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Direitos Humanos

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DIREITOS FUNDAMENTAIS
Breve Histórico
Podemos dizer que os Direitos Fundamentais estão direcionados à proteção da dignidade humana. Decorreram principalmente da necessidade de limitação e controle dos abusos de poder do próprio Estado e de suas autoridades constituídas.
O Feudalismo 
Teve como característica marcante a fragmentação do poder, uma vez que, o poder acabou sendo dividido entre os grandes senhores feudais ou proprietários de terras. Surgem as figuras dos vassalos e dos servos.
Thomas Hobbes
Em sua obra Leviatã justifica o surgimento do Estado, uma vez que, os homens livres viviam em permanente estado de guerra (Estado de Natureza). Para evitar a destruição total e para sobrevivência, houve a necessidade da realização de um pacto (contrato social) para que existisse apenas um governante (rei). Tal pacto colocaria fim a situação de violência e anarquia, renunciando à  liberdade em troca da segurança oferecida pelo Estado, cuja soberania sobre os súditos tornou-se absoluta.
O Absolutismo
Podemos dizer que a formação do Estado Moderno deu-se em meados do século XV, a partir da queda do Feudalismo, que era o sistema econômico, social, político e cultural vigente na Europa durante a Idade Média. A unificação do Estado efetivou-se através de um pacto realizado entre os homens, cuja aliança resultou na centralização de um poder monárquico. Buscou-se na verdade uma base teórica para que o Feudalismo cedesse ao Absolutismo, cuja característica principal era a concentração do poder e autoridade na pessoa do rei e, por fim, a completa identificação entre este e o Estado. 
O Iluminismo
Em meio a muitos desmandos, prisões ordenadas para quaisquer infrações, prisioneiros em condições precárias, surge na Europa um movimento contrário ao Absolutismo chamado Iluminismo ou Época das Luzes.
Os iluministas também defendiam a idéia de um pacto social, um contrato social, a fim de explicar as razões, pelas quais, um indivíduo renunciaria a certos direitos em nome da vida social (cidadania). Esta vida social é entendida como sociedade, ou seja, uma associação voluntária de homens livres que regulam através da razão seu convívio.
Nesta situação, a lei aparece como organizadora do poder na sociedade tratando a todos indistintamente (igualdade). Esta igualdade somente poderia ser realizada por meio de um corpo de leis positivadas e pela força do Estado. Leis que deveriam ser feitas pelos cidadãos ou por seus representantes, emanadas da vontade do povo, conferindo desta forma legitimidade ao poder político. Assim, o Estado para ser o representante real dos cidadãos não poderia mais pautar-se no modelo do Absolutismo Monárquico.
Proposta de Montesquieu – Tripartição de Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Rousseau – Defendia a democracia como uma realização do Contrato Social, consubstanciada no voto. Os governantes, representantes dos eleitores (povo) deveriam sempre refletir a vontade destes.
A Revolução Francesa
Às vésperas da Revolução Francesa o país ainda era agrário e mais de 85% da população vivia no campo. A sociedade estava estratificada em três classes/estados: clero, nobres e subgrupos (compostos por 98% da população, divididos de acordo com o poder econômico – alta, média e pequena burguesia. A estes subgrupos incluíam-se ainda os artesãos, aprendizes, empregados e a enorme massa rural).
As duas primeiras classes não pagavam impostos, mas viviam à custa do dinheiro público advindo destes. Assim sendo, a principal reivindicação da terceira classe era igualdade civil e política. A crise tornou-se insustentável e para tentar controlá-la o rei Luis XVI convocou uma Assembléia com proposta de aumento dos impostos territoriais, o que foi recusado. Diante desta situação a terceira classe se autoproclamou Assembléia Nacional que, em 9 de julho de 1789 passou a chamar Assembléia Constituinte, formada com o intuito de dar à França uma constituição.
Em 26 de agosto de 1789 é aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual Luis XVI se recusa a aprovar, gerando maior reação popular já inspirada pela ideologia iluminista. A Declaração demonstrou preocupação com a necessidade da preservação de direitos fundamentais. A Declaração refletiu os ideais de liberdade (liberté) de igualdade (égalité) e fraternidade (fraternité), verdadeiros parâmetros para todos os povos e constituições. A regra do artigo 16 dispunha sobre a construção de uma sociedade organizada que se voltasse para a moderação no governo, e a defesa dos direitos individuais, contra o arbítrio e a prepotência. “Qualquer sociedade na qual a garantia dos direitos não está em segurança, nem a separação dos poderes determinada, não tem constituição”.
A Tripartição dos Poderes
O Espírito das Leis - Três funções deveriam ser exercidas por três órgãos distintos, autônomos e independentes entre si. Com base nesta teoria, cada órgão exercia uma função típica, predominante, ou seja, inerente à sua própria natureza.
Funções típicas e atípicas dos Poderes - A teoria de Montesquieu teve grande aceitação entre os Estados modernos sendo ao final abrandada, permitindo-se que um órgão tivesse além do exercício da sua função típica, o exercício de funções atípicas (de natureza de outros órgãos) sem, contudo, macular a autonomia e independência dos mesmos.
Previsão constitucional – Artigo 2° da CF/88 São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Conceito
(Liberdades Públicas) Podemos dizer que os direitos humanos são o conjunto de normas constitucionais que consagram limitações jurídicas aos Poderes Públicos, projetando-se em três dimensões: civil (direitos da pessoa humana), política (direitos de participação na ordem democrática) e econômica-social (direitos econômicos e sociais).[1]
Natureza Jurídica
Natureza de normas constitucionais positivas (direitos constitucionais), cuja eficácia e aplicabilidade dependem do próprio enunciado. Em regra, as normas instituidoras dos direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia e aplicabilidade imediatas (Art. 5º, § 1º – As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata). 
Direitos e Garantias Fundamentais na CF/88 
Assegurado no Título II, nos artigos 5º ao 17, sendo: Direitos e deveres individuais e coletivos (Capítulo I – art. 5º); Direitos Sociais (Capítulo II – arts. 6º ao 11); Nacionalidade (Capítulo III - arts. 12 e 13); Direitos Políticos (Capítulo IV – arts. 14 a 16) e Partidos Políticos (Capítulo V, art. 17). 
Observações – Rol meramente exemplificativo não esgotando os direitos fundamentais contidos na CF/88. (Art. 5º, § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte).
Características
imprescritibilidade (não se extinguem com o tempo);
inalienabilidade (não podem ser transferidos, quer seja a título gratuito ou oneroso);
inviolabilidade (não podem ser violados por legislação infraconstitucional ou por atos de autoridades públicas sob pena de responsabilização);
universalidade (direcionados a todos os indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica);
efetividade (atuação do Poder Público no sentido de garantir a efetivação dos direitos e garantias previstos);
concorrentes (podem ser exercidos ao mesmo tempo);
relativos (nem todo direito fundamental pode ser exercido de modo absoluto e irrestrito).
Gerações dos Direitos Fundamentais
As gerações são, na verdade, os períodos que marcam a evolução dos direitos fundamentais ou liberdades públicas, sendo:
1ª Geração
Inaugura-se com o surgimento dos direitos e garantias individuais clássicas que encontravam na limitação do poder estatal seu fundamento. Predominavam as prestações negativas (dever de não fazer pelo Estado) com finalidade de preservar o direito à vida, à liberdade de locomoção,à expressão, à religião e outros. Ex: Art. 5º Caput – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...].
2ª Geração
Compreende os direitos sociais, econômicos e culturais, impondo ao Estado uma prestação positiva (dever de fazer algo em favor do homem) relativos ao trabalho, ao seguro social, à subsistência digna do homem, ao amparo à doença e à velhice e outros. Ex: Art 6º Caput – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho [...]. Art 7 – São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
3ª Geração
Engloba os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade. Transcende a esfera dos indivíduos recaindo na titularidade coletiva. Direitos difusos em geral, como o meio ambiente equilibrado, vida saudável, progresso e outros. Ex: Art. 225 Caput – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.     
4ª Geração
Considerados de novíssima geração, relativos à informática, biociências, alimentos transgênicos, sucessão dos filhos gerados por inseminação artificial, clonagens entre outros, em que o Poder Judiciário tem-se deparado, oriundos do processo de globalização.
[1] BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009.
Os Direitos Humanos e os Tratados Internacionais
Direito Internacional
A necessidade de proteção e efetividade aos direitos humanos, em sede internacional, possibilitou o surgimento de uma disciplina autônoma ao direito internacional público, com a denominação de Direito Internacional dos Direitos Humanos (direito constitucional internacional), cuja finalidade é a de concretizar a plena eficácia dos direitos humanos fundamentais por meio de normas gerais tuteladoras dos bens mais preciosos da vida (vida, dignidade, liberdade, honra, moral etc).
Marco histórico
A evolução histórica da proteção dos direitos humanos fundamentais em diplomas internacionais é relativamente recente, tendo início com importantes declarações, porém, sem caráter vinculativo, que somente em momento posterior, assumiram a forma de tratados internacionais, vinculando os países signatários. O marco histórico da mais importante conquista em direitos humanos fundamentais foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem, assinada em Paris em 10 de dezembro de 1948, elaborada a partir da Carta da ONU de 1944 que estabelecia a necessidade de os Estados-partes promoverem a proteção dos direitos humanos.  A partir deste acontecimento, a proteção internacional dos direitos humanos fundamentais intensificou-se, com a aprovação de inúmeras declarações e tratados internacionais.
Brasil Signatário: Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), Declaração do Direito ao Desenvolvimento (1986), Declaração e Programa de Ação de Viena (1993), Declaração de Pequim (1995), Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1965), Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto San José da Costa Rica (1969), Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a mulher (1979), Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes (1984), Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985), Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994), dentre outros.
Tratados Internacionais
A EC n. 45/04 concedeu ao Congresso Nacional, na hipótese de tratados e convenções internacionais que versem sobre Direitos Humanos, a possibilidade de incorporação no ordenamento jurídico com o status ordinário (art. 49-I) ou com statusconstitucional (§ 3º, art. 5º CF/88).
Incorporação como Decreto Legislativo (status ordinário)
O Decreto Legislativo é instruído, discutido e votado em ambas as casas legislativas (sistema bicameral), sendo aprovado, será promulgado pelo Presidente do Senado. No entanto, sendo aprovado e promulgado pelo Presidente do Senado não há ainda uma ordem de execução do mesmo em todo o Território Nacional, cabendo ao Presidente da República decidir sobre sua ratificação (Decreto Presidencial, garantindo assim a aplicação imediata da norma no direito interno.
Incorporação como Emenda Constitucional (status constitucional)
A EC n. 45/04 trouxe a previsão da incorporação de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos em nosso ordenamento jurídico com força de emenda constitucional, prevendo aprovação por quórum qualificado em dois turnos de três quintos dos votos dos respectivos membros de ambas as casas do Congresso Nacional. 
Supralegalidade
O Supremo tribunal Federal (STF), em recente decisão, proclamou por maioria de votos o status da supralegalidade dos tratados internacionais incorporados no ordenamento jurídico brasileiro antes da EC n. 45/04. (STF – Pleno – HC n. 87.585/TO – Rel Min. Marco Aurélio, 03.12.2008).
Desta forma, podemos dizer que na pirâmide legislativa os Tratados Internacionais que versam sobre direitos humanos incorporados no nosso ordenamento jurídico anteriormente a Emenda Constitucional n. 45/2004 ostentam o status de supralegalidade e não de status ordinário, situando-se abaixo da Constituição Federal e acima das normas legais.
Esquematicamente assim ficaria a pirâmide para uma melhor visualização:
Questão 
A exemplo da questão da Supralegalidade, a Corte decidiu, em relação à vedação da prisão civil do depositário infiel, que a ‘circunstância de o Brasil haver subscrito o Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão por dívida ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7º, 7), conduz à inexistência de balizas visando à eficácia do que previsto no art. 5º, LXVII, da CF’, concluindo, que ‘com a introdução do aludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram derrogadas as normas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel’. (MORAES, 2009). 
Nos termos do voto do Ministro Gilmar Mendes: “parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos da pessoa humana”. 
Tal entendimento se coaduna com os seguintes dispositivos constitucionais:
Art. 1º da CF/88 – “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana.”.
Art. 4º da CF/88 – “ A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: II prevalência dos direitos humanos.”.
Direito à Vida. (Art. 5º, Caput, CF/88)
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida [...]”.
 
O direito à vida é considerado como o bem jurídico de maior relevância. Seu significado é amplo, pois se conecta com outros direitos, como:liberdade, igualdade, dignidade, lazer, educação etc.
 
Constitui direito fundamental tanto a expectativa de vida exterior (vida intrauterina) como a sua consumação efetiva (vida extrauterina).
 
Início
O direito à vida tem início com a fecundação do óvulo materno, tendo em vista que, o embrião traz a carga genética própria, sendo individualizado, não podendo ser confundido com seus pais.
 
“A personalidade civil do homem começa com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo os direitos do nascituro, uma vez que neste há vida” (TJSP, 1ª Câm. Cív, AC 193.648-1/SP) (Art. 2º do CC).
 
O direito à vida comporta: direito à existência, à integridade físico-corporal e à integridade moral.
 
Direito à existência
 
É o direito de estar vivo, de defender a própria vida (legítima defesa/estado de necessidade), de não ter a vida interrompida senão pela morte espontânea e inevitável. “É mais um processo (processo vital), que se instaura com a concepção (ou germinação vegetal), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade, deixando então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida”. [1]
 
Direito à integridade física
 
A agressão ao corpo humano implica na agressão à vida, sendo a integridade física um bem vital que revela um direito fundamental do indivíduo. A punição se dá pela legislação penal para a prática de lesão corporal. A CF/88, art. 5º, inciso XLIX foi expressa no tocante à integridade física dos presos “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”.
 
Direito à integridade moral
 
A vida humana não se resume num conjunto de elementos materiais, há valores imateriais como os morais. A moral do ser humano envolve a honra, o bom nome, a boa fama, a reputação, sem as quais o indivíduo fica reduzido a uma condição animal. O valor moral do indivíduo é de suma importância, tornando-o indenizável, nos termos do art. 5o da CF/88 “V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Por esta razão é objeto também de tutela penal a honra contra a calúnia, a difamação e a injúria.
 
Pena de Morte
 
A pena de morte é a pena capital consistente em tirar a vida de um criminoso pelo seu alto grau de periculosidade ou pela gravidade do delito praticado.
 
De acordo com dispositivo constitucional, será vedada a adoção da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. (CF, art. 5º, XLVII, a).
 
Motivos: possibilidade de erro judiciário, estatísticas de que a pena de morte não diminui a criminalidade e o respeito a princípio humanitário.
 
Possibilidade de adoção: Impossibilidade em vista de tratar-se de cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV).
 
Aborto
 
O aborto pode ser considerado como a interrupção da gravidez antes do seu termo normal, com ou sem expulsão do feto, espontâneo ou provocado.[2]
 
De acordo com o Código Penal a prática de aborto constitui crime. Há, no entanto, exceções previstas no próprio Código Penal que não violam o dispositivo constitucional, quais sejam: aborto necessário (médico que pratica o aborto para salvar a vida da gestante) e aborto sentimental (gravidez resultante de estupro, atentando contra a liberdade sexual da mulher), art. 128, I e II do CP.
 
Questão: interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. O Supremo Tribunal Federal (STF),em uma decisão por ampla maioria, com 8 votos a favor e 2 contra, decidiu permitir a interrupção da gravidez em casos de anencefalia - quando não acontece a formação do cérebro no feto. 
 
Eutanásia
 
A eutanásia pode ser considerada como a morte piedosa, realizada a pedido do próprio doente, ante a sua incurabilidade e sofrimento insuportável [3].
 
Do ponto de vista jurídico a eutanásia não é permitida por lei, sendo considerada pelo Código Penal como homicídio (art. 121) ou induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
 
“Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Vítima que se encontrava internada em hospital, com moléstia incurável. Preferência pela morte, na eventualidade de ter que ficar na dependência de terceiro. Neto que lhe leva pasta com documentos e arma de fogo, sabendo das intenções do avô. Suicídio praticado. Réu pronunciado”. (TJSP, RT, 720:407).
 
O assunto em tela é objeto de Reforma do Código Penal podendo apresentar o seguinte texto de reforma: Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se previamente atestada por dois médicos a morte como iminente e inevitável, e desde que haja consentimento do paciente ou, em sua impossibilidade, de cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão
 
[1] SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. Malheiros, São Paulo: 2009.
[2] BULOS, Uadi L. Curso de direito constitucional. Saraiva, São Paulo: 2009.
[3] Idem.
Princípio da Igualdade
Princípio da igualdade (isonomia/paridade)
O nosso texto constitucional consagrou em seu artigo 5º o princípio da igualdade, onde todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]. Trata-se de uma igualdade de possibilidades virtuais na lei e perante a lei, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios estabelecidos pelo ordenamento jurídico.
O legislador constituinte preocupou-se com o direito fundamental de igualdade sendo este um dos objetivos fundamentais do País: erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III da CF/88); promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV da CF/88).
Violação  
O que viola o princípio da igualdade são as diferenciações arbitrárias, discriminações absurdas sem amparo legal, uma vez que, o tratamento desigual de casos desiguais, na medida de suas desigualdades, é exigência do próprio direito e da Justiça. Considera-se lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não encontra uma finalidade acolhida pelo direito.
A figura abaixo ilustra bem essa questão:
 
Finalidade limitadora do princípio da igualdade
O princípio da igualdade tem uma tríplice finalidade limitadora:
a) ao legislador;
b) intérprete/autoridade pública;
c) particular.
Sendo: a)  Legislador – O legislador no exercício da sua função normativa não poderá afastar-se do princípio da igualdade, sob pena de inconstitucionalidade.
b) O intérprete e/ou a autoridade pública não poderão aplicar as leis e os atos normativos aos casos concretos de forma a criar desigualdades arbitrárias.
c) Particular – Não poderá pautar-se em condutas discriminatórias, preconceituosas ou racistas sob pena de ser responsabilizado civil e penalmente.
Igualdade de homens e mulheres
Igualdade contemplada na norma geral da igualdade perante a lei e em todas as normas constitucionais que vedam a discriminação em razão de sexo. De forma específica “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” (art. 5º, I da CF/88).
Assim, há tratamentos desiguais entre homens e mulheres previstos na própria constituição que não violam o princípio da igualdade, desde que acolhidos pelo direito. Ex: art. 40, §1º, III, a e b da CF/88.
Igualdade jurisdicional
Trata-se da igualdade perante o juiz, que ao conceder tutelas jurisdicionais não poderá fazer distinção entre situações iguais, ao aplicar a lei. Decorrem da igualdade jurisdicional:
XXXVII (art. 5º, CF)– não haverá juízo ou tribunal de exceção. A vedação de juízo de exceção caracteriza o juiz natural, consubstanciado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 10 “Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, paradecidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.”. Desta forma, o juiz natural é o juízo competente para conhecer e julgar determinada ação, no gozo de independência e imparcialidade.
LIII(art. 5º, CF) – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 
Cabe ao magistrado, agindo com independência e imparcialidade não condenar o imputado sem ouvi-lo anteriormente.
LV (art. 5º, CF) – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Art. 139 (NCPC) – É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, ao ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. 
A garantia de acessibilidade à justiça também deve se revestir do princípio de igualdade, onde todos devem ter condições de buscar o Poder Judiciário. Questão da capacidade postulatória e a necessidade da contratação de serviços de um profissional do direito (advogado).
XXXV (art. 5º, CF) – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.  
LXXIV (art. 5º, CF) – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.
Igualdade sem distinção de idade
A idade tem sido motivo de discriminação, principalmente no que tange às relações de emprego.
XXX (art. 7º, CF) – proibição de diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Limitação de Idade em Concurso Público – A proibição genérica de acesso a determinadas carreiras públicas simplesmente pelo critério da idade consiste em flagrante inconstitucionalidade, já que não há finalidade acolhida pelo direito, com violação dos seguintes preceitos constitucionais: Art. 5º, caput e art. 7º, XXX.
Súmula 683 do STF – “O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.
O Conselho Nacional de Justiça entendeu ser incabível a fixação de limite de idade máxima (45 anos) para ingresso no concurso da Magistratura, uma vez que, a natureza das atribuições do cargo não exige a finalidade específica de idade, sendo que, pelo próprio texto constitucional, na hipótese de ingresso no STF e Tribunais Superiores, a idade máxima prevista é de 65 anos.
Igualdade perante a lei penal
Este tipo de igualdade está longe de ser a aplicação da mesma pena para o mesmo delito. O que se pretende é que a mesma lei penal e seus sistemas de sanções devem ser aplicados a todos àqueles que pratiquem o fato típico definido em lei.  Há que se lembrar que, em regra, o mesmo crime é praticado em circunstâncias diferentes, por pessoas em condições distintas.
XLVI (art. 5º, CF) – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes [...].
Princípio da não discriminação
O legislador constituinte preocupou-se com a questão da discriminação, exigindo para tanto, normas penais rigorosas.
XLI (art. 5º, CF) – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
DIREITO DE LIBERDADE
Artigo 5º da CF/88 
Neste item estudaremos o direito de liberdade, que consiste na faculdade que todo o indivíduo tem de escolher, sem restrições, fazer ou deixar de fazer alguma coisa, em virtude de sua exclusiva e íntima determinação. [1]
Sabemos que não existe a liberdade irrestrita e no âmbito das relações particulares, podemos dizer que, pode-se fazer tudo o que a lei não proíbe, vigorando assim o princípio da autonomia da vontade como corolário do princípio da legalidade previsto no artigo 5º, II da CF que reza: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.    
Em termos constitucionais, a lei magna disciplina algumas situações que envolvem o direito de liberdade, senão vejamos:
Liberdade de manifestação de pensamento
Art. 5, IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. 
“O Estado democrático defende o conteúdo essencial da manifestação da liberdade, que é assegurado tanto sob o aspecto positivo, ou seja, proteção da exteriorização da opinião, como sob o aspecto negativo, referente à proibição de censura”.[2]                
Os escritos anônimos não podem justificar, por si só, desde que isoladamente considerados, a imediata instauração da persecução criminal, salvo de produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constituírem o corpo de delito. É o exemplo dos bilhetes escritos para resgate nos delitos de extorsão mediante sequestro, ou ainda, nas cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra ou que corporifiquem o delito de ameaça. (STF. Inq. 1957. J. 11.05.2005).  
Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação
Art. 5, IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.     
A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível constitucional, não obstante, é vedado o anonimato e abusos ocorridos estarão sujeitos à apreciação do Poder Judiciário com responsabilização civil e penal. Lei federal deverá regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, faixas etárias, locais e horários em que a apresentação possa se mostrar inadequada.
Liberdade de consciência, crença e culto
Art. 5, VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Art. 5, VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada na lei.
Quanto à privação de direitos por motivo de crença ou de convicção filosófica ou política, esta somente poderá ocorrer em virtude do não cumprimento de uma obrigação a todos imposta e descumprimento de prestação alternativa fixada em lei.
Com o tema específico, vários desdobramentos do dispositivo legal podem ser encontrados, tais como:
a) ensino religioso nos colégios – artigo 210 § 1º, de matrícula facultativa.
b) casamento perante autoridades religiosas com efeito civis – artigo 226, § 2º.
c) transfusão de sangue nas testemunhas de Jeová – prevalência do direito à vida.
Liberdade de Profissão
Art. 5, XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Tendo em vista tratar-se de norma constitucional de eficácia contida, lei infraconstitucional restringirá o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno exercício da profissão. Ex: Exame de Ordem (art. 8º, IV da Lei 8.906/94 como requisito para a inscrição junto à OAB).
Os requisitos que a lei estabelecer para o exercício de uma profissão têm de ser técnicos e aplicáveis a todos indistintamente.
Em sede de RE 511.961, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da exigência contida no Decreto-lei n. 972/69, que determinava ser condição indispensável para o exercício da profissão de jornalista o diploma de conclusão do curso superior de Jornalismo. Segundo o STF, a atividade de jornalista não requer qualificações profissionais específicas indispensáveis à proteção da coletividade, razão pela qual a exigência se mostraria inconstitucional.
Não obstante, o Senado Federal aprovou em agosto/2012 a PEC 33/2009 que torna obrigatório o diploma de curso superior de Comunicação Social, habilitação jornalismo para o exercício da profissão de jornalista. A proposta tenta neutralizar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de junho de 2009 que revogou a exigência do diplomapara o exercício da profissão de jornalista (ainda pendente de aprovação final).
Liberdade de locomoção
Art. 5, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
Art. 5, LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
Trata-se de direito relativo que poderá sofrer restrição na vigência do estado de defesa (No estado de defesa, busca-se preservar (caráter preventivo) ou restabelecer a ordem pública e a paz social. Também utilizado nos casos de calamidade) e estado de sítio (nos casos de ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa e guerra declarada).
[1] GOMES, Luiz Flávio e outro (Coordenadores). Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012.
[2] FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição brasileira de 1988. Saraiva.
 
DIREITO DE PROPRIEDADE
Neste item veremos noções introdutórias sobre o direito de propriedade enquanto direito fundamental da pessoa humana, já que o assunto será objeto de disciplina específica durante o curso.
Dispõe o artigo 5º da CF/88:
XXII – é garantido o direito de propriedade.
XXIII – a propriedade atenderá a sua função social.
Como regra geral o direito de propriedade é garantido pela constituição federal, a qual deverá atender à sua função social.
Art. 182, § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186 – A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado, utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Trata-se de direito relativo, pois a propriedade poderá ser desapropriada por necessidade ou utilidade pública.
Art. 5, XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
O direito de propriedade ainda poderá ser restringido através da requisição, no caso de iminente perigo público, podendo a autoridade competente usar a propriedade particular, assegurada a indenização ulterior se houver dano.
No caso de expropriação prevista no artigo 243 não haverá qualquer indenização ao proprietário sem prejuízo das sanções previstas em lei.
Art. 243 – As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
DIREITOS DA NACIONALIDADE
Conceito
A nacionalidade pode ser definida como o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que este indivíduo passe a integrar o povo daquele Estado e, por conseqüência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações.[1]
Espécies
A doutrina distinguiu a nacionalidade em duas espécies: a) originária; e b) adquirida.
Originária
É aquela que independe da vontade do indivíduo, é imposta unilateralmente pelo Estado no momento do nascimento. Há dois critérios estabelecidos: ius sanguinis (o que interessa para a aquisição da nacionalidade é o sangue, a filiação, a ascendência, pouco importando o local de nascimento), e o ius solis (também conhecido como critério da territorialidade. Aqui, o que importa é o local do nascimento e não a descendência).
Adquirida
É aquela que se adquire por vontade própria, depois do nascimento, normalmente pela naturalização.
Quem é o brasileiro Nato?
Como regra o Brasil adotou o critério do ius solis, porém, a regra não é absoluta, contemplando as seguintes exceções:
a) ius solis - qualquer pessoa que nascer no território brasileiro, salvo se os pais estrangeiros estiverem no Brasil a serviço de seu país. (Art. 12 – I, a).
b) ius sanguinis + serviço do Brasil – filhos de pais brasileiros nascidos no estrangeiro em serviço da República Federativa do Brasil (Art. 12, I, b).
c) ius sanguinis + registro – filhos de pais brasileiros nascidos no estrangeiro sem estar a serviço da República Federativa do Brasil, desde que tenham seus registros em repartições brasileiras competentes. (Art. 12, I, c).
d) ius sanguinis + opção confirmativa - filhos de pais brasileiros nascidos no estrangeiro sem estar a serviço da República Federativa do Brasil e que venham a residir no Brasil e optem, após a maioridade, pela nacionalidade brasileira (Art. 12, I, c).
Brasileiro Naturalizado
Como forma de aquisição da nacionalidade secundária a nossa CF/88 prevê o processo de naturalização que depende da vontade do interessado e da autorização estatal (ato discricionário).
a) originários de países de Língua Portuguesa – residência por 1 ano ininterrupto e idoneidade moral.
b) estrangeiros de qualquer nacionalidade – residência por mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal.
Nota: O Brasil mantém com Portugal o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, celebrado em Porto Seguro em 22.04.2000 (Decreto m.o 3.927/2001). Neste caso, como os portugueses são originários de país de língua portuguesa, de acordo com a regra acima podem naturalizar-se brasileiros desde que tenham residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. Na hipótese de português com residência permanente no Brasil que não se naturalize brasileiro, por força do Tratado retromencionado e havendo reciprocidade em favor de brasileiro em Portugal, será atribuído ao português com residência permanente no Brasil, os mesmos direitos inerentes aos brasileiros, salvo nos casos de empressa vedação constitucional.
Tratamento
A CF/88 preconiza em seu artigo 5º, caput, o princípio da igualdade, não podendo haver distinção de nenhuma natureza. Não obstante, o artigo 12, § 2º reza: A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo os casos previstos nesta Constituição (rol taxativo de previsões).
Art. 5º, LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiros natos os cargos:
I – de Presidente e Vice-Presidente da República;
II – de Presidente da Câmara dos Deputados;
III – de Presidente do Senado Federal;
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V – da carreira diplomática;
VI – de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado de Defesa.
Art. 12, § 4º, I – Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.
Art. 89, VII – O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam:
[...]
VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Art. 222 – A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
Perda na Nacionalidade
As causas de perda da nacionalidade estão previstas no artigo 12, parágrafo 4o, I e II da CF/88, a saber:- cancelamento da naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.
- aquisição de outra nacionalidade.
[1] LENZA. Pedro. Direito Constitucional esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2008.
DIREITOS SOCIAIS
Conceito
São direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social”.  
Art. 6o - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte ², o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Educação (artigos 205/214)
A educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Os serviços de educação configuram serviço público, podendo ser desenvolvido pelo setor privado.
Objetivos constitucionais da educação:
•    Erradicação do analfabetismo.
•    Universalização do atendimento escolar.
•    Melhoria da qualidade de ensino.
•    Formação para o trabalho.
•    Promoção humanística, científica e tecnológica do país.
 Organização dos Sistemas de Ensino:
•    União organizará o sistema federal de ensino e dos Territórios (instituições de ensino públicas federais)
•    Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (ensino fundamental obrigatório e gratuito).
•    Estados e Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.
Saúde
A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, sendo de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou por meio de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.
Sistema Único de Saúde (SUS) – O art. 198 da CF estabelece que as ações e os serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado, com atribuições, controle e fiscalização dos serviços de saúde.
Alimentação
Decorrente do direito humano à alimentação adequada. Deve o Poder Público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população.
Trabalhadores
O legislador constituinte definiu o trabalhador subordinado como sendo o empregado, ou seja, aquele que tiver algum vínculo empregatício, no entanto, a CF será aplicada aos demais trabalhadores nela expressamente indicados.
As normas relativas aos direitos sociais previstos constitucionalmente são normas de ordem pública, e, portanto, invioláveis pela vontade das partes contraentes da relação trabalhista.
Rol dos direitos sociais – No art. 7º da CF foram definidos alguns direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social. Trata-se de rol exemplificativo, de forma que os direitos previstos não esgotam os direitos fundamentais que se encontram no corpo da CF/88.
Dentre eles destacam-se: proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa; FGTS; irredutibilidade de salário; salário mínimo; 13º salário; remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; jornada de trabalho; horas extras; repouso semanal remunerado; férias anuais remuneradas com mais 1/3; licença maternidade, aviso prévio, inclusive direito de greve. 
Direito à Moradia
De acordo com o artigo 23, IX da CF: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico.
Decorre do princípio da dignidade humana (art. 1º, III), compreendendo os artigos 5º, X, direito à intimidade e à privacidade e de ser a casa asilo inviolável (art. 5º, XI). 
Lazer
Artigo 217, parágrafo terceiro da CF: “O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social”.
O lazer se apresenta como prestação estatal que interfere nas condições de trabalho e qualidade de vida, em estreita correlação com o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225). 
 
Segurança
No artigo 6º o conceito de segurança aparece como Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, sendo exercido para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Os órgãos da Segurança Pública estão previstos no artigo 144 da CF (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros militares).
Previdência Social
Refere-se aos direitos relativos à Seguridade Social financiados pelo INSS. Organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, atendendo aos seguintes preceitos:
•    Cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada.
•    Proteção à maternidade, especialmente à gestante.
•    Proteção ao Trabalhador em situação de desemprego involuntário.
•    Salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda.
•    Pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.
Proteção à Maternidade e à Infância
Conquistas de origem previdenciária e assistencial. Licença Maternidade de 120 dias e 180 dias no caso do Programa Empresa Cidadã (incentivo fiscal). Licença Paternidade de 5 dias, prorrogável por mais 15 dias para servidores públicos e/ou empregados de empresas privadas que aderiram ao Programa Empresa Cidadã. Estatuto da Criança e do Adolescente. Também se aplica no caso de adoção.
Assistência social
A assistência social será prestada a quem dela necessitar (art. 203 da CF), independentemente de contribuição à Seguridade Social. LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social é aplicada aos casos concretos com assistência normalmente de 1 salário mínimo de Prestação de Benefício Continuado (PBC). O BPC é um benefício mensal no valor de um salário mínimo concedido ao idoso, com 65 anos ou mais, e à pessoa portadora de deficiência, com qualquer idade, que comprovem não possuir meios para se manter ou cuja família não tenha recursos para mantê-los.
BPC-LOAS, é um benefício da assistência social que faz parte do do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, esse benefício é pago pelo Governo Federal, no entanto. quem realiza toda a sua operacionalização é o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
Transporte
Recém aprovada a PEC 90/2015 o transporte foi considerado um direito social. O argumento é de que o transporte público deve ser incluído como garantia fundamental dos cidadãos, pois é necessário para o acesso a bens e serviços essenciais.
Mínimo Existencial e a Reserva do Possível
Os direitos sociais imprimem um comportamento positivo por parte do Estado, significando um norte para a implementação das políticas públicas. Em sendo assim, dentro da reserva do possível, ao menos o núcleo essencial de cada direito deve ser observado pelo legislador e/ou administrador.
Podemos observar que o Poder Judiciário tem demonstrado por meio de suas decisões certa intervenção nas políticas públicas no sentido de evitar a inércia estatal injustificável ou abusividade governamental, conforme podemos observar a seguir:
“EMENTA: Arguição de descumprimento de preceito fundamental. A questão da legitimidade constitucional do controle e da intervenção do Poder Judiciário em tema de implementação de políticas públicas, quando configurada hipótese de abusividade governamental.Dimensão política da jurisdição constitucional atribuída ao Supremo Tribunal Federal. Inoponibilidade do arbítrio estatal à efetivação dos direitos sociais, econômicos e culturais. Caráter relativo da liberdade de conformação do legislador. Considerações em torno da cláusula da ‘reserva do possível’. Necessidade de preservação, em favor dos indivíduos, da integridade e da intangibilidade do núcleo consubstanciador do ‘mínimo existencial’.”. (Lenza, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 2016, pág. 1318).
DIREITOS POLÍTICOS
Conceito 
São instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania popular (poder de cada membro da sociedade estatal de escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário), atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente.[1]
Previsão constitucional
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II – a cidadania;
Parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 14 A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito;
II – referendo;
III - iniciativa popular.
Estado Democrático de Direito
I – Democracia direta (o povo exerce por si o poder);
II – Democracia representativa (o povo, soberano, elege seus representantes);
III – Democracia semidireta ou participativa (híbrida, representativa, com peculiaridades da democracia direta).
Democracia semidireta ou participativa
A democracia semidireta ou participativa é aquela marcadamente representativa com veios da democracia direta, sendo caracterizada pela presença:
a) do Plebiscito: Convocado pelo Congresso Nacional (competência exclusiva), com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.
Referência: Art. 2º do ADCT: No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, a través de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.  
b) do Referendo: Autorizado pelo Congresso Nacional (competência exclusiva), com posterioridade ao ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.
Exemplo: Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/2003)
Pergunta: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”
c) da Iniciativa popular: Em âmbito federal, na apresentação de projeto de lei (um só assunto) à Câmara dos Deputados, subscrito por no mínimo 1% do eleitorado nacional, distribuído por, pelo menos, cinco Estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles.
Exemplo: Lei 8930/94 (Lei Glória Perez). Após o assassinato da filha, a novelista Glória Perez iniciou uma campanha para coletar 1,3 milhão de assinaturas com o objetivo de alterar o Código Penal, de forma a incluir o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos. As assinaturas foram entregues à Câmara do Rio de Janeiro dois meses antes da morte da atriz completar um ano.
A iniciativa foi o primeiro passo para que a Lei nº 8.072/1990 fosse alterada, o que aconteceu em setembro de 1994. A coleta de assinaturas foi a primeira iniciativa popular de projeto de lei a se tornar lei efetiva na história do Brasil.
Direito Político positivo
Também conhecido como direito de sufrágio se caracteriza pela capacidade eleitoral ativa e pela capacidade eleitoral passiva.
a) capacidade eleitoral ativa – direito de votar, capacidade de ser eleitor. O exercício do sufrágio ativo se dá pelo voto, que pressupõe: alistamento eleitoral (título), nacionalidade brasileira, idade mínima de 16 anos e não ser conscrito. O voto poderá ser obrigatório ou facultativo.
a1) obrigatório – maiores de 18 e menores de 70 anos.
a2) facultativo – maiores de 16 e menores de 18 anos de idade; analfabetos e maiores de 70 anos de idade.
Cláusula pétrea – Art. 60, §4º, II - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: II – o voto direto, secreto, universal e periódico.
b) capacidade eleitoral passiva – possibilidade de eleger-se, concorrendo a um mandato eletivo, mediante o preenchimento das condições de elegibilidade: nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idade mínima de acordo com o cargo ao qual se candidata, sendo:
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) 18 anos para Vereador. (Art. 14, §3º CF).  
 
Direito Político negativo
São formulações constitucionais/legais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, impedindo-o de eleger um candidato ou de ser eleito.
a) Inelegibilidades – impossibilidade de eleger-se. Pode ser absoluta (inalistável e o analfabeto) ou relativa (em razão da função, concorrência a outros cargos, de parentesco e militares).
O artigo 14, § 9º determina que: Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Lembrando que, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data da sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência (art.16 CF/88). 
Nota: Uma das hipóteses de inelegibilidade relativa decorrente de lei complementar é a Lei da Ficha Lima (LC 135/2010). Pela Lei torna-se inelegível aquele que for condenado, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma.
 
Perda dos Direitos Políticos
A perda dos direitos políticos poderá dar-se:
a) pelo cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado.
b) pela recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VII.
c) perda da nacionalidade brasileira em virtude de outra.
 
Suspensão dos Direitos Políticos
A suspensão poderá dar-se:
a) incapacidade civil absoluta.
b) condenação criminal transitada em julgado.
c) improbidade administrativa.                  
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1. LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 15ª Edição, Saraiva: São Paulo.
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
Conceito 
São garantias constitucionais, isto é, medidas utilizadas para tornar efetivo o exercício dos direitos e garantias constitucionais.  Temos cinco institutos: Ação Popular, Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Injunção e Mandado de Segurança.
Habeas Corpus 
Conceito 
Ação constitucional gratuita de caráter penal, cuja finalidade é de prevenir ou sanar a ocorrência de violência ou coação na liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. (art. 5º, LXVIII).
De acordo com o artigo 5º, XV da CF/88 “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
Sujeito ativo
Qualquer pessoa física, homem, mulher,maior, menor, capaz, incapaz, nacional, estrangeiro, não exigindo sequer que tenha capacidade postulatória, em nome próprio ou de terceiro (impetrante/paciente).
Sujeito passivo
Contra ato de qualquer agente, no exercício de função pública.  Assim, sempre que alguém atuar em nome do Estado e, nesta qualidade, constranger ilegalmente a liberdade de outrem cabe HC.  A CF não exclui o ato de particular.
Espécies
Preventivo: ocorre nos casos de ameaça à liberdade de locomoção. Neste caso a liberdade está ameaçada podendo se obter um salvo-conduto. 
Liberatório ou Repressivo: neste caso a liberdade de locomoção foi cerceada e a violação poder cessar mediante a expedição de um alvará de soltura.
Mandado de Segurança 
Conceito
Tem por finalidade proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (art. 5º, LXIX).
Direito Líquido e Certo
É aquele resultante de fato certo, ou seja, capaz de ser comprovado de plano, por documentação inequívoca, mediante prova pré-constituída, sem a necessidade de dilação probatória.
Sujeito ativo 
Titular do direito líquido e certo. Pode ser pessoa física ou jurídica.
Sujeito passivo
É a autoridade coatora responsável pela ilegalidade ou abuiso de poder, que pratica ou ordena a execução do ato impugnado e que detenha competência para corrigir a ilegalidade do mesmo.
Prazo para impetração
120 dias contados da data da ciência do ato impugnado.
Espécies 
Preventivo: casos em que há ameaça concreta de violação de um direito líquido e certo.
Repressivo: casos em que a violação e/ou ilegalidade já fou cometida.
Hipóteses de não cabimento 
Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado. 
Mandado de Injunção
Conceito
Tem por finalidade viabilizar o exercício de um direito constitucionalmente previsto e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, que dependem de regulamentação por estarem previstos em norma constitucional de eficácia jurídica limitada. (art. 5º, LXXI).
Sujeito ativo 
Qualquer pessoa, física ou jurídica.
Sujeito passivo 
Órgão ou poder incumbido de elaborar a norma regulamentadora (Ex: Congresso Nacional).
Efeitos da decisão 
Posição concretista direta geral:  decisão de efeito erga omnes até o advento de norma integrativa;
Posição concretista direta individual:  decisão implementando o direito válida somente para o autor;
Posição concretista direta coletiva: decisão válida para um grupo, classe ou categoria de pessoas;
Posição concretista intermediária: É concedido prazo ao órgão omisso para elaborar a norma regulamentadora. Na inércia, o direito é implementado a todos (geral), para um grupo, classe ou categria de pessoas (coletiva) ou apenas ao impetrante (individual).
Posição não concretista: A decisão apenas constitui em mora o poder, órgão ou autoridade omissos na elaboração da norma regulamentadora, reconhecendo-se formalmente a inércia.
Habeas Data
Conceito 
É um remédio constitucional, que tem por finalidade proteger a esfera íntima dos indivíduos, possibilitando-lhes a obtenção e retificação de dados e informações constantes de entidades governamentais ou de caráter público. (art. 5º, LXXII).
Objeto 
Assegurar o direito de acesso e conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante e o direito à retificação desses dados.
Sujeito ativo 
Qualquer pessoa física ou jurídica.
Sujeito passivo 
Será aquele de acordo com a natureza jurídica do banco de dados.   
Sigilo: art. 5º, XXXIII - dispõe que o direito de receber dos órgãos públicos informações não inclui aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Requisitos 
É necessária a prova da recusa na prestação e/ou retificação das informações.
Ação Popular
Conceito
É o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual ou municipal, ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. (art. 5º LXIII). 
Requisito 
Lesividade (ilegalidade) – ao patrimônio público (direta ou indiretamente), à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Sujeito ativo 
Cidadão (brasileiro nato ou naturalizado em pleno gozo dos direitos políticos). Há a necessidade da juntada de cópia do título de eleitor e/ou certidão negativa expedida pela Justiça Eleitoral. Excluem-se os estrangeiros, os apátridas, as pessoas jurídicas e os brasileiros que tiverem com os direitos políticos suspensos ou perdidos.
Sujeito passivo 
Podemos incluir no pólo passivo o agente praticante do ato, entidade lesada, eventuais beneficiários do ato.
Espécies:
Preventiva: visa evitar a prática dos atos lesivos e/ou ilegais.
Repressiva: visa o ressarcimento de danos, a anulação do ato, a recomposição do patrimônio, indenização etc.
Proteção Internacional dos Direitos Humanos
Introdução
A proteção dos direitos humanos no campo internacional se divide em dois grandes planos: o global e o regional. O plano global considera os tratados aprovados no âmbito das Nações Unidas e de suas instituições. O plano regional é exercido por organizações internacionais de limitação geográfica, como União Europeia, União Africana e a Organização dos Estados Americanos em que se inclui o Brasil.   
Plano Global
ONU – Organização das Nações Unidas
A ONU foi criada ao final da 2ª Guerra Mundial (1945) com os objetivos de promover a paz e o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. 
Em 1948 foi editada a Declaração Universal dos Direitos do Homem (Resolução n. 217-A de 10 de dezembro de 1948) da Assembleia Geral da ONU. A Declaração enuncia uma recomendação e não uma norma positiva, uma vez que não é um Tratado Internacional. No entanto, seu caráter vinculante é incontroverso, na doutrina nacional e internacional, inclusive em julgados do STF.
Órgãos Institucionais do Plano Global 
1. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos 
É o principal órgão de defesa dos direitos humanos. Criado em 1993, tem sede em Genebra sendo chefiado pelo Alto Comissário das Nações Unidas. Este órgão tem função preventiva e repressiva com os Estados.
2. Conselho de Direitos Humanos
Criado em 2006 em substituição à antiga Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. Órgão colegiado composto por representantes de 47 Estados, eleitos pelos membros da Assembleia Geral da ONU para mandato de 3 anos, reelegível para um período subsequente, com sede em Genebra.
Tem por objetivo promover negociações de tratados de direitos humanos, assim como o respeito aos direitos humanos por meio do acompanhamento do cumprimento dos compromissos internacionais celebrados pelos entes estatais. Por intermédio do sistema de “relatores especiais” que atuam junto aos diversos países em visitas in loco são emitidos relatórios encaminhados ao Conselho que poderá formular recomendações à Assembleia Geral.
3. Comitê de Direitos Humanos
É um “órgão de tratado”. Criado especificamente para monitorar a aplicação das normas de um tratado firmado perante a ONU. Neste caso, o tratado que lhe incumbe fiscalizar é o Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
4. Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Também considerado um “órgão de tratado”. Criado com o objetivo de acompanhar os termos do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Plano Regional
Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos
O Sistema Interamericano de Proteção dos DireitosHumanos é formado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, que são órgãos especializados da Organização dos Estados Americanos (OEA), com atribuições fixadas na Convenção Americana de Direitos Humanos.
Convenção Americana sobre os Direitos do Homem (Pacto de San José da Costa Rica)
A Convenção foi ratificada por 25 Estados. O Pacto reconhece e assegura um catálogo de direitos civis e políticos muito semelhante ao previsto pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU.
Comissão Interamericana de Direitos Humanos
A Comissão é um órgão autônomo da OEA com o fito de promover a observância, a defesa e a promoção dos Direitos Humanos, assim como, servir de órgão consultivo da OEA sobre a matéria. Composta de 7 membros, com mandato de 4 anos, renovável por mais 4, eleitos pela Assembleia Geral da OEA. Está sediada em Washington. Não tem poder jurisdicional. Recebe as denúncias de violações de direitos humanos que lhe são apresentadas pelas vítimas, pessoas ou organizações não governamentais. Neste particular a função da Comissão é muito semelhante à atuação do Ministério Público. A Comissão, ao processar tais denúncias tem o poder de fazer recomendações aos Estados, e ao final, decidir se apresenta ou não o caso à Corte Interamericana. 
São funções da Comissão:
a) formular recomendações aos Estados sobre o cumprimento dos Direitos Humanos;
b) preparar estudos ou relatórios sobre Direitos Humanos;
c) solicitar informações aos Estados sobre o cumprimento de direitos e garantias.
d) resolver consultas dos Estados sobre Direitos Humanos;
e) apresentar um relatório anual à Assemblei da OEA.
f) receber petições individuais por qualquer pessoa ou de outros Estados-partes (para o recebimento de petição é necessário o esgotamento dos recursos na jurisdição interna com o máximo de seis meses após notificação da decisão e/ou haja demora injustificada na apreciação dos recursos).
Processo: quando admitida a petição, a Comissão solicita ao Estado envolvido informações sobre o problema, fixando prazo para envio. Com o recebimento das informações a Comissão pode arquivas a petição ou poderá dar início ao exame do caso, gerando um relatório final com suas recomendações. O estado envolvido pode aceitar e implementar as recomendações como pode submeter o caso à apreciação da Corte Interamericana.
Corte Interamericana
 
A Corte tem função jurisdicional (arts. 52 a 73 do Pacto de San José da Costa Rica). Trata-se de Tribunal composto por 7 juízes oriundos dos Estados-membros da OEA. A Corte tem competência jurisdicional e consultiva. O Brasil reconheceu a competência obrigatória da Corte para fatos ocorridos após 10.12.1998 sob reserva de reciprocidade. Reconhecendo violação à Convenção, a Corte poderá adotar medidas que se façam necessárias a restauração do direito, podendo inclusive condenar o Estado ao pagamento de compensação à vítima.
Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional (TPI)
O TPI foi criado pelo Estatuto de Roma em julho de 1998 e posto em vigor em julho de 2002.
Trata-se de uma Corte Internacional, independente, permanente, destinada a julgar crimes mais graves. Não faz parte da ONU e funciona com doações dos Estados-membros. É Corte subsidiária, dando preferência à jurisdição ao sistema nacional.
O Brasil se submete ao TPI, tendo ratificado o Estatuto em junho.2002, com previsão constitucional a partir de 2004.
Jurisdição do TPI  
Material: O TPI tem jurisdição sobre 4 crimes: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão.
Pessoal: vigora o princípio da responsabilidade criminal individual, só sendo possível julgar pessoas físicas.
Temporal: O TPI pode julgar apenas os atos cometidos após sua entrada em vigor e/ou caso o Estado-membro tenha aderido posteriormente ao Estatuto de Roma, a competência se restringe aos atos cometidos após a entrada em vigor do Estatuto no referido Estado.
Territorial: A nacionalidade do réu é irrelevante, basta que o crime tenha ocorrido no território de um Estado-membro ou que tenha aceito sua jurisdição.  São considerados como territórios os navios e aeronaves matriculados nos Estados.   
Previsão Constitucional
Artigo 5º, parágrafo 4 da CF: O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.

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