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Agência FAPESP _ Estudo avalia efeitos distintos do manejo florestal sustentável

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14/07/2016 Agência FAPESP | Estudo avalia efeitos distintos do manejo florestal sustentável
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Estudo avalia efeitos distintos do manejo
florestal sustentável
13 de julho de 2016
Peter Moon  |  Agência FAPESP – O Manejo Florestal Sustentável é um
dos pontos basilares da Lei de Gestão de Florestas Públicas, aprovada pelo
Congresso Nacional em 2006 como resposta ao desmatamento crescente
que ocorria à época no Cerrado e, principalmente, na Amazônia.
A nova legislação contribuiu decisivamente para a redução do
desmatamento na Amazônia Legal, que caiu dos 27.700 km2 de floresta
derrubada em 2004 para a mínima histórica de 5.000 km2 em 2014, de
acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – embora,
em 2015, o desmatamento tenha voltado a subir, atingindo 5.800 km2.
O Ministério do Meio Ambiente define o Manejo Florestal Sustentável como
“a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos,
sociais e ambientais, respeitando­se os mecanismos de sustentação do
ecossistema objeto do manejo”.
A estratégia prevê a retirada seletiva de espécies de valor comercial em
quantidade limitada, preservando as árvores jovens, por exemplo. Também
é obrigatória a retirada prévia das lianas, os cipós e a vegetação aérea que
crescem entre as árvores, evitando assim que a derrubada de um indivíduo arraste outras árvores consigo.
Estas e outras medidas buscam reduzir ao máximo o impacto da atividade madeireira nas florestas nacionais. Assim mesmo, o impacto
existe. Como fazer para quantificá­lo e qualificá­lo? Esta foi a tarefa de um grupo de ecologistas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os primeiros resultados foram publicados no Forest Ecology and
Management. O estudo tem apoio da FAPESP.
“Queríamos entender como o manejo sustentável agia sobre espécies arbóreas de uso comercial e também aquelas não madeireiras”,
disse Flavio Antonio Maës dos Santos, do Departamento de Biologia Vegetal da Unicamp. O estudo foi levado a cabo por sua então
doutoranda, Maria Rosa Darrigo.
Para entender a ação do manejo florestal no médio e no longo prazo, os pesquisadores selecionaram glebas de floresta em Itacoatiara,
no Amazonas, a 250 km de Manaus. A área, uma reserva florestal com 506 mil hectares, é explorada por empresa desde 1995 de acordo
com diretrizes da Forest Stewardship Council (FSC), organização não governamental que estabelece padrões internacionais de manejo
florestal sustentável.
As glebas florestais estudadas foram exploradas em 1996, 2002 e 2005. Os dados dos efeitos do manejo sobre as espécies vegetais e o
solo foram coletados entre 2007 e 2009, fornecendo um painel de regeneração florestal efetiva de dois, cinco e 11 anos desde o manejo.
Todos os dados foram comparados aos de uma área de controle não explorada.
Foram estudadas sete espécies arbóreas. Elas são comuns em todas as áreas estudadas: acariquara (Minquartia guianensis), cupiúba
(Goupia glabra), maparajuba (Manilkara bidentata), maçaranduba (Manilkara huberi), Pouteria anomala, Protium hebetatum e angelim­
rajado (Zygia racemosa). Essas espécies representam um amplo conjunto de características, incluindo tamanho, densidade da madeira e
estratégias reprodutivas.
“A partir de todos esses dados conseguimos comparar o que estava acontecendo com os indivíduos daquelas sete espécies nas áreas
investigadas”, disse Santos. Um exemplo é a abertura de clareiras na mata. Mesmo depois de 11 anos, não se observou uma
recuperação total da cobertura vegetal nas áreas onde a derrubada manejada de árvores abriu clareiras.
Daí decorre uma segunda evidência: a quantidade de luz que incide sobre a vegetação na clareira. As plantas pequenas mostraram uma
taxa de crescimento maior do que as demais, pois o acesso à luz é um fator determinante de crescimento.
Por outro lado, se a taxa de crescimento das plantas pequenas aumentou, sua mortalidade seguiu o mesmo rumo. E de forma acelerada.
“A taxa de mortalidade das plantas pequenas subiu de duas a três vezes, quando comparada às mesmas plantas na área de controle”,
disse Santos. A resposta a essa disparidade pode estar nas alterações sofridas no ambiente após o manejo, com a mudança na
frequência de indivíduos de determinadas espécies em relação às outras.
Uma outra causa de mortalidade observada foi a queda de árvores. Segundo Santos, “nas áreas manejadas quem cresce mais são as
espécies com densidade de madeira menor, portanto mais sujeitas à queda. Em princípio, o que pareceria benéfico às plantas menores,
14/07/2016 Agência FAPESP | Estudo avalia efeitos distintos do manejo florestal sustentável
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o aumento do acesso à luz, na verdade não ocorre”.
Composição do solo
Outra constatação dos pesquisadores foi a alteração na composição do solo nas áreas manejadas em comparação com a área de
controle. Nos primeiros dois anos após o manejo, a fertilidade do solo se manteve comparável à da área de controle. Depois desse
período, a fertilidade caiu cerca de 30%. Boa parte da manutenção da fertilidade nas áreas de manejo se deve à decomposição das
árvores derrubadas para a abertura de trilhas por onde são transportadas as toras comercializáveis, por exemplo. Após dois anos do
manejo, quando a decomposição dessa mata derrubada se completa, a fertilidade das áreas manejadas declina.
Uma das conclusões do trabalho é que os efeitos do manejo florestal sustentável não são iguais para todas as espécies. Algumas são
mais afetadas do que as outras. Algumas crescem mais do que as outras. Essa constatação por si só é extremamente importante para
entendermos as limitações da eficácia das diretrizes e dos certificados internacionais de manejo florestal.
“Se essas estratégias fossem de fato sustentáveis, seria de se esperar a manutenção das populações de todas as espécies ao longo do
tempo. Mas não é isso o que acontece”, disse Santos. “O que constatamos foi que, tanto na área manejada há 11 anos, quanto na área
manejada há cinco anos, ocorreu uma redução das populações no tempo.”
Uma possível resposta é a retirada das árvores adultas, que são justamente as fontes de sementes para a germinação de novas
gerações de árvores. “Manejo sustentável é, sem dúvida, muito melhor do que a terra arrasada pelo desmatamento generalizado”,
afirmou Santos. “Só que dizer que isso é sustentável, não dá para afirmar.”
Maria Rosa Darrigo é mais específica. “A exploração manejada, no caso deste estudo, realmente causou mudanças na trajetória de
recomposição da floresta, que não são consideradas nos planos de manejo florestal sustentável. O que temos, de fato, é uma exploração
de baixo impacto. Da forma que estamos fazendo, ainda não podemos chamá­la de sustentável, mas isso não quer dizer que não houve
avanços na forma de se explorar as espécies madeireiras, uma vez que o impacto é comparativamente menor do que o causado pelos
métodos tradicionais. O que precisamos entender e aceitar é que a floresta tem o seu próprio tempo de desenvolvimento, e o mercado
precisa se adaptar a esse tempo natural.”
O artigo Effects of reduced impact logging on the forest regeneration in the central Amazonia (doi: 10.1016/j.foreco.2015.10.012),
publicado por Santos, Darrigo e Eduardo Martins Venticinque em Forest Ecology and Management, pode ser lido em
www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378112715005678.

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