Buscar

07 - O Conceito de Orçamento Público

Prévia do material em texto

O conceito de orçamento público
Fernando Lima Gama Junior*
No linguajar popular, orçamento é uma relação ou um rol de despesas e 
receitas que determinada pessoa tem para pagar ou para receber durante 
um determinado período, que pode ser de um mês ou um ano, por exemplo. 
Não é por outro motivo que nos primórdios do orçamento na Administração 
Pública, a peça era vista como um documento meramente contábil, sem ne-
nhuma ou com pouca vinculação aos instrumentos de planejamento (orça-
mento tradicional).
O orçamento, portanto, pode ter um viés mais contábil, enfocando exclu-
sivamente os recursos financeiros em uma planilha (uma peça meramente 
contábil), mas também pode ser um instrumento de planejamento da aqui-
sição de algum bem, como um imóvel ou um veículo, quando as pessoas re-
solvem reter ou guardar parte de suas rendas por um determinado período 
com vistas a uma aquisição futura.
Essa integração entre o planejamento e o orçamento se deu com força no 
meio empresarial na década de 1960, quando passou a ser visto como um 
instrumento poderoso de planejamento e não só como um documento con-
tábil. Essa discussão também teve lugar no setor público que evoluiu de um 
orçamento que se caracterizava por ser uma mera peça contábil (orçamento 
tradicional) para ser um importante instrumento de planejamento dos go-
vernos (orçamento-programa).
Nos dias de hoje, o orçamento não é apenas uma peça contábil, mas um 
instrumento de planejamento da Administração, ao passo que a contabili-
dade pública, outra disciplina interligada ao estudo do orçamento público, 
registra as variações do patrimônio público e da execução do orçamento 
subsidiando a tomada de decisão dos administradores públicos, além de 
contribuírem para a transparência da administração.
Bancas de concurso costumam exigir o conceito literal de orçamento pú-
blico. O conceito mais antigo, mais conhecido e difundido é o do professor 
Aliomar Baleeiro (1994), que diz que: 
25
* Auditor Federal de Con-
trole Externo do Tribunal 
de Contas da União em 
Mato Grosso. Professor de 
preparatórios para concur-
sos nas disciplinas de Con-
trole Externo, Orçamento 
Público, Contabilidade 
Pública e Legislação Tribu-
tária do ICMS. Engenheiro 
Químico pela Universi-
dade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ) em 2001. 
Bacharelando em Direito 
pela Universidade Federal 
do Mato Grosso (UFMT).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
26
O conceito de orçamento público
[...] o orçamento é um ato pelo qual o Poder Legislativo autoriza o Poder Executivo, por um 
certo período e em pormenor, a realização das despesas destinadas ao funcionamento 
dos serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica e geral do país, assim 
como a arrecadação das receitas criadas em lei.
Já nos dizeres do professor Francisco Glauber Lima Mota (2006), “o orça-
mento público é um documento que dá autorização para se receber e gastar 
recursos financeiros”. Já para o mestre João Fortes (2006), “o orçamento é 
uma prévia autorização do Legislativo para que se realizem receitas e despe-
sas de um ente público, obedecendo a um determinado período de tempo”.
Da leitura da definição do professor Aliomar Baleeiro (1994), pode-se 
iniciar o estudo pormenorizado do orçamento público, já que o texto traz 
muitos conceitos importantes.
Iniciativa
O texto do eminente professor começa afirmando que “o orçamento é 
um ato pelo qual o Poder Legislativo autoriza o Poder Executivo”, o que sig-
nifica que o orçamento público é ato de iniciativa exclusiva do chefe do Poder 
Executivo.
O processo orçamentário brasileiro começa com cada um dos poderes 
elaborando sua proposta orçamentária. O Poder Executivo, o Legislativo, o 
Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Defensoria Pública 
elaboram suas próprias propostas orçamentárias e encaminham ao Poder 
Executivo para consolidação.
Uma vez feita a consolidação, é enviada uma proposta de orçamento da 
unidade da federação envolvida (União, estado ou município) ao respectivo 
Poder Legislativo. Assim, por exemplo, no caso da União, os Poderes Legisla-
tivo, Executivo, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas da União e 
Defensoria Pública da União elaboram suas próprias propostas orçamentá-
rias e encaminham ao Poder Executivo, para a consolidação. Uma vez conso-
lidada, a proposta de orçamento da União segue para o Congresso Nacional, 
o Poder Legislativo federal.
São comuns questões de concurso que abordam a questão da iniciati-
va da lei orçamentária. Muitas alegam, por exemplo, que seria possível um 
poder qualquer enviar sua própria proposta orçamentária diretamente ao 
Poder Legislativo. Nesse caso, deve-se marcar falso. A iniciativa é exclusiva 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O conceito de orçamento público
27
do chefe do Poder Executivo (presidente, governador e prefeito), não poden-
do nem mesmo eventual vício de iniciativa ser convalidado (corrigido pela 
pessoa que tem a iniciativa).
É importante notar, também, que não é possível o próprio Poder Legis-
lativo aprovar o seu orçamento, já que esse é o poder que aprova as leis. 
Esse é outro tipo de questão comum que deve ser considerada falsa. O Poder 
Legislativo, assim como todos os demais, tem que enviar sua proposta orça-
mentária para consolidação pelo Poder Executivo, para posterior envio ao 
Congresso (no caso da União).
Portanto, a iniciativa da lei orçamentária é de competência privativa do 
Poder Executivo, não podendo ser suprida por outro órgão, ainda que do 
Poder Legislativo.
Orçamento autorizativo
Continuando na leitura da definição do professor Aliomar Baleeiro, vimos 
que “o orçamento é um ato pelo qual o Poder Legislativo autoriza o Poder 
Executivo”. Portanto, no Brasil, o orçamento público é de natureza autorizati-
va. O que significa isso, exatamente?
Nos orçamentos autorizativos não existe a obrigatoriedade de executar 
todas as despesas consignadas na lei orçamentária. Esta é vista apenas como 
peça necessária, uma condição para a execução das despesas, mas não é, por 
si só, suficiente para a execução orçamentária, tarefa essa do administrador 
público que, em razão da sua discricionariedade, pode escolher o melhor 
momento para executar determinadas despesas.
Como nessa visão a lei orçamentária é uma condição para a execução da 
despesa, convencionou-se chamar os orçamentos autorizativos de ato-con-
dição, para diferenciá-lo das outras leis, que em geral criam obrigações, que 
são chamadas de atos-regra. O Código Penal, por exemplo, é um ato-regra, 
já que não existe discricionariedade das pessoas no cumprimento de suas 
determinações. Todo mundo, por exemplo, é proibido de matar ou roubar.
Embora, no Brasil, o orçamento público tenha caráter autorizativo (ato- 
-condição), a doutrina orçamentária reconhece a existência de outro tipo 
de orçamento público, o orçamento impositivo. Nele, o administrador pú-
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
28
O conceito de orçamento público
blico perde a discricionariedade para decidir sobre o que deve ser executa-
do, já que como lei, nessa visão, o orçamento deve ser integralmente exe-
cutado como aprovado. É o orçamento público em sua versão ato-regra, 
obrigatório.
O STF, ao ser instado a se manifestar sobre o assunto, entendeu que, no 
Brasil, o orçamento não é impositivo, mas sim, autorizativo. Isso quer dizer 
que não existe obrigatoriedade de execução das despesas consignadas no 
orçamento público, já que a avaliação do que deve ou não ser executado 
está a cargo da discricionariedade do gestor.
É notável perceber que o orçamento público do tipo autorizativo conce-
de maior poderao chefe do Executivo (presidente, governador e prefeito), 
a quem cabe decidir o que executar. Já os orçamentos do tipo impositivo 
transferem esse poder ao Legislativo, já que ao chefe do Executivo caberá 
meramente a tarefa de execução (e não a de decisão) do orçamento aprova-
do por deputados e senadores.
A questão das emendas parlamentares é um caso emblemático dessa dis-
cussão. Como se sabe, emendas parlamentares são destaques que deputa-
dos e senadores (no caso da União) podem fazer no orçamento (da União, de 
estados e municípios). A ideia inicial era a de que o parlamentar, eleito pelo 
povo, pudesse tomar parte nas decisões orçamentárias para beneficiar a sua 
região ou algum projeto prioritário de seu interesse.
No entanto, o instrumento foi desvirtuado e as emendas parlamenta-
res passaram a ser usadas como forma de corrupção, apadrinhamento e 
compra de votos, entre outras irregularidades. Atualmente, embora os par-
lamentares ainda possam fazer as emendas parlamentares, fica a cargo do 
Poder Executivo decidir se elas receberão ou não recursos orçamentários. 
Se o Poder Executivo decidir não mandar verbas financeiras para a emenda, 
embora aprovada, ela não é executada.
Muitos parlamentares, insatisfeitos com a não execução das despesas 
orçamentárias consignadas por meio de emendas, tentaram encampar a 
tese de que o orçamento público, por ser lei, deveria ter execução obriga-
tória, ou seja, queriam que no Brasil fosse adotado o modelo orçamentário 
impositivo.
Assim, o Supremo Tribunal Federal foi acionado e decidiu que o orça-
mento é ato-condição (condição necessária para execução da despesa), 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O conceito de orçamento público
29
mas não ato-regra (obrigação no sentido restrito). Desde então, ficou claro 
que o orçamento no Brasil tem natureza autorizativa, ou seja, não existe 
obrigatoriedade da execução das despesas lá consignadas.
Natureza jurídica do orçamento público
A natureza jurídica do orçamento público também gera debates e está 
intimamente ligada à questão tratada no tópico anterior, sobre a obrigato-
riedade ou a discricionariedade na execução das despesas do orçamento.
O orçamento público é, em última análise, uma lei formalmente aprovada 
pelo Poder Legislativo. Tem formato de lei e é aprovada como tal. Mas sendo 
o orçamento no Brasil um ato-condição e não ato-regra (ou seja, não é obri-
gatório, mas autorizativo) qual seria a natureza jurídica do orçamento?
Em consonância com a decisão anterior, de que o orçamento é apenas 
uma peça autorizativa, o STF, instado a se manifestar sobre o assunto, deci-
diu que o orçamento público é lei apenas no sentido formal.
As leis podem ser classificadas em leis materiais ou em leis formais. Lei 
formal é aquela que tem “cara” de lei, ou seja, é formalmente aprovada pelo 
Poder Legislativo. Todas as leis que são aprovadas pelo Poder Legislativo são 
leis formais.
Entretanto, nem todas as normas aprovadas pelo Poder Legislativo são 
leis materiais. Lei material é aquela norma que tem abstração e é genérica, 
não tendo destinatário certo. É um conjunto de hipóteses normativas abstra-
tas. Assim, quando o Código Penal diz que matar alguém é crime e comina 
as penalidades para quem mata, a norma não está dizendo quem vai ser pe-
nalizado. Todo aquele que matar alguém (exceto nas hipóteses de exclusão 
de crime) está cometendo crime, não tendo a lei destinatário certo, sendo 
genérica. Assim, o Código Penal é uma lei em sentido material.
Por outro lado, suponha que uma lei conceda aposentadoria vitalícia a 
um cidadão em razão de ele ter sido reconhecido, por exemplo, como herói 
da pátria. Nesse caso, temos uma lei formal, pois aprovada pelo Poder Legis-
lativo. Entretanto, ela não é genérica e tem destinatário certo: a sua natureza 
jurídica é de ato administrativo e não de lei. Atos administrativos, em regra, 
têm efeitos concretos, assim como as leis meramente formais (chamadas leis 
de efeitos concretos).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
30
O conceito de orçamento público
Nesse sentido, o orçamento público é considerado um “ato administrati-
vo” revestido de formato de lei formal, não sendo, portanto, lei material, mas 
sim, lei de efeitos concretos.
Mandado de segurança e orçamento público
Quem já estudou Direito sabe que o mandado de segurança é um re-
médio constitucional que visa repelir ameaça a direito causado por agente 
público ou quem tenha poder de ordem pública (uma concessionária, por 
exemplo). Mandado de segurança é uma ação subsidiária, ou seja, ela só é 
cabível quando não é possível a impetração do habeas corpus ou habeas 
data, outros remédios constitucionais para finalidades diferentes.
Assim, quem tiver um direito ameaçado que não esteja amparado por 
habeas corpus ou habeas data e cujo autor da ofensa seja agente público (ou 
que tenha poder de ordem pública) pode impetrar na via judicial uma ação 
constitucional chamada mandado de segurança, desde que o direito seja 
líquido e certo (o que quer dizer, em termos bem resumidos, que não seja 
necessária dilação probatória, ou seja, a questão não deve ser de fatos, mas 
de direitos).
É comum, por exemplo, a impetração de mandado de segurança contra 
desapropriação de uma área privada por um órgão público ou contra um ato 
administrativo que negue a isenção de imposto para um deficiente físico. As 
aplicações do mandado de segurança são várias e ultrapassam os objetivos 
deste texto sobre orçamento público. Mas o que é importante saber, a essa 
altura, é que a doutrina entende que o mandado de segurança só pode ser 
aplicado contra ato concretamente constituído, ou seja, contra aqueles atos 
que já saíram do plano abstrato para a realidade fática.
Uma lei pode ser absurdamente ilegal, mas contra ela não é possível a 
impetração de mandado de segurança, já que, enquanto genérica, ela não 
produz efeito concreto nenhum. Nesse caso, seria possível contestar a lei 
pelo controle direto (ação direta de inconstitucionalidade) ou, em alguns 
casos, pelo controle difuso (qualquer ação), mas, em regra, não seria possível 
discutir normas abstratas no âmbito do mandado de segurança em razão da 
necessidade de se provar a certeza e liquidez do direito já na inicial.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O conceito de orçamento público
31
Portanto, o mandado de segurança só pode ser aplicado contra atos 
administrativos, que é a consumação fática de um desejo da Administração 
e que, de fato, pode gerar prejuízos concretos a alguém. E é, portanto, contra 
os atos administrativos que o mandado de segurança é possível.
Situação curiosa ocorre em leis tributárias ilegais. Uma vez aprovada a lei 
ilegal, os contribuintes ainda nada podem fazer de concreto, posto que a lei é 
genérica e abstrata e nada aconteceu ainda no plano fático apenas com a sua 
aprovação. Apenas quando o fiscal ou o auditor tributário fiscaliza e/ou notifi-
ca o contribuinte para o pagamento do imposto é que a lei ilegal sai do plano 
abstrato e se torna real, momento a partir do qual é possível a impetração de 
mandado de segurança.
O que essa discussão traz de prático para o estudo do orçamento público? 
É que quando trouxemos à baila a discussão a respeito da natureza jurídica 
do orçamento público e das suas relações com a obrigatoriedade da sua exe-
cução (orçamento impositivo versus autorizativo), vimos que o orçamento 
autorizativo é visto como um ato administrativo travestido de lei formal.
Se o orçamento autorizativo é ato administrativo (disfarçado de lei), então, 
na prática, os doutrinadores entendem que é possível impetrar mandado de 
segurança contra ele, embora não sejapossível a mesma ação contra a lei em 
tese (abstratas).
É possível, como já aconteceu, alguma prova de concurso questionar se o 
mandado de segurança é instrumento cabível contra leis orçamentárias. Do 
ponto de vista meramente teórico, a resposta é verdadeira, por ser o orça-
mento lei de efeitos concretos.
Agora é bom ressaltar que não são todas as partes das leis orçamentárias 
que têm efeitos concretos. Alguns trechos da Lei de Diretrizes Orçamentárias 
(LDO) se prestam a orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) e, 
não raro, criam critérios a serem seguidos nos mais diversos casos. Nesses 
dispositivos, há abstração e a lei é genérica, motivo pelo qual pode ser insta-
da em sede de ADI.
[...] O STF tem dado por inadmissível a ação direta contra disposições insertas na Lei de 
Diretrizes Orçamentárias, porque reputadas normas individuais ou de efeitos concretos, que 
se esgotam com a propositura e a votação do orçamento fiscal (v.g., ADI 2.100, Jobim, DJ 
1.º/06/2001). A segunda norma questionada que condiciona a inclusão no orçamento fiscal 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
32
O conceito de orçamento público
da verba correspondente a precatórios pendentes à “manutenção da meta de resultado 
primário, fixada segundo a LDO”, constitui exemplo típico de norma individual ou de 
efeitos concretos, cujo objeto é a regulação de conduta única, posto que subjetivamente 
complexa: a elaboração do orçamento fiscal, na qual se exaure, o que inviabiliza no ponto 
a ação direta. Diferentemente, configura norma geral, suscetível de controle abstrato de 
constitucionalidade a primeira das regras contidas no dispositivo legal questionado, que 
institui comissão de representantes dos três Poderes e do Ministério Público, à qual confere 
a atribuição de proceder ao “criterioso levantamento” dos precatórios a parcelar conforme 
a EC 30/2000, com vistas a “apurar o seu valor real”: o procedimento de levantamento e 
apuração do valor real, que nela se ordena, não substantiva conduta única, mas sim conduta 
a ser desenvolvida em relação a cada um dos precatórios a que alude; por outro lado, a 
determinabilidade, em tese, desses precatórios, a partir dos limites temporais fixados, não 
subtrai da norma que a todos submete à comissão instituída e ao procedimento de revisão 
nele previsto a nota de generalidade. Não obstante, é de conhecer-se integralmente da 
ação direta se a norma de caráter geral é subordinante da norma individual, que, sem a 
primeira, ficaria sem objeto. [...] (ADI 2.535-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 
19/12/2001, DJ de 21/11/2003).
Portanto, regra geral, as leis orçamentárias (a parte que faz a previsão 
da receita e fixa a despesa) não estão suscetíveis ao controle jurisdicional 
em abstrato, como em uma ação direta de inconstitucionalidade. A exceção 
ocorre na parte em que possuem abstração e generalidade, ou seja, na parte 
normativa das leis orçamentárias.
Outros aspectos do orçamento público
Periodicidade
As autorizações legislativas devem ser feitas por períodos definidos de 
tempo, o que chamamos de princípio da anualidade. Se a autorização do 
Poder Legislativo fosse muito longa ou indefinida, o controle legislativo per-
deria o sentido. Por outro lado, se a autorização tivesse um prazo muito curto, 
o Poder Executivo ficaria engessado. Hoje, a periodicidade é definida em lei e 
corresponde ao prazo de um ano, que atualmente é coincidente com o ano 
civil (1/1 a 31/12). Mas essa coincidência não é obrigatória. Alguns países 
têm o ano fiscal iniciando em abril (Estados Unidos), assim como é possível, 
na prática, a adoção de qualquer data como termo de início.
Detalhamento
A autorização concedida pelo Poder Legislativo ao Executivo não é um 
cheque em branco: o Poder Legislativo deve ter conhecimento pormenori-
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O conceito de orçamento público
33
zado do que está autorizando, de modo a evitar a autorização de gastos glo-
bais. Se a autorização fosse global (sem detalhar onde o dinheiro seria gasto), 
o Poder Executivo teria muita liberdade para gastar onde bem entendesse os 
recursos orçamentários. No entanto, se o orçamento for muito detalhado, ele 
ficará muito engessado e difícil de se adaptar a eventuais mudanças.
Orçamento público e economia
O Poder Legislativo deve autorizar a realização das despesas, de modo 
que elas não podem ser superiores às receitas previstas, em função do prin-
cípio do equilíbrio. Entretanto, é bom ressaltar que a despesa pública tem 
grande influência na economia. Segundo a visão keynesiana da economia, o 
aumento dos gastos públicos tem influência positiva sobre o produto inter-
no bruto e, portanto, sobre a renda das famílias.
Os investimentos do governo também podem contribuir para o aumento 
da renda: a participação do setor público, em todos os seus níveis e esferas 
na economia, é decisiva na determinação do nível de renda da sociedade e 
da alocação dos recursos pelos entes privados.
A Portaria 163/2001 – STN/SOF estipulou a obrigatoriedade para todos 
os membros da federação utilizarem a classificação da despesa lá descrita, 
com a finalidade de estimar a participação do setor público na economia. 
É que se cada ente tivesse sua própria classificação da despesa seria difícil, 
ou quase impossível, levantar os agregados macroeconômicos de despesa 
corrente e de capital para fins de consolidação das contas nacionais.
Atividades
1. (Cespe) Em relação à gestão financeira, julgue o item utilizando verda-
deiro (V) ou falso (F).
 A atividade financeira do Estado destina-se exclusivamente à )(
obtenção de meios que assegurem a cobertura das despesas 
decorrentes da atuação das diversas instituições governamen-
tais. No primeiro ano do mandato presidencial, não há condi-
ções objetivas de compatibilizar a LDO com o PPA.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
34
O conceito de orçamento público
2. (Cespe) O orçamento público tem como uma de suas principais fun-
ções o controle da atividade financeira do Estado. Para efetivação 
desse controle, no processo de elaboração da proposta orçamentária, 
devem ser respeitados alguns princípios orçamentários, os quais não 
incluem o princípio da:
a) universalidade.
b) exclusividade.
c) anualidade.
d) tolerância.
3. (Cespe) Com relação à política fiscal e monetária, assinale a opção cor-
reta.
a) Uma forma de financiamento de déficit público ocorre por meio 
de política monetária expansionista, segundo a qual, por exemplo, 
o Banco Central poderia aumentar a taxa cobrada sobre emprésti-
mos compulsórios aos bancos comerciais.
b) Aumentar a emissão de títulos do Governo é política fiscal que de-
pende somente do oferecimento de taxas de juros atrativas.
c) Postergação de ajustes das contas públicas tende a realimentar, 
por meio da conta de juros, os déficits em períodos subsequentes, 
o que torna o ajustamento requerido progressivamente menor.
d) O importante quanto à dívida pública não é o seu tamanho, mas a 
sua composição, e é esta diferença na composição da dívida que 
distingue os países desenvolvidos dos países em menor estágio de 
desenvolvimento.
4. (Cespe) O papel desempenhado pelo Governo é fundamental para o 
funcionamento adequado das modernas economias de mercado. Em 
conformidade ao arcabouço teórico e aplicado, desenvolvido no âm-
bito da economia do setor público, julgue o item seguinte utilizando 
verdadeiro (V) ou falso (F).
 Investimentos públicos na área de infraestrutura e em setores )(
econômicos estratégicos constituem exemplos típicos da função 
alocativa do Governo.
Este material é parte integrante do acervo doIESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O conceito de orçamento público
35
5. (Esaf ) Com base nas funções clássicas do Estado, assinale a única op-
ção falsa.
a) As necessidades meritórias são aquelas que também são atendi-
das pelo setor privado e, portanto, não estão sujeitas ao princípio 
da exclusão.
b) A função estabilizadora do Governo concentra seus esforços na 
manutenção de um alto nível de utilização de recursos e de um 
valor estável da moeda.
c) As necessidades meritórias e as necessidades sociais são atendi-
das, no Brasil, pelas três esferas de Governo.
d) Na atual conjuntura brasileira, verifica-se atividade governamental 
no que se refere à distribuição de renda, via ações compensatórias, 
tais como as transferências de renda por meio da distribuição de 
cestas básicas.
e) A função alocativa do Governo está associada ao fornecimento de 
bens e serviços não oferecidos adequadamente pelo sistema de 
mercado.
Dicas de estudo
A autorização legislativa orçamentária, muito discutida nessa aula, não 
diz respeito tão somente à realização das despesas, mas ela é necessária, 
também, para a arrecadação das receitas. Entretanto, esse chamado princí-
pio da anterioridade orçamentária vem sendo bem relativizado no âmbito 
da receita, de forma a permitir a arrecadação de valores e tributos, ainda que 
não estejam integralmente previstos em lei.
O aluno deve estar bem atento, também, aos tipos de classificação do 
orçamento e à discussão sobre o orçamento impositivo e autorizativo. Uma 
boa discussão pode ser encontrada no seguinte link:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/10022/a-necessidade-de-mudancas-
na-lei-orcamentaria-e-o-orcamento-impositivo>.
Leitura obrigatória sobre o tema, no entanto, pode ser encontrada no site 
da Câmara. Trata-se de um texto do professor Roberto Piscitelli sobre a dis-
cussão entre orçamento impositivo e autorizativo:
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
36
O conceito de orçamento público
<http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/1636>.
Referências
BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 14. ed. Rio de Janei-
ro: Forense, 1994.
FORTES, João. Contabilidade Pública. 9. ed. Brasília: Franco & Fortes, 2006.
MOTA, Francisco Glauber Lima. Curso Básico de Contabilidade Pública. 2. ed. 
Brasília: [s. n.], 2006.
Gabarito
1. F
2. D
3. D
4. V
5. A
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br

Continue navegando