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AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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Procedimentos Cautelares e Especiais - 4.ª edição revista, atualizada e ampliada		1
José Miguel Garcia Medina
ASL7908_23Out2012
28
Ação de Improbidade Administrativa
Sumário: 28.1 Considerações iniciais – 28.2 Improbidade administrativa – 28.3 A caracterização do ato de improbidade – 28.4 O agente público que comete ato de improbidade – 28.5 A improbidade e o princípio da tipicidade – 28.6 Procedimento da ação de improbidade – 28.7 A tutela de urgência na ação de improbidade – 28.8 A fungibilidade e a urgência – 28.9 Proporcionalidade na concessão do provimento cautelar – 28.10 Petição inicial – 28.11 Contraditório preliminar: condição de admissibilidade – 28.12 Notificação e interrupção da prescrição – 28.13 Competência – 28.14 Deslocamento por prerrogativa de foro. Impossibilidade – 28.15 Condições da ação: 28.15.1 Legitimidade ad causam; 28.15.2 Pessoa jurídica lesada; 28.15.3 Litisconsórcio e assistência ao Ministério Público; 28.15.4 Ministério Público – 28.16 Audiência de conciliação e instrução – 28.17 Sentença na ação de improbidade – 28.18 Aplicação das sanções do art. 12 da Lei 8.429/1992. Regra de ponderação – 28.19 Execução da sentença – 28.20 Prescrição da pretensão na ação de improbidade – 28.21 Interrupção e imprescritibilidade do ressarcimento.
28.1	Considerações iniciais
A ação processual regrada pela Lei 8.429/1992 é nada mais do que uma ação civil pública, contudo com causa de pedir específica. Este poderoso instrumento visa a combater os atos de improbidade administrativa. 
A expressão “improbidade administrativa” merece um exame disjuntivo. O termo “improbidade” é relativamente recente em nosso ordenamento se levarmos em consideração que sua inserção decorreu do texto constitucional de 1988.	.	Marino Pazzaglini Filho, Lei de improbidade administrativa comentada, p. 17. A Constituição Federal de 1988 realiza a menção ao termo improbidade, em duas oportunidades. A primeira é relativa à previsão dos direitos políticos, conforme art. 15, V.	.	In verbis: “É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (...) V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4.º”. A segunda está alocada na disciplina referente à administração pública, conforme o art. 37, § 4.º.	.	In verbis: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. O combate aos atos de improbidade constitui o fundamento para a utilização deste importante instrumento processual.	.	Antes da CF/1988, são dignos de menção os textos da Lei 3.164/1957, conhecida como lei Pitombo-Godói Ilha, que disciplina o sequestro e perdimento de bens em relação ao funcionário público que enriqueça ilicitamente, bem como a Lei 3.502/1958, denominada Bilac Pinto, a qual regulamentou o sequestro e perdimento pelo abuso de poder junto ao cargo público. Vide Marino Filho, Lei de improbidade administrativa comentada, p. 20.
28.2	Improbidade administrativa
Os atos praticados por todo administrador público, em qualquer uma das esferas do poder público (Executivo, Legislativo e Judiciário), devem ser pautados pelo respeito aos princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade, eficiência e razoabilidade. Este núcleo essencial, do qual derivam outros subprincípios, constitui a garantia do Estado Democrático de Direito. A passagem do absolutismo para o Estado de Direito tomou em consideração o fim do dogma The king can do no wrong. A responsabilidade dos agentes públicos, os quais assumem plexos de competência com o fim de desempenhar funções públicas, exige o respeito à legalidade estrita, uma vez que toda atividade administrativa se desenvolve secundum legem. A Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa – LI) reforçou esta noção ao disciplinar a natureza jurídica dos atos considerados ímprobos. A redação do art. 11 não permite outra interpretação, senão vejamos: “Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente: (...)” O legislador constituinte procurou ressaltar a gravidade da conduta ímproba, pois sua caracterização provoca a suspensão de direitos políticos, a perda de função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário. Importante salientar que a propositura da ação civil pública para ressarcimento do erário não elimina o ajuizamento da ação penal cabível (art. 37, § 4.º, da CF/1988).
28.3	A caracterização do ato de improbidade
A improbidade se caracteriza pela conduta desonesta e ilegal do agente público, o qual se prevalece da investidura pública com o fim de obter benefício próprio, com prejuízo direto ou indireto aos cofres públicos. Sua conduta poderá ser comissiva ou omissiva, embora a improbidade culposa seja polêmica.	.	Sobre a improbidade culposa, Marcel Justen Filho, Curso de direito administrativo, p. 699-700. Como o ato de improbidade deriva de uma conduta, é essencial que o ato produza efeitos concretos, o que não se confunde com o fato de o agente público obter a vantagem indevida. Em determinadas circunstâncias, esta vantagem poderá não beneficiá-lo diretamente, como em situações de nepotismo, o que não elimina a existência do ato de improbidade.
28.4	O agente público que comete ato de improbidade
A Lei de Improbidade descreve os sujeitos passivo e ativo. Examinaremos primeiramente os sujeitos ativos, os quais se enquadram dentro do conceito de agente público. Trata-se de uma concepção lata, semelhante àquela fornecida pelo art. 327 do CP.	.	Francisco Octavio de Almeida Prado, Improbidade administrativa, p. 67-71. O art. 2.º da LI dispõe: “Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. Percebe-se que o tipo procura enquadrar toda a pessoa que tenha exercido plexo de competência, através do qual tenha cometido algum ato de improbidade, prevalecendo-se da função pública na qual estava investido de modo transitório ou permanente. Conclui-se que a ausência de remuneração não é um empecilho ao enquadramento na Lei de Improbidade. Aliás, em muitas situações, o feixe de poderes exercidos junto ao cargo transforma a remuneração num mero detalhe. O poder exercido junto ao cargo, emprego, função ou mandato é que atrai o agente e constitui a fonte dos desvios e ilegalidades que provocam imenso prejuízo ao erário. No tipo do art. 2.º enquadram-se agentes políticos, os servidores públicos (detentores de cargos, empregos públicos, ainda que temporários) e particulares em colaboração (permissionários, concessionários, Parceria Público-Privada). 
No conceito de agentes políticos, embora exista polêmica quanto ao enquadramento dos membros do Poder Judiciário, o certo é que estes agentes se submetem a um regime especial, o que não retira o seu enquadramento do art. 2.º da LI. O mesmo pode ser dito em relação aos membros do Ministério Público (estadual e federal) e dos Conselheiros dos Tribunais de Contas. Em relação aos particulares em colaboração, citamos os concessionários e permissionários como os principais exemplos de aplicação da lei, pois estas modalidades de participação dos particulares na administração pública provocam as principais situações de incidência do texto normativo. Geralmente os valores envolvidos em concessões públicas são altíssimos e a possibilidade de fraude na licitação da concessão é fato notório. Entretanto, nas demais relações de colaboração do particular com o poder público, a LI aplicar-se-á normalmente. Como exemplos, citamos jurados que tenham recebido “propina” para favorecer a tese dadefesa no Tribunal do Júri, cuja absolvição tenha provocado a procedência em ação de indenização promovida contra o Estado, na esfera cível, por prisão ilegal. 
Há, na jurisprudência recente, decisões no sentido de que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa a agentes políticos, em razão de estes se sujeitarem a legislação específica (Lei 1.079/1950).	.	A respeito, assim decidiu o STF: “Os atos de improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei 1.079/1950, delito de caráter político-administrativo. II.2. Distinção entre os regimes de responsabilização político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos. A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4.º (regulado pela Lei 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, c (disciplinado pela Lei 1.079/1950). Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (art. 37, § 4.º, da CF) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, c, da Constituição. II.3. Regime especial. Ministros de Estado. Os Ministros de Estado, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (art. 102, I, c, da CF; Lei 1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência previsto no regime comum da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992). (...) Incompetência dos juízos de primeira instância para processar e julgar ação civil de improbidade administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade, conforme o art. 102, I, c, da Constituição. III. Reclamação julgada procedente” (STF, Recl. 2.138/DF, Pleno, j. 13.06.2007, rel. Min. Nelson Jobim, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, DJU 18.04.2008). No mesmo sentido: STJ, REsp 456649, 1.ª T., rel. Min. Francisco Falcão, rel. p/ acórdão Min. Luiz Fux, j. 05.09.2006, DJU 05.10.2006, p. 237; STJ, REsp 769811, 1.ª T., j. 19.06.2008, rel. Min Francisco Falcão, DJU 06.10.2008; STJ, REsp 909405, 1.ª T., j. 09.09.2008, rel. Min. Luiz Fux, DJU 01.10.2008.
28.5	A improbidade e o princípio da tipicidade
Tratando-se de norma punitiva, ainda que no âmbito civil, a Lei 8.429/1992 não permite interpretação extensiva. Os atos de improbidade devem estar subsumidos a um dos tipos previstos pelos arts. 9.º, 10 e 11.	.	“A natureza punitiva e sancionatória própria ao instituto conduz à incidência do princípio da legalidade administrativa e penal, com todas as suas consequências” (Marcel Justen Filho, Curso de direito administrativo, p. 701). De acordo com a observação anterior, é importante frisar que as condutas descritas pela Lei de Improbidade encontraram eco na esfera penal, especialmente em relação ao Dec.-lei 201/1967, quanto aos crimes cometidos por prefeitos e vereadores.
A leitura dos três dispositivos permite examinar a configuração dos atos de improbidade em três classes autônomas. O art. 9.º prevê a hipótese ordinária de vedação ao enriquecimento ilícito provocado pelas condutas descritas nos incisos do dispositivo. Elas, basicamente, estão centradas na proibição de enriquecimento ilícito em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade com percepção de vantagens indevidas. O funcionário público deve recusar qualquer tipo de oferecimento de presente ou gratificação, que corresponde à porta de entrada para a propina ou suborno.	.	Sobre o assunto, Fábio Medina Osório, Teoria da improbidade administrativa: má gestão pública; corrupção; ineficiência, p. 344. Não resta dúvida que existem situações rotineiras e costumeiras em que grandes empresas fornecem brindes e presentes, como as cestas natalícias, muitas vezes entregues a toda uma repartição pública. Mesmo que a aplicação do princípio da proporcionalidade e da insignificância não gere a incidência do art. 9.º da LI, a postura correta do funcionário público está em recusar este tipo de oferta, ou aceitá-la para fins de doação comprovada a instituições de caridade ou de promoção de ação social. 
Por sua vez, o art. 10 da LI tipifica os atos que geram prejuízo ao Erário Público. O dispositivo procura isolar a configuração do ato de improbidade de qualquer vantagem obtida pelo agente público. Em sua previsão bastará que o ato praticado pelo agente provoque prejuízo ao erário..	“O eixo, a substância da modalidade de improbidade administrativa examinada no capítulo anterior (art. 9.º) é o proveito ilícito do agente público ou terceiro em face do abusivo exercício funcional daquele. Na modalidade do art. 10 da LIA [LI], o fundo, a medula dos atos de improbidade é a ofensa lesiva ao patrimônio público financeiro” (Lei de improbidade administrativa comentada, p. 77). Como informa a melhor doutrina, na averiguação das condutas descritas pelo art. 10 será essencial averiguar o efetivo prejuízo gerado pela conduta capitulada em qualquer um dos incisos (I a XV)..	Veja-se o ótimo exemplo formulado por Marçal Justen Filho: “A mera constatação de que houve contratação direta em hipótese incabível é insuficiente para configurar, mesmo em tese, a existência da infração. É indispensável demonstrar que, além da omissão indevida da licitação, a constatação resultou em prejuízo para os cofres públicos” (Curso de direito administrativo, p. 703). Isto permite afirmar que as condutas descritas pelo art. 10 exigem a conjunção de ilegalidade e prejuízo. Não existe presunção, ou ficção de ato de improbidade, sem a demonstração do prejuízo efetivo. É importante frisar que o ato praticado poderá ter beneficiado o poder público, muito embora não tenha sido praticado com a observância de alguma formalidade legal. Aproveita-se o ato em respeito ao princípio pas de nullité sans grief..	Nesse sentido: “Os atos de improbidade só são punidos a título de dolo, indagando-se da boa ou má-fé do agente, nas hipóteses dos arts. 9.º e 11 da Lei 8.429/1992. Embora mereçam acirradas críticas da doutrina, os atos de improbidade do art. 10, como está no próprio caput, são também punidos a título de culpa, mas deve estar presente na configuração do tipo a prova inequívoca do prejuízo ao erário” (STJ, REsp 842.428/ES, 2.ª T., j. 24.04.2007, rel. Min. Eliana Calmon, DJU 21.05.2007).
No art. 11, são disciplinados os atos que violam os princípios da Administração Pública. O art. 11 está topologicamente mal colocado na Lei 8.429/1992. O dispositivo deveria iniciar o Capítulo II da Lei de Improbidade. O tratamento das condutas vedadas em relação aos agentes públicos, pela violação de princípios norteadores da administração pública, precede a especificação das demais condutas. Importante salientar que a modalidade culposa está restrita ao art. 10 sendo necessária a comprovação de efetivo prejuízo. Para os demais tipos, exige-se a demonstração do dolo específico..	Neste sentido: “Efetivamente, a configuração do ato de improbidade administrativa por lesão aos princípios da Administração Pública não exige prejuízo ao erário, nos termos do art. 21 da Lei 8.429/1992. Entretanto, é indispensável a presença de conduta dolosa do agente público ao praticar o suposto ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa, elemento que não foi reconhecido pela Corte a quo no caso concreto. Tais considerações, ainda que se trate de ilegalidade ou mera irregularidade, afastam a configuração de ato de improbidade administrativa, pois não foi demonstrado o indispensável elemento subjetivo, ou seja, a prática dolosa da conduta de atentado aos princípios da Administração Pública, nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992. É importante ressaltar que a forma culposa somente é admitida no ato de improbidade administrativa relacionado a lesão ao erário (art. 10 da LIA [LI]), não sendo aplicável aos demais tipos(arts. 9.º e 11 da LIA [LI]). 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido (STJ, REsp 1036229/PR, 1.ª T. , j. 17.12.2009, rel. Min. Denise Arruda, DJe 02.02.2010).
28.6	Procedimento da ação de improbidade
A ação civil pública está atrelada ao princípio da dualidade da cognição,.	Sobre a dualidade da cognição, James Marins, Direito processual tributário brasileiro, p. 26-27. porém de modo facultativo..	Francisco Octavio de Almeida Prado, Improbidade administrativa, p. 181. Apesar de a ação de improbidade estar sujeita ao rito ordinário (art. 17), o seu cabimento poderá ser precedido por um procedimento administrativo prévio. O art. 14 estabelece que a via administrativa nascerá por iniciativa de qualquer pessoa, o que constitui autêntico exercício do direito de representação (art. 5.º, XXXIV, a, da CF/1988 .	In verbis: “XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (...)”.)..	Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Constituição Federal comentada e legislação constitucional, p. 763. Não existe qualquer empecilho quanto ao oferecimento ao ajuizamento imediato da ação civil pública por improbidade. A inexistência de inquérito civil, processo administrativo prévio ou de qualquer procedimento preliminar não impede o ajuizamento do pedido condenatório. É comum que muitas ações civis tomem como base as provas já produzidas na esfera penal, o que elimina a necessidade do inquérito civil. 
A doutrina discute a natureza jurídica da ação, o que não constitui questão de alta indagação, uma vez que os elementos necessários para a propositura do pedido estão precisamente definidos pelo art. 17 da Lei 8.429/1992. A doutrina majoritária classifica-a como ação civil pública, a qual encampamos neste estudo. Sem dúvida, existem diferenças quanto aos contornos delineados pela Lei 7.347/1985 (LACP). Entretanto, as semelhanças entre o procedimento da Lei 8.429/1992 com a LACP e mesmo com a Lei 4.717/1965 são grandes e permitem a aproximação. Não comete qualquer “pecadilho” aquele que nomina a ação de improbidade como ação civil pública, até mesmo porque a ação civil pública também engloba a proteção ao patrimônio público..	Francisco Octavio de Almeida Prado, Improbidade administrativa, p. 191. 
28.7	A tutela de urgência na ação de improbidade
A Lei de Improbidade prevê a concessão de tutela de urgência, como meio de resguardar o interesse público quanto à possível atitude de dilapidação e alienação dos bens pelo investigado. As medidas indicadas pelo art. 7.º, caput e 16, caput estão em conexão. O primeiro dispositivo dispõe: “Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.” Por sua vez, o art. 16, caput reza: “Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público”. Ambos os dispositivos atribuem, à comissão investigante, a responsabilidade pela representação quanto ao pedido de tutela cautelar para o congelamento e apreensão de bens suficientes a resguardar o ressarcimento dos cofres públicos (art. 7.º, parágrafo único). Não se trata de tutela antecipada, mas de tutela cautelar. A solução não emerge apenas da pista dada pelo art. 16, que menciona a medida de sequestro, pois esta ação cautelar não se amolda perfeitamente ao requerimento que deverá ser formulado. 
28.8	A fungibilidade e a urgência
As medidas previstas pelos arts. 7.º e 16 são medidas de garantia para futura execução e satisfação; logo, não assumem a característica de tutela antecipada. Entretanto, caso sejam requeridas como tal, não deve o magistrado recusar a concessão pela impropriedade do pedido. O art. 273, § 7.º, do CPC prevê a aplicação do princípio da fungibilidade, o qual deve ser aplicado em mão-dupla. Na aplicação da fungibilidade, prevalece a máxima de que a forma não deve prevalecer sobre o fundo, especialmente nesta situação, em que a tutela é voltada para a proteção do patrimônio público. O sistema atual está longe do formalismo romano, no qual a obediência à tipicidade das formas era condição de exercício do direito (forma dat esse rei). A Lei de Improbidade permite a concessão de medidas cautelares atípicas, as quais não estão disciplinas no Livro III de modo expresso.
No mundo globalizado e digital, a apropriação de capital e as formas de encobrimento da atividade ilícita (pulverização de capital – lavagem de dinheiro – Lei 9.613/1998) exigem que o poder de cautela seja mais amplo, a ponto do juiz moldar a medida ideal para a proteção do interesse público. Neste sentido, percebe-se que a tímida medida de sequestro prevista pelo art. 16, § 1.º, da LI e regulada pelo art. 822 e ss. do CPC, quanto à sua hipótese de incidência, não se coaduna com o objeto da ação de improbidade. A ação de sequestro visa, em sua essência, a proteção do objeto litigioso até o final da disputa entre as partes, seja em relação a uma ação real (ação reivindicatória) ou pessoal (ação de separação). 
Quando o objetivo da medida estiver focado na separação de patrimônio para futuro ressarcimento por reintegração, ou pagamento, o próprio arresto se mostraria medida mais salutar. Os requisitos para a concessão da medida inominada de indisponibilidade e bloqueio exigem que os pressupostos essenciais sejam devidamente preenchidos. Não é válida a medida apoiada em fatos prováveis que não guardem correlação com a situação concreta. Ilações genéricas, as quais são rotineiras para fundamentar a existência do fumus boni iuris e do periculum in mora, não preenchem o suporte fático para justificar a imobilização do patrimônio do requerido. Caso o processo também tenha seguimento na esfera penal, a mesma advertência será válida para fundamentar o decreto de prisão preventiva. Alegações pautadas pela necessidade de assegurar a escorreita instrução criminal, ou existência de comoção social e necessidade de garantia da ordem pública, não são argumentos que autorizam a decretação da custódia cautelar..	A moderna doutrina processual penal exige o preenchimento do periculum in libertatis e do fumus comissi delicti para o deferimento da cautelar de custódia.
28.9	Proporcionalidade na concessão do provimento cautelar
A concessão do “sequestro” ou medida cautelar que vise à indisponibilidade do patrimônio do requerido não pode ocorrer sem uma análise criteriosa. A medida é de grande impacto e a modulação da sua eficácia é atribuição do magistrado. O Ministério Público, cumprindo seu papel postulatório, requer, costumeiramente, o bloqueio de todo o patrimônio do réu. A averiguação do montante alegado no pedido inicial como devido aos cofres públicos deverá ser sopesado pelo magistrado..	“Constrição deve recair apenas sobre parcela dos bens do acusado necessária à cobertura do indigitado dano, após avaliação da situação fática. Precedentes do STJ. Decisão reformada. Recurso provido, com observação” (TJSP, AgIn 356.154-5/2-Jundiaí, 9.ª Câm.Dir.Púb., j. 15.12.2004, rel. Des. Ricardo Lewandowski). A concessão da liminar deverá ser adequada, o que exige a sua extensão apenas àquela parcela do patrimônio que seja suficiente para garantir o ressarcimento do erário, em caso de procedência do pedido..	“A medida cautelar de indisponibilidade de bens decretada em ‘ação de improbidade’ com fins de resguardar a eficácia de decisão que determine o ressarcimento de dano ao erário não prescinde de fundamentação e proporcionalidade no seu objeto em relação ao possível dano, sendo ilegítima a constrição indiscriminada dos bens do réu” (TRF-1.ª R., AgIn 2005.01.00.066256-5, 3.ª T., rel. Juiz Fed. Conv. Lino OsvaldoSerra Sousa Segundo, DJ 17.08.2007). A concessão da cautelar poderá alcançar bens que tenham sido adquiridos na constância do desvio continuado da verba pública, mas não deve atingir bem de família anterior à própria investidura na função pública..	Em sentido contrário, Francisco Octavio de Almeida Prado, Improbidade administrativa, p. 202. A jurisprudência mais recente do STJ admite a medida cautelar de indisponibilidade sobre o bem de família adquirido antes do ato de improbidade (REsp 839936/PR, DJ 01.08.2007; REsp 781431/BA, DJ 14.12.2006; AgMC 11139/SP, DJ 27.03.2006 e REsp 401536/MG, DJ 06.02.2006. Todavia, cremos que este entendimento é muito severo e penaliza entes familiares que não tenham responsabilidade pelo evento. Além do mais, mesmo não sendo norma penal, as sanções estabelecidas pela Lei de Improbidade são severas e muitas delas autênticas penas acessórias, as quais se aplicam automaticamente, em caso de condenação criminal. Tal fato é suficiente para impedir a sua aplicação de modo retroativo, pelo menos quanto à incidência das sanções, resguardando-se o direito ao ressarcimento. 
28.10	Petição inicial
Caso tenha sido oferecido pedido cautelar nos termos dos arts. 7.º e 16, o pedido principal será proposto no prazo de 30 dias, nos termos do art. 17 da Lei 8.429/1992. Não sendo deferida a medida liminar, mas concedido o pedido de medida cautelar na sentença, aplica-se o mesmo prazo (art. 806 do CPC). A inicial obedecerá aos requisitos do art. 282 do CPC, sendo necessárias a indicação e qualificação das partes, a descrição da causa de pedir (ato de improbidade) e a formulação do pedido, que será preponderantemente condenatório. Não se descartam outras eficácias, como a declaratória, a mandamental e a constitutiva negativa, em vista do que dispõe o art. 12 da Lei 8.429/1992. Dependendo do tipo aplicável ao requerido, várias sanções poderão ser cumuladas na sentença que julgar procedente o pedido. Não há uma restrição ao ressarcimento ao erário (condenação), pois o agente público também poderá perder sua função e ter seus direitos políticos suspensos (constituição negativa), além da proibição de contratar com o poder público (mandamento). 
A inicial conterá, ainda, o pedido de citação com a delimitação precisa dos réus que serão atingidos pelos pedidos formulados e anexos com as provas documentais que embasaram o pedido, mediante a produção do inquérito civil ou procedimento administrativo preliminar. A produção de prova pericial, na fase administrativa, é recebida como prova documental e não elimina a necessidade de sua repetição em juízo.
28.11	Contraditório preliminar: condição de admissibilidade
Antes mesmo de iniciada a relação processual, o rito estabelecido pelo art. 17 da Lei 8.429/1992 prevê a necessidade da notificação prévia do requerido, nos moldes do que é realizado na esfera penal, antes do recebimento da denúncia-crime, em relação aos servidores públicos. Nesse sentido, já se decidiu que “a citação que salta a notificação prévia é nula”..	STJ, REsp 693132/RS, 1.ª T., j. 26.09.2006, rel. Min. Luiz Fux, DJU 07.12.2006, 
p. 274. Apesar da regra expressa, já se decidiu que a inobservância do procedimento prévio não tem o condão de nulificar a sentença condenatória por ato de improbidade..	“Em que pese o rito específico contido no § 7.º do art. 17 da Lei de Improbidade, que prevê a notificação do requerido para manifestação prévia, sua inobservância não tem o efeito de invalidar os atos processuais ulteriores, exceto se o requerido sofrer algum tipo de prejuízo. 3. Ainda que inexistente a notificação prévia prevista no art. 17, § 7.º, da Lei 8.429/1992, a citação tem o condão de interromper o prazo prescricional, retroagindo, nos termos do art. 219, § 1.º, do CPC, à data da propositura da ação. 4. Recurso especial conhecido em parte e improvido” (STJ, REsp 619.946/RS (2003/0232888-5), 2.ª T., rel. Min João Otávio de Noronha, DJU 02.08.2007). 
28.12	Notificação e interrupção da prescrição 
A introdução da regra do art. 17, § 7.º, da Lei 8.429/1992 não alterou a sistemática da interrupção da prescrição. Ela dependerá da citação válida, nos termos do art. 219, §§ 1.º e 2.º, do CPC. A eficácia da propositura tempestiva retroagirá à propositura da ação..	“O tribunal a quo entendeu que a propositura da ação não tem o condão de interromper o prazo prescricional se o autor não pleiteia a notificação prevista no § 7.º do art. 17 da Lei 8.429/1992, com os acréscimos impostos pela MPv [MP] 2.225/2001, dentro deste período. II – Ocorre que a norma acima aludida não impõe alteração aos critérios de interrupção do prazo prescritivo, sendo de rigor, desta feita, a observância do art. 219, § 1.º, do Código de Processo Civil. III – Assim, em sendo realizada a notificação do § 7.º do art. 17 da Lei 8.429/1992, mesmo fora do prazo quinquenal do art. 23, I, daquele diploma legal, deveria o magistrado prosseguir com as providências previstas nos parágrafos seguintes para, acaso recebida a petição inicial, ser realizada a citação e efetivada a interrupção da prescrição, com a retroação deste momento para o dia da propositura da ação. Precedente: REsp 704.823/RS, j. 20.09.2005, rel. Min. Francisco Falcão. IV – Recurso especial provido” (STJ, REsp 200401500494 (704823/RS), 1.ª T., rel. Min. Francisco Falcão, DJU 19.12.2005, p. 241). 
O maior problema se concentra em reconhecer eventual nulidade na ausência do procedimento prévio, o que comprometeria o próprio ato interruptivo..	“A notificação prévia na ação de improbidade, prevista no art. 17, § 7.º, em vigor à data da propositura, impunha-se sob pena de extinção prematura do processo, posto faltante o pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo (art. 267, IV, do CPC). Desta sorte, a citação que salta a notificação prévia é nula e não tem o condão de influir na interrupção da prescrição. Nesse mesmo segmento, sem notificação prévia não se considera validamente instaurado o processo e consectariamente inábil ao impedimento da prescrição” (STJ, REsp 693132/RS, 1.ª T., j. 26.09.2006, rel. Min. Luiz Fux, DJU 07.12.2006, p. 274). A notificação prévia exige a obediência ao prazo de 15 dias, no qual o requerido poderá se manifestar por escrito com a juntada de documentos, com o objetivo de demonstrar a impropriedade do pedido inicial. Em determinadas situações, esta fase preparatória poderá fornecer elementos para que o juiz rejeite a peça preliminar. Em todo caso, a rejeição pressupõe fundamentação densa, uma vez que a paralisação da ação em sua fase inicial exige prova inequívoca da inexistência de cometimento de ato de improbidade. A decisão judicial sobre o cabimento da ação deverá ser formulada em até 30 (trinta) dias após a resposta preliminar do requerido (art. 17, § 8.º). A rejeição da ação corresponde ao indeferimento in limine, previsto pelo art. 296 do CPC. Deste modo, o recurso cabível contra a decisão de indeferimento será o de apelação, nos termos do art. 513 do CPC. Por outra ótica, a decisão de recebimento da petição inicial não desafia o recurso de apelação, mas o de agravo (art. 522 do CPC). A modalidade do agravo é o de instrumento..	A respeito, cf. STJ, REsp 1073233/MG, 1.a T., j. 18.06.2009, rel. Min. Luiz Fux, DJe 06.08.2009. Não existe interesse de agir para a propositura do agravo retido, até mesmo porque o recebimento da inicial de improbidade, sem qualquer fundamento, revela situação de grave lesão à parte requerida, o que justifica a aplicação da exceção prevista pelo art. 522, caput do CPC..	“Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento (...)” (grifo nosso).
28.13	Competência
As regras relativas à competência disciplinadas pelo Código de Processo Civil se aplicam no campo da ação da improbidade, com exceçãoda competência funcional, quando analisada sob a perspectiva da prerrogativa de foro – aliás, questão que gerou intenso debate e será analisada em seguida. 
A ação de improbidade reflete uma expansão da ação popular, ao permitir que o Ministério Público, ou a pessoa jurídica lesada, possa ingressar com a ação competente. Tratando-se de ofensa à pessoa jurídica de direito público federal, as quais estão definidas pelo art. 109, I, da CF/1988, a competência será da Justiça Federal. Também será de competência da Justiça Federal o conhecimento das ações de improbidade, nas quais a prestação de contas pelo Município ocorra perante órgão público federal (Súmula 208 do STJ)..	“Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal”. É comum que muitos projetos de execução junto ao Município dependam da liberação de verbas federais, em virtude da celebração de convênios (PAC). As ações de improbidade serão de competência da Justiça Estadual quando as pessoas jurídicas afetadas pelo desvio da verba estiverem na sua alçada de competência. O primeiro caminho desta definição é pela exclusão daquelas que estão na mira do art. 109, I, da CF/1988, combinado com o art. 1.º da Lei de Improbidade. A Justiça Estadual será competente para apurar desvios de finalidade quanto à utilização de verbas federais que tenham sido incorporadas ao patrimônio municipal (Súmula 209 do STJ)..	“Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.”
Em vista também de sua estrutura e matiz derivar da ação civil pública, a competência para o ingresso da ação civil por ato de improbidade não poderá ignorar a aplicação dos dispositivos da LACP. Deste modo, o local em que ocorreu o efetivo prejuízo ao erário acabará prevalecendo sobre a regra do art. 94 do CPC. Trata-se da aplicação do art. 2.º da LACP..	Cf. STJ, “Não há na Lei 8.429/1992 regramento específico acerca da competência territorial para processar e julgar as ações de improbidade. Diante de tal omissão, tem-se aplicado, por analogia, o art. 2.º da Lei 7.347/1985, ante a relação de mútua complementariedade entre os feitos exercitáveis em âmbito coletivo, autorizando-se que a norma de integração seja obtida no âmbito do microssistema processual da tutela coletiva. (CC 97.351/SP, 1ª. S., j. 27.05.2009, rel. Min. Castro Meira, DJe 10.06.2009).
28.14	 Deslocamento por prerrogativa de foro. Impossibilidade
O deslocamento da ação de improbidade para foro privilegiado, com fundamento na função ocupada pelo agente público, não foi acolhido no direito brasileiro. A tentativa de estender o foro privilegiado, existente para as ações penais, para as ações de improbidade foi concretizada pela inserção dos §§ 1.º e 2.º no art. 84 do CPP pela Lei 10.628/2002. Os dispositivos foram declarados inconstitucionais (ADIns 2.860-0 e 2.797-2), muito embora sem votação unânime. O conteúdo do julgamento foi pautado pela declaração de impossibilidade de uma lei ordinária modificar competência estabelecida no próprio texto constitucional. Deste modo, a Lei 10.628/2002 foi afastada por vício de origem quanto à sua produção legislativa. Em vista desta conclusão, a ação de improbidade, em princípio, estará sujeita às regras do foro comum..	Cf., ainda, item 28.4, acima, quanto à ressalva relativa ao entendimento segundo o qual não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa, em se tratando de atos de agentes políticos. A única especialidade se centra na propositura da ação perante o local do dano e não no domicílio do réu.
28.15	 Condições da ação
28.15.1 Legitimidade ad causam
Há uma grande semelhança de propósitos entre a ação popular e a ação de improbidade; contudo, ambas divergem quanto à legitimação de agir. A ação popular é destinada ao cidadão, inclusive menor de 18 anos, uma vez que a condição de postulação está atrelada, constitucionalmente, à plenitude do exercício dos direitos políticos. Na ação de improbidade são legitimados a ingressar com a ação prevista pelo art. 17: a) a pessoa jurídica prejudicada pelo ato de improbidade; b) o Ministério Público. A Lei de Improbidade prevê uma legitimidade extraordinária concorrente e disjuntiva. Na verdade, ambos os legitimados atuam na defesa do interesse coletivo, contudo, podem ingressar autonomamente em juízo para a defesa do patrimônio público. 
28.15.2 Pessoa jurídica lesada
Sem dúvida, a pessoa jurídica lesada pelo ato de improbidade possui acesso substancial aos dados necessários para promover a ação civil, com o objetivo de desfazer o ato ilícito e reaver as quantias indevidamente apropriadas. Ao contrário do que acontece na ação civil pública regida pela Lei 7.347/1985, o ressarcimento não é destinado ao fundo federal ou estadual (art. 13), uma vez que os valores serão revertidos para a pessoa jurídica lesada, nos termos do art. 18 da LI. As pessoas jurídicas nominadas pelo art. 1.º da Lei 8.429/1992 possuem legitimidade ad causam para pleitear a devolução dos valores indevidamente subtraídos. 
28.15.3 Litisconsórcio e assistência ao Ministério Público
A redação anterior do art. 17, § 3.º, da LI previa a necessidade de participação da Fazenda Pública como litisconsorte necessária na ação de improbidade..	Eis a redação anterior à modificação operada pela Lei 9.366/1996: “No caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, a pessoa jurídica interessada integrará a lide na qualidade de litisconsorte, devendo suprir as omissões e falhas da inicial e apresentar ou indicar os meios de prova de que disponha”. Com a alteração do dispositivo, introduziu-se a mesma solução ofertada na ação popular. Abrem-se as seguintes alternativas: a) participação como litisconsorte facultativo; b) como assistente; c) omissão quanto à participação; d) contestar a ação. Nada impede que o Ministério Público notifique a pessoa jurídica sobre a propositura da demanda, o que possibilita o seu ingresso como litisconsorte, no momento do oferecimento da inicial. Quando atue como litisconsorte anuindo ao pedido inicial, com a citação para o processo, a pessoa jurídica atuará numa posição processual inferior. O pedido, já formulado pelo Ministério Público, não poderá ser modificado. 
Nada impede o ingresso posterior da pessoa jurídica como assistente litisconsorcial. Afinal, o objeto litigioso diz respeito à pratica de atos ilícitos contra sua esfera jurídica. O pedido de ingresso na qualidade de assistente deverá ser deferido pelo magistrado (art. 51 do CPC); contudo, seu interesse jurídico é presumido pelo texto legal. É possível que a pessoa jurídica não se manifeste, o que não implica necessariamente o dever de defender o ato impugnado. Poderá, por fim, contestar a ação de improbidade, posicionando-se pela inexistência de qualquer ato de improbidade. 
A ausência de cientificação da pessoa jurídica sobre o processo de improbidade não gera qualquer nulidade. Caso não tenha sido formalizada no momento da citação, a intimação posterior poderá ser realizada e permitirá que a pessoa jurídica participe como assistente..	Logo, não há que se falar em nulidade. Neste sentido manifesta-se o STJ: “Na ação civil pública de improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público, a falta de citação do município interessado, por se tratar de litisconsorte facultativo, a teor do disposto no art. 17, § 3.º, da Lei 8.429/1992, com a nova redação dada pelo art. 11 da Lei 9.366, de 1996, não tem o condão de provocar a nulidade do processo. 2. Os preceitos da Lei 8.429/1992 podem ser aplicados a fatos ocorridos antes de sua vigência. A indisponibilidade dos bens pode recair sobre tantos bens quantos forem necessários ao ressarcimento do dano, mesmo sobre aqueles adquiridos antes do ato de improbidade administrativa, independente de comprovação de que eles tenham sido adquiridos de forma ilícita (art. 7.º da Lei 8.429/1992). 3. O tribunal de origem reconheceu o periculum in mora e a necessidade em se assegurarintegral ressarcimento dos bens diante da comprovação de atos de improbidade administrativa cometidos pelo recorrente, baseando-se em fatos e provas contidos nos autos, o que não pode ser afastado, uma vez que, para tanto, faz-se necessário, obrigatoriamente, o reexame do conjunto probatório, o que é vedado ao Superior Tribunal de Justiça, de acordo com a Súmula 7/STJ. 4. Recurso especial improvido” (STJ, REsp 200601718816 (886524/SP), 2.ª T., rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU 13.11.2007, p. 524).
28.15.4 Ministério Público
Dentre as funções institucionais do Ministério Público, destaca-se aquela prevista pelo art. 129, III, da CF/1988: “III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.
O mesmo art. 129 regula a legitimidade concorrente do Ministério Público junto ao § 1.º: “A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei”.
O agente ministerial atua preponderantemente como parte nas ações de improbidade; contudo, naquelas ações que tenham sido propostas pela pessoa jurídica lesada, nada impede a sua participação como litisconsorte. Não atuando como parte, sua função será importantíssima como custos legis. É importante frisar que sua atuação é obrigatória no processo (art. 17, § 4.º, LIA.	“§ 4.º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará, obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade”.), o que torna desnecessária a sua participação, na posição de assistente, após a angularização da relação processual (art. 219 do CPC). Sua intervenção não é facultativa, mas obrigatória, pois a Lei de Improbidade estabelece sanção expressa de nulidade.
28.16	Audiência de conciliação e instrução
A ação de improbidade obedecerá ao rito ordinário (art. 17, caput), o que suscita a questão relativa à necessidade da audiência do art. 331 do CPC. Uma primeira leitura do art. 17, § 1.º, da Lei 8.429/1992 pende pela rejeição de sua realização: “§ 1.º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput”. A impossibilidade de transação ou conciliação deve ser devidamente interpretada. Sabemos que a interpretação literal nunca oferece a melhor solução para o caso concreto. É possível que o juiz verifique a existência de prescrição, nos termos do art. 23, I, da Lei 8.429/1992; contudo, tal fato não impossibilita que o agente faça proposta para o ressarcimento integral do erário público, mas de modo parcelado. Neste caso, visualiza-se a possibilidade de conciliação pelo reconhecimento jurídico, por parte do agente, quanto ao dever de indenizar. 
A concessão de prazo para o recolhimento não atenta contra qualquer orientação da Lei 8.429/1992. Aliás, representa solução mais vantajosa, que torna desnecessário o cumprimento da sentença e a prática de atos executivos.
Realizada audiência de conciliação e não sendo frutífera, o juiz deverá fixar previamente os pontos controvertidos, os quais estarão atrelados à comprovação de alguma(s) da(s) hipótese(s) dos arts. 9.º, 10 e 11 da Lei 8.429/1992. Não há qualquer restrição quanto à produção de prova documental, testemunhal e pericial. Quanto a esta última, ela será de grande valia, exigindo-se rigor na investigação de repasse de recursos das contas do ente público para pagamento de terceiros, ou para contas de agentes públicos. A prova pericial deverá ser realizada e finalizada antes da oitiva das testemunhas. A produção da prova testemunhal poderá exigir o respeito ao disposto pelo art. 411 do CPC, quanto às pessoas que podem exigir sua inquirição na residência ou no local em que exercem a sua função (com a alteração da Lei 11.382/2006), caso alguma das autoridades preste depoimento, ou forneça testemunho.
Em outro estudo, um dos autores do presente trabalho sustentou que “em virtude da gravidade das sanções da Lei 8.429/1992, da preponderância do dolo nas condutas e pela grande reprovação social que a referida lei impõe, nas ações de improbidade se aplica o princípio constitucional da presunção da inocência esculpido no art. 5.º, LVII, da CF/1988, que se estende às sanções administrativas no geral. Assim, não ocorre a inversão do ônus da prova nas ações de improbidade”..	José Miguel Garcia Medina e Rafael de Oliveira Guimarães, O ônus da prova na ação de improbidade administrativa, RT 867/78.
28.17	Sentença na ação de improbidade
A sentença proferida na ação civil por ato de improbidade tem eficácia preponderantemente condenatória. O ressarcimento das verbas indevidamente apropriadas ou desviadas para terceiros serão revertidas para a pessoa jurídica lesada, nos termos do art. 18 da Lei 8.429/1992. Tratando-se de uma ação civil, o juiz deverá obedecer ao princípio da congruência, o que limita sua atividade ao que foi requerido na petição inicial (art. 460 do CPC). Dependendo da tipificação, poderão incidir, de modo autônomo ou cumulado, as sanções previstas pelo art. 12, I, II e III, da Lei 8.429/1992. Mesmo se tratando de uma ação civil, a sentença de improbidade assume natureza complexa, pois as sanções a serem aplicadas pelo magistrado extrapolam a competência civil. A leitura do art. 12 prevê sanções penais, administrativas e políticas..	Como assevera Marçal Justen Filho, ao comentar o art. 12: “Trata-se de um instituto que conjuga princípios e regras de direito civil, de direito administrativo, de direito penal e direito constitucional” (Curso de direito administrativo, p. 705). 
28.18	Aplicação das sanções do art. 12 da Lei 8.429/1992. Regra de ponderação
Como se aplicam as sanções previstas pelo art. 12, I, II ou III? Há uma tendência em se pedir a cumulação das sanções previstas por cada um dos incisos, bem como a cumulação dos próprios incisos. A incidência merece exame cauteloso. Antes de mais nada, é essencial apontar para a previsão do art. 12, parágrafo único, que deverá servir de norte para o magistrado, na elaboração do dispositivo sentencial: “Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente”..	“Na aplicação de sanção por ato de improbidade administrativa, deve ser observado o postulado da proporcionalidade. No caso concreto, considerando-se o fato de que a condenação criminal deu-se apenas pela prática do delito de abuso de autoridade, somado ao histórico funcional do servidor, especialmente diante da proximidade de sua aposentadoria, a penalidade de perda do cargo público se afigura desproporcional, porquanto muito mais severa do que aquela imposta no juízo criminal. Apelação provida” (TRF-4.ª R., AC 2002.70.02.006597-7, 4.ª T., rel. Des. Fed. Edgard Antônio Lippmann Júnior, DJ 05.11.2007). O parágrafo único do art. 12 estabelece a necessidade de ponderação do magistrado ao aplicar as sanções previstas pelos seus respectivos incisos, o qual deverá balizar a incidência normativa, em vista da lesão provocada ao erário e do proveito obtido pelo agente..	Em acórdão relatado pelo Min. Luiz Fux, decidiu o STJ que não é possível a soma de três suspensões de direitos políticos, em prazos que seriam contados sucessivamente, em razão da prática de três atos considerados ímprobos, concomitantemente. Decidiu-se que o prazo deve ser um só, definido em atenção ao princípio da razoabilidade do poder sancionatório (REsp 993658-SC, j. 15.10.2009). A aplicação das sanções exige motivação expressa do magistrado quanto a cada uma das imposições. Todo aquele que é sentenciado tem o direito de saber a razão de sua condenação (fundamentação), bem como os motivos da exasperação da sua pena, seja ela civil, administrativa, ou penal (dosimetria da pena)..	STJ, REsp 713537/GO, 1.ª T., rel. Min. Luiz Fux, DJU 22.11.2007, p. 188. 
28.19	Execução da sentença 
A sentença se materializa pelo cumprimento do decisum. As verbas desviadas serão executadas pelo rito do art. 475-J, o quenão elimina a necessidade de prévia liquidação, caso necessário. As demais eficácias sentenciais são cumpridas em virtude da mandamentalidade da sentença, uma vez que a perda da função, suspensão de direitos políticos e proibição de contratação são “executadas” (execução imprópria) pela expedição do mandado judicial aos órgãos competentes. A multa civil também será executada conjuntamente com o valor a ser ressarcido, pois ambas as verbas serão devidas à pessoa jurídica lesada (art. 18 da LI).
28.20	Prescrição da pretensão na ação de improbidade 
A prescrição corresponde à perda do exercício da pretensão, conforme precisa dicção do art. 189 do CC/2002. A Lei de Improbidade estabelece dois prazos de prescrição diferenciados. 
O primeiro é de cinco anos e determina o lapso temporal em que os agentes que exercem mandato, cargo em comissão ou função exonerável ad nutum podem ser processados e responsabilizados com as sanções do art. 12 da Lei 8.429/1992. O art. 23, I determina que o termo a quo para a contagem do quinquênio será o primeiro dia seguinte ao término do exercício do mandato, cargo ou função. Para os servidores em regime de contratação efetiva por concurso público que ocupem cargos ou empregos públicos, o prazo prescricional obedecerá ao que dispor o estatuto funcional (federal, estadual ou municipal) sobre a falta cometida.
28.21	Interrupção e imprescritibilidade do ressarcimento
A interrupção do prazo prescricional dependerá da citação válida, nos termos do art. 202, I, do CC/2002. Importante lembrar que a notificação prévia da Lei de Improbidade não se encarta em nenhuma das hipóteses específicas do art. 202 do CC/2002, pois não pode ser encartada como ato prévio de interpelação. A interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma única vez (art. 202, caput) e, com sua implementação, o juiz poderá decretá-la ex officio (art. 219, § 5.º, do CPC). Com a decretação da prescrição, as sanções acessórias não podem mais ser aplicadas ao infrator. Entretanto, a pretensão de ressarcimento poderá ser requerida pela via ordinária. 
A interpretação que deve prevalecer em relação à lesão ao erário público é pela imprescritibilidade do ressarcimento..	Contra: Marino Pazzaglini Filho, Lei de improbidade administrativa comentada, p. 230. A favor da tese da imprescritibilidade, Francisco Octavio de Almeida Prado, Improbidade administrativa, p. 212. O art. 37, § 5.º, da CF/1988 determina: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”. O texto previu expressamente que os prazos devem ser disciplinados quanto à prática de ilícitos. Para o ressarcimento, não há que se falar em fixação de prazo.

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