protéica e alteração da parede celular. É efetivo na presença de matéria orgânica. Não promove resíduos tóxicos. Concentração: 0,001% a 0,02%. 4.3 Esterilização A esterilização é a inativação de todos os micro‑organismos vivos, incluindo vírus, fungos, bactérias e esporos. Pode ser obtida por processo físico, físico‑químico ou químico. Os processos físico e físico‑químico são os mais indicados, pois garantem a destruição total de todas as formas de vida microbiana. O processo químico deve ser utilizado somente quando não houver outro recurso, uma vez que, devido a inúmeras variáveis, não dá garantia total de esterilidade do material. 4.3.1 Métodos de esterilização 4.3.1.1 Processos físicos A esterilização ocorre por meio da mudança no estado físico dos micro‑organismos, podendo ser feita por aumento de temperatura ou envolver radiação. São exemplos desses processos: 46 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II • vapor saturado sob pressão (autoclave); • calor seco (estufa ou fornos de Pasteur); • radiação ionizante e não ionizante. Vapor saturado sob pressão (autoclave) É o processo que oferece maior segurança e economia, podendo ser realizado em autoclave convencional horizontal ou autoclave a alto vácuo. A autoclave vertical é própria para laboratórios, não devendo ser utilizada para a esterilização de artigos médico‑cirúrgicos e odontológicos, pois os pacotes ficam superpostos, dificultando a drenagem do ar, retardando a penetração do vapor e não permitindo a secagem dos artigos, o que não garante a sua esterilização. Para o funcionamento correto da autoclave, deve‑se seguir o manual de instruções do fabricante e observar os valores recomendados durante todo o ciclo de esterilização. Para facilitar a penetração e circulação do vapor e eliminação do ar na autoclave convencional horizontal, deve‑se utilizar no máximo 80% da sua capacidade. Devemos dispor os pacotes da seguinte maneira: os maiores ficam na parte inferior e os menores na parte superior do aparelho. Mantém‑se espaço de cerca de 3 cm entre eles, evitando que encostem nas paredes da autoclave. Artigos como jarros e bacias devem ser colocados em posição que facilite a remoção do ar e escoamento do vapor. O período de exposição varia de acordo com o artigo, o tipo de equipamento utilizado e a temperatura em que está regulado o aparelho. Qualidade do vapor O vapor saturado seco é aquele que contém somente água no estado gasoso. Agrega tanta água quanto possível (umidade relativa de 100%). É a forma mais efetiva de vapor esterilizante. O vapor saturado úmido (condensado) contém vapor saturado de forma excessiva devido à condensação. O excesso de água compromete a secagem da carga em processamento. Os pacotes devem ser retirados da autoclave frios e secos para evitar que o vapor se condense na temperatura ambiente, contaminando os artigos. A autoclave deve ser limpa diariamente com pano úmido e sabão neutro. A limpeza dos filtros e do purgador deve ser feita pelo técnico de manutenção especializado. 47 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança A esterilização por autoclave exige empacotamento com material permeável ao vapor, de preferência em embalagem dupla, para evitar contaminação. A embalagem mais indicada é o papel grau cirúrgico (Figura 7), que é normatizado pela NBR 12.946 (ABNT, 2000). Deve apresentar poro de 0,22 μ de diâmetro, porosidade mínima de 65 s a 105 s por 100 cm3 de ar. Deve ser resistente ao calor, à tração e à perfuração, não podendo conter amido ou corantes. O papel grau cirúrgico pode se apresentar com duas faces de papel ou com uma face de papel e uma de filme transparente. É possível utilizar caixas metálicas perfuradas (Figura 8), porém elas devem ser recobertas por embalagens permeáveis ao vapor, tais como o papel grau cirúrgico. Figura 7 – Carpule embalada em papel grau cirúrgico Figura 8 – Caixa metálica perfurada em embalagem de papel grau cirúrgico A validade da esterilização é de sete dias, a contar do dia em que o material foi esterilizado. Esse prazo é considerado para os artigos esterilizados por processo físico, de acordo com a Resolução SS‑374 (SÂO PAULO, 1995). Calor seco (estufa ou fornos de Pasteur) O calor gerado em estufa elétrica (forno de Pasteur) é de uso limitado, pois sua penetração e distribuiçãodentro da câmara não se faz de maneira uniforme. Além disso, o processo requer um tempo 48 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II de exposição mais prolongado e altas temperaturas, o que é inadequado para certos materiais, tais como tecido e borrachas. A estufa deve possuir um termômetro indicando a temperatura atingida no interior, um termostato responsável pela manutenção da temperatura desejada. Para facilitar a condução do calor sem encostar as caixas na parede da estufa, nem encostar o bulbo do termômetro nas caixas, é preciso colocar as maiores nas prateleiras superiores e as menores nas inferiores. Não é recomendado colocar grande quantidade de material dentro das caixas para não sobrecarregar o aparelho. Deve‑se seguir o manual de instruções do fabricante. Não é indicado interromper o processo de esterilização com a abertura da porta. Se isso acontecer, o processo de esterilização será inadequado. Esse é um dos motivos pelos quais a Anvisa não recomenda o uso da estufa nos consultórios odontológicos como método de esterilização, pois não há garantia de que o processo não será interrompido. Quando comparado ao uso da autoclave, é mais difícil interromper o processo de esterilização na estufa, pois a máquina está sob pressão, e o processo de esterilização é automatizado. Outra desvantagem da estufa em relação à autoclave é a dificuldade de se fazer um controle biológico adequado, pois o Bacilus subtilis, micro‑organismo utilizado para a realização do teste de esterilidade, é de difícil obtenção. Além disso, o método de avaliação é mais caro do que o empregado para o controle biológico da autoclave, quando se utiliza o Bacillus estearoterphomilus. Em estufa, as embalagens que suportam altas temperaturas, tais como caixas de alumínio fechadas, são as mais indicadas. As caixas de aço inoxidável, embora sejam aceitas como embalagens para a estufa, são menos recomendadas para o método. As lâminas de alumínio podem ser utilizadas para esse método de esterilização. Em estufas, o tempo e temperatura inadequados, e a interrupção do ciclo com a abertura da porta são as principais causas de falhas no processo. A temperatura adequada deve ser observada com o uso do termômetro, e não apenas pela leitura do termostato, que pode estar desregulado. O acondicionamento inadequado de material também é uma das causas do insucesso. As caixas metálicas não devem se tocar, tampouco tocar nas paredes da estufa; as maiores ficam em cima, e as menores embaixo. Vejamos as principais falhas no processo de esterilização da estufa: • limpeza inadequada dos instrumentos; • temperatura real versus termostato; 49 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança • interrupção do ciclo (abrir a porta); • tempo de exposição insuficiente; • volume e distribuição de material inadequados. Radiação ionizante A radiação ionizante modifica o DNA da célula microbiana, provocando lesões estruturais graves e a difusão de radicais livres. Nesse tipo de esterilização, é utilizada a radiação gama – cobalto 60, pois ele possui um alto poder de penetração, modificando o DNA das células dos micro‑organismos e gerando sua inativação. Devido à sua dificuldade de operação e custo, esse tipo de esterilização é utilizado em materiais implantáveis em medicina e odontologia, por exemplo, os implantes dentários. 4.3.1.2 Processos físico‑químicos Fazem parte dessa classificação de processos os tipos de esterilização que integram um meio físico (temperatura) com uma substância química. Assim, devido a um aumento ou diminuição de temperatura, a substância química auxiliará a inativação dos micro‑organismos. São exemplos desses processos: óxido de etileno e peróxido de hidrogênio. Óxido de etileno É obtido por meio da ação combinada de um agente químico, o óxido de etileno (ETO.) e o calor na forma de vapor saturado sob pressão, gerado em autoclave. Seu uso é restrito a unidades hospitalares de grande porte devido ao custo das instalações e complexidade na operacionalização. É necessário observar com rigor as disposições contidas na Portaria Interministerial 4 (BRASIL, 1991), as instruções do fabricante e a supervisão das técnicas de manejo dos equipamentos de segurança física e ambiental, além do uso da EPI, tais como luvas de proteção, óculos de proteção, máscara com filtro químico próprio para vapores orgânicos, botas e roupas de PVC. Devemos saber que a exposição continuada ao ETO pode provocar irritação cutânea, anemia e vômito, além de ser carcinogênico e mutagênico. Plasma de peróxido de hidrogênio Outro meio de esterilização físico‑químico é o plasma de peróxido de oxigênio (H2O2), considerado o quarto estado da matéria: sólido, líquido, gás, plasma. O plasma gerado a partir do peróxido de hidrogênio (água oxigenada) é constituído de radicais livres e de mais formas químicas altamente reativas, interagindo, assim, com as membranas celulares. 50 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Como características, possui uma ação bactericida, esporicida, fungicida e virucida. Tempo de exposição para esterilização: 75 minutos à temperatura de 40 °C a 55 °C. É utilizado para materiais e artigos termossensíveis, aparelhos elétricos, endoscópios e outros instrumentais médico‑hospitalares. É considerado atóxico, é muito eficaz e possui alta penetrabilidade. As fases do seu ciclo são: vácuo, injeção, difusão, plasma e a ventilação. 4.3.1.3 Processos químicos Os processos químicos são utilizados apenas quando não podemos realizar a esterilização pelos métodos físicos ou físico‑químicos. Eles podem ser empregados quando os materiais que necessitam de esterilização não podem sofrer drástica alteração de temperaturas. Para essa esterilização, o material (artigo) terá que ficar imerso em contato com a substância por determinado tempo, e isso será definido pelo fabricante. O processo de esterilização química exige embalagem plástica com tampa. É preciso checar o tempo de esterilização, a validade do produto, a submersão total dos instrumentos, a limpeza e desinfecção prévia do material, assim como o fechamento do recipiente que contém o esterilizante. Observação A falha de qualquer um desses itens invalida o processo. O uso de EPI é obrigatório, bem como o uso imediato do artigo processado. São exemplos desses processos o ácido peracético e o glutaraldeído. Ácido peracético Sua ação esterilizante se dá pela oxidação. O ácido peracético atua na parede celular e no interior da célula, danificando o sistema enzimático e destruindo o micro‑organismo. O agente esterilizante é o ácido acético, e o tempo de exposição para esterilização compreende de 30 a 45 minutos à temperatura de 50 °C a 55 °C, que pode variar de acordo com a marca comercial. P ácido peracético só deve ser utilizado em materiais e instrumentais para uso imediato. Ele não permite o acondicionamento e armazenamento, pois o material, ao ser retirado da imersão, não pode mais ser considerado esterilizado. 51 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Glutaraldeído Substância química que compreende a utilização de produtos do grupo dos aldeídos, glutaraldeídos e formaldeídos. Não é considerado um processo de primeira escolha devido à sua toxicidade, ao tempo prolongado de exposição e à necessidade de utilização imediata do artigo, uma vez que não pode ser armazenado. Atualmente os órgãos de saúde não estão recomendando o uso do glutaraldeído devido à sua toxicidade e à possibilidade de ele não esterilizar alguns tipos de microbactérias. Os artigos devem estar rigorosamente limpos, secos e desconectados (para permitir a ação do produto químico) e totalmente imensos na solução em recipiente de vidro ou plástico com tampa (recomenda‑se recipiente duplo perfuradoe outro sem furo). Não se recomenda empregar metais diferentes devido à corrosão eletrolítica. O tempo da exposição para o glutaraldeído é de dez horas. Independentemente do método escolhido, o processo de esterilização adequado só acontece quando se realiza a devida limpeza prévia e o acondicionamento ideal do instrumental. O material estéril deve ser armazenado em ambiente seco, limpo e fechado. Observação Ao esterilizar os materiais, devemos saber se possuem resistência para o meio de esterilização escolhido, com o objetivo de prevenir a danificação do material. 4.3.1.4 Monitoramento do processo de esterilização Como não é possível visualizar os micro‑organismos presentes nos materiais, o risco biológico se torna um problema, pois precisamos ter certeza de que nosso material está mesmo esterilizado. Dessa forma, é necessário o uso de testes para verificar se a esterilização foi eficiente. O teste mais seguro é promover a cultura dos micro‑organismos, porém o procedimento leva dias para apresentar algum resultado. Devido à dificuldade, utiliza‑se a monitoração por intermédio de meios mecânicos, químicos e biológicos: Meios mecânicos – é realizada uma inspeção no equipamento para conferir seu funcionamento e observar se não há algum problema que possa comprometer a esterilização. Na estufa, é necessário observar o termostato e conferir sua temperatura real por meio de um termômetro. Já na autoclave devemos nos preocupar com as válvulas, os drenos, a borracha de vedação da porta, pois esses itens comprometem a esterilização e acabam por interromper o ciclo. Meios químicos – são integradores químicos, e normalmente são tiras indicadoras impregnadas com tinta termoquímica, que muda de coloração quando exposta à temperatura. As tintas podem 52 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II ser utilizadas internamente nas embalagens colocadas sobre todos os produtos a serem esterilizados. Também podem ser usadas de maneira externa, podendo conter um integrador químico, que mudará de cor após o material ser esterilizado. Meios biológicos – os testes biológicos são culturas padronizadas de micro‑organismos comprovadamente resistentes a processos térmicos menos severos. Em geral, os esporos bacterianos são empregados nesses testes. Caso essa cultura sobreviva ao processo de esterilização, significa que houve uma falha no processo, e deve‑se identificar prontamente a causa da falha para que os próximos ciclos sejam efetivos. Os testes biológicos mais utilizados são: • estufa: teste utilizando o esporo Bacillus subtilis; • autoclave: teste utilizando o Bacillus stearothermophilus. 4.3.2 Classificação dos artigos Os artigos na área de saúde devem ter um cuidado especial, pois em sua grande maioria podem propagar infecção cruzada entre os pacientes, os profissionais e até mesmo disseminá‑lo no meio ambiente. Esses artigos podem ser classificados de acordo com sua severidade para propagar infecção em: artigos críticos, semicríticos e não críticos. Artigos críticos – são os instrumentos que penetram na pele e mucosa o suficiente para atingir o tecido subepitelial. São perfurocortantes, o que pode causar a ruptura da pele ou da mucosa. São considerados exemplos de artigos críticos: agulhas, lâminas de bisturi e sondas. Quando os materiais considerados como críticos não forem capazes de passar pelo processo de esterilização, devem ser descartados após o uso, por exemplo, agulhas e lâminas de bisturi. Figura 9 – Ilustração de uma agulha, classificado como artigo crítico 53 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Artigos semicríticos – são os materiais que entram em contato com a pele e mucosa, porém sem penetrá‑la, não atingindo o tecido subepitelial. Não possuem ponta ativa, pois as partes que entram em contato com pele e mucosa não são consideradas perfurocortantes. O condensador e a espátula de inserção são exemplos desses artigos. Os materiais semicríticos também exigem cuidados. Sempre que for possível, devemos preconizar sua esterilização. Contudo, quando o material não permitir a esterilização devido à sua resistência ao processo, devemos realizar a desinfecção com um agente com alta atividade biocida, por exemplo, o ácido peracético. Figura 10 – Exemplo de um material semicrítico: inalador Artigos não críticos – são considerados materiais ou instrumentos que não entram em contato com a pele ou mucosa, porém sofrem contaminação, podendo disseminar infecção cruzada. Exemplos desses tipos de artigos são: bancadas, alças de refletores, comadres, papagaios, jarros, bacias, cubas, aparelhos de pressão, termômetros, assim como outras superfícies que, durante um atendimento hospitalar, são utilizadas e não entram em contato diretamente com a pele e a mucosa do paciente. Por serem materiais não críticos, mas que ainda assim podem propagar infecção cruzada, temos de ter cuidados em relação à sua desinfeção, realizando‑a com agentes com, no mínimo, média atividade biocida. Alguns exemplos são: álcool etílico a 70% e hipoclorito de sódio a 1%. Quadro 5 – Classificação de artigos na área da saúde Críticos • Esterelização Semicríticos • Esterilização/desinfecção • Alta atividade biocida Não críticos • Desinfecção de média atividade biocida 54 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Quadro 6 – Exemplos de artigos: críticos, semicríticos e não críticos Artigos Críticos Semicríticos Não críticos Agulhas Endoscópios Cubas Lâminas de bisturi Inaladores Termômetros Implantes Nebulizador Esfignomanômetro 4.4 Higienização A higienização das mãos é uma das ações mais importantes no controle de infecção cruzada. É preciso realizá‑la de maneira correta e com o auxílio de soluções antissépticas. Primeiramente, deve‑se remover joias, pulseiras, anéis e relógios, pois tais objetos podem acumular micro‑organismos. Existem diferentes técnicas de higienização das mãos e elas podem variar de acordo com o objetivo ao qual se destina. A seguir, incluímos algumas das técnicas de higienização: Higienização simples das mãos Essa técnica tem como finalidade a remoção dos micro‑organismos que habitam nas camadas superficiais da pele (como o suor, a oleosidade e as células mortas), retirando a sujidade propícia à permanência e à proliferação de micro‑organismos. Higienização antisséptica das mãos Essa prática é igual à descrita anteriormente (higienização simples), porém substituindo o sabão por um antisséptico. Dessa forma, promove a remoção de sujeiras e micro‑organismos, bem como reduz a carga microbiana nas mãos. Saiba mais Para saber sobre outras técnicas de higienização das mãos e para ver figuras ilustrando as técnicas, acesse: <http://www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 12 maio 2015. 55 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança 4.4.1 Antissépticos utilizados A utilização de antissépticos promove a remoção das sujidades e a diminuição de micro‑organismos. Para a limpeza das mãos, podemos usar a mesma técnica da higienização simples, porém substituindo o sabão por um antisséptico recomendado. Para empregá‑los corretamente, devemos fazer uma fricção antisséptica das mãos. Essa ação objetiva reduzir a carga microbiana, porém não remove totalmente a sujidade como no processo de higienização das mãos com sabonetes antissépticos. A duração da antissepsia das mãos é de aproximadamente 20 a 30 segundos, tempo menor quando comparado à higiene das mãos. Devido à importância da utilização dos antissépticos, o Ministério da Saúde recomenda para antissepsia das mãos as substâncias que possuem como princípio ativo: • solução alcoólica; • clorexidina a 2% ou 4%; • polivinil pirrolidona-iodo (PVPI – solução aquosa, solução alcoólica, solução degermante, todas a 10%, com 1% de iodo ativo);ou o iodo, na forma de solução alcoólica a 1% (álcool iodado); • triclosano; • permanganato de potássio; • soluções aquosas de sais de prata. Para que sejam considerados efetivos e fazer um bom uso, os antissépticos necessitam ter alguns requisitos: • amplo espectro antimicrobiano; • ação rápida; • absorção não sistêmica; • não alergênico, irritante e/ou ressecante; • odor agradável; • baixo custo; • necessidade de obter dispensadores de pronto uso. 56 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Álcool Amplamente utilizado, o álcool não possui efeito residual, pois tem a ação rápida. Assim, sua eficácia depende do tempo de contato, do volume e da concentração e, dependendo do tamanho das mãos, é preciso maior quantidade da substância. Suas desvantagens são: podem ressecar a pele e causar irritação ocular e de mucosa. A forma mais encontrada é em gel, e contém emolientes. Compostos de iodo O iodo é um agente bactericida e fungicida, e também pode ser considerado como um ativo contra vírus. O composto de iodo mais usado é o álcool iodado a 0.5 ou 1%. Como vantagem, apresenta ação residual. Entretanto, em virtude da presença de substâncias alcalinas em matérias orgânicas, sua atividade é diminuída. Não é irritante, e pode ser facilmente removível pela água. O iodóforo mais usado para a antissepsia das mãos é á solução detergente de PVPI a 10% (1% de iodo ativo), que é bactericida, fungicida e virucida. Clorexidina A solução de clorexidina é um germicida, do grupo das biguanidas, e age melhor contra bactérias gram‑positivas do que gram‑negativas e fungos. Como vantagens, possui ação imediata e tem efeito residual. Apresenta baixo potencial de toxicidade e de fotossensibilidade ao contato, sendo pouco absorvida pela pele íntegra. As formulações para uso satisfatório são: solução de gluconato de clorhexidina a 0,5%, em álcool a 70%, e solução detergente não iônica de clorexidina a 4%, contendo 4% de álcool isopropílico ou álcool etílico. Além da degermação das mãos, utilizando a concentração de 4%, a clorexidina possui outras aplicações clínicas: • antissepsia de pele e mucosa (concentração de 1 a 4%); • lavagem das mãos (associada a sabões); • antisséptico bucal (concentração a 0,2%); • enxaguatório bucal (concentração a 0,12%). 57 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Triclosan É um antisséptico usado em associação com sabões, detergentes e cosméticos, na concentração de 0,5% a 2%. Apresenta ação lenta e possui boa tolerância aos tecidos. Nitrato de prata A solução utilizada é a de nitrato de prata a 1%. Sua maior aplicação acontecia em mucosa ocular de recém‑nascidos, como profilaxia de conjuntivite. Contudo, essa solução está sendo substituída por PVPI ou colírio de clorexidina. Permanganato de potássio Agente oxidante antisséptico usado nas diluições de 1: 5.000 e 1: 2.000 para lavagem de feridas e mucosas em âmbito hospitalar. 4.5 Gerenciamento de resíduos O gerenciamento de resíduos nos serviços da saúde é de fundamental importância. Todos os geradores devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), de maneira a descrever as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos. De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada RDC 306/2004 (ANVISA, 2004), são classificados como geradores de Resíduos de Serviço da Saúde (RSS): • hospitais; • laboratórios analíticos de produtos para saúde; • necrotérios e funerárias; • serviços de medicina legal; • drogarias e farmácias (incluindo as de manipulação); • estabelecimentos de ensino e pesquisa da área da saúde; • clínicas e consultórios médicos e odontológicos. O documento que deverá ser elaborado descreve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, incluindo as características e riscos. Contempla, também, os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como as ações de proteção à saúde pública e ao meio ambiente. 58 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Também é necessário elaborar ações específicas para situações de emergência e acidentes. Essas medidas são referentes aos processos de prevenção de saúde do trabalhador. Dessa forma, são importantes o desenvolvimento e a implantação de programas como: • Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH); • Comissões internas de Biossegurança, e Serviços de Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho (SESMT); • Cipa. O PGRSS a ser elaborado deve ser compatível com as normas locais relativas a coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde. O manejo deve ser a ação de gerenciar os resíduos em seus aspectos, interna e externamente, desde a geração até a disposição final. A segregação consiste na separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, o seu estado físico e os riscos envolvidos. O objetivo no acondicionamento é embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. A identificação compreende a tomada de medidas que permitam o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes. Essa identificação deve estar posta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de coleta e transporte interno e externo, nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, de forma indelével, utilizando‑se símbolos, cores e frases, de acordo com a norma NBR 7.500. O transporte interno consiste no traslado dos resíduos dos pontos de geração até local destinado ao armazenamento temporário ou externo, com a finalidade de apresentação para a coleta. Essa condução interna de resíduos deve ser realizada atendendo ao roteiro previamente definido e em horários não coincidentes com a distribuição de roupas, alimentos e medicamentos, períodos de visita ou de maior fluxo de pessoas ou de atividades. Após o transporte interno, deve‑se ter um local para armazenamento provisório, guardando temporariamente os recipientes que contêm os resíduos já acondicionados em local próximo aos pontos de geração. Isso é feito para agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado à apresentação para coleta externa. O transporte e o tratamento dos resíduos do serviço da saúde são de responsabilidade das empresas terceirizadas. 59 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança O tratamento dos RSS envolve processos mecânicos, físicos, químicos ou biológicos e que alteram as características dos resíduos, visando à minimização do risco à saúde, à preservação da qualidade do meio ambiente, à segurança e à saúde do trabalhador. Uma excelente maneira para proceder o tratamento é fazer a desinfecção química ou térmica (autoclavagem e incineração). A disposição final consiste na disposição definitiva de resíduos no solo ou em locais previamente preparados para recebê‑los. Pela legislação brasileira, esse arranjo deve obedecer a critérios técnicos de construção e operação, para os quais é exigido licenciamento ambiental, seguindo a resolução Conama nº 237/97. O aterro sanitário é um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo de forma segura e controlada, garantindo a preservação ambiental e a saúde pública. 4.5.1 Classificação dos resíduos de serviço da saúde A NBR 12.808/97 dispõe sobre a classificação dos resíduos de serviço de saúde: • tipo A: resíduo biológico; • tipo B: resíduo químico; • tipo C: resíduo radioativo; •tipo D: resíduo comum; • tipo E: perfurocortantes. 4.5.1.1 Grupo A – resíduos biológicos São os resíduos infectantes que apresentem risco biológico. Deverão ser acondicionados em sacos brancos leitosos e identificados com o símbolo de substância infectante (desenhado na cor preta). Alguns exemplos desses resíduos são: gazes, algodões, campos utilizados em cirurgia, luvas, máscaras e aventais descartáveis. 60 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II Figura 11 – Exemplos de sacos identificados com o símbolo de substância infectante 4.5.1.2 Grupo B – substâncias químicas São os resíduos contendo substância química que podem apresentar risco à saúde do profissional ou até mesmo um risco ao meio ambiente. Para efetuar a separação no momento do descarte, é preciso atentar‑se ao rótulo das substâncias e à sua simbologia. Muitas substâncias químicas não devem ser descartadas em esgoto, devendo utilizar um coletor rígido com vedação na tampa, identificado por meio do símbolo de risco associado, com discriminação de substância química, bem como frases de risco. Exemplos dessas substâncias são: produtos inflamáveis, corrosivos e tóxicos. 4.5.1.3 Grupo C – resíduos radioativos São os resíduos referentes a materiais resultantes de laboratórios de serviço de medicina nuclear, radioterapia e equipamentos que produzem raios X. Eles devem ser descartados em contêineres de chumbo para posterior tratamento. Os materiais para o descarte devem ser representados pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante (trifólio de cor magenta) em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos, acrescidos da expressão “dejeto radioativo”. 61 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança Figura 12 – Identificação dos resíduos radioativos 4.5.1.4 Grupo D – resíduos comuns São os resíduos que não apresentam risco biológico, por exemplo, papel de sanitários e os restos de alimentos. Devem ser acondicionados em sacos de cor diferente do grupo A (branco) para não haver confusão no momento da separação dos detritos. Desse grupo fazem parte também os resíduos de coleta seletiva, que são identificados pelas seguintes cores: • azul: papéis; • amarelo: metais; • verde: vidros; • vermelho: plásticos; • marrom: resíduos orgânicos. Figura 13 – Recipiente com símbolo de coleta seletiva 62 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II 4.5.1.5 Grupo E – perfurocortantes Fazem parte desse grupo todos os materiais considerados perfurocortantes. Para diminuir o risco de uma exposição acidental, devem ser acondicionados em recipientes exclusivos. São exemplos: agulhas, ampolas de vidro, brocas, lâminas de bisturi e vidros quebrados. As embalagens que deverão ser utilizadas são as caixas rígidas de papelão ou os coletores de plástico. Devem ser identificados pelo símbolo de substância infectante constante na NBR–7.500, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescidos da inscrição de resíduo perfurocortante e de indicação do risco que o resíduo apresenta. Figura 14 – Recipientes coletores de materiais perfurocortantes Resumo Nessa unidade observamos a importância dos Níveis de Biossegurança (NB), que consistem de combinações de práticas e técnicas de laboratório e barreiras primárias e secundárias para assegurar que os processos no local sejam desenvolvidos adequadamente. Conhecemos diversos aspectos a respeito das doenças ocupacionais que representam um risco biológico. Vimos o quão importante é a identificação desses riscos e a inserção de meios de limitá‑los, com barreiras e métodos de imunização. Destacamos nesta obra a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), regulamentada pela NR‑5, que tem o objetivo de prevenção de 63 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança acidentes e doenças decorrentes do trabalho, preservação da vida e promoção da saúde do trabalhador. Nesse contexto, também abordamos os acidentes de trabalho e suas causas. A obra também apresentou a importância em conhecer as precauções universais: limpeza, desinfecção, esterilização, lavagem e higienização. Esse conhecimento se estende desde os tipos de limpeza, com os diferentes detergentes utilizados para cada caso específico, passando pela desinfeção até chegar à esterilização. Vale ressaltar que a prioridade dos cuidados com o material deverão sempre priorizar a esterilização por meio de métodos físicos e físico‑químicos, mas quando não for possível, podemos utilizar o método químico de esterilização. Ressaltamos, ainda, que devemos respeitar a classificação dos artigos na área de saúde, pois eles podem propagar infecção cruzada para os pacientes, entre os profissionais e até mesmo para o meio ambiente. Essa classificação consiste em: artigos críticos, semicríticos e não críticos. Por fim, destacamos a importância do gerenciamento de resíduos nos serviços da saúde, e que todos os geradores devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), a fim de descrever as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, desde sua geração até sua disposição final. Exercícios Questão 1 (Fiocruz 2010 – adaptada). “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa com o empregado segurado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado especial no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho”. Assinale a alternativa que não é considerada acidente de trabalho. A) Doença do trabalho adquirida ou desencadeada em função de condições especiais. B) Doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho. C) Acidente sofrido no local e no horário do trabalho. D) Acidente sofrido pelo segurado na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa, ainda que fora do local e horário de trabalho. 64 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Unidade II E) Doença preexistente agravada pelo exercício do trabalho. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: se o trabalhador não tiver garantidos os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) ou as condições de proteção poderá sofrer um acidente de trabalho. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a doença profissional é adquirida pelas más condições de trabalho, portanto se constitui em um acidente de trabalho. C) Alternativa incorreta. Justificativa: um acidente ocasionado no ambiente de trabalho é um acidente de trabalho. D) Alternativa incorreta. Justificativa: se o segurado está a serviço da empresa, o acidente é considerado de trabalho. E) Alternativa correta. Justificativa: se o trabalhador omite à empresa a informação de que tem uma doença preexistente, ou se não toma os devidos cuidados de segurança, principalmente em função da sua doença, ele é considerado causador do agravamento da doença pelo exercício do trabalho, o que não se constitui em um acidente de trabalho. Questão 2 (Enem 2012 – adaptada). A falta de conhecimento em relação ao que vem a ser um material radioativo e quais são os efeitos, consequências e usos da irradiação pode gerar o medo e a tomada de decisões equivocadas, como apresentado no exemplo a seguir: “Uma companhia aérea negou‑se a transportar material médico por este portar um certificado de esterilização por irradiação”. Física na Escola, v. 8, n. 2, 2007 (adaptada). A decisão tomada pela companhia foi equivocada, pois: A) O material é incapaz de acumular radiação, não se tornando radioativo por ter sido irradiado. B) A utilização de uma embalagem é suficiente para bloquear a radiação emitidapelo material. 65 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 05 /2 01 5 Biossegurança C) A contaminação radioativa do material prolifera‑se da mesma forma que as infecções por microrganismos. D) O material irradiado emite radiação de intensidade abaixo daquela que ofereceria risco à saúde. E) O intervalo de tempo após a esterilização é suficiente para que o material não emita mais radiação. Resolução desta questão na plataforma.
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