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Prof. Mário Caldeira UNIDADE III História da Arte Arte rupestre significa, de modo geral, a arte que é feita sobre as rochas. De maneira específica é o termo que se usa para definir a arte pré-histórica (antes da criação da linguagem escrita), que é formada pelos desenhos, imagens e símbolos gravados pelos nossos antepassados dentro das superfícies internas das cavernas, grutas e formações rochosas. A linguagem gráfica observada na arte rupestre reproduzia a imagem na sua verdade visual, sem deformações ou estilizações. Os temas são dominados pela crença nos poderes mágicos e pelo cotidiano que envolvia a luta pela sobrevivência. Características particulares incluem o tipo da tinta, representações humanas pequenas ou grandes, cores dominantes, traçados geométricos cuidadosamente executados, animais desenhados por uma linha de contorno aberta, entre outras. Arte rupestre e artes indígenas no Brasil O apogeu da arte rupestre paleolítica foi descoberto em 1880, nas cavernas de Altamira, na Espanha, também conhecida como gruta de Altamira, onde se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes da pré-história. Até aquele momento duvidava-se que grupos étnicos e selvagens tivessem arte e cultura. A pré-história Figura 1: Manada de bisontes. Pintura rupestre paleolítica. Caverna de Altamira, Espanha. Disponível em: <http://www.gibralfaro.uma.es/imagenes2/p_1823_6.jpg>. Acesso em 16 ago 2018. Os sítios arqueológicos também no Brasil testemunham as primeiras evidências humanas em nosso continente. A riqueza de diversidade que se encontra na América do Sul já se manifestava desde 23.000 a.C., deixada por caçadores, pescadores e horticultores, cuja presença foi preservada por diferentes grupos sociais e em vários períodos, através das pinturas e gravuras produzidas em paredes de grutas, abrigos, pedras, lajes e costões, perpetuando mensagens correlacionadas, principalmente, aos aspectos mais importantes da vida cotidiana da sociedade. A pré-história Os desenhos rupestres eram uma forma de comunicação na qual a representação era um complemento da expressão verbal e gestual, representando relações ancestrais, nação e sonhos de referências semânticas. Eles são os antepassados da comunicação visual que faz parte da nossa linguagem contemporânea. Esses desenhos se transformaram, com o passar do tempo, em sistemas de símbolos que chamamos de linguagem. Os números e os idiomas são exemplos de representação, assim como os ideogramas japoneses e hieróglifos egípcios são bons exemplos de linguagens de representações da forma e do conteúdo. A pré-história A pré-história Desenhos rupestres como o que vemos aqui foram a base da nossa linguagem visual e se transformaram em letras, alfabetos, números ou ideogramas. Figura 2: Grafismos de animais, comuns na tradição Planalto, Iapó e Tibagi (PR). No Brasil, a arqueologia classifica o ordenamento das diferentes manifestações iconográficas da arte rupestre em tradições, respeitando as semelhanças no estilo e na técnica de elaboração. Os principais costumes arqueológicos da arte rupestre brasileira são: Tradição Agreste, Nordeste, Planalto, São Francisco, Geométrica, Litorânea, Meridional e Amazônica. Identificar as características estéticas de cada grupo permite perceber as identidades culturais pré-históricas por região e das condições de vida daquele homem (apesar de serem interpretações subjetivas, tendo em vista que é complexo determinar os significados das pinturas). Tradições da arte rupestre brasileira Tradição Nordeste É a mais antiga e complexa tradição. Surgiu por volta de 23 mil anos atrás e concentra-se na área do Parque Nacional Serra da Capivara, mas espalhou-se para outros estados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste; suas pinturas são monocromáticas, com aproximadamente 15 cm. Representam homens, animais, plantas e algumas figuras geométricas com conotação narrativa e interativa, ou seja, cenas de caça, guerra, dança, sexo, entre outras, nas quais nota-se movimento na ação. Tradições da arte rupestre brasileira Tradição Nordeste Tradições da arte rupestre brasileira Figura 3: A tradição Nordeste é marcada por representações de figuras humanas e de animais como emas e cervídeos. Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Piauí. Disponível em: <https://c1.staticflickr.com/4/3755/123654 01263_d84a1526e1_b.jpg>. Acesso em 16 ago 2018. Tradição Geométrica Os grafismos eram mais abstratos, com gravuras complexas e diversificadas. Ela concentra-se mais na região central do país, atravessando-o pelo Centro-Oeste e pelo Sudeste, chegando à região Sul (pouca presença na Serra da Capivara). Na parte setentrional brasileira, os grafismos se situam em áreas próximas a rios e cachoeiras; na meridional, estão localizados longe das águas e retocados com pigmentos, predominantemente círculos, setas e linhas tracejadas. Tradições da arte rupestre brasileira Tradição Geométrica Tradições da arte rupestre brasileira Figura 4: Itaquatiaras de Cachoeira do Letreiro, em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte: exemplo da tradição Geométrica. Disponível em: <http://exploradordosertao.blogspot.com/20 10/05/fotos-de-alguns-paineis- contendo.html>. Acesso em 17 ago 2018. Interatividade Os desenhos rupestres, feitos na pré-história, têm uma profunda relação com a nossa linguagem e comunicação contemporâneas. Como podemos descrever essa relação? a) Os desenhos rupestres são usados até hoje em nossa linguagem. b) Aqueles desenhos são usados como referência para se estudar a pré-história. c) Os desenhos rupestres podem ser mais geometrizados e abstratos ou mais figurativos. d) Aqueles desenhos são os antepassados da nossa linguagem visual (alfabeto e números). e) Aqueles desenhos eram usados como tatuagens tribais. A arte brasileira surgiu da combinação das manifestações artísticas pré-históricas com as artes primitivas dos povos indígenas e os estilos artísticos de outras sociedades. Entretanto, a arte indígena, também denominada tribal, tradicional ou nativa, sofreu julgamentos calcados na visão colonialista como a própria nomenclatura sugere, ou seja, designa todos os povos que foram encontrados no território brasileiro pelos portugueses. Confundido com as Índias, o Brasil possuía vários grupos espalhados por todo o território, diferentes entre si quanto à cultura, costumes, rituais, idiomas, entre outras particularidades, como os Xavantes, Kadiwéu, Yanomami, Asurini, Kayapó, Bororo, Karajá etc., que somam cerca de 200 etnias diferentes. A partir dessa premissa, pensemos a arte e estética indígena brasileira como a expressão de várias manifestações e formas produzidas por diversos povos nativos brasileiros. As artes indígenas O grafismo A arte gráfica indígena brasileira é considerada de grande autenticidade e qualidade estética, empregando técnicas na pintura corporal e na decoração de objetos utilitários como cestarias e cerâmicas. As cores usadas pelos indígenas na aplicação de motivos no corpo humano, nas máscaras, nas cestarias e nas flechas são confeccionadas a partir de materiais vegetais como o urucum, que dá o tom vermelho, além do jenipapo e da fuligem, que dão a cor negra. Utilizam ainda pigmentos de origem mineral que fornecem cores como o branco, o ocre, o vermelho-castanho e o cinza-azulado, empregados no adorno de cerâmicas, bandanas, rodas de teto, bancos etc. As artes indígenas O grafismo O significado representativo do grafismo indígena brasileiro, além do estético, possui conceitos sociológicos e religiosos. As formas geométricasvariam entre abstrações e formas naturalísticas simplificadas que demonstram não apenas códigos internos, mas coloca o artista/artesão indígena como protagonista pelo reconhecimento étnico do grupo ao qual pertence. As artes indígenas Figura 5: Representações pictográficas indígenas. Fonte: RIBEIRO, B. A mitologia pictórica dos Desâna. In VIDAL, L. (org.). Grafismo indígena – estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel / FAPESP / Edusp, 2000. P. 47. Com adaptações. Sol – símbolo que representa o princípio fertilizador. Fileiras verticais de pequenos pontos representam a Via Láctea, que é imaginada como um rio celestial. Grafismo – Pintura corporal A pintura corporal indígena é chamada de tonophé, mesmo termo usado para designar pintura, e é dotada de uma técnica complexa de significação. A característica mais peculiar dos índios Asurini, por exemplo, são os desenhos geométricos, utilizados também na decoração de objetos. São figuras relacionadas ao próprio sistema de comunicação ligado à cosmologia, obedecendo às regras estéticas e morfológicas. Elaborada pelas mulheres, divide-se o corpo em áreas que sujeitam-se às formas geométricas dos signos visuais e critérios como sexo, idade e atividade que exerce. A posição que uma pessoa ocupa no grupo é um traço importante para muitos povos indígenas, como os Xerente. As artes indígenas Grafismo – Pintura corporal A pintura corporal nos povos Kayapó difere entre as crianças e os adultos, mas ambos os sexos recebem o mesmo desenho. As mães passam horas ornamentando seus filhos, pois sabem da importância que tem no processo de socialização da criança; por sua vez, ela serve como laboratório e tela da jovem mãe, que ensaia, aprende e se qualifica como pintora. As artes indígenas Figura 6: Sequência de aplicação do motivo decorativo (desenho de Odilon). Fonte: VIDAL, L. A pintura corporal e a arte gráfica entre os Kayapó-Xikrin do Cateté. In VIDAL, L. (org.). Grafismo indígena – estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel / FAPESP / Edusp, 2000. P. 150. Grafismo – Cerâmica e cestaria Assim como cada povo indígena possui suas características, técnicas e outras peculiaridades na pintura corporal, a produção da cerâmica e da cestaria não é diferente. São manifestações culturais que expressam a identidade da tribo, de seus indivíduos e das atividades atribuídas a cada um deles. As artes indígenas Figura 7: Desenhos feitos por mulheres Asurini no papel para aplicação nas cerâmicas. Fonte: MÜLLER, R. P. Tayngava, a noção de representação na arte gráfica Asurini do Xingu. In VIDAL, L. (org.). Grafismo indígena – estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel / FAPESP / Edusp, 2000. p. 236. Grafismo – Cerâmica e cestaria Entre as cerâmicas mais antigas feitas por indígenas brasileiros está a marajoara, produzida pelas índias da Ilha de Marajó. Sofisticadas e extremamente elaboradas, as mais antigas compreendem os anos entre 600 e 1.200 d.C. Ao lado, cerâmica japepaí, utilizada nos principais rituais Asurini para servir mingau. A cerâmica é a maior parte do que chamamos de cozinha, objeto-símbolo da atividade de subsistência feminina por excelência. As artes indígenas Figura 8: Cerâmica japepaí. Fonte: MÜLLER, R. P. Tayngava, a noção de representação na arte gráfica Asurini do Xingu. In VIDAL, L. (org.). Grafismo indígena – estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel / FAPESP / Edusp, 2000. p. 237. Grafismo - Arte plumária Considerada a maior manifestação artística do índio brasileiro, a arte plumária é a personalização corporal de seu grupo étnico e mítico produzida pela combinação de penas, plumas e penugens de aves. Traduz esteticamente simbologias e mensagens sobre sexo, idade, posição social, cargo político, filiação e importância cerimonial. As artes indígenas Grafismo - Arte plumária Para a tribo Kayapó-Xikrin, a plumária é uma simbologia mítica, já que as aves, habitantes dos céus, são a luz eterna e origem de seus ancestrais e são símbolos de conquista da sua existência, diferenciando-os dos demais. Rica e variada, utiliza-se de resinas para ter a durabilidade necessária para suportar as danças, cerimônias e comemorações que podem durar vários dias. As artes indígenas Figura 9: Kayapó-Xikrin do Catete. Ritual de iniciação masculina tokok Cada tipo de sociedade tem um modo de apresentar sua hierarquia social nas pessoas que fazem parte dela e de inseri-las na sua organização social. Nos grupos indígenas brasileiros não é diferente. Em várias etnias indígenas qual tipo de expressão plástica é muito usada para estabelecer níveis hierárquicos e socializar seus participantes mais jovens? a) Grafismo nas cerâmicas. b) Modelagem da comida. c) Grafismo na pintura corporal. d) Uso de cocar. e) Participação nas atividades de caça e pesca. Interatividade O período jesuítico A arte no primeiro período colonial no Brasil constitui-se principalmente pelo estilo jesuítico influenciado diretamente por Portugal, projetado nas construções de igrejas, com influência mais forte onde a Colônia era mais ativa, ou seja, em cidades costeiras como Salvador, Bahia (a primeira capital do Brasil Colônia). Nesse cinturão costeiro, localiza-se um terço das igrejas construídas no período colonial, que engloba, além de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Apesar da classificação das fases do Barroco, é importante observar que grande parte das igrejas mineiras demorou muito tempo para ser concluída e, dessa forma, podemos perceber a mistura de vários períodos do barroco mineiro em uma só igreja. A arte colonial no Brasil O período jesuítico Os missionários jesuítas da Companhia de Jesus no Brasil Colônia (1549-1759), em um primeiro momento, se concentraram na tarefa de criar assentamentos indígenas. Depois voltaram sua energia para a educação dos índios, a fim de promover a conversão católica. Apesar da aversão aos jesuítas, a Coroa Portuguesa dependia deles na educação dos filhos dos colonos e na formação de candidatos ao sacerdócio. A Companhia de Jesus no Brasil Colônia foi expulsa em 1759, e a ideia de arte jesuítica que abrange todo o barroco brasileiro apresenta-se como o que temos de mais antigo. Nesse período, introduzia-se no Brasil o barroco tardio italiano, logo seguido pelo rococó francês. A arte colonial no Brasil A transposição de valores artísticos da Europa para o Brasil No continente europeu, o Barroco foi um estilo caracterizado por sua oposição aos conceitos de simetria, proporcionalidade, racionalidade e equilíbrio, tão importantes no Renascimento. A arte barroca primou a assimetria, o excesso, o expressivo e a irregularidade. No entanto, quando esse estilo é implantado na então colônia portuguesa, pois ele era parte integrante da arquitetura da época, há uma série de adaptações que tinham que ser feitas. Por isso é importante reconhecer que praticamente nenhum tipo de importação de estilo, arte ou arquitetura vindo de outro país acontece literalmente. Normalmente, há uma adequação e absorção local dos parâmetros trazidos do exterior. A arte colonial no Brasil O período jesuítico Entre as maiores contribuições arquitetônicas jesuíticas estão as igrejas da Companhia em Salvador, antiga igreja do Colégio dos Missionários (atual Catedral de Salvador), de 1672, e de Belém do Pará (atual igreja de Santo Alexandre), construída em 1719. A arte colonial no Brasil Figura 10: Catedral de Salvador, Salvador, Bahia. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia>. Acesso em 23 ago2018. O período jesuítico A arte colonial no Brasil Figura 11: Igreja de Santo Alexandre, Belém, Pará. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia>. Acesso em 23 ago 2018. O período jesuítico Os Sete Povos das Missões é o nome que foi dado ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados por jesuítas espanhóis, no final do século XVII e início do XVIII, na região onde se encontra atualmente o Rio Grande do Sul. A arte colonial no Brasil Figura 12: Sete Povos das Missões. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia>. Acesso em 23 ago 2018. A arte colonial no Brasil No Brasil, o rococó é uma das fases do Barroco (e foi se desenvolvendo paralelamente), enquanto o segundo pode ser definido em quatro fases distintas: 1ª fase: barroco jesuítico, caracterizado por altares e retábulos muito altos e com influência renascentista. 2ª fase: período da antiguidade mineira, surgiu entre 1710 e 1730, e é marcado por fachadas simples e requinte interior, colunas retorcidas ou torsas, ornamentos com motivos fitomorfos e zoomorfos, arcos concêntricos e envoltórios dourados ou policromos em azul e vermelho. 3ª fase: irrompe em Minas Gerais, entre 1730 e 1760, distingue-se pelos dosséis no alto dos retábulos, fachadas um pouco mais elaboradas com trabalhos de cantaria, excesso de motivos ornamentais predominantemente escultóricos, revestimentos em branco e dourado e falsas cortinas com anjos. 4ª fase: nasceu também em Minas Gerais, a partir de 1760, destaca-se pela alteração dos retábulos, falta de dosséis, maior harmonia dos ornatos, mais simplificados, fachadas mais elaboradas com composição escultórica no estilo rococó, com invólucros de fundo branco e dourado nas partes principais. A arte colonial no Brasil A posição estratégica dos jesuítas no Brasil, quando ainda era colônia portuguesa, se manifestava nas várias aldeias criadas por eles, na relação de proximidade com os indígenas, na cultura e na arquitetura. Qual foi o estilo arquitetônico que os jesuítas carregaram para a então colônia portuguesa quando começaram a edificar aqui? a) Renascimento. b) Neoclássico. c) Românico. d) Barroco. e) Modernismo. Interatividade O Aleijadinho Entre os anos de 1717 e 1721, Minas Gerais atingiu seu ápice na produção aurífera e, por volta de 1760, várias cidades se transformaram em centros urbanos e surgiram as grandes igrejas matrizes, como a de Vila Rica, de Mariana, de Congonhas do Campo, de Sabará, de Barbacena e de São João Del-Rei, a maioria de influência jesuítica. A partir daí, foram introduzindo novas formas barrocas e conceitos rococó oriundos da Europa. Nesse período, surge um dos mais importantes artistas e arquitetos do país, Antônio Francisco Lisboa (1730 ou 1738 – 1814), mais conhecido como o Aleijadinho. Filho de um mestre de obras e senhor de escravos português, Manoel Francisco Lisboa, e de uma escrava africana provavelmente de nome Isabel, sua obra destaca-se dentro do período colonial. A arte colonial no Brasil Dessa miscelânea de formas do rococó e do barroco viu-se emergir um estilo arquitetônico original, batizado de estilo Aleijadinho, em homenagem ao seu maior expoente. De acordo com John Bury, pesquisador norte-americano do século XX: “Na arquitetura, tais aspirações (de independência política) conduziriam à criação de um estilo brasileiro original e, na política, a um Brasil independente. Se fracassaram politicamente com a malsucedida conspiração ou Inconfidência, de 1789; na arquitetura, em compensação, obtiveram sucesso. Desenvolveram na colônia um estilo próprio que, pela primeira vez no Brasil, superou a mera imitação de modelos europeus”. A arte colonial no Brasil O estilo Aleijadinho, tanto na arquitetura como na escultura, tem seu monumento clássico na Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei. Aleijadinho manteve o habitual traçado português da fachada, porém todos os princípios e concepções do estilo jesuítico foram abandonados. A arte colonial no Brasil Figura 13: Fachada da Igreja de São Francisco de Assis, São João del-Rei, Minas Gerais, iniciada em 1774 e terminada durante o primeiro quartel do século XIX. Fonte: TIRAPELI, P. As mais belas igrejas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 1999. Apesar de a igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João del-Rei, ser considerada a obra que mais representa as características do estilo Aleijadinho, outras de transição mostram o seu desenvolvimento, como as igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará, de Ouro Preto, de São João del-Rei e de Mariana. A arte colonial no Brasil Figura 14: Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará. Iniciada pelo pedreiro Tiago Moreira, em 1763, teve sua fachada refeita por Aleijadinho, em 1771. Fonte: TIRAPELI, P. As mais belas igrejas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 1999. Igreja da Ordem do Carmo (à direita) realizada por Aleijadinho, em Mariana, Minas Gerais. A arte colonial no Brasil Figura 15: À direita, Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Mariana, Minas Gerais, 1784-1826. Disponível em: <https://lugaresinesqueciveis.files.word press.com>. Acesso em 23 ago 2018. Aos 60 anos, Aleijadinho foi contratado para esculpir 64 imagens de madeira e 12 estátuas de pedra para a Igreja de Congonhas do Campo (1800-1805), período em que os sintomas da doença degenerativa que o atacou (e que permanece sem ser conhecida até hoje) estavam em seu pior estágio até aquele momento. A arte colonial no Brasil Figura 16: Santuário de Bom Jesus dos Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais, 1757-1818. A capela-mor é projeto de Francisco de Lima Cerqueira. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons>. Acesso em 23 ago 2018. Localizada na região montanhosa de Minas Gerais, Congonhas do Campo possui o magnífico cenário de onde se ergueu a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos dos Profetas em 1761, o Adro, no fim do século XVIII, e as estátuas no início do século subsequente. O conjunto arquitetado por Aleijadinho representa o ápice de seu desenvolvimento como artista e o reconhecimento do estilo perpetuado por ele. A arte colonial no Brasil Figura 17: Adro (espaço ao ar livre que antecede a entrada do templo) do Santuário de Bom Jesus dos Matosinhos, com as imagens dos profetas Daniel, Baruque, Abdias, Jonas e Amós (da esquerda para a direita). Fonte: TIRAPELI, P. As mais belas igrejas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 1999. Conjunto de capelinhas do Santuário de Bom Jesus dos Matosinhos, contendo os Passos da Paixão. Em cada uma delas há um conjunto de imagens que representam um dos passos percorridos por Jesus Cristo até sua ressurreição. A arte colonial no Brasil Figura 18: Capelas dos Passos da Paixão, em Congonhas, Minas Gerais. Disponível em: <http://www.andaminas.com.b r/imgs/upload/up_877.jpeg>. Acesso em 23 ago 2018. Interior da capela dos Passos da Paixão, que contém a cena da Última Ceia. As estátuas foram feitas principalmente pelos auxiliares de Aleijadinho, cuja capacidade de trabalho já estava reduzida nessa época. A arte colonial no Brasil Figura 19: Capela do Passo da “Última Ceia” do Santuário de Bom Jesus dos Matosinhos. Fonte: TIRAPELI, P. As mais belas igrejas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 1999. A pintura de paisagem No Brasil, a pintura de paisagem será vista ao longo de quase todo o século como uma arte menor. Em 1826, a Academia Imperial de Belas-Artes,formada pelos integrantes da Missão Francesa, cria a disciplina Paisagem, o que significava a conquista de uma relativa autonomia. Nessa época, a maioria das paisagens foi criada dentro dos ateliês da Academia, restritas à luminosidade controlada das janelas envidraçadas. A arte colonial no Brasil Figura 20: Henri Nicolas Vinet, vista da Baía do Rio de Janeiro da praia de Icaraí, em Niterói, 1872, Museu Nacional de Belas Artes. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/c ommons>. Acesso em 23 ago 2018. A fotografia O Brasil teve uma importante contribuição para o início da fotografia, em meados do século XIX, quando o pintor e naturalista francês radicado no Brasil, Antoine Hercules Florence, realiza algumas das primeiras fotografias da história. Além da fotografia se tornar uma linguagem própria, ela será responsável pela transformação em senso comum de uma forma de visualizar imagens, que até esse momento só tinha acesso quem conseguia encomendar ou comprar pinturas. A arte colonial no Brasil Figura 21: Marc Ferrez, O Corcovado, século XIX. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/common>. Acesso em 15 ago 2018. Aleijadinho foi certamente o mais importante arquiteto e escultor de sua época. Sua obra, no entanto, não é homogênea e foi evoluindo em qualidade com o passar do tempo. Essa evolução foi tratada pela maioria dos pesquisadores sobre sua obra como: a) A capacidade de ir além da arte importada da Europa, criando um estilo próprio. b) A iniciativa de reproduzir fielmente os estilos importados da Europa. c) A dedicação com que estudava as obras de outros países e as reproduzia. d) As limitações causadas pela sua doença degenerativa. e) A capacidade de ensinar seus auxiliares a copiarem seu estilo. Interatividade ATÉ A PRÓXIMA!
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