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1_C_I_hotspots.pdf
H O T S P O T S
As Regiões Biologicamente mais Ricas e Ameaçadas do Planeta
Conservar a biodiversidade do planeta e demons-
trar que as sociedades humanas podem viver em
harmonia com a natureza é a missão da
Conservation International. Para enfrentar esse
grande desafio, a Conservation International
adotou a estratégia dos Hotspots e amplia esse
conceito que destaca as 25 regiões mais ricas e
ameaçadas do mundo. Ao lançar uma campanha
mundial para proteger esses Hotspots, estamos
contribuindo para salvar mais de 60% de toda a
diversidade da vida da Terra.
PRESERVANDO AS RIQUEZAS
MAIS AMEAÇADAS DA TERRA
03
Destruição da camada de ozônio, chuva ácida, erosão,
poluição do ar, do solo e da água… Estes problemas,
combinados com a pressão do crescimento popula-
cional nos países em desenvolvimento e o consumo
desenfreado nos países desenvolvidos, apresentam
um cenário sombrio que ameaça atualmente a vida no
planeta. No entanto, por mais sérios que sejam, não
se comparam ao efeito amplo e devastador que a des-
truição em grande escala da biodiversidade tem sobre
o meio ambiente. 
A destruição da biodiversidade – ou seja, a perda das
espécies existentes na Terra – não só causa o colapso
dos ecossistemas e seus processos ecológicos, como é
irreversível. Nem a mais alta tecnologia, nem as
descobertas biotecnológicas, nem as imagens com-
putadorizadas ou a realidade virtual podem compen-
sar o prejuízo inigualável da extinção das espécies;
certamente nada pode recuperar o que foi formado de
forma tão singular, ao longo de bilhões de anos, na
história evolutiva de nosso planeta.
A importância da conservação da biodiversidade
alcançou destaque mundial durante a ECO-92, a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento. Desde então, foram consolidados
fundos mundiais voltados especificamente para a
conservação e cresceram os investimentos de agên-
cias multi-laterais e bilaterais de fomento, assim
como os de fundações privadas ligadas ao meio ambi-
ente. Vale notar que o interesse e a consciência sobre
a importância da biodiversidade também têm aumen-
tado significativamente entre o setor privado, com um
número crescente de empresas que apóiam projetos
de conservação em todo o mundo. 
Apesar desses avanços, ainda há muito a ser feito, já
que grande parte dos recursos humanos e financeiros
destinados à área não são utilizados de maneira efi-
caz. Dessa forma, os grandes desafios são estabelecer
prioridades claras para ações de conservação e saber
como investir os escassos recursos humanos e finan-
ceiros de maneira eficiente. 
Em resposta a essas necessidades, a Conservation
International segue uma estratégia que concentra seus
esforços e investimentos em áreas prioritáriase e tem
como diretriz o conceito dos Hotspots.
H O T S P O T S
04
Diversidade e Endemismos do Cerrado
Espécies
Endêmicas
4.400
19
29
24
45
Total de
Espécies 
10.000
161
837
120
150
Plantas
Mamíferos
Aves
Répteis
Anfíbios
A grande surpresa da nova lista de Hotspots foi a
inclusão do Cerrado. É a segunda maior ecoregião do
Brasil, cobrindo 20% do território. Com uma flora
considerada entre as mais ricas das savanas tropicais,
o Cerrado possui alto grau de endemismo. De suas
10.000 espécies de plantas, 44% são endêmicas,
incluindo quase todas as gramíneas. A diversidade de
espécies de vertebrados também é consideravelmente
alta, estando em quarto lugar no mundo em va-
riedade de aves. 
Preservado durante a colonização do país, o Cerrado
passou a sofrer maior ameaça a partir da década de
50 com a construção de Brasília. Nas décadas de 70 e
80, inúmeros financiamentos foram destinados para
transformar a região num centro de agricultura. O
grande crescimento destas atividades econômicas já
fizeram com que 67% das áreas de Cerrado sejam
consideradas como "altamente modificadas". Apenas
20% encontram-se em seu estado original.
Apesar de sua extensão e de sua importância para a
conservação da biodiversidade, infelizmente o
Cerrado é fracamente representado em áreas protegi-
das. Apenas 3% de sua extensão original estão pro-
tegidos em parques e reservas federais e estaduais.
Para agravar a situação, a maioria das áreas protegi-
das do Cerrado tem tamanho reduzido, inferior a
100.000 hectares, o que coloca em evidência o grau
de fragmentação do ecossistema. 
C E R R A D O
Muitas espécies-
bandeira do Cerra-
do, como o lobo guará, o tatu canastra e a ema, só são
vistas regularmente dentro de parques e reservas. Outro
símbolo da região, o tamanduá-bandeira pode medir até
1,90 m do nariz até a ponta do grande rabo, o qual tem
forma de bandeira. Esse animal singular é encontrado
em áreas protegidas do Cerrado e também no Pantanal.
O Parque Nacional das Emas é uma das áreas mais
importantes para a proteção da biodiversidade do
Cerrado. A Conservation International, juntamente com
a Fundação Emas, vem desenvolvendo um programa
para proteger esse parque e implementar um grande
corredor ecológico que se estende até o Pantanal.
ESPÉCIES-BANDEIRA
12
A Mata Atlântica está entre os cinco primeiros colo-
cados na lista dos Hotspots. O total de mamíferos,
aves, répteis e anfíbios que ali ocorrem alcança 1361
espécies, sendo que 567 são endêmicas, representan-
do 2% de todas as espécies do planeta, somente para
esses grupos de vertebrados. A Mata Atlântica, que
possui 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000
são endêmicas - é o segundo maior bloco de floresta
tropical do país. Inclui diversos tipos de ecossis-
temas tropicais como as faixas litorâneas do
Atlântico, as florestas de baixada e de encosta da
Serra do Mar, as florestas interioranas e as matas de
Araucária. 
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava 1.290.000
km2 do território brasileiro. Os impactos de dife-
rentes ciclos de exploração e a concentração das
maiores cidades e núcleos industriais fizeram com
que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente.
A devastação foi maior nas áreas planas da região
costeira e na estreita faixa litorânea do Nordeste,
onde resta menos de 1% da floresta original. 
Diante desse quadro de destruição, a Conservation
International do Brasil e a Fundação SOS Mata
Atlântica decidiram unir esforços para atender as
necessidades de conservação desse Hotspot. Em
1999, foi estabelecida uma nova estratégia entre
essas duas organizações, a "Aliança para a
Conservação da Mata Atlântica". Com a proposta do
"Desmatamento Zero" (Rede de ONGs da Mata
Atlântica) e da "Perda de Espécies Zero", essa ini-
ciativa busca amplificar a eficiência das duas orga-
nizações e servir como um modelo para os Hotspots ao
redor do mundo. 
M A T A A T L Â N T I C A
A Mata Atlântica
tem várias "espé-
cies-bandeira", que simbolizam a região e são uti-
lizadas em campanhas de conscientização para a pro-
teção desse ecossistema. Dentre elas, algumas espé-
cies de primatas endêmicos, como os mico-leões
(gênero Leontopithecus) e as duas espécies de
muriquis (gênero Brachyteles), têm ajudado a popu-
larizar essa floresta no Brasil e no mundo. O muriqui,
por exemplo, é o maior macaco das Américas e tam-
bém o maior mamífero endêmico do Brasil. No passa-
do, essa espécie foi a principal fonte de proteína dos
exploradores da região costeira. Hoje, o muriqui está
restrito a alguns blocos remanescentes de florestas
na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo e
suas populações estão reduzidas a cerca de 2.000
indivíduos. 
Para proteger essas e tantas outras espécies, a
Conservation International do Brasil desenvolve pro-
jetos de conservação em vários pontos do país. Um
dos exemplos é o projeto realizado, juntamente com o
Instituto de Estudos Sócio-Econômicos do Sul da
Bahia (IESB), na região da Reserva Biológica de Una
(Bahia), o último refúgio do mico-leão-de-cara-doura-
da. Outra iniciativa importante busca proteger uma
das últimas populações do "muriqui do norte" na
Estação Biológica de Caratinga, Minas Gerais, em
parceria com a Fundação Biodiversitas
ESPÉCIES-BANDEIRAS
11
Diversidade e Endemismos da Mata Atlântica
Espécies
Endêmicas
8.000
73
181
60
253
Total de
Espécies 
20.000
261
620
200
280
Plantas
Mamíferos
Aves
Répteis
Anfíbios
O conceito dos Hotspots, criado em 1988 pelo Dr.
Norman Myers, estabeleceu 10 áreas críticas para
conservação em todo o mundo. Essa estratégia foi
adotada pela Conservation International para esta-
belecer prioridades em seus programas de conser-
vação, assim como pela John D. & Catherine T.
MacArthur Foundation. Em 1996, um novo estudo
liderado pelo Dr. Russell A. Mittermeier, presidente
da Conservation International, aperfeiçoou a teoria
inicial de Myers, identificando 17 Hotspots. Estudos
recentes, conduzidos com a contribuição de mais de
100 especialistas, ampliaram e atualizaram essa
abordagem. Após quatro anos de análises, o grupo de
cientistas estabeleceu os 25 Hotspots atuais.
A escolha desses pontos críticos leva em consideração
que a biodiversidade não está igualmente distribuída
ao redor do planeta, sendo que cerca de 60% de todas
as espécies de plantas e animais estão concentradas
em apenas 1,4% da superfície terrestre. Essa abor-
dagem prioriza as ações nas áreas mais ricas - como os
Andes Tropicais, Madagascar, Indonésia, entre outros -
protegendo espécies em extinção e mantendo o amplo
espectro de vida no planeta.
O critério mais importante na determinação dos
Hotspots é a existência de espécies endêmicas, isto é,
que são restritas a um ecossistema específico e, 
portanto, sofrem maior risco de extinção. É o caso do
mico-leão-dourado, encontrado apenas no estado do
Rio de Janeiro e em mais nenhum outro lugar do
mundo. Outro critério importante é o grau de ameaça
ao ecossistema, sendo consideradas como Hotspots, as
bioregiões onde 75% ou mais da vegetação original
tenha sido destruída. Muitas áreas mantém apenas 3 a
8% do que existia inicialmente, como a Mata Atlântica,
que hoje guarda entre 7 a 8% de sua extensão original. 
Enquanto o conceito de Hotspots concentra-se em ecos-
sistemas fragmentados e devastados, dois outros con-
ceitos, desenvolvidos pelo Dr. Russell A. Mittermeier,
vêm complementar as diretrizes para a priorização de
áreas para conservação. O segundo conceito é o de
Wilderness Areas, que identifica os grandes blocos de
florestas tropicais, praticamente intactos (ou seja, que
possuem mais de 75% de sua vegetação original) e com
baixa densidade populacional (menos de 1 habitante
por km2). Nessas regiões, como é o caso de grande parte
da Floresta Amazônica, encontram-se algumas popu-
lações indígenas que têm conseguido manter sua iden-
tidade cultural. O terceiro conceito leva em consideração
as fronteiras políticas e a riqueza biológica encontrada
dentro de cada nação. Os 17 países de Megadiver-
sidade são aqueles com os mais altos índices de riqueza
natural do mundo.
Em todas as três abordagens, o Brasil tem posição de
destaque. É o país campeão de Megadiversidade,
tendo maior número de espécies do que qualquer
outra nação. Possui também o maior bloco de área
verde do planeta, a Floresta Amazônica. Além disso,
em território brasileiro podem ser encontrados dois
Hotspots importantes, a Mata Atlântica e o Cerrado.
Para a definição de estratégias nacionais para os
Hotspots brasileiros, a Conservation International do
Brasil colaborou com o Projeto de Ações Prioritárias
para a Conservação da Biodiversidade dos Biomas
Brasileiros, do Ministério do Meio Ambiente. Centenas
de especialistas e representantes de várias instituições
trabalharam em conjunto para a indicação das áreas
mais críticas e importantes para conservação do
Cerrado em 1998, e da Mata Atlântica em 1999. 
H O T S P O T S E W I L D E R N E S S A R E A S 
07
Andes Tropicais
Chile Central
Choco-Darien /
Equador Ocidental
Mata Atlântica
Cerrado
Florestas da Guiné /
Africa Ocidental
Re
P
Caribe
Mesoamérica
Província Florística
da Califórnia
Ilhas da Polinésia e Micronésia
Mediterrâneo
A S R E G I Õ E S M A I S R I C A S E 
HOTSPOTS
Diversidade de 
Plantas 
Vasculares
Endemismo de 
Plantas 
Vasculares
1 • Andes Tropicais
2 • Sundaland (Indonésia)
3 • Mediterrâneo
4 • Madagascar e Ilhas do Oceano Índico
5 • Mata Atlântica
6 • Região da Indo-Birmânia
7 • Caribe
8 • Filipinas
9 • Privíncia Florística do Cabo
10 • Mesoamérica
11 • Cerrado
12 • Sudoeste da Austrália
13 • Montanhas do centro-sul da China
14 • Ilhas da Polinésia e Micronésia
15 • Nova Caledônia
16 • Choco-Darien / Equador Ocidental
17 • Florestas da Guiné / Africa Ocidental
18 • Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka
19 • Província Florística da Califórnia
20 • Região do Karoo das Plantas Suculentas
21 • Nova Zelândia
22 • Chile Central
23 • Cáucaso
24 • Wallacea (Indonésia)
25 • Montanhas do Arco Oriental 
Total de Endemismo
Porcentagem da Diversidade Global
(300.000 plantas vasculares)
45.000
26.000
25.000
12.000
20.000
13.500
12.000
7.620
8.200
24.000
10.000
5.469
12.000
6.557
3.332
9.000
9.000
4.780
4.426
4849
2.300
3.429
6.300
10.000
4.000
20.000
15.000
13.000
9.704
8.000
7.000
7.000
5.832
5.682
5.000
4.400
4.331
3.500
3.334
2.551
2.250
2.250
2.180
2.125
1.940
1.865
1.605
1.600
1.500
1.500
133,499
44.5
Província Florística do Cabo
Montanhas do Arco Oriental,
Florestas da Tanzânia e Quênia
egião do Karoo das
lantas Suculentas
Montanhas do 
centro-sul da China
Filipinas
Wallacea
(Indonésia)
Madagascar e Ilhas do
Oceano Índico
Cáucaso
Sundaland
(Indonésia)
Ghats Ocidentais (Índia) 
e Sri Lanka
Sudoeste da Austrália
Região da 
Indo-Birmânia
Nova Caledônia
Nova Zelândia
A M E A Ç A D A S D O P L A N E T A
09
A Conservation International tem se dedicado a
fortalecer e expandir o envolvimento do setor pri-
vado com a proteção do meio ambiente, acreditan-
do que os elementos que garantem o sucesso de
empresas - pessoas comprometidas, tecnologias
inovadoras, produtos de qualidade e estratégias de
marketing - também podem ser poderosos aliados
na conservação da biodiversidade. No Brasil, os
Hotéis Transamérica e o Grupo Agropalma,
patrocinadores da publicação do livro sobre os
Hotspots, são exemplos de empresas que têm
investido na proteção do meio ambiente e colhido
resultados ambientais e econômicos.
PA R C E R I A S C O R P O R AT I VA S 
UM INSTRUMENTO CHAVE PARA A CONSERVAÇÃO DOS HOTSPOTS
14
2_C_I_HotspotsRevisitados.pdf
Esta publicação foi produzida pela Conservação Internacional. As informações são baseadas no livro “Hotspots Revisited. Earth’s Biologically Richest and Most
Endangered Terrestrial Ecorregions”, de autoria de Russell A. Mittermeier, Patricia R. Gil, Michael Hoffmann, John Pilgrim, Thomas Brooks, Cristina G. Mittermeier,
John Lamourex e Gustavo A. B. da Fonseca, publicado pela CEMEX e editado pela Agrupación Sierra Madre.
A missão da Conservação Internacional é conservar
a biodiversidade do planeta e demonstrar que as
sociedades humanas podem viver em harmonia com
a natureza. Para enfrentar esse grande desafio, a
Conservação Internacional adota estratégias de conservação
para nortear suas ações e priorizar os locais mais importantes
para sua atuação.
O Hotspots é uma dessas estratégias. Cinco
anos depois da primeira publicação sobre essas regiões, a CI
apresenta agora um estudo atualizado, onde destaca as
34 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do mundo.
ESTABELECENDO PRIORIDADES
GLOBAIS PARA A CONSERVAÇÃO
DA BIODIVERSIDADE
3
BIODIVERSIDADE SITIADA
A vida na Terra está enfrentando uma crise de enormes
proporções. O consumo insustentável em muitos países do
hemisfério norte e a miséria aniquilante nos trópicos estão
destruindo as reservas naturais. A expansão da agricultura, a
indústria e a urbanização estão fragmentando e dizimando as
reservas naturais; a introdução acidental ou deliberada de espécies
exóticas está devastando as comunidades nativas; a poluição
está alterando os ciclos biogeoquímicos e climáticos da terra,
do ar e da água; a caça, o comércio e a pesca predatória estão
afetando as últimas populações de espécies de grandes
vertebrados. Pode-se dizer que a biodiversidade está sitiada.
Por ser irreversível, a extinção de espécies é o aspecto mais grave
da crise da biodiversidade. Sabe-se que a média de vida de uma
espécie é de um milhão de anos. Os impactos humanos,
entretanto, têm aumentado em pelo menos mil vezes a taxa de
extinção das espécies. Na história do nosso planeta só houve
extinções em massa cinco vezes; tendo a última sido
provavelmente causada por um impacto com um asteróide há
65 milhões de anos, acarretando o fim da era dos dinossauros.
Mas o que se perde com a extinção de espécies? A conseqüência
mais óbvia é impedir as opções de uso de recursos futuros.
Isso porque os cientistas já identificaram apenas uma pequena
fração (entre 1% e 10%) das espécies com as quais dividimos
nosso planeta.
Desse modo, com a extinção de espécies destruímos uma
imensa reserva genética que algum dia poderia servir para a cura
de doenças como a AIDS. Pesquisas recentes no tratamento da
malária, por exemplo, usam compostos baseados em uma
planta, a Artemísia.
A crise da biodiversidade poderia ser comparada com a queima
total de todas as bibliotecas do mundo sem o conhecimento
de 90% dos títulos dos livros ou do conteúdo da maioria das
páginas das obras conhecidas.
O caminho da extinção também é perigoso para o ser humano.
A destruição de florestas de montanhas provoca freqüentes
deslizamentos maciços com perdas de vidas incontáveis, como
o ocorrido em 1998 em Honduras com a passagem do Furacão
Mitch, que matou 10.000 pessoas. A Síndrome Respiratória
Aguda (SARS) da Ásia Oriental está ligada diretamente ao
comércio de animais selvagens para consumo humano. Há
outras conseqüências da perda da biodiversidade mais sutis e
cumulativas, mas igualmente significativas, tais como a
deterioração progressiva da base natural para o crescimento da
economia sustentada.
Prioridades de Conservação
Para deter a crise da extinção de maneira eficiente, devemos
priorizar os locais onde temos que agir. De modo geral, a
conservação é e sempre será uma ação na escala local. As pessoas
se preocupam mais com o que está acontecendo em seu próprio
quintal. Todas as comunidades, grandes ou pequenas, deveriam
fazer tudo o que fosse possível para conservar a riqueza
biológica da qual dependem.
Alguns esforços locais têm conseqüências em todo o planeta e
por isso justificam a prioridade de alocação dos recursos
financeiros. Daí a necessidade de se estabelecer prioridades para
a conservação da biodiversidade. E para isso deve ser
considerado, para além da riqueza de espécies, o endemismo
de uma determinada área.
Como nosso objetivo final é manter a natureza intacta,
precisamos de uma estratégia de preservação que contemple
dois aspectos: priorização de áreas endemicamente ricas e
garantia da proteção dos lugares mais ameaçados.
4
OS HOTSPOTS E AS
GRANDES REGIÕES NATURAIS
Um artigo de Norman Myers, de 1988, traz, pela primeira vez,
o conceito de Hotspots. Myers identificou dez Hotspots em
florestas tropicais caracterizados tanto por níveis excepcionais
de endemismo de plantas como por taxas notáveis de destruição
de habitats, apesar de não ter estabelecido critérios quantitativos
com relação à definição de um Hotspot.
A Conservação Internacional adotou o conceito em 1989,
fazendo modificações e acréscimos ao longo dos anos seguintes.
Em 1996, empreendeu uma reavaliação do conceito, em
colaboração com Myers. Um primeiro relatório foi seguido de
uma extensa revisão global, uma análise científica e uma
publicação online detalhada (www.biodiversityhotspots.org).
Esses esforços introduziram patamares quantitativos para a
designação das áreas de preservação ambiental. Para qualificar-
se como Hotspot, uma região deve preencher pelo menos dois
critérios: abrigar no mínimo 1.500 espécies de plantas vasculares
endêmicas e ter 30% ou menos da sua vegetação original
(extensão da cobertura do habitat histórico) mantida.
Essa análise identificou, em 1999, 25 Hotspots que abrigavam
em conjunto, como endêmicas, não menos do que 44% das
plantas do planeta e 35% dos vertebrados terrestres (mamíferos,
aves, répteis e anfíbios) em uma área que cobria anteriormente
apenas 11,8% da superfície terrestre. Contudo, o suporte que
serviu para que esses incríveis resultados fossem apresentados
foi que essa área tinha sido reduzida em 87,8% de sua extensão
original, de tal maneira que essa incrível riqueza de
biodiversidade foi reduzida a apenas 1,4% da superfície terrestre.
Paralelamente ao desenvolvimento da estratégia dos Hotspots,
houve o reconhecimento das vantagens em se investir nas áreas
menos ameaçadas – e mais baratas – mas também de grande
biodiversidade. Mittermeier chamou a atenção para várias áreas
de florestas tropicais com alta biodiversidade que ainda estão
em condições relativamente intactas – as Grandes Regiões
Naturais. Apesar de estarem bem menos ameaçadas do que os
Hotspots, essas áreas estão sob crescente ameaça pela ação do
homem.
Recentemente, as Grandes Regiões Naturais foram definidas
quantitativamente como detentoras de, pelo menos, 70% do
seu habitat original e possuidoras de densidades populacionais
de menos de cinco pessoas por quilômetro quadrado. Três
biomas brasileiros são considerados Grandes Regiões Naturais:
Amazônia, Pantanal e Caatinga.
Baseada nessa análise, a Conservação Internacional usa uma
estratégia de dupla face para a priorização da conservação global,
focalizando simultaneamente as áreas ameaçadas e
insubstituíveis e as Grandes Regiões Naturais.
6
UMA ANÁLISE ATUALIZADA
DOS HOTSPOTS
A análise dos Hotspots está em evolução constante. Com o
passar do tempo, os Hotspots podem sofrer mudanças de
duas maneiras. A primeira ocorre em função de um efeito real.
As ameaças e os impactos que elas acarretam variam. Isso
significa que alguns lugares podem tornar-se mais ameaçados,
enquanto que outros, se os esforços para a conservação tiverem
sucesso, podem eventualmente recuperar-se. A segunda se refere
ao fato de que nosso conhecimento sobre biodiversidade,
ameaças e custos está aumentando continuamente. A cada dia,
descobrem-se novas espécies e populações e coletam-se com
maior precisão dados sobre a cobertura terrestre. Nos últimos
anos, em sintonia com a revolução da informação e o
surgimento da Internet, esses dados puderam ser melhor
compilados. Atualmente, anos depois da publicação da
avaliação da estratégia de Hotspot, está na hora de reavaliar os
próprios Hotspots sob a luz de novos dados relacionados
com as distribuições das espécies e as condições de mudanças
dos ecossistemas do planeta.
O objetivo dessa análise é revisitar o status dos Hotspots,
apurar seus limites, atualizar as informações e, o mais
importante, considerar um número de Hotspots em potencial
que podem ser candidatos para serem acrescentados à lista dos
25 já identificados.
Os critérios sobre aquilo que qualifica um
Hotspot permanecem os mesmos.
Ao revisitar os limites dos Hotspots, tentamos alcançar um
equilíbrio entre o que é cientificamente defensável e o que é
pragmaticamente aceitável. Os Hotspots estão fundamentados
no endemismo de plantas e assim, tanto quanto for possível,
a decisão quanto ao lugar e a possibilidade de incluir uma
determinada área ou ilha dentro de um Hotspot é determinada
pelas afinidades com relação à flora da região em questão.
Entretanto, em alguns casos, achamos conveniente desviar
desse ideal para acomodar as ilhas tropicais – muitas das quais
possuem proporções muito grandes de espécies ameaçadas -
que, de outra forma, poderiam ficar fora da rede de prioridades
de conservação.
Por essa razão, agrupamos determinadas ilhas com os seus
Hotspots mais próximos incluindo, por exemplo, Galápagos
e Malpelo com Tumbes-Chocó-Magdalena, Juan Fernández
com Chile Central-Florestas Valdívias, os Açores e Ilhas do
Cabo Verde (ambas partes das Ilhas Macronésias juntamente
com as Canárias e Madeira) com a Bacia Mediterrânea; e as ilhas
de Lord Howe e Norfolk com a Nova Zelândia. Isso foi feito
somente por razões de conveniência pragmática, com pleno
conhecimento de que as afiliações quanto à flora dessas ilhas
com suas partes continentais são, na melhor das hipóteses,
fracas.
7
8
9
10
11
CERRADO
O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil (depois da
Amazônia), cobria originalmente 2.031.990 km2, constituindo
a mais extensa região de savana da América do Sul. O bioma
compreende um mosaico de diferentes tipos de vegetação,
determinados principalmente pelas condições do solo. A única
formação florestal é o cerradão, uma floresta seca de cobertura
fechada que alcança 7m de altura nos solos mais férteis. O
Cerrado stricto sensu é uma savana com uma camada herbácea
bem desenvolvida, árvores pequenas, arbustos e palmeiras sem
tronco. Outras formações são o campo sujo e o campo limpo.
Matas de galeria não são formações típicas do Cerrado, mas são
comuns na paisagem, abrangendo uma rede interconectada de
habitats ao longo de rios de três das maiores bacias hidrográficas
brasileiras. São importantes para a manutenção da diversidade
da fauna do Cerrado, constituindo refúgio e estrada de dispersão
para um número significativo de plantas e animais originários
da Floresta Amazônica e Mata Atlântica.
O clima é tropical, com chuvas concentradas no período de
abril a outubro. A estação da seca é bem definida, provocando,
em algumas áreas, falta de água. Muitas das espécies de plantas
típicas do Cerrado são próprias de região seca. As queimadas,
tanto as naturais quanto as provocadas pelo homem, são uma
característica importante da ecologia do Cerrado. A flora mostra
um grupo de adaptações ao fogo, inclusive cascas de árvore
grossas, folhas resistentes e uma capacidade de regeneração
rápida. O fogo tem papel importante na germinação de
sementes de várias espécies.
Uma das mais ricas de todas as regiões de savana tropical, o
Cerrado possui alto grau de endemismo. Sua diversidade de
vertebrados é grande, mas o endemismo é baixo quando
comparado ao das plantas. A diversidade de gêneros também
é grande: 240, sendo 18 endêmicos. O Cerrado é importante
para um grupo de grandes mamíferos de ampla distribuição
na América do Sul: o lobo guará; tamanduá-bandeira; o tatu-
canastra; a anta; o veado-campeiro; e várias outras espécies de
felinos, como a onça-pintada, a sussuarana, a jaguatirica e o
jaguarundi.
Ocupação
O Cerrado tem sido ocupado pelo homem por mais de 11 mil
anos. Durante a colonização do Brasil no início do século XVI,
os portugueses evitavam chegar no interior do país devido a
tratados com a Espanha e a predisposições culturais de se
estabelecerem perto do mar. As primeiras incursões à procura
de ouro e pedras preciosas aconteceram no século XVIII,
abrindo caminho para fazendas de criação de gado, principal
atividade econômica até meados dos anos 50, quando o
governo começou a planejar a construção de uma nova capital
em Goiás para estimular a colonização e o desenvolvimento da
região. A melhoria do transporte e da infra-estrutura, a indústria
automobilística e a pesquisa na área da agricultura e do solo
resultaram na transformação do Cerrado na mais importante
região de agronegócio (soja, milho e arroz irrigado) do país.
Hoje, quase um quarto de todo grão produzido no Brasil vem
do Cerrado. Uma estimativa sobre a vegetação natural
remanescente indica que o Cerrado sofreu um grande impacto.
Cerca de 78,7% de sua área estão sob alguma forma de uso
pelo homem, o que significa que apenas 21,3%, ou 432.814
km2, ainda se conservam intactos.
Proteção e estratégias de conservação
Apesar de sua extensão e relevância para a conservação da
biodiversidade, o Cerrado é pouco representado no sistema
brasileiro de áreas protegidas. Apenas 5,5% de sua extensão
original estão em unidades de conservação. Dentre os parques
mais importantes estão Chapada dos Guimarães, a Grande
Sertão Veredas, a Serra da Canastra e Emas. O número total de
Áreas de Preservação Ambiental é de 102, em 83.520 km2 ou
4,1% do Cerrado. A Conservação Internacional e seus parceiros,
municípios e empresas têm um programa importante em
andamento para a proteção e gerenciamento do Corredor Emas-
Taquari, uma das áreas mais importantes do bioma.
13
MATA ATLÂNTICA
A Mata Atlântica figura entre os cinco primeiros biomas no ranking
dos Hotspots. É uma série única de ecossistemas de florestas tropicais
da América do Sul, que também inclui mangues e restingas. A
altitude determina, pelo menos, três tipos de vegetação da Mata
Atlântica: as matas da planície costeira, as florestas de encostas e as
matas de grandes altitudes. Esse quadro influencia um padrão de
alta riqueza de espécies. Além das áreas de florestas úmidas da
planície costeira, podem ser encontradas formações mais secas, as
matas semi-decíduas de interior e as florestas mistas, dominadas
pela araucária nas áreas mais frias da região sul do país.
Ocupação
A Mata Atlântica já se estendeu quase que continuamente desde o
Rio Grande do Norte e Ceará até o Rio Grande do Sul. Estima-se
que ocupava aproximadamente 1.200.000 km2. Foi a primeira região
do Brasil a ser colonizada e tem a maior população (108 milhões de
habitantes ou 60% da população do país). É o centro agro-industrial
do Brasil e duas das três maiores cidades da América do Sul - São
Paulo e Rio de Janeiro - ficam em sua parte central. Há um total de
99.966 km2, ou cerca de 8,1% da Mata Atlântica ainda intactos.
Essa perda de habitat deixou um grande número de espécies
endêmicas da região sob sérios riscos de extinção.
Proteção e estratégias de conservação
A diversidade dos vertebrados e o endemismo nesse Hotspot são
incrivelmente altos. A Mata Atlântica possui 12 gêneros endêmicos,
incluindo dois gêneros de primatas ameaçados que simbolizam a
região e são as chamadas “espécies-bandeira”. Tratam-se dos micos-
leões, dos quais existem quatro espécies, e dos muriquis, com duas
espécies. Esforços para a conservação dos micos-leões têm
demonstrado a importância da cooperação entre universidades,
zoológicos, ONGs nacionais e internacionais e o governo brasileiro,
o que resultou não só na sua proteção como também na preservação
de suas florestas. As ações para a conservação e pesquisa focalizadas
nessas espécies resultaram em numerosas iniciativas de proteção ao
habitat dos primatas, assim como o treinamento de muitos
conservacionistas brasileiros.
Segundo o Banco de Dados Mundial de Áreas Protegidas, apenas
4,1% do Hotspot encontram-se sob alguma forma de proteção
legal. Um estudo recente sobre as áreas protegidas do Brasil revelou
que, em dezembro de 2003, havia 100 parques nacionais e estaduais
(19.717 km2), 28 reservas biológicas estaduais e federais (1.848
km2) e 77 estações ecológicas estaduais e federais (1.598 km2) na
Mata Atlântica brasileira, totalizando 205 áreas de proteção integral
cobrindo 23.163 km2. Se incluirmos as áreas das unidades de uso
sustentável (principalmente as Áreas de Proteção Ambiental), a
extensão das áreas protegidas aumenta um pouco, apesar dos níveis
de proteção variarem. Além das terras protegidas pelo governo,
existe também no Brasil um mecanismo legal para proteção
particular – Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A
partir de 1990, mais de 500 áreas desse tipo (com uma extensão de
cerca de 4.500 km2) foram criadas, principalmente na Mata Atlântica
e no Cerrado.
Em 1997, um estudo financiado pelo Banco Mundial e realizado
pela “Wildlife Conservation Society” e Conservação Internacional
propôs a implementação de corredores ecológicos na Mata Atlântica
e na Floresta Amazônica brasileira. Alguns deles têm mais de 8
milhões de hectares de habitat contínuo, com o sistema de áreas
protegidas já existente como sua espinha dorsal. Essas áreas foram
identificadas usando indicadores biológicos tais como riqueza de
espécies e graus de endemismo. Os corredores, que cobrem apenas
15 a 20% da área total desses biomas, deverão abranger mais de
75% da diversidade das florestas tropicais do país. Com os 44
milhões de dólares do Programa Piloto para Florestas Tropicais
Brasileiras (PPG-7) dois corredores - um na Mata Atlântica e outro
na Amazônia - estão sendo implantados como teste para essa
abordagem inovadora.
A região da Mata Atlântica foi também o berço do movimento
ambiental brasileiro. Nos últimos 30 anos, o bioma foi palco de um
crescimento impressionante do número de ONGs. O levantamento
mais recente revelou que havia aproximadamente 700 ONGs
ambientais ativas no Brasil, sendo que cerca de 30 delas possuem
orçamentos anuais de mais de 300 mil dólares. Apesar de ser um dos
biomas mais ameaçados do planeta, tendo perdido mais de 90% de
sua extensão original, a perspectiva para a região da Mata Atlântica
é indubitavelmente uma das mais animadoras dentre as dos Hotspots
em países em desenvolvimento.
15
FICHA TÉCNICA: Fotos: Capa: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Castro; Foto 3 João Makray; Foto 4 João Makray – Pag. 3 Adriano Gambarini
Pag. 4: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Palo Jr. – Pag. 5 Adriano Gambarini – Pag. 6: Foto 1 Haroldo Palo Jr.; Foto 2 Haroldo Castro – Pag.
7: Foto 1 Haroldo Palo Jr; Foto 2 Haroldo Palo Jr. – Pag. 10 José Caldas – Pag. 11: Guilherme Dutra – Pag. 12 Haroldo Castro Pag. 13 Foto 1 Haroldo
Castro; Foto 2 Russell Mittermeier; Foto 3 Haoldo Palo Jr – Pag. 14: Adriano Gambarini – Pag. 15 Foto 1 Adriano Gambarini; Foto 2: Haroldo Palo
Jr.; Foto 3: Adriano Gambarini – Pag.16: João Makray Edição: Isabela Santos Tradução e Revisão: Conceição Mello e Isabela Santos Editoração:
Jacqueline Gonçalves, Joice Tolentino e Guilherme Baroli
3_C_I_grandes_regioes.pdf
GRANDES REGIÕES NATURAIS
As Últimas Áreas Silvestres da Terra
Atualmente, a natureza sofre inúmeras
agressões, como o aquecimento global, a
destruição da camada de ozônio, a
degradação do solo e a poluição do ar e
da água. Diante do crescimento acelerado
das populações humanas, do consumo
desordenado dos recursos naturais e do
aumento da pobreza, o desenvolvimento
sustentável pode parecer um desafio
assustador. 
Nesse contexto, é difícil acreditar que
ainda existam lugares em nosso planeta
onde a natureza se encontra intocada.
Esta publicação traz uma nova visão
sobre as regiões ainda selvagens do
mundo e a importância de preservá-las.
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Biodiversidade é a soma de todas as
espécies, ecossistemas e processos ecológicos
que mantêm a vida na Terra. Sua perda, causa-
da principalmente pela ação do homem, é
irreversível. A Conservation International
(CI) trabalha para conservar a biodiversidade
e demonstrar que as sociedades humanas
podem viver em harmonia com a natureza. 
Para conservar eficientemente a biodi-
versidade é preciso definir prioridades e sele-
cionar áreas extremamente ricas, onde as
ações são mais urgentes. A CI adotou três
abordagens para definir prioridades globais de
conservação: os Países de Megadiversidade, os
Hotspots e as Grandes Regiões Naturais. 
O conceito de Países de Megadiversi-
dade, desenvolvido em 1988, por Russell
Mittermeier, Presidente da CI, identifica os
17 países mais ricos do mundo em biodiver-
sidade e que reúnem mais de 2/3 de todas as
espécies existentes no planeta. A abordagem
dos Hotspots, inicialmente desenvolvida pelo
ecologista Norman Myers e posteriormente
ampliada pela CI, reconhece as 25 regiões
biologicamente mais ricas e mais ameaçadas
do planeta.
A terceira abordagem adotada pela CI é
a das Grandes Regiões Naturais, elaborada por
Mittermeier em 1988. Esse conceito comple-
menta o dos Hotspots, pois, enquanto estes
representam regiões ricas em biodiversidade,
mas altamente degradadas, com mais de 70%
de sua vegetação original destruída, as Grandes
Regiões Naturais permanecem relativamente
conservadas, com alta biodiversidade e baixa
densidade populacional.
As Grandes Regiões Naturais têm impor-
tante papel na continuidade da vida na Terra.
Inicialmente, elas abrigam extensas amostras de
ambientes intactos, com suas faunas e floras
bem preservadas, com todos os seus
predadores, presas, parasitas e as complexas
relações que os unem. Além disso, elas tam-
bém oferecem inúmeros serviços ambientais,
ou seja, benefícios gerados pela natureza que
são essenciais à sociedade, como: a proteção de
recursos hídricos e do solo, os usos recreativos,
os valores culturais, a contribuição ao equi-
líbrio dos regimes climáticos, entre outros. O
valor econômico da polinização somente pelas
abelhas, por exemplo, está estimado em um
bilhão de dólares e o serviço de todas as espé-
cies polinizadoras no mundo é ainda maior. 
Em todas as três abordagens, o Brasil
aparece no topo das listas. Entre os países de
Megadiversidade, o Brasil se destaca como o
país mais rico do mundo em biodiversidade
terrestre. Apenas a Indonésia se compara ao
Brasil, em termos de biodiversidade mari-
nha. Dois ricos Hotspots são encontrados
em território brasileiro - a Mata Atlântica e o
Cerrado - sendo a Mata Atlântica encontrada
na lista das regiões mais ricas e ameaçadas do
mundo. O Brasil também contribui com três
das Grandes Regiões Naturais, a Amazônia, o
Pantanal e a Caatinga.
introdução
6 • CONSERVATION INTERNATIONAL
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DEFINIÇÃO
Há várias abordagens para identificar
as regiões naturais do planeta. O conceito
adotado pela Conservation International,
no estudo que reuniu mais de 200 cientistas
e durou dois anos, leva em consideração
critérios de tamanho, grau de preservação
dos ecossistemas, densidade populacional e
riqueza biológica. 
Para estar incluída na lista das 37
Grandes Regiões Naturais, é necessário que
a área seja uma unidade biogeográfica,
tendo que apresentar um conjunto único de
espécies e características ecológicas. Também
precisa ter mais de 10.000 km2 ou um mi-
lhão de hectares (ha) e densidade popula-
cional menor que cinco habitantes por km2.
Juntas as 37 regiões cobrem 54,6% da super-
fície terrestre do planeta e abrigam apenas
4,1% da população mundial. 
Em termos de riqueza biológica, uma
Grande Região
Natural deve abrigar pelo
menos 1.500 espécies de plantas vasculares
endêmicas, ou seja, espécies que ocorrem
exclusivamente em uma única região do
planeta. Também deve ter 70% ou mais de
sua vegetação ainda intacta, ou seja, sem
sinais de alteração significativa pela atividade
humana. 
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8 • CONSERVATION INTERNATIONAL
Dentre as vastas áreas com baixa densi-
dade populacional, algumas delas se desta-
cam pela imensa diversidade de espécies de
plantas e animais. A Amazônia, a ilha de
Nova Guiné e as florestas do Congo, na
África Central, são indiscutivelmente as
regiões mais ricas em biodiversidade, com
elevado número de espécies e alto grau de
endemismo. O estudo causou surpresa ao
indicar outras regiões muito ricas em biodi-
versidade, que não fazem parte desses grandes
blocos de floresta tropical. As florestas de
Miombo Mopane e pradarias do sul da
África, incluindo o Delta do Okavango, em
Botswana, e os desertos da América do Norte
completam a lista das Grandes Regiões
Naturais mais ricas do mundo. Todas estas
regiões possuem mais de 750.000 km2 e pelo
menos 1.500 espécies de plantas endêmicas. 
Considerando essas cinco regiões,
encontramos em apenas 11.830.099 km2
(6,1% da superfície terrestre), 51.340 espé-
cies de plantas endêmicas, ou 17,1% do total
mundial, e 2.265 ou 8% dos vertebrados ter-
restres endêmicos da Terra. Assim, elas
abrigam inúmeras espécies endêmicas, den-
tre elas: 552 espécies de répteis (6,2% do
total global), 662 espécies de aves (6,8%),
404 espécies de mamíferos (8,3%) e 647
espécies de anfíbios (12,9%). É uma espeta-
cular concentração de vida em uma porção
relativamente pequena do planeta. Por isso,
essas regiões são consideradas de altíssima
prioridade para a conservação da biodiversi-
dade. Comparativamente, as demais Grandes
Regiões Naturais detêm 4.880 plantas
endêmicas (1,6% do total), em 69,2 milhões
de km2, uma área seis vezes maior.
Estes números também mostram a
extrema importância dos Hotspots, alvo de
estudos semelhantes, divulgados pela CI em
1999. Os Hotspots ocupam apenas 1,4% 
da superfície da Terra e abrigam 44,5 % de
plantas endêmicas, o que corresponde a 81.809
espécies a mais que nas mais ricas das
Regiões Naturais. Também abrigam 7.380
espécies a mais de vertebrados endêmicos,
excluindo os peixes. 
Combinando as cinco mais ricas
Grandes Regiões Naturais e os 25 Hotspots,
temos em apenas 7,5% da superfície terrestre,
184.489 plantas vasculares endêmicas e 11.910
vertebrados terrestres endêmicos, respectiva-
mente 61,5% e 43% do total global. Assim,
uma estratégia mundial eficiente de proteção
da biodiversidade deve garantir simultanea-
mente a proteção das mais ricas Regiões
Naturais e dos Hotspots.
RIQUEZA BIOLÓGICA
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CONSERVAÇÃO
Apesar de abrigar tamanha riqueza
biológica, somente 7,4% da extensão total das
37 Grandes Regiões Naturais estão protegi-
das. Apesar de muitas delas não estarem sob
forte ameaça, outras começam a ser alteradas
pelas atividades humanas, especialmente as
florestas tropicais e as florestas boreais. 
O mundo ficaria chocado se o Museu
do Louvre em Paris, ou as pirâmides no
Egito, ou mesmo o Cristo Redentor, no Rio
de Janeiro, fossem destruídos. Mas poucos se
espantam ao ouvir que uma porção de floresta
em Madagascar ou na Amazônia foi des-
matada ou que a ararinha azul da Caatinga
desapareceu da natureza. Essas coisas aconte-
cem todos os dias e representam uma perda
irrecuperável para toda a humanidade.
Nossa sociedade precisa urgentemente
refletir sobre como essas regiões intocadas
serão ocupadas e exploradas no futuro próxi-
mo. Os modelos de desenvolvimento devem
incluir cuidados na instalação de indústrias
extrativistas, a adoção de práticas industriais
do mais alto padrão ambiental e a exclusão
de atividades altamente destrutivas, como
desmatamento e exploração de madeira, das
regiões de grande importância para a conser-
vação. A ênfase nessas regiões deve ser de
proteção, com investimentos na melhoria da
qualidade de vida das comunidades locais.
Alternativas econômicas devem incentivar o
ecoturismo, os produtos não madeireiros, o
pagamento por serviços ambientais e a
pesquisa científica. 
A Conservation International espera
que a identificação e a divulgação desse amplo
universo das Grandes Regiões Naturais, que o
nosso planeta ainda possui, tenha a capaci-
dade de mobilizar todos os esforços possíveis
para a sua conservação.
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amazôniaamazônia
A Amazônia está entre as maiores das
Grandes Regiões Naturais em área florestal,
apenas atrás das imensas florestas boreais da
Rússia, Canadá e Alasca, que se estendem por
dois continentes. Mas é sem dúvida a região
mais rica em biodiversidade tropical do pla-
neta. A Amazônia excede qualquer outra
região em todas as categorias para as quais
existem informações possíveis de serem com-
paradas, incluindo plantas vasculares, aves,
mamíferos, répteis, anfíbios e peixes.
Nos últimos 30 anos, partes da região
vêm sendo fortemente alteradas, com des-
taque ao sul da Amazônia Brasileira, onde 
o desmatamento avança rapidamente em
direção ao norte. Apesar disso, a vasta maio-
ria da Amazônia permanece intacta e ainda
oferece oportunidades únicas de conservação
da biodiversidade em grande escala. 
No total, a população da Amazônia
Brasileira é de 15.168.145 habitantes, dos quais
10.304.832 vivem em áreas urbanas. A popu-
lação rural representa, portanto, uma densi-
dade populacional de 1,1 habitante/ km2.
As definições sobre a extensão da
Amazônia podem variar consideravelmente.
Na visão das Grandes Regiões Naturais, a
Amazônia é composta pela vasta área de flo-
restas tropicais do norte da América do Sul,
incluindo as florestas das bacias do Rio
Amazonas e seus tributários, as florestas ao sul
e sudoeste da Bacia do Rio Orinoco e as flo-
resta das Guianas, cujos rios desembocam no
Atlântico. A definição oficial e política da
região no Brasil, conhecida por Amazônia
Legal, indica uma cobertura de 4.975.527 km2,
mas esse entendimento inclui cerca de
730.000 km2 de Cerrado e Pantanal, que estão
na porção sul da fronteira da floresta, o que
aumentaria consideravelmente a nossa inter-
pretação da Amazônia Brasileira, que é de
4.245.278 km2. Em sua extensão total e
dependendo dos limites aceitos, a Amazônia
cobre entre 6 e 7 milhões de km2 e é compar-
tilhada por nove países.
Dessa vasta porção de floresta, 80%
estão intactos. Entretanto, em países com
taxas populacionais muito baixas e com
pouca exploração da floresta, em especial no
Suriname e Guiana Francesa, a parte intocada
excede os 90%, ou seja, um nível de conser-
vação que não é encontrado em nenhuma
outra parte do mundo.
A Amazônia é uma região de superla-
tivos. Ela representa 53% de toda a cobertura
de floresta tropical da superfície do planeta,
estimada em 9,2 milhões
km2 e por 72% das
florestas tropicais que compõem as Grandes
12 • CONSERVATION INTERNATIONAL
amazônia
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Regiões Naturais, elaborado pela Conservation
International. Acima de tudo, a Amazônia
assume extrema importância no metabolismo
global, sendo responsável por 10% da pro-
dução primária terrestre.
Além de ser a maior floresta tropical do
mundo, a Amazônia concentra o mais com-
plexo sistema de rios da Terra. Até bem
pouco tempo, o Amazonas era considerado o
segundo maior rio do mundo em extensão,
atrás do Nilo. Agora, com a descoberta da
fonte do Amazonas, um pequeno riacho
chamado Carhauasanta, em Nevado Mismi,
uma montanha de 5.597m no sul dos Andes
Peruanos, talvez venha a se provar que o rio
Amazonas é o maior do mundo.
Os rios da região também promovem
espetáculos naturais impressionantes. É o caso
do Encontro das Águas, próximo à cidade de
Manaus, onde as águas escuras do Rio Negro
escoam para as correntes cristalinas do Rio
Amazonas, oferecendo um cenário de cores
por vários quilômetros.
A biogeografia da Amazônia também
é bastante complexa. Muitas das espécies
registradas na região têm uma distribuição
restrita, geralmente limitada pelos rios
maiores ou por tipos de vegetação e cursos
de água específicos. As comunidades florís-
ticas que ocorrem nas Guianas são bastante
distintas daquelas encontradas na parte mais
elevada do Amazonas, e a mesma obser-
vação pode ser feita para toda a região. A
busca por padrões biogeográficos movimenta
um contingente importante de cientistas
que identificam e caracterizam espécies da
flora e fauna na região. 
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14 • CONSERVATION INTERNATIONAL
A Amazônia é insuperável em sua bio-
diversidade. Estima-se que existam mais de 40
mil espécies de plantas vasculares - 30 mil
consideradas endêmicas - o que significa 10%
de todas as espécies da Terra.
Dos mamíferos da Amazônia, dois
grupos merecem destaque. Das 427 espécies
encontradas, 158 são de morcegos, o grupo
com o maior número de espécies descritas.
O grupo dos primatas também é muito
diverso e encontra sua maior concentração
global nas florestas baixas da Amazônia
Central e Ocidental. A região tem 81 espé-
cies de macacos, das quais 69 (85%) são
endêmicas. Pelo menos uma nova espécie é
descoberta a cada ano.
A diversidade de anfíbios também é
grande e como em muitas outras partes do
universo tropical, novos anfíbios devem ser
ainda descobertos na Amazônia à medida
que novas excursões de pesquisa vão sendo
conduzidas. Isso quer dizer que os números
descritos na Tabela 1 devem crescer drastica-
mente nos próximos anos.
A dimensão da bacia permite a existên-
cia de ecossistemas aquáticos de enorme com-
plexidade e variedade. As vastas áreas inun-
dadas da floresta contribuem para que a
Amazônia tenha a maior fauna de peixes de
água fresca do mundo, cerca de 30% de tudo
o que já foi descrito, o que corresponde a
3.000 espécies. Entretanto, as estimativas
indicam uma diversidade até três vezes maior.
Todas as expedições que estudam esse grupo
têm coletado novas espécies. Cerca de 450
espécies foram registradas somente no Rio
Negro. Mas há razões para acreditar que o 
verdadeiro número supere 700 espécies. Em
termos comparativos, temos 192 espécies
descritas em toda a Europa. 
Os invertebrados também são extrema-
mente diversos na Amazônia, mas a maior
parte deles permanece desconhecida da ciên-
cia. Por exemplo, 250 espécies de diplópodes,
que incluem os piolhos-de-cobra, já foram
descritas, mas estima-se a existência de 5 a 7
mil. Da mesma forma, 1.000 aranhas foram
descritas na Amazônia, mas as projeções
apontam entre 4 e 8 mil espécies. Borboletas
e abelhas são um pouco mais conhecidas e as
espécies amazônicas representam grandes
porcentagens do total global.
A Amazônia também tem extrema
importância por abrigar muitas espécies-ban-
deira. Espécies-bandeira são, em geral, muito
populares e carismáticas, simbolizam uma
região e, em razão de seu apelo público,
servem como importantes ferramentas para a
proteção do hábitat de várias outras formas
de plantas e animais. 
RIQUEZA BIOLÓGICA
ENDEMISMO
30.000
173
216
364
260
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DIVERSIDADE
40.000
427
378
427
1.294
3.000
Plantas
Mamíferos
Répteis
Anfíbios
Aves
Peixes
Tabela 1. Diversidade e Endemismo (número de espécies).
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Os macacos são as principais espécies-
bandeira da Amazônia. A diversidade vai do
pequeno sagüi-leãozinho e o recentemente
descoberto sagüi-anão, que pesam respectiva-
mente 120 e 150g, até o uacari e o macaco
aranha, que pode exceder os 7kg. Outras
importantes espécies bandeira, altamente
ameaçadas, são a ariranha e o peixe-boi da
Amazônia, ambos levados quase à extinção,
nas décadas de 60 e 70, pela caça comercial. 
Dentre as aves, o grupo mais importante
de espécie-bandeira é o das araras, papagaios e
seus parentes. Ao todo, são pelo menos 57
espécies amazônicas, das quais 20 endêmicas.
Outra espécie notável da Amazônia é o pira-
rucu, um dos maiores peixes de águas doce do
mundo, podendo alcançar 4,5m e 90kg, tendo
importância fundamental na pesca comercial
da região.
Além de abrigar um enorme grupo de
espécies-bandeira, a Amazônia é território de
culturas indígenas de enorme valor.
Lamentavelmente, estima-se que, somente
entre 1900 e 1957, mais de 80 tribos tenham
desaparecido. Muitas outras podem ter tido
destino semelhante durante a construção da
Transamazônica e outros projetos de desen-
volvimento de infra-estrutura. No Brasil,
restam agora 206 grupos indígenas documen-
tados. A maioria está na Amazônia – 170 tri-
bos, cuja população vive em reservas que con-
gregam 180.000 índios. Dentre eles, um terço
apresentam uma população inferior a 200
indivíduos. Os famosos Kayapós, na porção
sul da Amazônia, não contam mais que 6.000
índios. Os Macuxi, os Guajajara, os Terena, os
Kaingang e os Ticuna têm entre 10 e 30 mil
indivíduos e estão entre os maiores grupos.
Além dos grupos descritos, devem existir pelo
menos 50 outros grupos não contabilizados,
ainda que a FUNAI tenha conhecimento de
apenas 12.
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16 • CONSERVATION INTERNATIONAL
AMEAÇAS
As ameaças à Amazônia são propor-
cionais à sua extensão. Considerados todos os
fatores, o desmatamento continua sendo o
pior deles. Estimativas indicam que os índices
anuais de desmatamento foram, entre 1975 e
1978, de 1,5% do território. Em 1995, o
recorde de 29.059 km2 de floresta destruída.
Entre agosto de 1999 e agosto de 2000,
19.836 km2 foram desmatados. Isso indica
uma perda de cerca de 20% de toda a floresta
amazônica brasileira. Grande parte desse
desastroso cenário se encontra nos estados de
Rondônia (resultado do programa de colo-
nização denominado Polonoroeste, nos anos
80), no leste do Acre, no norte do Mato
Grosso e no sul do Pará. Em 1998, o desmata-
mento destruiu 69% das florestas
do estado do
Maranhão, 87% do estado do Tocantins, 16%
das florestas do Pará e um quarto das florestas
de Rondônia e Mato Grosso.
A história do desmatamento amazônico
não é diferente daquela de outras florestas
tropicais. Interesses nacionais e multinacionais
têm extraído extensivamente a madeira nas
últimas décadas. Altos investimentos (mais de
US$300 milhões, somente em 1996) foram
realizados por corporações estrangeiras, in-
cluindo a compra de vários milhões de hectares
de terra. O mogno é o maior alvo, devido ao
seu alto valor comercial, mas é apenas uma
dentre as várias espécies de madeira exploradas
na região. Em áreas de exploração intensiva de
madeira, vastas áreas de florestas acabaram
sendo convertidas em zonas agrícolas ou desti-
nadas a outros usos.
A atividade agrícola parece permanecer
em baixa escala, associada principalmente a
frutas e vegetais locais. Mais recentemente,
programas do governo federal (por exemplo,
Avança Brasil) incentivaram a introdução da
soja em larga escala na região. Infelizmente, o
grão tem um potencial tremendo de causar
prejuízos. Seus efeitos já são bastante co-
nhecidos no Cerrado, pois grandes áreas
foram convertidas em plantações e poucas
áreas naturais foram mantidas, levando esta
região a se tornar um Hotspot. 
A Amazônia também tem importantes
reservas minerais: cobre, chumbo, ouro,
estanho, magnésio, bauxita, níquel e prata. A
região dos Carajás, na porção leste da
Amazônia Brasileira, é considerada uma das
áreas minerais mais importantes da Terra. O
petróleo e o gás natural também têm sido
bastante explorados recentemente. Junto com
a mineração, a área alterada pela extração e
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escoamento pode ser pequena, mas a infra-
estrutura requerida para dar apoio a essas
atividades envolve a construção de estra-
das, o que inevitavelmente abre caminho
para madeireiros, garimpeiros e coloni-
zadores.
A Amazônia também vem sendo con-
siderada como uma área de alto potencial
hidrelétrico. Entretanto, dadas as baixas
diferenças de elevação de seus rios, a área
que precisa ser inundada para justificar a
geração de energia é sempre imensa. A
Represa de Tucuruí, a maior já construída
em uma floresta tropical, emite, anualmente,
a mesma quantidade de gases que as indús-
trias de automóveis da cidade de São Paulo.
A diversidade de peixes foi reduzida a 50% e
a área de floresta foi bastante modificada.
Recentemente, o Governo Brasileiro anun-
ciou novos planos de construção de seis
grandes represas no Rio Tocantins, e duas
outras represas nos Rios Araguaia e Xingu.
A caça de animais silvestres e a pesca,
tanto para propósitos de subsistência quanto
para fins comerciais ou ornamentais é uma
outra ameaça na região. Mesmo níveis
modestos de caça provaram ter impactos sig-
nificativos na biodiversidade, sobretudo
quando associado à perda e à fragmentação
da floresta.
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CONSERVAÇÃO
O Workshop de Áreas Prioritárias para
Conservação da Amazônia, organizado pela
CI e seus parceiros em 1990, em Manaus, foi
o primeiro esforço para estabelecer priori-
dades de conservação para a Amazônia.
Com o sucesso desta iniciativa, vários work-
shops foram realizados, contribuindo para o
planejamento do desenvolvimento da região. 
As áreas protegidas são fundamentais
na manutenção da biodiversidade da
Amazônia - com particular ênfase às áreas de
proteção integral, como os parques nacionais
e as reservas biológicas. Assim como o Brasil
possui a maior parte da Amazônia em seu
território, o país também apresenta a mais
ampla rede de unidades de conservação. Isso
inclui o Parque Nacional das Montanhas 
do Tumucumaque, criado em 2002, e que
protege 3.870.000ha no estado do Amapá,
sendo a maior área protegida do mundo.
As 397 Áreas e Reservas Indígenas
contabilizam 103.396.964 ha, ou 24,4% da
Amazônia Brasileira. A extensão dessas
reservas indígenas mostra a importância
dos índios para a conservação da floresta.
Os povos indígenas têm tido sucesso na pre-
venção da destruição das florestas, e muitos
deles estão solicitando apoio para o desen-
volvimento de novas estratégias de uso sus-
tentável dos produtos da floresta. Os índios
Kayapós, no sul do Pará, são um bom exem-
plo. A comunidade indígena dos Kayapós
controla cerca de 13 milhões de ha de flo-
resta e de Cerrado e estão conseguindo
excluir fazendas, madeireiros e de projetos
hidrelétricos de suas terras.
Felizmente, a Amazônia é uma região
onde oportunidades de conservação em
grande escala ainda existem. Agora é o
momento de agir e garantir que a exuberân-
cia biológica da região, a diversidade de
seus povos indígenas e os muitos serviços
essenciais que ela nos presta sejam manti-
dos para as futuras gerações.
O Workshop de Áreas Prioritárias para
Conservação da Amazônia, organizado pela
CI e seus parceiros em 1990, em Manaus, foi
o primeiro esforço para estabelecer priori-
dades de conservação para a Amazônia.
Com o sucesso desta iniciativa, vários work-
shops foram realizados, contribuindo para o
planejamento do desenvolvimento da região. 
As áreas protegidas são fundamentais
na manutenção da biodiversidade da
Amazônia - com particular ênfase às áreas de
proteção integral, como os parques nacionais
e as reservas biológicas. Assim como o Brasil
possui a maior parte da Amazônia em seu
território, o país também apresenta a mais
ampla rede de unidades de conservação. Isso
inclui o Parque Nacional das Montanhas 
do Tumucumaque, criado em 2002, e que
protege 3.870.000ha no estado do Amapá,
sendo a maior área protegida do mundo.
As 397 Áreas e Reservas Indígenas
contabilizam 103.396.964 ha, ou 24,4% da
Amazônia Brasileira. A extensão dessas
reservas indígenas mostra a importância
dos índios para a conservação da floresta.
Os povos indígenas têm tido sucesso na pre-
venção da destruição das florestas, e muitos
deles estão solicitando apoio para o desen-
volvimento de novas estratégias de uso sus-
tentável dos produtos da floresta. Os índios
Kayapós, no sul do Pará, são um bom exem-
plo. A comunidade indígena dos Kayapós
controla cerca de 13 milhões de ha de flo-
resta e de Cerrado e estão conseguindo
excluir fazendas, madeireiros e de projetos
hidrelétricos de suas terras.
Felizmente, a Amazônia é uma região
onde oportunidades de conservação em
grande escala ainda existem. Agora é o
momento de agir e garantir que a exuberân-
cia biológica da região, a diversidade de
seus povos indígenas e os muitos serviços
essenciais que ela nos presta sejam manti-
dos para as futuras gerações.
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22 • CONSERVATION INTERNATIONAL
O Pantanal é a mais vasta planície
inundável do mundo, com 210.000 km2, e
hábitat de uma das mais espetaculares con-
centrações de vida silvestre da Terra. Entre as
37 Regiões Naturais, ainda encontramos ou-
tras duas planícies inundáveis, o Delta do
Okavango, em Botswana e o Pântano Sudd
no Sudão, ambas com dimensões bastante
inferiores às do Pantanal.
Estendendo-se tanto por terras brasi-
leiras como, em menor extensão, por terras
bolivianas e paraguaias, o Pantanal caracteriza-
se por seu regime de águas (de secas e cheias),
ficando inundado por vários meses. A maior
parte da água que cobre o Pantanal perio-
dicamente vem de grandes rios, como o
Paraguai, e de seus afluentes,
como os rios
Cuiabá, Aquidauana, Miranda e Negro. Mas,
nem toda a água corre nos grandes rios. Na
Nhecolância, por exemplo, na porção sul do
Pantanal, encontramos um magnífico sistema
de baias (água doce) e salinas (água salobra),
famosas pela beleza das paisagens que criam.
Grandes extensões do Pantanal ainda se
encontram inabitadas ou com baixíssima
ocupação e em excelentes condições de con-
servação. Estima-se que 80% do Pantanal
abriguem incrível riqueza de fauna e flora. 
O Pantanal é uma das melhores áreas 
do mundo para a observação de animais 
selvagens, comparável às savanas africanas em
concentração de grandes aves, mamíferos e
répteis. Um verdadeiro paraíso para ecoturis-
tas. Apesar disso, a região não tem espécies
endêmicas para esses grupos, pois, compartilha
a maior parte de suas espécies com as regiões
vizinhas, como o Cerrado e a Amazônia. Mas,
os pesquisadores continuam descobrindo
novas espécies no Pantanal, como demons-
traram duas expedições científicas organizadas
pela CI-Brasil nos últimos anos.
Os peixes de água doce são bastante
diversos, com novas espécies sendo descober-
tas constantemente. Até o momento, foram
registradas 325 espécies de peixes no Pantanal
e, diferentemente de outros grupos, a região
apresenta endemismos para peixes. Já foram
identificadas 15 endêmicas. A maior parte é
encontrada apenas nas cabeceiras dos tribu-
tários do Rio Paraguai.
Em termos de vegetação, a diversidade
encontrada no Pantanal é consideravelmente
alta e depende, sobretudo do tipo de solo, grau
pantanal
Plantas
Mamíferos
Répteis
Anfíbios
Aves
Peixes
DIVERSIDADE
3.500
124
177
41
423
325
ENDEMISMO
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0
0
0
0
15
Tabela 2. Diversidade e Endemismo 
(número de espécies)
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de inundação e topografia. Os elementos
florísticos são compartilhados com
regiões vizinhas. Nas áreas inundadas, as
espécies do Cerrado prevalecem; mais ao
norte, espécies amazônicas são as mais
encontradas; em áreas mais secas e altas,
há espécies do Chaco paraguaio ou
mesmo da Caatinga.
Suas espécies bandeiras são conheci-
das e admiradas. A mais famosa é a onça
pintada, que corre grande perigo por
causa da caça indiscriminada. A CI-Brasil
apóia o recém criado Fundo para
Proteção das Onças Pintadas, que com-
pensa financeiramente os fazendeiros que
tenham cabeças de gado abatidas pelas
onças. Esses proprietários, em contra-
partida, se comprometem a coibir a caça
de onças e permitem pesquisas científicas
em suas propriedades. Com o crescimento
do ecoturismo, muitos fazendeiros tam-
bém começam a valorizar a presença
dessa espécie, frequentemente procurada
pelos visitantes.
Outras importantes espécies-bandeira
são encontradas, como o lobo-guará, a
anta, o tamanduá-bandeira e o jacaré. 
As aves têm especial destaque na fauna
pantaneira, por sua abundância e beleza.
No Pantanal, encontramos grandes popu-
lações de aves imponentes. A arara-azul,
por exemplo, é maior espécie entre as
araras. Cerca de 5.000 indivíduos vivem no
Pantanal, sendo essa a região de maior
concentração da família no país. O tuiuiú 
é outra magnífica ave encontrada com 
freqüência na região e reconhecida como
ave símbolo do Pantanal. Centenas de
maguaris, colheireiros, garças brancas,
garças reais, biguás, entre outras espécies,
concentram-se em grandes ninhais, que são
locais de procriação comunitários e que
oferecem um belo espetáculo para visi-
tantes de todo mundo.
de inundação e topografia. Os elementos
florísticos são compartilhados com
regiões vizinhas. Nas áreas inundadas, as
espécies do Cerrado prevalecem; mais ao
norte, espécies amazônicas são as mais
encontradas; em áreas mais secas e altas,
há espécies do Chaco paraguaio ou
mesmo da Caatinga.
Suas espécies bandeiras são conheci-
das e admiradas. A mais famosa é a onça
pintada, que corre grande perigo por
causa da caça indiscriminada. A CI-Brasil
apóia o recém criado Fundo para
Proteção das Onças Pintadas, que com-
pensa financeiramente os fazendeiros que
tenham cabeças de gado abatidas pelas
onças. Esses proprietários, em contra-
partida, se comprometem a coibir a caça
de onças e permitem pesquisas científicas
em suas propriedades. Com o crescimento
do ecoturismo, muitos fazendeiros tam-
bém começam a valorizar a presença
dessa espécie, frequentemente procurada
pelos visitantes.
Outras importantes espécies-bandeira
são encontradas, como o lobo-guará, a
anta, o tamanduá-bandeira e o jacaré. 
As aves têm especial destaque na fauna
pantaneira, por sua abundância e beleza.
No Pantanal, encontramos grandes popu-
lações de aves imponentes. A arara-azul,
por exemplo, é maior espécie entre as
araras. Cerca de 5.000 indivíduos vivem no
Pantanal, sendo essa a região de maior
concentração da família no país. O tuiuiú 
é outra magnífica ave encontrada com 
freqüência na região e reconhecida como
ave símbolo do Pantanal. Centenas de
maguaris, colheireiros, garças brancas,
garças reais, biguás, entre outras espécies,
concentram-se em grandes ninhais, que são
locais de procriação comunitários e que
oferecem um belo espetáculo para visi-
tantes de todo mundo.
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24 • CONSERVATION INTERNATIONAL
AMEAÇA À BIODIVERSIDADE
A principal atividade econômica da
região é a criação extensiva de gado. O modelo
tradicional adotado pelos pantaneiros é bem
menos destrutivo que na Amazônia e man-
tém-se em relativo equilíbrio com a natureza.
Entre-tanto, o desmatamento, as queimadas e a
conversão de florestas em pastagens nas últimas
décadas é ainda a maior ameaça ao Pantanal,
sobretudo nas bordas onde áreas têm sido
abertas para criação mais intensiva de gado.
A pesca sem controle é outro grande
problema na região. Espécies como o pacu e
o jaú, muito apreciadas pelos pescadores, já
são raras em alguns lugares e estão ameaçadas.
A agricultura e a mineração, em geral concen-
tradas nas áreas mais altas que circundam o
Pantanal, também trazem prejuízos. O Rio
Taquari, por exemplo, que tem suas nascentes
no Cerrado, sofre sérios problemas de quali-
dade de água devido à erosão do solo e à
poluição causadas por essas atividades. 
Algumas ameaças, mesmo que ainda
potenciais, também são preocupantes. A
maior delas é o projeto de construção de uma
hidrovia, que prevê a drenagem e a mudança
de curso do Rio Paraguai para permitir a pas-
sagem de navios pelo Pantanal. Em 1995, 
a CI-Brasil produziu o vídeo "Vozes do
Pantanal" e contribuiu para um amplo debate
a respeito dessa obra de infra-estrutura entre
vários setores da sociedade. Apesar do projeto
original ter sido abandonado, a idéia de inter-
ferir no curso do rio ainda existe e pode tra-
zer sérios prejuízos à região.
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CONSERVAÇÃO
O Pantanal é realmente um ecossistema
especial no Brasil, pois suas atividades
econômicas ainda não tiveram um impacto
altamente destrutivo em seus hábitats. Para con-
duzir um planejamento adequado e continuar
a desenvolver a região sem afetar sua biodiver-
sidade, a CI-Brasil e seus parceiros lideraram,
em 1998, o Workshop de Áreas Prioritárias
para
a Conservação do Cerrado e Pantanal dentro
do Programa Nacional de Biodiversidade do
Ministério do Meio Ambiente. 
Os estudos e recomendações dos mais
de 200 cientistas que participaram da iniciativa,
resultaram numa estratégia para proteger 
a maior diversidade de hábitats e espécies
com a implementação de corredores ecológi-
cos, que combinam unidades de conservação
públicas, reservas privadas e áreas produtivas.
A CI-Brasil vem desde então trabalhando
para implementar corredores ecológicos nos
Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul e Goiás em parceria com os governos
locais e outras ONGs.
Até 1990, os parques e reservas cobriam
somente 0,6% do Pantanal, ou cerca de
146.000 ha. Nos últimos três anos, novos par-
ques criados apenas no Estado de Mato
Grosso do Sul, duplicaram a extensão das
áreas protegidas no Pantanal. Entre essas
áreas encontramos os Parques Estaduais do
Rio Negro e das Nascentes do Taquari e o
Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A
CI-Brasil colaborou com os governos locais
em todas essas iniciativas. 
Paralelamente, um grande esforço tem
sido feito para criar reservas privadas. Hoje, já
existem treze Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (RPPN) no Pantanal, que
protegem mais de 200.000 ha. Uma dessas
RPPNs é a Fazenda Rio Negro, adquirida
pela CI-Brasil com o apoio da família Moore
em 1999. Conhecida por ter sido uma das
principais locações da novela Pantanal, a
Fazenda Rio Negro é um empreendimento
de ecoturismo associado ao apoio à pesquisa
e ações de conservação da biodiversidade.
Em parceria com o Earthwatch Institute, a
CI-Brasil criou o Centro de Pesquisa para
Conservação, que recebe, na Fazenda Rio
Negro, pesquisadores voluntários de todo 
o mundo para estudar os ecossistemas da
região e entender a importância de protegê-los.
Um programa de bolsas permite que estu-
dantes e professores também participem da
experiência. 
Incentivando a discussão de um modelo
para o ecoturismo no Pantanal e a organização
do setor, a CI-Brasil apoiou em 2001 a criação
da Associação de Pousadas Pantaneiras
(APPAN) que hoje reúne 12 pousadas loca-
lizadas tanto na borda quanto na zona central
do Pantanal.
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28 • CONSERVATION INTERNATIONAL
A Caatinga é uma surpreendente exce-
ção às paisagens da América do Sul, uma
região semi-árida única, cercada por outros
ecossistemas florestais. O clima extremo e
imprevisível da Caatinga exige que plantas e
animais estejam adaptados a longos períodos
de seca e também a enchentes. Sua flora não é
tão rica quanto a das regiões que a circundam,
mas tem alto grau de endemismo, incluindo
cactos, bromélias e plantas arbustivas. A fauna
apresenta poucos vertebrados endêmicos. O
que chama a atenção é que tanto a flora como
a fauna são pouco conhecidas. Ainda há que
se fazer um grande investimento em pesquisa
para que se entenda esse bioma especial. A
Caatinga ocupa aproximadamente 735.000
km2 , ficando atrás da Amazônia, Cerrado e
Mata Atlântica em extensão.
As espécies-bandeira mais importantes
da região são duas araras altamente ameaçadas.
A arara-de-lear é uma ave singular, parecida
com a arara-azul, só que menor e com tonali-
dade mais clara. Somente 150 indivíduos são
encontrados na natureza, onde os esforços da
Fundação Biodiversitas têm contribuído para a
proteção da espécie no Raso da Catarina, no
estado da Bahia. 
A outra espécie bandeira da Caatinga é
a ararinha-azul, uma das mais ameaçadas aves
do mundo e possivelmente já extinta na
natureza. Por mais de uma década, essa espécie
foi representada por um único indivíduo 
que habitava o município de Curaçá, na
Bahia. Entretanto, não foi mais visto desde
outubro de 2000. Uma perda inestimável
para a biodiversidade mundial. 
Dentre as plantas que simbolizam 
a região, podemos citar o mandacaru. É 
um cacto endêmico e a única planta que 
permanece verde durante os períodos de 
seca mais intensa. Essa espécie compõe uma
vegetação que resulta de muitos séculos de
ocupação humana e pastagem. Por volta de
1700, mais de um milhão de cabeças de gado
eram criadas no sertão nordestino para
abastecer a população que trabalhava na zona
costeira com cana-de-açúcar. 
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Aves
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96
41
348
325
ENDEMISMO
180
2
24
0
46
0
Tabela 3. Diversidade e Endemismo
(número de espécies)
A expansão da agricultura, em especial
no vale do Rio São Francisco, é uma das prin-
cipais ameaças à Caatinga. Os períodos de seca
inviabilizam a agricultura em boa parte da
região e a criação de gado e de cabras causa um
impacto bastante intenso à frágil vegetação não
adaptada ao pastoreio. Queimadas também são
constantemente praticadas para limpar o ter-
reno para a criação de gado e freqüentemente
atingem áreas protegidas. Esses fatores são
intensificados pela pobreza, pela desigualdade
da divisão das terras e pelo clima semi-árido. 
A situação extrema na região dificulta a
conservação da biodiversidade e a Caatinga
tem recebido pouca atenção em relação à 
proteção de suas riquezas naturais. Há vários
pequenos parques e reservas que protegem a
paisagem do sertão nordestino, mas a região
ainda é pouco representada no sistema
nacional de unidades de conservação. As 22
unidades de conservação públicas protegem
somente 2,9% da Caatinga.
As unidades de conservação mais repre-
sentativas são o Parque Nacional da Chapada
Diamantina e a Reserva Biológica do Raso da
Catarina, no estado da Bahia, e o Parque
Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.
Somando-se as áreas protegidas públicas, as
RPPNs e as unidades de conservação em
processo de criação, cerca de 4,8% da
Caatinga está sob algum tipo de proteção. 
Para coordenar esforços e aumentar a
eficiência das ações de conservação, um
consórcio de instituições organizou recente-
mente o Workshop de Áreas Prioritárias
para Conservação da Caatinga, realizado
em 2000 em Petrolina. Essa iniciativa ofe-
receu a base científica e uma boa dose de
motivação para que as ações de conservação
sejam expandidas no sertão brasileiro. 
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