Buscar

Revista da Escola da Magistratura do Distrito Federal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 387 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 387 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 387 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ESCOLA DE MAGISTRATURA
DISTRITO FEDERAL
Revista da
Escola da Magistratura
do Distrito Federal
Nº 13 - 2011
ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO DISTRITO FEDERAL
REVISTA DA ESCOLA DA 
MAGISTRATURA
DO DISTRITO FEDERAL
AssociAção dos MAgistrAdos do distrito FederAl - AMAgis/dF
FóruM deseMbArgAdor Milton sebAstião bArbosA
PrAçA MuniciPAl, lote 1, bloco b, 10º AndAr, AlA “c” - brAsíliA-dF
ceP: 70094-900 Fones: (61) 3103-7548
escolA dA MAgistrAturA do distrito FederAl
issn – 1516-8514
Escola da Magistratura do distrito FEdEral
rEvista da Escola da Magistratura
do distrito FEdEral
NÚMERO 13 - 2011
BRASÍLIA
2011
associação dos Magistrados do distrito FEdEral - aMagis/dF
Presidente
Juiz GILMAR TADEU SORIANO
Escola da Magistratura do distrito FEdEral - EsMa/dF
Diretora-Geral
Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO
Coordenador da Revista
Juiz MARCIO EVANGELISTA FERREIRA DA SILVA
Conselho
Juiz GILMAR TADEU SORIANO
Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO
Juíza CARLA PATRÍCIA FRADE NOGUEIRA LOPES
Juiz RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
Juiz MARCIO EVANGELISTA FERREIRA DA SILVA
Coordenadores
Juíza CARLA PATRÍCIA FRADE NOGUEIRA LOPES
Juiz RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
revisão e ForMAtAção
Serviço de Revista e Ementário do TJDFT
Os artigos jurídicos aqui publicados são da responsabilidade de seus respec-
tivos autores, resguardando-se a pluralidade de pensamento, e os conceitos 
emitidos não expressam a opinião dos editores.
coMposição plEna do tribunal dE Justiça do distrito FEdEral
E dos tErritórios - ordEM dE antiguidadE
DES. LÉCIO RESENDE DA SILVA
DES. OTÁVIO AUGUSTO BARBOSA
DES. GETÚLIO VARGAS DE MORAES OLIVEIRA
DES. JOÃO DE ASSIS MARIOSI
DES. ROMÃO CÍCERO DE OLIVEIRA
DES. DÁCIO VIEIRA
DES. MARIO MACHADO VIEIRA NETTO
DES. SÉRGIO BITTENCOURT
DES. LECIR MANOEL DA LUZ
DES. ROMEU GONZAGA NEIVA
DESA. CARMELITA INDIANO AMERICANO DO BRASIL DIAS
DES. JOSÉ CRUZ MACEDO
DES. WALDIR LEÔNCIO CORDEIRO LOPES JÚNIOR
DES. HUMBERTO ADJUTO ULHÔA
DES. JOSÉ JACINTO COSTA CARVALHO
DESA. SANDRA DE SANTIS MENDES DE FARIAS MELLO
DESA. ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO
DES. JAIR OLIVEIRA SOARES
DESA. VERA LÚCIA ANDRIGHI
DES. MÁRIO-ZAM BELMIRO ROSA
DES. FLAVIO RENATO JAQUET ROSTIROLA
DESA. NÍDIA CORRÊA LIMA
DES. GEORGE LOPES LEITE
DES. ANGELO CANDUCCI PASSARELI
DES. JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA
DES. ROBERVAL CASEMIRO BELINATI
DES. SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS
DES. SÉRGIO XAVIER DE SOUZA ROCHA
DES. ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS
DES. FERNANDO ANTONIO HABIBE PEREIRA
DES. JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA
DES. ANTONINHO LOPES
DES. JOÃO EGMONT LEÔNCIO LOPES
DES. LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS
DES. JOSÉ CARLOS SOUZA E AVILA
DES. TEÓFILO RODRIGUES CAETANO NETO
suMário
Apresentação
 Juiz Marcio Evangelista Ferreira da Silva - Coordenador da Revista da 
 ESMA/DF ..........................................................................................................9
Evolução do Conceito de Família
 Juíza Ana Maria Gonçalves Louzada ...............................................................11
A Sucessão Legítima do Cônjuge no Novo Código Civil
 Juiz Wagner Junqueira Prado ...........................................................................25
A Inconstitucionalidade do Art. 273 do Código Penal
 Juiz Marcio Evangelista Ferreira da Silva ........................................................39
Quem tem Medo do Racismo?
 Juíza Carla Patrícia Frade Nogueira Lopes .......................................................45
Incidente de Julgamento de Demandas Repetitivas no PLS 166: uma Apresentação
 da Proposta no Novo CPC
 Juíza Marília de Ávila e Silva Sampaio ...........................................................55
O Juiz-Administrador
 Juíza Oriana Piske de Azevedo Barbosa...........................................................61
O Dever de Informar nas Relações de Consumo
 Juiz Atalá Correia .............................................................................................79
Partidos e Coligações: a Sucessão dos Suplentes
 Juiz Rodrigo Cordeiro de Souza Rodrigues ......................................................97
Sentença Cível em Interdito Proibitório e Manutenção de Posse
 Juíza Ana Maria Ferreira da Silva ..................................................................103
Drawback segundo a Jurisprudência do STJ
 José Roberto da Silva - Ex-aluno da ESMA/DF ............................................115
Colisão de Direitos Fundamentais
 Alessandra Lopes da Silva - Ex-aluna da ESMA/DF .....................................167
8 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
O Contrato e o Tempo: um Suposto Embate Principiológico
 Rui Eduardo Silva de Oliveira Pamplona - Ex-aluno da ESMA/DF ............ 207
O Alcance da Autonomia Universitária à Luz do Artigo 207 da Constituição 
 Federal de 1988
 Jaqueline Santos Silva - Ex-aluna da ESMA/DF ..........................................245
A Comunicação Social sob o Enfoque da Constituição Federal de 1988
 Mariana Caetano da Silva Souza Schwindt - Ex-aluna da ESMA/DF .........279
Fertilização in Vitro e suas Implicações no Ordenamento Jurídico Brasileiro
 Eduardo Navarro Pereira - Ex-aluno da ESMA/DF ......................................287
A Obrigação como Processo: um Estudo sobre a Obra de Clóvis do Couto e Silva
 Daphne de Carvalho Pereira Nunes - Ex-aluna da ESMA/DF .....................355
A Responsabilidade Criminal nas Atividades Desportivas: particularidades 
 em Relação à Prática de Discriminação Racial no Futebol
 Bianca Fernandes Pieratti - Ex-aluna da ESMA/DF .....................................371
9Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Apresentação
Juiz Marcio Evangelista Ferreira da Silva
Coordenador da Revista da Escola da Magistratura do Distrito Federal – ESMA/DF
A Escola da Magistratura do Distrito Federal – com muita satisfação – apresenta a toda comunidade jurídica mais uma edição de sua revista, mantendo a tradição de ser um veículo das ideias de magistrados, professores e ex-alunos.
A maior novidade é o abandono das edições impressas para a versão em CD. 
Tal alteração atende a orientação mundial de respeito ao meio ambiente – evitar o 
gasto de papel.
 Referida novidade além de preservar o meio ambiente e inserir a escola na era 
da modernidade, também faz com que a periodicidade da revista seja reduzida, pois 
suprimido o tempo gasto com impressão de versão impressa.
No mais, após a última edição, várias foram as mudanças na Esma/DF, tanto no 
espaço físico como no currículo dos cursos oferecidos.
Hoje há uma estrutura física a altura da história da Esma-DF, pois contamos com 
três salas confortáveis para as aulas, sala de estudo e secretaria para melhor atender os 
alunos, palestrantes e professores.
A estrutura do curso também sofreu alterações em atendimento a exigências 
do Conselho Nacional de Justiça – Resolução n.º 75 – e hoje aos alunos são oferecidas 
aulas de Filosofia, Sociologia e Psicologia Jurídica. 
A Revista, como de costume, abriu espaço para que todos enviassem seus artigos, 
sendo que muitos foram recebidos e pré-selecionados. Após rigorosa escolha temática, 
a Esma/DF apresenta artigos que são o resultado da reflexão e do pensamento atual de 
ex-alunos, professores e magistrados.
Variados e atuais são os temas, trazendo ao leitor um leque amplo de assuntos 
para refletir, cumprindo, assim, a Esma/DF, seu mister, qual seja, fazer com que chegue 
às mãos de todos os operadores do direito um instrumento capaz de auxiliá-lo no de-
sempenho da tão nobre profissão que é aplicar o direito.
Boa leitura!
10 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
11Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Evolução do Conceito de Família
Ana Maria Gonçalves Louzada
Juíza
“Não é a cópulaem si,
mas o afeto,
que constitui o matrimônio.”
ULPIANO
Breve panorama histórico:
A humanidade sempre se portou e se mostrou de forma aglomerada, tendo em vista a necessidade do homem de viver em comunidade. É psicologicamente difícil ao ser humano a vida segregada, sem compartilhamentos, sem trocas. E 
a partir desta junção de pessoas começaram a se formar as famílias. A ideia de família 
surgiu muito antes do Direito, dos códigos, da ingerência do Estado e da Igreja na vida 
das pessoas.
Em verdade, família é um caleidoscópio de relações que muda no tempo de sua 
constituição e consolidação em cada geração, que se transforma com a evolução da 
cultura, de geração para geração.
1
Na Antiguidade, com o advento do Código de Hammurabi, o sistema familiar da 
Babilônia passou a ser por lei patriarcal e o casamento monogâmico, embora admitia-se 
o concubinato. Esta aparente discrepância era resolvida pelo fato de uma concubina 
jamais ter o status ou os mesmos direitos da esposa. Ademais, o casamento dito legítimo 
só era válido mediante contrato. Naquela época, havia a possibilidade de casamentos 
entre diferentes camadas sociais, e o código regulava especificamente a herança dos 
filhos nascidos deste relacionamento. Também admitia-se o divórcio, onde o marido 
podia repudiar a mulher nos casos de recusa ou negligência em “seus deveres de esposa e 
dona-de-casa”. Qualquer dos cônjuges poderia repudiar o outro por mau procedimento, 
mas neste caso a mulher deveria ter conduta ilibada. No respeitante ao homem era, 
no máximo, cúmplice. Quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida, entretanto o 
Código previa o perdão do marido.
12 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
O amor entre os homens era plenamente aceito entre os povos antigos, sendo, 
contudo, valorizado apenas o “polo ativo” da relação. Isso se explica porque o machismo, 
já naquela época, vislumbrava o ato sexual ativo como a postura masculina, sendo 
o ato sexual passivo tido como a feminina. Em outras palavras, não era analisado o 
sexo biológico para a qual o homem direcionava seu amor, mas o papel sexual que ele 
desempenhava.
2
 Com relação ao amor entre mulheres, não há dados esclarecedores, 
uma vez que sua sexualidade era ignorada.
Já no direito hebraico não havia qualquer menção à palavra matrimônio, pois 
este era um assunto particular entre duas famílias. Ressaltamos que todos os povos 
da Antiguidade admitiam o divórcio, que começou a ser proibido somente após o 
advento do cristianismo. Contudo, na legislação mosaica, somente os homens podiam 
divorciar-se, não cabendo às mulheres tal iniciativa. Além disso, deveria ocorrer algo 
vergonhoso na esposa para que o marido pudesse repudiá-la. Também admitia-se o 
concubinato.
Com relação ao Código de Manu, este reiterou explicitamente a incapacidade 
da mulher de sozinha se reger. Apesar de também admitir o divórcio, a separação só 
poderia ocorrer caso a deficiência fosse da esposa, vale dizer, era o marido quem decidia 
sobre a mantença ou não do casamento. A fidelidade no casamento era exigida por lei. 
Geralmente a pena de morte era aplicada no adultério.
No Direito Romano, a palavra família podia ser aplicada tanto às coisas como 
às pessoas. Aplicada às coisas, refere-se ao conjunto de um patrimônio. No respeitante 
às pessoas, pressupõe parentesco, podendo ter sentido estritamente jurídico, chamado 
agnatio, e outro biológico, a cognatio. O parentesco jurídico englobava todos sob o poder 
de um mesmo pater famílias, sendo transmitido somente pela linha paterna. Durante a 
evolução do Direito Romano, estes dois tipos de parentesco foram, muitas vezes, postos 
em contraposição, o que gerou juridicamente a prevalência do princípio do parentesco 
consanguíneo sobre a agnação.
Os romanos distinguiam duas espécies de casamento: o cum manu e o sine manu. 
No primeiro caso, a mulher saía da dependência do pater famílias para a do marido 
e do pater famílias da família do marido. O casamento sine manu não oferecia esta 
possibilidade de sujeição, podendo a mulher continuar sob o poder de seu próprio pater 
famílias, conservando o direito sucessório de sua família de origem. Para os romanos, 
o casamento era um ato consensual de contínua convivência. Era um fato e não um 
estado de direito. 
Por outro lado, o casamento em Roma jamais foi indissolúvel, e desde o direito 
arcaico romano já previa o divórcio. No início, o divórcio somente podia ocorrer por 
vontade do marido. Com o passar do tempo, esta possibilidade foi estendida também 
às mulheres.
Na Idade Média o Direito Canônico passou a ter relevante importância na 
sociedade, tendo em vista o domínio da Igreja neste período. Como o poder laico 
enfraquecia pelo declínio do poder real, em consequência do feudalismo, a jurisdição 
eclesiástica aumentava seu poder também em relação aos leigos. A Igreja acabou sendo 
a única a julgar assuntos relativos a casamento, legitimidade dos filhos, divórcio, etc. 
O casamento deixou de ser contrato para ser considerado sacramento. Assim, como a 
13Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Igreja só aceitava o sexo dentro do casamento e com finalidade de procriação, tudo o 
que se afastasse desta regra era tido como contrário a Deus.
O Direito Islâmico tem na família a sua base de formação da sociedade. É 
o casamento que dá a concessão social para a maternidade e paternidade, sendo 
ele essencial, pois os muçulmanos só atingem seu apogeu depois de terem filhos. O 
casamento possui duas fases: primeiramente se assina um contrato entre o marido e 
o representante legal da mulher, sendo este seu pai ou representante masculino mais 
próximo. Contudo, para sua validade é imprescindível seu consentimento, bastando, 
para isso, seu silêncio. Após assinaturas e consentimento, ambos são considerados 
casados e a ruptura do contrato se iguala ao divórcio. Destacamos que o casamento 
só se completa após a noite nupcial, tendo sido o casamento regulado objetivamente 
no Alcorão. As famílias poderiam intervir diretamente no matrimônio, pois ele não 
era tido somente como união entre marido e mulher, mas entre duas famílias. Há a 
possibilidade de o homem casar-se com várias mulheres, podendo também ter várias 
concubinas. Em suma, o casamento é considerado como sendo o único objetivo na 
vida de uma mulher! Elas devem manter o pudor por completo, não exibir seu corpo, 
não olhar as pessoas nos olhos, devendo usar véu em público. Quanto ao divórcio, a 
mulher só pode ter iniciativa se houver no contrato este direito e se isso for permitido 
pela escola jurídica do lugar onde vive, não havendo qualquer ressalva em relação 
ao homem. Com o divórcio, se o marido quiser, poderá ter sua mulher de volta caso 
ela ainda esteja livre.
A Revolução Francesa foi um marco, um divisor de águas, na busca pela igualdade 
entre homens e mulheres, uma vez que estas últimas ainda eram consideradas incapazes. 
Contudo, ainda que se buscasse a reversão desta cruel discriminação, o Código Civil de 
Napoleão reforçou o poder patriarcal, outorgando ao pai maiores direitos sobre os filhos. 
Também ressaltou que o poder patriarcal é estendido à esposa, que continua sob seu 
jugo. O divórcio é admitido, sendo sempre o adultério feminino considerado como uma 
de suas causas, sendo aceito somente o masculino se o marido levar a concubina para 
dentro da residência. Também há diferenciação quanto aos filhos, sendo considerados 
filhos legítimos e ilegítimos, esses últimos nascidos fora do casamento. Sua legitimação 
só poderia ocorrer com o casamento dos pais. Caso o pai já fosse casado, poderia 
reconhecê-lo, mas este não teria os mesmos direitos do filho legítimo
3
.
Assim, mesmo a visão iluminista, que via na liberdade sexual uma forma de atingir 
o progresso, a ordem e a felicidade, condenou com veemência o amor homoafetivo. 
Acreditava-se que os homens tinham apenasuma limitada quantidade de sêmen em 
seu corpo. Assim, não é à toa que esse período da história fez que a sexualidade não-
heterosexual passasse a ser ainda mais condenada, pois se entendia que ela “gastava” a 
semente da vida de forma inútil, ou seja, não-procriativa.
4
No século XIX passou-se a se afastar da dogmática religiosa, dirigindo-se para 
um estudo científico acerca da homossexualidade. Observa-se que primeiramente 
houve a definição da homossexualidade como doença, sem qualquer dado concreto. 
Isso fez com que tratamentos desumanos fossem abertamente utilizados, sem nenhuma 
punição estatal. Terapias com choque convulsivos, lobotomia e terapias por aversão 
foram largamente utilizadas. Queriam, a todo custo descobrir uma forma de reverter 
14 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
a homossexualidade. Obviamente que não conseguiram – pois não se cura algo que 
não é patológico.
5
Somente ao final do século XX é que a ciência passou a aceitar a homossexualidade 
como forma de orientação sexual, e não mais como doença.
Na pós-modernidade, muito embora ainda possamos enxergar algum ranço 
preconceituoso, já é possível aceitarmos a família como sendo um conjunto de indivíduos 
unidos por laços de afetos.
Foi a Dinamarca quem primeiramente regulou as uniões homoafetivas, quando 
autorizou seu registro com os mesmo efeitos do casamento (com exceção apenas ao 
direito de adotar), nos idos de 1989. Em 1993 foi a vez de a Noruega permitir o registro 
destas uniões. No ano de 1995, a Suécia pronunciou-se sobre o tema, concedendo os 
mesmos direitos que anteriormente haviam sido deferidos pela Dinamarca. Em 1996 a 
Islândia oficializou o registro das uniões homossexuais. Neste mesmo ano, a África do 
Sul proibiu constitucionalmente a discriminação por sexo. A França, através do Pacto 
Civil de Solidariedade (Lei n. 99.944/99) garantiu o direito à sucessão, imigração e 
declaração de renda conjunta. Em 1999 a Inglaterra reconheceu o status de família aos 
casais homossexuais. A Argentina, notadamente Buenos Aires, no ano de 2003 passou 
a autorizar uniões civis entre homossexuais, acompanhada pela Cidade do México e o 
Uruguai no ano de 2007. 
Muito embora já haja o reconhecimento de uniões homoafetivas em diversos 
países desde 1989, somente foi possível este reconhecimento em relação ao casamento 
civil no ano de 2001, na Holanda. A seguir, no ano de 2003, o mesmo aconteceu na 
Bélgica. Em 2005, também a Espanha, o Canadá e a Grã-Bretanha passaram a admiti-
-lo. Nos Estados Unidos, o estado de Massachusetts autoriza o casamento de pessoas 
do mesmo sexo desde 2004. Em 2006 foi a vez de a África do Sul. No ano de 2008 a 
Noruega veio a se juntar ao rol dos países que admitem casamento entre homossexuais. 
Hoje, a Argentina é o primeiro país latino-americano a reconhecer o casamento entre 
homossexuais em 2010.
Para ilustrar, destacamos uma decisão da Suprema Corte do Estado de 
Massachusetts dos Estados Unidos
6
“O casamento é uma instituição social vital. O compromisso exclu-
sivo de duas pessoas uma à outra nutre amor e mútua assistência; 
ele traz estabilidade à nossa sociedade. (...) Uma pessoa que entra 
em uma união íntima e exclusiva com outra do mesmo sexo e tem 
acesso barrado às proteções, benefícios e obrigações do casamento 
civil é arbitrariamente privada do acesso a uma das instituições mais 
estimadas e compensatórias da nossa comunidade. Essa exclusão é 
incompatível com os princípios constitucionais de respeito à autono-
mia individual e à igualdade perante a lei”.
Em sentido oposto encontra-se o direito no Irã, onde além de ser proibida a 
relação entre pessoas do mesmo sexo, ainda há a punição com pena de morte.
15Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Note-se, que o que se repudia é o objeto de desejo da pessoa homossexual, 
demonstrando um preconceito desmedido e vergonhoso.
7
 
Em relação às características intrínsecas das diversas modalidades de família, 
que vêm se descortinando, podemos entender que convivem simultaneamente a família 
casamentária, a família formada por união estável, a família concubinária, a família 
monoparental, a família homossexual e a família formada nos estados intersexuais, 
que embora representem um campo farto de discussões no direito brasileiro, no plano 
internacional, fincam-se cada vez mais garantidas.
8
Tal digressão mostra-se necessária para ressaltar que o Direito veio a subsidiar 
os anseios da sociedade em cada momento histórico. Assim, com o decorrer do tempo, 
com a evolução do pensamento humano, com a quebra de paradigmas, não cabe mais 
ao legislador escudar-se atrás do véu da hipocrisia e deixar de outorgar direitos aos 
casais homoafetivos. É certo que a homossexualidade sempre existiu e que em épocas 
passadas os casais homoafetivos não possuíam direitos, tendo em vista que a sociedade 
ainda mostrava-se avessa em aceitar tal condição, talvez por imposição da Igreja que 
insiste ainda em dizer que se cuida de pecado.
Dada a dependência e o desamparo emocional que é da natureza humana, a 
finalidade da família, embora sofra variações históricas, mantém-se essencialmente como 
instituição estruturante do indivíduo em função das diferenças entre os elementos que 
a compõem e que determinam lugares que este ocupa e funções diferentes que exerce, 
de acordo com o ciclo vital.
9
A família é muito mais que a um casamento estabelecido entre um homem e 
uma mulher. Família é comunhão de afetos, troca de amparo e responsabilidade.
Conceito de Família no Direito Brasileiro:
A evolução legislativa demonstra as necessidades mais pungentes da sociedade 
em cada época. Nota-se que a Constituição de 1824 não fez qualquer menção relevante 
à família, havendo como determinante, somente o casamento religioso. Naquele tempo, 
a Igreja assumiu um caráter delineador da moralidade, não aceitando qualquer outra 
forma de união que não aquela por ela definida.
Assim, até 1891, as pessoas apenas podiam se unir para formação da família, 
através do casamento religioso. A partir de então, passou-se a admitir o casamento 
civil indissolúvel. A primeira constituição a se preocupar em delinear a família em seu 
contexto, foi a de 1934. Nesta, houve a determinação da indissolubilidade do casamento, 
ressalvando somente os casos de anulação ou desquite. Também foi sob sua égide que 
foi autorizado as mulheres votar. Já a Constituição de 1937 nos trouxe a igualdade 
entre os filhos considerados legítimos e naturais. A de 1946 não inovou no conceito de 
família e a de 1967 manteve a ideia de que família somente era aquela constituída pelo 
casamento civil. Em contrapartida, a emenda constitucional de 1969, que manteve a 
indissolubilidade do casamento, foi modificada com o advento da Lei do Divórcio de 
1977, passando-se a haver aceitação de novos paradigmas.
16 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
O Código Civil de 1916 admitia unicamente o casamento civil como elemento 
formador da família, muito embora a doutrina, jurisprudência e leis especiais já passassem 
a admitir o reconhecimento das uniões estáveis. Contudo, inovou a Constituição Federal 
de 1988 quando, de forma exemplificativa, admitiu a existência de outras espécies 
de família, notadamente quando reconheceu a união estável e o núcleo formado por 
qualquer dos pais e seus descendentes, como entidade familiar. Ou seja, trouxe à seara 
constitucional outros arranjos de convivência de pessoas, que não somente aquele 
oriundo do casamento. E o fez erigindo o afeto como um dos princípios constitucionais 
implícitos, na medida em que aceita, reconhece, alberga, ampara e subsidia relações 
afetivas distintas do casamento.
10
Ainda que se busque identificar a possibilidade do casamento homoafetivo, há 
quem entenda que a união entre pessoas do mesmo sexo só pode ter tratada pelo direito 
das obrigações, por se tratarde uma sociedade de fato. Outros acatam somente a ideia 
de que se o par homossexual possui os mesmos direitos da união estável hetereoafetiva.
Destacamos que na sociedade de fato as pessoas que dela fazem parte são 
consideradas sócias, e não companheiros, visando lucro e não comunhão de vida. 
Ademais, para a divisão do patrimônio comum, necessário se faz a prova de sua 
contribuição.
Com relação à união estável, não há dúvidas de que, efetivamente, se duas pessoas 
do mesmo sexo se unirem por laços de afeto, de forma pública, duradoura, contínua e 
com objetivo de constituição de família, estabelecerão entre elas um vínculo familiar 
de união estável.
O que se quer evidenciar é que o instituto do matrimônio civil não é privilégio 
dos heterossexuais. Há que haver esta possibilidade também para os homossexuais, 
que não podem se ver alijados de seus direitos, tendo em vista a orientação sexual que 
possuem. Não é crível que no dias de hoje ainda se queira impor tratamento diferenciado 
aos homossexuais, considerando-os como pessoas menos dignas e tratando suas uniões 
como de segunda categoria.
O discurso não pode ser mais homofóbico, vez que sublinha a hierarquização 
das sexualidades. Vale dizer, o indivíduo é categorizado tendo em vista o objeto de seu 
desejo. Aquele que deseja pessoa do mesmo sexo é considerado uma categoria inferior 
de cidadão, não podendo usufruir de direitos outorgados aos heterossexuais.
11
Na esteira de subsidiar preconceito por sexo, surgiram algumas correntes que 
visam impedir o reconhecimento do casamento civil homoafetivo, notadamente as que 
defendem a ideia da impossibilidade jurídica do pedido ou de sua inexistência.
Assim, o conceito de família restou flexibilizado, indicando que seu elemento 
formador precípuo é, antes mesmo do que qualquer fator genético, o afeto. Hoje o afeto 
dá os contornos do que seja uma família. Se tivermos em mente que é o afeto o elemento 
fundante da família, e que a Constituição Federal nos trouxe um rol exemplificativo 
de núcleos familiares, forçoso admitir que duas pessoas do mesmo sexo, unidas pelo 
afeto, formam uma família. Neste sentido Paulo Lobo
12
: “os tipos de entidades familiares 
explicitados nos parágrafos do art. 226 da Constituição são meramente exemplificativos, 
sem embargo de serem os mais comuns, por isso mesmo merecendo referência expressa. 
As demais entidades familiares são tipos implícitos incluídos no âmbito de abrangência 
17Revista da Escola da Magistratura - nº 13
do conceito amplo e indeterminado de família, indicado no caput. Como todo conceito 
indeterminado, depende de concretização dos tipos, na experiência da vida, conduzindo 
à tipicidade aberta, dotada de ductilidade e adaptabilidade”.
Ainda que não haja norma expressa neste sentido, é importante refletir sobre 
o fato de que “o silêncio sobre a diversidade sexual é atrelado à naturalização da 
heterossexualidade – a heteronormatividade. Esta deixa pouco espaço para que outros 
sentidos da sexualidade surjam. O silêncio heteronormativo reflete visões homofóbicas 
de mundo, pois prioriza os discursos que ligam a sexualidade à reprodução, de 
maneira que a relação sexual heterossexual se torna a única possibilidade legítima. A 
heteronormatividade, ao silenciar sobre a diversidade sexual, acaba por não contribuir 
para o enfrentamento da homofobia”.
13
As formas idealizadas dos gêneros geram hierarquia e exclusão. Os regimes de 
verdades estipulam que determinadas expressões relacionadas com o gênero são falsas, 
enquanto outras são verdadeiras e originais, condenando a uma morte em vida, exilando 
em si mesmos os sujeitos que não se ajustam a idealizações.
14
 
Destarte, ainda que o discurso homofóbico muitas vezes se apresente somente 
nas entrelinhas do silêncio, das palavras não pronunciadas, mostra-se ainda mais 
perverso e dizimador, pois fere a alma, a dignidade do ser humano. Novos paradigmas 
devem nos levar a novas realidades, realidades estas pautadas em isonomia de 
tratamento. A discriminação contra o negro e a mulher, apesar de ainda persistirem 
em nossa sociedade, são objetos de cuidados legislativos, enquanto que a discriminação 
contra os homossexuais continua a ser velada, sóbria e sórdida, pois os pares 
homoafetivos são tratados como pessoas inexistentes, pessoas sem direitos, mas com 
muitas obrigações perante o fisco. Não se cuida de se fazer apologia ao não pagamento 
de impostos, mas prega-se, sobretudo a igualdade de condições, de oportunidades, 
de tratamento. Se os homossexuais possuem os mesmos deveres perante o Estado, o 
mínimo que se espera é que este mesmo Estado lhe estenda todos os direitos que tem 
os cidadãos heterossexuais.
É imprescindível que a lei dialogue com as transformações sociais. Por óbvio 
que a união de pessoas do mesmo sexo pautadas em afeto, respeito e cumplicidade 
descortinam o nascimento de uma nova família. Não pode o preconceito se sobrepor à 
dignidade, à igualdade, e ao direito à felicidade.
Família Homoafetiva:
Se considerarmos e entendermos somente o casamento, a união estável e a família 
monoparental como elementos fundantes de entidade familiar, deixaremos desabrigados 
um enorme feixe de indivíduos, que destinam seus afetos a pessoas de sexos iguais ao seu.
Se retrocedermos um pouco, observamos que antes somente o casamento era 
elemento formador de família. É dizer, havia uma separação entre os que eram casados 
e os que não eram e entre aqueles que tinham o direito de casar e aqueles a que estes 
direitos não eram reconhecidos. Para os pares homoafetivos, esta possibilidade lhes é 
retirada. Continuam a ser uma minoria ostracizada e privada de direitos.
18 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
A reivindicação do casamento “gay” não exprime simplesmente a aspiração, 
que seria o sinal de uma abdicação diante de modos de vida heterossexuais, de 
certos homossexuais a entrar na instituição matrimonial; ela traria, também, caso 
se realizasse, uma mudança profunda na própria instituição, que não poderia mais 
ser a mesma que antes, e isso ainda mais que, se os gays podem hoje reivindicar o 
direito de a ela ter acesso, é porque já não é mais o que era. É a dessacralização do 
casamento que torna possível a própria reivindicação de que se deva abri-lo aos casais 
do mesmo sexo.
15
Nota-se que a aversão à outorga de direitos a homossexuais, quer no sentido de 
aceitar o casamento, o reconhecimento de uniões estáveis homoafetivas, ou direito a 
adoção, esta a infirmar uma superioridade biológica que se desenha pela dualidade de 
sexos numa relação. Critica-se a alteridade e alberga-se a exclusão do outro.
Não há vontade política em deferir direitos, apenas para outorgar deveres. O 
discurso heteronormativo ainda constitui a base do pensamento político pós-moderno 
no Brasil, colocando os pares homoafetivos numa situação de inferioridade simbólica 
no espaço social.
A sexualidade é uma das dimensões do ser humano que envolve gênero, 
identidade sexual, orientação sexual, erotismo, envolvimento emocional, amor 
e reprodução. É experimentada ou expressa em pensamentos, fantasias, desejos, 
crenças, atitudes, valores, atividades, práticas, papéis e relacionamentos. Envolve, 
além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes, nossas relações afetivas, 
nossa cultura.
16
A heterossexualidade se define em grande parte por aquilo que ela rejeita, da 
mesma maneira que, de modo mais geral, uma sociedade se define por aquilo que ela 
exclui, como dizia Foucult em História da Loucura.
Os ordenamentos jurídicos têm influência no desenvolvimento das famílias, têm 
influência efetivamente afetiva, incluindo ou excluindo da pertinência à família mais 
ampla, o social. O tratamento que as famílias recebem deste representante paterno, 
que é o Estado e o Judiciário, em muito influenciará seu destino.
17
O modelofamiliar hoje, é o da família eudemonista, onde cada indivíduo 
é importante em sua singularidade, tendo o direito se ser feliz em seu contexto, 
independentemente de sua orientação sexual. Pautar direitos tendo como parâmetro o 
sexo a quem é destinado nosso afeto, é perverso e injusto.
A família é muito mais do que reunião de pessoas com o mesmo sangue. Família 
é encontro, afeto, companheirismo, é dividir para somar.
E o sentido de cidadania é justamente o da inclusão social. Não é humano e 
tampouco jurídico deixar ao desabrigo pessoas que possuem os mesmos deveres perante 
o Estado, mas têm subtraídos direitos.
Ainda que o direito brasileiro hodierno não admita o casamento entre 
homossexuais, é de mister relevância que seja aceita como união estável, com todos os 
direitos daí advindos. 
A equiparação das uniões homossexuais à união estável, pela analogia, implica 
a consideração da presença de vínculos formais e a presença de uma comunidade de 
19Revista da Escola da Magistratura - nº 13
vida duradoura entre os companheiros do mesmo sexo, assim como ocorre com os 
companheiros de sexo diferentes, valorizando sempre, e principalmente, os princípios 
constitucionais da dignidade da pessoa humana, da isonomia, da não discriminação em 
virtude de sexo ou orientação sexual.
18
Neste sentido a jurisprudência de vanguarda:
AÇÃO ORDINÁRIA - UNIÃO HOMOAFETIVA - ANALOGIA 
COM A UNIÃO ESTÁVEL PROTEGIDA PELA CONSTITUI-
ÇÃO FEDERAL - PRINCÍPIO DA IGUALDADE (NÃO-DIS-
CRIMINAÇÃO) E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
- RECONHECIMENTO DA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA 
DE UM PARCEIRO EM RELAÇÃO AO OUTRO, PARA TO-
DOS OS FINS DE DIREITO - REQUISITOS PREENCHIDOS 
- PEDIDO PROCEDENTE. - À união homoafetiva, que preenche 
os requisitos da união estável entre casais heterossexuais, deve ser 
conferido o caráter de entidade familiar, impondo-se reconhecer os 
direitos decorrentes desse vínculo, sob pena de ofensa aos princí-
pios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. - O art. 226, 
da Constituição Federal não pode ser analisado isoladamente, res-
tritivamente, devendo observar-se os princípios constitucionais da 
igualdade e da dignidade da pessoa humana. Referido dispositivo, 
ao declarar a proteção do Estado à união estável entre o homem 
e a mulher, não pretendeu excluir dessa proteção a união homoa-
fetiva, até porque, à época em que entrou em vigor a atual Carta 
Política, há quase 20 anos, não teve o legislador essa preocupação, 
o que cede espaço para a aplicação analógica da norma a situações 
atuais, antes não pensadas. - A lacuna existente na legislação não 
pode servir como obstáculo para o reconhecimento de um direito. 
(TJMG, APC 1.0024.06.930324-6/001, rel. Desª. Heloisa Combat, 
j. 22.05.2007, d.p. 27.07.2007)
O silêncio legislativo não pode ser interpretado como falta de direitos, e sim, 
como descaso institucional. Infelizmente, as minorias ainda sofrem nas mãos de alguns 
parlamentares que insistem em não se comprometer com medo de perderem votos para 
a próxima eleição.
DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE 
UNIÃO HOMOAFETIVA - ART. 226, §3º DA CF/88 - UNIÃO 
ESTÁVEL - ANALOGIA - OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS 
DA IGUALDADE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
- POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - VERIFICAÇÃO. - 
Inexistindo na legislação lei específica sobre a união homoafetiva e 
seus efeitos civis, não há que se falar em análise isolada e restritiva do 
20 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
art. 226, §3º da CF/88, devendo-se utilizar, por analogia, o conceito 
de união estável disposto no art. 1.723 do Código Civil/2002, a ser 
aplicado em consonância com os princípios constitucionais da igual-
dade (art. 5º, caput, e inc. I da Carta Magna) e da dignidade humana 
(art. 1º, inc. III, c/c art. 5º, inc. X, todos da CF/88). (TJMG, APC 
1.0024.09.484555-9/001, rel. Des. Elias Camilo, 8ª Câmara Cível, j. 
25.11.2009, d.p. 12.02.2010)
Conclusão:
Como visto, é da natureza do ser humano, da sua essência, a diversidade de 
orientação sexual.
Veja-se que a união homoafetiva passou a ser aceita somente no ano de 1989, 
na Dinamarca, tendo sido reconhecido o como casamento civil apenas no ano de 2001 
da Holanda.
É bem verdade que em nosso ordenamento jurídico positivo, não há qualquer 
regra específica para o tema, quer no que diz com a união estável ou casamento.
Contudo, é de se ver que a Constituição Federal, através de seus princípios, 
princípios estes que norteiam todos os vetores nas normas infraconstitucionais, 
reconhece, subsidia, ampara e autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Destacamos o princípio da dignidade da pessoa humana, onde cada um deve ser 
respeitado em sua individualidade. Ratificamos o fato de que nenhum indivíduo possui 
a faculdade de escolher com que cor de olhos quer nascer, nem sua orientação sexual. 
A pessoa simplesmente nasce desta ou daquela forma. Assim, mostra-se hipócrita a 
sociedade quando aceita o ódio entre os homens, mas recrimina o seu amor.
19
Ao depois, nunca é demais nos reportarmos aos princípios da igualdade, (que 
ratifica a isonomia de tratamento a todas as pessoas), da liberdade, (que embasa a 
livre escolha de parceiros), do pluralismo das entidades familiares (pois a Constituição 
ampliou o conceito de família) e da afetividade (onde o que efetivamente importa 
na relação familiar, muito mais do que o aspecto biológico ou sexual é o afeto que a 
envolve), princípios estes que direcionam todo o contexto do novo direito de família.
Já é hora de deixarmos de lado o descaso, o preconceito e o desrespeito. De 
pararmos para refletir que o homossexual não é melhor nem pior que o heterossexual, 
apenas se distinguem em sua orientação sexual. É bem verdade que os mais conservadores 
assustam-se com o diferente, com o novo, e o inaudito. Contudo, precisamos ter coragem 
para tirarmos a venda da repulsa e do menosprezo, e alcançarmos direitos às relações 
homoafetivas.
A relação de casal tem se mostrado um grande concentrado da vida psíquica 
familiar em qualidade e intensidade de emoções que é capaz de mobilizar. Os humanos, 
pelo menos desde o ingresso na adolescência, passam a ser atravessados pela conjuntura 
do casal, isto é, ter presente a alternativa de fazer parte de um casal. Não haverá quem 
fique de fora destas questões, mesmo aqueles que venham a optar pela renúncia à vida 
em casal, estabelecendo outras prioridades para a sua existência
20
.
21Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Como já dito alhures, há quem sustente que as uniões homoafetivas devem ser 
tratadas no âmbito do direito das obrigações, uma vez que não a Constituição Federal ao 
mencionar o instituto da união estável teria se referido à união entre homem e mulher. 
Olvidam-se que se cuida de norma de caráter exemplificativo, não tendo a Constituição 
da República abarcado todos os tipos de relacionamento possíveis. Ademais, dizer que 
uma relação afetiva entre indivíduos do mesmo sexo deva ser tratada como se sócios 
fossem, é efetivamente elevar o preconceito em detrimento do justo.
Com relação à união estável, pensamos que não há qualquer óbice para seu 
reconhecimento, ainda que não tenhamos lei específica para tanto. Ademais, é só nos 
ampararmos no texto constitucional para alcançarmos os mesmos direitos referentes 
às uniões estáveis heterossexuais.
Mas avançamos mais: entendemos que a aceitação do casamento civil 
homoafetivo independe de lei específica, uma vez que a própria Constituição assim o 
autoriza. Não há qualquer artigo do Código Civil que faça restrição de que casamento 
é privilégio dos heterossexuais. É de se ter em mente também que o reconhecimento 
do casamento homoafetivo não traria prejuízo a quem quer que seja. Ao contrário, 
visaria apenas estabelecer igualdade e dignidade àqueles que possuem como objeto de 
seu desejo, pessoas de seu mesmo sexo.
É imprescindívelque a Igreja deixe seus dogmas para seus fiéis, não devendo 
manifestar-se com relação a leis civis que visem à proteção de direitos de uma minoria 
que é por ela, reiteradamente, repudiada.
Até mesmo o Superior Tribunal de Justiça, quando instado a se manifestar sobre 
o sentido que deve-se dar à entidade familiar insculpida na Lei 8.009/90, considerou a 
possibilidade de ser os irmãos solteiros que vivem juntos, o viúvo sem descendentes, o 
cônjuge separado, dentre outros. Ou seja, a própria Constituição Federal, albergada no 
princípio da dignidade da pessoa humana, ampara diferentes formas de entidade familiar. 
É que o amor e o afeto independem de sexo, cor ou raça, sendo preciso que 
se enfrente o problema, deixando de fazer vistas grossas a uma realidade que bate 
à porta da hodiernidade, e mesmo que a situação não se enquadre nos moldes da 
relação estável padronizada, não se abdica de atribuir à união homossexual os efeitos 
e natureza dela.
21
O reconhecimento da união homoafetiva como família é apenas a consequência 
lógica de uma sociedade democrática, que tem por fim último a dignidade de cada 
pessoa, que deve ser respeitada em sua individualidade de forma integral e absoluta. 
Até porque nascemos para sermos felizes e há de chegar o dia em que a infelicidade será 
considerada apenas uma questão de prefixo, como diria Guimarães Rosa.
Referências Bibliográficas:
- ABRAMOVAY, M. Juventude e Sexualidade, Brasília, UNESCO Brasil, 2004;
- BARROSO, Luiz Roberto, Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das 
relações homoafetivas no Brasil, acessado no site http://pfdc.pgr.mpf.gov.br, no 
dia 17.7.2009
22 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
- BENTO, Berenice. O que é transexualidade. Ed. Brasiliense,São Paulo, 2008;
- BUTLER, Judith, The Psychic Life of Power. Theories in Subjection, Stanford 
(Califórnia), Stanford University Press, 1997;
- CASTRO, Flávia Lages de, História do Direito Geral e do Brasil, 7ª ed. Rio de Janeiro, 
Lúmen Júris:2009;
- GIORGIS, José Carlos Teixeira, Direito de Família Contemporâneo, Ed. Livraria do 
Advogado, Porto Alegre, 2010;
- GROENINGA, Giselle Câmara, Direito e Psicanálise – Rumo a uma nova 
epistemologia, coord. Giselle Câmara Groeninga e Rodrigo da Cunha Pereira, ed. 
Imago, 2003, Rio de Janeiro;
- LÔBO, Paulo, Direito Civil – Famílias, São Paulo: ed. Saraiva, 2ª ed., 2009;
- LOUZADA, Ana Maria Gonçalves, Direito das Famílias - em homenagem a Rodrigo 
da Cunha Pereira, org. Maria Berenice Dias Comentado, São Paulo, ed. RT, 2009;
- MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus, Novas Modalidades de Família na 
Pós-Modernidade, ed. Atlas, São Paulo, 2010;
- POCAHY, Fernando, OLIVEIRA, Rosana e IMPERATORI Thaís. Cores e dores do 
preconceito: entre o boxe e o balé, in Homofobia e Educação, Brasília: ed. UNB, 
2009;
- RIOS, Roger Raupp. A igualdade de tratamento nas relações de família em A justiça 
e os direitos de gays e lésbicas. Porto Alegre, Ed. Sulina, 2003;
- TURKENICZ, Abraão, A Aventura do Casal, ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1995;
- VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti, Manual da Homoafetividade, ed.. Método, Rio 
de Janeiro, 2008
-www.mass.gov.br/courts/courtsandjudges/courts/supremejudicialcourt/goodridge.html, 
em julho de 2009
Notas
1
 GROENINGA, Giselle Câmara, Direito e Psicanálise – Rumo a uma nova epistemologia, coord. Giselle 
Câmara Groeninga e Rodrigo da Cunha Pereira, ed. Imago, 2003, Rio de Janeiro, p. 125
2
 VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti, Manual da Homoafetividade, ed.. Método, Rio de Janeiro, 2008, p. 
42
3
 Dados obtidos do livro “História do Direito Geral e do Brasil”, Flávia Lages de Castro, 7ª ed. Rio de Janeiro, 
Lúmen Júris:2009
4
 VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti, ob. cit. p. 59
5
 Ibidem, p.61
6
 Acessado pelo www.mass.gov.br/courts/courtsandjudges/courts/supremejudicialcourt/goodridge.html, em 
julho de 2009
7
 LOUZADA, Ana Maria Gonçalves, Direito das Famílias - em homenagem a Rodrigo da Cunha Pereira, 
org. Maria Berenice Dias Comentado, São Paulo, ed. RT, 2009, p. 246
8
 MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus, Novas Modalidades de Família na Pós-Modernidade, 
ed. Atlas, São Paulo, 2010, p. 28
23Revista da Escola da Magistratura - nº 13
9
 GROENINGA, Giselle Câmara, op. cit. p. 137
10
 LOUZADA, Ana Maria Gonçalves, ob. cit. p. 244
11
 Ibidem, p. 247
12
 LÔBO, Paulo, Direito Civil – Famílias, São Paulo: ed. Saraiva, 2ª ed., 2009, p. 61
13
 POCAHY, Fernando, OLIVEIRA, Rosana e IMPERATORI Thaís. Cores e dores do preconceito: entre 
o boxe e o balé, in Homofobia e Educação, Brasília: ed. UNB, 2009, p.118
14
 BENTO, Berenice. O que é transexualidade. Ed. Brasiliense,São Paulo, 2008, p. 35
15
 BUTLER, Judith, The Psychic Life of Power. Theories in Subjection, Stanford (Califórnia), Stanford 
University Press, 1997, p. 137
16
 ABRAMOVAY, M. Juventude e Sexualidade, Brasília, UNESCO Brasil, 2004, p. 29
17
 GROENINGA, Giselle Câmara, op. cit. p. 141
18
 RIOS, Roger Raupp. A igualdade de tratamento nas relações de família em A justiça e os direitos de gays 
e lésbicas. Porto Alegre, Ed. Sulina, 2003, p. 191
19
 “Na década de 70, nos Estados Unidos, um soldado que havia sido condecorado por bravura na Guerra do 
Vietnã escreveu ao Secretário da Força Aérea declinando sua condição homossexual. Foi imediatamente 
expulso da corporação, com desonra. Ao comentar o episódio, o militar produziu uma frase antológica: 
‘Deram-se uma medalha por matar dois homens, e uma expulsão por amar outro’.” BARROSO, Luiz 
Roberto, Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das relações homoafetivas no Brasil, acessado 
no site http://pfdc.pgr.mpf.gov.br, no dia 17.7.2009
20
 TURKENICZ, Abraão, A Aventura do Casal, ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1995, p. 5
21
 GIORGIS, José Carlos Teixeira, Direito de Família Contemporâneo, Ed. Livraria do Advogado, Porto 
Alegre, 2010, p. 295
——— • ———
25Revista da Escola da Magistratura - nº 13
A Sucessão Legítima 
do Cônjuge no 
Novo Código Civil
Wagner Junqueira Prado
Mestrando em Direito e Políticas Públicas pelo UniCEUB. 
Juiz de Direito no Distrito Federal.
1. INTRODUÇÃO
O Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, trouxe diversas novidades em relação ao tema da sucessão legítima do cônjuge.
O cônjuge sobrevivente que, na vigência do Código Civil anterior (Lei nº 
3.071/1916), herdava apenas na ausência de descendentes e ascendentes do falecido, 
passou a ser herdeiro necessário e a concorrer com os descendentes ou ascendentes 
à herança. A participação do cônjuge como herdeiro, todavia, restou condicionada a 
certos fatores, como veremos no decorrer deste trabalho.
Os dispositivos legais que trouxeram tais novidades, entretanto, apresentam 
muitas dificuldades interpretativas, gerando diversas dúvidas, o que complica 
sobremaneira o processo de inventário e partilha, principalmente após o art. 982 do 
Código de Processo Civil ganhar nova redação, dada pela Lei nº 11.441/2007, passando 
a permitir que o inventário e a partilha sejam realizados extrajudicialmente, desde que 
não haja testamento e todos os herdeiros sejam capazes e estejam concordes.
Apesar dos numerosos trabalhos doutrinários existentes a respeito da matéria, 
não se pretende aqui realizar uma compilação das diferentes opiniões esboçadas pelos 
seus autores, seja para apoiar-se nelas, seja para refutá-las. A ideia é, ao contrário, 
obter uma interpretação própria, com base exclusivamente na legislação, mas que 
procure refletir uma coerência do direito sucessório legislado como um todo. Isso 
explica a carência de referências bibliográficas sobre obras doutrinárias que tratem do 
direito das sucessões.
No presente trabalho, nosso objetivo é buscar uma interpretação coerente 
e que contempleuma visão holística do direito das sucessões em vigor, ao invés 
26 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
de procurar obter uma interpretação meramente individual de cada dispositivo 
isoladamente, dissociada de uma visão geral, o que poderia conduzir a soluções ilógicas 
ou desvinculadas dos princípios sucessórios elementares expressos no próprio Código 
Civil
1
. Dessa forma, esperamos enfrentar as dificuldades existentes na legislação 
(que não são poucas) e fornecer uma solução para a maioria dos problemas práticos 
envolvendo a sucessão legítima do cônjuge no Novo Código Civil.
2. O DIREITO SUCESSÓRIO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE
Inicialmente, vejamos os dizeres dos dois primeiros artigos do Capítulo I do 
Título II do Livro V da Parte Especial do Novo Código Civil:
“Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, 
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão uni-
versal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo 
único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança 
não houver deixado bens particulares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge so-
brevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados 
judicialmente, nem separados de fato há mais de 2 (dois) anos, salvo 
prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem 
culpa do sobrevivente”.
Apesar da ordem dos dispositivos no Código, é conveniente iniciar a nossa 
análise pelo art. 1830. Ele estipula que o cônjuge sobrevivente, separado judicialmente 
ou separado de fato há mais de dois anos do cônjuge falecido ao tempo de sua morte 
(exceto quando a convivência se tornou impossível sem culpa sua), não tem direito 
sucessório, mesmo na ausência de descendentes e ascendentes (hipótese em que 
devem herdar os colaterais). Portanto, o cônjuge sobrevivente, para participar da 
sucessão legítima, não pode estar (1) separado judicialmente do autor da herança nem 
(2) separado de fato há mais de dois anos ao tempo da morte de seu consorte.
Apesar do art. 1.830 fazer referência apenas à separação judicial, o art. 1.124-
A do Código de Processo Civil, com a redação dada pela Lei nº 11.441/2007, permite 
que a separação consensual, não havendo filhos menores ou incapazes, seja feita 
extrajudicialmente. A coerência do sistema exige, portanto, que também não seja 
reconhecido direito sucessório ao cônjuge separado extrajudicialmente, por escritura 
pública.
Evidentemente, a prova da separação (judicial ou extrajudicial) se faz através 
da certidão de casamento com a separação averbada. Já a prova do tempo de separação 
27Revista da Escola da Magistratura - nº 13
de fato é mais problemática, e pode ser feita documentalmente (por exemplo, através 
da comprovação de que houve ajuizamento de ação de alimentos por um dos cônjuges 
contra o outro, motivado pela separação de fato) ou através de testemunhas.
Cabe aos descendentes ou aos ascendentes, nos casos dos incisos I e II do art. 
1.829, e aos colaterais, no caso de inexistência de descendentes e ascendentes do 
falecido (inciso III do art. 1.829), arguir a ausência de direito sucessório do cônjuge 
sobrevivente. Tal alegação deve ser formulada na própria petição inicial do inventário, 
nas primeiras declarações do inventariante (art. 993 do Código de Processo Civil) ou 
em forma de impugnação, nos termos do art. 1.000 do Código de Processo Civil, após as 
primeiras declarações. Os colaterais, que a princípio não são citados para o inventário 
(art. 999 do mesmo diploma legal), exceto se o inventário for promovido por um deles, 
ainda poderão, a qualquer tempo, desde que antes da partilha, caso o inventário seja 
promovido pelo cônjuge sobrevivente, pedir a sua admissão no inventário nos termos 
do art. 1.001 do Código de Processo Civil.
Em caso de impugnação nos termos do art. 1.000 ou de pedido dos colaterais 
de admissão no inventário nos termos do art. 1.001 do diploma processual, deve o 
magistrado ouvir a respeito o inventariante e o cônjuge sobrevivente, designar audiência 
para colher a prova testemunhal, caso haja necessidade, e depois decidir acerca da 
impugnação ou do pedido. Cabe ao cônjuge sobrevivente, em sua manifestação e sendo 
o caso, alegar e comprovar documentalmente (ou arrolar testemunhas), na hipótese 
de mera separação de fato, que a convivência se tornou impossível sem culpa sua.
Observe-se que a alegação de inexistência de direito sucessório do cônjuge 
sobrevivente não constitui matéria de alta indagação, devendo sempre ser decidida 
nos próprios autos do inventário, seja porque a separação judicial ou de fato pode ser 
comprovada documentalmente, seja porque quando a existência e data da separação 
de fato tiverem que ser comprovadas por testemunhas, a prova oral a ser produzida é 
bastante simples. Da mesma maneira, havendo alegação do cônjuge sobrevivente, em 
caso de mera separação de fato, de que a convivência se tornou impossível sem culpa 
sua, ainda que a prova não possa ser feita documentalmente, a prova oral a respeito 
também é de simples produção. Não há necessidade, portanto, de remessa da questão 
aos meios ordinários.
No sistema anterior, o cônjuge era apenas meeiro, jamais concorrendo na 
sucessão com os descendentes ou ascendentes do autor da herança. Segundo o art. 
1.611 do Código Civil anterior (Lei nº 3.071/1916), o cônjuge era herdeiro legítimo 
apenas na ausência de descendentes e ascendentes, se ao tempo da morte do outro 
não estava dissolvida a sociedade conjugal
2
, hipótese em que lhe cabia a totalidade da 
herança. Mas não era herdeiro necessário. Por essa razão, e na ausência de descendentes 
e ascendentes, o testador podia excluí-lo da herança testando todo o seu patrimônio.
No novo Código Civil, passando o cônjuge a ter o status de herdeiro necessário 
(art. 1.845), e concorrendo na sucessão com os descendentes ou ascendentes do 
falecido (art. 1.829, incisos I e II), houve a necessidade de se estipular outra hipótese 
em que não se reconhece direito sucessório ao cônjuge sobrevivente: a da separação 
de fato. É que, no Brasil, principalmente nas comunidades mais carentes e com maior 
dificuldade de acesso à justiça, é muito comum a pessoa permanecer separada de 
28 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
fato de seu cônjuge por longo período (até mesmo por décadas) sem providenciar 
o divórcio, mesmo depois de formar outro núcleo familiar, através da união estável. 
Evidentemente que, em casos tais, não seria coerente permitir que o cônjuge figurasse 
como herdeiro legítimo, pois inexistente qualquer vínculo afetivo entre ele e o autor 
da herança. Se o relacionamento (vida afetiva) do casal já estava rompido, seja pela 
separação judicial, seja pela separação de fato, há necessidade realmente de exclusão 
da qualidade de herdeiro do cônjuge.
Todavia, andou mal o legislador ao exigir, para exclusão do direito sucessório 
do cônjuge, uma separação de fato por prazo superior a dois anos. Entendemos que 
seria mais coerente estabelecer simplesmente a separação de fato, sem qualquer prazo. 
É que, nos termos do art. 1.723, § 1º, do Novo Código Civil, mesmo casada, mas 
estando separada judicialmente ou de fato (independentemente de qualquer prazo), 
a pessoa pode constituir união estável. Portanto, no sistema em vigor, é possível que 
alguém, separado de fato do cônjuge há menos de dois anos, constitua união estável 
com terceiro, vindo posteriormente a falecer. Nessa hipótese, o texto legal do art. 
1.830 permite ao cônjuge sobrevivente pleitear a qualidade de herdeiro, ao mesmo 
tempo em que o companheiro, nos termos do art. 1.790 do mesmo diploma legal, 
também está autorizado a herdar.
Não há coerênciaem se permitir que essas duas pessoas (cônjuge e 
companheiro) figurem como herdeiros ao mesmo tempo, já que, antes de seu 
falecimento, o autor da herança não tinha mais vínculo afetivo com seu cônjuge, em 
virtude da separação de fato, vínculo esse que, à época de sua morte, existia somente 
em relação ao companheiro. Em nosso entender, se existe união estável com terceiro 
posterior à separação de fato do cônjuge, independentemente do prazo dessa separação 
de fato, por uma questão de coerência e integridade no direito, o cônjuge perde a 
qualidade de herdeiro legítimo necessário, devendo participar do inventário apenas 
na qualidade de meeiro dos bens comuns, adquiridos anteriormente à separação de 
fato. O companheiro, além de meeiro dos bens adquiridos onerosamente no curso 
da união estável (em virtude do regime de bens adotado na hipótese, por força do 
art. 1.725 do Código Civil), figuraria como herdeiro desses mesmos bens, nos termos 
do art. 1.790 do Código Civil. Do contrário, teríamos que aceitar a abusiva hipótese 
do cônjuge sobrevivente herdar parte dos bens adquiridos onerosamente pelo 
autor da herança na vigência de união estável posterior à separação de fato (bens 
particulares do falecido, em relação ao cônjuge; porém, bens comuns, em relação 
ao companheiro)
3
. Na inexistência de união estável posterior à separação de fato, 
todavia, permanece o cônjuge sobrevivente com direito sucessório, se no momento 
do óbito o tempo de separação de fato não era superior a dois anos.
Também não se houve bem o legislador ao permitir ao cônjuge separado de fato 
manter o direito sucessório quando não tiver culpa na separação de fato. É que, se nem 
mesmo na ação de separação judicial se permite atualmente a perquirição da culpa, 
também não faz sentido a apuração da culpa exclusivamente para fins sucessórios. 
Estaria melhor o art. 1.830 se se limitasse a estabelecer a separação de fato como 
causa de exclusão do direito sucessório do cônjuge, sem abordar a questão da culpa do 
cônjuge supérstite.
29Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Possuindo o cônjuge sobrevivente direito sucessório, nos termos do art. 1.830 
do Código Civil, além da meação decorrente do regime de bens do casamento, ele 
ainda poderá figurar como herdeiro necessário
4
, em concorrência com os descendentes 
ou ascendentes do autor da herança.
3. O CÔNJUGE SOBREVIVENTE CONCORRENDO COM OS DESCENDEN-
TES DO FALECIDO
Voltemo-nos agora ao art. 1.829 e seu inciso I do Código Civil.
Segundo tais dispositivos, a sucessão legítima defere-se primeiramente aos 
descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, desde, é claro, que o 
cônjuge possua direito sucessório, nos termos do já analisado art. 1.830. O inciso I do 
art. 1.829, porém, traz outros requisitos para que o cônjuge supérstite possa herdar, ao 
excluí-lo da sucessão quando: (1) casado com o falecido sob o regime da comunhão 
universal; (2) casado com o falecido sob o regime da separação obrigatória de bens; (3) 
casado com o falecido sob o regime da comunhão parcial, quando o autor da herança 
não houver deixado bens particulares.
As duas primeiras hipóteses não comportam maior debate. No regime da 
comunhão universal, comunicam-se todos os bens adquiridos pelos cônjuges, antes ou 
depois do casamento (art. 1.667 do Código Civil). Assim, como o cônjuge supérstite 
já é meeiro de todos os bens adquiridos pelo falecido, ainda que anteriormente ao 
casamento, não há necessidade de protegê-lo na sucessão, atribuindo-lhe quinhão na 
herança, pois de qualquer maneira ele já é detentor de metade do patrimônio total 
do casal. Já no regime da separação obrigatória de bens, aplicável nas hipóteses de 
(1) casamento contraído com inobservância das causas suspensivas da celebração do 
casamento, (2) casamento de pessoa maior de 60 anos e (3) casamento de pessoa 
que dependeu de suprimento judicial (art. 1.641 do Código Civil), é a própria lei que 
obriga os contraentes a administrarem com exclusividade os seus bens particulares, 
adquiridos anteriormente ao casamento (art. 1.687 do Código Civil). Assim, não 
seria coerente, na dissolução do casamento pela morte de um dos cônjuges, que o 
outro pudesse herdar parte do patrimônio particular do falecido, já que o regime da 
separação obrigatória de bens tinha o objetivo oposto, ou seja, impedir que os bens 
particulares de um cônjuge se comunicassem ao patrimônio do outro. Vale ressaltar 
que o inciso I do art. 1.829 fez remissão equivocada ao art. 1.640, parágrafo único, já 
que as hipóteses de obrigatoriedade de adoção do regime da separação de bens estão 
descritas, na verdade, no art. 1.641 do Código Civil.
Estranhamente, ao excluir expressamente da qualidade de herdeiro, em 
concorrência com os descendentes, o cônjuge supérstite casado com o falecido no 
regime da separação obrigatória de bens, o art. 1.829, inciso I, permite que o cônjuge 
casado sob tal regime não em virtude de obrigação legal, mas por opção do casal 
(separação convencional de bens), ocupe a qualidade de herdeiro. É uma incongruência 
da lei, já que, se o próprio Código Civil, em seu art. 1.640, parágrafo único
5
, permite 
que os contraentes optem pelo regime da separação de bens, não deveria agora, após a 
30 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
morte de um dos cônjuges, aquinhoar o outro com parte na herança, em concorrência 
com os descendentes, já que isso obviamente contraria o objetivo do casal ao optar 
por aquele regime. Não cabe aqui, todavia, qualquer interpretação restritiva que 
possa prejudicar o cônjuge casado sob o regime da separação convencional de bens, 
sendo recomendável, no entanto, alteração legislativa que venha a suprimir a palavra 
“obrigatória” no inciso I do art. 1.829, a fim de melhorar a coerência do sistema.
O ponto nevrálgico é, sem dúvida, a situação do cônjuge casado sob o regime 
da comunhão parcial. Lembre-se que, no Brasil, na quase totalidade dos casamentos 
celebrados a partir da vigência da Lei nº 6.515/1977 (Lei do Divórcio), que modificou 
o art. 258 do Código Civil de 1916
6
, foi adotado o regime da comunhão parcial. O 
Novo Código Civil continua adotando o regime da comunhão parcial como regime 
legal de bens, na ausência de estipulação em contrário pelos cônjuges
7
.
De acordo com o art. 1.829, inciso I, e apesar da péssima redação do dispositivo, 
acreditamos que o fator mais importante a ser analisado não é a estranha pontuação 
utilizada pelo legislador, mas sim a finalidade da norma, que é, sem dúvida, proteger o 
cônjuge sobrevivente em determinada situação, aumentando-lhe o patrimônio através 
da atribuição de quinhão na herança.
A melhor interpretação, portanto, é a de que o cônjuge supérstite, casado com 
o autor da herança sob o regime da comunhão parcial, e desde que possua direito 
sucessório (art. 1.830), só concorre à herança com os descendentes caso o falecido 
tenha deixado bens particulares. Evidentemente, na ausência de bens particulares do 
falecido, não é necessário atribuir ao viúvo o status de herdeiro, pelas mesmas razões 
já expostas quando tratamos do regime da comunhão universal: é que a meação 
do cônjuge sobrevivente, nesse caso, já é equivalente à metade de todos os bens 
do casal (ou até superior, caso ele próprio possua bens particulares), não havendo 
necessidade de protegê-lo na sucessão. Ao contrário, havendo bens particulares do 
falecido (adquiridos anteriormente ao casamento, ou recebidos em virtude de doação 
ou sucessão), e sendo tais bens de valor significativo, a meação do cônjuge supérstite 
será proporcionalmente pequena em relação à totalidade dos bens do casal. Nessa 
hipótese, é perfeitamente justificável a intenção da lei de aquinhoar o cônjuge 
sobrevivente, como forma de proteção patrimonial, evitando que ele permaneça 
apenas com a sua meação, que poderia ser, comparada ao patrimôniototal do casal, 
ínfima ou desproporcional, incapaz de manter o seu padrão de vida após a viuvez. Por 
outro lado, todavia, caso os bens particulares deixados pelo autor da herança sejam 
de pequeno valor, em comparação com o montante dos bens pertencentes ao casal, 
ou se, ao contrário, é o viúvo quem possui bens particulares de valor significativo, 
o cônjuge sobrevivente ficará em vantagem despropositada na partilha dos bens, ao 
figurar como meeiro e herdeiro, ainda que ausente qualquer necessidade protetiva, em 
prejuízo, portanto, dos descendentes, que terão seu quinhão reduzido injustamente. 
Esse, infelizmente, é o preço a pagar pela fórmula açodada que o legislador adotou, e 
cujo objetivo é aumentar o amparo patrimonial do cônjuge sobrevivente, casado sob o 
regime da comunhão parcial, mas que pode, em certos casos, aumentar indevidamente 
o patrimônio de quem não precisa dessa proteção. Caberá, portanto, à jurisprudência, 
nos casos em que a aplicação do dispositivo venha provocar uma situação contrária à 
31Revista da Escola da Magistratura - nº 13
pretendida pela finalidade da norma, optar pela sua não utilização, a fim de manter a 
coerência e integridade do sistema.
Apesar da redação do dispositivo exigir que o falecido tenha deixado “bens 
particulares” (no plural), entendemos que, por uma questão de coerência do sistema, 
basta que o falecido tenha deixado um único bem particular para que o cônjuge 
supérstite, casado sob o regime da comunhão parcial, possa concorrer à sucessão com 
os descendentes. Observe-se que um único bem particular autor da herança pode ter 
valor superior à totalidade dos aquestos.
Nos demais regimes de bens (de participação final nos aquestos ou dotal, este 
último no caso de casamento celebrado sob a vigência do antigo Código Civil), o 
cônjuge, possuindo direito sucessório (art. 1.830), é sempre herdeiro em concorrência 
com os descendentes.
Evidentemente, e não havendo no art. 1.829 nenhuma restrição, o quinhão 
de herança do cônjuge sobrevivente, da mesma maneira que o dos demais herdeiros 
necessários, recai sobre a totalidade da herança, formada pela meação do falecido 
sobre os bens comuns do casal e pelos seus bens particulares, sobre os quais o viúvo 
não possui meação, em decorrência do regime de bens do casamento (de comunhão 
parcial, de separação convencional, de participação final nos aquestos ou dotal, este 
último celebrado na vigência do Código Civil anterior).
A interpretação realizada por parte da doutrina, no sentido de que o quinhão 
do cônjuge supérstite não recai sobre a totalidade do monte, mas apenas sobre os 
bens particulares do falecido, não encontra amparo algum na lei. Todos os herdeiros 
legítimos, constantes do rol do art. 1.829, participam da partilha de todos os bens do 
espólio, à exceção dos legados. É o que prevê o art. 1.788 do Código Civil:
“Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos 
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos 
no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado 
nulo”.
Além disso, o art. 1.832 do Código Civil
8
 estipula, como regra, que concorrendo 
com os descendentes, caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por 
cabeça. Evidentemente, não será possível respeitar tal disposição atribuindo-se 
quinhão aos herdeiros sobre a totalidade dos bens passíveis de sucessão legítima e 
quinhão ao viúvo incidente apenas sobre parte daquele acervo (os bens particulares 
do falecido).
O art. 1.829 não formulou nenhuma exceção à regra geral, de que o quinhão 
recai sobre todos os bens não testados, que possa ser aplicada ao cônjuge sobrevivente. 
Pelo contrário, a referência do inciso I à existência de bens particulares do falecido serve 
apenas para conferir ao viúvo, casado sob o regime da comunhão parcial, a qualidade 
de herdeiro concorrente, jamais para limitar o quinhão do cônjuge, qualquer que seja 
o regime de bens do casamento (exceto, evidentemente, os da comunhão universal e 
da separação obrigatória de bens, em que o cônjuge não é herdeiro concorrente por 
expressa disposição legal), aos bens particulares deixados pelo autor da herança.
Entender o contrário seria permitir, por absurdo, que o companheiro pudesse 
vir a ter um tratamento mais afortunado que o cônjuge no tocante à herança
9
 (quando 
32 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
os bens comuns totalizarem valor muito superior aos bens particulares do falecido), 
já que o quinhão daquele recai exclusivamente sobre os bens comuns (art. 1.790 
do Código Civil). Por esse motivo também, entendemos que o quinhão do cônjuge, 
casado sob regime de bens que lhe permita herdar concorrendo com os descendentes 
do falecido, deve incidir sobre todos os bens do espólio (comuns e particulares). 
Resta esclarecer que não estamos sustentando aqui que o cônjuge merece tratamento 
privilegiado em relação ao companheiro no tocante à sucessão, mas apenas buscando 
a interpretação mais coerente dentre as possíveis na hipótese. Desde a Constituição 
Federal de 1988, passando pelas Leis de nº 8.971/1994 e 9.278/1996, e agora pelo Novo 
Código Civil, a legislação tem buscado garantir, cada vez mais, os direitos daqueles 
que vivem em união estável. Se ainda não chegamos à situação ideal, ou se o Novo 
Código Civil acabou suprimindo direitos sucessórios anteriormente materializados nas 
Leis de nº 8.971/1994 e 9.278/1996, é possível sustentar que a legislação deve evoluir 
no sentido de equiparar a situação do companheiro à do cônjuge em relação aos 
direitos sucessórios. Não é possível, porém, a nosso ver, afirmar que, em determinadas 
situações, o companheiro pode receber tratamento privilegiado em relação ao cônjuge 
no tocante à sucessão, pois tal interpretação é portadora de inconfundível incoerência, 
seja do ponto de vista histórico, seja do ponto de vista sistemático, violando qualquer 
integridade que se pretenda atribuir ao sistema.
Por fim, vale acrescentar que o legislador atribuiu ao cônjuge supérstite não 
somente a condição de herdeiro concorrente com os descendentes (art. 1.829, inciso 
I), mas também a condição de herdeiro necessário (art. 1.845). Dessa forma, não pode 
o intérprete trilhar o caminho de, como regra, privilegiar o interesse dos descendentes 
em relação ao do cônjuge (por exemplo, reduzindo o monte sobre o qual recai a 
herança do viúvo), sem que a lei expressamente o permita, sob pena de estar agindo 
na contramão do que pretendeu o legislador. Se for assim, melhor seria retornarmos 
ao sistema do Código Civil de 1916, em que o cônjuge, além de não ser considerado 
herdeiro necessário, somente herdava na ausência de descendentes e ascendentes, 
jamais concorrendo com eles à sucessão.
Situação bem diferente é a do companheiro que, nos termos do art. 1.790, 
também é herdeiro legítimo (apesar da estranha localização que o legislador deu a 
esse dispositivo), mas seu quinhão incide apenas sobre a meação do falecido nos 
bens adquiridos onerosamente durante a união estável. Note-se, ainda, que como 
o companheiro não é herdeiro necessário (conforme o art. 1.845 do Código Civil), 
nada impede que o testador o exclua da sucessão legítima, dispondo da metade de 
seu patrimônio, se houver herdeiros necessários, ou da totalidade, não os havendo. 
Observe-se que, havendo herdeiros necessários, eles possuem direito, nos termos do 
art. 1.846 do Código Civil, à metade dos bens da herança (legítima). Se o testador 
dispôs da outra metade sem contemplar o companheiro, nada lhe caberá nos termos 
do art. 1.790, pois o companheiro não poderá ter quinhão incidindo sobre a legítima 
dos herdeiros necessários, sob pena de redução da legítima e violação ao art. 1.846.
Essa é a solução apresentada pela conjugação dos arts. 1.790, 1.845 e 1.846 do 
Código Civil. Não foi boa, todavia, a opção legislativa.Seria melhor se o legislador, 
suprimindo o art. 1.790, incluísse o companheiro no art. 1.829, tratando cônjuge e 
companheiro da mesma maneira no tocante à sucessão legítima.
33Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Não é recomendável, todavia, a inclusão do companheiro no rol dos herdeiros 
necessários constante do art. 1.845, mas sim a retirada dessa qualidade do cônjuge, 
pelas razões que ainda teremos oportunidade de expor
10
. O tema da sucessão legítima 
do companheiro, todavia, é matéria para outro trabalho.
Sobre o tema deste item, resta analisar o art. 1.832 do Código Civil, que dispõe:
“Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, I) 
caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, 
não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for 
ascendente dos herdeiros com que concorrer”.
A regra, portanto, é de que cabe ao cônjuge sobrevivente a mesma fração da 
herança atribuída aos demais herdeiros que sucedem por direito próprio (por cabeça). 
Assim, concorrendo com filhos do falecido (sejam também filhos seus ou não), caberá 
ao cônjuge ¼ da herança, havendo três filhos, 1/3 da herança, havendo dois filhos, e 
metade da herança, havendo apenas um filho.
Por exceção, a parte final do dispositivo atribuiu ao cônjuge supérstite uma 
quota mínima de ¼ da herança, desde que ele seja ascendente de todos os herdeiros 
com que concorrer, ou seja, desde que não existam descendentes exclusivos do 
falecido concorrendo à sucessão. Nesse caso, havendo quatro filhos do casal, caberá 
¼ da herança ao cônjuge, e 3/16 a cada um dos filhos; havendo cinco filhos do 
casal, caberá ¼ da herança ao cônjuge, e 3/20 a cada um dos filhos; havendo seis 
filhos do casal, caberá ¼ da herança ao cônjuge, e 3/24 a cada um dos filhos; e assim 
sucessivamente.
Havendo, todavia, pelo menos um descendente exclusivo do falecido, 
não se podendo aplicar a exceção, aplica-se a regra geral da primeira parte do 
artigo. Não comungamos, portanto, da opinião de que o legislador esqueceu-se 
de prever a hipótese de existência de descendentes comuns e exclusivos do autor 
da herança concorrendo com o cônjuge supérstite à sucessão. Na verdade, o art. 
1.832 é bastante claro ao atribuir, por exceção, uma quota mínima da herança 
ao viúvo somente na hipótese de concorrência à sucessão exclusivamente com 
descendentes comuns, não se podendo falar em quota mínima do cônjuge quando 
houver pelo menos um descendente exclusivo do falecido, restando ao cônjuge, 
nessa hipótese, a aplicação da regra geral, atribuindo-lhe quota igual a dos 
herdeiros que sucederem por cabeça.
É princípio básico do direito sucessório que os herdeiros que ocupam a mesma 
categoria devem receber o mesmo quinhão na herança. O Novo Código Civil, a 
respeito do tema, estipula:
“Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direi-
tos à sucessão de seus ascendentes”.
Esse dispositivo afasta, por absoluta incoerência com o sistema, qualquer 
interpretação que, garantindo uma fração mínima da herança ao cônjuge sobrevivente, 
34 Revista da Escola da Magistratura - nº 13
permita que os descendentes comuns e os descendentes exclusivos do falecido, 
ocupantes da mesma classe (filhos, por exemplo), recebam quinhões desiguais.
Considerando, todavia, a possibilidade do testador destinar parte do patrimônio 
a título de sucessão testamentária, deve-se interpretar a palavra “herança”, constante 
do art. 1.832, como sendo a parte da herança sujeita à sucessão legítima. Dessa maneira, 
a quota mínima do cônjuge, caso concorra exclusivamente com seus descendentes, 
não é a quarta parte da herança, mas sim a quarta parte do montante passível de 
sucessão legítima. Se aplicássemos aqui uma interpretação literal, tendo o falecido 
testado metade da herança, e cabendo ao cônjuge sobrevivente ¼ da mesma (25% do 
total da herança), restariam aos filhos comuns apenas ¼ do total, para ser entre eles 
dividido.
Em nossa opinião, não foi boa ideia estabelecer, ainda que por exceção, uma 
quota mínima em favor do viúvo. É que o número de descendentes comuns do casal é 
variável, de forma que é impossível ao legislador estabelecer uma quota fixa que reflita 
uma situação justa em qualquer hipótese. Seria melhor suprimir do art. 1.832 a parte 
final, ou seja, a exceção da quota mínima, mantendo exclusivamente a regra contida 
na primeira parte.
4. O CÔNJUGE SOBREVIVENTE CONCORRENDO COM OS ASCENDEN-
TES DO FALECIDO
Inexistindo descendentes do autor da herança, o cônjuge sobrevivente 
possuidor de direito sucessório (nos termos do art. 1.830) concorre na sucessão com 
os ascendentes (arts. 1.829, inciso II, e 1.836, ambos do Novo Código Civil). Note-se 
que, ao contrário da hipótese anterior (concorrência com os descendentes), o cônjuge 
supérstite agora herda qualquer que seja o regime de bens do casamento.
Nos termos do art. 1.837 do Código Civil, se concorrer com ascendente em 
primeiro grau (pais do falecido), caberá ao cônjuge sobrevivente um terço da herança. 
Porém, se houver um só ascendente, ou se for maior aquele grau (avós do falecido), 
caberá ao cônjuge metade da herança. Na última hipótese, a outra metade da herança 
ainda deverá ser dividida entre os ascendentes da linha paterna e da linha materna do 
falecido (art. 1.836, § 2º, do Novo Código Civil), à razão de 25% do espólio para cada 
linha (já que os outros 50% cabem ao cônjuge sobrevivente). Observe-se que a divisão 
aqui não é por cabeça entre os ascendentes de segundo grau ou superior, mas por linha. 
Apenas dentro de cada linha é que a divisão é por cabeça (por exemplo, entre o avô 
e a avó maternos).
Não existe direito de representação na classe dos ascendentes, de forma que o 
grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas (art. 1.836, § 1º, do 
Novo Código Civil).
Não havendo descendentes nem ascendentes do falecido no momento da 
abertura da sucessão, ao cônjuge sobrevivente, desde que possua direito sucessório 
(art. 1.830 do Novo Código Civil), caberá a totalidade da herança (arts. 1.829, inciso 
III, e 1.838, ambos do mesmo diploma legal).
35Revista da Escola da Magistratura - nº 13
Se o cônjuge sobrevivente não tiver direito sucessório, a totalidade da herança 
caberá aos colaterais até o quarto grau (art. 1.839 do Código Civil).
5. O CÔNJUGE COMO HERDEIRO NECESSÁRIO
Estipula o Novo Código Civil:
“Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascenden-
tes e o cônjuge”.
É importante ressaltar que, apesar do teor do dispositivo, o cônjuge sobrevivente 
nem sempre é herdeiro necessário. Somente possuirá esse status o cônjuge que tiver 
direito sucessório
11
 (art. 1.830) e, se concorrer com os descendentes do falecido (art. 
1.829, inciso I), o regime de bens do casamento também o permitir
12
. Concorrendo, ao 
contrário, com ascendentes do falecido, e tendo direito sucessório, nos termos do art. 
1.830, independentemente do regime de bens do casamento, o cônjuge será herdeiro 
necessário.
Portanto, não nos parece correto incluir o cônjuge no rol dos herdeiros 
necessários, já que, para ser herdeiro, deverá ele preencher os requisitos dos arts. 
1.829, inciso I, e 1.830 do Código Civil, requisitos esses que não se aplicam aos demais 
herdeiros necessários. Assim, os descendentes e ascendentes sempre terão assegurada 
a sua participação na sucessão legítima, enquanto que a concorrência do cônjuge fica 
condicionada a certos fatores. Assim, seria mais lógico e coerente excluir o cônjuge do 
art. 1.845, já que nem sempre ele poderá participar da sucessão legítima.
6. O DIREITO REAL DE HABITAÇÃO
A respeito do tema, o Novo Código Civil estipula que:
“Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de 
bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na 
herança, o direito real de habitação relativamente

Continue navegando