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1_C_I_hotspots.pdf H O T S P O T S As Regiões Biologicamente mais Ricas e Ameaçadas do Planeta Conservar a biodiversidade do planeta e demons- trar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza é a missão da Conservation International. Para enfrentar esse grande desafio, a Conservation International adotou a estratégia dos Hotspots e amplia esse conceito que destaca as 25 regiões mais ricas e ameaçadas do mundo. Ao lançar uma campanha mundial para proteger esses Hotspots, estamos contribuindo para salvar mais de 60% de toda a diversidade da vida da Terra. PRESERVANDO AS RIQUEZAS MAIS AMEAÇADAS DA TERRA 03 Destruição da camada de ozônio, chuva ácida, erosão, poluição do ar, do solo e da água… Estes problemas, combinados com a pressão do crescimento popula- cional nos países em desenvolvimento e o consumo desenfreado nos países desenvolvidos, apresentam um cenário sombrio que ameaça atualmente a vida no planeta. No entanto, por mais sérios que sejam, não se comparam ao efeito amplo e devastador que a des- truição em grande escala da biodiversidade tem sobre o meio ambiente. A destruição da biodiversidade – ou seja, a perda das espécies existentes na Terra – não só causa o colapso dos ecossistemas e seus processos ecológicos, como é irreversível. Nem a mais alta tecnologia, nem as descobertas biotecnológicas, nem as imagens com- putadorizadas ou a realidade virtual podem compen- sar o prejuízo inigualável da extinção das espécies; certamente nada pode recuperar o que foi formado de forma tão singular, ao longo de bilhões de anos, na história evolutiva de nosso planeta. A importância da conservação da biodiversidade alcançou destaque mundial durante a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Desde então, foram consolidados fundos mundiais voltados especificamente para a conservação e cresceram os investimentos de agên- cias multi-laterais e bilaterais de fomento, assim como os de fundações privadas ligadas ao meio ambi- ente. Vale notar que o interesse e a consciência sobre a importância da biodiversidade também têm aumen- tado significativamente entre o setor privado, com um número crescente de empresas que apóiam projetos de conservação em todo o mundo. Apesar desses avanços, ainda há muito a ser feito, já que grande parte dos recursos humanos e financeiros destinados à área não são utilizados de maneira efi- caz. Dessa forma, os grandes desafios são estabelecer prioridades claras para ações de conservação e saber como investir os escassos recursos humanos e finan- ceiros de maneira eficiente. Em resposta a essas necessidades, a Conservation International segue uma estratégia que concentra seus esforços e investimentos em áreas prioritáriase e tem como diretriz o conceito dos Hotspots. H O T S P O T S 04 Diversidade e Endemismos do Cerrado Espécies Endêmicas 4.400 19 29 24 45 Total de Espécies 10.000 161 837 120 150 Plantas Mamíferos Aves Répteis Anfíbios A grande surpresa da nova lista de Hotspots foi a inclusão do Cerrado. É a segunda maior ecoregião do Brasil, cobrindo 20% do território. Com uma flora considerada entre as mais ricas das savanas tropicais, o Cerrado possui alto grau de endemismo. De suas 10.000 espécies de plantas, 44% são endêmicas, incluindo quase todas as gramíneas. A diversidade de espécies de vertebrados também é consideravelmente alta, estando em quarto lugar no mundo em va- riedade de aves. Preservado durante a colonização do país, o Cerrado passou a sofrer maior ameaça a partir da década de 50 com a construção de Brasília. Nas décadas de 70 e 80, inúmeros financiamentos foram destinados para transformar a região num centro de agricultura. O grande crescimento destas atividades econômicas já fizeram com que 67% das áreas de Cerrado sejam consideradas como "altamente modificadas". Apenas 20% encontram-se em seu estado original. Apesar de sua extensão e de sua importância para a conservação da biodiversidade, infelizmente o Cerrado é fracamente representado em áreas protegi- das. Apenas 3% de sua extensão original estão pro- tegidos em parques e reservas federais e estaduais. Para agravar a situação, a maioria das áreas protegi- das do Cerrado tem tamanho reduzido, inferior a 100.000 hectares, o que coloca em evidência o grau de fragmentação do ecossistema. C E R R A D O Muitas espécies- bandeira do Cerra- do, como o lobo guará, o tatu canastra e a ema, só são vistas regularmente dentro de parques e reservas. Outro símbolo da região, o tamanduá-bandeira pode medir até 1,90 m do nariz até a ponta do grande rabo, o qual tem forma de bandeira. Esse animal singular é encontrado em áreas protegidas do Cerrado e também no Pantanal. O Parque Nacional das Emas é uma das áreas mais importantes para a proteção da biodiversidade do Cerrado. A Conservation International, juntamente com a Fundação Emas, vem desenvolvendo um programa para proteger esse parque e implementar um grande corredor ecológico que se estende até o Pantanal. ESPÉCIES-BANDEIRA 12 A Mata Atlântica está entre os cinco primeiros colo- cados na lista dos Hotspots. O total de mamíferos, aves, répteis e anfíbios que ali ocorrem alcança 1361 espécies, sendo que 567 são endêmicas, representan- do 2% de todas as espécies do planeta, somente para esses grupos de vertebrados. A Mata Atlântica, que possui 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000 são endêmicas - é o segundo maior bloco de floresta tropical do país. Inclui diversos tipos de ecossis- temas tropicais como as faixas litorâneas do Atlântico, as florestas de baixada e de encosta da Serra do Mar, as florestas interioranas e as matas de Araucária. Originalmente, a Mata Atlântica ocupava 1.290.000 km2 do território brasileiro. Os impactos de dife- rentes ciclos de exploração e a concentração das maiores cidades e núcleos industriais fizeram com que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente. A devastação foi maior nas áreas planas da região costeira e na estreita faixa litorânea do Nordeste, onde resta menos de 1% da floresta original. Diante desse quadro de destruição, a Conservation International do Brasil e a Fundação SOS Mata Atlântica decidiram unir esforços para atender as necessidades de conservação desse Hotspot. Em 1999, foi estabelecida uma nova estratégia entre essas duas organizações, a "Aliança para a Conservação da Mata Atlântica". Com a proposta do "Desmatamento Zero" (Rede de ONGs da Mata Atlântica) e da "Perda de Espécies Zero", essa ini- ciativa busca amplificar a eficiência das duas orga- nizações e servir como um modelo para os Hotspots ao redor do mundo. M A T A A T L Â N T I C A A Mata Atlântica tem várias "espé- cies-bandeira", que simbolizam a região e são uti- lizadas em campanhas de conscientização para a pro- teção desse ecossistema. Dentre elas, algumas espé- cies de primatas endêmicos, como os mico-leões (gênero Leontopithecus) e as duas espécies de muriquis (gênero Brachyteles), têm ajudado a popu- larizar essa floresta no Brasil e no mundo. O muriqui, por exemplo, é o maior macaco das Américas e tam- bém o maior mamífero endêmico do Brasil. No passa- do, essa espécie foi a principal fonte de proteína dos exploradores da região costeira. Hoje, o muriqui está restrito a alguns blocos remanescentes de florestas na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo e suas populações estão reduzidas a cerca de 2.000 indivíduos. Para proteger essas e tantas outras espécies, a Conservation International do Brasil desenvolve pro- jetos de conservação em vários pontos do país. Um dos exemplos é o projeto realizado, juntamente com o Instituto de Estudos Sócio-Econômicos do Sul da Bahia (IESB), na região da Reserva Biológica de Una (Bahia), o último refúgio do mico-leão-de-cara-doura- da. Outra iniciativa importante busca proteger uma das últimas populações do "muriqui do norte" na Estação Biológica de Caratinga, Minas Gerais, em parceria com a Fundação Biodiversitas ESPÉCIES-BANDEIRAS 11 Diversidade e Endemismos da Mata Atlântica Espécies Endêmicas 8.000 73 181 60 253 Total de Espécies 20.000 261 620 200 280 Plantas Mamíferos Aves Répteis Anfíbios O conceito dos Hotspots, criado em 1988 pelo Dr. Norman Myers, estabeleceu 10 áreas críticas para conservação em todo o mundo. Essa estratégia foi adotada pela Conservation International para esta- belecer prioridades em seus programas de conser- vação, assim como pela John D. & Catherine T. MacArthur Foundation. Em 1996, um novo estudo liderado pelo Dr. Russell A. Mittermeier, presidente da Conservation International, aperfeiçoou a teoria inicial de Myers, identificando 17 Hotspots. Estudos recentes, conduzidos com a contribuição de mais de 100 especialistas, ampliaram e atualizaram essa abordagem. Após quatro anos de análises, o grupo de cientistas estabeleceu os 25 Hotspots atuais. A escolha desses pontos críticos leva em consideração que a biodiversidade não está igualmente distribuída ao redor do planeta, sendo que cerca de 60% de todas as espécies de plantas e animais estão concentradas em apenas 1,4% da superfície terrestre. Essa abor- dagem prioriza as ações nas áreas mais ricas - como os Andes Tropicais, Madagascar, Indonésia, entre outros - protegendo espécies em extinção e mantendo o amplo espectro de vida no planeta. O critério mais importante na determinação dos Hotspots é a existência de espécies endêmicas, isto é, que são restritas a um ecossistema específico e, portanto, sofrem maior risco de extinção. É o caso do mico-leão-dourado, encontrado apenas no estado do Rio de Janeiro e em mais nenhum outro lugar do mundo. Outro critério importante é o grau de ameaça ao ecossistema, sendo consideradas como Hotspots, as bioregiões onde 75% ou mais da vegetação original tenha sido destruída. Muitas áreas mantém apenas 3 a 8% do que existia inicialmente, como a Mata Atlântica, que hoje guarda entre 7 a 8% de sua extensão original. Enquanto o conceito de Hotspots concentra-se em ecos- sistemas fragmentados e devastados, dois outros con- ceitos, desenvolvidos pelo Dr. Russell A. Mittermeier, vêm complementar as diretrizes para a priorização de áreas para conservação. O segundo conceito é o de Wilderness Areas, que identifica os grandes blocos de florestas tropicais, praticamente intactos (ou seja, que possuem mais de 75% de sua vegetação original) e com baixa densidade populacional (menos de 1 habitante por km2). Nessas regiões, como é o caso de grande parte da Floresta Amazônica, encontram-se algumas popu- lações indígenas que têm conseguido manter sua iden- tidade cultural. O terceiro conceito leva em consideração as fronteiras políticas e a riqueza biológica encontrada dentro de cada nação. Os 17 países de Megadiver- sidade são aqueles com os mais altos índices de riqueza natural do mundo. Em todas as três abordagens, o Brasil tem posição de destaque. É o país campeão de Megadiversidade, tendo maior número de espécies do que qualquer outra nação. Possui também o maior bloco de área verde do planeta, a Floresta Amazônica. Além disso, em território brasileiro podem ser encontrados dois Hotspots importantes, a Mata Atlântica e o Cerrado. Para a definição de estratégias nacionais para os Hotspots brasileiros, a Conservation International do Brasil colaborou com o Projeto de Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade dos Biomas Brasileiros, do Ministério do Meio Ambiente. Centenas de especialistas e representantes de várias instituições trabalharam em conjunto para a indicação das áreas mais críticas e importantes para conservação do Cerrado em 1998, e da Mata Atlântica em 1999. H O T S P O T S E W I L D E R N E S S A R E A S 07 Andes Tropicais Chile Central Choco-Darien / Equador Ocidental Mata Atlântica Cerrado Florestas da Guiné / Africa Ocidental Re P Caribe Mesoamérica Província Florística da Califórnia Ilhas da Polinésia e Micronésia Mediterrâneo A S R E G I Õ E S M A I S R I C A S E HOTSPOTS Diversidade de Plantas Vasculares Endemismo de Plantas Vasculares 1 • Andes Tropicais 2 • Sundaland (Indonésia) 3 • Mediterrâneo 4 • Madagascar e Ilhas do Oceano Índico 5 • Mata Atlântica 6 • Região da Indo-Birmânia 7 • Caribe 8 • Filipinas 9 • Privíncia Florística do Cabo 10 • Mesoamérica 11 • Cerrado 12 • Sudoeste da Austrália 13 • Montanhas do centro-sul da China 14 • Ilhas da Polinésia e Micronésia 15 • Nova Caledônia 16 • Choco-Darien / Equador Ocidental 17 • Florestas da Guiné / Africa Ocidental 18 • Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka 19 • Província Florística da Califórnia 20 • Região do Karoo das Plantas Suculentas 21 • Nova Zelândia 22 • Chile Central 23 • Cáucaso 24 • Wallacea (Indonésia) 25 • Montanhas do Arco Oriental Total de Endemismo Porcentagem da Diversidade Global (300.000 plantas vasculares) 45.000 26.000 25.000 12.000 20.000 13.500 12.000 7.620 8.200 24.000 10.000 5.469 12.000 6.557 3.332 9.000 9.000 4.780 4.426 4849 2.300 3.429 6.300 10.000 4.000 20.000 15.000 13.000 9.704 8.000 7.000 7.000 5.832 5.682 5.000 4.400 4.331 3.500 3.334 2.551 2.250 2.250 2.180 2.125 1.940 1.865 1.605 1.600 1.500 1.500 133,499 44.5 Província Florística do Cabo Montanhas do Arco Oriental, Florestas da Tanzânia e Quênia egião do Karoo das lantas Suculentas Montanhas do centro-sul da China Filipinas Wallacea (Indonésia) Madagascar e Ilhas do Oceano Índico Cáucaso Sundaland (Indonésia) Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka Sudoeste da Austrália Região da Indo-Birmânia Nova Caledônia Nova Zelândia A M E A Ç A D A S D O P L A N E T A 09 A Conservation International tem se dedicado a fortalecer e expandir o envolvimento do setor pri- vado com a proteção do meio ambiente, acreditan- do que os elementos que garantem o sucesso de empresas - pessoas comprometidas, tecnologias inovadoras, produtos de qualidade e estratégias de marketing - também podem ser poderosos aliados na conservação da biodiversidade. No Brasil, os Hotéis Transamérica e o Grupo Agropalma, patrocinadores da publicação do livro sobre os Hotspots, são exemplos de empresas que têm investido na proteção do meio ambiente e colhido resultados ambientais e econômicos. PA R C E R I A S C O R P O R AT I VA S UM INSTRUMENTO CHAVE PARA A CONSERVAÇÃO DOS HOTSPOTS 14 2_C_I_HotspotsRevisitados.pdf Esta publicação foi produzida pela Conservação Internacional. As informações são baseadas no livro “Hotspots Revisited. Earth’s Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecorregions”, de autoria de Russell A. Mittermeier, Patricia R. Gil, Michael Hoffmann, John Pilgrim, Thomas Brooks, Cristina G. Mittermeier, John Lamourex e Gustavo A. B. da Fonseca, publicado pela CEMEX e editado pela Agrupación Sierra Madre. A missão da Conservação Internacional é conservar a biodiversidade do planeta e demonstrar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza. Para enfrentar esse grande desafio, a Conservação Internacional adota estratégias de conservação para nortear suas ações e priorizar os locais mais importantes para sua atuação. O Hotspots é uma dessas estratégias. Cinco anos depois da primeira publicação sobre essas regiões, a CI apresenta agora um estudo atualizado, onde destaca as 34 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do mundo. ESTABELECENDO PRIORIDADES GLOBAIS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE 3 BIODIVERSIDADE SITIADA A vida na Terra está enfrentando uma crise de enormes proporções. O consumo insustentável em muitos países do hemisfério norte e a miséria aniquilante nos trópicos estão destruindo as reservas naturais. A expansão da agricultura, a indústria e a urbanização estão fragmentando e dizimando as reservas naturais; a introdução acidental ou deliberada de espécies exóticas está devastando as comunidades nativas; a poluição está alterando os ciclos biogeoquímicos e climáticos da terra, do ar e da água; a caça, o comércio e a pesca predatória estão afetando as últimas populações de espécies de grandes vertebrados. Pode-se dizer que a biodiversidade está sitiada. Por ser irreversível, a extinção de espécies é o aspecto mais grave da crise da biodiversidade. Sabe-se que a média de vida de uma espécie é de um milhão de anos. Os impactos humanos, entretanto, têm aumentado em pelo menos mil vezes a taxa de extinção das espécies. Na história do nosso planeta só houve extinções em massa cinco vezes; tendo a última sido provavelmente causada por um impacto com um asteróide há 65 milhões de anos, acarretando o fim da era dos dinossauros. Mas o que se perde com a extinção de espécies? A conseqüência mais óbvia é impedir as opções de uso de recursos futuros. Isso porque os cientistas já identificaram apenas uma pequena fração (entre 1% e 10%) das espécies com as quais dividimos nosso planeta. Desse modo, com a extinção de espécies destruímos uma imensa reserva genética que algum dia poderia servir para a cura de doenças como a AIDS. Pesquisas recentes no tratamento da malária, por exemplo, usam compostos baseados em uma planta, a Artemísia. A crise da biodiversidade poderia ser comparada com a queima total de todas as bibliotecas do mundo sem o conhecimento de 90% dos títulos dos livros ou do conteúdo da maioria das páginas das obras conhecidas. O caminho da extinção também é perigoso para o ser humano. A destruição de florestas de montanhas provoca freqüentes deslizamentos maciços com perdas de vidas incontáveis, como o ocorrido em 1998 em Honduras com a passagem do Furacão Mitch, que matou 10.000 pessoas. A Síndrome Respiratória Aguda (SARS) da Ásia Oriental está ligada diretamente ao comércio de animais selvagens para consumo humano. Há outras conseqüências da perda da biodiversidade mais sutis e cumulativas, mas igualmente significativas, tais como a deterioração progressiva da base natural para o crescimento da economia sustentada. Prioridades de Conservação Para deter a crise da extinção de maneira eficiente, devemos priorizar os locais onde temos que agir. De modo geral, a conservação é e sempre será uma ação na escala local. As pessoas se preocupam mais com o que está acontecendo em seu próprio quintal. Todas as comunidades, grandes ou pequenas, deveriam fazer tudo o que fosse possível para conservar a riqueza biológica da qual dependem. Alguns esforços locais têm conseqüências em todo o planeta e por isso justificam a prioridade de alocação dos recursos financeiros. Daí a necessidade de se estabelecer prioridades para a conservação da biodiversidade. E para isso deve ser considerado, para além da riqueza de espécies, o endemismo de uma determinada área. Como nosso objetivo final é manter a natureza intacta, precisamos de uma estratégia de preservação que contemple dois aspectos: priorização de áreas endemicamente ricas e garantia da proteção dos lugares mais ameaçados. 4 OS HOTSPOTS E AS GRANDES REGIÕES NATURAIS Um artigo de Norman Myers, de 1988, traz, pela primeira vez, o conceito de Hotspots. Myers identificou dez Hotspots em florestas tropicais caracterizados tanto por níveis excepcionais de endemismo de plantas como por taxas notáveis de destruição de habitats, apesar de não ter estabelecido critérios quantitativos com relação à definição de um Hotspot. A Conservação Internacional adotou o conceito em 1989, fazendo modificações e acréscimos ao longo dos anos seguintes. Em 1996, empreendeu uma reavaliação do conceito, em colaboração com Myers. Um primeiro relatório foi seguido de uma extensa revisão global, uma análise científica e uma publicação online detalhada (www.biodiversityhotspots.org). Esses esforços introduziram patamares quantitativos para a designação das áreas de preservação ambiental. Para qualificar- se como Hotspot, uma região deve preencher pelo menos dois critérios: abrigar no mínimo 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas e ter 30% ou menos da sua vegetação original (extensão da cobertura do habitat histórico) mantida. Essa análise identificou, em 1999, 25 Hotspots que abrigavam em conjunto, como endêmicas, não menos do que 44% das plantas do planeta e 35% dos vertebrados terrestres (mamíferos, aves, répteis e anfíbios) em uma área que cobria anteriormente apenas 11,8% da superfície terrestre. Contudo, o suporte que serviu para que esses incríveis resultados fossem apresentados foi que essa área tinha sido reduzida em 87,8% de sua extensão original, de tal maneira que essa incrível riqueza de biodiversidade foi reduzida a apenas 1,4% da superfície terrestre. Paralelamente ao desenvolvimento da estratégia dos Hotspots, houve o reconhecimento das vantagens em se investir nas áreas menos ameaçadas – e mais baratas – mas também de grande biodiversidade. Mittermeier chamou a atenção para várias áreas de florestas tropicais com alta biodiversidade que ainda estão em condições relativamente intactas – as Grandes Regiões Naturais. Apesar de estarem bem menos ameaçadas do que os Hotspots, essas áreas estão sob crescente ameaça pela ação do homem. Recentemente, as Grandes Regiões Naturais foram definidas quantitativamente como detentoras de, pelo menos, 70% do seu habitat original e possuidoras de densidades populacionais de menos de cinco pessoas por quilômetro quadrado. Três biomas brasileiros são considerados Grandes Regiões Naturais: Amazônia, Pantanal e Caatinga. Baseada nessa análise, a Conservação Internacional usa uma estratégia de dupla face para a priorização da conservação global, focalizando simultaneamente as áreas ameaçadas e insubstituíveis e as Grandes Regiões Naturais. 6 UMA ANÁLISE ATUALIZADA DOS HOTSPOTS A análise dos Hotspots está em evolução constante. Com o passar do tempo, os Hotspots podem sofrer mudanças de duas maneiras. A primeira ocorre em função de um efeito real. As ameaças e os impactos que elas acarretam variam. Isso significa que alguns lugares podem tornar-se mais ameaçados, enquanto que outros, se os esforços para a conservação tiverem sucesso, podem eventualmente recuperar-se. A segunda se refere ao fato de que nosso conhecimento sobre biodiversidade, ameaças e custos está aumentando continuamente. A cada dia, descobrem-se novas espécies e populações e coletam-se com maior precisão dados sobre a cobertura terrestre. Nos últimos anos, em sintonia com a revolução da informação e o surgimento da Internet, esses dados puderam ser melhor compilados. Atualmente, anos depois da publicação da avaliação da estratégia de Hotspot, está na hora de reavaliar os próprios Hotspots sob a luz de novos dados relacionados com as distribuições das espécies e as condições de mudanças dos ecossistemas do planeta. O objetivo dessa análise é revisitar o status dos Hotspots, apurar seus limites, atualizar as informações e, o mais importante, considerar um número de Hotspots em potencial que podem ser candidatos para serem acrescentados à lista dos 25 já identificados. Os critérios sobre aquilo que qualifica um Hotspot permanecem os mesmos. Ao revisitar os limites dos Hotspots, tentamos alcançar um equilíbrio entre o que é cientificamente defensável e o que é pragmaticamente aceitável. Os Hotspots estão fundamentados no endemismo de plantas e assim, tanto quanto for possível, a decisão quanto ao lugar e a possibilidade de incluir uma determinada área ou ilha dentro de um Hotspot é determinada pelas afinidades com relação à flora da região em questão. Entretanto, em alguns casos, achamos conveniente desviar desse ideal para acomodar as ilhas tropicais – muitas das quais possuem proporções muito grandes de espécies ameaçadas - que, de outra forma, poderiam ficar fora da rede de prioridades de conservação. Por essa razão, agrupamos determinadas ilhas com os seus Hotspots mais próximos incluindo, por exemplo, Galápagos e Malpelo com Tumbes-Chocó-Magdalena, Juan Fernández com Chile Central-Florestas Valdívias, os Açores e Ilhas do Cabo Verde (ambas partes das Ilhas Macronésias juntamente com as Canárias e Madeira) com a Bacia Mediterrânea; e as ilhas de Lord Howe e Norfolk com a Nova Zelândia. Isso foi feito somente por razões de conveniência pragmática, com pleno conhecimento de que as afiliações quanto à flora dessas ilhas com suas partes continentais são, na melhor das hipóteses, fracas. 7 8 9 10 11 CERRADO O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil (depois da Amazônia), cobria originalmente 2.031.990 km2, constituindo a mais extensa região de savana da América do Sul. O bioma compreende um mosaico de diferentes tipos de vegetação, determinados principalmente pelas condições do solo. A única formação florestal é o cerradão, uma floresta seca de cobertura fechada que alcança 7m de altura nos solos mais férteis. O Cerrado stricto sensu é uma savana com uma camada herbácea bem desenvolvida, árvores pequenas, arbustos e palmeiras sem tronco. Outras formações são o campo sujo e o campo limpo. Matas de galeria não são formações típicas do Cerrado, mas são comuns na paisagem, abrangendo uma rede interconectada de habitats ao longo de rios de três das maiores bacias hidrográficas brasileiras. São importantes para a manutenção da diversidade da fauna do Cerrado, constituindo refúgio e estrada de dispersão para um número significativo de plantas e animais originários da Floresta Amazônica e Mata Atlântica. O clima é tropical, com chuvas concentradas no período de abril a outubro. A estação da seca é bem definida, provocando, em algumas áreas, falta de água. Muitas das espécies de plantas típicas do Cerrado são próprias de região seca. As queimadas, tanto as naturais quanto as provocadas pelo homem, são uma característica importante da ecologia do Cerrado. A flora mostra um grupo de adaptações ao fogo, inclusive cascas de árvore grossas, folhas resistentes e uma capacidade de regeneração rápida. O fogo tem papel importante na germinação de sementes de várias espécies. Uma das mais ricas de todas as regiões de savana tropical, o Cerrado possui alto grau de endemismo. Sua diversidade de vertebrados é grande, mas o endemismo é baixo quando comparado ao das plantas. A diversidade de gêneros também é grande: 240, sendo 18 endêmicos. O Cerrado é importante para um grupo de grandes mamíferos de ampla distribuição na América do Sul: o lobo guará; tamanduá-bandeira; o tatu- canastra; a anta; o veado-campeiro; e várias outras espécies de felinos, como a onça-pintada, a sussuarana, a jaguatirica e o jaguarundi. Ocupação O Cerrado tem sido ocupado pelo homem por mais de 11 mil anos. Durante a colonização do Brasil no início do século XVI, os portugueses evitavam chegar no interior do país devido a tratados com a Espanha e a predisposições culturais de se estabelecerem perto do mar. As primeiras incursões à procura de ouro e pedras preciosas aconteceram no século XVIII, abrindo caminho para fazendas de criação de gado, principal atividade econômica até meados dos anos 50, quando o governo começou a planejar a construção de uma nova capital em Goiás para estimular a colonização e o desenvolvimento da região. A melhoria do transporte e da infra-estrutura, a indústria automobilística e a pesquisa na área da agricultura e do solo resultaram na transformação do Cerrado na mais importante região de agronegócio (soja, milho e arroz irrigado) do país. Hoje, quase um quarto de todo grão produzido no Brasil vem do Cerrado. Uma estimativa sobre a vegetação natural remanescente indica que o Cerrado sofreu um grande impacto. Cerca de 78,7% de sua área estão sob alguma forma de uso pelo homem, o que significa que apenas 21,3%, ou 432.814 km2, ainda se conservam intactos. Proteção e estratégias de conservação Apesar de sua extensão e relevância para a conservação da biodiversidade, o Cerrado é pouco representado no sistema brasileiro de áreas protegidas. Apenas 5,5% de sua extensão original estão em unidades de conservação. Dentre os parques mais importantes estão Chapada dos Guimarães, a Grande Sertão Veredas, a Serra da Canastra e Emas. O número total de Áreas de Preservação Ambiental é de 102, em 83.520 km2 ou 4,1% do Cerrado. A Conservação Internacional e seus parceiros, municípios e empresas têm um programa importante em andamento para a proteção e gerenciamento do Corredor Emas- Taquari, uma das áreas mais importantes do bioma. 13 MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica figura entre os cinco primeiros biomas no ranking dos Hotspots. É uma série única de ecossistemas de florestas tropicais da América do Sul, que também inclui mangues e restingas. A altitude determina, pelo menos, três tipos de vegetação da Mata Atlântica: as matas da planície costeira, as florestas de encostas e as matas de grandes altitudes. Esse quadro influencia um padrão de alta riqueza de espécies. Além das áreas de florestas úmidas da planície costeira, podem ser encontradas formações mais secas, as matas semi-decíduas de interior e as florestas mistas, dominadas pela araucária nas áreas mais frias da região sul do país. Ocupação A Mata Atlântica já se estendeu quase que continuamente desde o Rio Grande do Norte e Ceará até o Rio Grande do Sul. Estima-se que ocupava aproximadamente 1.200.000 km2. Foi a primeira região do Brasil a ser colonizada e tem a maior população (108 milhões de habitantes ou 60% da população do país). É o centro agro-industrial do Brasil e duas das três maiores cidades da América do Sul - São Paulo e Rio de Janeiro - ficam em sua parte central. Há um total de 99.966 km2, ou cerca de 8,1% da Mata Atlântica ainda intactos. Essa perda de habitat deixou um grande número de espécies endêmicas da região sob sérios riscos de extinção. Proteção e estratégias de conservação A diversidade dos vertebrados e o endemismo nesse Hotspot são incrivelmente altos. A Mata Atlântica possui 12 gêneros endêmicos, incluindo dois gêneros de primatas ameaçados que simbolizam a região e são as chamadas “espécies-bandeira”. Tratam-se dos micos- leões, dos quais existem quatro espécies, e dos muriquis, com duas espécies. Esforços para a conservação dos micos-leões têm demonstrado a importância da cooperação entre universidades, zoológicos, ONGs nacionais e internacionais e o governo brasileiro, o que resultou não só na sua proteção como também na preservação de suas florestas. As ações para a conservação e pesquisa focalizadas nessas espécies resultaram em numerosas iniciativas de proteção ao habitat dos primatas, assim como o treinamento de muitos conservacionistas brasileiros. Segundo o Banco de Dados Mundial de Áreas Protegidas, apenas 4,1% do Hotspot encontram-se sob alguma forma de proteção legal. Um estudo recente sobre as áreas protegidas do Brasil revelou que, em dezembro de 2003, havia 100 parques nacionais e estaduais (19.717 km2), 28 reservas biológicas estaduais e federais (1.848 km2) e 77 estações ecológicas estaduais e federais (1.598 km2) na Mata Atlântica brasileira, totalizando 205 áreas de proteção integral cobrindo 23.163 km2. Se incluirmos as áreas das unidades de uso sustentável (principalmente as Áreas de Proteção Ambiental), a extensão das áreas protegidas aumenta um pouco, apesar dos níveis de proteção variarem. Além das terras protegidas pelo governo, existe também no Brasil um mecanismo legal para proteção particular – Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A partir de 1990, mais de 500 áreas desse tipo (com uma extensão de cerca de 4.500 km2) foram criadas, principalmente na Mata Atlântica e no Cerrado. Em 1997, um estudo financiado pelo Banco Mundial e realizado pela “Wildlife Conservation Society” e Conservação Internacional propôs a implementação de corredores ecológicos na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica brasileira. Alguns deles têm mais de 8 milhões de hectares de habitat contínuo, com o sistema de áreas protegidas já existente como sua espinha dorsal. Essas áreas foram identificadas usando indicadores biológicos tais como riqueza de espécies e graus de endemismo. Os corredores, que cobrem apenas 15 a 20% da área total desses biomas, deverão abranger mais de 75% da diversidade das florestas tropicais do país. Com os 44 milhões de dólares do Programa Piloto para Florestas Tropicais Brasileiras (PPG-7) dois corredores - um na Mata Atlântica e outro na Amazônia - estão sendo implantados como teste para essa abordagem inovadora. A região da Mata Atlântica foi também o berço do movimento ambiental brasileiro. Nos últimos 30 anos, o bioma foi palco de um crescimento impressionante do número de ONGs. O levantamento mais recente revelou que havia aproximadamente 700 ONGs ambientais ativas no Brasil, sendo que cerca de 30 delas possuem orçamentos anuais de mais de 300 mil dólares. Apesar de ser um dos biomas mais ameaçados do planeta, tendo perdido mais de 90% de sua extensão original, a perspectiva para a região da Mata Atlântica é indubitavelmente uma das mais animadoras dentre as dos Hotspots em países em desenvolvimento. 15 FICHA TÉCNICA: Fotos: Capa: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Castro; Foto 3 João Makray; Foto 4 João Makray – Pag. 3 Adriano Gambarini Pag. 4: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Palo Jr. – Pag. 5 Adriano Gambarini – Pag. 6: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Castro – Pag. 7: Foto 1 Haroldo Palo Jr; Foto 2 Haroldo Palo Jr. – Pag. 10 José Caldas – Pag. 11: Guilherme Dutra – Pag. 12 Haroldo Castro Pag. 13 Foto 1 Haroldo Castro; Foto 2 Russell Mittermeier; Foto 3 Haoldo Palo Jr – Pag. 14: Adriano Gambarini – Pag. 15 Foto 1 Adriano Gambarini; Foto 2: Haroldo Palo Jr.; Foto 3: Adriano Gambarini – Pag.16: João Makray Edição: Isabela Santos Tradução e Revisão: Conceição Mello e Isabela Santos Editoração: Jacqueline Gonçalves, Joice Tolentino e Guilherme Baroli 3_C_I_grandes_regioes.pdf GRANDES REGIÕES NATURAIS As Últimas Áreas Silvestres da Terra Atualmente, a natureza sofre inúmeras agressões, como o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a degradação do solo e a poluição do ar e da água. Diante do crescimento acelerado das populações humanas, do consumo desordenado dos recursos naturais e do aumento da pobreza, o desenvolvimento sustentável pode parecer um desafio assustador. Nesse contexto, é difícil acreditar que ainda existam lugares em nosso planeta onde a natureza se encontra intocada. Esta publicação traz uma nova visão sobre as regiões ainda selvagens do mundo e a importância de preservá-las. A ra ra -a zu l - H ar ol do C as tr o grandes regiões naturaisgrandes regiões naturais Fa ze nd a R io N eg ro - P an ta na l - F lá vi a Ca st ro Biodiversidade é a soma de todas as espécies, ecossistemas e processos ecológicos que mantêm a vida na Terra. Sua perda, causa- da principalmente pela ação do homem, é irreversível. A Conservation International (CI) trabalha para conservar a biodiversidade e demonstrar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza. Para conservar eficientemente a biodi- versidade é preciso definir prioridades e sele- cionar áreas extremamente ricas, onde as ações são mais urgentes. A CI adotou três abordagens para definir prioridades globais de conservação: os Países de Megadiversidade, os Hotspots e as Grandes Regiões Naturais. O conceito de Países de Megadiversi- dade, desenvolvido em 1988, por Russell Mittermeier, Presidente da CI, identifica os 17 países mais ricos do mundo em biodiver- sidade e que reúnem mais de 2/3 de todas as espécies existentes no planeta. A abordagem dos Hotspots, inicialmente desenvolvida pelo ecologista Norman Myers e posteriormente ampliada pela CI, reconhece as 25 regiões biologicamente mais ricas e mais ameaçadas do planeta. A terceira abordagem adotada pela CI é a das Grandes Regiões Naturais, elaborada por Mittermeier em 1988. Esse conceito comple- menta o dos Hotspots, pois, enquanto estes representam regiões ricas em biodiversidade, mas altamente degradadas, com mais de 70% de sua vegetação original destruída, as Grandes Regiões Naturais permanecem relativamente conservadas, com alta biodiversidade e baixa densidade populacional. As Grandes Regiões Naturais têm impor- tante papel na continuidade da vida na Terra. Inicialmente, elas abrigam extensas amostras de ambientes intactos, com suas faunas e floras bem preservadas, com todos os seus predadores, presas, parasitas e as complexas relações que os unem. Além disso, elas tam- bém oferecem inúmeros serviços ambientais, ou seja, benefícios gerados pela natureza que são essenciais à sociedade, como: a proteção de recursos hídricos e do solo, os usos recreativos, os valores culturais, a contribuição ao equi- líbrio dos regimes climáticos, entre outros. O valor econômico da polinização somente pelas abelhas, por exemplo, está estimado em um bilhão de dólares e o serviço de todas as espé- cies polinizadoras no mundo é ainda maior. Em todas as três abordagens, o Brasil aparece no topo das listas. Entre os países de Megadiversidade, o Brasil se destaca como o país mais rico do mundo em biodiversidade terrestre. Apenas a Indonésia se compara ao Brasil, em termos de biodiversidade mari- nha. Dois ricos Hotspots são encontrados em território brasileiro - a Mata Atlântica e o Cerrado - sendo a Mata Atlântica encontrada na lista das regiões mais ricas e ameaçadas do mundo. O Brasil também contribui com três das Grandes Regiões Naturais, a Amazônia, o Pantanal e a Caatinga. introdução 6 • CONSERVATION INTERNATIONAL A m az ôn ia - A dr ia no G am ba rin i DEFINIÇÃO Há várias abordagens para identificar as regiões naturais do planeta. O conceito adotado pela Conservation International, no estudo que reuniu mais de 200 cientistas e durou dois anos, leva em consideração critérios de tamanho, grau de preservação dos ecossistemas, densidade populacional e riqueza biológica. Para estar incluída na lista das 37 Grandes Regiões Naturais, é necessário que a área seja uma unidade biogeográfica, tendo que apresentar um conjunto único de espécies e características ecológicas. Também precisa ter mais de 10.000 km2 ou um mi- lhão de hectares (ha) e densidade popula- cional menor que cinco habitantes por km2. Juntas as 37 regiões cobrem 54,6% da super- fície terrestre do planeta e abrigam apenas 4,1% da população mundial. Em termos de riqueza biológica, uma Grande Região Natural deve abrigar pelo menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas, ou seja, espécies que ocorrem exclusivamente em uma única região do planeta. Também deve ter 70% ou mais de sua vegetação ainda intacta, ou seja, sem sinais de alteração significativa pela atividade humana. Ca at in ga - A dr ia no G am ba rin i 8 • CONSERVATION INTERNATIONAL Dentre as vastas áreas com baixa densi- dade populacional, algumas delas se desta- cam pela imensa diversidade de espécies de plantas e animais. A Amazônia, a ilha de Nova Guiné e as florestas do Congo, na África Central, são indiscutivelmente as regiões mais ricas em biodiversidade, com elevado número de espécies e alto grau de endemismo. O estudo causou surpresa ao indicar outras regiões muito ricas em biodi- versidade, que não fazem parte desses grandes blocos de floresta tropical. As florestas de Miombo Mopane e pradarias do sul da África, incluindo o Delta do Okavango, em Botswana, e os desertos da América do Norte completam a lista das Grandes Regiões Naturais mais ricas do mundo. Todas estas regiões possuem mais de 750.000 km2 e pelo menos 1.500 espécies de plantas endêmicas. Considerando essas cinco regiões, encontramos em apenas 11.830.099 km2 (6,1% da superfície terrestre), 51.340 espé- cies de plantas endêmicas, ou 17,1% do total mundial, e 2.265 ou 8% dos vertebrados ter- restres endêmicos da Terra. Assim, elas abrigam inúmeras espécies endêmicas, den- tre elas: 552 espécies de répteis (6,2% do total global), 662 espécies de aves (6,8%), 404 espécies de mamíferos (8,3%) e 647 espécies de anfíbios (12,9%). É uma espeta- cular concentração de vida em uma porção relativamente pequena do planeta. Por isso, essas regiões são consideradas de altíssima prioridade para a conservação da biodiversi- dade. Comparativamente, as demais Grandes Regiões Naturais detêm 4.880 plantas endêmicas (1,6% do total), em 69,2 milhões de km2, uma área seis vezes maior. Estes números também mostram a extrema importância dos Hotspots, alvo de estudos semelhantes, divulgados pela CI em 1999. Os Hotspots ocupam apenas 1,4% da superfície da Terra e abrigam 44,5 % de plantas endêmicas, o que corresponde a 81.809 espécies a mais que nas mais ricas das Regiões Naturais. Também abrigam 7.380 espécies a mais de vertebrados endêmicos, excluindo os peixes. Combinando as cinco mais ricas Grandes Regiões Naturais e os 25 Hotspots, temos em apenas 7,5% da superfície terrestre, 184.489 plantas vasculares endêmicas e 11.910 vertebrados terrestres endêmicos, respectiva- mente 61,5% e 43% do total global. Assim, uma estratégia mundial eficiente de proteção da biodiversidade deve garantir simultanea- mente a proteção das mais ricas Regiões Naturais e dos Hotspots. RIQUEZA BIOLÓGICA N ov a G ui né - H ar ol do C as tr o N ov a G ui né - H ar ol do C as tr o M io m bo - M op an e - Pa tr íc io G il CONSERVAÇÃO Apesar de abrigar tamanha riqueza biológica, somente 7,4% da extensão total das 37 Grandes Regiões Naturais estão protegi- das. Apesar de muitas delas não estarem sob forte ameaça, outras começam a ser alteradas pelas atividades humanas, especialmente as florestas tropicais e as florestas boreais. O mundo ficaria chocado se o Museu do Louvre em Paris, ou as pirâmides no Egito, ou mesmo o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, fossem destruídos. Mas poucos se espantam ao ouvir que uma porção de floresta em Madagascar ou na Amazônia foi des- matada ou que a ararinha azul da Caatinga desapareceu da natureza. Essas coisas aconte- cem todos os dias e representam uma perda irrecuperável para toda a humanidade. Nossa sociedade precisa urgentemente refletir sobre como essas regiões intocadas serão ocupadas e exploradas no futuro próxi- mo. Os modelos de desenvolvimento devem incluir cuidados na instalação de indústrias extrativistas, a adoção de práticas industriais do mais alto padrão ambiental e a exclusão de atividades altamente destrutivas, como desmatamento e exploração de madeira, das regiões de grande importância para a conser- vação. A ênfase nessas regiões deve ser de proteção, com investimentos na melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Alternativas econômicas devem incentivar o ecoturismo, os produtos não madeireiros, o pagamento por serviços ambientais e a pesquisa científica. A Conservation International espera que a identificação e a divulgação desse amplo universo das Grandes Regiões Naturais, que o nosso planeta ainda possui, tenha a capaci- dade de mobilizar todos os esforços possíveis para a sua conservação. D es er to a m er ic an o - Pa tr íc io G il A lto X in gú - R us se ll M itt er m ei er amazôniaamazônia A Amazônia está entre as maiores das Grandes Regiões Naturais em área florestal, apenas atrás das imensas florestas boreais da Rússia, Canadá e Alasca, que se estendem por dois continentes. Mas é sem dúvida a região mais rica em biodiversidade tropical do pla- neta. A Amazônia excede qualquer outra região em todas as categorias para as quais existem informações possíveis de serem com- paradas, incluindo plantas vasculares, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes. Nos últimos 30 anos, partes da região vêm sendo fortemente alteradas, com des- taque ao sul da Amazônia Brasileira, onde o desmatamento avança rapidamente em direção ao norte. Apesar disso, a vasta maio- ria da Amazônia permanece intacta e ainda oferece oportunidades únicas de conservação da biodiversidade em grande escala. No total, a população da Amazônia Brasileira é de 15.168.145 habitantes, dos quais 10.304.832 vivem em áreas urbanas. A popu- lação rural representa, portanto, uma densi- dade populacional de 1,1 habitante/ km2. As definições sobre a extensão da Amazônia podem variar consideravelmente. Na visão das Grandes Regiões Naturais, a Amazônia é composta pela vasta área de flo- restas tropicais do norte da América do Sul, incluindo as florestas das bacias do Rio Amazonas e seus tributários, as florestas ao sul e sudoeste da Bacia do Rio Orinoco e as flo- resta das Guianas, cujos rios desembocam no Atlântico. A definição oficial e política da região no Brasil, conhecida por Amazônia Legal, indica uma cobertura de 4.975.527 km2, mas esse entendimento inclui cerca de 730.000 km2 de Cerrado e Pantanal, que estão na porção sul da fronteira da floresta, o que aumentaria consideravelmente a nossa inter- pretação da Amazônia Brasileira, que é de 4.245.278 km2. Em sua extensão total e dependendo dos limites aceitos, a Amazônia cobre entre 6 e 7 milhões de km2 e é compar- tilhada por nove países. Dessa vasta porção de floresta, 80% estão intactos. Entretanto, em países com taxas populacionais muito baixas e com pouca exploração da floresta, em especial no Suriname e Guiana Francesa, a parte intocada excede os 90%, ou seja, um nível de conser- vação que não é encontrado em nenhuma outra parte do mundo. A Amazônia é uma região de superla- tivos. Ela representa 53% de toda a cobertura de floresta tropical da superfície do planeta, estimada em 9,2 milhões km2 e por 72% das florestas tropicais que compõem as Grandes 12 • CONSERVATION INTERNATIONAL amazônia A m az ôn ia - H ar ol do C as tr o Regiões Naturais, elaborado pela Conservation International. Acima de tudo, a Amazônia assume extrema importância no metabolismo global, sendo responsável por 10% da pro- dução primária terrestre. Além de ser a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia concentra o mais com- plexo sistema de rios da Terra. Até bem pouco tempo, o Amazonas era considerado o segundo maior rio do mundo em extensão, atrás do Nilo. Agora, com a descoberta da fonte do Amazonas, um pequeno riacho chamado Carhauasanta, em Nevado Mismi, uma montanha de 5.597m no sul dos Andes Peruanos, talvez venha a se provar que o rio Amazonas é o maior do mundo. Os rios da região também promovem espetáculos naturais impressionantes. É o caso do Encontro das Águas, próximo à cidade de Manaus, onde as águas escuras do Rio Negro escoam para as correntes cristalinas do Rio Amazonas, oferecendo um cenário de cores por vários quilômetros. A biogeografia da Amazônia também é bastante complexa. Muitas das espécies registradas na região têm uma distribuição restrita, geralmente limitada pelos rios maiores ou por tipos de vegetação e cursos de água específicos. As comunidades florís- ticas que ocorrem nas Guianas são bastante distintas daquelas encontradas na parte mais elevada do Amazonas, e a mesma obser- vação pode ser feita para toda a região. A busca por padrões biogeográficos movimenta um contingente importante de cientistas que identificam e caracterizam espécies da flora e fauna na região. A ra ra v er m el ha , u ac ar i e u ira pu ru - H ar ol do P al o Jr . 14 • CONSERVATION INTERNATIONAL A Amazônia é insuperável em sua bio- diversidade. Estima-se que existam mais de 40 mil espécies de plantas vasculares - 30 mil consideradas endêmicas - o que significa 10% de todas as espécies da Terra. Dos mamíferos da Amazônia, dois grupos merecem destaque. Das 427 espécies encontradas, 158 são de morcegos, o grupo com o maior número de espécies descritas. O grupo dos primatas também é muito diverso e encontra sua maior concentração global nas florestas baixas da Amazônia Central e Ocidental. A região tem 81 espé- cies de macacos, das quais 69 (85%) são endêmicas. Pelo menos uma nova espécie é descoberta a cada ano. A diversidade de anfíbios também é grande e como em muitas outras partes do universo tropical, novos anfíbios devem ser ainda descobertos na Amazônia à medida que novas excursões de pesquisa vão sendo conduzidas. Isso quer dizer que os números descritos na Tabela 1 devem crescer drastica- mente nos próximos anos. A dimensão da bacia permite a existên- cia de ecossistemas aquáticos de enorme com- plexidade e variedade. As vastas áreas inun- dadas da floresta contribuem para que a Amazônia tenha a maior fauna de peixes de água fresca do mundo, cerca de 30% de tudo o que já foi descrito, o que corresponde a 3.000 espécies. Entretanto, as estimativas indicam uma diversidade até três vezes maior. Todas as expedições que estudam esse grupo têm coletado novas espécies. Cerca de 450 espécies foram registradas somente no Rio Negro. Mas há razões para acreditar que o verdadeiro número supere 700 espécies. Em termos comparativos, temos 192 espécies descritas em toda a Europa. Os invertebrados também são extrema- mente diversos na Amazônia, mas a maior parte deles permanece desconhecida da ciên- cia. Por exemplo, 250 espécies de diplópodes, que incluem os piolhos-de-cobra, já foram descritas, mas estima-se a existência de 5 a 7 mil. Da mesma forma, 1.000 aranhas foram descritas na Amazônia, mas as projeções apontam entre 4 e 8 mil espécies. Borboletas e abelhas são um pouco mais conhecidas e as espécies amazônicas representam grandes porcentagens do total global. A Amazônia também tem extrema importância por abrigar muitas espécies-ban- deira. Espécies-bandeira são, em geral, muito populares e carismáticas, simbolizam uma região e, em razão de seu apelo público, servem como importantes ferramentas para a proteção do hábitat de várias outras formas de plantas e animais. RIQUEZA BIOLÓGICA ENDEMISMO 30.000 173 216 364 260 alto DIVERSIDADE 40.000 427 378 427 1.294 3.000 Plantas Mamíferos Répteis Anfíbios Aves Peixes Tabela 1. Diversidade e Endemismo (número de espécies). Ín di o Ka ya pó - G us ta vo F on se ca Os macacos são as principais espécies- bandeira da Amazônia. A diversidade vai do pequeno sagüi-leãozinho e o recentemente descoberto sagüi-anão, que pesam respectiva- mente 120 e 150g, até o uacari e o macaco aranha, que pode exceder os 7kg. Outras importantes espécies bandeira, altamente ameaçadas, são a ariranha e o peixe-boi da Amazônia, ambos levados quase à extinção, nas décadas de 60 e 70, pela caça comercial. Dentre as aves, o grupo mais importante de espécie-bandeira é o das araras, papagaios e seus parentes. Ao todo, são pelo menos 57 espécies amazônicas, das quais 20 endêmicas. Outra espécie notável da Amazônia é o pira- rucu, um dos maiores peixes de águas doce do mundo, podendo alcançar 4,5m e 90kg, tendo importância fundamental na pesca comercial da região. Além de abrigar um enorme grupo de espécies-bandeira, a Amazônia é território de culturas indígenas de enorme valor. Lamentavelmente, estima-se que, somente entre 1900 e 1957, mais de 80 tribos tenham desaparecido. Muitas outras podem ter tido destino semelhante durante a construção da Transamazônica e outros projetos de desen- volvimento de infra-estrutura. No Brasil, restam agora 206 grupos indígenas documen- tados. A maioria está na Amazônia – 170 tri- bos, cuja população vive em reservas que con- gregam 180.000 índios. Dentre eles, um terço apresentam uma população inferior a 200 indivíduos. Os famosos Kayapós, na porção sul da Amazônia, não contam mais que 6.000 índios. Os Macuxi, os Guajajara, os Terena, os Kaingang e os Ticuna têm entre 10 e 30 mil indivíduos e estão entre os maiores grupos. Além dos grupos descritos, devem existir pelo menos 50 outros grupos não contabilizados, ainda que a FUNAI tenha conhecimento de apenas 12. A m az ôn ia - H ar ol do C as tr o 16 • CONSERVATION INTERNATIONAL AMEAÇAS As ameaças à Amazônia são propor- cionais à sua extensão. Considerados todos os fatores, o desmatamento continua sendo o pior deles. Estimativas indicam que os índices anuais de desmatamento foram, entre 1975 e 1978, de 1,5% do território. Em 1995, o recorde de 29.059 km2 de floresta destruída. Entre agosto de 1999 e agosto de 2000, 19.836 km2 foram desmatados. Isso indica uma perda de cerca de 20% de toda a floresta amazônica brasileira. Grande parte desse desastroso cenário se encontra nos estados de Rondônia (resultado do programa de colo- nização denominado Polonoroeste, nos anos 80), no leste do Acre, no norte do Mato Grosso e no sul do Pará. Em 1998, o desmata- mento destruiu 69% das florestas do estado do Maranhão, 87% do estado do Tocantins, 16% das florestas do Pará e um quarto das florestas de Rondônia e Mato Grosso. A história do desmatamento amazônico não é diferente daquela de outras florestas tropicais. Interesses nacionais e multinacionais têm extraído extensivamente a madeira nas últimas décadas. Altos investimentos (mais de US$300 milhões, somente em 1996) foram realizados por corporações estrangeiras, in- cluindo a compra de vários milhões de hectares de terra. O mogno é o maior alvo, devido ao seu alto valor comercial, mas é apenas uma dentre as várias espécies de madeira exploradas na região. Em áreas de exploração intensiva de madeira, vastas áreas de florestas acabaram sendo convertidas em zonas agrícolas ou desti- nadas a outros usos. A atividade agrícola parece permanecer em baixa escala, associada principalmente a frutas e vegetais locais. Mais recentemente, programas do governo federal (por exemplo, Avança Brasil) incentivaram a introdução da soja em larga escala na região. Infelizmente, o grão tem um potencial tremendo de causar prejuízos. Seus efeitos já são bastante co- nhecidos no Cerrado, pois grandes áreas foram convertidas em plantações e poucas áreas naturais foram mantidas, levando esta região a se tornar um Hotspot. A Amazônia também tem importantes reservas minerais: cobre, chumbo, ouro, estanho, magnésio, bauxita, níquel e prata. A região dos Carajás, na porção leste da Amazônia Brasileira, é considerada uma das áreas minerais mais importantes da Terra. O petróleo e o gás natural também têm sido bastante explorados recentemente. Junto com a mineração, a área alterada pela extração e Fo to s: H ar ol do C as tr o escoamento pode ser pequena, mas a infra- estrutura requerida para dar apoio a essas atividades envolve a construção de estra- das, o que inevitavelmente abre caminho para madeireiros, garimpeiros e coloni- zadores. A Amazônia também vem sendo con- siderada como uma área de alto potencial hidrelétrico. Entretanto, dadas as baixas diferenças de elevação de seus rios, a área que precisa ser inundada para justificar a geração de energia é sempre imensa. A Represa de Tucuruí, a maior já construída em uma floresta tropical, emite, anualmente, a mesma quantidade de gases que as indús- trias de automóveis da cidade de São Paulo. A diversidade de peixes foi reduzida a 50% e a área de floresta foi bastante modificada. Recentemente, o Governo Brasileiro anun- ciou novos planos de construção de seis grandes represas no Rio Tocantins, e duas outras represas nos Rios Araguaia e Xingu. A caça de animais silvestres e a pesca, tanto para propósitos de subsistência quanto para fins comerciais ou ornamentais é uma outra ameaça na região. Mesmo níveis modestos de caça provaram ter impactos sig- nificativos na biodiversidade, sobretudo quando associado à perda e à fragmentação da floresta. Vi tó ria -r ég ia - H ar ol do C as tr o CONSERVAÇÃO O Workshop de Áreas Prioritárias para Conservação da Amazônia, organizado pela CI e seus parceiros em 1990, em Manaus, foi o primeiro esforço para estabelecer priori- dades de conservação para a Amazônia. Com o sucesso desta iniciativa, vários work- shops foram realizados, contribuindo para o planejamento do desenvolvimento da região. As áreas protegidas são fundamentais na manutenção da biodiversidade da Amazônia - com particular ênfase às áreas de proteção integral, como os parques nacionais e as reservas biológicas. Assim como o Brasil possui a maior parte da Amazônia em seu território, o país também apresenta a mais ampla rede de unidades de conservação. Isso inclui o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, criado em 2002, e que protege 3.870.000ha no estado do Amapá, sendo a maior área protegida do mundo. As 397 Áreas e Reservas Indígenas contabilizam 103.396.964 ha, ou 24,4% da Amazônia Brasileira. A extensão dessas reservas indígenas mostra a importância dos índios para a conservação da floresta. Os povos indígenas têm tido sucesso na pre- venção da destruição das florestas, e muitos deles estão solicitando apoio para o desen- volvimento de novas estratégias de uso sus- tentável dos produtos da floresta. Os índios Kayapós, no sul do Pará, são um bom exem- plo. A comunidade indígena dos Kayapós controla cerca de 13 milhões de ha de flo- resta e de Cerrado e estão conseguindo excluir fazendas, madeireiros e de projetos hidrelétricos de suas terras. Felizmente, a Amazônia é uma região onde oportunidades de conservação em grande escala ainda existem. Agora é o momento de agir e garantir que a exuberân- cia biológica da região, a diversidade de seus povos indígenas e os muitos serviços essenciais que ela nos presta sejam manti- dos para as futuras gerações. O Workshop de Áreas Prioritárias para Conservação da Amazônia, organizado pela CI e seus parceiros em 1990, em Manaus, foi o primeiro esforço para estabelecer priori- dades de conservação para a Amazônia. Com o sucesso desta iniciativa, vários work- shops foram realizados, contribuindo para o planejamento do desenvolvimento da região. As áreas protegidas são fundamentais na manutenção da biodiversidade da Amazônia - com particular ênfase às áreas de proteção integral, como os parques nacionais e as reservas biológicas. Assim como o Brasil possui a maior parte da Amazônia em seu território, o país também apresenta a mais ampla rede de unidades de conservação. Isso inclui o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, criado em 2002, e que protege 3.870.000ha no estado do Amapá, sendo a maior área protegida do mundo. As 397 Áreas e Reservas Indígenas contabilizam 103.396.964 ha, ou 24,4% da Amazônia Brasileira. A extensão dessas reservas indígenas mostra a importância dos índios para a conservação da floresta. Os povos indígenas têm tido sucesso na pre- venção da destruição das florestas, e muitos deles estão solicitando apoio para o desen- volvimento de novas estratégias de uso sus- tentável dos produtos da floresta. Os índios Kayapós, no sul do Pará, são um bom exem- plo. A comunidade indígena dos Kayapós controla cerca de 13 milhões de ha de flo- resta e de Cerrado e estão conseguindo excluir fazendas, madeireiros e de projetos hidrelétricos de suas terras. Felizmente, a Amazônia é uma região onde oportunidades de conservação em grande escala ainda existem. Agora é o momento de agir e garantir que a exuberân- cia biológica da região, a diversidade de seus povos indígenas e os muitos serviços essenciais que ela nos presta sejam manti- dos para as futuras gerações. B or bo le ta s - H ar ol do C as tr o pantanalpantanal R io P ar ag ua i - H ar ol do C as tr o 22 • CONSERVATION INTERNATIONAL O Pantanal é a mais vasta planície inundável do mundo, com 210.000 km2, e hábitat de uma das mais espetaculares con- centrações de vida silvestre da Terra. Entre as 37 Regiões Naturais, ainda encontramos ou- tras duas planícies inundáveis, o Delta do Okavango, em Botswana e o Pântano Sudd no Sudão, ambas com dimensões bastante inferiores às do Pantanal. Estendendo-se tanto por terras brasi- leiras como, em menor extensão, por terras bolivianas e paraguaias, o Pantanal caracteriza- se por seu regime de águas (de secas e cheias), ficando inundado por vários meses. A maior parte da água que cobre o Pantanal perio- dicamente vem de grandes rios, como o Paraguai, e de seus afluentes, como os rios Cuiabá, Aquidauana, Miranda e Negro. Mas, nem toda a água corre nos grandes rios. Na Nhecolância, por exemplo, na porção sul do Pantanal, encontramos um magnífico sistema de baias (água doce) e salinas (água salobra), famosas pela beleza das paisagens que criam. Grandes extensões do Pantanal ainda se encontram inabitadas ou com baixíssima ocupação e em excelentes condições de con- servação. Estima-se que 80% do Pantanal abriguem incrível riqueza de fauna e flora. O Pantanal é uma das melhores áreas do mundo para a observação de animais selvagens, comparável às savanas africanas em concentração de grandes aves, mamíferos e répteis. Um verdadeiro paraíso para ecoturis- tas. Apesar disso, a região não tem espécies endêmicas para esses grupos, pois, compartilha a maior parte de suas espécies com as regiões vizinhas, como o Cerrado e a Amazônia. Mas, os pesquisadores continuam descobrindo novas espécies no Pantanal, como demons- traram duas expedições científicas organizadas pela CI-Brasil nos últimos anos. Os peixes de água doce são bastante diversos, com novas espécies sendo descober- tas constantemente. Até o momento, foram registradas 325 espécies de peixes no Pantanal e, diferentemente de outros grupos, a região apresenta endemismos para peixes. Já foram identificadas 15 endêmicas. A maior parte é encontrada apenas nas cabeceiras dos tribu- tários do Rio Paraguai. Em termos de vegetação, a diversidade encontrada no Pantanal é consideravelmente alta e depende, sobretudo do tipo de solo, grau pantanal Plantas Mamíferos Répteis Anfíbios Aves Peixes DIVERSIDADE 3.500 124 177 41 423 325 ENDEMISMO 0 0 0 0 0 15 Tabela 2. Diversidade e Endemismo (número de espécies) Ce rv o do P an ta na l - R us se ll A . M itt er m ei er Pa nt an al - H ar ol do C as tr o A nh in ga - H ar ol do P al o Jr . de inundação e topografia. Os elementos florísticos são compartilhados com regiões vizinhas. Nas áreas inundadas, as espécies do Cerrado prevalecem; mais ao norte, espécies amazônicas são as mais encontradas; em áreas mais secas e altas, há espécies do Chaco paraguaio ou mesmo da Caatinga. Suas espécies bandeiras são conheci- das e admiradas. A mais famosa é a onça pintada, que corre grande perigo por causa da caça indiscriminada. A CI-Brasil apóia o recém criado Fundo para Proteção das Onças Pintadas, que com- pensa financeiramente os fazendeiros que tenham cabeças de gado abatidas pelas onças. Esses proprietários, em contra- partida, se comprometem a coibir a caça de onças e permitem pesquisas científicas em suas propriedades. Com o crescimento do ecoturismo, muitos fazendeiros tam- bém começam a valorizar a presença dessa espécie, frequentemente procurada pelos visitantes. Outras importantes espécies-bandeira são encontradas, como o lobo-guará, a anta, o tamanduá-bandeira e o jacaré. As aves têm especial destaque na fauna pantaneira, por sua abundância e beleza. No Pantanal, encontramos grandes popu- lações de aves imponentes. A arara-azul, por exemplo, é maior espécie entre as araras. Cerca de 5.000 indivíduos vivem no Pantanal, sendo essa a região de maior concentração da família no país. O tuiuiú é outra magnífica ave encontrada com freqüência na região e reconhecida como ave símbolo do Pantanal. Centenas de maguaris, colheireiros, garças brancas, garças reais, biguás, entre outras espécies, concentram-se em grandes ninhais, que são locais de procriação comunitários e que oferecem um belo espetáculo para visi- tantes de todo mundo. de inundação e topografia. Os elementos florísticos são compartilhados com regiões vizinhas. Nas áreas inundadas, as espécies do Cerrado prevalecem; mais ao norte, espécies amazônicas são as mais encontradas; em áreas mais secas e altas, há espécies do Chaco paraguaio ou mesmo da Caatinga. Suas espécies bandeiras são conheci- das e admiradas. A mais famosa é a onça pintada, que corre grande perigo por causa da caça indiscriminada. A CI-Brasil apóia o recém criado Fundo para Proteção das Onças Pintadas, que com- pensa financeiramente os fazendeiros que tenham cabeças de gado abatidas pelas onças. Esses proprietários, em contra- partida, se comprometem a coibir a caça de onças e permitem pesquisas científicas em suas propriedades. Com o crescimento do ecoturismo, muitos fazendeiros tam- bém começam a valorizar a presença dessa espécie, frequentemente procurada pelos visitantes. Outras importantes espécies-bandeira são encontradas, como o lobo-guará, a anta, o tamanduá-bandeira e o jacaré. As aves têm especial destaque na fauna pantaneira, por sua abundância e beleza. No Pantanal, encontramos grandes popu- lações de aves imponentes. A arara-azul, por exemplo, é maior espécie entre as araras. Cerca de 5.000 indivíduos vivem no Pantanal, sendo essa a região de maior concentração da família no país. O tuiuiú é outra magnífica ave encontrada com freqüência na região e reconhecida como ave símbolo do Pantanal. Centenas de maguaris, colheireiros, garças brancas, garças reais, biguás, entre outras espécies, concentram-se em grandes ninhais, que são locais de procriação comunitários e que oferecem um belo espetáculo para visi- tantes de todo mundo. O nç a pi nt ad a - H ar ol do P al o Jr . 24 • CONSERVATION INTERNATIONAL AMEAÇA À BIODIVERSIDADE A principal atividade econômica da região é a criação extensiva de gado. O modelo tradicional adotado pelos pantaneiros é bem menos destrutivo que na Amazônia e man- tém-se em relativo equilíbrio com a natureza. Entre-tanto, o desmatamento, as queimadas e a conversão de florestas em pastagens nas últimas décadas é ainda a maior ameaça ao Pantanal, sobretudo nas bordas onde áreas têm sido abertas para criação mais intensiva de gado. A pesca sem controle é outro grande problema na região. Espécies como o pacu e o jaú, muito apreciadas pelos pescadores, já são raras em alguns lugares e estão ameaçadas. A agricultura e a mineração, em geral concen- tradas nas áreas mais altas que circundam o Pantanal, também trazem prejuízos. O Rio Taquari, por exemplo, que tem suas nascentes no Cerrado, sofre sérios problemas de quali- dade de água devido à erosão do solo e à poluição causadas por essas atividades. Algumas ameaças, mesmo que ainda potenciais, também são preocupantes. A maior delas é o projeto de construção de uma hidrovia, que prevê a drenagem e a mudança de curso do Rio Paraguai para permitir a pas- sagem de navios pelo Pantanal. Em 1995, a CI-Brasil produziu o vídeo "Vozes do Pantanal" e contribuiu para um amplo debate a respeito dessa obra de infra-estrutura entre vários setores da sociedade. Apesar do projeto original ter sido abandonado, a idéia de inter- ferir no curso do rio ainda existe e pode tra- zer sérios prejuízos à região. Cr ia çã o de g ad o, q ue im ad as e m in er aç ão - H ar ol do C as tr o CONSERVAÇÃO O Pantanal é realmente um ecossistema especial no Brasil, pois suas atividades econômicas ainda não tiveram um impacto altamente destrutivo em seus hábitats. Para con- duzir um planejamento adequado e continuar a desenvolver a região sem afetar sua biodiver- sidade, a CI-Brasil e seus parceiros lideraram, em 1998, o Workshop de Áreas Prioritárias para a Conservação do Cerrado e Pantanal dentro do Programa Nacional de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. Os estudos e recomendações dos mais de 200 cientistas que participaram da iniciativa, resultaram numa estratégia para proteger a maior diversidade de hábitats e espécies com a implementação de corredores ecológi- cos, que combinam unidades de conservação públicas, reservas privadas e áreas produtivas. A CI-Brasil vem desde então trabalhando para implementar corredores ecológicos nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás em parceria com os governos locais e outras ONGs. Até 1990, os parques e reservas cobriam somente 0,6% do Pantanal, ou cerca de 146.000 ha. Nos últimos três anos, novos par- ques criados apenas no Estado de Mato Grosso do Sul, duplicaram a extensão das áreas protegidas no Pantanal. Entre essas áreas encontramos os Parques Estaduais do Rio Negro e das Nascentes do Taquari e o Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A CI-Brasil colaborou com os governos locais em todas essas iniciativas. Paralelamente, um grande esforço tem sido feito para criar reservas privadas. Hoje, já existem treze Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) no Pantanal, que protegem mais de 200.000 ha. Uma dessas RPPNs é a Fazenda Rio Negro, adquirida pela CI-Brasil com o apoio da família Moore em 1999. Conhecida por ter sido uma das principais locações da novela Pantanal, a Fazenda Rio Negro é um empreendimento de ecoturismo associado ao apoio à pesquisa e ações de conservação da biodiversidade. Em parceria com o Earthwatch Institute, a CI-Brasil criou o Centro de Pesquisa para Conservação, que recebe, na Fazenda Rio Negro, pesquisadores voluntários de todo o mundo para estudar os ecossistemas da região e entender a importância de protegê-los. Um programa de bolsas permite que estu- dantes e professores também participem da experiência. Incentivando a discussão de um modelo para o ecoturismo no Pantanal e a organização do setor, a CI-Brasil apoiou em 2001 a criação da Associação de Pousadas Pantaneiras (APPAN) que hoje reúne 12 pousadas loca- lizadas tanto na borda quanto na zona central do Pantanal. Ta ia m ar - H ar ol do P al o Jr . caatingacaatinga Ca at in ga - A dr ia no G am ba rin i 28 • CONSERVATION INTERNATIONAL A Caatinga é uma surpreendente exce- ção às paisagens da América do Sul, uma região semi-árida única, cercada por outros ecossistemas florestais. O clima extremo e imprevisível da Caatinga exige que plantas e animais estejam adaptados a longos períodos de seca e também a enchentes. Sua flora não é tão rica quanto a das regiões que a circundam, mas tem alto grau de endemismo, incluindo cactos, bromélias e plantas arbustivas. A fauna apresenta poucos vertebrados endêmicos. O que chama a atenção é que tanto a flora como a fauna são pouco conhecidas. Ainda há que se fazer um grande investimento em pesquisa para que se entenda esse bioma especial. A Caatinga ocupa aproximadamente 735.000 km2 , ficando atrás da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica em extensão. As espécies-bandeira mais importantes da região são duas araras altamente ameaçadas. A arara-de-lear é uma ave singular, parecida com a arara-azul, só que menor e com tonali- dade mais clara. Somente 150 indivíduos são encontrados na natureza, onde os esforços da Fundação Biodiversitas têm contribuído para a proteção da espécie no Raso da Catarina, no estado da Bahia. A outra espécie bandeira da Caatinga é a ararinha-azul, uma das mais ameaçadas aves do mundo e possivelmente já extinta na natureza. Por mais de uma década, essa espécie foi representada por um único indivíduo que habitava o município de Curaçá, na Bahia. Entretanto, não foi mais visto desde outubro de 2000. Uma perda inestimável para a biodiversidade mundial. Dentre as plantas que simbolizam a região, podemos citar o mandacaru. É um cacto endêmico e a única planta que permanece verde durante os períodos de seca mais intensa. Essa espécie compõe uma vegetação que resulta de muitos séculos de ocupação humana e pastagem. Por volta de 1700, mais de um milhão de cabeças de gado eram criadas no sertão nordestino para abastecer a população que trabalhava na zona costeira com cana-de-açúcar. caatinga Ca ct o, Ja cu pe m ba e M ac ac o- pr eg o - A dr ia no G am ba rin i Plantas Mamíferos Répteis Anfíbios Aves peixes DIVERSIDADE 437 ? 96 41 348 325 ENDEMISMO 180 2 24 0 46 0 Tabela 3. Diversidade e Endemismo (número de espécies) A expansão da agricultura, em especial no vale do Rio São Francisco, é uma das prin- cipais ameaças à Caatinga. Os períodos de seca inviabilizam a agricultura em boa parte da região e a criação de gado e de cabras causa um impacto bastante intenso à frágil vegetação não adaptada ao pastoreio. Queimadas também são constantemente praticadas para limpar o ter- reno para a criação de gado e freqüentemente atingem áreas protegidas. Esses fatores são intensificados pela pobreza, pela desigualdade da divisão das terras e pelo clima semi-árido. A situação extrema na região dificulta a conservação da biodiversidade e a Caatinga tem recebido pouca atenção em relação à proteção de suas riquezas naturais. Há vários pequenos parques e reservas que protegem a paisagem do sertão nordestino, mas a região ainda é pouco representada no sistema nacional de unidades de conservação. As 22 unidades de conservação públicas protegem somente 2,9% da Caatinga. As unidades de conservação mais repre- sentativas são o Parque Nacional da Chapada Diamantina e a Reserva Biológica do Raso da Catarina, no estado da Bahia, e o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Somando-se as áreas protegidas públicas, as RPPNs e as unidades de conservação em processo de criação, cerca de 4,8% da Caatinga está sob algum tipo de proteção. Para coordenar esforços e aumentar a eficiência das ações de conservação, um consórcio de instituições organizou recente- mente o Workshop de Áreas Prioritárias para Conservação da Caatinga, realizado em 2000 em Petrolina. Essa iniciativa ofe- receu a base científica e uma boa dose de motivação para que as ações de conservação sejam expandidas no sertão brasileiro. CONSERVAÇÃO Ca at in ga e B ar rig ud a - A dr ia no G am ba rin i O nç a pa rd a - A dr ia no G am ba rin i Apoio Pa nt an al - a rq ui vo C I- B ra si l
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