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63
UNIDADE 2
O PAPEL DO ESTADO NA 
ECONOMIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Prezado(a) acadêmico(a), bem-vindo(a) à Unidade 2 do caderno de 
Economia Política! Esta unidade tem por objetivos:
• apresentar os elementos básicos do keynesianismo, bem como seu contex-
to histórico de surgimento;
• descrever os elementos básicos daquilo que se entende pelo Estado de 
Bem-Estar Social e refletir sobre o contexto brasileiro;
• apresentar ao acadêmico os conceitos básicos da Escola Francesa da Regu-
lação, bem como seu contexto histórico de aparecimento;
• apontar as principais características daquilo que foi o desenvolvimentis-
mo no Brasil e na América Latina, bem como listar os princípios básicos do 
movimento neodesenvolvimentista;
• citar alguns indicadores de desenvolvimento e ainda refletir sobre o tema 
das políticas públicas no contexto do desenvolvimento;
• apresentar a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CE-
PAL), bem como descrever suas principais características enquanto escola 
de pensamento no contexto dos países latino-americanos (século XX).
Esta unidade está dividida em seis tópicos e no final de cada um deles você 
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 - O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
TÓPICO 2 - O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
TÓPICO 3 - A TEORIA DA REGULAÇÃO
TÓPICO 4 - A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA
TÓPICO 5 - INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS 
PÚBLICAS
TÓPICO 6 - A CONTRIBUIÇÃO DA CEPAL NA AMÉRICA LATINA E NO 
BRASIL
64
65
TÓPICO 1
O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na unidade anterior nos debruçamos sobre vários temas relacionados à 
economia política. Além de noções introdutórias, perpassamos brevemente os 
autores clássicos, a crítica desenvolvida por Karl Marx e, ainda, os principais 
postulados de Schumpeter, com sua economia da inovação.
O desafio nesta nova unidade é concentrar nossos esforços sobre alguns 
temas que remetem à ação do Estado na economia. Na verdade, várias são as 
formas de intervenção na vida econômica de uma nação. Por mais que alguns 
teóricos tentem defender que existiam, na prática, nações em que a ação estatal 
é nula, é difícil concordar com esta ideia. O que podemos distinguir ao redor do 
globo são proporções diferentes de intervenção. 
O capitalismo já provou não ser capaz de se autorregular, como previam os 
modelos clássicos. A última crise econômica, iniciada em fins dos anos 2000, é prova 
disso: até mesmo o governo dos Estados Unidos (país considerado puramente 
liberal) teve de intervir para salvar empresas e instituições financeiras. Sem contar 
os grandes subsídios que historicamente dispõe a alguns setores econômicos.
Desta forma, nesta unidade iremos debater temas que se relacionam a esta 
temática da intervenção. Logo de início conheceremos um pouco mais sobre o 
keynesianismo. Os postulados dessa corrente econômica ganharam força em meio 
a um ambiente conturbado, tanto da academia como da vida social, econômica e 
política. Keynes, ao desconsiderar a tendência ao autoequilíbrio do capitalismo, 
sugeriu a intervenção do Estado como forma de garantir sua continuidade, 
principalmente em momentos de crise.
As ideias keynesianas influenciaram muitos pesquisadores e agentes 
políticos, tanto que muitos dos movimentos de ação do Estado na economia têm 
raízes ou encontram algum elemento nestes pressupostos. Por isso, veremos ainda 
nesta unidade outros cinco tópicos (além deste primeiro): O Estado de Bem-Estar 
Social, Os Pressupostos da Escola Francesa da Regulação, O Desenvolvimentismo, 
Algumas Políticas para o Desenvolvimento e, por fim, um tópico sobre a Comissão 
Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). 
Evidente que os temas são introdutórios, de forma que cabe também 
a você, acadêmico(a), procurar sempre mais informações sobre os assuntos. 
Lembrando que ao final de cada tópico há um resumo e questões para auxiliá-lo 
na compreensão dos conteúdos.
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
66
Voltando à conversa a respeito deste primeiro tópico, conheceremos um 
pouco mais sobre a vida de John Maynard Keynes. Posteriormente, veremos 
o contexto histórico em que ganham força os pressupostos keynesianos. Por 
conseguinte, abordaremos algumas premissas básicas desta teoria e, por fim, 
veremos algumas críticas e influências. Bom estudo!
2 JOHN MAYNARD KEYNES
John Maynard Keynes (1883-1946), considerado por muitos o pioneiro da 
macroeconomia, foi um dos mais notáveis economistas da primeira metade do 
século XX. Discípulo de Alfred Marshal, estudou e lecionou em Cambridge. Tinha 
grandes preocupações com as implicações práticas das teorias econômicas. Não 
por acaso, tornou-se crítico dos conceitos da ortodoxia marginalista (em que seu 
mestre, Marshall, era grande expoente). Como economista, foi autor de uma das 
obras mais influentes da teoria econômica do século XX, cujo expoente é “A Teoria 
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”.
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), a macroeconomia pode ser entendida como o estudo da 
determinação e do comportamento dos grandes agregados de uma economia, como o Produto 
Interno Bruto (PIB), o nível geral de preços, a poupança nacional, importação, exportação, nível 
de investimento agregado, entre outros. Enfim, são todos aqueles indicadores que têm uma 
dimensão e impacto macro, ou seja, em nível de país (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 
2003).
De família ilustre e filho de pais intelectuais, desfrutou desde cedo da 
melhor educação de sua época. Passou a estudar Economia com a conclusão do 
ensino formal. Até então havia se dedicado ao estudo de Matemática, Filosofia 
e Humanidades. Além de célebre economista, teve destaque em muitas outras 
áreas da vida. Foi homem de negócio, diretor de Companhias de Seguro e 
Investimento, assessor de grande influência do Tesouro Britânico, diretor do Banco 
da Inglaterra (equivalente ao nosso Banco Central). Além disso, gostava de artes, 
foi produtor teatral, editor e colecionador de livros raros, articulista da imprensa, 
entre muitos outros afazeres. Politicamente, tinha ligação com o Partido Liberal 
inglês. Importante lembrar que representou a Inglaterra na Conferência de Bretton 
Woods, em 1944, de onde se originaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e 
o Banco Mundial.
TÓPICO 1 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
67
FIGURA 18 - JOHN MAYNARD KEYNES
FONTE: Disponível em: <http://www.ministry-of-information.com/john-maynard-
keynes-really-warren-buffet-day/> Acesso em: 14 jan. 2015.
3 UMA NOVA TEORIA EM MEIO À CRISE
A grande contribuição de Keynes veio com a publicação de sua obra Teoria 
geral do emprego, do juro e da moeda, em 1936. A publicação de seus postulados 
ocorreu em um ambiente econômico e político conturbado, em que o mundo vivia 
os impactos de uma das maiores crises econômicas de sua história, a saber, a crise 
de 1929 (também conhecida como a Grande Depressão), cujo ponto central foi a 
quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
IMPORTANT
E
A crise de 1929, conhecida como a “Grande Depressão”, foi o período de maior crise 
econômica, de nível mundial, do século XX. Iniciou em 1929, no interior do sistema financeiro, 
cujo ponto central foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Primeiramente atingiu a 
economia norte-americana para então se espalhar pela Europa e, por conseguinte, pelos 
países latino-americanos, asiáticos e africanos. Seus maiores impactos só foram atenuados em 
meados da década de 1930 (SANDRONI, 1999).
Com a Grande Depressão, o desemprego estava muito elevado, tanto 
nos Estados Unidos como na Europa (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009). Até 
a década de 1930, era irrelevante a preocupação dos economistas em estudar os 
problemas “macro” da economia, particularmente a questão do nível de emprego. 
Os pressupostos clássicos,baseados na Lei de Say, enxergavam o desemprego 
como algo temporário e passível de autoajuste da economia, que tenderia ao pleno 
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
68
emprego. Não se pensava em desemprego de caráter permanente, muito menos 
em superprodução (VICECONTI; NEVES, 2005).
Dessa maneira, a teoria econômica da época não dava conta de atenuar os 
problemas da crise financeira. Keynes, com seus estudos acerca do emprego e dos 
ciclos econômicos, acabou superando os conceitos hegemônicos, provenientes da 
ortodoxia marginalista. Sugeriu, como remédio à crise, políticas de intervenção do 
Estado nas atividades econômicas dos países, a fim de conter os efeitos da crise, 
pois teriam impacto na demanda efetiva.
Entre a corrente hegemônica (liberais, marginalistas) havia a crença de que 
o mercado encontraria seu equilíbrio de forma natural. Baseados na Lei de Say, 
sustentavam que a produção criava seu próprio comércio, e, portanto, não haveria 
problema de superprodução. Tanto é que os marginalistas subestimaram os efeitos 
da crise de 1929, mesmo considerando-a um desajuste temporário, capaz de se 
reajustar naturalmente. 
NOTA
O marginalismo é a base do pensamento neoclássico. Para seus defensores, o 
valor de um bem é definido por um fator subjetivo, a saber, a sua utilidade. Rompe com a teoria 
clássica do valor-trabalho justamente por colocar a capacidade de satisfação das necessidades 
dos indivíduos como central na valoração de algo. A necessidade é subjetiva e, deste modo, a 
utilidade de determinado bem depende de cada indivíduo. “O valor de cada bem é dado pela 
utilidade proporcionada pela última unidade disponível desse bem, ou seja, por sua ‘utilidade 
marginal’” (SANDRONI, 1999, p. 367).
Keynes apontou justamente o contrário, evidenciando que a demanda era 
responsável por guiar a oferta. Defendeu e comprovou que o nível de emprego 
de uma economia estava ligado à sua demanda efetiva, que corresponde àquela 
proporção da renda direcionada a gastos com o consumo e com o investimento. 
Evidente que, a partir destes pressupostos, a solução para a crise econômica 
não se encontrava no “autoequilíbrio” do mercado, mas sim, em uma política 
macroeconômica de estímulo à demanda efetiva da economia, ou melhor, com 
gastos e investimentos do governo na vida econômica da nação.
4 A ECONOMIA KEYNESIANA
A grande contribuição de John Maynard Keynes está no princípio da 
demanda efetiva. Seus pressupostos foram em desencontro à premissa clássica de 
que a oferta criava sua própria demanda (da qual a Lei de Say é expoente). Para 
Keynes, pelo contrário, era a demanda – ou seja, as necessidades dos indivíduos 
– que influenciaria a oferta. Desta maneira, para resolver o problema da crise 
TÓPICO 1 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
69
eram necessárias políticas focadas na demanda. Para promover o equilíbrio 
macroeconômico com emprego é preciso atentar para o lado da procura. A 
saída então é a intervenção do Estado na economia. De acordo com sua teoria, 
um dos fatores fundamentais pelo volume de emprego era o nível de produção 
nacional de determinada economia, que era determinado pela demanda efetiva 
(VASCONCELLOS; GARCIA, 2009). 
IMPORTANT
E
A demanda efetiva (ou demanda solvente, agregada) pode ser entendida como a 
demanda por bens e por serviços, que possuem capacidade de pagamento. São menores que 
as necessidades do conjunto da população, pois se referem às necessidades que a população 
efetivamente possa pagar (SANDRONI, 1999).
A preocupação de Keynes foi com relação aos grandes agregados 
econômicos a curto prazo (os clássicos defendiam o longo prazo). Criticou dois 
sustentáculos do pensamento clássico: A Lei de Say e a efetividade da redução 
dos salários como forma de reduzir o desemprego. Para ele, o pleno emprego era 
apenas uma das tantas situações possíveis em uma economia e, ao contrário dos 
clássicos, era possível alcançar o equilíbrio de uma economia com desemprego no 
mercado de trabalho. Seria possível, de acordo com ele, alcançar o equilíbrio do 
produto nacional de uma economia sem o pleno emprego dos recursos produtivos.
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), a noção de “curto prazo” corresponde a um período de tempo 
em que existe, no mínimo, um fator de produção fixo. Já a noção de “longo prazo” corresponde 
a um período de tempo em que todos os fatores de produção variam. Contrariamente ao curto 
prazo, não existe sequer um fator fixo.
Foi a partir do trabalho de Keynes que se desenvolveu profundamente a 
Teoria Macroeconômica, principalmente no pós-Segunda Guerra. Cada vez mais 
se procurou compreender as variáveis que exerciam influência no produto e no 
nível de emprego de determinada economia (VICECONTI; NEVES, 2005). No pós-
guerra aumentaram os resultados positivos das políticas influenciadas por estes 
postulados. 
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
70
Em uma economia em depressão, era difícil, segundo Keynes, que os 
empresários elevassem seus investimentos. Neste caso, para que houvesse 
equilíbrio e a economia alcançasse pleno emprego, o governo deveria aumentar 
seus gastos, que aumentaria a demanda agregada, aumentando a mão de obra 
empregada.
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), o pleno emprego de uma economia corresponde a uma 
situação em que todos os recursos disponíveis (emprego, por exemplo) estão sendo utilizados 
de forma plena na produção dos bens e dos serviços, o que garante o equilíbrio das atividades 
produtivas.
O pensamento de Keynes a respeito de poupança diferia dos clássicos. A 
poupança não era função da taxa de juros, mas do nível de renda. Este pressuposto 
inclusive invalidou a ideia de equilíbrio automático entre poupança e investimento 
através da taxa de juros (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003). Afirmou 
ainda que poderia haver maior vantagem em reter dinheiro, em comparação com 
algum certo tipo de aplicação em investimento. Quando acontece este fato, onde 
entesourar dinheiro torna-se mais rentável do que aplicá-lo em determinada 
atividade produtiva, a demanda efetiva da economia cai, reduzindo o número de 
atividades, o emprego e, consequentemente, a renda.
Das suas análises das variações da produção e do emprego, concluiu que 
o que altera o volume de emprego é a procura de mão de obra e não a sua oferta, 
como sustentavam os clássicos. Desta maneira, o desemprego é fruto de uma 
demanda insuficiente de bens e serviços, solucionada com um maior volume de 
investimentos. O investimento, inclusive, é o fator dinâmico da economia, capaz 
de assegurar o pleno emprego e influenciar a demanda.
Segundo os pressupostos keynesianos, a economia pode encontrar seu 
nível de equilíbrio mesmo com um nível alto de desemprego, que vai permanecer 
assim até que haja intervenção do governo, através de uma política adequada de 
investimentos e de incentivos, capazes de sustentar a demanda efetiva, bem como 
manter os níveis de emprego e renda em alto ritmo. Assim, com cada elevação da 
renda, crescem também o consumo e o investimento. E para que isto aconteça, 
faz-se necessário que o Estado tenha instrumentos de política econômica, sejam de 
regulação da taxa de juros, de expansão dos gastos públicos, de investimentos por 
meio de empréstimos, entre outros (SANDRONI, 1999). 
O keynesianismo inaugura assim uma modalidade de intervenção do 
Estado na economia, que não atinge totalmente a autonomia da iniciativa privada. 
Em sua originalidade e em face da conjuntura de crise, defendia a adoção de 
TÓPICO 1 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
71
políticas capazes de solucionar os problemas de desemprego pela intervenção 
estatal, desestimulando o entesouramento por meio da redução da taxa de juros 
e aumento dos investimentos públicos. Em consequência disso, aumentam-se os 
investimentos em atividades produtivas.
Vale lembrar que suas ideias influenciaramo famoso New Deal, programa 
de recuperação econômica de Franklin D. Roosevelt (1933-1939). A grande 
convicção que pairava no ar era que o capitalismo poderia ser salvo (quando 
envolto em crises), desde que os governos interviessem na economia, cobrando 
impostos, reduzindo juros, tomando empréstimos e gastando. 
NOTA
O economista Michal Kalecki, polonês, chegou aos mesmos resultados de Keynes, 
partindo não da economia neoclássica, mas da marxista.
QUADRO 2 - ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE O PENSAMENTO CLÁSSICO E O KEYNESIANO
Postulados clássicos Postulados keynesianos
Predomínio da oferta sobre a demanda. Predomínio da demanda sobre a oferta.
Equilíbrio de todos os mercados de fatores de 
uma economia.
Considera que alguns mercados de fatores 
podem estar em desequilíbrio, como o caso do 
mercado de trabalho.
Sustenta uma situação de pleno emprego 
dos recursos da economia como condição de 
equilíbrio.
Sustenta ser possível chegar à condição de 
equilíbrio sem o pleno emprego dos recursos 
de uma economia.
Baseia-se nas soluções de longo prazo para os 
problemas econômicos. Baseia-se nas soluções de curto prazo.
Não dá muita importância aos gastos do 
governo em uma economia. Sustenta que os 
gastos da iniciativa privada (investimento 
das empresas, consumo dos indivíduos, entre 
outros) contribuem de forma decisiva para o 
crescimento econômico.
Os gastos do governo assumem papel 
importante para alavancar o crescimento 
econômico, principalmente em momentos de 
crise.
Tem suas premissas baseadas no conceito de 
laissez-faire, ou seja, de livre mercado, que se 
autorregula.
Não considera que o mercado venha a se 
autorregular sempre, sendo necessária a 
intervenção estatal. Sugere uma política 
macroeconômica de estímulo à demanda 
efetiva da economia.
Sua ênfase é na microeconomia. Sua ênfase é nos agregados macroeconômicos.
FONTE: Adaptado de Vasconcellos; Garcia, 2009 e Pinho et al. (2003) 
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
72
5 CRÍTICAS E INFLUÊNCIAS
Alguns autores fizeram algumas críticas à obra de Keynes. Uma delas 
afirma que tal teoria não logrou ser “geral” (como pretendia a Teoria Geral), sendo 
assim, mais adaptada à realidade socioeconômica da Grã-Bretanha durante a 
Grande Depressão dos anos de 1930. Além disso, há críticas por ser limitada aos 
problemas do subemprego e ao curto prazo. Outros afirmam que Keynes tenha 
simplificado demais a complexa realidade econômica e, ainda, deixou de lado a 
análise da microeconomia. Além de não ter se debruçado sobre o caso dos países 
emergentes. Soma-se a isso o fato de que não considerou o problema do fim da 
análise produtiva como fundamental.
Ainda nesta linha, outros autores criticam as políticas econômicas 
recomendadas por Keynes, já que, por um lado, foram responsáveis pelo aumento 
da inflação e, por outro, por não elevarem o poder aquisitivo dos trabalhadores. 
O que tais políticas acabaram fazendo foi o estímulo ao consumo, que favoreceu 
as classes dominantes. Por simplificar a organização da sociedade, Keynes acabou 
estabelecendo uma única lei de consumo, ignorando que este é totalmente diferente 
se for levada em conta a classe dos trabalhadores e dos capitalistas. Os primeiros 
têm um poder de consumo bem inferior aos segundos.
Também se critica o fato de que Keynes não tenha se posicionado sobre 
a natureza de classes do Estado, principalmente dos modelos imperialistas (da 
qual a Inglaterra é exemplo claro). E por subestimar a natureza classista do 
Estado capitalista, suas propostas de aumento do controle estatal mediante o uso 
de recursos da renda nacional acabaram por aumentar a submissão à oligarquia 
financeira.
Apesar das críticas, o pensamento keynesiano exerceu grande influência 
após a Segunda Guerra, principalmente nos países capitalistas. A própria Ciência 
Econômica experimentou um maior desenvolvimento, como exemplo, a presença 
cada vez mais contundente de modelos estatísticos e matemáticos. Mesmo estas 
mudanças não foram capazes de provocar tamanho impacto como foi o provocado 
pela publicação da obra keynesiana Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, 
em 1936. Não houve, dentro da ciência econômica, ideias capazes de gerar 
consequências tão impactantes, como o fortalecimento do intervencionismo nas 
sociedades capitalistas ocidentais (PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2003). 
Mesmo economistas com uma tendência mais crítica ao capitalismo e mais 
próximos ao socialismo incorporaram algumas contribuições da teoria keynesiana, 
como, por exemplo, a política de direcionamento dos investimentos por parte do 
Estado e a política de pleno emprego.
Sem contar que os pressupostos keynesianos fomentaram o desenvolvimento 
de estudos tanto nas ciências econômicas como em outras áreas do conhecimento. 
A econometria, que vem ganhando espaço no mainstream da economia, é um bom 
TÓPICO 1 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
73
5 CRÍTICAS E INFLUÊNCIAS exemplo: construiu novos modelos agregados e passou a desenvolver pesquisas 
relacionadas à contabilidade nacional, ao produto, à renda nacional e tantos outros 
agregados.
Sobre os cientistas econômicos que deram continuidade a pesquisas 
partindo daquilo que Keynes discutiu com sua obra, podemos destacar três grupos:
• Os monetaristas, que se vinculam à Universidade de Chicago e defendem um 
controle maior da moeda e um baixo grau de intervenção estatal. Podemos citar 
como exemplo de destaque o economista Milton Friedman.
• Os fiscalistas, que sustentam a utilização de políticas fiscais ativas e um grau 
mais acentuado de intervenção estatal. Entre os economistas de destaque estão 
James Tobin, da Universidade de Yale, e Paul Anthony Samuelson, de Harvard 
e MIT.
• Os pós-keynesianos, que têm se debruçado sobre a obra de Keynes, perfazendo 
de certa maneira uma releitura dela. O que tentam mostrar é que o pensador 
britânico não negligenciou o papel da moeda e da política monetária. Além 
disso, tratam do papel da especulação financeira e defendem a intervenção 
estatal na economia, com maior ênfase que os demais citados. Podemos citar 
aqui os economistas Joan Robinson, Hyman Minsky, Paul Davison e Alessandro 
Vercelli.
Apesar desta distinção, há ainda diferenças entre os próprios grupos. 
Mesmo estas divergências existindo, são baseados nos pontos fundamentais do 
trabalho de John Maynard Keynes (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009).
74
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos que:
• As ideias keynesianas ganham força em meio à Grande Depressão, originada 
em 1929. O marco destes postulados é a publicação da obra Teoria geral do 
emprego, do juro e da moeda, em 1936.
• Os postulados keynesianos foram ao desencontro da premissa clássica de que o 
mercado se autorregulava e de que a oferta criava sua própria demanda.
• Ao contrário dos clássicos, para Keynes o capitalismo não tendia ao autoequilíbrio. 
Para ele, era a demanda que exercia influência sobre a oferta.
• Uma das grandes contribuições da teoria de Keynes foi o princípio da demanda 
efetiva.
• O keynesianismo inaugura uma modalidade de intervenção do Estado na 
economia, que não atinge totalmente a autonomia da iniciativa privada.
• As preocupações keynesianas eram os grandes agregados econômicos e o curto 
prazo. Podemos dizer que são a base da Macroeconomia.
• As teorias keynesianas sustentavam que o pleno emprego era apenas uma das 
situações possíveis da economia, portanto, era possível alcançar o equilíbrio 
com desemprego e sem o emprego total dos recursos disponíveis.
• Em uma economia em depressão era essencial a intervenção do Estado na 
economia, através dos gastos públicos e aumento da demanda agregada.
• Os gastos do governo têm papel importante para alavancar o crescimento 
econômico.
• O keynesianismo influenciou muito a Ciência Econômica, bem comogovernos e 
instituições pelo mundo todo. 
75
AUTOATIVIDADE
Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos 
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno 
de Estudos. Bom trabalho!
1 O keynesianismo surgiu nos anos de 1930, no calor da Grande Depressão. 
Seus postulados revolucionaram a teoria econômica e influenciaram 
governos pelo mundo inteiro. De acordo com os principais postulados, 
coloque V para verdadeiro e F para falso:
( ) O keynesianismo não dá muita importância aos gastos do governo em uma 
economia. Bastam ao crescimento econômico os gastos da iniciativa privada.
( ) Uma das grandes contribuições do keynesianismo está no princípio da 
demanda efetiva.
( ) O economista Michael Kalecki chegou aos mesmos resultados de Keynes, 
partindo da economia marginalista.
( ) Para Keynes, a solução para a crise econômica capitalista se dava com o 
aumento dos gastos e do investimento por parte do governo na economia.
( ) De acordo com os postulados keynesianos, o pleno emprego de uma 
economia poderia ser alcançado mesmo com desemprego.
( ) Segundo Keynes, a poupança era função da taxa de juros. Sustentava que 
havia uma tendência ao equilíbrio entre poupança e investimento através 
da taxa de juros. Sendo assim, o entesouramento excessivo de dinheiro não 
tinha nenhum efeito sobre a demanda efetiva da economia.
2 Podemos dizer que a teoria keynesiana foi um contraponto a alguns 
postulados da teoria econômica clássica. Em acordo com o que vimos a 
esse respeito, comente ao menos cinco diferenças entre as duas escolas de 
pensamento.
3 Os postulados keynesianos tiveram destaque na solução dos problemas da 
crise financeira de 1929 e acabaram influenciando políticas de governo por 
todo o mundo. Comente as principais características deste processo.
76
77
TÓPICO 2
O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior vimos alguns dos pressupostos básicos do keynesianismo, 
que influenciou e vem influenciando pesquisadores, governos e políticas no 
mundo todo. Neste segundo tópico nossa atenção estará voltada a um modelo 
de Estado, o “Estado de Bem-Estar Social”. Podemos ter certeza de que muitos 
dos postulados de Keynes têm influência sobre as concepções mais recentes desta 
forma de atuação estatal. 
O Estado de Bem-Estar Social é uma das formas que o Estado pode assumir. 
Evidente que tem maior incidência no cotidiano dos indivíduos, em maior grau 
em alguns casos, em outros, em menor grau. Muitos pesquisadores fazem uma 
classificação dos vários modelos que vem a assumir este tipo de Estado, de acordo 
com as funções que desempenha. Podemos citar como exemplo bem-sucedido 
na atualidade os países escandinavos. Nestes são ofertados de maneira universal 
serviços públicos de alta qualidade, como educação, moradia, garantia de emprego, 
de renda, saúde e tantos outros. É bom lembrar que tais serviços são fruto de lutas 
históricas e não apenas da caridade de governantes. 
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Algumas vezes já ouvimos falar do Estado de Bem-Estar Social, também 
conhecido como Welfare State ou, ainda, Estado assistencial. De fato, é uma das 
formas de se conceber o Estado, diante das mais diversas formas que ele assume 
ou pode assumir. Historicamente, podemos apresentar a política adotada na 
Grã-Bretanha, no pós-Segunda Guerra, como exemplo deste modelo de Estado. 
Frutos de reivindicação de longa data, muitas políticas de assistência social foram 
aprovadas, desde saúde à educação, que tinham como propósito garantir serviços 
idênticos a todos os cidadãos, independente de sua renda (BOBBIO; MATTEUCCI; 
PASQUINO, 2000).
Voltando um pouco no tempo, podemos apontar um avanço rumo ao 
Estado de Bem-Estar na Inglaterra, entre os anos de 1905 a 1911. Na época, houve 
a instituição de um seguro nacional de saúde e de um sistema fiscal progressivo, 
além do reconhecimento dos direitos sindicais e políticos da classe operária. O 
cenário rumo à constituição do Welfare State vai ganhando cada vez mais corpo, 
durante os anos de 1920, 1930 e nos anos que seguem à Segunda Guerra Mundial, 
com a constante intervenção estatal, seja na indústria bélica, como na distribuição 
de gêneros em geral. 
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
78
Os anos que se passaram à Grande Depressão, como vimos anteriormente, 
fizeram com que o mundo ocidental passasse a aumentar as despesas públicas, 
como forma de manter o nível de emprego e mesmo a condição de vida das 
pessoas. Interessante ressaltar que, nos casos da Inglaterra e dos Estados Unidos, 
as políticas assistencialistas se dão em um ambiente liberal-democrático, com 
fortalecimento dos sindicatos e criação de uma estrutura administrativa capaz de 
responder às demandas sociais, principalmente dos mais necessitados (BOBBIO; 
MATTEUCCI; PASQUINO, 2000).
É na Inglaterra dos anos 1940 que se chega àquilo que vem a ser 
definitivamente o Welfare State, ou seja, a garantia da universalidade de direitos 
a todos os cidadãos, independente de sua idade, renda e posição social. Exemplo 
seguido por muitos outros países industrializados.
Vale ressaltar que o aumento das despesas públicas resultou em um aumento 
da porcentagem do Produto Interno Bruto gasto em serviços à população. Aqui se 
vê a relação entre o crescimento econômico e a melhora da qualidade material da 
vida dos indivíduos: grosso modo, quanto mais riqueza produzida, mais recursos 
às demandas da população.
3 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
Muito se pode dizer sobre o Estado de Bem-Estar Social, assim como sobre 
suas concepções. Basicamente, Benevides (2011) define este tipo de Estado com 
ajuda de Wilensky (1975): aquele que garante "tipos mínimos de renda, alimentação, 
saúde, habitação, educação, assegurados a todo o cidadão, não como caridade, mas 
como direito político". Interessante conceito, porque dele se conclui que um Estado 
que garanta o bem-estar dos seus indivíduos não é algo proveniente do acaso ou 
da vontade de governantes piedosos, mas sim, fruto da luta política organizada, 
de longa data. 
IMPORTANT
E
A grande diferença do Welfare State de outros tipos de Estado não é apenas a 
intervenção das estruturas públicas na melhora do nível de vida dos indivíduos, mas sim, o 
fato de que isto é reivindicado pelas pessoas. Portanto, as políticas que garantem melhores 
condições de vida à população são fruto da luta política organizada e não de caridade.
TÓPICO 2 | O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
79
Praticamente todas as noções de Welfare State remetem ao Estado como 
garantidor das necessidades básicas da população. Seu fundamento está na 
garantia mínima de renda, educação, saúde, moradia a qualquer cidadão. É 
o poder do Estado organizado a fim de oferecer a todo conjunto da população, 
indiferentemente de sua posição social, garantia de reprodução material de sua 
vida (BENEVIDES, 2011).
Esta ação estatal acaba reduzindo os riscos sociais a que os cidadãos estão 
expostos, principalmente pela dinâmica do capitalismo. Baseia-se em uma noção 
de direito social e, é claro, tem relação com o mercado, já que tenta amenizar os 
resultados adversos das atividades capitalistas, como a desigualdade de acesso aos 
bens públicos, entre tantas outras.
O financiamento deste tipo de Estado se dá, geralmente, pela contribuição 
social dos trabalhadores e dos empregadores, porém, dependendo do tipo de 
Estado, o peso destes varia (BENEVIDES, 2011). É bom lembrarmos que não há 
uma única forma de Estado de Bem-Estar Social. Há aqueles que gastam mais com 
benefícios sociais, que têm mais controle estatal, como também existem os que 
gastam menos e que pouco intervêm no mercado. Existem diferenças quanto à 
contribuição também, e, é claro, sobre o nível de redução da pobreza que venham 
a alcançar. 
Mesmo que o modelode Welfare State seja aquele que busca o bem-estar dos 
indivíduos através dos direitos sociais, a constituição deste entre as nações levou 
em consideração certas especificidades. Portanto, há como distingui-los. Esping-
Andersen (1991) nos ajuda neste sentido, ao distinguir três tipos de Welfare State: 
o Liberal, o Conservador e o Social-democrata. Apesar desta divisão, não há como 
apontar uma delimitação tão clara entre os modelos. Ou seja, características dos 
três tipos se entrelaçam. Um modelo conservador pode apresentar características 
de um modelo social-democrata e vice-versa, por exemplo. Vejamos cada regime 
em separado.
3.1 O ESTADO DE BEM-ESTAR “LIBERAL”
O Welfare State com predomínio das características liberais é aquele 
em que os mecanismos de mercado têm maior evidência. Os serviços sociais 
não são estendidos a toda a população. Focam-se nos mais pobres, com ações 
assistencialistas. É bom destacarmos que é necessária uma comprovação dos 
indivíduos considerados pobres e indigentes. As transferências destinadas aos 
serviços universais são menores. Outra característica reside no programa de 
previdência, mais modesto. Inclusive, há o incentivo aos planos privados de 
seguridade.
Como já exposto, não há uma extensão plena dos direitos de cidadania, 
preocupando-se mais com a garantia de certos níveis de renda e com uma gama 
mais tímida de benefícios. Há, assim, uma grande preocupação em deixar de 
incentivar o trabalho. É justamente no mercado de trabalho que o Estado age: é 
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
80
através da inserção no mercado, buscando neste melhores salários, que a população 
pode se valer de melhores condições de vida (através do trabalho e salários). 
A solução aos problemas socioeconômicos é relegada às forças do mercado, 
sendo que a intervenção estatal ocorre apenas quando muito necessário, ou seja, 
quando alguns problemas sociais se tornam graves e não encontram solução na 
iniciativa privada. Países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália podem ser 
visualizados como exemplos. 
Vale um adendo: por não se beneficiarem tanto com os programas 
assistenciais, é típico das classes de melhor poder aquisitivo uma rejeição ao 
aumento dos gastos sociais e o consequente aumento dos impostos.
3.2 O ESTADO DE BEM-ESTAR “CONSERVADOR”
No Welfare State com esta característica, o modelo de proteção social 
é baseado nas transferências. Benefícios como a aposentadoria, por exemplo, 
são proporcionais à contribuição do indivíduo. Neste sentido, não tem uma 
preocupação com as necessidades totais (e divergentes) das pessoas, mas sim, com 
a proporção com que o indivíduo contribuiu para o fundo específico. Aqui vemos 
a importância do mercado de trabalho neste processo, já que, quanto melhor for o 
salário, melhores as condições de contribuição com o Estado e, portanto, maior seu 
retorno. Uma das críticas a este modelo é que sua proteção sobre aqueles que estão 
excluídos do mercado de trabalho é insuficiente. Nestes casos, os benefícios são os 
mínimos possíveis, através de transferências.
O Estado assume um papel subsidiário, relegando às famílias (inseridas no 
mercado de trabalho) o papel principal na garantia dos direitos fundamentais dos 
indivíduos. A população empregada tem, é claro, amplo amparo, o que de certa 
maneira torna o custo do emprego maior. Sem contar que parte importante dos 
serviços de saúde e de cunho assistencial é ofertada por setores sem fins lucrativos. 
Tem presença na Europa continental, como Alemanha, Áustria, França, Bélgica, 
Holanda. Ainda assim, apresenta diferenças entre estes países, tendo cada um 
deles características distintas.
3.3 O ESTADO DE BEM-ESTAR “SOCIAL-DEMOCRATA”
Neste modelo, os indivíduos têm direito a maiores serviços provenientes 
da esfera pública. Inclusive, conseguem manter seu nível material de vida sem 
depender do mercado de trabalho. O princípio da solidariedade marca as ações 
deste tipo de Estado, no sentido de que as políticas (seja de saúde, educação, 
aposentadoria, entre outras) são universais, ou seja, estendidas a toda população, 
independente da renda e posição social. Um bom exemplo: tanto o filho de um 
operário quanto o filho de um banqueiro terão o mesmo direito à universidade, 
sendo esta custeada pelo Estado. 
TÓPICO 2 | O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
81
Ao contrário dos modelos conservador e liberal, os benefícios não estão 
ligados à proporção da contribuição do indivíduo. As políticas deste modelo 
procuram deixar o indivíduo não tão dependente das forças de mercado, através de 
serviços públicos de alta qualidade. Evidente que, por ser universal e por oferecer 
serviços de alta qualidade, estende-se a toda a população, sejam os mais pobres, 
classe média e mesmo os mais ricos. Isto também implica maiores contribuições 
por parte da população. Por isso, a busca por manter o maior número de pessoas 
trabalhando é constante. A busca do pleno emprego é uma questão central para 
estes países. Quanto mais pessoas estiverem no mercado de trabalho e o mínimo 
vivendo das transferências do governo, melhor. Tanto é que políticas de emprego, 
das mais diversas formas, são constantes.
Podemos destacar algumas características marcantes deste modelo de 
Estado de Bem-Estar: garantia de renda para todos (universal), políticas de 
emprego, de educação e prestação de serviços contra os riscos sociais diversos. 
Alguns, inclusive, têm serviços de cuidado bem desenvolvidos, como creches e 
mesmo o cuidado com os idosos. Os serviços das creches permitem que as mulheres 
trabalhem, o que contribui na diminuição da desigualdade.
Os países escandinavos são os exemplos que se encaixam nesses moldes. 
Importante ressaltar que os direitos sociais não estão relacionados à comprovação 
da pobreza ou da inserção no mercado de trabalho, como nos dois modelos 
apresentados anteriormente. Para acessar os benefícios do Estado, basta ser cidadão. 
Por isso, é um direito político. Evidente que isto retira muito a dependência das 
pessoas das livres forças do mercado.
QUADRO 3 - RESUMO DAS DIFERENÇAS ENTRE OS MODELOS DE ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
Modelo Liberal Modelo Conservador Modelo Social-democrata
As forças do mercado 
têm centralidade na 
provisão dos direitos 
sociais fundamentais dos 
indivíduos.
As famílias, através de sua 
posição no mercado de trabalho, 
têm a primazia na provisão dos 
direitos sociais fundamentais dos 
indivíduos.
O Estado assume centralidade 
na provisão dos direitos sociais 
fundamentais dos indivíduos.
O Estado é mínimo. O Estado exerce função subsidiária. O Estado tem papel central.
Programas 
assistencialistas aos 
pobres e incentivo 
a planos privados 
(previdência, saúde, 
entre outros).
Programas assistencialistas 
aos pobres e os benefícios aos 
cidadãos têm ligação com prévia 
contribuição (aposentadoria, por 
exemplo).
Benefícios à população são 
universais. Políticas de saúde, 
educação, emprego, renda, 
previdência, entre outros, são 
de alta qualidade e ofertados a 
todos, independente da renda e 
posição social.
FONTE: Adaptado de Benevides (2011).
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
82
4 CRISE NO MODELO DE BEM-ESTAR
Os argumentos utilizados para a redução dos recursos destinados às 
demandas da população e, portanto, a limitação do Estado de Bem-Estar Social, 
se associam ao déficit público, que, de acordo com os defensores desta crítica, 
provocou instabilidades econômicas e sociais (a inflação é um exemplo). 
Discorrer sobre a crise do Welfare State não é tão simples, muito menos 
algo de consenso. Isto porque remete mesmo a posturas ideológicas e, de certa 
forma, pela retomada de poder no direcionamento do Estado por determinadas 
classes sociais. Um elemento para o qual podemos chamar a atenção é o caso de 
países desenvolvidos, em que aredução do Welfare State se relaciona com a crise 
fiscal, ocasionada pela dificuldade crescente em equilibrar os gastos públicos com 
crescimento econômico. Realizar esta tarefa em uma economia capitalista nem 
sempre é tarefa fácil. 
Um exemplo marcante do desmonte do Estado de Bem-Estar Social foi 
o orquestrado na Grã-Bretanha, com a eleição da primeira ministra Margareth 
Thatcher, do Partido Conservador. Seu partido esteve no poder de 1979 a 1990, 
tendo na privatização das empresas públicas sua marca. É bom destacarmos que 
tal postura influenciou muitos países ao redor do mundo, como o caso do Brasil 
da década de 1990, que, além de vacilar em garantir os direitos básicos garantidos 
na Constituição, optou por uma política de arrocho salarial e de privatização do 
patrimônio público.
5 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL
O Brasil nunca logrou estruturar um Welfare State, aos moldes de alguns 
países europeus e dos países nórdicos. Ao longo de sua história há elementos 
garantidores de melhores condições de vida à sua população, ora mais expressivos, 
ora menos expressivos. Estes elementos são parte de estratégias de bem-estar.
Podemos dizer que a primeira tentativa de um Estado preocupado com o 
bem-estar de seus indivíduos tem origem nos anos de 1930, com Getúlio Vargas. A 
regulação das relações de trabalho, com a extensão de direitos aos trabalhadores, é 
exemplo disso, e até poderíamos enquadrá-la nos moldes do Estado de bem-estar 
conservador. Antes disso, o que havia eram medidas fragmentadas e de caráter 
emergencial.
O ambiente em que se fundam os alicerces do sistema de proteção social 
brasileiro desta época tem como marca o autoritarismo, que, se por um lado provia 
necessidades, também reduzia o poder de reivindicação dos sindicatos e dos 
líderes trabalhistas. Entre 1930 e 1945 é crescente a intervenção do Estado na área 
trabalhista e previdenciária. Podemos destacar a criação do Ministério do Trabalho, 
Indústria e Comércio (MTIC), a criação do Ministério da Educação e Saúde 
Pública em 1930. Em 1946, a legislação trabalhista então elaborada gradualmente 
foi reunida na intitulada Consolidação das Leis do Trabalho, que, dentre outras 
TÓPICO 2 | O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
83
coisas, regulamentava o número de horas do trabalho, o trabalho das mulheres e 
menores, direito a férias, salário mínimo, pensão, estabilidade e demais benefícios.
O que se conclui desta época é que o sistema de proteção social brasileiro 
tinha suas bases na mediação entre o capital e o trabalho e atingia, essencialmente, 
os trabalhadores urbanos (BENEVIDES, 2011).
Outro momento a evidenciar ocorreu na época da ditadura militar, com a 
extensão de alguns direitos a segmentos da sociedade. O que pode ser evidenciado 
deste período histórico são a criação do Instituo Nacional de Previdência Social 
(INPS) em 1966, o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), que 
incluía os trabalhadores do campo no sistema previdenciário, além do Fundo de 
Garantia por Tempo de Serviço (que operava como compensador da flexibilidade da 
legislação trabalhista). Criou-se ainda, no ano de 1974, o Ministério da Previdência 
e Assistência Social (BENEVIDES, 2011).
É bom lembrar que, apesar de criar benefícios sociais que em teoria 
cobririam toda a população, o sistema público brasileiro, na prática, acabou se 
especializando no atendimento seletivo da população. Sem contar que nivelou a 
segurança social em níveis baixos. Não por acaso, o período militar caracterizou-
se pelo aprofundamento das disparidades socioeconômicas entre a população, ao 
mesmo tempo em que favoreceu elites políticas e econômicas, tanto do Brasil como 
de países estrangeiros. 
A Constituição de 1988 é um pouco mais abrangente. Suas reformas, 
principalmente na área social, fazem com que a proteção social ao brasileiro possa 
ser enquadrada em regime de Welfare State. Nela se reconhece que somente as forças 
de mercado são incapazes de prover os direitos fundamentais aos indivíduos, 
muito menos de reduzir os riscos sociais a que estão expostos. Propõe o direito 
social atrelado à cidadania. 
Podemos dizer que foi um marco para os direitos sociais no Brasil, já que 
sustenta uma ampliação do sistema de proteção social e, mesmo, a instituição 
de princípios de universalização. Podemos destacar deste período a criação do 
Sistema Unificado de Saúde (SUS), a criação do seguro-desemprego, a evolução da 
previdência social (com sistema unificado com a previdência urbana e incorporação 
dos benefícios às mulheres). Longe de citar todos os avanços, pelo menos em tese 
se fundou um sistema de proteção social que universalizou direitos sociais e tratou 
temas importantes, como a saúde, a assistência social e a previdência como questões 
de ordem pública e, portanto, responsabilidade do Estado brasileiro (BENEVIDES, 
2011). Em tese, o Brasil deu um passo à consolidação de um Welfare State, mas na 
prática ainda está longe disso.
84
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:
• Conforme define Wilensky (1975), o Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State 
é o tipo de Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, 
habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como 
direito político.
• É na Inglaterra dos anos 1940 que se chega àquilo que vem a ser definitivamente 
o Welfare State, ou seja, a garantia da universalidade de direitos a todos os 
cidadãos, independentemente de sua idade, renda e posição social.
• Este modelo de Estado é fruto da luta organizada dos cidadãos por melhores 
condições de vida e não mera caridade de governantes piedosos.
• O financiamento do Welfare State se dá geralmente pela contribuição dos 
trabalhadores e empregadores.
• Alguns autores distinguem três tipos de Estado de Bem-Estar Social: o Liberal, o 
Conservador e o Social-democrata.
• No modelo Liberal, o Estado é mínimo e cabe às forças de mercado a centralidade 
na provisão dos direitos fundamentais dos indivíduos.
• No modelo Conservador o Estado tem papel subsidiário, sendo que as famílias 
têm centralidade na provisão dos direitos fundamentais dos indivíduos.
• No modelo Social-democrata o Estado tem papel central na vida dos indivíduos, 
provendo benefícios universais e de alta qualidade.
• O Brasil nunca logrou estruturar um Welfare State aos moldes dos países europeus 
e escandinavos. O que existem são políticas e demais elementos garantidores 
de melhores condições de vida à população, ora mais expressivos, ora menos 
expressivos.
85
AUTOATIVIDADE
Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos 
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de 
Estudos. Bom trabalho!
1 Praticamente todas as noções de Welfare State remetem ao Estado como 
garantidor das necessidades básicas dos indivíduos. Sua constituição entre 
as nações levou em consideração certas especificidades. Tanto é que alguns 
autores classificam três formas de Welfare State. Com base no que vimos, 
discorra sobre as principais diferenças entre estes três modelos (liberal, 
conservador e social-democrata).
2 O modelo de Bem-Estar Social é uma das muitas formas que o Estado pode 
assumir. Vimos no tópico 2 algumas características dele. Com base nisto, leia 
com atenção as afirmações abaixo e assinale o conjunto correto de afirmações:
I - A grande diferença do Welfare State de outros tipos de Estado não é apenas 
a intervenção das estruturas públicas na melhora do nível de vida dos 
indivíduos, mas sim, que esta intervenção é fruto da luta política organizada 
e não de caridade do governo.
I I - Podemos dizer que é na Inglaterra dos anos de 1940, no governo de 
Margareth Thatcher, que se constitui aquilo que vem a ser o Estado de Bem-
Estar Social.
III - O financiamento do Welfare State se dá pela contribuiçãotanto dos 
trabalhadores como dos empregadores e não varia de acordo com o tipo de 
Estado de bem-estar. 
IV – O Welfare State do tipo social-democrata tem como premissa conceder 
benefícios mediante a prévia contribuição dos cidadãos. Seus maiores exemplos 
são os países escandinavos.
( ) Todas as afirmações estão corretas.
( ) Apenas as afirmações I e II estão corretas.
( ) As afirmações II e III estão corretas.
( ) Apenas a afirmação I está correta.
( ) Nenhuma afirmação está correta.
3 Um subtópico de nosso estudo abordou o tema do Estado de Bem Estar-
Social aplicado ao caso brasileiro. Seria o Brasil um modelo de Welfare State? 
Justifique.
86
87
TÓPICO 3
A TEORIA DA REGULAÇÃO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Depois de vermos um pouco sobre as teorias keynesianas e entrar em 
contato com o modelo de Bem-Estar Social, nossa tarefa neste terceiro tópico será 
conhecer um pouco da Escola Francesa da Regulação. 
Os regulacionistas, como veremos, também surgem em um momento de 
crise. Por um lado, em um contexto de queda das taxas vigorosas de crescimento 
das economias capitalistas, e de outro, com os limites da própria teoria econômica: 
nem as teorias keynesianas, nem o fundamentalismo marxista, muito menos as 
teorias neoclássicas davam conta de explicar a complexa realidade. 
É sobre estas lacunas que a Teoria da Regulação ganhou evidência, 
impulsionada pela tese doutoral de Michel Aglietta, em 1974. Apesar de criticar 
o marxismo “fundamentalista”, a base desta escola de pensamento repousa nos 
pressupostos de Marx, pelo menos em sua origem. Algo de Keynes também 
encontrou espaço nos regulacionistas. Na verdade, pretendiam uma nova 
abordagem para explicar a realidade.
Veremos com mais cuidado os principais aspectos da Teoria da Regulação. 
Portanto, além desta parte introdutória, a seção que segue discorre sobre o contexto 
do surgimento da Escola da Regulação. A última seção é dedicada aos preceitos 
básicos desta escola de pensamento, com especial atenção aos conceitos-chave. 
Bom estudo!
2 CONTEXTO DA ESCOLA DA REGULAÇÃO
As concepções regulacionistas também ganharam força em um contexto 
de crise, ou seja, com o fim dos anos gloriosos de crescimento que se procederam 
no pós-Segunda Guerra Mundial. A volta das crises desvelou os limites do 
keynesianismo e, assim, abriu espaço para o debate dentro da economia. Não por 
acaso, houve o renascimento dos autores neoclássicos, principalmente daqueles 
alinhados a perspectivas racionais. Por outro lado, abriu espaço para o pensamento 
crítico, com raízes nos pressupostos de Marx, somados à incorporação das novas 
especificidades da conjuntura econômica e, ainda, de preceitos de outros autores. 
Eis o caso da Escola Francesa da Regulação. É neste contexto que esta escola 
ganhou força, na sua tentativa de construir uma análise do processo de acumulação 
capitalista, suas regularidades e crises (BOCCHI, 2000). 
88
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
IMPORTANT
E
Apesar de influenciada pelo marxismo, a Teoria da Regulação recusa as 
concepções mais fundamentalistas desta corrente de pensamento, ou seja, aquelas que 
sustentam leis gerais capazes de determinar e explicar tanto o crescimento quanto as crises do 
capitalismo. Os regulacionistas se opunham àquelas formulações baseadas em leis universais 
regentes do comportamento social, como o caso de alguns teóricos marxistas (ortodoxos), 
dos estruturalistas e dos neoclássicos, com sua defesa do equilíbrio geral (NASCIMENTO, 1993).
Além da influência de Marx, podemos citar ainda certa influência dos 
pressupostos de Keynes, principalmente pelo fato de que este autor tenha 
defendido a natureza instável do capitalismo, inclusive de seu crescimento. Além 
disso, a visão positiva do economista inglês acerca das instituições interessava aos 
autores regulacionistas.
Podemos dizer que o marco fundador da Escola Francesa da Regulação foi 
a tese doutoral de Michel Aglietta, defendida em 1974, cuja publicação ocorreu dois 
anos depois, em 1976. Seu trabalho foi intitulado Regulação e crises do capitalismo. 
O núcleo mais representativo desta escola foi formado por Robert Boyer, Alain 
Lipietz, Jacques Mistral, J. P. Benassy, J. Munõz e C. Ominami. Porém, quando se 
aborda esta teoria, é comum destacar Boyer, Lipietz e Aglietta.
Alguns autores classificam os vários autores regulacionistas em 
três grandes correntes. Um primeiro grupo é denominado de “ortodoxia” 
regulacionista, congregando pesquisadores da teoria do Capitalismo Monopolista 
de Estado e outros ligados ao Partido Comunista Francês. Um segundo grupo 
pode ser denominado como “heterodoxia” regulacionista, conhecidos como 
“regulacionistas parisienses”, e tem como base os estudos de Michel Aglietta e J. P. 
Benassy. Por fim, o terceiro grupo, mais heterogêneo, onde se enquadram vários 
autores, desde alemães e os intitulados radicais norte-americanos. Há quem afirme 
que esta corrente possa ser apresentada como institucionalista (NASCIMENTO, 
1993).
3 PRECEITOS BÁSICOS
Os regulacionistas, embora estivessem de acordo com a tese do esgotamento 
das políticas keynesianas, criticaram a opção neoliberal para resolver a crise 
do fordismo. Sua proposta era tentar entender os processos de acumulação e 
crise do capitalismo contemporâneo mediante o desenvolvimento de um novo 
referencial teórico-metodológico. Dentre as categorias mais importantes por eles 
desenvolvidas, ganharam destaque as categorias modelo de desenvolvimento, 
paradigma tecnológico, regime de acumulação, modo de regulação, fordismo, 
fordismo periférico, pós-fordismo, entre outras.
TÓPICO 3 | A TEORIA DA REGULAÇÃO
89
FIGURA 19 - MICHEL AGLIETTA
FONTE: Disponível em: <http://www.xerficanal-economie.com/emission/Michel-
Aglietta-Zone-euro-de-nouvelles-pistes-pour-sortir-de-la-crise_31.html>. 
Acesso em: 12 jan. 2015.
A pretensão dos regulacionistas foi bastante ousada. Por um lado, 
objetivaram desenvolver um referencial teórico da economia capitalista que fosse 
além daquele sustentado pelos economistas neoclássicos, ou seja, defensores do 
equilíbrio geral. Além do mais, deveria dar conta de superar os modelos marxistas 
reducionistas. A esta tarefa somou-se a tentativa em explicar o fenômeno da 
estagflação, que tomava conta dos países desenvolvidos a partir de 1973 (BOCCHI, 
2000). Sem contar que a volta das crises e do caráter cíclico do capitalismo expõe os 
limites das políticas econômicas de cunho keynesiano.
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), o fenômeno da estagflação ocorre quando se tem, ao 
mesmo tempo, taxas elevadas de inflação e recessão econômica (PINHO; VASCONCELLOS; 
GREMAUD, 2003). Este fenômeno foi típico do pós-Segunda Guerra e se acentuou com a 
crise do petróleo (1973-1979). Contraria a teoria clássica de que a inflação tende a cair com o 
aumento do desemprego. Vale destacar que o Brasil experimentou este fenômeno entre 1963 e 
1966, entre 1981 até 1984 (mais fortemente) e ainda entre 1987 até a introdução do Plano Real, 
em 1994 (SANDRONI, 1999).
Os três principais nomes da Escola da Regulação empenharam-se em 
uma análise histórica do capitalismo, tentando demonstrar como este modelo 
de produção havia perdurado mesmo em meio a crises e conflitos diversos. O 
questionamento acerca de como o processo de acumulação de capital consegue 
90
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
se reproduzir, com um grau de regularidade, inserido e a partir de contradições 
e conflitos, é a grande questão econômica para eles. Segundo os regulacionistas, 
o sistema capitalista é instável e suas contradições e antagonismos são fruto das 
relações entre os indivíduos. Por isso mesmo, o foco destes pesquisadores são as 
instituições, vistas como determinantes na reprodução do sistema capitalista.
Para os regulacionistas, o modo capitalista de produção evolui com baseem modelos de desenvolvimento, sustentado por um regime de acumulação e por 
um modo de regulação específico. Estes dois conceitos são chave nesta teoria e 
constituem faces de uma mesma moeda (CARVALHO, 2008).
Justamente por tentar entender como o capitalismo vive momentos de 
prosperidade e de crises, sem que venha a se destruir, o conceito de regulação 
utilizado por esta escola tem ligação com as concepções de crise e de acumulação 
de capital. Ele é mais amplo e diferente do de regulamentação e tem implicações 
na história, na economia e na sociologia. Seu arcabouço metodológico buscou 
construir conceitos capazes de articular algumas ideias-chave, dentre as quais:
• Que o processo de acumulação de capital tem papel determinante na dinâmica 
econômica do capitalismo. Esse processo de acumulação pode assumir formas 
variadas.
• O processo de acumulação de capital não se autorregula, nem mesmo encontra 
equilíbrio via forças de mercado.
As instituições (estruturas que são constituídas ao longo do tempo) têm 
papel fundamental para moldar a lógica do sistema capitalista. Ou seja, elas são 
responsáveis por direcionar a reprodução econômica em determinado período 
(CARVALHO, 2008).
Outros conceitos são importantes para os teóricos da regulação. Veremos 
mais especificamente abaixo.
3.1 O CONCEITO DE REGIME DE ACUMULAÇÃO
Por regime de acumulação se entende a forma específica que o processo 
de acumulação capitalista assume, com vistas a garantir a continuidade de 
acumulação de capital, bem como, de evitar desequilíbrios e crises. Denota, assim, 
um sentido de coerência. É um padrão de organização da atividade econômica que 
permite a continuidade do crescimento econômico. Isso de forma a permitir que os 
desequilíbrios e crises do próprio sistema capitalista, que são permanentes, sejam 
absorvidos ao longo do tempo.
Pode assumir uma forma extensiva ou intensiva. No primeiro caso, 
combina crescimento econômico com baixo dinamismo tecnológico e, portanto, 
tem predomínio da mais-valia absoluta. No segundo caso, combina crescimento 
com progresso tecnológico, com predomínio da mais-valia relativa (CARVALHO, 
2008).
TÓPICO 3 | A TEORIA DA REGULAÇÃO
91
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), os conceitos de “mais-valia absoluta” e “mais-valia relativa” 
já foram abordados na Unidade 1.
As regularidades referidas se relacionam:
• A um tipo de evolução da organização da produção e, ainda, das relações entre 
os trabalhadores assalariados e os meios de produção.
• A um espaço de tempo em que ocorre a valorização do capital, de onde se 
desenvolvem os princípios de gestão.
• A como ocorre a distribuição da renda, capaz de permitir a reprodução dinâmica 
das diferentes classes sociais.
• A uma composição que permite que a demanda social seja ajustada à tendência 
de evolução da capacidade produtiva.
A uma articulação com as formas não capitalistas de produção (CARVALHO, 
2008).
3.2 O CONCEITO DE MODO DE REGULAÇÃO
Já o modo de regulação corresponde ao conjunto dos comportamentos (dos 
indivíduos) institucionalizados, sejam formais ou informais, cuja função é fazer 
com que as decisões das pessoas sejam compatíveis com o regime de acumulação 
em que estão inseridas. São o conjunto de leis, valores, que irão reproduzir e 
sustentar determinada forma que o capitalismo venha a assumir (já que mantém a 
coesão social) (SAMPAIO, 2003).
A figura a seguir nos ajuda a compreender o conjunto de procedimentos 
e de comportamentos, tanto individuais como coletivos, do modo de regulação.
92
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
FIGURA 20 - CONJUNTO DE PROCEDIMENTOS DO MODO DE REGULAÇÃO
FONTE: Adaptado de Carvalho (2008).
Visto como a materialização do regime de acumulação (através das normas, 
leis, entre outros), possibilita que o processo capitalista de produção se reproduza 
de forma regular e “coerente”, mesmo que envolto em constantes contradições e 
crises.
3.3 O CONCEITO DE MODELO DE DESENVOLVIMENTO
Seria uma espécie de “conjugação” de um regime de acumulação com 
um modo de regulação. Podemos descrever um modelo de desenvolvimento a 
partir da forma com que este desenvolve o processo de acumulação de capital. 
Um bom exemplo é o modo desenvolvimento fordista, fruto de um regime de 
acumulação intensivo e de um modo de regulação denominado administrativo 
(alguns preferem utilizar monopolista). 
Neste tópico existe ainda uma classificação de crises que venham a ocorrer 
no processo de acumulação capitalista. Conforme nos aponta Carvalho (2008), 
podemos resumi-las da seguinte forma:
• Crises exógenas: causadas por fatores externos ao sistema econômico (o atingem 
“vindo de fora”). Um bom exemplo são os desastres naturais.
• Crises endógenas: têm sua origem no interior do modo de desenvolvimento. De 
menos impacto, são fruto de falhas na regulação, mas podem ser controladas 
pela intitulada forma institucional.
TÓPICO 3 | A TEORIA DA REGULAÇÃO
93
3.4 O CONCEITO DE FORMAS INSTITUCIONAIS
As formas institucionais são a codificação das relações sociais fundamentais 
que condicionam o modo de regulação (visto acima), como o regime de crescimento. 
É através destas formas que os agentes econômicos se relacionam. O que as norteia 
são as leis (ação de coerção), as noções de compromisso e mesmo o hábito (no 
sentido de um sistema de valores). Podemos descrever cinco principais formas 
institucionais. 
• Crises estruturais: são as crises de grande proporção, que marcam o fim de uma 
era do capitalismo. As soluções para este tipo de perturbação exigem grandes 
mudanças, desde políticas, técnicas, produtivas, institucionais e sociais.
QUADRO 4 - FORMAS INSTITUCIONAIS
Padrão 
monetário
Como a moeda é a linguagem do mundo mercantil, das trocas, ela 
assume a forma de colocar em relacionamento os indivíduos, ou melhor, 
os agentes econômicos. Por exemplo, possibilita a relação entre empresas 
e trabalhadores ou os consumidores e comércio. Dessa forma, não é vista 
como mercadoria.
Formas 
de relação 
salarial
Correspondem às instituições que coordenam a relação capital-trabalho. 
Dentre as relações que coordenam a relação capital-trabalho, cinco 
merecem destaque: 1) Tipos de meio de produção; 2) Forma que assume 
a divisão técnica e social do trabalho (relacionam-se à organização do 
processo produtivo, entre outras); 3) Maneira de remuneração dos 
trabalhadores pelas empresas; 4) Normas de determinação dos salários 
(formal ou informal); 5) Modo de vida dos trabalhadores (essencialmente 
ligado ao consumo: como se dá o consumo dos trabalhadores).
Formas de 
concorrência
Denotam como se dão as relações entre as empresas (vistas 
individualmente, com suas decisões tomadas independente das 
demais) no mercado. Podemos citar algumas formas: mecanismos de 
concorrência e monopolistas.
Regime 
de adesão 
internacional
Corresponde ao conjunto de regras e procedimentos determinantes 
da relação de um país com o resto do mundo (inserção no mercado 
internacional). Isso tanto para as trocas de mercadorias quanto para os 
locais de produção.
Formas de 
Estado
Correspondem às relações entre Estado, capital e produção. São todos os 
compromissos estabelecidos e institucionalizados que criam as regras da 
composição das receitas e das despesas públicas.
FONTE: Adaptado de Carvalho (2008).
94
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
• O marco fundador da Escola Francesa da Regulação foi a tese doutoral de Michel 
Aglietta, intitulado Regulação e crises do capitalismo.
• Os regulacionistas objetivavam entender os processos de acumulação e crise 
do capitalismo contemporâneo mediante o desenvolvimento de um novo 
referencial teórico-metodológico.
• Para os regulacionistas, o modo capitalista de produção evolui com base em 
modelos de desenvolvimento, sustentado porum regime de acumulação e um 
modo de regulação específico.
• Por tentar entender como o capitalismo vive momentos de prosperidade e de 
crises, sem que venha a se destruir, o conceito de regulação utilizado por esta 
escola tem ligação com as concepções de crise e de acumulação de capital. 
• O conceito de regime de acumulação refere-se a um padrão de organização da 
atividade econômica que permite a continuidade do crescimento econômico 
capitalista. Isso de forma a permitir que os desequilíbrios e crises do próprio 
sistema capitalista, que são permanentes, sejam absorvidos ao longo do tempo.
• O conceito de modo de regulação corresponde ao conjunto dos comportamentos 
(dos indivíduos) institucionalizados, sejam formais ou informais, cuja função 
é fazer com que as decisões das pessoas sejam compatíveis com o regime de 
acumulação em que estão inseridas. 
• O conceito de modelo de desenvolvimento pode ser descrito a partir da forma 
com que ele desenvolve o processo de acumulação de capital. Um bom exemplo 
é o modo desenvolvimento fordista.
• As formas institucionais são a codificação das relações sociais fundamentais que 
condicionam o modo de regulação com o regime de crescimento. É através 
destas formas que os agentes econômicos se relacionam. 
95
Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos 
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno 
de Estudos. Bom trabalho!
1 Alguns conceitos relacionados à Teoria da Regulação merecem destaque. 
Com base no que vimos no tópico 3 a esse respeito, associe a primeira coluna 
com a segunda.
AUTOATIVIDADE
(A) Regime de Acumulação ( ) Conjunto de comportamentos compatíveis com o regime de acumulação.
(B) Modo de Regulação ( ) Um exemplo é o modelo fordista.
(C) Modelo de Desenvolvimento ( )
Liga-se à concepção de crise e de acumulação de 
capital.
(D) Formas Institucionais ( ) É um padrão de organização da atividade econômica.
(E) Conceito de Regulação ( ) Os agentes econômicos se relacionam através delas.
2 Um conceito importante para os regulacionistas é o de modelo de 
desenvolvimento. A partir dele pode-se perceber uma classificação de 
crises, oriundas do processo de acumulação capitalista. Discorra sobre elas, 
evidenciando seus elementos principais.
3 Com base no que vimos sobre a Escola Francesa da Regulação, coloque V 
para verdadeiro e F para falso.
( ) As concepções regulacionistas têm raízes em Marx. Apesar disso, recusavam 
as concepções marxistas mais fundamentalistas, como aquelas sustentadas 
por leis gerais e determinantes.
( ) Em sua origem os regulacionistas desejavam um referencial teórico: que 
fosse além daquele sustentando pelos neoclássicos; que superasse os 
modelos marxistas reducionistas; que desse conta dos limites do keynesiano 
e; que explicassem o fenômeno da estagflação.
( ) O conceito de regulação tem intrínseca relação com o conceito de 
regulamentação.
( ) As instituições assumem papel fundamental de moldar a lógica do sistema 
capitalista. Assim, são responsáveis por direcionar a reprodução econômica 
de um determinado período.
( ) Para os regulacionistas, o processo de acumulação de capital tinha papel 
central na dinâmica econômica capitalista. Além disso, esse processo se 
autorregulava, encontrando equilíbrio junto às forças de mercado.
96
97
TÓPICO 4
A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Nas unidades anteriores vimos um pouco sobre keynesianismo, discutimos 
o Estado de Bem-Estar Social e, ainda, conhecemos mais sobre a Escola Francesa 
da Regulação. Pois bem, nossa tarefa agora, neste quarto tópico, será conhecer um 
pouco mais sobre a teoria desenvolvimentista.
O desenvolvimentismo teve presença marcante no direcionamento 
de políticas nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Os estudos do 
desenvolvimento se inserem na fronteira entre a Teoria Econômica e a Política 
Econômica. Suas origens se encontram em três fontes principais:
• No trabalho teórico dos economistas clássicos. O primeiro foi Adam 
Smith.
• Nas crises econômicas, pelas quais o capitalismo vem passando desde 
a Revolução Industrial.
• Nos estudos empíricos, de onde podemos fazer uma conexão do tema 
de nosso último tópico, ou seja, os estudos realizados pelos economistas 
da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). 
O desenvolvimentismo acabou perdendo força a partir do ano de 1970, 
com o retorno crescente das políticas neoliberais. No entanto, a partir de 2000 os 
pressupostos desenvolvimentistas retomam destaque, agora com a vestimenta de 
novo desenvolvimentismo.
Este tópico nos ajudará na compreensão destes conceitos. Após esta 
parte introdutória, faremos breve contextualização. Seguindo, são apresentadas 
características do desenvolvimentismo que teve lugar nos países latino-
americanos, com destaque para o Brasil. Por fim, as principais características do 
novo desenvolvimentismo são abordadas. Bom estudo!
2 UMA NOÇÃO INICIAL
A preocupação com o desenvolvimento é um pouco mais recente no campo 
da economia. Ganhou força a partir da Segunda Guerra. As raízes do Estado 
desenvolvimentista remontam ao Japão do século XIX, com seu nacionalismo 
econômico, orientado a desenvolver a indústria e realizar a revolução capitalista. 
Na época os japoneses viviam sob o jugo do imperialismo e tinham seu comércio 
atrelado aos interesses estrangeiros. Na tentativa de romper os laços de dominação, 
98
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
realizaram uma revolução nacionalista (da qual a Restauração Meiji, de 1968, é 
expoente) e iniciaram a sua revolução industrial e capitalista, dando impulso a um 
desenvolvimento econômico com base nacional.
Porém, o desenvolvimentismo surgiu como tal no final dos anos 1940, 
como uma estratégia nacional de desenvolvimento, cujo objetivo era fomentar a 
industrialização dos países periféricos, como o Brasil. Os fundamentos teóricos 
do desenvolvimentismo estão na Escola Histórica Alemã (Max Weber), na 
macroeconomia de Keynes e de Kalecki e ainda, da Escola Estruturalista do 
Desenvolvimento Econômico. Nos países latino-americanos, encontrou espaço 
na CEPAL e em seus principais expoentes, como Raúl Prebisch e Celso Furtado 
(PEREIRA; FURQUIM, 2012).
Didaticamente, podemos dizer que o Estado desenvolvimentista é aquele 
que fomenta o desenvolvimento econômico. Para tanto, conta com uma estratégia 
nacional de desenvolvimento, com leis, políticas, objetivos claros, cuja finalidade 
é criar oportunidades de investimento lucrativo à iniciativa privada e, ainda, 
melhorar os padrões de vida da população. Enxerga o mercado como uma ótima 
instituição capaz de coordenar a ação de setores competitivos, mas perigoso 
quando coordena setores monopolistas. 
Em suas premissas, os desenvolvimentistas têm restrição quanto à 
autorregulação dos mercados, sugerindo o planejamento destes. Além do mais, 
sustentam o planejamento em áreas estratégicas, como da infraestrutura e na 
indústria de base. O Estado torna-se responsável por parte dos investimentos nestas 
áreas, ficando para a iniciativa privada o restante (PEREIRA; FURQUIM, 2012).
3 O BRASIL E A AMÉRICA LATINA
O desenvolvimentismo encontrou terreno fértil na América Latina, 
com destaque entre os anos 1950 a 1970. Assumindo a forma de “nacional-
desenvolvimentismo”, logrou êxito ao fomentar a industrialização e desenvolver 
as forças capitalistas de mercado. No caso latino-americano, Pereira; Furquim 
(2012) nos apontam três características principais.
TÓPICO 4 | A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA
99
FIGURA 21 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTISMO NA AMÉRICA LATINA
FONTE: Adaptado de Pereira e Furquim (2012).
IMPORTANT
E
Caro(a) acadêmico(a), o grande objetivo do desenvolvimentismo dos anos de 1950 
a 1970 era promovera industrialização dos países latino-americanos. Era função do Estado 
desenvolvimentista promover a “revolução industrial” nestes países, cuja posição periférica 
no mercado internacional, baseada na venda de produtos agrícolas, só agravava as graves 
disparidades sociais e econômicas.
NOTA
Bom lembrar que quando Pereira; Furquim (2012) caracterizam o 
desenvolvimentismo como nacionalista, não se referem à questão étnica e, sim, à questão 
econômica. Quando se referem a uma “burguesia nacionalista”, referem-se a um “nacionalismo 
econômico”, na medida em que fomenta a indústria nacional, cujos interesses têm fim no país 
de origem.
100
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
Voltando ao caso brasileiro, alguns autores defendem que as raízes do 
Estado desenvolvimentista iniciaram de forma “acidental”, como resposta à Grande 
Depressão dos anos de 1930. Foi nos governos de Getúlio Vargas que ganharam 
corpo as principais instituições e também políticas de intervenção, que seriam base 
da política desenvolvimentista brasileira. Dentre as quais, vale lembrar: empresas 
estatais de aço (1940 e 1950), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
(BNDE) em 1950, a Petrobrás (1953), entre outras políticas (SCHNEIDER, 2013).
Vários grupos políticos, muitas vezes com distinções claras, se mobilizaram 
dentro de um panorama nacionalista. Economistas, sindicalistas, burocratas do 
Estado, grupos militares (décadas de 1960 e 1970), entre muitos outros. Porém, 
os grupos nunca se fundiram como uma força única de coalização em prol de 
uma estratégia de desenvolvimento, fazendo com que este movimento ocorresse 
de forma mais irregular.
É comum alguns autores afirmarem que o Estado desenvolvimentista 
brasileiro do século XX é permeado pela correlação entre autoritarismo e 
desenvolvimentismo (que encontrava destaque internacionalmente também), com 
destaque para o período da ditadura militar. Porém, é bom frisar que a evolução, 
e até mesmo consolidação, de um desenvolvimentismo brasileiro se dá entre 1954 
a 1964, nos governos democráticos. São deste período algumas políticas-chave, 
como a de substituição de importações e, ainda, a consolidação de indústrias de 
base, como a Petrobrás (SCHNEIDER, 2013).
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), o processo de substituição de importações corresponde 
a uma estratégia de desenvolvimento econômico que tinha por base o estabelecimento 
de barreiras à importação de determinados produtos estrangeiros que tinham potencial de 
produção pela indústria nacional. Assim, se por um lado se restringia a importação de certos 
produtos, por outro se fomentava a indústria nacional. Esta estratégia foi popularizada pelos 
teóricos da CEPAL (que veremos adiante).
No geral, o desenvolvimentismo logrou bons resultados, apesar de que 
desiguais. Em muitos casos proporcionou taxas elevadas de crescimento do PIB, 
geração de empregos, aumento real dos salários. No Brasil, muitas vezes aliado a 
um clientelismo, acabou deixando a desejar no que concerne à extensão de direitos 
socioeconômicos.
A partir dos anos de 1970 o desenvolvimentismo acabou perdendo força. 
De um lado, pelo discurso daqueles que criticavam a possibilidade de uma 
revolução capitalista nos países periféricos (encontra expoentes na teoria da 
dependência). Por outro, pela retomada dos pressupostos neoclássicos e liberais, 
que ganham grande destaque a partir de 1980 e influenciam decisivamente as 
TÓPICO 4 | A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA
101
nações e instituições internacionais com grande poder político e econômico. Com a 
hegemonia neoliberal (da qual os anos 1990 são destaque), o desenvolvimentismo 
é relegado a segundo plano.
4 O NOVO DESENVOLVIMENTISMO
A euforia das políticas neoliberais dos anos 1990 encontra seu limite e 
o debate acerca do desenvolvimentismo ressurge a partir dos anos 2000, agora 
denominado novo desenvolvimentismo. O grande predomínio neoliberal até então 
se deu principalmente pela influência dos países centrais, como os Estados Unidos. 
Seu ideário era de desregulamentação completa das economias, para assim atrair 
novos investimentos externos e possibilitar a livre mobilidade de capitais. 
O modelo de Estado novo desenvolvimentista tem sua base teórica nos 
pressupostos keynesiano e estruturalistas, somados a novos modelos econômicos 
desenvolvidos com base em políticas desenvolvimentistas bem-sucedidas dos 
países asiáticos. No que se refere à promoção de políticas públicas, o Estado continua 
tendo papel central. A grande prioridade é o desenvolvimento econômico, uma 
taxa de câmbio competitiva no mercado internacional, a responsabilidade fiscal e, 
ainda, o aumento da carga tributária com a finalidade de financiar os gastos sociais 
(educação, saúde, assistência social, seguridade social, entre outros).
No Brasil, um grande expoente da corrente “novo desenvolvimentista” é 
o economista Luiz Carlos Bresser Pereira. O novo desenvolvimentismo, proposto 
por ele, teria novas características, conforme figura a seguir.
102
UNIDADE 2 | O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
FIGURA 22 - CARACTERÍSTICAS DO NOVO DESENVOLVIMENTISMO
FONTE: Adaptado de Pereira; Furquim (2012).
NOTA
Caro acadêmico, de forma simples, podemos descrever a desindustrialização como 
um processo de reversão do crescimento e da participação da indústria, tanto na produção 
geral de um país, como na geração de empregos (com destaque para os mais qualificados). É 
uma situação em que dois dados macroeconômicos, o emprego industrial e o valor adicionado 
da indústria (no PIB) se reduzem, se comparados proporcionalmente ao emprego total e ao PIB 
total. Este fenômeno de “encolhimento da indústria” torna-se um problema quando ameaça 
o crescimento da economia e, é claro, contribui para a diminuição da qualidade de vida das 
pessoas. No caso brasileiro, há muitas divergências entre os pesquisadores acerca da incidência 
deste problema. Há os que negam que esteja ocorrendo, como também os que sustentam já 
haver sinais de desindustrialização de nossa economia.
TÓPICO 4 | A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA
103
Ao contrário da ortodoxia liberal convencional, o novo desenvolvimentismo 
vê o Estado como agente do desenvolvimento. Além disso, defende um crescimento 
“feito em casa”, na produção do próprio país (com uma indústria nacional), sendo 
contra o déficit em conta corrente. Neste sentido, sugere responsabilidade do ponto 
de vista cambial (do contrário, a ortodoxia liberal convencional de um crescimento 
apoiado na poupança externa, com déficit em conta corrente e endividamento 
externo). 
Longe de considerar que o mercado tende a regular a taxa de câmbio de 
forma satisfatória, o novo desenvolvimentismo recomenda a administração desta 
(enxergam na taxa de câmbio uma tendência à sobreapreciação devido à doença 
holandesa e a entradas excessivas de capital). 
Diferentemente do mainstream da economia, que entende que o objetivo 
do Banco Central seja exclusivamente o controle da inflação, usando como único 
instrumento a taxa de juros, os novos desenvolvimentistas consideram de suma 
importância que esta instituição busque uma taxa de câmbio competitiva, bem 
como o pleno emprego. 
NOTA
Caro acadêmico, a doença holandesa é considerada um problema antigo, porém 
identificado apenas em meados dos anos de 1960, nos Países Baixos. O que ocorreu nestes 
territórios foi a descoberta de generosas fontes de gás natural. A exportação deste, apesar de 
trazer divisas, acabou apreciando demasiadamente a taxa de câmbio, ameaçando destruir toda 
a indústria manufatureira (derrubando as exportações dos demais produtos, pois tornaram-
se menos competitivos internacionalmente). Falando de conceito, podemos definir a doença 
holandesa como um processo de sobreapreciação da taxa de câmbio de determinado país, 
causada pela exploração de recursos naturais abundantes e baratos.

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