Buscar

13a aula NARCISISMO

Prévia do material em texto

SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO
( Freud – 1914)
NARCISISMO
O mito de Narciso
O mito de Narciso
Narciso é o filho que a ninfa Liriope teve com o rio Cephisus . Era é dotado de uma rara beleza, digno de ser amado pelas ninfas. Quando ele nasceu, Liriope consultou o vidente Tirésias, que previu que Narciso viveria longamente se nunca se visse a própria face, nunca visse sua beleza.
A beleza excepcional de Narciso fazia nascer o desejo em homens e mulheres, mas Narciso parecia não ter coração, não correspondia a ninguém.
A ninfa Eco, que havia sido condenada pela ciumenta Hera, esposa de Zeus, a ser capaz de falar apenas repetindo o que os outros dissessem, sente uma adoração silenciosa por Narciso. Segue-o em todos os lugares esperando por um sinal de amor, mas ele a rejeita com desprezo. Triste, cheia de vergonha, ela se esconde em um bosque e se deixa definhar: seu corpo torna-se pedra, restando apenas sua voz intacta. Cheia de amor e de ressentimento, Eco incansavelmente continua a reenviar o final das frases de Narciso até a morte deste.
Uma das vítima de desprezo e indiferença de Narciso reclamou com a deusa da vingança, Nêmesis. O veredicto foi pronunciado . Durante uma caçada , a deusa empurra o jovem para beber em uma lagoa localizada em um lugar muito bonito. Narciso então, ao ver-se, se apaixona pelo reflexo de seu rosto, por esta imagem que ele não conseguia tocar,mas da qual não conseguia se afastar. Quanto mais se olhava, mais louca era a sua paixão. Ele suspira, chora, se bate frente ao seu prórpio reflexo. Narciso se esquece de beber e de comer. Criando raizes na beira do lago, ele se transforma gradualmente na flor que leva seu nome e que desde então se reflete na água na primavera para secar no verão.e tem refletido uma vez na água no verão para secar no verão.
Paru dans Études Philosophiques 1956, n° 4 (numéro spécial), pp. 567-584.
Ao introduzir o conceito de narcisismo, Freud produz uma transformação:
Na teoria das pulsões ( subdivide as pulsões sexuais conforme o direcionamento para o ego ou para um objeto exterior).
Na teoria da identificação (estabelece a ligação da escolha narcísica de objeto com a identificação).
Narcisismo
Narcisismo deriva da descrição clínica e foi escolhido por Paul Näcke em 1899 para denotar “a atitude de uma pessoa que trata seu próprio corpo da mesma forma pela qual o corpo de um objeto sexual é comumente tratado — que o contempla, vale dizer, o afaga e o acaricia até obter satisfação completa através dessas atividades”. Constituiria uma nova categoria de perversão.  
Da patologia para a normalidade
Desenvolvido em alto grau o narcisismo passa a significar uma perversão que absorveu a totalidade da vida sexual do indivíduo.
Aspectos individuais da atitude narcisista são encontrados em homossexuais
O narcisismo presente curso regular do desenvolvimento sexual humano. O narcisismo seria o momento organizador das pulsões parciais, permitindo a passagem do auto-erotismo para o investimento libidinal em um objeto exterior. 
Na clínica psicanalítica, a atitude narcisista torna o paciente menos suscetível à influência do analista. Nesse caso tratar-se-ia de uma ação do instinto de auto-presevação, presente em todas criaturas vivas
Para compreender o narcisismo como fase do desenvolvimento normal, Freud recorre às distorções e exageros do narcisismo patológico.
Vai investigar o Narcisismo na Histeria, na Neurose Obsessiva e nas Parafrenias (Esquizofrenia, Paranóia).
Retirada do investimento libidinal objetal para o ego na HISTERIA, NEUROSE OBSESSIVA e PARAFRENIAS
HISTERIA E NEUROSE OBSESSIVA
ESQUIZOFRENIA, PARANÓIA
(PARAFRENIAS)
desiste de sua relação com a realidade, mas persistem suas relações eróticas com as pessoas e as coisas
retira sua libido de pessoas e coisas do mundo externo e dirige-as ao ego
substitui os objetos imaginários de sua memória por objetos reais
sem substituí-las por outras na fantasia.
Renuncia à açãopara a obtenção de seus objetivos relacionados àqueles objetos. Vive –a na fantasia
Retiraa libido dos objetos do mundo exterior. Quando volta a investir no objeto externo o faz de forma delirante. Há um colapso do juízo de realidade, ego regride a um tempo que ainda não estava estruturado.Na esquizofrenia ocorre a regressão ao auto-erotismo.
Destino da libido
HISTERIA E NEUROSE OBSESSIVA
PARAFRENIA
A libido afastada do mundo externotoma o caminho regressivo. Volta a fases anteriores do desenvolvimento psico-sexual.
Introversão da libido (Jung)
A libido afastada do mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser denominada de narcisismo
A megalomania:surge como resultado da libido objetal que retorna ao ego.
(narcisismo como secundário.)
Narcisismo e auto-erotismo
Qual relação entre o narcisismo e o auto-erotismo (estado inicial da libido)?
O narcisismo é considerado como uma fase intermediária e necessária entre o auto-erotismo e o amor objetal.
O ego não existe no indivíduo desde o começo; o ego tem de ser desenvolvido. Quando se dá o auto-erotismo, os investimentos libidinais se dão sobre partes do ego. 
Para provocar o narcisismo, uma nova ação psíquica que adicione algo ao autoerotismo deve ocorrer.
 Este ato psíquico corresponde ao processo de unificação do ego. Assim, os investimentos se dão sobre o ego. 
Na melancolia e na paranóia ocorre a regressão ao narcisismo.
 
Narcisismo Primário
Freud observa que o movimento de retirada dos investimentos libidinais dos objetos do mundo externo só pode produzir-se em um segundo tempo, precedido por uma libido do ego. 
Deduz daí um NARCISISMO PRIMÁRIO em todos nós, que em alguns casos, pode-se manifestar de forma dominante em sua escolha objetal.
Segundo Freud, um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais: ele próprio e a mulher que cuida dele. 
Freud destaca a posição dos pais na constituição do narcisismo primário dos filhos. Freud fala que o amor dos pais aos filhos é o narcisismo dos pais renascido e transformado em amor objetal. 
O Narcisismo primário representaria de certa forma, uma espécie de onipotência que se cria no encontro entre o narcisismo nascente do bebê e o narcisismo renascente dos pais.
Narcisismo Primário
Há uma catexia libidinal original do ego, parte da qual é posteriormente transmitida a objetos, mas que fundamentalmente persiste no indivíduo.
“A catexia libidinal do ego está relacionada com as catexias objetais, assim como o corpo de uma ameba está relacionado com os pseudópodes que produz”.
Narcisismo secundário
Narcisismo secundário ocorre em dois momentos:
1) há o investimento objetal num primeiro momento
2) posteriormente há o retorno desse investimento para o ego.
 Psicose
em circunstâncias patológicas narcisismo secundário se dá em dois tempos:
A) o sujeito retira libido dos objetos,retrai-se em si próprio, funcionando em narcisismo secundário.
B) tenta reinvestir nos objetos, como uma tentativa de cura, mas o faz de uma forma delirante
Duas modalidades de investimento da libido
Libido do ego- Libido objetal
Libido do ego ou narcísica: indivíduo toma a si como objeto de amor. 
 Libido objetal : dirige seu amor ao outro. Atinge sua fase mais elevada no caso de uma pessoa apaixonada, quando o indivíduo parece desistir de sua própria personalidade em favor de uma catexia objetal,
Há um antítese entre a libido do ego e a libido objetal.
 Quanto mais uma é empregada, mais a outra se esvazia.
Narcisismo
O narcisismo não é apenas uma condição patológica, mas também um protetor do psiquísmo. 
Um narcisismo “que promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira”. (Houser, 2006, pág. 33).
Ultrapassa o auto-erotismo para fornecer a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro 
Outras manifestações do narcisismo
Doença orgânica: uma pessoa atormentada por dor e mal-estar orgânico deixa de se interessar pelas coisas do mundoexterno, na medida em que não dizem respeito a seu sofrimento, retira suas catexias libidinais de volta para seu próprio ego, e as põe para fora novamente quando se recupera. 
‘Concentrada está a sua alma’, diz Wilhelm Busch a respeito do poeta que sofre de dor de dentes, ‘no estreito orifício do molar’.
Hipocondria: o hipocondríaco retira o interesse e a libido dos objetos do mundo externo e os concentra no órgão que lhe prende a atenção.
Sono: A condição do sono também se assemelha à doença, por acarretar uma retirada narcisista das posições da libido até o próprio eu do indivíduo, , até o desejo único de dormir. 
Escolha de um objeto amoroso narcísica e anaclítica
Uma pessoa pode amar:
(1)Em conformidade com o tipo narcisista:
(a) o que ela própria é (isto é, ela mesma),
(b) o que ela própria foi,
(c) o que ela própria gostaria de ser,
(d) alguém que foi uma vez parte dela mesma.
(2)Em conformidade com o tipo anaclítico (de ligação, de acordo com as figuras parentais):
(a) a mulher que a alimenta,
(b) o homem que a protege,
e a sucessão de substitutos que tomam o seu lugar
Destino da Libido
A observação de adultos normais revela que sua megalomania antiga própria da infância, foi diminuída e que as características psíquicas a partir das quais inferimos seu narcisismo infantil foram apagadas. Que aconteceu à libido ?
Sabemos que os impulsos libidinais sofrem a influência da repressão se entram em conflito com as ideias culturais e éticas do indivíduo que reconhece como um padrão para si próprio, submetendo-se às exigências que elas lhe fazem (Édipo).
Na infância, o narcisismo primário da criança é reforçado pela atitude dos pais.
 Os pais movidos pelos seus próprios narcisismos abandonados tendem a afetuosamente atribuir todas as perfeições ao filho:
Para eles a criança concretizará os sonhos dourados que os pais nunca concretizaram: o menino se tornará um grande homem e um herói em lugar do pai, e a menina se casará com um príncipe como compensação para sua mãe. É o momento que Freud denomina ‘Sua Majestade o Bebê”
Ego ideal 
O Ego Ideal é agora o alvo do amor de si mesmo (self-love) desfrutado na infância pelo ego real
 O narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse novo ego ideal, o qual, como o ego infantil, se acha possuído de toda perfeição de valor. 
 aqui o homem se mostra incapaz de abrir mão de uma satisfação de que outrora desfrutou. Ele não está disposto a renunciar à perfeição narcisista de sua infância; 
Ideal do ego
O ideal do ego é um componente do superego e herdeiro das exigências narcísicas dos pais. 
É um padrão evoluído de identificação onde figuras importantes servem de modelo na orientação da vida. 
É uma representação de si mesmo que procura buscar representações idealizadas (os pais por exemplo). 
Ego Ideal – Ideal do ego
O ego ideal é a imagem da perfeição narcísica e da onipotência. 
É o momento em que a criança se sente em plena relação com a mãe, complementa-a e não precisa de mais nada.
 O ideal do ego, pelo contrário, é um conjunto de designações. 
É o momento em que a criança descobre que não é absoluta, que existe o pai e que este é mais forte e poderoso. E aos poucos a criança vai querer identificar-se com os elementos significantes, dos quais o pai é suporte.

Continue navegando