Buscar

A comercialização do crime por parte da mídia e a influência deste fenômeno no processo penal brasileiro.

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 69 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 69 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 69 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
EDUARDO ROBERTO BISCARO 
 
 
 
 
A COMERCIALIZAÇÃO DO CRIME POR PARTE DA MÍDIA E A INFLUÊNCIA 
DESTE FENÔMENO NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caxias do Sul 
2015 
 
 
 
EDUARDO ROBERTO BISCARO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A COMERCIALIZAÇÃO DO CRIME POR PARTE DA MÍDIA E A INFLUÊNCIA 
DESTE FENÔMENO NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caxias do Sul 
2015
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado no curso de Direito da 
Universidade de Caxias do Sul, como 
requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Prof.ª Gisele Mendes 
Pereira 
 
 
EDUARDO ROBERTO BISCARO 
 
 
 
 
 
 
A COMERCIALIZAÇÃO DO CRIME POR PARTE DA MÍDIA E A INFLUÊNCIA 
DESTE FENÔMENO NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovado em 23/ 06/ 2015 
 
 
Banca Examinadora: 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Gisele Mendes Pereira (orientadora) 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Glenda Biotto 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Cláudia Hansel 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado no curso de Direito da 
Universidade de Caxias do Sul, como 
requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Prof.ª Gisele Mendes 
Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus e a toda 
a minha família, afinal, foram neles 
que busquei força e o apoio 
necessário para chegar até aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o 
certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado.” 
Theodore Roosevelt 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho buscou demonstrar a existência do fenômeno da 
comercialização do crime por parte da imprensa e a consequente influência deste na 
sociedade e no processo penal propriamente dito. Apresentou um estudo acerca da 
evolução da mídia e os mecanismos utilizados na formação de opinião pública, bem 
como, os princípios constitucionais em choque ante a essa nova realidade. 
Evidenciou-se as questões relacionadas a manipulação das notícias, a influência 
destas no processo penal como um todo e no procedimento do Júri, abordando, ao 
final, o problema das decisões de consciência. 
 
Palavras-chave: mídia – processo penal – constituição – influência – consciência.
 
 
ABSTRACT 
 
This study aimed to prove the crime marketing phenomenon from the press and the 
consequent influence of this society and the criminal trial. Presented a study on the 
evolution of the media and the mechanisms used in the formation of public opinion, 
as well as the constitutional principles in shock at this new reality. It showed up the 
issues related to manipulation of the news, their influence in the criminal process as 
a whole and the jury procedure, addressing the end, the problem of conscience 
decisions. 
 
Keywords: Media - Criminal proceedings - Constitution - influence - conscience.
 
 
SUMÁRIO 
 
1. MÍDIA: HISTORICIDADE E FATOS RELEVANTES .......................................... 12 
1.1 Origem e evolução histórica ............................................................................ 12 
1.2 Teorias midiáticas ........................................................................................ 17 
1.3 O poder de formação de opinião .................................................................. 21 
1.4 Comunicar x informar ................................................................................... 24 
2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA E OS PRINCÍPIOS 
FUNDAMENTAIS ...................................................................................................... 28 
2.1 Liberdade de expressão ................................................................................... 28 
2.2 Acesso a informação ........................................................................................ 31 
2.3 Presunção de inocência ................................................................................... 35 
2.4 Direito a intimidade....................................................................................... 38 
3. MÍDIA E PROCESSO PENAL ............................................................................ 41 
3.1 O fenômeno da comercialização do crime e a manipulação das notícias .... 41 
3.2 A influência da mídia nas decisões .............................................................. 47 
3.3 Mídia e o Tribunal do Júri ............................................................................. 52 
3.4 O problema das decisões de consciência .................................................... 55 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 60 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 64 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho possui por escopo evidenciar a influência que os meios 
de comunicação exercem sobre a população em geral, bem como, sobre o processo 
penal brasileiro propriamente dito, dando causa ao surgimento do fenômeno da 
comercialização do crime, por meio das notícias veiculadas nesses meios. 
O avanço da tecnologia da informação contribuiu e continua contribuindo 
para que, cada vez mais, a população tenha acesso imediato a notícias publicadas 
pelos veículos midiáticos, sendo esta uma característica da era da comunicação de 
massa em que vivemos. 
Ocorre que, o interesse da sociedade e da mídia tem se voltado aos crimes 
de comoção social, de forma que, junto com a ampla divulgação, surgem inúmeros 
problemas que a acompanham, dentre eles, a vinculação de notícias tendenciosas e 
sensacionalistas, criadas na intenção de auferir lucro ao meio que a divulga, 
produzindo no seio da sociedade os mais diversos efeitos, especialmente, a 
sensação de insegurança, vingança social e a influência nas decisões judiciais, 
corroborando a um intenso choque entre os preceitos previstos da Carta Magna. 
Inicia-se o presente estudo com uma análise acerca da historicidade da 
mídia, assim como, dos fatos relevantes que a tornaram o chamado “Quarto Poder”. 
Este momento é marcado por uma análise da evolução do jornalismo, desde o 
surgimento da escrita, das primeiras impressões, até a revolução da internet e da 
comunicação em tempo real. Ainda neste sentido, traça-se uma análise a respeito 
das principais teorias midiáticas, as quais, apesar de antigas, revelam-se muito 
utilizadas até os dias atuais, uma vez que é a partir delas que se criam os 
mecanismos de persuasão e convencimento do público receptor. 
Além disso, ponto que se destaca (e que não poderia deixar de ser 
abordado) trata do poder inerente à mídia de formação de opinião pública, a qual, 
diga-se, somente é possível graças às teorias utilizadas no momento de criação das 
notícias, no sentido de torná-las mais atraentes aos olhos do público. Nesta seara, 
surge o problema das notícias tendenciosas, que ultrapassam o limite da formação 
de opinião, a partir da extrapolação da neutralidade e/ou imparcialidade, impondo 
que os receptoresassumam, obrigatoriamente, uma determinada posição que lhes é 
imposta. 
10 
 
Neste ínterim, diante das inúmeras alterações ocorridas no âmbito na 
comunicação, e, justamente, por vivermos na Sociedade da Massa, realiza-se uma 
análise no que diz respeito das principais diferenças nos conceitos de informar e 
comunicar, fundamentais à evolução do senso crítico da sociedade. 
O segundo capítulo do presente trabalho, por sua vez, de uma forma ampla 
e atual, tem por objetivo traçar alguns apontamentos a respeito da Constituição 
Federal da República e os princípios fundamentais nela elencados. 
No ponto em questão, inicia-se com uma análise do Princípio da Liberdade 
de Expressão, decorrente de uma grande luta histórica o qual veio a favorecer não 
só a mídia, mas a sociedade como um todo, objetivando o exercício da democracia. 
Em seguida, trata-se do princípio do Acesso a Informação, levando sempre em 
conta os cuidados necessários à sua aplicação, sempre nos limites da 
proporcionalidade e da razoabilidade. 
Os pontos seguintes, ainda no tocante ao segundo capítulo, são de 
fundamental importância, notadamente, pelo assunto principal estudado no presente 
trabalho. Trata-se do princípio da Presunção de Inocência, muitas vezes ignorado 
diante da veiculação de determinadas notícias, principalmente nos casos de 
comoção social, assim como, o princípio do Direito a Intimidade, com toda a questão 
da privacidade e violação da vida privada que o mesmo abrange. 
O último ponto a ser estudado, trata especificamente da mídia e processo 
penal. Inicia-se o referido capítulo com o item que explica o título do presente 
estudo, qual seja “A comercialização do crime por parte da mídia e a influência deste 
fenômeno no processo penal brasileiro”, isto a partir da manipulação das notícias. 
Resta demonstrado que a área de maior desenvolvimento comercial e industrial da 
atualidade corresponde à área da comunicação, de forma que a mídia tem ocupado 
cada vez mais um papel importantíssimo perante a sociedade, uma vez que, goza 
de credibilidade naquilo que noticia. 
Com efeito, nos últimos tempos, ante ao interesse da sociedade pelos 
crimes de comoção social, a mídia tem se esforçado para transformar o devido 
processo legal em um verdadeiro espetáculo, transformando o mesmo no que se 
chama de “devido processo midiático”. Como se não bastasse, este espetáculo 
protagonizado inclusive por autoridades judiciárias, acaba por despertar na 
sociedade uma sensação de insegurança, que supostamente, apenas será corrigida 
11 
 
com a prisão de todos os criminosos, sendo que o problema é muito mais amplo que 
isto, dado causa ao fenômeno do que se chama de “vingança social”. 
Um segundo tópico neste capítulo, trata da influência da mídia no processo 
penal propriamente dito, isto é, a partir da pressão que surge no seio da sociedade, 
até mesmo o andamento do processo se da de forma diferenciada, afinal, é de 
conhecimento de todos o problema da morosidade no judiciário. 
O tópico seguinte complementa a questão da influência no processo, mas 
trata especificamente do procedimento do Júri, onde a principal questão discutida é 
da possibilidade de não haver um julgamento imparcial, tendo em vista que se os 
próprios juízes podem ser influenciados, os integrantes sorteados para integrarem o 
conselho de sentença estão muito mais suscetíveis a esta influência, justamente, por 
serem pessoas leigas as quais fazem parte da sociedade, isto é, surge a questão do 
pré-julgamento por parte da mídia. 
Por fim, realiza-se um estudo sobre o problema das decisões de 
consciência, especificamente no tocante à substituição da fundamentação das 
decisões, requisito indispensável previsto constitucionalmente, cuja ausência implica 
em nulidade da decisão. 
Trata-se de uma questão muito delicada, tendo em vista as diversas 
questões envolvidas, principalmente a função social do juiz. Nesta seara, temos nos 
deparados com decisões ausentes de fundamentação as quais revelam o 
sentimento de descrença e insatisfação do próprio magistrado para com a justiça 
brasileira, revelando que os julgamentos de consciência revelam um problema muito 
maior do que o descumprimento de um preceito constitucional. 
 
12 
 
1. MÍDIA: HISTORICIDADE E FATOS RELEVANTES 
 
1.1 Origem e evolução histórica 
 
 Bem se sabe que antes de analisar-se o papel que a mídia desenvolve 
atualmente sob os indivíduos, precisamos ter o mínimo de conhecimento sobre sua 
origem e evolução histórica. 
A oralidade é considerada a primeira mídia da história. Desde os primórdios, 
“parece que o homem conseguiu um idioma verbal, se bem que este, só por si, 
nunca tenha existido: fala-se com os olhos, com os gestos, com o corpo, com as 
posturas e, principalmente, com o tom e a emoção.”1 
De acordo com Bill Kovach e Tom Rosenstiel, que escreveram o livro 
intitulado sob Os elementos do jornalismo, os relatos orais devem ser tidos como 
uma espécie de pré-jornalismo. Ainda segundo eles, na medida em que há mais 
democracia em uma sociedade, a disposição de notícias e informações irá 
aumentar. Este fato é comparado com a democracia de Atenas, onde a estrutura 
girava em torno de um jornalismo oral, e no mercado ateniense, onde basicamente 
tudo que era atrativo ao público ficava ao ar livre.2 
É fato notório que a oralidade foi desde o início – e continua sendo – uma 
arma bastante poderosa. A própria Igreja Católica ao longo da história utilizou-se 
muito da retórica, afinal, influenciavam até os reis e rainhas de épocas passadas, 
tendo plena consciência do poder que exerciam sobre a população em geral. 
A escrita se propagou pelo mundo. O alfabeto trouxe ao homem uma 
maneira inovadora de se comunicar, alterando, inclusive, o seu modo de pensar. 
Inicialmente, as tábuas de ferro sumérias em nada favoreciam o fluxo de informação. 
Houve também o período das tábuas de madeira, bambu fundido, marfim e até 
pétalas de flores, mas foram os egípcios que revolucionaram todas as perspectivas 
até então existentes com a utilização do papiro.3 
O primeiro registro de invenção de uma prensa gráfica ocorreu por volta do 
ano de 1450, na Europa. Seu criador, Johann Guternberg de Mainz, vivia em uma 
região banhada pelo Rio Reno, provavelmente inspirando-se nas prensas de vinho 
 
1
 TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Unisinos, 2001. p. 172. 
2
 Id. p. 177. 
3
 PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013. p. 27. 
13 
 
até então existentes naquela região.4 É importante destacar que este período 
antecedeu a chamada “era moderna”, mais especificamente, de 1450 até 1789, 
podendo dizer que inicia com a “revolução da prensa gráfica” até as Revolução 
Francesa e Revolução Industrial. 
Mas, de acordo com Felipe Pena, 
 
[...] apesar da fama de Gutemberg, seus verdadeiros criadores foram os 
chineses. O primeiro livro impresso conhecido é do ano 868 e a invenção do 
tipo móvel foi aproximadamente em 1040. Ambos em território chinês. Isso 
sem falar no processo de impressão em xilogravura, cujo exemplar 
conhecido mais antigo é japonês, e tem data de 764 antes de Cristo.
5
 
 
É possível atribuir a fama de Gutemberg devido ao fato de uma de suas 
primeiras publicações impressas ter sido a Bíblia, no ano de 1456. 
Por outro lado, segundo o Oxford English Dictionary, por volta da década de 
1920 foi que a população em geral começou a falar de “mídia”. Seguindo nesta linha, 
foi por volta de 1950 que ouviu-se falar em “revolução da comunicação”. No entanto, 
imperioso mencionar que a comunicação já existia muito antes disso,por exemplo, a 
retórica, ensinamento das formas de comunicação e escrita era extremamente 
valorizadas na Grécia e na Roma antigas, posteriormente, vindo a ser estudada na 
Idade Média e com mais afinco no período do Renascimento. 
Nesta linha, “a retórica também era muito incentivada nos séculos XVIII e 
XIX, quando começaram a surgir novas ideias importantes”6, como a opinião pública 
e a preocupação com as “massas”. Segundo Briggs: 
O conceito de "opinião pública" apareceu no final do século XVIII, e a 
preocupação com as "massas" tornou-se visível a partir do século XIX, na 
época em que os jornais — cuja história é aqui apresentada em todos os 
capítulos — ajudavam a moldar uma consciência nacional, levando as 
pessoas a ficarem atentas aos outros leitores.
7
 
 
A propaganda, no entanto, despertou o interesse do estudo acadêmico na 
segunda metade do século XX, de forma que a eclosão das duas guerras mundiais 
foi imprescindível a este processo. Posteriormente, grandes teóricos como Lévi-
 
4
 BRIGGS, Asa e BURKE, Peter. Uma história social da mídia: De Gutenberg à Internet. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Zahar, 2006. p.25. 
5
 PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013. p. 28. 
6
 BRIGGS, Asa e BURKE, Peter. Uma história... Op. Cit. p. 11. 
7
 Id. 
14 
 
Strauss, antropólogo Frances, e até Niklas Luhmann, sociólogo alemão, difundiram 
ainda mais o conceito de comunicação. 
Mas, foi com o surgimento do rádio que o mundo acadêmico voltou seus 
olhares para a relevância da comunicação oral na Grécia antiga e na Idade Média. 
Doutra banda, com o advento da era da comunicação visual, por volta de 1950, com 
o nascimento da televisão, proporcionou a criação de uma teoria interdisciplinar da 
mídia, que consequentemente, desencadeou estudos mais aprofundados em outros 
ramos, como por exemplo, na antropologia, psicologia, política e etc. 
Frases bombásticas envolvendo novas idéias foram criadas por Harold Innis 
(1894-1952), que escreveu sob o "viés das comunicações"; por Marshall 
McLuhan (1911-80), que falou da "aldeia global"; por Jack Goody, que 
traçou a "domesticação da mente selvagem"; e por Jürgen Habermas, o 
sociólogo alemão que identificou a "esfera pública", uma zona para o 
"discurso" no qual as ideias são exploradas e "uma visão pública" pode se 
expressar.
8
 
 
Não há dúvidas de que a comunicação tornou-se uma necessidade do 
homem. No contexto da 1ª Guerra Mundial, o rádio possibilitou a troca de 
mensagens, bem como, a televisão, após a 2ª Guerra Mundial, ampliou a visão do 
homem para com a terra, inclusive, levando-o a desbravar o que havia fora dela, a 
exemplo da primeira exploração da lua. 
 
Em 1957, a URSS iniciou a era espacial, pondo em órbita o Sputnik. Pouco 
mais tarde, os EUA colocaram no espaço o Telstar. Este foi o primeiro 
satélite activo de telecomunicações. Actualmente, graças ao 
aperfeiçoamento desses sistemas, uma notícia percorre o globo em pouco 
segundos.
9
 
 
Com o tempo, a imprensa nasceu, cresceu e criou objetivos. As mudanças 
estruturais na esfera pública desencadearam a elaboração de diversas estratégias, 
que desde essa época passaram a substituir os reais interesses do público receptor 
e dos valores éticos. 
 
A mudança estrutural na esfera pública, é, ao mesmo tempo, causa e 
consequência da evolução da imprensa. Claro que é preciso separa os 
conceitos de mídia e de imprensa. No primeiro, estão incluídos todo o tipo 
de manifestação cultural presente no espeço público, como novelas e 
 
8
 BRIGGS, Asa e BURKE, Peter. Uma história... Op. Cit. p.11-12. 
9
 LOPES, Victor Silva. Iniciação ao jornalismo. 6. ed. Lisboa: Dinalivro, 1987. p. 08. 
15 
 
filmes, por exemplo, enquanto o segundo refere-se à produção de notícias 
[...]
10
 (Com grifo no original.) 
 
A primeira Gazeta impressa em Portugal era intitulada de “Gazeta em Que 
se Relatam as Novas Todas, Que Ouve Nesta Corte, e Que Vieram de Várias Partes 
no Mês de Novembro de 1641”, mas, popularmente conhecida simplesmente por 
“Gazeta”. O jornal teve por encerradas as suas publicações no ano de 1647 e 
durante o tempo em que esteve ativo passou por inúmeras suspensões, 
principalmente, ante a imprecisão das notícias que veiculava.11 
No Brasil, é possível dizer quer o grande marco do surgimento da imprensa 
se deu no ano de 1808, especificamente no Rio de Janeiro. Isto porque, como se 
sabe, esse foi o ano em que a família real portuguesa fugiu de Portugal, vindo a 
instalar-se no Rio de Janeiro. Esse grande acontecimento histórico articulou o 
desenvolvimento de relações sociais entre os dois países, desencadeando trocas 
culturais e comerciais, promovendo riqueza e alfabetização.12 
Durante este período, a imprensa brasileira pouco havia se desenvolvido, ou 
praticamente não existia, afinal, os fatores existentes à época não favoreciam o seu 
surgimento. Grande parte da população era analfabeta, essencialmente rural, e 
basicamente dividida entre escravos e grandes fazendeiros. 
O cenário começou a mudar logo após a chegada da família real 
portuguesa. A instituição pública denominada Imprensa Nacional originou-se de um 
decreto datado de 13 de maio de 1808, assinado pelo príncipe regente à época, D. 
João VI. Incialmente, fora batizada de “Impressão Régia”, mas, com o passar do 
tempo, recebeu inúmeras denominação, como por exemplo, Real Officina 
Typographica, Tipographia Nacional, Tipographia Imperial, lmprensa Nacional, 
Departamento de Imprensa Nacional, e, novamente, Imprensa Nacional.13 
Destarte, em 10 setembro de 1808, diante deste contexto histórico, começou 
a circular a Gazeta do Rio de Janeiro, como primeiro jornal impresso do Brasil. As 
publicações seguiram até dezembro de 1822, quando fora substituída pelo Diário 
Fluminense. 
 
10
 PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013. p. 31. 
11
 SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e dos media. 2. ed. 
Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2006. p. 147. 
12
 Id. p. 148-149. 
13
 BRASIL. Imprensa Nacional. Casa Civil da Presidência da República. A história da imprensa 
nacional. Disponível em: <http://portal.in.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/a-imprensa-
nacional>. Acesso em: 28 mar. 2015. 
16 
 
É imperioso destacar que a história da imprensa no Brasil abrangeu 
inúmeros outros fatos relevantes, os quais não poderiam ser aprofundados no 
presente trabalho, sob pena de alterarmos o problema que este pretende solucionar. 
No entanto, Sodré destaca alguns pontos relevantes, tais como: 
 
[...] as grandes campanhas políticas nela desenvolvidas, como a da 
Abolição, a da República, e do Civilismo e tantas outras; a evolução do 
anúncio refletindo o desenvolvimento do artesanato, do comércio, da 
indústria, de atividades outras; as influências estrangeiras, desde as do 
comércio aqui estabelecido a partir da abertura dos portos até a das 
grandes corporações monopolistas hoje presentes entre nós; os diferentes 
estágios que a arte gráfica apresentou, através do tempo, com estudo mais 
acurado do almanaque, da circular, do panfleto avulso, do pasquim, do 
folheto, do opúsculo; o papel dos órgãos de instituições cultuais ou 
especializadas; as alterações na distribuição, desde a venda nas livrarias, 
as assinaturas, até à venda na via pública; as mudanças no preço de 
vendas avulsas e sua ligação com os custos de produção e o valor da 
moeda; as alterações no que toca ao papel, seu fornecimento, seu preço,sua qualidade, suas ligações com as máquinas; o desenvolvimento das 
técnicas de impressão, a litografia, a xilogravura, até as modernas; a 
evolução do maquinário, desde as prensas de madeira às modernas 
rotativas elétricas, passando pelo complexo aparelhamento de uma oficina 
moderna de jornal de grande triagem, com sua complexa divisão do 
trabalho que a faz, hoje, tão semelhante a uma grande fábrica; a evolução 
da triagem de jornais e revistas; o estudo do público, na diversidade de suas 
camadas sociais; o papel do folhetim romântico e das seções permanentes; 
a função do noticiário do exterior, da fase dos paquetes à do rádio; a das 
gravuras, desde a litografia até à radiofoto; as mudanças na paginação, 
acompanhando o destaque primitivo do editorial político, às vezes matéria 
única do jornal, até a preponderância da parte informativa sobre a opinativa, 
e a estreita relação entre elas; a transformações na crítica ilustrada, das 
caricaturas à charge moderna; as relações entre Governo e imprensa e a 
legislação sobre censura; o aparecimento, desenvolvimento e mudanças 
nos métodos como a entrevista, a reportagem, o inquérito; o 
desenvolvimento do jornal como empresa, quanto aos recursos necessários 
e os disponíveis e suas fontes; os órgãos especializados em medicina, 
agricultura, economia, humorismo, etc.; o interessantíssimo estudo da 
imprensa clandestina; a apreciação mais demorada da imprensa de 
província, ao longo do tempo.
14
 
 
Ou seja, da análise do surgimento e da evolução da mídia e da imprensa, é 
possível observar que desde o início este fenômeno impactou e transformou o modo 
de pensar, agir e interagir do homem, desde os tempos mais remotos com os 
 
14
 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 
07-08. 
17 
 
mecanismos arcaicos de comunicação até a atualidade, com a alta tecnologia que 
hoje nos rodeia. 
 
1.2 Teorias midiáticas 
 
A partir da segunda metade do século XX, o poder de persuasão que a 
mídia exerce sobre a sociedade passou a ser estudado com mais afinco. Neste 
sentido, algumas teorias surgiram na intenção de analisar os efeitos que essa 
persuasão gera no indivíduo, e, principalmente, na sociedade como um todo. 
As teorias midiáticas nada mais são do que uma série de estudos voltados 
ao mecanismo desse fenômeno denominado Comunicação Social desde seus 
aspectos cognitivos, passando pelos sociais, econômicos, políticos e tecnológicos, 
englobando ainda ramos da sociologia, filosofia e psicologia. Com efeito, é preciso 
observar os critérios cronológicos, bem como o contexto social e histórico em que os 
meios de comunicação em massa aparecem como ponto essencial a entender as 
principais teorias que serão estudadas. 
A primeira teoria possui origem Europeia e é denominada Hipodérmica. 
Defende que cada elemento do público é pessoal e diretamente atingido pela 
mensagem sem nenhuma resistência. Essa teoria surge durante o período das 
guerras mundiais, de forma que a própria comunicação em massa se apresentava 
como uma novidade, somado aos trágicos acontecimentos noticiados em tal período 
histórico. Portanto, pressupõe que quando há uma mensagem da mídia, esta 
penetra o indivíduo sem esbarrar em quaisquer resistências e é por isso chamada 
de hipodérmica, hipo significa abaixo; derme, pele. Exemplificando, a agulha do 
médico que penetra diretamente as veias de seu paciente sem encontrar nenhuma 
resistência. 
 
O esquema E – R (Estímulo – Resposta) é essencial para a Teoria 
Hipodérmica. Assim, os meios de comunicação de Massa (MCM) enviariam 
estímulos que seriam imediatamente respondidos pelos receptores. 
A audiência é vista como uma massa amorfa, que responde de maneira 
imediata e uniforme aos estímulos recebidos. 
Os indivíduos são compreendidos como átomos isolados, que, no entanto, 
fazem parte de um corpo maior, a massa, criada pelos meios de 
comunicação. Isso tornaria impossível a emergência de respostas 
individuais ou discordantes do estímulo. 
18 
 
Ao enviar um estímulo – uma propaganda, por exemplo – os MCM teriam 
como resposta o comportamento desejado pelos emissores, desde que o 
estímulo fosse aplicado de maneira correta.
15
 
 
Em outras palavras, seria dizer que a mídia injeta o seu conteúdo 
diretamente no cérebro da população, sem que esta apresente qualquer reação. 
Além disso, segundo Wolf “pode descrever-se o modelo hipodérmico como sendo 
uma teoria da propaganda e sobre a propaganda;”16. 
Posteriormente, surge a Teoria da Persuasão, ou empírico-experimentar, 
defendendo o oposto da Teoria Hipodérmica, isto é, que a mensagem é recebida 
pelo indivíduo, mas não imediatamente assimilada. Esta teoria aborda diversos 
aspectos psicológicos, de forma que o efeito no indivíduo irá depender das 
perspectivas daquele próprio indivíduo.17 
 
A << teoria>> dos meios de comunicação resultante dos estudos psicológicos 
experimentais consiste, sobretudo, na revisão do processo comunicativo 
entendido como uma relação mecanicista e imediata entre estímulo e 
resposta, o que toma evidente, pela primeira vez na pesquisa sobre os mass 
media, a complexidade dos elementos que entram em jogo na relação entre 
emissor, mensagem e destinatário. A abordagem deixa de ser global, 
incidindo sobre todo o universo dos meios de comunicação e passa a 
«apontar», por um lado, para o estudo da sua eficácia persuasiva óptima e, 
por outro, para a explicação do «insucesso» das tentativas de persuasão. 
Existe, de facto, uma oscilação entre a ideia de que é possível obter efeitos 
relevantes, se as mensagens forem adequadamente estruturadas e a certeza 
de que, frequentemente, os efeitos que se procurava obter não foram 
conseguidos.
18
 
 
A Teoria Empírica de Campo, também conhecida por Teoria de Efeitos 
Limitados, baseia-se na Teoria da Persuasão, mas aborda, principalmente, questões 
sociológicas, entendendo que a mídia apresenta influência limitada perante a 
sociedade por ser somente parte da vida social. Há uma comparação da influência 
exercida com outros ramos de força social, quais sejam, a Igreja, a política, a 
educação, etc., isto é, o indivíduo filtraria a mensagem recebida antes de qualquer 
 
15
 OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Teorias da comunicação. Minas Gerais: Virtual Books, 2003. 
p. 09. 
16
 WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 8. ed. Lisboa: Editorial Presença, 2003. p. 7. 
17
 Id. p. 12-18. 
18
 Id. p. 17-18. 
19 
 
absorção, o que seria determinante para auferir o grau de intensidade que essa 
mensagem produziria em cada um.19 
 
A perspectiva que caracteriza o início da pesquisa sociológica empírica 
sobre as comunicações de massa diz globalmente respeito a todos os mass 
media do ponto de vista da sua capacidade de influência sobre o público. 
Nesta questão geral está, contudo, já inserida a atenção à capacidade 
diferenciada de todos os mass media que exercem influências específicas. 
O problema fundamental continua a ser o dos efeitos dos meios de 
comunicação, mas já não se coloca nos mesmos termos das teorias 
anteriores. O rótulo efeitos limitados não indica apenas uma diferente 
avaliação da quantidade de efeitos; indica, igualmente, uma configuração 
desses efeitos qualitativamente diferente. Se a teoria hipodérmica falava de 
manipulação ou propaganda, e se a teoria psicológica-experimental tratava 
de persuasão, esta teoria fala de influência e não apenas da que é exercida 
pelos mass media, mas da influência mais geral que «perpassa» nas 
relações comunitáriase de que a influência das comunicações de massa é 
só uma componente, uma parte.
20
 
 
É importante destacar que esta teoria foi considerada como “clássica”, de 
forma que marca presença em quase todos – senão todos – os títulos publicados 
que tratam deste tema. 
 
O coração da teoria sobre os mass media ligada à pesquisa sociológica de 
campo consiste, de facto, em associar os processos de comunicação de 
massa às características do contexto social em que csses processos se 
realizam. Com este ponto de vista se completa a revisão crítica da teoria 
hipodérmica.
21
 
 
A Teoria Funcionalista, por sua vez, dedica-se não somente o efeito da 
mídia na sociedade mas também o papel que ela exerce, isto é, sua função. A ação 
social de cada indivíduo é imprescindível nesta teoria.22 
 
A teoria funcionalista dos mass media simboliza o desmentido mais explícito 
do lugar-comum segundo o qual a crise doutrinária do sector é devida 
essencialmente à indiferença, ao desinteresse, à separação entre teoria 
social geral e communication research. Para um grande número dos 
estudos sobre os mass media, esse facto não parece de modo algum 
convincente ou, pelo menos, como se verá mais adiante, se existiu ou existe 
carência de um paradigma teórico geral, isso não se verifica tanto na 
vertente sociológica como na vertente comunicativa: portanto, neste caso 
 
19
 WOLF, Mauro. Teorias da.... Op. Cit. p. 18-25. 
20
 Id. p. 27. 
21
 Id. p. 27. 
22
 Id. p. 25-34. 
20 
 
particular, o quadro interpretativo dos mass media adapta-se de novo, 
explícita e programaticamente, a uma teoria sociológica tão complexa como 
é o estrutural-funcionalismo.
23
 
A principal diferença desta teoria para com as demais já analisadas 
encontra-se no fato de que enquanto as primeiras utilizavam-se de mecanismos 
comparados ao de uma campanha, a teoria funcionalista, por focar-se nos efeitos e 
nas funções das notícias encontra-se em um outro contexto comunicativo.24 
Com origem na Escola de Frankfurt, em meio à ascensão do nazismo, a 
Teoria Crítica baseia-se em teorias marxistas defendendo a tese de que a mídia é 
um instrumento de influência social capitalista.25 
 
A identidade central da teoria crítica configura-se, por um lado, como 
construção analítica dos fenómenos que investiga e, por outro, e 
simultaneamente, como capacidade para atribuir esses fenómenos às 
forças sociais que os provocam. Segundo este ponto de vista, a pesquisa 
social levada a efeito pela teoria crítica, propõe-se como teoria da 
sociedade entendida como um todo; daí, a polémica constante contra as 
disciplinas sectoriais, que se especializam e diferenciam progressivamente 
campos distintos de competência. Procedendo assim, essas disciplinas - 
vinculadas à sua correcção formal e subordinadas à razão instrumental - 
desviam-se da compreensão da sociedade como um todo e, por 
conseguinte, acabam por desempenhar um função de manutenção da 
ordem social existente. A teoria crítica pretende ser o oposto, pretende 
evitar a função ideológica das ciências e das disciplinas sectorializadas.
26
 
 
O que para as outras teorias são dados fáticos, para a teoria crítica 
representam o resultado de toda uma evolução histórico-social específica, isto é, 
originados da atividade humana. 
Por fim, a Teoria Culturológica, leva em consideração elementos nacionais, 
religiosos e humanísticos de cada cultura, sendo que a mídia dependeria desses 
aspectos de cada sociedade para gerar os efeitos que almeja.27 Além disso, procura 
estabelecer qual é a nova forma de cultura dominante na sociedade contemporânea, 
vez que começa a ser estudada em 1960, na França. 
Edgar Morin foi o grande nome desta corrente, segundo ele: 
 
Se a cultura contém um saber colectivo acumulado na memória social, se é 
portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma 
 
23
 WOLF, Mauro. Teorias da.... Op. Cit. p. 37. 
24
 Id. 37-38. 
25
 Id. p. 34-42. 
26
 Id. p. 52. 
27
 Id. p. 43-46. 
21 
 
visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, 
então a cultura não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma 
máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva.
28
 
 
Entende ainda que as categorias destroem a unidade cultural inserida nas 
comunicações de massa, eliminando assim dados históricos e, atingindo ao final um 
nível de particularidade podendo ou não ser utilizável. 
Assim, que desde sua origem, a mídia busca formas, das mais diversas 
possíveis, para que a notícia por ela produzida penetre no indivíduo, levando em 
considerações diversos fatores, conforme se depreendeu das teorias acima 
apresentadas. 
 
 
1.3 O poder de formação de opinião 
 
Bem é sabido que a mídia representa muito mais que uma forma de informar 
a população sobre acontecimentos do cotidiano. Hoje é possível destaca-la como 
grande formadora de opinião pública. 
 Esta ideia não é nova, a muito tempo a imprensa assumiu este papel, mas, 
com os avanços tecnológicos, esse processo se desenvolveu de forma muito mais 
abrangente, rápida e eficaz. 
Mas afinal, existe um conceito do que seria a mídia? Santareno, assim 
define: 
um conjunto de meios diferentes, cada vez mais refinados 
tecnologicamente. Mídia não é tão-somente o aparato tecnológico. Há que 
se compreender mídia como associação de um suporte tecnológico, uma 
linguagem adequada e uma estratégia de ação precisa e clara.
29
 
 
Por outro lado, no que tange à opinião pública, poderíamos citar o conceito 
de Bobbio (1998), para ele a opinião pública se resume a 
[...] uma opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro 
agregado social, expressa de maneira livre por homens que estão fora do 
 
28
 MORIN, Edgar. O Método 4 - As ideias: habitat, vida, costumes, organização. Lisboa: Europa-
América, 2002. 
29
 SANTARENO, S. L. Mídia e opinião pública. Disponível em: 
http://www.jesocarneiro.com.br/artigos/midia-e-opiniao-publica/15_10_2007/. Acesso em 10 jan. 
2015. 
22 
 
governo, mas que reclamam o direito de que suas opiniões possam 
influenciar ou determinar ações governamentais.
30
 
 
Em outras palavras, Via classifica a opinião pública como sendo “conjunto de 
crenças a respeito de temas controvertidos ou relacionados com a interpretação 
valorativa ou o significado moral de certos fatos.”31. 
Esse poder de gerar opinião pública é notoriamente importante, na medida 
em que que vivemos na era da “sociedade da informação”. A internet, por exemplo, 
nos proporciona saber o que está acontecendo em qualquer parte do mundo em 
tempo real. Ainda no ano de 1984, Desmond Ficher, já trazia um atualíssimo 
ensinamento sobre esta questão: 
Hoje, estamos emergindo de uma sociedade industrial para aquilo que os 
sociólogos chamam de sociedade da informação. A ênfase está se 
desviando da sociedade de fabricação e serviços para o processamento 
da informação, isto é, para a preparação, transferência e armazenamento 
da informação. Já mais da metade da população trabalhadora dos Estados 
Unidos – estima-se – está empenhada neste tipo de trabalho. Em nossos 
tempos, a área de maior desenvolvimento comercial e industrial é a área 
da comunicação.
32
 
A partir desta ideia de “sociedade da informação” é possível concluir que a 
mídia possui consigo um grande poder na medida em que pode influenciar diversos 
ramos da sociedade, desde a política até o comportamento do próprio indivíduo por 
meio das notíciasque vincula. 
 
[...] disse o Papa João Paulo II em junho de 2000 a um grupo de donos de 
meios de comunicação de todo o mundo: com sua influência vasta e direta 
sobre a opinião pública, o jornalismo não pode ser só guiado por forças 
econômicas, lucros e interesses pessoais. Deve, ao contrário, ser encarado 
como uma missão, até certo ponto sagrada, realizada com o entendimento 
de que poderosos meios de comunicação foram confiados aos senhores 
para o bem geral.
33
 
 
 
30
 BOBBIO, Norberto, et al. Dicionário de Política. Verbete Opinião Pública. Brasília: Editora 
Universidade de Brasília. 11ª ed., 1998. 
31
 DA VIA, Sarah Chucid. Opinião Pública: técnica de formação e problemas de controle. São Paulo: 
Loyola, 1983. p. 58. 
32
 FISCHER, Desmond. O Direito de comunicar. Expressão, informação e liberdade. São Paulo: 
Brasiliense, 1984. p. 12. 
33
 KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os Elementos do Jornalismo. 2. ed. São Paulo: Geração 
Editorial, 2004. p. 35. 
23 
 
Data vênia, atualmente, grande parte das notícias são criadas para gerar 
lucro, omitindo e/ou distorcendo, na maioria das vezes a verdade sobre os fatos 
ocorridos na corrida incessante de publicar primeiro que seu concorrente. 
O problema nesse sentido é que dada a capacidade de gerar a opinião 
pública sobre o tema, o público receptor da notícia não se preocupa com as fontes 
da mesma e com a sua veracidade. 
Segundo Bourdieu, “as palavras fazem coisas, criam fantasias, medos, 
fobias ou simplesmente, representações falsas”34. 
Ora, “Se é a comunicação que constrói a realidade, quem detém a 
construção dessa realidade detém também o poder sobre a existência das coisas, 
sobre a difusão das ideias, sobre a criação da opinião pública.”35 
Não se pode esquecer que outros fatores contribuem para a formação da 
opinião pública, como, por exemplo, a classe social a que a pessoa está inserida, e, 
principalmente, fatores psicológicos de natureza comunicativa e interpessoal. 
 
Opinião pública não é a soma das opiniões do público em geral, muito 
menos a confluências das mesmas. Não se elabora, no plano coletivo, um 
consenso, não se forma uma única opinião. O que temos são vários 
públicos, que dispõe de opiniões e até mesmo informações diferenciadas 
para o mesmo fato. Estes públicos diversos não chegam em um acordo. O 
que acontece é que estes tentam disseminar suas opiniões por meio da 
mídia. É certo que nem todos os grupos públicos possuem a mesma 
visibilidade midiática, mas são aqueles que conseguem tornar pública uma 
determinada opinião que saem ganhando.
36
 
 
Usando de diversos métodos para atingir seu objetivo, poderia se afirmar 
que um dos cernes da questão é a neutralidade (ou não) por parte da imprensa, ante 
a veiculação de uma notícia. Isto é, quando não há neutralidade, por obvio que 
alguma coisa ou alguém será mais favorecido do que outro. Nesta seara, percebe-
se que a imprensa entrega ao indivíduo, cada vez mais, uma notícia pronta, 
mastigada, resumida, sendo que, automaticamente, este irá tomar um partido, a 
favor ou contra, e esse é o problema, afinal, as pessoas acabam formando uma 
opinião sem conhecer a fundo do que se trata aquele assunto, apenas diante dessa 
 
34
 BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Seguido de a influência do jornalismo e os jogos olímpicos. 
Tradução Lúcia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 26. 
35
 VELOSO, Fábio Geraldo. Políticos, mídia e o fenômeno criminal no Brasil. São Paulo: Boletim 
do IBCCRIM, 2006. 
36
 OLICSHEVIS, Giovana. Mídia e opinião pública. Paraná: Revista do Vernáculo, 2006. p. 94-95. 
24 
 
“imposição” final que lhes é apresentada pelos meios de comunicação. Assim, diante 
da ausência da imparcialidade, a mídia “sempre tenta persuadir alguém a adotar 
determinada posição”37. 
Neste processo de formação de opinião, pode ocorrer a submissão, que 
pode ser definida, segundo Serva, como “o fato que, embora noticiado, tem uma 
edição que não permite ao receptor compreender e deter a sua real importância ou 
mesmo o seu significado”38. 
 
A possível confusão de notícias provocada pela submissão está comumente 
associada a casos de que podemos chamar de “desinformação informada”: 
embora tendo tido acesso às informações, o consumidor não consegue 
compreender claramente o fato. Normalmente essa desinformação se dá 
porque um dos fatos se submete ao paradigma do outro – e esse 
deslocamento retira da notícia o sentido necessário à compreensão do fato 
– ou ambos se confundem em um outro paradigma.
39
 
 
Portanto, a mídia exerce grande influência no processo de formação da 
opinião pública no nosso atual cenário, principalmente, pois vivemos na era da 
Sociedade da Comunicação, de forma que a notícia não é mais passada ao público 
de forma neutra, sempre buscado convencer os receptores destas notícias a 
assumirem determinada posição. 
 
1.4 Comunicar x informar 
 
Conforme já fora apresentado nos tópicos anteriores do presente estudo, 
vivemos na era da sociedade da comunicação, sendo que a evolução tecnológica 
transformou as noções de comunicação até então existentes. 
 Essa transformação dos mecanismos de comunicação resultou na alteração 
dos padrões de interação social entre os entes envolvidos nessas relações, sendo 
necessária uma análise sobre os conceitos de informação e comunicação e o que 
eles representam para a sociedade atualmente. 
Ficher, já trazia a ideia da evolução da informação/comunicação: 
Hoje, a informação é encarada em termos diferentes. Não é apenas o 
conteúdo do processo de informação que está sendo considerado: é o 
próprio processo. O desenvolvimento tecnológico nas comunicações trouxe 
 
37
 Lane e Sears, 1964. 
38
 SERVA, Leão. Jornalismo e desinformação. 2. ed. São Paulo: Senac, 2001. p. 66. 
39
 SERVA, Leão. Jornalismo... Op. Cit. p. 68. 
25 
 
a capacidade de comunicar ao alcance de muito mais pessoas. Os meios 
de comunicação em massa estão dando lugar à mini-mídia.
40
 
 
Do latim “informare”, que significa dar forma, informação poderia ser definida 
como “Ato ou efeito de informar”. No entanto, este ato ou efeito de informar é 
unilateral, ou seja, apresenta-se em um sentido único sem o emissor da informação 
se preocupar com a interpretação realizada por parte do receptor, que não possui 
nenhuma obrigação em demonstrar a compreensão do conteúdo, tanto que não há a 
possibilidade nem de expressar suas conclusões sobre o tema. 
Por outro lado, o conceito de comunicar está pautado ao estabelecimento de 
um diálogo, vem do latim comunicare, troca de opinião, conferenciar. No dicionário41, 
há as seguintes definições: “ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente, 
receber outra mensagem como resposta” ou ainda, “processo que envolve a 
transmissão e a recepção de mensagens entre uma fonte emissora e um 
destinatário receptor”. Ou seja, a comunicação gera reações ao receptor da 
mensagem e este geralmente produz uma resposta a essa mensagem recebida. 
Esta seria a principal diferença entre informar e comunicar, isto é, na comunicação, 
o receptor elabora um raciocínio sobre a mensagem, de forma que pode até corrigir 
a ideia que lhe é passada pelo emissor. 
Observe-se que toda técnica midiática de edição atual está pautada na 
possibilidade de informar o seu público e não de comunica-lo. E tendo em vista a 
grande quantidade de informações a que temos acesso diariamente, sendo elas 
diretas, quando o próprio indivíduo a busca ou indireta, quando lhes é passada nocotidiano, é preciso que o indivíduo receptor tenha a capacidade e o discernimento 
para tecer análises críticas sobre essas informações, visando transformar a 
informação em comunicação, afinal, 
O mundo é uma aldeia global do ponto de vista tecnológico. Não dos 
homens, nem das culturas e das visões de mundo. Aí é a torre de Babel. Se 
tudo se mistura na rede, o mesmo não ocorre na realidade. Quanto mais o 
ponto a ponto se intensifica, mais é necessário distinguir na realidade os 
conteúdos, pois ninguém pode tudo misturar e absorver.
42
 
Diante das inúmeras informações que a população recebe diariamente, é 
cada vez mais fácil encontrar casos de desinformação funcional. Isto porque, 
 
40
 FISCHER, Desmond. O Direito... Op. Cit. p. 29. 
41
 Disponível em < http://www.nossalinguaportuguesa.com.br/dicionario/comunica%e7%e3o/> Acesso 
em 07/10/2014. 
42
 WOLTON, Dominique. Informar não é comunicar. Porto Alegre: Meridional/Sulina, 2010. p. 82. 
26 
 
diariamente, os veículos de comunicação produzem milhares, senão, milhões de 
notícias. Destarte, segue a mesma linha dos analfabetos funcionais, pessoas 
alfabetizadas que apenas sabem colocar as letras umas ao lado das outras 
objetivando formar palavras, bem como conseguem ler textos, sem, no entanto, 
interpretar o que está escrito. 
No entendimento de Serva: 
A desinformação funcional, então, corresponde a um fenômeno definido 
pelo fato de que as pessoas consomem informações através de um ou mais 
meios de comunicação, mas não conseguem compor com tais informações 
uma compreensão do mundo ou dos fatos narrados nas notícias que 
consumiram.
43
 
Para se ter uma noção da quantidade de notícias produzidas atualmente na 
sociedade da comunicação em que vivemos, a título de exemplo, “Uma edição do 
New York Times contém mais informação do que tudo aquilo que um homem médio 
do século XV ficou sabendo em toda sua vida.”44 
 
Esse conjunto de informações provoca uma espécie de paroxismo da 
desinformação-informada e da deformação, no qual milhares de 
informações diariamente se sobrepõe umas às outras no suporte da 
comunicação, no meio em si e também ou mais gravemente na mente do 
receptor, em sua compreensão do mundo.
45
 
 
Ou seja, ter acesso a inúmeras informações não quer dizer, 
obrigatoriamente, que o receptor consegue absorver tudo o que lhe está sendo 
oferecido ou que ele próprio está buscando. E pode-se ir além, o receptor das 
informações pode estar enganando a si mesmo sob a falsa ideia de que quanto mais 
informações buscar ou ter acesso, mais poder terá. Lewis já dizia: 
 
Conhecimento é poder’, escreveu Sir Francis Bacon no século XVII. Hoje 
estamos em uma corrida frenética para adquirir cada vez mais informações, 
firmes na fé de que quanto mais tivermos, mais poderosos seremos. 
Infelizmente, exatamente o oposto está-se revelando.
46
 
 
 
43
 SERVA, Leão. Jornalismo... Op. Cit., p. 71. 
44
 Id. p. 76. 
45
 Id. p. 77. 
46
 LEWIS, David et al. “Dying for information?”. Londres: Firefly Communications, 1996. p. 2. 
27 
 
Isto é, podemos afirmar que, diferentemente do que pensa o senso comum 
num primeiro momento, na realidade, “O excesso de informação, ao contrário do que 
dizia Francis Bacon, é hoje causa de perda de poder individual.”47 
O importante é destacar que a comunicação e a informação, apesar de 
terem conceitos distintos, conforme acima explanado, na realidade, são inseparáveis 
e, sem dúvidas, foram fundamentais para que o homem evoluísse e desenvolvesse 
o seu senso crítico. Por fim, não se pode deixar que esta capacidade se perca diante 
da manipulação e comercialização de notícias, ideias prontas e o número 
exorbitante de informações, sem que o receptor tenha as condições necessárias 
para formar sua própria opinião a respeito dos assuntos vinculados pela mídia, sob 
pena de transformar a sociedade da comunicação na sociedade dos falsos 
poderosos iludidos. 
 
 
47
 SERVA, Leão. Jornalismo... Op. Cit., p. 82. 
28 
 
2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA E OS PRINCÍPIOS 
FUNDAMENTAIS 
 
2.1 Liberdade de expressão 
 
É sabido que a Liberdade de Expressão no Brasil é consequência de uma 
incansável e constante luta histórica. Neste sentido, desde o fim da ditadura militar 
no ano de 1985, vigora a ideia da livre expressão. Isto porque, conforme elucida 
Pimenta Bueno: 
O homem porém não vive concentrado só em seu espírito, não vive isolado, 
por isso mesmo que por sua natureza é um ente social. Ele tem a viva 
tendência e necessidade de expressar e trocar suas ideias e opiniões com 
os outros homens, de cultivar mútuas relações, seria o mesmo impossível 
vedar, porque fora para isso necessário proibir e dissolver a sociedade.
48
 
 
Note-se que a liberdade de expressão pode aparecer de forma interna, 
também denominada liberdade subjetiva, ou de forma externa, podendo ser 
denominada liberdade objetiva. Observe-se os conceitos trazidos por José Afonso 
da Silva: 
 
Liberdade interna (chamada também de subjetiva, liberdade psicológica ou 
moral e especialmente liberdade de indiferença) é o livre arbítrio, como 
simples manifestações de vontade no mundo interior do homem. Por isso é 
chamada igualmente de liberdade do querer. Significa que a decisão entre 
duas possibilidades opostas pertence, exclusivamente, à vontade do 
indivíduo; vale dizer, é poder de escolha, de opção entre fins contrários.
49
 
 
Por outro lado, a liberdade externa ou objetiva, “consiste na expressão 
externa do querer individual, e implica o afastamento de obstáculos ou de coações, 
de modo que o homem possa agir livremente. Por isso se fala em liberdade de fazer 
[...]”50. 
 
Como aspecto externo (a outra dimensão mencionada), a liberdade de 
opinião se exterioriza pelo exercício das liberdades de comunicação, de 
 
48
 BUENO, José Antônio Pimenta. Direito público brasileiro e análise da Constituição do Império. 
Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, 1958. p. 385. 
49
 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 
1997. p. 225. 
50
 Id. p. 225-226. 
29 
 
religião, de expressão intelectual, artística, científica e cultural e de 
transmissão e recepção do conhecimento [...]
51
 
 
Por sua vez, a liberdade de comunicação “consiste num conjunto de direitos, 
formas, processos e veículos, que possibilitam a coordenação desembaraçada da 
criação, expressão e difusão do pensamento e da informação”52. 
Neste diapasão, Leyser afirma, “A liberdade de manifestação de 
pensamento nada mais é do que um dos aspectos extremos da liberdade de 
opinião.”53 
É necessária uma análise mais profunda sobre a liberdade de informação 
em geral e a liberdade de informação jornalística, de forma que tais assuntos serão 
abordados no subtítulo seguinte. 
A Constituição Federal Brasileira de 1988, elenca em seu artigo 5º, inciso, 
IX, que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença”. Assim, de acordo com 
Bulos, “A liberdade de expressar o pensamento, por atividade intelectual, artística, 
científica e de comunicação, compactua-se, com a democracia, implantada Égide do 
Estado de Direito, consagrado em 05 de outubro de 1988.”54 Disto, depreende-se o 
entendimento de que a censura quanto a possibilidade de exteriorização de 
percepções na religião, política, moral,artes, ciência, etc., é totalmente intolerável. 
Outrossim, embora a legislação nacional estabeleça o princípio da Liberdade 
de expressão, o Brasil é signatário de alguns Tratados Internacionais também neste 
sentido. Atualmente, esses tratados são: Declaração Universal dos Direitos do 
Homem, o Tratado Internacional de Chapultepec, a Declaração Americana Sobre 
Direitos Humanos, a Carta Democrática Interamericana e a Declaração de Princípios 
sobre Liberdade de Expressão. Na legislação nacional, especificamente, podemos 
observar a existência dos crimes contra a honra, por exemplo, calúnia, difamação e 
injúria. Estes crimes estão previstos tanto no Código Penal Brasileiro, quanto na Lei 
de Imprensa (Lei nº 5.250 de 09 de Fevereiro de 1967). 
Necessário se faz esclarecer que o princípio da Liberdade de Expressão 
nem sempre é pleno, de forma que em algumas exceções, sua aplicação torna-se 
 
51
 SILVA, José Afonso da. Curso de... Op. Cit. p. 236. 
52
 Id. p. 237. 
53
 LEYSER, Maria Fátima Ramalho. Direito à Liberdade de Imprensa. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 1999. p. 50. 
54
 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 144. 
30 
 
dependente de outras legislações, e por consequência, da aplicação legal dessas 
leis. É o caso, por exemplo, da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional), Lei 
7.192/86 (crimes contra o sistema financeiro nacional), além da já acima referida, Lei 
de Imprensa e o Código Penal. Isto porque, podem ser considerados crimes a 
propaganda de guerra, a veiculação de notícias falsas ou verdade incompleta que 
incitem desconfiança sobre determinada instituição financeira, a divulgação de 
segredo de Estado, entre outros. 
Nesta seara, se há liberdade de expressão, se faz necessário que haja um 
direito de resposta. E por certo, na própria Constituição Federal Brasileira há 
dispositivos que o garantem, qual seja o inciso V do artigo 5º. Na mesma linha, a Lei 
5.250/67 (Lei de Imprensa) no capítulo IV, artigos 29 a 36, que cuidam da liberdade 
de manifestação do pensamento e da informação. 
O direito de resposta é fundamental, afinal, “A liberdade de opinião, embora 
seja um direito consagrado nos regimes democráticos, não pode ser agente de 
perturbação ou destruição social [...]”55 de forma que assegurar a resposta é evitar a 
perturbação e destruição dos laços existentes na sociedade. 
Cumpre mencionar que a liberdade de comunicação não demanda o 
aprofundamento em um tópico específico, vez que, da análise dos incisos IV, V, IX, 
XII e XIV do artigo 5º, combinados com os artigos 220 a 224, da Constituição 
Federal pode-se chegar a uma definição da mesma, sendo esta um “conjunto de 
direitos, formas, processos e veículos, que possibilitam a coordenação 
desembaraçada da criação, expressão e difusão do pensamento e da informação”56. 
Notável é que o princípio em análise não pode ser extrapolado, de forma que 
venha a causar prejuízo de cunho moral a uma ou mais pessoas, isto é, não se 
presta como ferramenta para a calúnia, difamação, violência ou obscenidade, por 
exemplo. Portanto, o grande desafio a este título consiste na busca pelo equilíbrio 
entre o exercício da democracia, representado pela liberdade de expressão e ao 
mesmo tempo, a cautela para que não seja usado de forma caluniosa, violenta ou 
intimidadora. 
Ou seja, percebe-se que o princípio da Liberdade de Expressão quando da 
sua previsão na Lei Maior, apresenta-se como verdadeiro divisor de águas, uma 
 
55
 LEYSER, Maria Fátima Ramalho. Direito à Liberdade de Imprensa. São Paulo: Juarez de Oliveira, 
1999. p. 49. 
56
 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito... Op. Cit. p. 237. 
31 
 
verdadeira conquista não só para a imprensa, que sofrera com a censura no período 
da ditadura militar, mas principalmente a todos os cidadãos, que podem se 
expressar de forma livre, exercendo a sua democracia. 
 
2.2 Acesso a informação 
 
Direito de informar e de ser informado. Sem dúvidas essa máxima é o que 
mais bem define o princípio do acesso a informação. Conforme já fora exposto nos 
tópicos anteriores do presente estudo, vivemos na sociedade da massa, e assim 
sendo, informar e ser informado é premissa básica para o regular andamento deste 
modelo de sociedade. 
A palavra informação pode designar “o conjunto de condições e modalidades 
de difusão para o público (ou colocada à disposição do público) sob formas 
apropriadas, de notícias ou elementos de conhecimento, ideias ou opiniões”57. 
Juridicamente, poderíamos dizer que Direito à Informação “É o conjunto de 
normas jurídicas que têm por objetivo a tutela, a regulamentação e a delimitação do 
direito de obter e difundir ideias, opiniões e fatos noticiáveis”58. Por outro lado, 
usando de um conceito não tão formal, elaborado por Albino Grecco, diríamos que: 
 
Por informação se entende o conhecimento dos fatos, de acontecimentos, 
de situações de interesse geral e particular que implica, do ponto de vista 
jurídico, duas direções: a do direito de informar e a do direito de ser 
informado. O mesmo é dizer que a liberdade de informação compreende a 
liberdade de informar e a liberdade de se informar. A primeira coincide com 
a liberdade de manifestação do pensamento pela palavra, por escrito ou por 
qualquer outro meio de difusão; a segunda indica o interesse sempre 
crescente da coletividade para que tanto os indivíduos como a comunidade 
estejam informados para o exercício consciente das liberdades públicas.
59
 
 
A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 5ª, inciso XXXIII, 
assim determinou: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de 
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no 
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja 
 
57
 TERROU, Fernand. L’information, citado por Freitas Nobre, Jose. Comentários à Lei de Imprensa, 
lei da informação, 2ed, São Paulo, Saraiva, 1978, p. 7 e 8, apud SILVA, José Afonso, op. cit., p. 
245. p. 7-8. 
58
 DOTTI, René Ariel. Proteção da vida privada e da liberdade de informação. São Paulo: Revistas 
dos Tribunais, 1980. p. 181. 
59
 GRECCO, Albino. La libertá di stampa nell’ ordenamento giuridico italiano. Roma: Bulzioni 
Editores, 1974. p. 38. 
32 
 
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;”. Ora, uma vez tratado como 
direito de todo cidadão, ante a previsão da Lei Maior, compete, principalmente, ao 
Estado a fiscalização no sentido de cumprimento efetivo desta garantia 
constitucional. 
É claro que aqui não se encaixam apenas informações referentes aos 
órgãos públicos, por exemplo, mas sim a notícias de um modo geral, isto é, com a 
intenção de informar toda a população, e porque não, de formar opinião do público 
receptor dessas notícias. Dotti, já afirmava: 
 
A liberdade de informação em senso lato compreende tanto a ‘aquisição’ 
como a ‘comunicação’ de conhecimentos. Por precisão de nomenclatura 
propõe-se individualizar tal direito com a fórmula: ‘liberdade de expressão’. 
A ideia de uma liberdade de informação conexa às liberdades de opinião e 
de expressão dos pensamentos, determina a preocupação em não conduzir 
estas duas aspirações e confrontos que possam trazer consequências 
drásticas para o desenvolvimento da cultura e da civilização.
60
 
E ainda vai mais além: 
 
O direito à informação é considerado também sob a perspectiva de um 
direito à notícia de um direito ao fato. A notícia pode ser definida como a 
relaçãode conhecimento entre um sujeito e uma realidade (a manifestação, 
o fato, um documento). É o resultado de uma atividade informativa em cujo 
desenvolvimento surge tal ‘relação de conhecimento’.
61
 
 
De acordo com Silva é na liberdade de informação jornalística que se “centra 
a liberdade de informação, que assume características modernas, superadoras da 
velha liberdade de imprensa. Nela se contra a liberdade de informar e é nela ou 
através dela que se realiza o direito coletivo à informação, isto é, a liberdade de ser 
informado. Por isso, é que a ordem jurídica lhes confere um regime específico, que 
lhe garanta a atuação e lhe coíba os abusos”62. 
O grande problema, mais uma vez, se encontra na relativização deste 
princípio. A superexposição de determinados acontecimentos pode acabar 
prejudicando as pessoas envolvidas naquele contexto. Especialmente, no Brasil, é 
possível observar e analisar esse fenômeno nos casos de crimes de grande 
repercussão e comoção social. 
 
60
 Id. p. 157-158. 
61
 Id. p.169. 
62
 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito... Op. Cit. p. 239. 
33 
 
Geralmente nesses casos, a população passa a buscar as informações 
sobre todos os atos praticados pelas autoridades e pelos então acusados ou 
investigados, e o que deveria ser sigiloso passa a ser amplamente divulgado pelos 
veículos de comunicação pois aquele fato assumiu o patamar de “interesse social”, 
mesmo que estes tramitem sob segredo de justiça. Neste sentido, em recente artigo 
publicado em site de conteúdo jurídico de renome, Fidalgo argumenta sobre o tema: 
 
A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 5º, LX, que 
somente a lei poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a 
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Percebe-se pelo texto 
constitucional que o legislador constituinte, inspirado pelos valores 
republicanos, cuja premissa é expor as coisas do Estado ao público, sequer 
utilizou o vocábulo sigilo ou segredo, preferindo utilizar restrição como 
exceção ao valor substancial da publicidade.
63
 
 
Fidalgo ainda vai mais além, aduzindo que em seu entendimento, a 
publicidade de informações sobre processos que tramitam sobre o segredo de 
justiça é plenamente constitucional, não violando o direito das partes daquele 
processo. Observe-se: 
 
Assim, se a imprensa teve acesso a informações que gozam de interesse 
público e que possuem um mínimo de veracidade, ainda que tais fatos 
estejam sendo discutidos em processo sob o instituto do sigilo, não nos 
parece haver qualquer impedimento de se publicar o “assunto” lá tratado. 
Não se está aqui a defender a divulgação de atos do processo em sigilo, 
tais como atas, documentos, petições, despachos, decisões (para isso, há 
de se ponderar os valores fundamentais em aparente conflito) mas sim que 
o assunto pode ser objeto de material jornalístico, necessitando para isso se 
averiguar a existência de interesse público e verossimilhança dos fatos.
64
 
 
Note-se que o citado autor se refere a fatos que que apresentem um 
“mínimo de veracidade”, isto é, não se está diante do caso de informações 
distorcidas e tendenciosas que acabam levando o receptor da notícia a entender 
que, por exemplo, o réu de um processo é efetivamente culpado pelo fato ocorrido, 
ferindo o princípio da presunção de inocência, o qual será oportunamente estudado 
no tópico a seguir. 
 
63
 FIDALGO, Alexandre. Imprensa pode noticiar assuntos tratados em processos sob 
sigilo. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-mar-11/liberdade-expressao-imprensa-
noticiar-assuntos-tratados-processos-sigilo>. Acesso em: 28 abr. 2015. 
64
 Id. 
34 
 
É a partir dessa prática comum de distorção das informações que nasce o 
fenômeno da comercialização do crime. É quando o interesse de informar é deixado 
de lado, de forma que o que prevalece é o interesse dos próprios meios de 
comunicação em “vender” aquela notícia, mesmo que a mesma seja tendenciosa. A 
este respeito, Greco afirma: 
 
A liberdade de informação não é simplesmente a liberdade do dono da 
empresa jornalística ou do jornalista. A liberdade destes é reflexa no sentido 
de que ela só existe e se justifica na medida do direito dos indivíduos a uma 
informação correta e imparcial. A liberdade dominante é a de ser informado, 
a de ter acesso às fontes de informações, a de obtê-la. O dono da empresa 
e o jornalista têm um direito fundamental de exercer sua atividade, sua 
missão, mas especialmente têm um dever. Reconhece-se-lhes o direito de 
informar ao público os acontecimentos e ideias, objetivamente, sem alterar-
lhes a verdade ou esvaziar-lhes o sentido original, do contrário, se terá não 
informação, mas deformação.
65
 
 
Neste contexto, cita-se dois casos que servem perfeitamente para 
exemplificar casos em que prevaleceu o acesso à informação e não o sigilo do 
processo. O primeiro refere-se a revista IstoÉ, quando em meados de 2014 divulgou 
informações em uma de suas edições a respeito da delação premiada do ex-diretor 
da Petrobras, Cid Gomes. O mesmo ingressou com ação cautelar requerendo a 
retirada de circulação de todos os exemplares daquela edição. O segundo caso, 
refere-se a revista eletrônica Consultor Jurídico, que sofreu impedimento por veicular 
notícia tratando de uma decisão que impedia a exibição de determinada peça teatral 
baseada no assassinado da criança Isabella Nardoni, também sob o argumento de 
violação do segredo de justiça dos autos. Em ambos os casos, o Supremo Tribunal 
Federal entendeu que as divulgações não violavam o princípio do acesso a 
informação, prevalecendo o interesse público. 
É realmente um jogo de interesses, estando de um lado a população que 
tem direito às informações, e, do outro, as partes integrantes do processo que 
tramita sob segredo de justiça. Qual democracia deve prevalecer? Norberto Bobbio 
é firme no sentido de que “pode-se definir democracia das maneiras mais diversas, 
 
65
 GRECO, Albino. La libertà di stampa nell’ordinamento giuridico italiano. Roma: Bulzioni 
Editores, 1974. p. 6-8. 
35 
 
mas não existe definição que possa deixar de incluir em seus conotativos a 
visibilidade ou transparência do poder”66. 
Portanto, é preciso ter uma certa cautela com a aplicabilidade deste 
princípio, sempre levando em conta a razoabilidade, o contexto e a 
proporcionalidade da sua aplicação. De toda sorte, a população tem a garantia 
constitucional de acesso as informações, por mais diversas que sejam. 
 
2.3 Presunção de inocência 
 
O princípio da Presunção de Inocência no âmbito jurídico brasileiro teve por 
inspiração o direito Italiano, especificamente, o artigo 27.2 da Constituição Italiana 
de 1948, que assim tratava “L'imputato non è considerato colpevole sino alla 
condanna definitiva.” 
Conforme se observa do próprio texto da Constituição Federal de 1988, é 
possível notar uma imensa semelhança para com o texto da Constituição Italiana. O 
inciso LVII do artigo 5º da CF/88 dispõe: “ninguém será considerado culpado até o 
trânsito em julgado da sentença penal condenatória;”. É de se observar, outrossim, 
que este princípio não aparecia nas constituições federais brasileiras passadas de 
forma expressa, muito embora seu objetivo fosse sanado pelo contraditório e a 
ampla defesa. 
Ainda nesta linha, historicamente, Tourinho Filho, esclarece: 
 
O princípio remonta o art. 9º. da Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão proclamada em Paris em 26-8-1789 e que,por sua vez, deita 
raízes no movimento filosófico- humanitário chamado “Iluminismo”, ou 
Século das Luzes, que teve à frente, dentre outros, o Marques de Beccaria, 
Voltaire e Montesquieu, Rousseau. Foi um movimento de ruptura com a 
mentalidade da época, em que, além das acusações secretas e torturas, o 
acusado era tido com objeto do processo e não tinha nenhuma garantia. 
Dizia Bercaria que “a perda da liberdade sendo já uma pena, esta só deve 
preceder a condenação na estrita medida que a necessidade o exige” (Dos 
delitos e das penas, São Paulo, Atena Ed.,1954, p.106). 
Há mais de duzentos anos, ou, precisamente, no dia 26-8-1979, os 
franceses, inspirados naquele movimento, dispuseram da referida 
Declaração que: “Tout homme étant présumé innocent jusqu’à cequ’il ait été 
déclaré coupable; s’ il est jugé indispensable de I’ arrêter, toute rigueur qui 
ne serait nécessaire pour’s assurer de sá persone, doit être sévèrement 
reprimée par la loi” (Todo homem sendo presumidamente inocente até que 
 
66
 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 6. ed. São Paulo: 
Paz e Terra, 1997. p. 20-21. 
36 
 
seja declerado culpado, sefor indispensável prendê-lo, todo rigor que não 
seja necessário para assegurar sua pessoa deve ser severamente reprimido 
pela lei). 
Mais tarde, em 10-12-1948, a Assembléia das Nações Unidas, reunida em 
Paris, repetia essa mesma proclamação. 
Aí está o princípio: enquanto não definitivamente condenado, presume-se o 
réu inocente”
67
 
 
Bechera e Campos entendem que o princípio sob análise, na verdade, 
deveria ser chamado de “não culpabilidade” ao invés de “presunção de inocência”, 
isto porque, “a Constituição Federal não presume inocência, mas declara que 
ninguém será considerado culpado antes da sentença condenatória transitada em 
julgado”68. 
Nomenclatura a parte, o princípio da presunção de inocência poderia ser 
aplicado em conjunto à outros princípios elencados pela Lei Maior, quais sejam, o do 
devido processo legal, im dubio pro reu, nulla poena sine culpa e o contraditório e 
ampla defesa. Nada mais é do que a efetivação do Estado Democrático de Direito. 
Para Sabatini, 
A presunção de inocência representa o consagrado ditame constitucional do 
favor libertis, e a situação de dúvida, originária do processo, não se desfaz 
senão com a sentença transitada em julgado. Essa situação, no âmbito do 
processo penal faz persistir a presunção de inocência até quando a dúvida 
seja desfeita pelo juiz.
69
 
Com efeito, pode-se dizer que o acusado permanecerá considerado 
inocente até que passe em julgado a sentença penal que o condenar. Ocorre que, 
nem sempre isto é observado. O que se observa hoje, muito pelo contrário, é que o 
acusado é considerado culpado, pela mídia e pela sociedade, antes mesmo da 
existência de qualquer processo sobre o fato, por exemplo, ainda quando só há o 
inquérito policial, que deveria ser sigiloso e acaba sendo revelado a todos. 
Santos desenvolve um ótimo entendimento sobre os momentos em que 
o a mídia simplesmente fere inúmeros princípios constitucionais, em casos em que a 
justiça é transformada num “espetáculo”, onde, por exemplo, o princípio da 
 
67
 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 
2009. p. 29-30. 
68
 BECHARA, Fábio Ramazzini; CAMPOS, Pedro Franco de. Princípios constitucionais do 
processo penal: questões polêmicas. 2005. Disponível em: 
<http://www.damasio.com.br/novo/htmUframe_artigos.htm>. Acesso em: 29 abr. 2015. 
69
 SABATINI, Giuseppe. Principii costituzionalli del processo penale. Napoli, Jovene, 1976. p. 49. 
37 
 
presunção de inocência é transformado no “princípio da presunção de 
culpabilidade”, observe-se: 
 
Os casos penais devem ser investigados pelas formas democráticas do 
processo legal devido, com as garantias constitucionais do contraditório 
processual, da ampla defesa, da presunção de inocência, da proteção 
contra a autoincriminação e outras. Mas a justiça como espetáculo subverte 
a lógica do processo penal: as investigações criminais sigilosas de cidadãos 
sem fato concreto imputável cancelam o princípio da presunção de 
inocência, substituída pela presunção de culpa; as interceptações 
telefônicas secretas suspendem a proteção constitucional contra 
autoincriminações — ou o direito de calar do acusado, ou de falar somente 
após consultar advogado —, levando de cambulhada a ampla defesa e o 
contraditório processual; as delações premiadas — em qualquer caso e 
sempre um negócio penal inconfiável, deplorável e imoral — conseguidas 
pela tortura através da prisão de futuros delatores, constituem provas 
obtidas por meios ilícitos, que deveriam ser extirpadas do processo penal — 
mas que, na justiça penal como espetáculo, para desgraça dos acusados, 
constituem a prova criminal por excelência, quando não a única prova.
70
 
 
Isto é, a aplicabilidade deste princípio é fundamental de maneira a 
garantir o tratamento digno ao acusado, evitando que o prejulgamento de um caso, 
por parte da sociedade, venha a causar prejuízos e constrangimentos àquele. No 
âmbito jurídico, é fundamental para que o acusado não venha a ser punido 
antecipadamente. Por fim, o princípio ainda pode ser aplicado quando necessário a 
prisão cautelar do acusado, que se dá antes do transito em julgado da sentença 
condenatória. Cabe lembrar que este último caso é medida excepcional em que só é 
admitida quando a liberdade do acusado poderá influenciar no andamento do 
processo e, ainda, para ser deferida necessária a presença do fumus boni iuris e o 
periculum in mora. 
Desta forma, é possível concluir que somente se pode auferir a culpa a 
um indivíduo após o transito em julgado da sentença penal condenatória. O objetivo 
é sempre na linha do in dubio pro reu, sendo imprescindível garantir, principalmente, 
a liberdade daquele, devendo ser tratado como inocente até o final da ação penal. 
Não se trata de simples favorecimento aos acusados, mas sim uma proteção aos 
inocentes que respondem uma ação penal injustamente. 
 
 
70
 SANTOS, Juarez Cirino dos. A Justiça como espetáculo subverte a lógica do processo penal: 
Obsessão punitiva.. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-mai-05/juarez-santos-
justica-espetaculo-subverte-logica-processo>. Acesso em: 05 maio 2015. 
38 
 
2.4 Direito a intimidade 
 
Atualmente, é muito difícil encontrar um conceito capaz de exprimir a ideia 
de intimidade, o que poderia ser abrangido por este conceito e o que ficaria de fora 
dele. Assim: 
Temos que encará-lo como um fenômeno sócio psíquico, em que os valores 
vigentes em cada época e lugar exercem influência significativa sobre o 
indivíduo, que em razão desses mesmos valores sente a necessidade de 
resguardar do conhecimento das outras pessoas aspectos mais particulares 
da sua vida.
71
 
 
Ou seja, a partir desta ideia é possível observar que o direito à intimidade é 
sempre atual, pois com o passar dos tempos a própria evolução se encarrega de 
transformar automaticamente paradigmas do que se pretende manter em foro 
íntimo, do que se compartilha com o resto da sociedade. 
 
O direito à intimidade é quase sempre considerado como sinônimo de 
direito à privacidade. Esta é uma terminologia do direito anglo americano 
(right of privacy), para designar aquele, mais empregada nos direitos dos 
povos latinos. Nos termos da Constituição, contudo, é plausível a distinção 
que estamos fazendo, já que o inciso

Continue navegando