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comentários sobre Madame Bovary

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Gustave Flaubert
Madame Bovary 
 
Muitos clássicos da literatura já foram censurados e seus autores 
julgados por ofender a moral, a religião e os bons costumes. Em alguns 
casos, quanto maior o escândalo, maior o interesse provocado nos leitores, 
que adquiriam os livros movidos pelo sabor do escândalo. Madame Bovary, 
de Gustave Flaubert, além de causar furor na época, foi além e criou um 
novo estilo literário.
Considerado a primeira obra-prima da ficção realista, Madame Bovary 
foi publicado em 1857, causando grande polêmica e levando o governo a 
processar Flaubert. Com um modo de escrita diferente, recheado de 
descrições minuciosas, diálogos diretos e retratos psicológicos de seus 
personagens, Madame Bovary inaugurou o estilo realista. Não há 
comentários do autor ao longo do livro, tampouco lições de moral acerca 
dos atos dos personagens. O julgamento não cabe ao narrador, mas ao 
leitor, que é apresentado ao enredo de um modo direto, muitas vezes brusco. 
Apesar de Flaubert não se manifestar ao longo do livro, percebemos sua 
presença em Emma Bovary, a pecadora e heroína. Por meio do 
comportamento de sua personagem central, Flaubert critica a burguesia, 
utilizando-se de ironias e ridicularizando a superficialidade intelectual, a 
ambição e o apego às coisas materiais. Sendo ele próprio um burguês, 
desmoraliza-a a partir de seu próprio interior, utilizando um enredo bastante 
previsível: um marido medíocre e ingênuo e uma esposa entediada e infeliz 
que anseia por uma paixão arrebatadora. Ela envolve-se com amantes em 
busca dessa paixão e, por fim, endividada e deprimida, se suicida, deixando 
o marido inconsolável. 
Assim, por meio de um enredo simples e de uma narrativa direta, 
Gustave Flaubert deu origem a um dos maiores clássicos da literatura, 
revolucionando a escrita e tornando-se o grande representante da ficção 
realista.
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1. De que forma Charles Bovary é apresentado ao leitor?
Flaubert apresenta Charles Bovary por meio da descrição de um episódio 
bastante constrangedor que ocorreu quando o personagem tinha quinze 
anos. Em seu primeiro dia de aula, Charles, um menino do campo, vai à 
escola com um boné bastante grotesco, composto de pelo de coelho, veludo 
e bordados. Ao invés de retirá-lo ao entrar na sala de aula, como todos os 
meninos, Charles o mantém na cabeça, fazendo com que o professor ordene 
que ele se livre daquele boné. Ao ser questionado sobre seu nome, Charles 
responde, nervoso, “Charbovari”, e leva a classe às gargalhadas, tornando-
se alvo de chacotas. (Capítulo 1, Primeira Parte)
2. Como se dá o encontro entre Charles e Emma?
O pai de Emma, Sr. Rouault, sofre uma fratura na perna e chama 
Charles, que era o médico da província. Chegando na casa do doente, 
Charles é recebido por Emma e logo repara na beleza da moça. Depois de 
enfaixar a perna do Sr. Rouault, Charles passa a visitá-lo frequentemente, 
com o pretexto de saber se estava se recuperando bem, mas com a 
verdadeira intenção de ver Emma. Contudo, Charles ainda era casado com 
Héloïse, que, desconfiada, o proíbe de fazer visitas ao Sr. Rouault. Algum 
tempo depois, Héloïse morre e Charles vê seu caminho livre para cortejar 
Emma e pedi-la em casamento. (Capítulo 2, Primeira Parte)
3. No convento, Emma sofre uma mudança de personalidade e, ao 
sair de lá, já apresenta algumas características que são marcantes 
da personagem. Como essa mudança se dá e quais são essas 
características? 
Ao chegar ao convento, Emma acostuma-se rapidamente com o 
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ambiente, envolvendo-se com o catolicismo e aproximando-se das 
freiras. Porém, essa situação se modifica quando ela conhece uma 
moça solteira que visitava o convento todos os meses. Essa moça 
contava histórias e fofocas, além de trazer alguns romances escondidos 
nos bolsos do avental, que eram emprestados às pensionistas. Assim, 
aos quinze anos, Emma passa a ler todos os romances, devorando-os 
com gosto e tornando-se uma menina sonhadora, romântica e ansiosa 
por viver paixões arrebatadoras, características que a acompanharão 
por toda a vida. (Capítulo 6, Primeira Parte)
4. Ao conhecer Charles, Emma acredita que finalmente encontrou a 
paixão e a felicidade. Contudo, depois de pouco tempo de casados, ela 
percebe que estava errada e começa a se entediar com sua vida. De que 
forma isso acontece?
À medida que a intimidade entre Emma e Charles aumenta, Emma 
sente-se mais desapegada e distante de seu marido. Não gosta de sua 
conversa, desaprova seu jeito de encarar a vida e sua falta de ambição. 
Charles não se encaixa no perfil de homem apaixonante que ela 
havia traçado: não tem interesse em morar na cidade, não sabe nadar, 
nem atirar, tampouco montar. Não ensina nada de novo a ela e se 
encontra sempre em um estado de calma e serenidade, algo que a irrita 
profundamente. Assim, Emma se arrepende de ter casado e passa a 
sonhar com uma nova vida. (Capítulo 7, Primeira Parte)
5. Ao chegar em Yonville, Emma se recorda das outras três vezes em 
que dormiu em lugares desconhecidos e teve sua vida modificada: no 
convento, em Tostes, logo que se casou com Charles, e em Vaubyessard, 
quando houve o baile do marquês. Como o baile mudou a vida de 
Emma?
No baile, Emma conhece damas e cavalheiros elegantes da 
aristocracia parisiense, dança com um visconde e passa a noite em 
um castelo. Ao voltar para Tostes, no dia seguinte, sente que sua vida 
nunca mais será a mesma. Ela se lembra do baile com frequência, 
sonha acordada com o visconde, compra um guia de Paris e assina 
jornais parisienses. Torna-se cada vez mais elegante e caprichosa, 
se aborrecendo tanto com Charles e com sua vida que termina por 
adoecer. O baile acentua sua infelicidade, faz com que Emma passe 
a sonhar com uma vida diferente da sua; a partir daí, ela procurará 
incessantemente sua felicidade. (Capítulos 8 e 9, Primeira Parte)
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6. Apaixonado por Emma, por que Léon vai embora de Yonville para 
viver em Rouen?
Léon parte de Yonville porque acha que seu amor não é 
correspondido. Apesar de Emma também estar apaixonada por ele, 
não o demonstra – pelo contrário, faz questão de mostrar o quanto 
se preocupa com seu marido e de fingir que não se importa com sua 
presença. Emma sente que precisa estar sozinha para nutrir sua paixão 
e sonhar com uma nova vida. Quando vê Léon se aproximar, fica 
nervosa, mas quando o encontra, age com indiferença. Faz isso por 
perceber que seu amor aumenta e que é preciso disfarçá-lo para que 
ninguém note. Contudo, essa atitude faz com que Léon desista de se 
declarar a ela e parta para Rouen. (Capítulos 5 e 6, Segunda Parte)
7. Algum tempo depois de conhecer Emma, Rodolphe, seu futuro 
amante, toma uma atitude premeditada que acaba sendo crucial para 
que a paixão de Emma por ele floresça – qual é essa atitude?
Depois de cortejar Emma durante o comício de Yonville, Rodolphe 
decide sumir por seis semanas, pensando que, devido à impaciência, 
Emma ficaria ainda mais apaixonada ao revê-lo. Assim, depois de 
passado esse tempo, Rodolphe surge na casa de Emma, que, ao vê-
lo, empalidece. Ele percebe que seu plano deu certo e aproveita a 
ocasião para conquistá-la definitivamente. Mente, dizendo que sumiu 
porque não suportava mais vê-la sem poder viver esse amor e se diz 
perdidamente apaixonado por ela. (Capítulo 9, Segunda Parte)
8. Homais incentiva Charles a fazer uma cirurgia cuja técnica não 
domina. O fracasso mancha a carreira de Charles. Como isso se dá?
Homais convence Emma de que essa cirurgia renderia bons frutos a 
Charles, trazendo a ele fortuna e reputação. Assim, apesar de no início 
não aceitar operar Hippolyte, Charles acaba cedendo aos apelos de 
Emma e de Homais. Hippolyte também é persuadido por Homais a se 
submeter à cirurgia e, pressionado por amigos, resolve aceitar a oferta.
A operação corre bem, mas, cinco dias depois, Hippolyte temconvulsões e sua perna começa a gangrenar. Charles tenta remediar a 
situação sem sucesso, até que por fim resolve chamar o médico de um 
distrito vizinho. Dr. Canivet dá um sermão em Homais sobre o absurdo 
de tal cirurgia, mas ele em nenhum momento defende Charles. Hippolyte, 
assim, tem sua perna amputada e Charles, sua reputação manchada, 
enquanto Homais sai ileso dessa situação. (Capítulo 11, Segunda Parte)
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9. De que forma Rodolphe dispensa Emma? Como ela reage ao fim do 
romance?
Emma e Rodolphe haviam decidido fugir juntos, mas Rodolphe, 
desde o início, sabia que isso não aconteceria. Apesar de gostar de 
estar com Emma, acha-a sufocante e sentimental demais, além de não 
estar preparado para assumir a filha de Emma e os custos de uma 
família. Assim, na véspera da viagem, Rodolphe escreve uma carta 
para ela, na qual declara seu amor e explica que seria loucura fugir, 
pois ela não estava preparada para isso e se arrependeria depois. Na 
manhã seguinte, ele envia a carta e parte de Yonville, deixando Emma 
inconsolável. Ela adoece, passa os dias na cama, sem forças para se 
locomover, e fica à beira da morte. Porém, com o passar do tempo, se 
recupera, aproximando-se da religião e afastando seus pensamentos de 
Rodolphe. (Capítulos 12 e 13, Segunda Parte)
10. Como se dá o reencontro de Emma com Léon?
Por sugestão de Homais, Charles e Emma vão a Rouen para 
assistir a uma ópera. Lá, encontram Léon. Emma pede a Charles 
para saírem no meio da ópera, com o pretexto de estar sentindo 
muito calor, e assim o trio acomoda-se ao ar livre e conversa sobre os 
últimos acontecimentos, colocando os assuntos em dia. Charles então 
propõe a Emma que passe mais uma noite em Rouen, para que assista 
a ópera até o final. Assim, Emma decide ficar e, na manhã seguinte, 
recebe a visita de Léon, que se declara a ela, dizendo como a amou. 
Ambos relembram os tempos passados e o quanto sofreram por não 
terem vivido aquele amor. (Capítulo 15, Segunda Parte; Capítulo 1, 
Terceira Parte)
11. De que modo Léon consegue convencer Emma a entrar em um 
trole com ele? Por que ela resiste?
Emma e Léon haviam combinado de se encontrar na frente da 
Catedral de Notre Dame. Contudo, Emma está muito insegura e quer 
enviar uma carta a ele cancelando o encontro; já que não sabe seu 
endereço, resolve encontrar Léon e entregar a carta em mãos. Por isso, 
quando Léon sugere que eles peguem um trole juntos, Emma recusa, 
dizendo que isso seria inconveniente. Para convencê-la, Léon se 
aproveita da paixão que ela nutre por Paris, dizendo que lá isso é 
muito comum. É o que basta para que Emma mude de ideia e aceite a 
proposta. (Capítulo 1, Terceira Parte)
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12. Qual é a estratégia de Emma para encontrar Léon em Rouen 
uma vez por semana?
Emma passa a fingir que não toca bem o piano, como antes. Diz a 
Charles que, se tomasse aulas, conseguiria voltar a tocar, mas Charles 
rebate dizendo que as aulas são muito caras. Assim, Emma começa 
a se queixar aos amigos, que insistem para que Charles pague aulas 
para sua esposa. Charles, então, acaba cedendo e concorda em pagar 
as aulas de piano em Rouen, que, na verdade nunca acontecerão. 
(Capítulo 4, Terceira Parte)
13. Qual é o trunfo de Lheureux sobre Emma, que a leva a vender 
um terreno de Charles sem ele saber?
Ao andar de braços dados com Léon em Rouen, Emma encontra 
Lheureux, que, três dias depois, a procura para dizer que precisa de 
dinheiro. Ao mostrar duas promissórias assinadas por Charles e a 
lista de objetos comprados sem pagar, Lheureux convence Emma a 
utilizar sua procuração e vender um terreno da família de Charles. 
Emma aceita, com medo de que Lheureux conte a Charles que a viu 
acompanhada de Léon, e vende o terreno em segredo. A partir daí, 
Lheureux consegue um novo trunfo sobre Emma, ameaçando, sempre 
que possível, contar para Charles sobre a venda do terreno de sua 
família.
14. “Mas denegrir aqueles a quem amamos sempre nos afasta deles 
um pouco. Não se deve tocar nos ídolos: o dourado deles sai nas 
nossas mãos.” (Capítulo 6, Terceira Parte) Em que circunstância 
Emma denigre seu amado Léon?
Emma e Léon combinam de se encontrar no quarto de hotel onde 
costumavam passar seus momentos juntos, mas Léon atrasa, pois 
janta com Homais. Quando a encontra, precisa consolá-la e explicar 
o motivo da demora, mas Emma não quer ouvir, está muito chateada. 
Em seguida, Homais pede que seu criado chame Léon novamente. 
Este diz a Emma que voltará em um instante, mas Homais o retém 
mais uma vez e, quando Léon finalmente consegue retornar ao 
quarto, não a encontra. Nesse momento, já longe do hotel, Emma 
denigre Léon, dizendo para si mesma que ele é fraco, banal e avaro. 
Em seguida, se arrepende, mas já é tarde: a partir daí, a paixão se 
escasseia e a relação de amor de ambos já não é mais a mesma. 
(Capítulo 6, Terceira Parte)
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15. Qual é a decepção final que leva Emma a cometer suicídio?
Emma encontra-se afundada em dívidas e recorre a todos que 
conhece em busca de empréstimos: banqueiros, amigos, o tabelião 
da província, o próprio Lheureux e até mesmo Léon. Desesperada, 
decide procurar Rodolphe, pois sabe que ele é generoso e que, 
certamente, não resistirá a seus pedidos. Assim, Emma vai até 
a casa de Rodolphe, que a recebe muito bem e pede perdão por 
tê-la abandonado. Contudo, quando Emma toca no assunto do 
empréstimo, Rodolphe percebe que essa é a verdadeira razão para 
Emma estar ali, e não o amor por ele. Diz a ela que não possui esse 
dinheiro, mas ela se desespera, insiste e se humilha. Ele repete que 
não possui, não teria como ajudá-la. Assim, Emma sai aos prantos 
da casa de Rodolphe diretamente para a casa de Homais, onde toma 
arsênico. (Capítulo 8, Terceira Parte)
Leituras recomendadas
Flaubert, Gustave. Bouvard e Pecuchet. São Paulo: Estação 
Liberdade, 2007.
____________. Dicionário das ideias feitas. São Paulo: Nova 
Alexandria, 2007.
____________. Educação sentimental. São Paulo: Nova Alexandria, 2009.
____________. Salambô. Belo Horizonte: Itatiaia Editora, 2005.
____________. Três contos. Porto Alegre: L&PM, 2005.
Gay, Peter. Represálias selvagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
James, Henry. Gustave Flaubert. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2000.

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