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Derivantes Delirantes - A Antol - Organizacao- Matheus Peleteiro

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DeRiVaNtEs
DeLiRaNtEs
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
DeRiVaNtEs
DeLiRaNtEs
Antologia
	
	
Título	Original:
Derivantes	Delirantes
Organização:	Matheus	Peleteiro
Capa:	Maria	Mariô
Edição:	Matheus	Peleteiro
Todos	os	direitos	reservados.	Nenhuma	parte	desta	obra	pode	ser	apropriada	ou	reproduzida	em	sistema
de	banco	de	dados	ou	processo	similar,	em	qualquer	forma	ou	meio,	seja	eletrônico,	gravação	etc.,	sem	a
permissão	dos	detentores	do	copyright.
	
APRESENTAÇÃO
	
Certo	 dia	 contei	 a	 uma	 amiga	 que	 eu	 escrevia	 poesias.	 Sempre	 gostei	 de	 escrever,	 afinal,	 é
escrevendo	que	me	encontro.
Ela	me	pediu	para	que	compartilhasse	com	ela	algum	dos	meus	escritos,	e	assim	o	fiz.		Ela	gostou
bastante	e	disse	que	eu	precisava	conhecer	uma	amiga	dela,	pois	assim	poderíamos	escrever	juntas.	Foi
como	eu	conheci	a	Ana	Flavia.
Eu	 e	 Ana	 comentamos	 uma	 com	 a	 outra	 sobre	 a	 nossa	 sede	 de	 escrever	 e	 discutimos	 a
possibilidade	de	criar	uma	página	para	compartilhar	nossos	escritos.
Certo	dia,	estava	lavando	a	louça	(não	há	momento	exato	para	que	aconteça,	rs),	e	tive	um	insight
sobre	um	potencial	nome	para	a	nossa	futura	pagina.	Foi	quando	pensei	em	“Derivantes	Delirantes”,	pois
era	exatamente	o	que	éramos	(somos).
Derivantes	das	experiências	que	 tivemos,	derivantes	das	nossas	amizades,	dos	nossos	ancestrais,
dos	nossos	ídolos.	Delirantes	porque	somos	devaneios,	cheios	de	maluquices	que	são	transformadas	em
normalidades	 -	 ou	 que	 superam	 as	 normalidades	 -	 quando	 lemos	 e	 nos	 vemos	 em	 nossos	 autores
preferidos.
Ana	concordou	com	o	nome,	a	comunidade	cresceu,	adicionamos	mais	membros	ao	nosso	grupo,	e
agregamos	mais	 delirantes	 sonhadores,	 derivantes	 de	 tudo	 e	 de	muitos.	 Foi	 assim	 que	 a	 nossa	 página
evoluiu.	 Adicionar	 mais	 amigos	 com	 pontos	 de	 vista	 parecidos	 foi	 o	 principal	 “booster”	 para	 que	 a
Derivantes	 Delirantes	 pudesse	 ter	 um	 maior	 alcance.	 Além	 da	 Ana	 e	 Eu,	 faz	 parte	 hoje	 desse
talentosíssimo	 grupo:	 Aryana	 Frances,	 Diego	 Sanches,	 Eric	 Moreira,	 Iago	 Souza,	 Matheus	 Peleteiro,
Pedro	 Poker,	 Pedro	 Venturini,	 Rennan	 Sama,	 Roge	 Weslen,	 Saulo	 Matos	 e	 Vitor	 Oliva	 (que	 serão
devidamente	 apresentados	 no	 final	 do	 livro).	 Nesta	 antologia,	 convidamos	 também	 os	 poetas	 Aleff
Ribeiro,	João	Farias	e	Joe	Arthuso.
A	Derivante	e	Delirantes	é	constituída	por	um	pouco	de	cada	um	de	nós,	que	escreve	para	aliviar	a
alma.	Por	cada	um	de	nós	que	escreve	para	deixar	um	legado,	para	não	enlouquecer,	ou	para,	talvez,	ser
lembrado	num	futuro	qualquer.	Escrever	é	a	arte	da	alma,	e	ficamos	imensamente	felizes	em	dividir	um
pedacinho	de	nós	com	cada	um	de	vocês.
Agora,	 tornando	palpável	 e	 lançando	o	nosso	primeiro	 livro	 impresso,	 esperamos,	 sinceramente,
que	apreciem	os	nossos	escritos	e,	mais	que	tudo,	que	nossos	escritos	os	inspirem	a	escrever,	para	que,
assim	como	nós,	possam	deixar	uma	nova	faísca,	por	mais	ínfima	que	seja,	acesa	na	literatura	brasileira.
	
Estefani	Camile
	
Bem	vindo	ao	caos
eu	sei	que	você	me	vê
em	todo	o	canto,
no	quarto
nas	ruas
nos	olhos	daquela
ruiva	de	bem	com	a	vida
na	política
no	trânsito
nos	cabelos
daquela	manhã	de	segunda
mal	dormida
e	eu	te	vejo
e	além	disso
me	vejo	em	você
que	não	é	apenas
mais	um	zumbi
de	relógio
mas	está	perdido
sabendo	exatamente
onde	está
e	eu	amo	isso.
	
sei	que	você	me	vê
e	me	acha	sublime
à	minha	maneira,
pois	entendes
a	necessidade
deste	pandemônio
como	ninguém,
essa	desordem
quase	etérea
que	clama
por	ti
e	dança
para	ti
diariamente.
	
todos	esses	sons
horrendos
misturados
em	uma	única
onda	de	balbúrdia,
aromas	doces
e	aromas
assassinos,
cenas	belas
e	ridículas
se	fundindo
em	um	único
arco	ordinário,
não	finja	que
não	gostas	da	cidade
e	dos	seus	dejetos
messiânicos!
	
bem	vindo	ao	caos
companheiro.
não	resista,
essa	é	a	minha	humilde
existência,
jogue	tudo	pelo
chão
ou	em	qualquer
outro	lugar,
sente-se	ai	mesmo
sob	os	cacos	da	cidade
e	vamos	assistir
tudo	da	camarote,
pois	eu	preciso
de	você,
você	precisa	de	mim
e	eles	precisam	de	nós.
	
Saulo	Matos
	
	
Cotidiano	poético
Boletos,	riso	amarelo,
pensamento	qualquer
e,	no	calor	intenso,	a	fila	não	anda.
	
Pago	boletos	para	ter	o	mínimo,
rio	amarelo	por	excesso	de	café,
minha	falta	de	fé	já	aceitou	mais	um	dia	infernal
e	os	poemas	seguem	nesse	vão	de	pensamento	qualquer.
Aryana	Frances
	
	
Mais	um	poema						
Um	poema	para	levar	no	bolso	direito	da	calça
junto	à	bala	de	menta	e	dinheiro	da	passagem	do	ônibus
Um	poema	roto
pra	ser	lido	para	os	infinitos	mendigos	postos	à	sarjeta
Um	poema	escrito	em	folha	de	caderno
com	letra	feia	e	caneta	vermelha
Um	poema	que	faça	a	professora	de	português
me	olhar	com	asco
e	as	palavras	talhadas	no	papel
como	escrituras	na	carne	(feitas	à	faca)
Um	poema	que	faça	teus	olhos	castanhos	brilharem
e	o	céu	se	abrir
Um	poema	que	te	diga	que	vá	e	tente
que	nada	é	certo	(exceto	os	erros)
o	resto	é	incerto
como	as	rimas	nulas	que	aqui	deixo.
	
Um	poema	que	funcione	como	um	soco	na	cara
ou	uma	chuva	no	verão
Um	poema	desses,	que	eu	sempre	escrevo,
e	logo	deixo	de	canto,	mofando	à	imensidão.
Um	poema	desses,	de	amor,	falando	do	teu	púbis
e	dos	teus	sinais	e	sardas	na	face
e	da	marca	de	infância	nas	tuas	coxas.
Um	poema	feio.
Um	poema	que	faça	teu	peito	sangrar
e	tua	alma	rugir	o	eco	indefinido
de	todos	os	amantes	(desde	que	o	mundo	é	mundo).
Roge	Weslen
	
	
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	o	demônio
que	se	debate	dentro	de	mim
emite	gemidos	mais	doídos
que	os	meus.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	búfalos	trespassam
sobre	minha	têmpora
me	provocando	vertigens
incuráveis.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	um	tinhoso	anônimo
rasga	meu	peito,	amiúde,
fazendo-me	inalar	cigarros
e	exalar	álcool	vagabundo
pela	manhã.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	estou	prestes
a	matar	alguém.
e,	desta	vez,
meu	alvo	é	certo.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	lembro	de	ocorrências
do	passado,
e	fico	estático	num	canto,
e	choro	quieto.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	tenho	muito	ódio
correndo	em	mim,
causando-me	tremores
intermináveis
e	uma	vontade	incessante
de	derramar	sangue
-	aquele	sangue.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	minha	quimera	de	bom	homem
nada	mais	é	que	devaneio,
onde	meu	inibidor	de	conduta
continua	por	um	fio.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	continuo	instável	demais,
insano	demais,
propenso	a	cada	vez
mais	violência.
eu	queria	escrever
sobre	coisas	bonitas,
mas	a	beleza	excessiva
dos	livros	românticos
roubou-me	a	capacidade
de	me	comover	por	eles,
e	eu	fico	dentre	o	pó
e	o	limo,
aguardando	pelo	sussurro	do	diabo
me	dizendo	que	é	chegada
a	minha	hora
de	agir.
	
	
Vitor	Oliva
	
	
	
O	céu	rugindo
acompanha	a	ginga	do	reflexo	das	nuvens	na	água.
O	morro	tão	distante	forma
a	complexidade	artística
de	um	quadro	gigante.
Eu	escrevo	poemas	percorrendo	os	metros	quadrados	num	quintal	abaixo	dos	galhos	e	das	frutas.
A	chuva	regando	o	mundo
é	a	renovação	do	terreno	baldio	da	minha	alma.
Minha	solidão	é	pura	meditação
e	amizade	para	com	a	natureza	das	coisas.
Meu	coração	finalmente	floresce.
	
	
Rennan	Sama
	
Próprias	fronteiras
com	a	mochila	nas	costas
leva	nos	ombros
o	peso	da	casa.
sente	nas	asas
um	futuro	que	aposta
na	brisa	dos	sonhos.
há	lobos	na	rodovia,
mas	há	também
o	brilho	da	lua	e
das	estrelas,
que	caem	da	escuridão
além	do	horizonte	da	cidade
logo	a	frente;
onde	as	ruas,	monstros	de	energia,
consomem	e	carregam
os	vagabundos
pelos	becos	e	bares,
aos	tropeços.
mesmo	um	viajante
solitário	na	estrada
com	seus	manuscritos
e	os	poucos	trocados	no	bolso,
sabe	que	sua	felicidade
consiste	na	esperança
de	umamanhecer	mais	claro;
pois	o	ideal	é	ultrapassar
as	próprias	fronteiras.
	
	
Ana	Flavi	Sarti
	
Semideuses
A	criação	foi	feita.
Para	alguns,	um	sopro
uma	dádiva,	a	graça!
Para	outros	uma	explosão,
uma	estrela,	um	cometa,	BUM!
Junto	disso	veio	o	Eu,
o	ego,	o	semideus.
O	poder	a	essa	raça	foi	dado
O	semideus	foi	pro	Universo	um	achado.	
Havia	o	próprio	semideus	pensado!
Junto	do	poder,	um	perigo	exagerado,	
de	novo	era	o	ego,	coitado!
O	ego	fez	o	semideus	sentir-se	culpado
seja	culpa	simplista	ou	culpa	do	Eu	comparado.
Semideus	se	perguntava
Por	que	eu,	meu	Deus?
Sou	um	pobre,	quebrado!
Do	Éden	me	havia	expulsado.
Por	que	tu	fizestes
da	minha	vida	um	estrago?
O	semideus,	já	sentindo-se	desgraçado
não	sabia	onde	havia	errado
Julgava-se,	questionava-se,	
mas	não	olhava	pro	lado.
Dizia	ter	na	vida	pecado,	
mas	não	sabia	que	o	errado,	
era	o	que	havia	acertado.
Que	o	mundo	vivia	o	sistema	inflamado,	
cansado	de	tanto	sofrimento	infundado
de	tanta	dúvida,	não	se	sentindo	encaixado
O	semideus	decidiu	fazer	jus	ao	seu	legado
O	arbítrio	dado	era	o	espelho	do	mundo	arruinado.
O	fim	havia	chegado,	
o	semideus	colheu	tudo	que	havia	plantado
sem	rumo,	em	um	adeus	o	semideus	se	despediu
dessa	loucura	que	ele	mesmo	criou
uma	decisão,	um	suspiro,	um	segundo,	um	tiro.	
Em	um	instante,	esse	mundo,	
para	o	semideus,	desmoronou.
Tinha	ele	pensado	
que	o	sofrimento	havia	acabado
mas	o	disparo	por	ele	dado
abriu	uma	porta,
mais	um	difícil	recomeço
uma	outra	vida,
de	um	outro	lado.
	
Estefani	Camile
	
Eu
Deixei
De	acreditar
Nas
Minhas	crenças	religiosas	por	falta	de
Esperança
Ou
Excesso
De
Ignorância
Não
Sei
Dizer
Ao	certo
Hoje
Caminho
Incerto
Ateu	de	Deus
	
	
Joe	Arthuso
	
	
Fatalidades
te	amei	o	tempo	de	uma	canção	de	Serge	Gainsbourg
vivi	rápido	demais	por	tempo	demais
as	drogas	aumentaram	o	déficit	de	qualquer	coisa	dentro	de	mim
um	câncer	me	aguarda	na	próxima	carteira	de	cigarro
morrerei	antes	dos	60
nunca	serei	um	grande	escritor
a	poesia	é	inútil
os	poetas	são	inúteis
	
mas				inutilidades	importam
	
cerveja	quente	é	uma	porcaria
nunca	confiar	em	quem	não	toma	vodka	pura
beijar	prostituas	que	fazem	ponto	na	segunda	Alameda
xingar	Deus	e	foder	os	anjos
apertar	a	mão	do	diabo	e	traí-lo	em	seguida
escrever	um	romance	e	depois	jogá-lo	fora
amar	uma	mulher	casada
odiar	quase	todos
beber	cerveja	gelada	todo	dia	no	bar	do	Mané
roubar	um	banco
transar	entre	beijos	e	socos
gozo	e	suor
umidade
aí,	então,	num	dia	ensolarado
deixar-se	ser	atropelado	por	um	carro.
	
Roge	Weslen
	
Poema	ardente
Minhas	emoções	nunca	se	apossaram	de	mim
e	ainda	que	a	serenidade	beije	a	minha	boca	e
transe	comigo	toda	madrugada,
o	mundo	insiste	em	pertencer
aos	que	tem	a	sorte
de	nascer	com	os	olhos
fechados.
	
É	triste	notar
a	literatura	reduzida	a	opiniões	políticas;
a	música	reduzida	ao	underground;
e	a	arte	sangrando,	como	sempre	sangrou,
enquanto	aqueles	que	costumavam	beber	seu	sangue
em	taças	postas	na	mesa	durante	a	ceia,
cospem	imbecilidades	nas	redes	sociais
apontando	para	tudo
que	se	opõe	ao	usual.
	
O	soco	na	face	que	costumava	ser	proferido	aos	leitores
agora	não	passa	de	um	afago	sutil
àqueles	que	se	acostumaram	a	chamar	deputados
de	celebridades	ou
ídolos.
	
Assisto	o	poeta	triste
vendendo	livros	na	delegacia,
o	funcionário	desolado,
sendo	despedido
mais	uma	vez,
e	as	mulheres
metendo	seus	dedos
nas	faces	daqueles
que	já	temem	trata-las
como	objetos.
	
A	cidade	é	quente,
e	a	poesia	arde
enquanto	as	feridas	dos	poetas
cicatrizam
em	versos
soluçantes.
	
	
Matheus	Peleteiro
	
	
	
Ironias
Eu	era	uma	criança	e	tinha	o	mundo	em	minhas	mãos,
oodia	fazer	o	que	quisesse	com	ele.	
	
Hoje	sou	um	adulto	e	o	mundo	me	tem	nas	mãos,	
me	resta	saber
o	que	ele	fará
comigo.	
	
	
Matheus	Peleteiro
	
	
Meus	instintos	se	aguçam
quando	sinto	de	longe
o	aroma	da	alma.
Sua	aparência	não	me	basta.
Me	apresente	algo	único,
sua	natureza	única.
Não	me	chateie	com	superficialidades.
Me	mostre	aquilo	em	você
que	a	tua	família	despreza
e	seus	amigos	sentem	repulsa.
Me	mostre	um	pedacinho
daquilo	que	você	mesma	considera
loucura.
Algo	palpita	aqui	dentro
quando	percebo	originalidade.
Um	pouco	daquilo	que	falta
no	mundo.
Um	pouco	daquilo	que	tentam	destruir	no	mundo.
Os	grandes	querem	a	igualdade.
Não	de	vida!	Jamais!
Eles	pregam	a	igualdade	das	cabeças.
Não	no	formato	dos	crânios,
mas	nas	formas	de	pensar	e	agir!
Me	salve	um	dom,	um	bom	dilema,
um	lema,	uma	ideia.
Me	apresente	um	projeto	de	revolução,
um	crime,	um	assalto	ao	banco	central!
Me	tranquilize	com	sonhos
de	vencer	o	mundo!
Me	surpreenda	com	boas	expectativas,
só	não	falhe	em	desanimar...
Mostre-me	a	origem
dos	teus	desejos.
O	núcleo	do	teu	possível
ímpeto.
Não	me	faça	sonhar	sem	antes
ter	peito	para	oferecer	às	balas	do	fracasso.
A	vida	foi	dada	para	explodir.
Se	fosse	para	sentar	e	observar
o	tempo	se	estendendo
como	uma	grande	chance
se	esvaindo,
as	florestas,	os	animais,
os	mares,	nada
seria	tão	bonito...
Nada	valeria	a	pena.
	
Rennan	Sama
	
	
	
	
Dos	amores	que	se	foram
as	traças	comendo	todos	os		restos	das	paixões	
e	amores	despedaçados		pelo	tempo
nos	dias	assassinados	pela	imensidão
das	lembranças	refratárias
que	me	intimam	à	escrever	esse	poema.
	
	
Roge	Weslen
	
	
Satânica	I
eu	conheci	o	diabo
tinha	olhos	castanhos
um	cabelo	comprido
e	batom	vermelho
me	aparecia	assim
em	qualquer	horário
em	qualquer	dia
depois	de	sumir
um	mês	ou	mais
e	eu	deixo	ela	entrar
deitar	na	minha	cama
beber	da	minha	cachaça
e	se	escorrer	em	mim
espalhar	suor	pela	cama
só	pra	sumir	de	novo
e	voltar	daqui	um	mês
ou	mais
pra	que	eu	deixe	ela	entrar
outra	vez
querendo	que	ela	fique
mas	nunca	fica
só	fica	o	cheiro
só	fica	a	falta
meu	erro	foi	achar
que	ela	era	minha
enquanto	ela
é	dela
só	dela
e	de	mais	ninguém
	
Iago	Souza
	
	
Para	K.
Vou	conviver	com	isso	pra	sempre
com	o	nó	na	garganta	e
o	arrependimento	pela	falta	de	coragem
de	não	ter	dito	alguma	coisa
nem	que	fosse	a	coisa	errada
talvez	a	coisa	certa	a	ser	dita	fosse	qualquer	coisa
mas	não	consegui.
o	nó	na	garganta
o	gargalo	descendo	rasgando
o	gosto	de	sangue	na	boca	e	a	amargura	na	língua
agora	mandarei	flores	para	seu	apartamento	em	Maceió
deixarei	bilhetes	com	o	porteiro	pra	entregar-te
picharei	as	paredes	de	São	José	da	Tapera	com	poemas	intitulados	com	seu	nome
seu	nome	está	gravado	nas	paredes	do	meu	coração	e	arde	quando	penso	em	você
eu	tenho	uma	fotografia	sua	guardada,
ela	fica	numa	gaveta	do	criado-mudo,	você	está	sorrindo	na	foto
eu	vou	continuar	fumando	e	bebendo	e	cheirando,
mas	não	se	preocupe,	a	literatura	vai	me	acolher
cheguei	em	casa	triste	naquela	sexta	e	ela	me	abraçou	e	disse	"calma,	senta	na	frente	do	PC	e	vê	se	não
chora."
já	vou	no	meu	décimo	cigarro	e	você	sabe	sobre	o	conhaque,	né?
ainda	estarei	esperando	até	às	2	horas	da	manhã	pela	sua	mensagem,
enquanto	escrevo	poemas	com	seu	nome	e	juro	ser	o	último	no	final	de	cada	um.
	
João	Farias
	
Eu	escrevo
para	alçar	meu	voo
para	realçar	o	segredo
e	saciar	os	desejos
a	vista	pro	horizonte
a	paisagem	entre	os	montes
empirismo	louco
entre	o	sufoco
ativismo
pacifismo
escrevo	senão	morro
de	relance
nesse	novo	lance
avisto	meu	próprio	e	abalado	semblante
no	espelho
meus	olhos	refletem
a	chama	do	isqueiro
e	nesse	olhar	de	
revoltado	com	o	mundo	inteiro
escuridão	e	luz
jazem	no	fundo	dessa	pupila
e	minha	imaginação
num	ritmo	filosófico
resume	a	sensação
numa	luz	de	pisca-pisca
alma	lírica
desmistifica	a	vida
mente	possuída
LSD
cannabis
imagine	a	metafísica
a	esfera	imaginativa
a	arte	ofensiva
a	briga	com	a	realidade
da	vida
enquanto	a	chuva	cai	lá	fora
o	desalento	aqui	dentro	piora
aceito	pagar	por	estar	vivo
todo	esse	preçome	deito	e	escrevo.
	
Rennan	Sama
	
	
invento	desculpas
para	minha	preguiça	nas	manhãs	frias,
tão	convincentes.
guardo	a	tarde
no	bolso	do	casaco
e	arrasto	as	horas	em	insignificâncias
importantes	pra	mim.
alego	que	o	ócio
é	algo	essencial.
faz	parte	de	toda	a	encenação.
reconheci	muito	cedo
que	pro	nada	eu	tenho	talento.
	
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
Poema	Batido
escrevo	sobre	aquilo
que	verte	em	minha	pele
	
do	olhar	de	um	eu	criança
nas	tardes	de	meu	tempo
	
escrevo	sobre	ritalina,
morfina	e	outras	paranoias
	
em	estado	escatológico	
sobre	as	visões	do	fim
	
sou	dor,	sou	drama,	tesão,
amor,	fúria,	colo	e	lágrima
	
ator	de	minha	própria	peça
uma	autobiografia	púrpura
	
eu	falho,	eu	cego,	eu	rio
e	me	caio	de	joelhos	ferrado
	
arrebento	o	peito	todo
com	o	maldito	do	cigarro
	
escrevo	a	fuligem	nos	pulmões
e	a	benção	dos	dias	quentes
	
eu	chupo	o	sangue	do	lábio
e	a	laranja	do	entardecer
	
escrevo	sobre	a	memória
e	ela	escreve	sobre	mim
	
e	nu	me	entrego	no	escuro
ao	corpo	que	me	aquece
	
sou	testemunha	dos	dias
e	das	noites	que	me	atingem
	
escrevo	sobre	a	capela	olvidada,
as	paredes	descascadas	e	a	santa
	
o	som	do	motor	do	caminhão
e	o	cheiro	da	gasolina	pela	manhã
	
a	lembrança	que	ruge	felina
e	anoitece	em	meu	coração
	
sou	revolução	e	hino	socialista,
a	marca	que	branda	na	pele
	
e	me	contenho:	incompleto,
contraditório	e	todo	fluído
	
me	desfaço	em	ossos	cinzas
como	se	flutuasse	no	breu
	
a	febre	roxa	me	bate	à	porta
e	me	arranha	em	delírio	a	cabeça
	
escrevo	rios	de	água	braba
e	choro	por	páginas	inteiras
	
me	faço	paisagem	quieta
de	caminhos	silênciosos
	
e	então	sou	tão	saudade
que	quase	desapareço	só
	
hesito	quieto	o	beijo
e	me	confesso	em	sorriso
	
envelheço	anos	em	meses
e	lembro	do	que	preocupa
	
ranjo	feito	porta	empenada
e	esmiúço	os	sonhos	no	dente
	
o	motor	continua	a	rodar
roncando	nas	costelas
	
então	me	entrego	fantasia
como	se	fosse	conto	eterno
	
escrevo	a	maquiagem-bem-vermelha
e	a	tormenta	que	causam	os	lábios
	
escrevo	neuroses	de	uma	página
e	me	falta	o	ar	em	angústia
	
bato	a	parede	na	cabeça
e	abalo	com	força	toda	coluna
	
beijo,	beijo	e	beijo	de	novo
tudo	num	bem-querer-danado
	
e	caminho	tropeçante
entre	as	plataformas	do	trem
	
escrevo	lembrança	de	criança,
minha	inocência	que	incendeia
	
me	faço	refúgio	como	um	cão
e	durmo	a	chuva	gelada
	
minha	garganta	entope	de	sonhos
e	vomito	pedregulhos	do	lar
	
retratos-velhos-de-infância
cobrem	por	inteiro	meus	brônquios
	
então	cresço	semente	entorpecida
de	amores	virulentos	&	botânicos
	
escrevo	fêmures-de-adultos
e	um	metro	e	oitenta	centímetros
	
escrevo	pelos	pubianos,	unhas,
barba	e	cabelos	negros	e	maciços
	
escrevo	com	um	único	tiro
um	poema	(a)batido	pelo	tempo
	
que	me	envelhece	em	estalos
e	me	queima	dor	e	paixão	na	alma.
	
	
Pedro	Venturini
	
	
Eu	e	meus	devaneios	sobre	Kerouac,	parte	1
tens	toda	razão,
iluminados	são	os	vagabundos,
querido	Jack.
mentes	em	constante
ascensão,
embriagadas	por	Buk,
Ginsberg,	Buda,	cervejas,
Drummond,	Cristo...
as	estrelas	prenunciam
um	dia	de	sol.
o	amanhecer	sempre	chega,
claro,	alto.
a	hora	vai	chegar,
cedo,	inesperada.
é	tudo	tão	lindo	e
tão	orgânico	quando	se	aceita
a	real	condição
da	fragilidade	humana	e
quando	se	aceita	a	natureza,
a	cruel	&	linda	natureza
do	pecado
do	desejo
da	tristeza
da	mortalidade.
não	há	tempo
para	arrependimentos	eternos.
por	isso,	os	vagabundos
são	os	mais	puros	de	coração,
querido	Jack.
afinal	de	contas,
no	fundo
quem	não	é?
bem,	espero	que	eu	tenha	razão.
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
nem	sei
mais
o	intragável
é	tudo	
o	que	tenho
nem	verso	ou	haicai
nem	Mahler	nem	Mozart
Bukowski	morreu	faz	mais
de	20	anos
Fante	também
Céline	também
	
o	indizível
exige	novos	interlocutores
a	posteridade	é	uma	mentira
todo	homem	é	uma	farsa
ninguém	nunca	mais
nascerá	póstumo.
	
	
Roge	Weslen
Essas	capitais...
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	fuma	maconha	de	madrugada	enquanto	escuta	Nick	Cave
e	que	já	assistiu	a	todos	os	filmes	que	eu	queria	assistir
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	chega	bêbado	nas	aulas	da	Universidade	de	Psicologia
e	que	queria	mesmo	era	ser	cineasta
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
Que	já	teve	um	roteiro	recusado	pela	Amazon
e	escreve	loucos	contos	eróticos
que	se	fossem	lidos	no	século	passado
seriam	condenados	e	queimados
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	tem	a	alma	voyeur
e	sente	que	apenas	observa	outras	existências
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	é	fã	de	Serge	Gainsboug	e
fuma	um	cigarro	atrás	do	outro
enquanto	me	fala	de	um	cantor	de	música	country	dos	anos	60
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	ainda	não	desistiu	do	que	quer	e	que	sabe
que	mesmo	sendo	tudo	tão	difícil
ainda	há	tempo
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	não	se	importa	se	um	dia	seremos	grandes
e	apenas	bebe	outro	gole	de	conhaque
e	me	diz	que	seria	foda	viver	nos	20
com	Fitz,	Hemingway,	Zelda	e	os	caralhos
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	busca	sua	iluminação	em	porres	intermináveis	e																																																																																																																										
toma	rivotril	quando	está	atrás	de	um	pico																																																																																																																																																					
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	lê	meus	textos	e	diz	que	um	dia	seremos	ricos	e	idolatrados
e	que	a	eternidade	não	vale	nada	pra	gente
Tenho	um	amigo	em	São	Paulo
que	se	concentra	no	próximo	gole
e	fuma	camels	enquanto	escreve	textos
que	provavelmente	nunca	serão	lidos.
	
Roge	Weslen
	
	
	
Alguma	consciência
Sinto	coisas
vejo	coisas
às	vezes	as	compreendo
bem…	às	vezes
raramente.
	
Algo	entra	e	não	bate	na	porta
acho	que	esteve	comigo	durante	o	dia.
Isso	pesa,	dói,	me	guia
desde	a	aurora	dum	sorriso	infame.
Foi	aquele	frouxo	riso	consciente
na	nua	alma	melancólica
da	firme	máscara	sorridente
que	esconde	uma	vida	toda	amarga.
	
	
Aryana	Frances
	
Eu	sou	um	fodido.	
Penso	demais,	
Erro	demais,	
Vivo	demais,
Sinto	demais,
Bebo	demais,
Preciso	de	mais.	
Me	escondo	por	detrás	de
Frases	prontas	
E	do	emprego	ordinário	
E	do	sol	e	do	meu	volante	
E	da	forma	como	finjo	me	
Importar.	
Me	sinto	egoisticamente	
Livre	
Às	três	da	manhã	
Com	insônia,	
Contando	as	estrelas	do	meu	
Teto,	
Enquanto	algumas	estrelas	
Lá	de	fora	
Deixam	de	brilhar.
Escancaro	essa	ferida	aberta	
Para	que	possam	ver	o	sangue	escorrendo	
E	sentir	o	cheiro	da	nudez,	
Do	interior,
Da	profundidade,
Porque	é	isso	mesmo,	
Ela	dói	pra	caralho
E	a	não	ser	que	você	já	tenha	
Rasgado	seu	peito,
Perfurado	seu	coração	
E	mergulhado	nele	de	cabeça	enquanto	ainda	pulsante,
Não	entenderá.
	
Aleff	Ribeiro
	
	
No	final	das	contas,
Na	última	respirada	
No	último	olhar
No	apagar	das	luzes	
Depois	do	orgasmo	
Quando	acaba	o	efeito	
Quando	o	despertador	toca	
(Nem	sempre)	Após	o	Adeus	
Estamos	sós.	
Solidão	é	desejar	um	sorriso	para	admirar	
Um	ombro	para	dividir	o	fardo	
Uma	mão	para	manter	quente	a	nossa
E	não	encontrar.	
É	estar	no	meio	de	gente	e	não,	de	fato,	
Estar.	
É	entender	que	risos	e	abraços	e	
Bebidas	e	cigarros	e	
Transas	
E	amores	
Não	duram,
Que	ao	final	estamos	apenas	na	nossa	
Companhia,
Vendo	as	letras	miúdas	deslizarem	
Na	tela	do	filme	das	nossas	vidas.
	
	
Aleff	Ribeiro
	
Há	tamanha	solidão	nesse	mundo
Há	tamanha	solidão	nesse	mundo
que	eu	me	sinto	acompanhado
pelo	choro	daqueles
que	um	dia	já	sorriram.
	
Mães	de	santo	espalham	promessas	nos	postes	da	cidade
e	clínicas	psiquiátricas	ficam	lotadas	por	pessoas	sãs	que	carecem	de	atenção.
	
Há	tamanha	solidão	no	mundo
que	eu	me	sinto	abraçado	mesmo	quando	estou	sozinho
e	sinto	o	calor	daqueles	que	ardem
queimando	no	meu	peito.
	
Músicos	tocamsolos	eternos	sem	ninguém	para	ouvi-los
pintores	reproduzem	um	mundo	num	quadro	20x50
e	uma	sonhadora	protesta	na	rua
pelo	direito	à	felicidade
sem
ninguém
para
escutar.
	
	
Matheus	Peleteiro
	
	
Ausência
Eu	vivia,
certas	vezes	com	torpor,
assistindo	algo
sem	emoção,	sem	fulgor.
	
Mas	era	qualquer	coisa
que	passasse
sem	a	tevê
naquela	estação.
	
Eu	vivia
esperando	pelo	amor
só	pra	dizer
que	amo	sem	a	pretensão
de	ter	alguém	ao	meu	lado
pra	sentir	de	perto	mais	de	uma	solidão.
	
	
Aryana	Frances
	
	
	
Lar,	habitação
Noite	no	esgoto,
Há	rostos,	restos	e	trapos.
É	assim,	só	a	vida	de	ratos?
	
	
Aryana	Frances
	
	
	
A	vida	é	uma	bagunça	às	vezes	
Tudo	parece	virar	de	cabeça	pra	baixo	
Menos	você	
Te	deixando	com	vertigem	
E	sem	saber	o	que	diabos	está	acontecendo.	
A	vida	é	uma	bagunça	às	vezes	
Lança	golpes	certeiros
Sem	dó,	mas	sem	rancor	também	
Te	deixando	caído	no	chão,	engasgando	com	
O	próprio	sangue,	e
Perguntando	o	que	diabos	há	de	errado	consigo.
A	vida	é	uma	bagunça	às	vezes
Te	faz	sorrir	enquanto	te	fode	por	trás
Ao	som	de	"you	can't	always	get	what	you	want"
E	você	percebe	que	os	certos	e	errados	
São	carros	indo	e	vindo	sobre	o	mesmo	chão.	
A	vida	é	uma	bagunça	às	vezes
E	te	faz	realmente	pensar	que	
Não	sabe	como	viver,	e
Que	está	destinado	a	estar	nesse	mundo	
Fodido,	
Cambaleando	entre	cenas	que	
Às	vezes
Te	fazem	perceber	todo	o	ponto	
Dessa	falta	absurda	de	
Sentido.
	
	
Aleff	Ribeiro
	
	
	
Me	desculpe	pelos	catatônicos
Me	desculpe
pelos	esquizofrênicos
com	a	individualidade	reprimida
por	eletrochoque
seguido	de	morte
e	pelos	alcoólatras	negros
torturados
pela	loucura	dos	normais.
Me	desculpe
pelos	catatônicos
lobotomizados
deprimidos
e	pelas	possibilidades
de	Ser
aniquiladas
entre
quatro	paredes	de
uma	cela	psiquiátrica.
Me	desculpe
pelas	mulheres
prostituídas	e	estupradas
com	fezes	envolta
do	bebê	que	jamais
chegou	a	ver
e	pelas	crianças
sem	linguagem
sem	família
sem	infância
fadadas	aos	ratos
e	à	podridão.
Me	desculpe
pela	timidez	e	tristeza
pelas	mães	que	enviaram
seus	filhos
rumo	ao	homicídio
institucional.
Me	desculpe
por	beber	esgoto
e	urina
por	arrancar
meus	dentes
e	orelhas.
Me	desculpe
pelos	mortos	de
frio
e	de	doença
pelos	corpos	vivos
cheio	de	moscas.
Me	desculpe
pela	revolta
de	não	fazer	parte
da	sua	ditadura	social.
Me	desculpe
pelas	flores
apodrecidas
de	Barbacena
e	tantos	outros.
	
C.	Sanches
	
Vi	suas	mensagens.
Olhei	todos	os	recados
Eram	tantos
E	tantos	homens	em	sua	vida
Você	era	louca
E	estava	acabando	comigo
Destruindo-me	aos	poucos
Consumindo-me	com	seu	jogo	sujo
Eu	estava	caindo	direitinho
Como	um	peixe	pega	a	isca	no	anzol
Mas	sua	coragem	me	deixava	com	tesão.
A	falta	de	medo	e	o	fato	de	saber	que	estava	ficando	submisso	a	você:
me	deixava	ainda	mais	de	pau	duro.
Parecia	que	era	o	meu	combustível
E	quanto	mais	eu	ouvia	você	falando	de	seus	homens
E	quanto	mais	você	falava	perversidades	com	eles
Eu	ficava	com	mais	tesão.
E	meu	pau	latejava	como	se	estivesse	implorando	por	sexo.
Você	era	sexo	puro
Dos	pés	até	a	cabeça
Você	exalava	sexo
Sexo,	sexo,	sexo,	SEXO!
Eu	pensei	seriamente	em	pular	aquela	janela,	fugir	enquanto	você	dormia
Ir	embora	e	não	olhar	mais	em	seu	rosto,
Mas	só	conseguia	ter	ódio	de	todos	aqueles	homens
E	ficava	a	amaldiçoá-los	em	minhas	orações
E	pensava	se	todos	teriam	te	comido	melhor	que	eu
Mas	eu	parecia	ter	sido	o	melhor
Você	nunca	teria	gozado	daquele	jeito.
Não	com	outro.
Eu	era	durão	e	aguentaria	mais	essa.
Eu	sabia	que	iria	sofrer,	mas	não	importava.
Valeria	a	pena,	valeria	e	muito.
Você	merecia	o	meu	desprezo,	mas	eu	queria	te	dar	amor.
Acabei	o	poema	sorrindo	e	voltei	para	o	lado	direito	da	cama	e	fiquei	te	olhando	dormir	com	minha
camisa	e	sem	calcinha.
	
	
João	Farias
	
	
	
Foi	você
Para	Amanda	Quaresma
Os	melhores	poemas	que	eu	já	escrevi
foi	você	quem	fez.
	
As	melhores	viagens	que	fiz
foram	para	dentro	de	ti.
	
	
Matheus	Peleteiro
	
	
Não	qualquer	uma,	jamais,
Porém,	você,	
Sempre	você.	
Até	a	reta	final	de	tudo.
Pois	tudo	que	já	vivi
meu	bem,
com	você	foi	mais	intenso.
Pois	de	todas	as	drogas	que	eu	já	usei	
tua	essência	delicada
foi	a	que	mais	causou	danos.
E	de	todas	as	loucuras	que	já	cometi,
te	amar	foi	de	fato	a	mais	arriscada.
E	no	fim	te	fiz	acreditar	que	te	amar	foi	um	tropeço
lá	no	começo.	
Triste	e	inevitável	é	a	ilusão	do	desentendimento.
Enquanto	desapareço
através	de	um	grande	"basta!"
teus	traços	faciais	e	teus	relâmpagos	de	Jéssica	
se	dispersam...
Desvanecendo	igual	cinzas.
Inevitavelmente	seguimos
numa	outra	viagem	sem	rédeas.
	
Rennan	Sama
	
Se	existe	um	infinito	entre	o	Zero	e	o	Um,
Há	outro	muito	maior	entre	os	anos	de	uma	vida.
Somos,	então,	eternos	mortais.
O	rastro	de	perfume	deixado	pelo	passante.
O	silêncio	entre	uma	e	outra	batida	do	coração.
A	ironia	da	efemeridade,	que	torna	a	perfeição	Compreensível.
Somos	circenses	pulando	de	eternidade	em	Eternidade	compelidos	pela	morte	a	dar	o	próximo
Salto.	
Somos	a	flor	apanhada	pelo	romântico	e	apreciada	pela	amada.
A	metáfora	estapafúrdia	e	impossível,	que	provoca	um	riso	fora	de	tempo.	
Somos	o	nexo	da	loucura,	e	a
Exatidão	do	subjetivo.
Somos	a	forma	encontrada	pelo	universo	de	ser	Sua	própria	plateia,	dando
Olhos	a	si	mesmo	para	que	pudesse	ser	Contemplado;
E	boca,	para	ser	gritado,	rido,	beijado.
Entre	um	sono	e	outro,	nas	palavras	cunhadas	na	madrugada,
Jogadas	ao	silêncio	junto	ao
Sax	e	ao	piano	de	fundo;
Entre	o	corpo	cansado	e	a	mente
Ansiando	liberdade,
As	antíteses	e	paradoxos	dançam	monotonamente,	rindo	pelas	beiradas	das	Camas	dos	que	dormem,
como	dois	amantes	que	se	beneficiam	da	ignorância	alheia.
	
	
Aleff	Ribeiro
	
	
Ela	tomava	doce	toda	semana	
pra	me	acompanhar	
&	ia	ao	bar	de	segunda	a	segunda	
e	me	via	esgueirar	entortando	o	corpo	
a	cada	copo	
&	saia	pela	cidade	na	madrugada	fria	
em	busca	de	uma	dose	cavalar	
de	suicídio	sofrimento	salvação	
sussurros	dentro	da	cabeça	
(mas	eu	louco	de	pó	
a	alcançava	antes	
de	chegar	a	lugar-algum)	
&	então	ela	chorava	cheirava	no	banheiro	
olhando	pra	privada	suja	
&	bebia	Coca-Cola	
mascando	chiclete	como	uma	criança	
que	recém-virava	órfã	
mas	como	se	nunca	
tivesse	tido	
mas	como	se	nunca	
tivesse	sido	
nada	daquilo	–
	
	
Pedro	Poker
	
	
Fizera	casa	no	meu	peito
—	esse	vazio
veio	com	a	mudança.
	
	
Ana	Flavia	Sarti
	
Sonho	de	uma	Noite	de	Verão
teu	cangote	cheirando	à	Lavanda
e	perfumes	etílicos	que	evaporam	no	mormaço	de	uma	noite	de	verão.	
você	sentada	em	seu	trono	de	framboesas	derretidas,	
com	seu	longo	vestido	negro	de	decotes	homicidas.	
a	marca	de	batom	no	cigarro	de	palha,	
doses	de	clonazepam	e	conhaque	relaxando	os	músculos	da	consciência.
nosso	cavalo	Pégaso	marchando	pelas	ruas	fantasmas	da	madrugada,	
galopando	pelos	viadutos	como	se	fosse	constelações	estrelares	
e	invadindo	nebulosas	nuvens	carregadas	de	morfina	e	minério.
eu	quero	abafar
com	beijos	de	cevada	
a	risada	da	caveira	ébria	guardiã	de	dolorosos	crepúsculos.	
do	alto	da	varanda	dos	seus	sonhos	lúcidos	
todo	céu	é	blues	
e	chove	diamantes	reluzentes	
em	forma	de	lágrimas	nos	olhos	da	minha	amada.
	
	
Joe	Arthuso
	
Para	aquela	que	me	mandou	embora
Ela	me	culpava	por	não	dar	importância	ao	seu
diploma	em	Literatura	Estrangeira	pela	USP
e	por	nunca	ter	ido	à	um	daqueles	saraus
de	universitários	recitar	meus	poemas
	
Ela	me	chamava	de	burro
porque	Borges	nunca	esteve	entre	os	meus	favoritos
e	porque	eu	só	sabia	idolatrar	Fante	e	Miller	e	Céline
e	alguns	outros	que	seria	cansativo	citar
	
Ela	jogava	na	minha	cara	que	praticamente	me	sustentava
e	que	eu	ficava	todo	dia	só	escrevendo	e	escrevendo	
e	escrevendo	e	que	nunca	saíamos	e	só	trepávamos
nosintervalos	entre	um	conto	ou	um	poema
e	que	nenhum	daqueles	poemas	eram	sobre	ela
	
Sim
Ela	sempre	me	perguntava	se	eu	escrevia	meus	poemas	pensando	nela
eu	não	sabia	como	responder
já	que	quando	escrevia	minha	cabeça	se	esvaziava	por	completo
e	não,	eu	acho	que	nunca	dediquei	nenhum	poema	para	ela
	
Ela	disse	um	dia	que	estava	farta	de	mim	e	da	minha	vagabundice
e	indiferença
e	que	eu	devia	pegar	minhas	coisas	e	ir	embora
assim	mesmo,	como	naquelas	comédias	românticas	americanas
então	peguei	minhas	coisas	e	fui	sem	me	importar
nunca	soube	o	que	sentia	por	ela	de	fato
	
Esses	dias	nos	encontramos	na	rua
ela	parecia	muito	feliz	e	sorridente
disse-me	que	havia	se	casado	na	semana	passada
e	que	tinha	acabado	de	descobrir	que	estava	grávida
––	doida	para	contar	para	o	marido.
	
E	me	abraçou	e	me	desejou	sorte	e	disse	tchau
e	eu	sorri	e	disse	tchau
me	senti	infinitamente	estranho	e	destroçado	naquele	momento
	
acho	nunca	vou	poder	contar	a	ela
que	finalmente
escrevi	um	poema
pensando	em	seu	nome
com	minha	tristeza
ironicamente	dedicado	à	sua	felicidade.
	
Roge	Weslen
	
Barulho	do	trafego	--
ouvi	alguém	me	chamar
pelo	nome
	
Pedro	Poker
	
Para	G.
Ao	atravessar	
a	rua	e	quase
ser	atropelado;
ao	estremecer
quando	a	gastrite
me	mastiga;
nos	delírios	da	tarde;
	
no	abandono	
da	remota	memória;
ao	lembrar	
dos	lábios	estranhos
que	me	tatuaram	
o	corpo	em	saliva;
	
ao	ouvir	Gilberto	Gil;
	
com	as	legendas	
em	francês	daquele
filme	com	Louis	Garrel;
	
quando	violeta	de	raiva	
partiu	com	a	honestidade	
tingida	nos	olhos;
	
agora,	nesse	escritório
vazio	e	cinza	marrom;
	
penso	até	as	artérias,
penso	na	ponta	dos	dedos,
penso	até	na	alma
–	seja	lá	o	que	isso	for	–	
penso	câncer,	vida,
ocupação	mental	e	retalhos
desavisados	do	que	erámos,
penso	notícias	frias	em	dias	sós.
Eu	penso	seu	rosto,
seu	carinho,	suas	vibrações,
eu	penso	em	Você.
	
	
Pedro	Venturini
	
	
	
Admito,
Sou	cheirador!
Pois	cheiro	a	dor
Da	sua	ausência
E	as	dores	do	mundo
Enquanto	você	não	volta
E	o	mundo	não	acaba
Comigo
Nem	eu	com	ele.
	
	
Saulo	Matos
	
	
	
	
A	verdade	é	que	eu	ando	triste
mais	triste	que	um	alcoólatra	
budista
deitado	no	sofá
recitando						
o	mantra	dos	teus	olhos	castanhos
como	se	ainda	fosse	possível	um	nirvana
que	não	o	último	gole	
amargo
do	rum	barato.
A	verdade	é	que	eu	te	prometi
no	silêncio
do	táxi	escuro	nunca	mais	falar	de	Chet	Baker	
em	uma	poesia
e	que	eu	devia	acreditar	que	aquele	
silêncio	significava	alguma	coisa.
A	verdade	é	que	agora	eu	tô	sentado
contando	meus	dedos
porque	não	tenho	nada	mais	para	fazer.
As	pessoas	tristes	estão	por	toda	a	parte
como	eu
procurando	por	alguma	verdade
que	as	levou	para	essa	situação
e	ter	acreditado	
mais	uma	vez
a	última	vez
nos	teus	afagos
e	no	balançar	da	tua	cintura
me	jogou	novamente	
na	solidão	da	noite	infinita
a	noite	está	velha
assim	como	eu.
	
C.	Sanches
	
Toda	autodestruição	é	uma	forma	de	amor	
Se	vamos	todos	ao	encontro	da	morte
Morreremos	então	por	amor	à	Carne	
Pela	fumaça	que	corrói	os	pulmões	
Pela	bebida	barata	e	cirrose	hepática	
Pela	cafeína	e	a	dor	no	estômago	
Pela	tranquilidade	da	dopagem	antidepressiva
Morreremos	então	pela	contracultura	
Por	novas	formas	de	pensar	
Por	toda	individualização	de	sentimentos	
Por	tudo	que	não	sabemos	sentir	
Pela	poesia	dos	malditos
Pela	música	dos	loucos	
Pela	dança	dos	epiléticos
Morreremos	então	por	tudo	de	mais	intenso	
Por	atos	desesperados
Por	anseios	inconcebíveis	
Por	medos	e	angústias	
Por	sonhos	destruídos
Por	amor	
Porque	todo	amor	é	uma	forma	de	autodestruição.
	
	
C.	Sanches
	
	
Medo
Medo	das	traças,
Dos	relógios
E	de	perder	a	graça.
Aryana	Frances
	
	
Eu	e	meus	devaneios	sobre	Kerouac,	parte	2
envolvido	por	uma	névoa
de	loucura	e	álcool
e	café	e	anfetaminas
movido	por	poemas
e	escritores
imortais	e	pelo	som
dos	alucinados	bebops
dos	anos	40	e	50
sentia	a	vida	queimar
nos	ossos
na	pele
na	alma
consumido	quase	que	completamente
pela	paixão	por	algo	mais
a	cada	amanhecer.
mas	vivenciar	não	foi	o	bastante.
encontrou	na	literatura
o	âmago	da	chama
a	vocação
a	salvação
para	esse	mundo
desajustado	e	louco.
perambulou	pelas	rodovias	e
embarcou	em	navios
e	trens	imundos
em	busca	de	emoção
e	sentido	&
sensação.
cada	experiência	contada
em	uma	lírica
instigante	e	espontânea
e	cativante.
fez-se	eterno
beatificado	numa	escrita
cheia	de	beleza
e	melancolia	e	amor.
repleta	de	humanidade.
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
Autor	desconhecido
acabo	de	ler
o	mais	lindo	&	sincero
poema
já	escrito.
autor	desconhecido.
uma	pitada	de	Vinicius
com	García	Lorca.
	
um	mártir
canonizado	santo.
linhas	ditas,
como	uma	promessa.
uma	prece.
um	poema	tão	revelador
que	nem	mesmo
o	escritor,
agora,	se	reconhece.
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
estou	cheia	da	linguagem	poética
e	de	tanta	hipérbole
que	sinto	meu	coração	saindo	pela	boca.
me	sinto	louca	e	grito
grito!	grito	por	dentro	até	ficar	rouca,
sentada	na	mesa	em	silêncio,
quieta	no	meu	canto.
ah,	o	poema!	santo!
santo	poema!
santo	Sama!
santo	Peleteiro!
santo	Weslen!
santo	Ginsberg!	musa	inspiradora.
santa	cama!
onde	meus	piores	pensamentos
nascem	e	nunca	dormem.
santo	vinho!
que	me	influencia	nas	mais
importantes	decisões
e	me	entrega	as	malditas	palavras,
que	como	balas	de	canhões
me	ferem	com	lembranças
na	ressaca
logo	noutro	dia	de	manhã.
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
eu	quero	morar	
em	ti.
e	passear	a	boca
pelo	teu	corpo	e	pernas
pescoço	costas	virilha
eu	quero	esquecer	
minhas	mãos	na	tua	cintura	
e	tuas	mãos	na	minha	nuca
e	nossas	mãos	apertadas
contra	o	lençol
quero	lamber	tua	alma
e	exclamar	teu	gozo
envolver	teu	cheiro	em	mim
eu	quero	o	peso	da	tua	cabeça	
no	meu	peito
o	som	doce	do	teu	prazer
e	a	tua	ira	sem	raiva
cuspida	em	mim
espalhada	no	meu	rosto
escorrida	no	meu	corpo
quero	teu	corpo	tremido	
em	cima	do	meu	e	os	teus	olhos
fechados	a	ver	algo	talvez	alma.
tua	alma	nua	e	crua
curvas	suor	suspiro
quero	ser	roupagem
do	teu	espírito	insano
a	gritar	aos	quatro	
cantos	do	quarto	o	meu	nome
e	que	os	teus	suspiros
sejam	tão	altos	que	só	eu	ouça
também	quero	morar	no	teu	peito
riscar	no	muro	do	teu	corpo
que	teu	cheiro	é	meu
cais
eu	sou	cheio	de	querer
desculpa
	
Iago	Souza
	
	
Todos	os	discos	jogados	no	chão
Alguns	vinis	quebrados
E	o	CD	do	Cazuza	que	eu	comprei	em	liquidação	em	pedaços
Você	me	dizendo	que	não	presto
Que	não	tenho	valor	nenhum
"você	é	um	canalha"
E	eu	acho	que	já	ouvi	isso	em	algum	lugar
Enquanto	você	fala
Vejo	sua	boca	abrindo	e	fechando	e	dá	pra	ver	seu	gargalo
Então	me	perco	nos	pensamentos
E	vou	longe	e	volto	novamente	e	percebo	que	você	jogou	todas	as	minhas	camisas	pela	janela
E	tocou	fogo	no	colchão	da	nossa	cama
Pois	tinha	o	cheiro	da	puta	que	deitei	enquanto	você	viajava
Todos	os	meus	livros	jogados	fora
Folha	por	folha	pela	janela
E	as	pessoas	ignoravam	como	se	não	importasse	que	estivesse	chovendo	literatura	(já	que	não	era
dinheiro)
E	eu	vejo	Cioran	voando	pela	janela
Bukowski	caindo	no	esgoto
Dostoiévski	caindo	dentro	da	calcinha	estendida	na	janela	do	apartamento	do	primeiro	andar
Allen	Ginsberg	sendo	usado	pra	limpar	o	cu	de	uma	velha	que	caga	escondida	atrás	do	lixeiro	num	beco
escuro
Oswald	sendo	devorado	por	um	mendigo	que	acreditou	aquele	papel	ser	um	pedaço	de	presunto	enviado
por	Deus
Eles	pareciam	querer	me	dizer	algo,	mas	estavam	distantes	demais	para	tal
E	Cazuza	nunca	mais	tocará	na	minha	amplificadora	fodida	que	achei	num	lixão	perto	de	onde	moro
Veneza	não	terá	mais	graça	e	minha	gata	não	mais	irá	miar	pedindo	por	carinho	enquanto	passa	entre
minhas	pernas
Que	estão	embaixo	da	escrivaninha	onde	minha	máquina	de	escrever	Olivetti	fica	sobre,
pedindo	pra	ser	dedilhada	todas	as	noites
E	todas	as	noites	descontomeu	ódio	ali	até	os	dedos	sangrarem	e	ela	pedindo	por	piedade	fale	comigo
"chega	de	poesia	por	hoje!"
E	eu	coloco	um	pouco	de	café	misturado	com	cocaína	e	continuo	acordado	gozando	da	vida
E	rezando	pra	que	seu	namorado	morra
e	eu	possa	casar	com	você	numa	igrejinha	do	interior	de	Alagoas.
	
João	Farias
	
	
	
não	é	por	nada	não
mas	dentro	de	mim	
tem	um	puteiro
que	abre	as	portas
toda	vez	que	cê	vai	embora.
	
Roge	Weslen
	
	
Vulva	profunda	
vão	que	quase-chega	
no	buraco	da	bunda	
que	não	pode	ser	confundida	
que	não	pode	ser	fodida	
(e	sim	amada	com	
beijos,	delícias	e	carícias)	
sulco	que	carrega	o	mundo	
teu	suco	de	sabor	único	
míngua	em	minha	língua	
prazer	eufórico	que	deixa	
tudo	fora	do	eixo	
liquido	aquoso	silencioso	
e	oco	
ao	mudar	o	foco	da	cabeça	
no	cabaço	do	pau	
Buceta	poderosa	
Fada	misteriosa	
baba	de	caldo	fictício	
saliva	a	um	passo	
do	precipício	
Símbolo	antigo	no	
qual	me	enfio	
no	qual	me	meto	dentro	
sem	questionamento	
Metáfora	que	aflora	
levando	a	mente	
da	órbita	pra	fora	
Desejo	que	dá	
à	vida	asas	compridas	
e	dedos	&	dentes	
pacientes	o	suficiente	
para	aguentar	até	
o	próximo	presente
ou	até	o	próximo	
gozo	quente
	
Pedro	Poker
	
	
Doutor	Isac	me	disse	que	sou	hipocondríaco	
e	que	a	minha	mais	nova	neurose	é	você	
que	eu	deveria	conhecer	novas	pessoas	
e	que	não	é	hipocrisia	sorrir	
mesmo	sem	vontade	
o	fato	é	que	sinto	necessidade	
de	ouvir	seus	batimentos	cardíacos	
em	proximidade	
aos	meus	
na	mesma	intensidade	
e	velocidade	
e	o	que	ele	não	sabe	
é	que	amar
tem	dessas	perversidades	
de	te	transformar	em	um	louco	
com	atitudes	irracionais	
selvagens
e	mortais	
Não	sabe	que	o	amor	
é	um	caroço	insignificante	
que	o	tempo	
sem	que	percebamos	
trata	de	evoluir
em	um	câncer	
e	tudo	
que	resta	é	a	podridão
Todo	amante	
é	um	hipocondríaco
em	evidência
Joe	Arthuso
	
A	moça	de	meias	calças
Já	era	madrugada,
e	num	vagão	de	metrô,
ela	entrou:	sexy	&
embriagada.
Sentou-se	desejando	apenas	uma	coisa
naquela	madrugada:
deleite.
	
Um	rapaz	notou	sua	situação	acolhedora
após	o	sorriso	que	ela	lhe	desferiu
e,	sagaz	como	um	legítimo	gentleman,
notou	em	sua	saia	jeans
uma	abertura	que	exibia	sua
bela	calcinha	de	renda	preta.
	
Sentou-se	ao	seu	lado	e,
jeitosamente,
sem	lhe	dirigir	a	palavra,
afagou	apenas	a	ponta	da	saia,
em	silêncio,
enquanto	todos	estavam	na	parte	de	trás.
	
Observando	a	expressão	da	moça
para	analisar	a	sua	vontade,
começou	com	as	pontas	dos	dedos
e	seguiu
em	direção	a	sua	boceta,
que,	no	momento,
já	estava	encharcada.
	
Enquanto	portas	se	abriam,
a	moça	contorcia	as	pernas
em	cada	estação
e	sorria:
tensa,
delirando	de	prazer.
Sabia	que	aquilo	não	eram	bons	modos,
mas,	que	podia	fazer?
A	moça	simplesmente	não	conseguia	parar,
e	não	queria.
	
De	repente,	o	metrô	parou.
O	rapaz	se	levantou	e	partiu.
Ela	não	pôde	ver	o	seu	rosto,
porém,	de	que	importava	um	rosto,
se	tudo	que	ela	queria	eram	aqueles	dedos
entre	as	suas	pernas?
	
A	moça,	naquela	noite,
um	tesão	inesgotável.
E,	mesmo	deixada	ali,
solitária,
de	pernas	abertas
e	coração	fechado,
voltou	todas	as	noites
na	esperança	de	repetir	aquele	ato.
Sentava-se,
com	sua	saia	curta	e
sua	meia-calça	de	sempre,
olhava	para	frente
e	esperava	que	algo
acontecesse.
	
Esperava	por	horas,
na	esperança	de	que	aparecesse	novamente
aquele	homem
que,	definitivamente,
sabia	usar	os	seus	dedos.
	
Matheus	Peleteiro
	
	
	
	
Nossos	olhos
Se	encontraram
E	nossas	almas
Se	perderam
Na	eternidade
Finalmente.
	
	
Saulo	Matos
	
	
desperdicei	os	dias
negando	as	vontades.
achei	que	o	tempo	não	passasse
e	que	todas	as	idas
teriam	regresso.
me	exilei	numa	ilha
que	habito	por	proteção.
achei	que	as	vontades	do	coração
eram	maravilhas
em	excesso.
levei	tudo	muito	a	sério.
levei	ao	pé	da	letra
tudo	que	foi	dito.
porém,	sei	que	nada	é	infinito.
sei	que	nada	é	eterno.
no	fim,	acho	que	tenho	que	esquecer.
tudo	que	você	tem	a	me	dizer
não	deixe	pra	depois,
peço	que	me	diga	agora.
não	haverá	outra	aurora
pra	nós	dois.
	
	
Ana	Flavia	Sarti
	
	
	
Eu	alcancei	a	puta	e	lhe	perguntei	o	seu	preço.
Ela	respondeu	''	cinquenta	pelo	começo.	''
Lhe	perguntei	quanto	custava	a	submissão,
e	ela	disse	oitenta.
Eu	dei	noventa,
Ela	disse	senta.
Se	encaixou	no	meu	colo
e	se	contorceu,
e	eu	imaginei	que
a	atitude	súbita	havia	sigo	paga
com	os	dez	de	gorjeta.
Eu	só	queria	um	diálogo	genial
com	uma	puta	qualquer,
e	sobre	o	prazer,
eu	sempre	me	viro	com	a	punheta.
	
Eu	lhe	perguntei
o	preço	da	sua	alma,
paralisando	seus	movimentos
sem	vida.
Ela	me	encarou	com	uma	expressão:
aflita!	
Que	puta	divina,	pensei.
	
E	então,	após	alguns	segundos,	ela	respondeu:
''A	alma	é	um	jogo	complicado.
Você	me	promete	conceder	o	espaço
onde	deveria	estar	a	sua.
Só	então	fechamos	o	contrato.''
	
Essa	puta	nunca	existiu.	
É	parte	da	minha	ficção
de	inventor,	escritor,	poeta
ou	seja	lá	como	você	chamar.
	
O	importante	é	que	essa	história	não	existiu,
simplesmente	porque	eu	nunca	haveria
de	ter	um	diálogo	genial	com	uma	puta.
	
Mas	o	nome	dela	era	Dilene!
Adivinha	a	razão!	É	engraçado...
Foi	o	nome	que	um	colega	inventou
nesta	tarde,
quando	conversávamos	sobre	nomes
que	começam	com	''Di''.
	
É	um	mundo	louco.
E	esse	poema	é	mais	um	poema
sobre	uma	frustração.	
É	sobre	as	risadas	fracas	da	vida,
que	a	gente	solta
em	meio	aos	suspiros	fundos,
mais	fundos
que	o	poço	no	qual	nos	encontramos
quase	sempre.
	
quase	sempre
por	uma	razão	inquebrável
e	irreversível.
Rennan	Sama
Beleza	é	coisa	que	esfaqueia	a	gente	pelas	costas
eu	não	acredito	mais	em	beleza
a	traição	começa	sempre	no	belo,
tal	qual	a	traição	do	bom.
do	mal	e	do	feio	podemos	esperar
sempre	a	mesma	coisa,
são	seres	que	não	mudam.
Tenho	sentido	meu	corpo
como,	acho,	nunca	o	senti	antes.
Tenho	sentido	cada	uísque,	cada	carreira,
cada	copo	e	cada	porção	de	torresmo
que	como.
Tenho	sentido	meus	músculos
de	elástico	frouxo
e	câimbra	alcoólica	persistente.
E	tenho	sentido	meus	órgãos,	
cada	um	a	sua	maneira
e	cada	qual	com	suas	consequências.
Tenho	sentido	meus	rins	que	doem
tal	qual	uma	paulada	seca
no	saco.
O	fígado	inchado	e	marcado	na	barriga	como	um	tumor
e	o	branco	dos	olhos	amarelados	de	bilis.
meu	estômago	ressequido	de	junk
-	a	minha	junk	e	não	a	convencional
daquele	livro	dos	anos	cinquenta.
e	o	corpo	reclama	
como	um	pistão	desgastado	pelo	uso
fazendo	o	motor	rugir	de	dor	como	uma
cadela	pós-coito,	caralho	e	boceta	torcidos
numa	tarde	de	verão.
tenho	sentido	também	minha	cabeça	doente
que	mostra	os	primeiros	sinais	do	álcool
diário.
o	ódio	e	os	colapsos
dos	nervos	ruins.
hoje	sou	mais	ansioso	que	ontem.
delírio	e	tremores	involuntários.
tenho	sentido	medo
me	olhando	descolar	do	espelho	pequeno
do	banheiro.
De	uma	maneira	muito	específica,	pelos	olhos	do	uísque	turvo	e
falsificado.
sinto	que	morro	mais
uma	vez.
	
	
Eric	Moreira
	
	
	
Dizem	que	um	homem	feliz	vive	com	pouco
Sou	um	homem	feliz	e	realizado
Me	bastam	apenas	três	coisas	
Minha	mulher,	batida	de	limão	
e	comer
Como	um	porco	capado.
	
	
Eric	Moreira
	
uma	mãe	de	santo
uma	vez	
me	disse	que	
calada	é	a	noite
eu	não
não	me	calam	as	armas
e	as	fardas
os	gritos	que	sejam
nem	de	ódio
nem	de	socorro
não	me	calam	os	dias
as	horas	e	o	tempo
o	pouco	o	oco
a	treva	e	o	trevo
a	sorte	e	o	azar
as	balas	que	insistem
em	perfurar	e	explodir
e	eclodir	e	repelir	o	peito	
tão	baldio	quanto	a	esquina
da	minha	rua
não	me	calam	nem	as	grades
e	as	calamidades	
nem	o	verso	a	maldição
e	a	benção	também	não
não	me	calam	as	mãos
firmes
que	apontam	o	leve	e	o	livre
nem	os	calões	as	multidões
não	me	cala	nem	a	mordaça
quem	tenta	
calar	pra	falar	em	ordem
e	o	toque	que	não	seja	de	acolher
e	recolher	esse	verso	invisível
barulhento	einsensível
que	sempre	diz	o	indizível
é	de	grito	que	se	faz	essas	ruas
e	calçadas	escuras	cheia	de
histórias	tristes	e	absurdas
não	me	calam	os	calos	nas	mãos
nem	o	grito	de	quem	acerta	na	razão
só	o	que	me	cala	é	a	boca	é	o	beijo
é	o	coração
	
	
Iago	Souza
	
	
	
Sonho	real
Suspiro,	sonho	tranquilo;
tiros,	caos	a	caminho;
sorrio,	tenho	você	em	meu	destino.
	
	
Aryana	Frances
	
	
Quem	guarda	o	santo	de	guarda	adia	o	juízo
final
Dizem	que	algumas	pessoas	sentem	até	o	cheiro	do	calibre	que	atira
eu	lembrei	disso	quando	me	joguei	no	chão	no	meio	de	um	tiroteio	no	boteco	da	Zira
senti	o	cheiro	do	conhaque	derramado,	da	cerveja
senti	até	o	cheiro	do	mijo	escorrido	de	algum	cagão	que	mijou-se	nas	calças.
Foi	a	primeira	vez	que	presenciei	um	tiro	com	vontade	de	morte.
Demorei	a	me	levantar,	fiquei	debruçado	no	chão	do	bar	até	que	a	dona,	Alzira	da	Conceição	Pinheiro,
veio	me	pegar	pela	mão.
Achou	que	eu	tava	ferido.
Mas	eu	só	tinha	medo	e	porre.
O	medo	não	deixava	eu	levantar,	o	porre	me	impedia	de	tentar.
Quando	me	sentei	na	cadeira,	pedi	um	trago	pra	tentar	recobrar	os	sentidos
Zira	trouxe	pra	mim	um	copo	de	conhaque	e	afagou	minha	cabeça
“Menino	de	deus,	foi	por	um	dedo	que	o	tiro	não	te	pega.	Você	tava	logo	na	reta	da	bala.	Deus	foi	quem	te
salvou”
Mas	eu	queria	dizer	pra	dona	Zira
Deus	me	salvou	de	muita	coisa,	se	eu	botar	fé	na	palavra	de	quem	crê	nisso.
Quase	caí	da	janela	do	terceiro	andar	com	menos	de	quatro	anos
quase	me	dei	mal	numa	boca	com	dois	maluco	sem	medo	de	morrer
que	questionaram	a	qualidade	do	bagulho
quase	levei	uma	facada	de	um	corno	ciumento	no	centro	da	cidade.
Se	deus	me	salvou	de	tudo	isso,	viro	crente,
Eu	disse.
Mas	eu	não	acho.
Eu	tenho	meus	próprios	santos
Acredito	no	meu	santinho	de	zé	pelintra
E	maria	navalha
Que	eu	cuido	com	muito	amor.
Eles	é	quem	me	conhecem
Mais	que	o	Deus	jeová	evangélico
Que	pune	e	que	mata
Quem	não	crê.
Nunca	tive	medo	de	inferno
Sei	bem	o	caminho	que	trilho	e	confio	demais
nos	espírito	que	me	guia.
Tatuei	uma	navalha	no	braço
Porque	toda	navalha	é	uma	promessa
De	vida	ou	de	morte
E	eu	sempre	fui	um	homem	de	palavra.
	
	
Eric	Moreira
	
	
Você	que	secou	minhas	palavras	tristes	escritas	antes	num	papel	qualquer,	Você	que	não	me	viu	flutuar
como	o	som	dum	sax	sobre	a	cidade	de	lugar	à	lugar	sem	encontrar	algo	que	valha	a	pena	nomear,	
você	que	lutou	contra	a	vida,	entre	ela	encontrou	alguém	para	ajudar	–	teu	olho	bateu	com	o	meu,	teu
sorriso	falso	na	minha	boca,	
você	que	me	suportou	seis	vezes	por	semana	bêbado	e	no	sétimo	a	ressaca	–	e	agora	
o	baseado	é	sempre	para	dois,	
você	que	provou	através	dos	olhos	que	até	no	tudo	se	encontra	o	nada	e	vice-versa,	
a	poesia	é	meu	corpo	tanto	quanto	a	cerveja	no	copo,	tanto	quanto	o	pouco	que	considero	louco	por	não
ser	maior:	
Queria	eu	lembrar	tudo	o	que	vejo,	
queria	eu	saber	o	que	estou	falando	–	
Queria	eu	subir	ao	céu	e	descer	ao	inferno	e	escutar	a	paranoia	em	teu	ouvido	calado,	minha	língua	um
verme	enrolado	em	teu	pescoço	
–	Não	prometo	bom	caminho	na	sequência	de	passos	dos	meus	pés,	no	arrastar	de	sandálias	–	
sem	profecias	neste	poema	–	sem	perigo	esse	tiro	
de	cocaína.	
Eu	inspiro,	e	expiro	o	espírito	então.
	
	
Pedro	Poker
	
	
eu	tenho	pena	dos	eruditos	porque
o	amor	deles	é	suicida,	o	amor	dos
eruditos	se	joga	da	montanha	e	implora	pela	amada,	escreve	sonetos	e	cartas	de	amor	perfumadas	e
decoradas	por	flores	de	algum	jardim	secreto
de	uma	montanha	longínqua,
eu	tenho	pena	dos	eruditos	porque
eles	só	amam	se	for	aquele	amor
de	serenata	e	novela	mexicana,
que	declama	"ne	me	quitte	pas"	no	mais
perfeito	francês,	o	amor	dos	eruditos	é
quase	religioso,	o	amor	dos	eruditos
nunca	entenderia	o	poema	raso	que	fiz
sobre	aquele	lençol	rasgado	que	nos	cobria,
o	amor	erudito	não	entenderia	o	que	te	escrevi	e	mandei	num	guardanapo	sujo	do	bar	do	Bené,
os	eruditos	não	entendem	o	amor	marginal,	o	amor	que	te	oferece	uma	música	do	Belchior,	uma	cerveja
e	uma	tarde	inteira	de	sorrisos	soltos,
eu	tenho	pena	dos	eruditos	porque	eles
não	entendem	nada	de	amor,
amor	não	é	isso	que	te	ensinaram	na
escola,	o	amor	é	tudo	que	eles	diziam	ser
vazio
&
Insignificante
	
Iago	Souza
	
	
Mestiço
Em	uma	queda	d'água
meu	olhar	cruzou	com	o	seu	.
Por	trás	dos	seus	óculos	escuros,
a	correnteza	e	o	rio
deixaram	que	o	papel	se	movesse	como	um	mito.
	
Por	instantes	permaneci	arrebatada	em	ânimos
com	a	certeza	de	que	encontros	incertos	nos	trazem	a	brisa
soprada	pelo	mar	da	vida.
	
Quem	pode	provar	do	seu	olhar,
mestiço	castanho	claro,
rende-se	ao	esboço	de	um	sorriso	monalístico
deixado	em	um	parque	ambiental.
	
Hey,	mestiço,
você	escalou	meu	desejo
e	fez	alguns	momentos	parecerem	ilusão.
Onde	está	seu	sorriso	mostrando	os	dentes
com	seus	olhos	pouco	apertados?
Diga	onde	está	seu	beijo?
	
Perguntas	sem	respostas
como	um	simples:	quanto	custa?
consumida	em	timidez,
foda	mesmo	é	não	saber	responder.
	
Queria	a	eternidade	na	noite	que	passou
por	momentos	envolvida
porém,	já	sentia
a	realidade	que	voltou.
	
Hey,	garoto,
você	escalou	meu	desejo
desorientou	minha	razão,
meu	poder	de	dizer	sim	ou	não.
	
Flutuar	em	seu	olhar,
mestiço	castanho	claro,
em	plena	corda	bamba
fez-me	perder	meus	pensamentos
em	cachoeiras,
em	desencontros.
	
	
Estefani	Camile
	
	
	
	
Cabe
No	espaço	entre	sorrir	e	beijar
cabe	minha	eternidade
em	seu	suspirar.
	
	
Aryana	Frances
	
	
	
As	noites	são	frias	ao	sul	do	Equador
as	noites	são	tristes
e	eu	estou	cansado	de	escrever	sobre
a	noite
sobre	você
sobre	minha	tristeza
sobre	o	jazz
estou	cansado	de	escrever	sobre
cerveja
sobre	os	mendigos
sobre	os	loucos
estou	cansado	de	ser	poeta
de	ser	o	que	não	sou
nunca	vou	mudar	o	mundo
e	nem	vou	mudar	uma	pessoa.
As	frases	soltas	e	quem	sabe
belas
como	"noites	frias	ao	sul	do	equador"
são	delírios
e	apenas	delírios.
Conheci	pessoas	esses	dias
o	que	é	raro
alguns	bem	loucos	e	intensos
como	as	linhas	de	Henry	Miller
capaz	de	mandar	Deus	à	merda
e	perceber	o	sadismo	de	todos	nós
outros	líricos	e	cheios	de	vida
suportando	problemas	escritos	em	versos
simples.
São	tantos	os	olhos
e	tantas	as	tristezas	que	se	esvaem
em	quartos	claustrofóbicos.
São	tantos	os	sorrisos	e	cada	um	deles
sem	expressão
opacos
como	nós.
"olá,	tudo	bem?"
a	mulher	do	caixa	repete	centenas	de	vezes
e	vai	chorar	ao	fim	da	tarde
porque
o	dia	inteiro	está	uma	merda
para	ela
e	para	mim.
Eu	escrevo	meus	poemas	e	vou	chorar
no	fim	do	ponto.
As	pessoas	morrem	e	tudo	é	parte	de	um	todo
como	Anaxágoras
como	Deleuze.
"Tudo"	é	uma	expressão	tão	vazia
quanto	assinaturas
nada	é	mais	vazio	e	egoísta	que	assinaturas
quem	dera	pudessem	todos
escrever	ou	pintar
e	não	assinar.
Eu	falei	que	não	queria	mais	escrever	sobre
a	noite
e	tantas	outras	coisas
então	lhe	entrego	esse	poema
(assinado)
sem	foco.
	
C.	Sanches	
O	inferno	é	aqui,	baby
eu	lembro	de	você	
dizer	"o	inferno	é	aqui,	baby
nós	somos	nossos	próprios	
demônios"
eu	nunca	acreditei,	
tantas	vezes	ateu	de	ti.
e	hoje	eu	ouço	os	discos
do	Cash	na	madrugada
sobre	homens	solitários	e	alcoolatras
eu	machuco	o	pé	nos	cacos	de	garrafas
espalhados	pelo	chão.	
Caetano	chora	baixinho	no	bar	da	frente
e	eu	não	aguento	mais	ouvir	"sozinho"
enquanto	eu	rasgo	os	lençóis
que	já	sujamos	
e	rasgo	os	poemas	que	te	fiz
e	rasgo	minha	pele	com	as	unhas
e	amasso	a	tua	foto	na	mão
e	bebo	mais	um	pouco
e	fumo	uns	20	cigarros
que	tem	o	gosto	estranho	da	sua	boca
que	me	amarga	a	língua,	
sim,	agora	eu	sei	que	o	inferno	existe,
eu	me	enganei,
o	inferno	é	o	que	sobra	
quando	o	amor	acaba
eu	me	masturbei	seis	vezes	ontem
pensando	no	teu	sorriso	bêbado
Iago	Souza
	
	
O	Barulho	do	Vazio
	
não	sei	se	sobrevivo
à	arritmia
a	frequência
do	meu	coração
alterna	entre	sonho
&	furacão
e	eu	meu	desejo
é	impróprio
e	meu	signo
temlua	em	câncer
certas	noites
daquelas	bem	tristes
eu	converso
com	Deus
noutras
ele	me	escuta
eu	juro	que	ele
me	escuta	bem
pacientemente
e	nas	manhãs
eu	me	perco	claro
de	um	jeito	quase
súbito	de	incomodo
é	que	tudo
se	desenha	assim
meio	de	marcha	ré
e	eu	imploro
para	Deus
e	a	sala	vazia
e	a	música	quase
que	muda,	calada
e	minhas	manias
todas	tortas	elas
tudo	dentro	de
um	imenso	vazio
-	o	universo	cabe
dentro	de	uma	boca.
	
	
Pedro	Venturini
	
	
	
Tenho	dentro	de	mim	
um	desejo	tão	forte
de	encontrar	alegria
que	nem	a	polícia
poderia	apagar	com	bala	
que	nem	a	mídia	
poderia	manipular	as	notícias	
mostrando	meus	sentimentos	
mais	tristes:
Tenho	dentro	de	mim	
flores	no	esôfago	
que	sufocam	com	oxigênio	
Tenho	dentro	de	mim	
um	caminhão	lotado	
de	sacos	de	cimento
Tenho	dento	de	mim	
pássaros	que	não	cantam.
	
	
Pedro	Poker
	
	
Tudo	continua	como	está
De	onde	venho	as	grandes	avenidas	são	fichinhas
o	que	há	são	os	becos	intermináveis	e	obscuros
–	locais	onde	a	poesia	de	Shakeaspeare	não	chegou
dias	inenarráveis
e	esse	sentimento	tem	me	tomado
esse	sentimento	pior	que	a	tristeza!
e	não	há	música,	não	há	livro,	não	há	palavra
que	dê	jeito	quando	estou	nesse	estado
transe	quimérico	que	me	deixa	agoniado
como	se	a	vida	estivesse	prestes	a	acabar
&	espero	que	esteja	mesmo
é	como	se	mil	locomotivas	tivessem	me	atropelado
e	não	restasse	nenhuma	parte	de	meu	corpo
pra	chamar	de	Eu
como	naquele	romance	do	F.	Sabino
a	ira	ainda	está	aqui
&	o	problema	todo	fui	eu	que	criei
por	que	será	que	o	ser	humano	tem	esse
instinto	devastador	de	querer
sempre	o	pior	para	si	–	mesmo	que	as	vezes	inconscientemente?
mil	locomotivas	passando	por	cima	de	cada	parte	do	meu	Ser
que	imagem	linda	de	se	ver
&	acabou	saindo	uma	rima
sei	nem	por	quê
a	televisão	diz	que	um	grupo	de	jovens	vândalos
depredou	o	patrimônio	público	de	são	Paulo
há	algo	errado	com	essa	notícia
e	quem	está	depredando	o	futuro	de	nossos	jovens	vândalos,	é	o	que?
a	loucura	sussurra	algo	ao	meu	ouvido
finjo	que	não	escuto
–	o	estourar	de	uma	bomba
jovens	vândalos
incendeiam	um	ônibus	na	esquina.
tudo	continua	como	está
no	Facebook
vejo	postagens	“Fora	Temer”
uma	atrás	da	outra
mas
tudo	continua	como	está	&	teve	aquela	menina	que	perdeu	o	olho
nossos	jovens	não	dão	mais	sua	cara	à	tapa	de	graça
nossos	jovens	uma	porra!
eu	sou	jovem	também
&	quero	gritar	&	bater	&	xingar
mas	nossos	homens	de	bem	odeiam	com	todas	as	forças
a	atitude	de	depredar	o	que	acham	ser	seu
a	parte	tudo	isso
o	que	faço	é	sentar	aqui	e	descarregar	a	merda	toda
aí	eu	consigo	outra	chance	pra	mim	mesmo
e	porra,	é	triste:
tudo	continua	como	está.
	
	
Roge	Weslen
	
	
Há	muita	festa	em	casa	de	rico,	mas	poesia	só
mora	em	pau	a	pique
Há	muita	gente	provando	dry-martinis	e	cheirando	cocaína	no	vidro	alisado	da	mesa	de	centro
enquanto	eu	aceitei	a	aguardente	de	dois	reais	gorgolejando	metanol	pra	me	cegar.
Há	muita	gente	contente	com	seus	telhados	de	vidro	e	poesia	fodida	com	trocadilhos	escrotos.
Há	muita	gente	recusando	a	vida	em	favor	de	cruzeiros	que	já	não	valem	um	centavo.
Muita	gente	elogiando	periquitos	mortos	e	Cuba-Livres	sobre	a	mesa	da	sala
Rum	caríssimo	enquanto	os	bons	morrem	contando	centavos.
O	problema	desse	país	é	que	existem	poetas	demais	nas	rebeliões	das	cadeias
E	pouquíssimos	doutores	capazes	de	fazer	poesia.
No	entanto	os	livros	são	sempre	recheados	de	títulos.
Há	mais	títulos	que	poesia	nos	livros	dos	doutores.
Conheci	também	doutores	que	de	doutor,	só	o	título
O	resto	era	algazarra	e	porre	e	mesa	e	vidro	e	canudo	e	outro	porre	e	vida	para	além	do	entorpecimento	e
do	trabalho.
Conheci	poemas	improvisados	sobre	sexo	Anal	com	garrafas	de	rum	da	pior	qualidade,	mas	do	melhor
preço	possível.
Fumei	 charutos	 cubanos	 trazidos	 em	 panos	 velhos	 como	 contrabando	 da	 ilha	mais	 fodida	 da	 america
latina
Fodida	de	uma	maneira	boa	e	triste,	como	poeta	acha	legal.
Conheci	os	barbudos	e	pederastas,	que	o	Piva	cantou,	e	não	gostei	da	maior	parte	deles
São	coxinhas	aos	avessos
Com	convicção	demais	no	que	dizem
E	pouquíssima	visão	de	experiência	e	gozo	do	mundo.
Conheci	quarentões	que	travaram	suas	cabeças	nos	seus	delírios	punheteiros	de	quinze	anos.
Conheci	de	menor	mais	experimente	que	homem	feito.
E	nada	disso	mudou	nada.
Há	muita	gente	que	não	viu	porra	nenhuma	e	acredita	ter	encontrado	a	razão	do	céu	e	do	mundo
E	das	mazelas
Mas	a	gente	ainda	morre	no	jornal.
Com	a	tranquilidade	do	imbecil
Eu	fumo	um,	dois,	três	cigarros	seguidos.
E	espero	a	próxima	notícia,
Nos	últimos	cem	anos
A	melhor	literatura	que	li
foi	o	depoimento	do	“maior	bandido	da	américa	latina”.
	
Eric	Moreira
	
	
"Você	ainda	vai	se	foder	muito	na	vida”
Me	disseram	certa	vez,
Eu	só	não	imaginava
Que	seria	a	própria	vida
Que	iria	me	foder
A	vida	inteira!
Saulo	Matos
	
Eu	não	fumo,	
Mas	depois	daquela	transa
Precisei	acender	um	cigarro	
Realizando	a	fantasia	de	
Ir	à	janela	
Nu
E	fumar	lentamente	
Sabendo	que	há	uma	mulher
Em	minha	cama.	
De	costas	para	ela.
A	imaginava	
E	deixava	a	fumaça	sair	
Como	que	por	vontade	própria.	
Estava	frio,
E	a	brisa	gelada	
Contrastava	com	o	
Quente	do	meu	corpo	
Cansado	e	
Satisfeito.	
Terminei	o	cigarro	
Voltei	para	a	cama	
Abracei-a	e	
Fingi	assistir	televisão.
	
	
Aleff	Ribeiro
	
	
	
o	mundo	poderia	acabar
enquanto	nós	trepávamos
com	a	TV	ligada
no	programa	do	Silvio	Santos
a	terceira	guerra	mundial
poderia	explodir	suas	bombas
e	mandar	essa	cidade	pro
espaço
enquanto	você	gemia
que	era	minha	e	se	contorcia
como	uma	cobra	com	fome
o	mundo	poderia	parar	ali
enquanto	você	põe	minha	camisa
do	Pink	Floyd	e	vai	na	cozinha
preparar	um	lanche
enquanto	você	puxa	a	calcinha
do	rabo	e	pisca	pra	mim
enquanto	você	reclama	da	
programação	da	TV	aberta	
e	diz	que	eu	sou	um	caso	perdido
mas	que	você	até	gosta
o	mundo	poderia	acabar	enquanto
eu	te	vejo	comer	um	pão	com	queijo
em	cima	da	cama	e	rindo	das
videocassetadas	do	programa
do	Faustão
e	o	mundo	meio	que	acaba	mesmo
por	um	momento	
ele	para	de	fazer	sentido	pra	mim
mas	só	depois	que	você	junta	as	roupas
espalhadas	no	chão	
e	eu	fico	ouvindo	o	barulho	dos	seus	
passos	por	detrás	da	porta
Iago	Souza
	
Amanheceu	na	rodoviária	
um	homem	escutando
o	resultado	dos	jogos	
no	radinho	de	pilha,	
a	mocinha	lojista	
comendo	coxinha	
e	matando	uma	mosca
com	um	sorriso,
policiais	chutando	mendigos	
com	seus	coturnos	clérigos,	
um	casal	de	hippies	
vendendo	filtros	de	sonhos	
na	realidade	de	um	pesadelo	urbano,	
passos	emergindo
do	ponteiro	de	um	relógio	
em	direção	ao	embarque	
de	um	suicídio	cotidiano.	
corre,	corre	
para	onde?	
por	todos	os	lados!	
apitos	de	ordens,	
abre	o	jornal,	
recebe	mensagem,
uma	selfie?	
paga	a	passagem,
para	onde?
quem	sabe?	
um	canário	de	metal	
pousa	no	meu	ombro,
eu	vislumbro
um	oceano.
	
Joe	Arthuso
	
A	entidade	mais	bela
toda	noite
se	transforma
em	anos
incandescentes
de	anomalias
nostálgicas
indecentes
e	as	janelas
dos	meus	sonhos
se	afogam
em	maremotos
de	purificada
agonia
e	o	sol	brilha
pros	cantos	de	lá
mas	aqui	na	eternidade
das	minhas	horas
o	nada	me	chama
de	irmão
na	imensidão
solitária
e	escura
do	vácuo
interior.
	
o	cigarro	queima
minha	mão
e	sabota
meu	pulmão
bem	devagar
com	o	carinho
doentio	de	um	serial
killer
que	se	excita
em	paparicar
sua	vítima
antes	do	ultimo
e	triunfal	ato,
acendo	mais
um
e	aceito	o	meu
tracejar.
	
de	todas	as
coisa	que	esgueiram
por	trás	da	cortina
negra
que	eu	não
consigo	ver
e	de	todo
o	mal	que	vive
lá	fora,
hoje	eu	sei
que	o	meu	maior
perigo
sou	eu,
que	vejo	a	morte
como	a	entidade
mais	bela	e	pura
que	já	andou
por	estas	bandas.
levando	todos
pra	um	lugar
que	não	é
aqui	(espero).
	
fecho	os	olhos
e	não	durmo,
pensando	em	tudo
que	não	fui,
em	tudo	que	não
foidito,
me	vejo	em
uma	cama
que	não	é	a
minha
com	o	teto
me	sufocando
e	secando
de	forma
colossal,
jogando	todo
o	peso	do	véu
noturno	do
universo
sobre	mim.
	
estico	a	mão	e	pego
a	velha	arma
que	já	encarei
tantas	vezes
e	a	beijo
longamente,
minha	antiga	e
fria	amante,
sinto	o	gosto
do	metal,
então	minha	mente
se	esvazia
como	ejaculação
precoce	nas
preliminares,
e	assim	eu
escorrego
de	volta	para
o	ultimo	fio	de	sanidade
que	me	resta
e	durmo	em	paz
com	um	"celular"
na	boca
tentando
ligar
para	morte
novamente
mas	ela	também
não	me	atende.
	
	
Saulo	Matos
	
Deserção
Acordo	em	meio	ao	fel
Podre	da	calçada	suja.
Ouço	um	suspiro	de	redenção
Do	diabo	em	meu	ouvido.
O	ar	melancólico	da	cidade
Emite	um	zunido	que	ofusca
As	buzinas.
O	conhaque	se	esvaiu
Num	gracejo	indigente	da	noite	anterior.
Sem	almejar	a	vida,	me	levanto.
Acendo	um	cigarro,
E	sinto	a	fumaça	queimar
O	que	resta	dos	meus	pobres	pulmões.
Vejo	a	face	de	Thompson
Piscar	pra	mim	da	vidraça
Da	padaria.
Minha	garganta	amarga
Se	retorce	num	pigarro.
O	céu	desaba	em	cima	de	mim
Como	num	prelúdio	sádico	de	Deus.
O	castigo	para	os	de	mente	ignóbil
Se	anuncia.
A	depressão	moral	de	meus	ancestrais
Me	atinge	no	peito,
E	caminho	cambaleante
Rumo	ao	banco	mais	próximo.
Senta-se	ao	meu	lado,	com	um	sorriso	torpe,
A	imagem	da	Virgem-Maria.
Alisa	meu	queixo	e	me	diz
Que	meu	futuro	é	uma	solidão
Empoeirada	em	meio	às	prateleiras.
Ela	se	parece	com	a	morte.
Cuspo	um	sangue	viscoso
Na	ponta	dos	meus	pés.
Sinto	meus	olhos	lacrimejando	a	embriaguez
De	uma	vida	perdida,
Que	se	entorpeceu	cedo	demais.
Tudo	parece	se	transformar
Num	caos	premeditado,
Sem	alianças	e	sem	pudores.
Ouço	uivar	o	lobo	sem	bando
Que	habita	em	mim,
Num	pedido	de	socorro.
Ele	quer	se	libertar	da	minha	tragédia.
E,	em	meio	a	seus	ganidos,
Percebo	que	ainda	não	despertei.
	
	
Vitor	Oliva
	
	
	
Me	mandaram	ir	a	merda,
Virei	poeta
E	descobri
Que	sou	um	cara
Obediente	pra	caralho
Disfarçado
De	rebelde
Sem	meta.
	
	
Saulo	Matos
	
A	concessão	da	estrela
Nascemos	estrelas
com	brilhos	únicos,	próprios
originais	como	canções
que	vem	do	coração.
	
Sabemos	da	grandeza	da	existência
do	que	devemos	buscar,
sabemos	da	importância	das	estrelas	irmãs
das	estrelas	mães,
das	estrelas	guias.
	
Não	quero	perder	a	fé.
A	fé	que	alimenta	esse	brilho,
a	fé	da	ciência,
que	é	mais	fervorosa	que	a	fé	religiosa
e	que	esses	corpos	celestes	nem	percebem.
	
Não	quero	perder	a	fé
no	poder	desse	brilho
de	todas	as	estrelas	juntas.
	
Somos	brilhos,
estrelas	nascentes
ofuscadas	naturalmente
por	modelos	de	padrões	decadentes.
	
Uma	estrela,	aqui	nesse	céu
nasce	livre,	e
se	perde	num	buraco	negro.
	
Se	muito	brilhante,
será	aclamada	e	elogiada
mas,	antes,	verá	seu	sucesso
numa	morte	fadada.
	
esse	céu	que	habito
cheio	de	estrelas	lindas,	brilhantes
sofre,	por	padronizar	a	emanação
de	suas	próprias	luzes.
	
Meu	céu	de	estrelas	pensantes,
porém,	insanas,
que	fazem	concessões	para	serem
felizes.
	
Estefani	Camile
	
	
	
Poema	de	fim	de	tarde
É	estranho:
Mas	sinto	que	caminho	para	a	derrota
sem	a	glória	ter	sido	iniciada.
	
Faço	o	seu	caminho,
imagino	qual	o	lado	da	calçada	que	escolheu,
sinto	o	seu	cheiro	e	sigo.
Te	sigo	mentalmente.
Vejo	os	lugares	que	me	contou,
sinto	o	quanto	perdi,
mas	é	tarde.
	
É	tudo	estranho	e	tarde.
Caminhos	belos	não	bem	regados	e	podados
Viram	o	inóspito	caminho	do	meu	coração.
	
Aryana	Frances
	
Miles	Davis	faz	seu	instrumento	chorar	num	dançar	ritmado	em	toda	angústia	e	tédio	e	tristeza	e...
Olha	onde	eu	cheguei.
Tenho	um	cigarro
e	uma	arma	apontada	pro	futuro.
E	o	dedo	que	encosta	no	gatilho
não	parece	ser	meu	amigo.
Brinco	com	o	teclado	e	a	batida	de	um	blues
meus	dedos	criam
muito	mais	que	palavras.
Meus	olhos	enxergam	a	magia
da	música	e	da	poesia
e	de	todos	os	versos	escritos.
Eu	nasci	no	rock	'n'	roll
desfrutei	do	rap	nacional
e	agora	atolei	no	jazz
e	acho	que	acaba	assim.
E	isso	é	tudo.
Farejei	e	assediei	todos	os	limites
da	perdição,
que	ponderei	como	minhas	únicas	correntes.
Esta	sempre,	sempre,	será	minha	poesia,
muito	mais	cheia	de	sentido
na	véspera	do	fim	de	tudo.
	
	
Rennan	Sama
	
	
Escadaria	abaixo
Estou	no	inferno	dos	dias
dos	dias	ausentes	de	glórias,
do	descanso	dormente
da	vida	sem	histórias
bonitas	ou	estranhas,	mas	minhas.
Aquele	riso	amargo
de	lembranças	e	tristes	fatos
se	completam	de	tragédias
e	de	esquecidas	promessas
vazias,	mas	tão	belas.
O	calor	aprisionou	meu	coração,
o	horror	condenou	minha	ilusão,
e	o	amor	não	se	esqueceu	de	nossa	traição.
	
Eu	penso	nos	meus	erros
e	vejo	caminhos.
Eu	não	tenho	acertos,
mas	sigo	meu	destino.
	
Os	meus	medos	são	só	meus	medos.
Irei	temê-los
Os	meus	medos	estão	na	crise	também
e	irei	vencê-los.
	
	
Aryana	Frances
	
	
Meus	amores	são	boleros	cantados	por	um	gago
apaixonado,	sem	medo	de	morrer	de	amor
há	muita	besteira	sobre	relacionamentos	hoje	em	dia
descobri	que	é	até	fácil	esquecer	um	amor	frustrado
pelo	ritmo	excruciante	do	mundo	moderno.
fiz	a	dieta	da	morte	por	um	mês	a	fio,
rivotril	e	cocaína
alternadamente
três	maços	de	Minister	por	dia	e
meio	litro	de	conhaque	à	noite.
chamam	isso	de	dieta	da	morte,
e	é	bem	óbvio	o	porquê.
eu	não	morri
mas	todas	as	lembranças	dela	sim.
eu	não	me	preocupo	mais	com	o	outro	lado	da	cama	vazio
nem	com	aquele	cheiro	doce	de	perfume	de	manhã.
Nenhuma	ferida	se	abriu	em	mim	outra	vez,
quando,	por	acaso,	cartola	saiu	do	envelope	e	caiu	no	toca-discos.
Eu	sou	um	homem	bem	feliz	agora
mas,	até	quando?
	
	
Eric	Moreira
	
Cercado
Mas	agora,	lá	fora
O	mundo	é	todo	uma	ilha
A	milhas	e	milhas	e	milhas
De	qualquer	lugar
(Terra	de	Gigantes	–	Engenheiros	do	Hawaii)
	
Eu	era	uma	ilha
sem	arquipélago.
	
Eu	era	um	punhado	de	terra,	de	lembrança
sem	consolo.
	
Eu	era	o	riso	de	outro
sem	o	outro.
	
Eu	era	o	que	ainda	sou
sem	mais	conter	o	choro.
	
Eu	era	o	mesmo
sem	entender	que	já	não	o	era	mais.
	
Eu	era…
Sem	sentir	o	que	o	mar	me	trazia	a	cada	alvorecer.
	
E	eu	era	sempre
Sem	nunca	pedir	para	ser.
	
	
Aryana	Frances
	
	
Indefensável
Era	noite,	voltava	à	minha	casa
A	lua	toda	misteriosa
Banhava	minha	noite
	
E	minha	alma	vazia
só	queria	conhaque
Pra	esquecer	o	dia	desgastante
	
Mas	não	havia	conhaque
Só	havia	lembranças.
Blasfemei	à	Dionísio:
	
“Por	que	em	meu	teto
Falta	conhaque?
Não	quero	apenas	versos,	quero	apagar,	também.
	
Por	que	não	transforma
O	sereno	em	conhaque?
Perdeste	as	habilidades?	Só	apareces	com	vinho?
	
Não	me	responderás
Está	enterrado	numa	crença
De	infiéis	lembranças.	”
	
Meu	péssimo	humor
Lembrou-me	de	que	eu	estava	só.
Não	adiantava	reclamar.
	
Mas	quero	me	esquecer
Mas	quero	me	iludir
E	acreditar	na	felicidade
	
Felicidade	num	trago
Repleto	de	saídas	inexistentes
E	de	flashes	da	realidade.
	
Hoje	ninguém,	sorrindo,	depois	de	um	longo	beijo,	cochichará	em	meu	ouvido:
“vamos	dormir,	amor,	quem	sabe	virando	o	travesseiro,
Você	sonhará	de	algum	jeito”.
	
E	então,	era	pra	isso	o	conhaque
Pra	te	ouvir	mais	perto,	pra	te	ver	ao	meu	lado,
Sentir	o	gosto	ébrio	dos	teus	lábios	e	ter	o	teu	corpo	sob	o	meu.
	
Mas	o	conhaque	acabou,
O	sonho	não	chega.
É…	esta	minha	noite	se	parece	com	um	golpe	indefensável.
	
	
Aryana	Frances
	
	
	
Após	a	chuva
na	próxima	esquina	—
o	céu	curvado	de	estrelas.
	
	
Ana	Flavia	Sarti
	
Agora	
(Agora)
Eu	me	sinto	um	vidro	quebrado	
Uma	peça	descartada	
Um	peso	inútil
Um	violão	sem	cordas
Um	céu.	
Um	céu	poluído	
Não	visto	do	segundo	andar	
De	um	quarto	no	subúrbio.	
Me	sinto	um	pneu	murcho
Uma	flor	apanhada,	contando	
Os	instantes	para	ter	sua	cor
Perdida.	
Me	sinto	resto,	
Me	sinto	desperdício,	
Me	sinto	desnecessidade,	
Obviedade	
Discrição	
Explosão	
Implosão	
Me	sintofogo	(morno)
Me	sinto	cigarro	quebrado	
Cerveja	quente
Me	sinto	olho	que	ja	não	
Enxerga	através	da	lente	
Que	deveria	fazê-lo	enxergar.	
Me	sinto	descontínuo
Me	sinto	normal	
Me	sinto	médio	
E	Deus,	que	puta	dor	
Que	me	causa	esse	sentimento!	
Me	sinto	trêmulo,	
Não	me	sinto	eu	
Me	sinto	poça	d'agua
Insalubre	
Insosso
Infeliz.	
Me	sinto	mudo	
E	não	ciente	disso	
Então	falo	e	falo	
E	grito	e
Só	vejo	inércia.	
Me	sinto	amplo	
E	perdido	aqui	dentro.	
Me	sinto	perdido.	
Absolutamente
Estapafurdiamente
Idiotamente
Livremente	
Perdido.	
	
	
Aleff	Ribeiro
	
Um	cigarro	no	horizonte
José,	recostado	à	janela
Fuma	um	cigarro
Contempla	a	rua,	as	portas,	os	postes
Sentindo	a	inutilidade
De	toda	esta	fiação
Que	vela	as	mentes
Mal	iluminadas
Mas	o	que	há,	José,
Que	nem	em	seu	toldo	chove	mais?
O	que	há,	que	seu	martírio
Tornou-se	nada	mais
Que	flagelo?
Mas	o	que	há,	José,
Que	em	seu	peito,
Nada	mais	aperta?
Nada	mais	se	esgota
Ninguém	mais	bate	à	porta
José	não	sabe,	como	ninguém
Apenas	continua	tragando
Todas	as	suas	dúvidas
Todas	as	suas	lamúrias
Que	sabe	que	de	nada	valem
Para	os	pulmões
Que	a	qualquer	momento	irão	cessar.
	
	
Vitor	Oliva
	
eu	não	exorcizei	
os	meus	demônios
como	a	maioria
faz,
eu	resolvi	trancafiá-los
em	mim	e	esquecer
onde	guardei	as	chaves
já	são	tantos	os	monstros
vagando	pela	cidade	e
tropeçando	em	mendigos
que	não	seria	justo
soltá-los	na	avenida	principal
e	esquecer	seus	nomes
os	meus	demônios
eu	criei	em	terreno	hostil
meu	peito	meio	aberto
meu	corpo	fechado
criei	vínculos	e	laços
e	até	castiguei	quando	foi
necessário	
meus	demônios	agora
cochicham	conselhos	
pra	mim
gritam	quando	o	perigo
se	aproxima
às	vezes	dou	ouvidos
às	vezes	os	mando	calar
e	parar	de	atormentar	meu	juízo
meus	demônios	agora
se	parecem	comigo	e	são	vários
um	diferente	do	outro
um	tão	eu	quanto	o	outro
meus	demônios	agora
se	parecem	comigo
ou	
talvez	seja	só	eu	
que	me	pareço	cada	vez	mais
com	os	meus	demônios
	
Iago	Souza
	
	
Veneno	de	Vênus
O	céu	escuro	oferece	a	poção
que	embebeda	os	olhos
sob	a	luz	da	lua	cheia
que	protege	seus	brilhos.
	
Toda	sua	proximidade	aparente,
Vênus,	aquece	todo	ser	que	te	olha.
Vênus	de	Milo	poderia	ter	braços
se	sentisse	tua	energia	letal.
	
Qualquer	Deus	perderia	os	poderes.
Vênus	do	amor	provou	sua	luz
transformou	amor	em	dor,
Veneno	de	malícia	viciante.
	
Quantos	anos	luz	longe	te	vejo
embriaguez	cósmica	que	aumenta.
Vênus	transforma	alegria	em	melancolia,
brilho	que	completa
esplêndido	Veneno	de	Vênus.
	
	
Estefani	Camile
	
	
Transa	cósmica
Esperando	você	chegar,
a	noite	é	um	uivo	
engarrafado	em	cachaças
no	alto-mar.	
eu	dizendo	palavras	sem	vocábulo:
murmúrios	de	bêbados,
gírias	de	travestis	desvairados	
e	insultos	de	loucos.	
eu	queimando
como	as	cinzas	de	um	cigarro,
meu	cinzeiro:	almas	perdidas	em	dias	nublados.	
você	no	meu	incenso	de	ervas	metálicas,	
você	gemendo	de	quatro
como	um	solo	de	uma	guitarra;	
derrubando	os	quadros	
e	gritando:
PICASSO!	PICASSO!	PICASSO!	
esperando	você	chegar	
enquanto	leio	Ferreira	Gullar
vomitando	no	sanitário.
esperando	você	chegar	
arrastando	pelos	terreiros	
com	os	meus	orixás.
a	noite	é	ruiva	
e	na	nudez	do	céu	
enxergo	os	seus	cabelos	ruivos	de	Vênus.
esperando	você	chegar
tesuda	
e	gritando:
PICASSO!	PICASSO!	PICASSO!	
eu	sou	tua!
Joe	Arthuso	
	
	
Querida,
Querida,	você	me	diz	
que	eu	tenho	estado	mais	calado,
que	tenho	andado	em	outras	frequências,	e	
que	já	não	sou	como	era	antes,	mas,
e	se	eu	te	disser
que	meus	desejos	não	são	mais	os
mesmos,	
que	a	minha	esperança	hoje,
não	passa	de	um	resquício	da	
vontade	de	derrotar	os	filhos	da	puta
que	fecham	os	olhos	perante	as	vidas	que	se	vão
e	se	eu	te	dissesse
que	notei	um	pássaro
voando	em	meio	a	uma	multidão
e	que	a	poesia	nunca	me	procurou,
mas	eu	encontrei	ela
e	ela	apontou	uma	arma	na	direção	da	minha	testa
e	me	disse	"sou	eu	
ou	a	morte"
e	se	eu	te	contasse
que	de	tudo	o	que	passa
só	o	que	fica
é	a	lembrança	da	calcinha	das	mulheres	que	te	deixam
penduradas	na	fechadura	da	porta
e	
a	dor	de	ter	de	destruir	tudo	o	que	ama
para	enfim	viver	de	fato	em
liberdade?
e	se	eu	te	dissesse
que	até	mesmo	nas	nossas	trivialidades
sempre	houve	o	receio
e	a	adorável	inconstância
da	falta	de	segurança	
do	amor,
você	ainda	me	amaria
e	diria	que	quer	fugir	para	as	Maldivas
comigo
para	então	mergulharmos	na	vida
até	que	um	dia
não	acordássemos	mais?
	
	
Matheus	Peleteiro
	
Você	ainda	teria	medo	se	eu	lhe	dissesse
que	a	vida	vai	destruir
não	importa	de	onde	venha
todos	que	nasceram	para	a	solidão
se	eu	lhe	dissesse	que	a	poesia	
e	os	vícios	vão	te	matar	antes	dos	50
que	família	não	significa	muita	coisa
e	pensar	em	deixar	algo	pra	esse	mundo	é	
atormentador	demais
se	eu	lhe	dissesse	que	é	necessário	morrer
pra	poder	viver	novamente
que	é	necessário	sucumbir	para
que	tudo	se	faça	verdadeiro
que	a	literatura	é	uma	farsa
cheia	de	palavras	vazias	
de	significados
e	somente	os	que	compreendem	isso
vão	lhe	entender
que	Péricles
não	passa	de	um	charlatão
e	Leônidas	é	o	verdadeiro	poeta
se	eu	lhe	dissesse	
que	suas	lágrimas	não	vão	adiantar	muita	coisa
e	no	fim	Werther	foi	fraco
os	românticos	sempre	estiveram	errados
se	eu	lhe	dissesse	que	algumas	vezes	nem	arte	
ou	amor
podem	nos	salvar
que	nessas	vezes
são	eles	que	nos	desesperam
se	eu	lhe	dissesse	que	
em	um	ou	dois	dias	
a	angústia	pode	ser	maior
e	que	talvez	não	seja	a	última	vez
mas	você	não	pode	parar	aí
se	eu	lhe	dissesse	que	a	filosofia	não	vai	te	
levar	a	lugar	nenhum
que	os	remédios	são	a	melhor	opção
e	que	teu	orgulho	é	um	erro
se	eu	lhe	dissesse	que	a	tristeza
não	é	tão	bela	assim
nem	tão	necessária
mas	os	outros	não	sabem	disso
que	seu	sorriso	já	não	é	mais	tão	branco
ou	tão	bonito
ou	tão	verdadeiro
que	o	quarto	nunca	foi	quarto
e	a	casa	nunca	foi	lar
as	noites	sempre	mais	longas
se	eu	lhe	dissesse	que	se	dopar	
não	é	tão	ruim	assim
mas	escutar	a	música	certa	é	sempre	melhor
se	eu	lhe	dissesse
que	não	existe	música	certa
você	ainda	teria	medo?
	
C.	Sanches
	
	
Barulho	noturno
Na	madrugada	até	o	amor	silencioso
Torna-se	gritante
	
	
C.	Sanches
	
Eu	quero	achar	
o	que	se	perdeu:	
transfigurar	no	nada	
esse	anseio	de	coisa	
alguma
captar	mensagens	
eletrocutar	espasmos	
produzir	ninharias	
auxiliar	deus	
a	se	esquecer	do	mundo	
(ele	mesmo	não	dá	
a	mínima	&	sequer	existe)	
iluminar	o	corpo	
até	encantar	a	matéria	
ao	virar	pó	ao	virar	
a	esquina	
mostrar	os	dentes	
a	cada	sorriso	
jorrar	lágrimas	
expelir	esperma	
espremer	o	sumo	
do	sulco	da	enxada	
no	cérebro	da	terra	
Forrar	o	estômago	
de	folhas	verdes	
derrubar	os	galhos	secos	
interferir	no	vento	
assoprando	sentidos	
contrários	
espirrar	detalhes	
tossir	conteúdo	
evacuar	virtudes	–	
no	mais	ser	menos	
no	resto	ser	tudo.
	
Pedro	Poker
	
	
	
Fazer	adormecer	a	língua	
sobre	a	ferida	alheia	
e	ocupar-se	da	saliva	cuspida	
a	cada	palavrão,	
inaugurar	nova	visão	
nos	velhos	mestres,	
ouvir	o	porvir	que	há	
em	cada	instante,	
explodir	no	ar	bolhas	de	felicidade	
entre	o	oxigênio	fantasma	
da	cidade,	
ocupar-se	de	coisas	terrenas	
deliciando	a	matéria	
com	sua	mortalidade,	
jorrar	quente	o	gozo	
bem	na	cara	
de	quem	não	goza,	
manipular	a	si	próprio	
num	instante	de	esquizofrenia	
calculada,	
abstrair	do	espírito	
qualquer	coisa	que	não	valha	
o	instante	–
	
	
Pedro	Poker
	
Agora	o	que	me	resta	são	poemas	escritos	por	escritores	desconhecidos	do	nordeste	do	Brasil
agora	o	que	me	resta	são	os	cigarros	feitos	com	fumo	avião,	pois	é	o	que	sobrou	pra	comprar	com
algumas	notas	amassadas	do	bolso	de	uma	bermuda	suja
suja	com	o	seu	gozo	enquanto	te	comia	ao	lado	de	sua	casa,	num	terreno	onde	maconheiros	se	reúnem	pra
fumar	maconha,	na	cidadezinha

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