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Direito Constitucional II - 2019-1 - Aula 06 - Competência - parte 1

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Direito Constitucional II
Paulo Máximo
AULA 6
Unidade 1
Competência
Conceito:
José Afonso da Silva conceitua competência como a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões sobre determinada matéria.
A competência pode ser: administrativa, legislativa ou jurisdicional.
Compete ao STF julgar ações direitas de constitucionalidade (CF, art. 101, I, a);
Compete à União legislar sobre direito civil (CF, art. 22, I);
Compete à União emitir moedas (CF, art. 22, VII)
Técnicas de repartição de competências:
José Afonso da Silva ensina que as constituições solucionavam o problema da repartição de competência por três técnicas, que conjugam poderes enumerados e poderes reservados ou remanescentes.
Na enumeração dos poderes da União, reservando-se aos Estados os poderes remanescente (Ex.: Estados Unidos, Argentina, México, etc.);
Na atribuição dos poderes enumerados aos Estados e dos remanescentes à União (Ex.: Canadá);
Na enumeração exaustiva das competências das entidades federativas (Ex.: Índia e Venezuela, compreendendo ambas poderes concorrentes e atribuições de poderes residuais à União).
OBS.: o sistema de enumeração exaustiva de poderes para as entidades federativas vigora também no Brasil na repartição de competência tributária, com competência residual para a União.
Com a modernidade abandonando-se o dualismo que separa as entidades federativas em campos exclusivos.
Passou-se a se acolher formas de composição mais complexas que procuram compatibilizar a autonomia de cada uma com a reserva de campos específicos.
Com base nas técnicas mais complexas passam a coexistir:
áreas exclusivamente ou simplesmente privativas, com a possibilidade de delegação;
áreas comuns em que se preveem atuações paralelas e setores concorrentes, coordenadas pelo princípio da preponderância do interesse.
A Constituição brasileira adotou o sistema complexo buscando realizar o equilíbrio federativo, por meio de uma repartição de competência nos seguintes termos:
Enumeração dos poderes da União: art. 21 e 22;
Poderes remanescentes para os Estados: art. 25, § 1º;
Poderes definidos indicativamente para os Municípios: art. 30;
Cumulação de competências dos Estados e Municípios ao Distrito Federal (art. 32, § 2º).
Reserva de campos específicos: com competências privativas, com possibilidades de delegação (art. 22, parágrafo único) ou exclusivas (sem possibilidade de delegação);
Áreas comuns: que preveem atuações paralelas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23);
Setores concorrentes: sendo a União competente para estabelecer políticas gerais, diretrizes gerais ou normas gerais, os Estados para expedir normas de interesse regionais e os Municípios para expedir normas de interesse locais, trata-se, segundo José Afonso da Silva, de competência suplementar (art. 24, §§ 2º e 3º, c/c art. 30, II da CF).
Princípio da preponderância do interesse:
Por esse princípio à União caberão as matérias e questões de predominante interesse geral, nacional, ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de predominante interesse regional e aos Municípios concernem os assuntos de interesse local. 
Princípio da preponderância do interesse:
Alexandre de Moraes aponta que o Distrito Federal, em regra, cumula as competências estaduais e municipais, com a exceção prevista no art. 22, XVII, da CF, competindo à União a organização judiciária e do Ministério Público, bem como organização administrativa destes.
Classificação das competências:
José Afonso da Silva explica que as competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções. 
Portanto, é possível falar em espécies de competência, visto que as matérias que compõe seu conteúdo podem ser agrupadas em classes segundo sua natureza, sua vinculação cumulativa a mais de uma entidade e seu vínculo a função de governo.
Classificação das competências:
José Afonso da Silva explica que a diferença entre a competência exclusiva e a competência privativa é que a primeira é indelegável, enquanto a segunda é delegável. 
CUIDADO: a Constituição não é rigorosa tecnicamente neste assunto citando os arts. 51 e 52 que trazem matéria de competência exclusiva da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, mas diz que se trata de competência “privativa”.
Classificação quanto à Forma:
Quanto à forma, ou processo de sua distribuição, as competências são classificadas como:
enumerada ou expressa: quando estabelecida de modo explícito, direto, pela Constituição para determinada entidade (arts. 21 e 22, por exemplo);
reservada ou remanescente e residual: a que compreende toda matéria não expressamente incluída numa enumeração. 
As expressões “reservada” e “remanescente” significam que a competência que sobra a uma entidade após a numeração da competência de outra (art. 25, § 1º). 
Já a competência residual consiste no eventual resíduo que reste após a enumeração de todas as entidades, como na matéria tributária, em que a competência residual – a quem eventualmente possa surgir apesar da enumeração exaustiva – cabe à União (art. 154, I).
implícita ou resultante (ou inerente ou decorrente, porque decorre da natureza do ente): quando se refere à prática de atos ou atividades razoavelmente considerados necessários ao exercício dos poderes expressos ou reservados.
Ex.: se a União tem a competência material de autorizar e fiscalizar a comercialização de material bélico (CF, art. 21, VI), implicitamente, ela tem a competência de legislar sobre essa matéria.
Classificação quanto ao conteúdo:
A competência quanto ao conteúdo, para José Afonso da Silva, distingue-se em econômica, social, político-administrativa, financeira e tributária.
Classificação quanto ao conteúdo:
Fala-se ainda em uma competência internacional: direitos de paz e guerra, de legislação e de fazer tratados, que no Estado Federal, é por princípio, exclusiva da União, ainda que seja possível aos Estados federados, geralmente autorizados por órgãos federais, nos termos do art. 52, V, realizar negócios externos. 
Classificação quanto à extensão:
Quanto à extensão, ou seja, quanto à participação de uma ou mais entidades na esfera da normatividade ou da realização material a competência se distingue em:
exclusiva: quando é atribuída a uma entidade com exclusão das demais (art. 21);
privativa: quando enumerada própria de uma entidade, com possibilidade de delegação (art. 22 e seu parágrafo único) e de competência suplementar (art. 24 e seus parágrafos);
comum, cumulativa ou paralela: reputadas expressões sinônimas, que significa a faculdade de legislar ou praticar certos atos, em determinada esfera, juntamente e em pé de igualdade, 
Consiste num campo de atuação comum às várias entidades, sem que o exercício de uma venha a excluir a competência de outra, que pode assim ser exercida cumulativamente (art. 23).
concorrente: seu conceito compreende dois elementos: (coordenada pelo princípio da preponderância do interesse)
possibilidade de disposição sobre o mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa;
primazia da União no que tange à fixação de normas gerais (art. 24, parágrafo único);
suplementar: é correlativa da competência concorrente, e significa o poder de formular normas que desdobrem o conteúdo de princípios ou normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas (art. 24, §§ 1º a 4º):
Suplementar supletiva: supre a ausência de normas gerais.
Suplementar complementar: complementa as normas gerais, especificando normas especiais.
Classificação quanto à origem:
Competência originária: quando desde o início é estabelecida em favor de uma entidade;
Competência delegada: quando a entidade recebe sua competência por delegação daquela que a recebeu de forma originária. 
Quadro sistêmico:
Quadro sistêmico:
Repartição de competência administrativa ou material:
Destaques da CompetênciaMaterial da União: CF, art. 21, VI
Competência da União para legislar sobre direito penal e material bélico. Lei 1.317/2004 do Estado de Rondônia. Lei estadual que autoriza a utilização, pelas polícias civil e militar, de armas de fogo apreendidas. A competência exclusiva da União para legislar sobre material bélico, complementada pela competência para autorizar e fiscalizar a produção de material bélico, abrange a disciplina sobre a destinação de armas apreendidas e em situação irregular. (ADI 3.258, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-05, Plenário, DJ de 9-9-05) 
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, VIII
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual que fixa prazos máximos, segundo a faixa etária dos usuários, para a autorização de exames pelas operadoras de plano de saúde. (...) Os arts. 22, VII; e 21, VIII, da CF atribuem à União competência para legislar sobre seguros e fiscalizar as operações relacionadas a essa matéria. Tais previsões alcançam os planos de saúde, tendo em vista a sua íntima afinidade com a lógica dos contratos de seguro, notadamente por conta do componente atuarial. [ADI 4.701, rel. min. Roberto Barroso, j. 13-8-2014, P, DJE de 25-8-2014.]
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, viii
Lei 12.775/2003 do Estado de Santa Catarina. Competência legislativa. Sistema financeiro nacional. Banco. Agência bancária. Adoção de equipamento que, embora indicado pelo Banco Central, ateste autenticidade das cédulas de dinheiro nas transações bancárias. Previsão de obrigatoriedade. Inadmissibilidade. Regras de fiscalização de operações financeiras e de autenticidade do ativo circulante. Competências exclusivas da União. Ofensa aos arts. 21, VIII, e 192 da CF. [ADI 3.515, rel. min. Cezar Peluso, j. 1º-8-2011, P, DJE de 29-9-2011.]
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, X
(...) I – O serviço de coleta, transporte e entrega de documentos constitui serviço postal, cuja exploração pertence, em regime de monopólio, à União Federal, nos termos do art. 21, X, da Carta Magna, e da Lei 6.538/1978, que fora recepcionada pela CF/1988. Precedentes desta Corte e do STJ. II – No entanto, ressalvam-se, como na espécie dos autos, situações em que o próprio ente federativo (Município de São Francisco/MG) entrega as guias de arrecadação tributária, diretamente, em cada endereço residencial ou comercial, sem intervenção de terceiros, que, nessa hipótese, não são atingidas pelo monopólio postal da Empresa de Correios e Telégrafos, para a entrega de cartas e correspondências, posto que, no caso, há a atuação direta do ente federativo, com maior segurança e economia para o cidadão, sem a intermediação onerosa de terceiros. (...) (TRF 1ª Região. REO 2005.38.00.014585-0/MG. Rel.: Juiz Federal Ávio Mozar José Ferraz de Novaes (convocado). 5ª Turma. Decisão: 21/05/2007. DJ de 31/05/2007, p. 118.) 
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, XI 
Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a competência da União para legislar sobre telecomunicações. (...) A Corte afirmou que, ao determinar às empresas de telefonia a instalação de equipamentos para interrupção de sinal nas unidades prisionais, o legislador local instituíra obrigação diretamente relacionada ao objeto da concessão do serviço móvel pessoal. [ADI 3.835, rel. min. Marco Aurélio; ADI 5.356, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio; ADI 5.253 e ADI 5.327, rel. min. Dias Toffoli e ADI 4.861, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-8-2016, P, Informativo 833.]
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, XI
Ao determinar que as empresas forneçam à polícia judiciária informações sobre a localização de aparelhos de telefonia móvel, estabelecendo prazos, dispondo acerca do uso dos números de emergência e impondo o pagamento de multa, se houver descumprimento, o legislador estadual atua no núcleo da regulação da atividade de telecomunicações, de competência da União, no que a esta última cabe disciplinar o uso e a organização desses serviços. [ADI 4.739 MC, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 7-2-2013, Plenário, DJE de 30-9-2013.]
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, XI
Ante lei estadual que veio a dispor sobre validade de crédito de celular pré-pago, projetando-o no tempo, surge relevante argumentação no sentido de competir à União legislar sobre telecomunicação. [ADI 4.715 MC, rel. min. Marco Aurélio, j. 7-2-2013, P, DJE de 19-8-2013.]
  
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, XI
Art. 1º, caput e § 1º, da Lei 5.934, de 29-3- 2011, do Estado do Rio de Janeiro, o qual dispõe sobre a possibilidade de acúmulo das franquias de minutos mensais ofertados pelas operadoras de telefonia, determinando a transferência dos minutos não utilizados no mês de sua aquisição, enquanto não forem utilizados, para os meses subsequentes. Competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. Violação do art. 22, IV, da CF. [ADI 4.649 MC, rel. min. Dias Toffoli, j. 28-9-2011, P, DJE de 21-11-2011.]  
Destaques da Competência Material da União: CF, art. 21, XI
Lei estadual 12.983/2005 de Pernambuco versus CF, 5º, X; 21, XI; e, 22, I e IV. Afronta por instituir controle de comercialização e de habilitação de aparelhos usados de telefonia móvel. [ADI 3.846, rel. min. Gilmar Mendes, j. 25-11-2010, P, DJE de 15-3-2011.]
 
Destaques da Competência Material COMUM: CF, art. 23, II
Dispositivo de lei distrital que obriga os médicos públicos e particulares do Distrito Federal a notificarem a Secretaria de Saúde sobre os casos de câncer de pele não é inconstitucional. Matéria inserida no âmbito da competência da União, Estados e Distrito Federal, nos termos do art. 23, II, da CF. [ADI 2.875, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 4-6-2008, P, DJE de 20-6-2008.] 
Destaques da Competência Material COMUM: CF, art. 23, vi
Instituição do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em uso no âmbito do Distrito Federal. (...) O ato normativo impugnado não dispõe sobre trânsito ao criar serviços públicos necessários à proteção do meio ambiente por meio do controle de gases poluentes emitidos pela frota de veículos do Distrito Federal. A alegação do requerente de afronta ao disposto no art. 22, XI, da CB não procede. A lei distrital apenas regula como o Distrito Federal cumprirá o dever-poder que lhe incumbe – proteção ao meio ambiente. O Distrito Federal possui competência para implementar medidas de proteção ao meio ambiente, fazendo-o nos termos do disposto no art. 23, VI, da CB/1988. [ADI 3.338, rel. p/ o ac. min. Eros Grau, j. 31-8-2005, P, DJ de 6-9-2007.]
Destaques da Competência Material COMUM: CF, art. 23, XII
Profissão de motoboy. Regulamentação. Inadmissibilidade. (...) Competências exclusivas da União. (...) É inconstitucional a lei distrital ou estadual que disponha sobre condições do exercício ou criação de profissão, sobretudo quando esta diga à segurança de trânsito. [ADI 3.610, rel. min. Cezar Peluso, j. 1º-8-2011, P, DJE de 22-9-2011.] Vide ADI 3.679, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 18-6-2007, P, DJ de 3-8-2007
Destaques da Competência Material do MUNICÍPIO: CF, art. 30, V:
Os Estados-membros são competentes para explorar e regulamentar a prestação de serviços de transporte intermunicipal. (...) A prestação de transporte urbano, consubstanciando serviço público de interesse local, é matéria albergada pela competência legislativa dos Municípios, não cabendo aos Estados-membros dispor a seu respeito. [ADI 2.349, rel. min. Eros Grau, j. 31-8-2005, P, DJ de 14-10-2005.] = RE 549.549 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 25-11-2008, 2ª T, DJE de 19-12-2008
Destaques da Competência Material do MUNICÍPIO: CF, art. 30 V:
Os serviços funerários constituem serviços municipais, dado que dizem respeito com necessidades imediatas do Município. CF, art. 30, V. [ADI 1.221, rel. min. Carlos Velloso, j. 9-10-2003, P, DJ de 31-10-2003.]
Destaques da Competência Material reservada dos ESTADOS:CF, art. 25, § 1º:
Fretamento de ônibus para o transporte com finalidade turística, ou para o atendimento do turismo no Estado. Transporte ocasional de turistas, que reclamam regramento por parte do Estado-membro, com base no seu poder de polícia administrativa, com vistas à proteção dos turistas e do próprio turismo. CF, art. 25, § 1º. Inocorrência de ofensa à competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte (CF, art. 22, XI). [RE 201.865, rel. min. Carlos Velloso, j. 31-8-2005, P, DJ de 4-2-2005.] Vide ARE 709.639 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 20-5-2014, 2ª T, DJE de 5-6-2014
REFERÊNCIAS:
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo, 2016.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 33ª Ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2010.

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