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1 FINANCIAMENTO EM COMÉRCIO INTERNACIONAL AULA 3 Prof. Joni Tadeu Borges 2 CONVERSA INICIAL São várias as linhas de crédito para o financiamento à exportação, mas outra opção que o exportador tem para aumentar suas vendas no exterior é dar prazo de pagamento para o importador. Quando se encontram para negociar, exportador e importador, um dos itens que são negociados é o prazo de pagamento, normalmente é isso que o importador precisa, prazo para pagar por sua compra. Por outro lado, se o exportador não entrar em um acordo em relação ao prazo, o importador pode deixar de comprar. Claro que o exportador, quando vende a prazo, tem que se preocupar, e muito, com o risco de crédito. Tem que ter a segurança que na data acordada vai receber do importador. Agora, o exportador realizando a venda, tem que ver a possibilidade de buscar um financiamento para não deixar o fluxo financeiro de sua empresa descasado, isso é, pagar seus fornecedores internos à vista e receber a prazo do importador. O Adiantamento de Cambiais Entregues (ACE) é o financiamento que pode dar essa condição ao exportador, vender a prazo e adiantar o recebimento junto a seu banco de relacionamento. Na aula de hoje vou abordar o seguinte tema, um financiamento utilizado na fase pós-embarque, o ACE. Como e porque as empresas exportadoras utilizam essa linha de financiamento, veremos suas principais características, incluindo o processo documental, as garantias que podem ser usadas para a operação e sua aplicabilidade. CONTEXTUALIZANDO Uma empresa, quando decide vender para o mercado externo, precisa estar ciente que irá encontrar vários obstáculos para conseguir fazer a primeira exportação e se manter no mercado internacional, competindo com empresas do mundo todo. Para as empresas, não basta ter um bom produto ou um preço acessível para conquistar o comprador. Além disso, é preciso conhecimento das legislações do mercado interno e do mercado-alvo. Devem também dar atenção 3 especial à formação do preço da mercadoria em moeda nacional e a sua conversão para a moeda de venda (moeda conversível), considerando que entre uma data e outra haverá a variação cambial. Os conhecimentos e procedimentos devem estar previstos no planejamento à exportação, no qual deve constar, também, o planejamento financeiro. Como a empresa vai obter recursos para utilizar no processo produtivo da mercadoria a ser exportada: usará recursos próprios ou de terceiros? Venderá à vista ou a prazo? Precisará de recursos de terceiros para financiar à exportação? Caso a empresa realize a venda a prazo e precise financiar a exportação, será que conhece as linhas disponíveis e qual a linha de crédito mais adequada? A utilização das linhas de crédito específicas para a exportação apresenta vantagens e, por meio delas, os exportadores conseguem reduzir o custo da produção. Assim, podem oferecer condições melhores para o importador. Um dos financiamentos que uma empresa pode utilizar quando faz uma venda a prazo e precisa adiantar o recebimento pela venda é o ACE. Este tem procedimentos semelhantes ao ACC (tema da aula anterior), tendo como principal vantagem o custo baixo do financiamento. Vamos ver que para o ACE poderá ser utilizada outras garantias que oferecem segurança às instituições financeiras e como o exportador pode obter vantagens utilizando essa linha de crédito. TEMA 1: ADIANTAMENTO SOBRE CAMBIAIS ENTREGUES (ACE) O ACE é um tipo de financiamento à exportação que apresenta as características semelhantes ao ACC, o que os diferenciam é, principalmente, a data da concessão do crédito para o exportador. Para o ACE, a concessão do crédito ou a liberação dos recursos para o exportador ocorre após o embarque da mercadoria. 4 Na prática, a operação de ACE é realizada quando o exportador faz uma venda a prazo para o importador e, entre a data de embarque da mercadoria e o efetivo vencimento da data de pagamento, o exportador precisa adiantar os recursos que tem a receber do importador. Conceitualmente, o ACE é um financiamento à exportação, no qual o banco adianta o valor em reais para o exportador por conta da entrega futura da moeda estrangeira na fase pós-embarque. José Manoel Cortiñas Lopez (2002, p. 231) define o ACE como uma forma de apoio a comercialização de bens muito utilizada é O ACE, que constitui antecipação financeira amparada em contrato de câmbio celebrado e em efetiva entrega, a um estabelecimento bancário, de saques de exportação que serão resgatados posteriormente pelo importador. Previamente à liberação do crédito ao exportador, o banco financiador faz os mesmos procedimentos de análise de crédito e de riscos em relação à empresa exportadora, assim como faz o para o ACC. Analisa: faturamento da empresa; tempo de atividade da empresa; atividade da empresa; tempo da empresa no mercado internacional; volume de exportação (performance); restrições; garantias e outros. A formalização do ACE se dá por meio da contratação do câmbio, na qual o exportador faz a venda da moeda estrangeira para entregá-la em uma data futura, e o banco, em contrapartida, compra a moeda estrangeira adiantando os reais correspondentes na data definida na contratação do câmbio, que pode ser em D0 (D zero), D1 (D um) ou D2 (D dois), o que significa, respectivamente: na mesma data da contratação; primeiro dia útil após a contratação; ou no segundo dia útil após a contratação do câmbio. 5 O banco negociador do câmbio e a empresa exportadora negociam o valor do contrato de câmbio (ACE), o prazo do financiamento, a taxa do deságio e taxa de câmbio. O prazo máximo permitido para contratar o ACE, conforme normas do Banco Central do Brasil, é de até o último dia útil do 12.º mês subsequente ao do embarque da mercadoria. Prazo ACE Quanto ao prazo, é importante ressaltar que esse será definido como o prazo que compreende desde a data da contratação até a da do vencimento da cambial (letra de câmbio). Obs.: o prazo de pagamento em uma operação comercial, em regra geral, começa a contar da data do embarque da mercadoria (data de emissão do conhecimento de embarque). Caso o início da contagem do prazo seja diferente da data de embarque, essa informação tem que constar na fatura comercial ou em outro documento equivalente. Vejamos no exemplo seguinte: determinada empresa negociou uma exportação a prazo de 180 dias, o valor é de US$ 100.000,00. Considere que 45 dias após o embarque da mercadoria o exportador precisou de capital de giro para cumprir alguns compromissos no mercado interno, no entanto, só receberia o valor da exportação realizada na data acordada com o importador. De imediato, Data de embarque 0 dias 1.º mês 2.º mês 11.º mês ACE 12.º mês 6 o exportador, assim que teve a necessidade de obter recursos, procurou o seu banco de relacionamento para contratar um ACE. Acompanhem as considerações na figura a seguir. 1 - A exportação foi a prazo de 180 dias data do embarque; 2 - O prazo de negociação entre exportador e importador tem que constar nos documentos representativos da exportação (fatura comercial e outros); 3 - A modalidade de pagamento e o prazo tem que estar informados no Registro de Exportação (RE), registrado no Siscomex; 4 - O exportador deverá emitir um saque (letra de câmbio)que conste o valor da exportação e a data de vencimento, caso a modalidade seja a cobrança documentária; 5 - Se a modalidade de pagamento for a remessa sem saque, a fatura comercial, o conhecimento de embarque e o RE são documentos suficientes para determinação do prazo do ACE; 6 - Para esse exemplo, o prazo do ACE, adiantamento de cambiais, será de 135 dias; Data de embarque Vencimento da cambial 0 dias 180 dias Contratação do ACE 45 dias ACE 135 DIAS 7 7 - Na data da contratação do ACE (45 dias), o banco adianta o valor em reais equivalentes a US$ 100.000,00. A taxa de câmbio utilizada na conversão é taxa do momento da contratação do câmbio; 8 - Pelo adiantamento dos reais, o banco vai cobrar o deságio (juros) do exportador referente ao prazo de 135 dias e sobre o valor de US$ 100.000,00; 9 - O valor do deságio poderá ser cobrado na data da contratação (antecipado) ou na data da liquidação (postecipado); 10 - Na data de 180 dias após a data do embarque, o importador deve pagar US$ 100.000,00 ao exportador; 11 - O exportador recebe os US$ 100.000,00 e deve liquidar (pagar) o banco financiador do ACE. Saiba mais Veja mais detalhes a respeito do ACE disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/id/190 >. TEMA 2: ADIANTAMENTO SOBRE CAMBIAIS ENTREGUES (ACE) O ACE se caracteriza por ser uma operação realizada na fase de pós-embarque, como é formalizada por meio de um contrato de câmbio de compra, segue a legislação cambial do Banco Central do Brasil (BACEN). A operação e ACE também é conhecida no mercado como financiamento para a fase pós-embarque, financiamento para comercialização. O prazo do financiamento do ACE pode chegar até "390 dias", considerando o que dispõe no artigo 99, da Circular BACEN n. º 3.691, de 16/12/2013: O contrato de câmbio de exportação pode ser celebrado para liquidação pronta ou futura, prévia ou posteriormente ao embarque da mercadoria ou da prestação do serviço, observado o prazo máximo de 8 750 (setecentos e cinquenta) dias entre a contratação e a liquidação, bem como o seguinte: I - no caso de contratação prévia, o prazo máximo entre a contratação de câmbio e o embarque da mercadoria ou da prestação do serviço é de 360 (trezentos e sessenta) dias; II - o prazo máximo para liquidação do contrato de câmbio é o último dia útil do 12º mês subsequente ao do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço. O item I se refere ao ACC, apresentado na aula anterior. O item II é o prazo que o ACE pode ter. O ACE pode se originar independentemente, ocorrendo a sua contratação (formalização) após o embarque da mercadoria, ou a operação pode se iniciar por meio da contratação do ACC e se transformar em um ACE. Por exemplo, uma empresa negociou a venda de sua mercadoria ao exterior a prazo, 90 dias da dada do embarque da mercadoria, no entanto, ela também precisa de recursos para utilizar no processo de produção na fase pré-embarque. Vamos considerar que o prazo que a empresa necessita para produzir a mercadoria seja de 120 dias. Vejam, então, que no total a empresa necessitará de um prazo de 210 dias entre a contratação do ACC ACE 360 dias 390 dias Data de embarque 750 dias 9 financiamento e data em que o importador deve pagar. Representando a situação anterior, temos: Algumas considerações a respeito do que ocorre em cada data indicada: Data 0 (zero) Contratação do ACC por um prazo total de 210 dias; Na data da contratação o exportador deve informar ao banco negociador que precisa de 120 dias de prazo para a entrega dos documentos representativos da exportação (ACC) e mais 90 dias de prazo das cambiais (prazo para pagamento). Portanto, prazo total de 210 dias; Na negociação, o banco vai considerar a taxa de deságio (juros) para o prazo de 210 dias; O banco adianta ao exportador os reais equivalentes ao valor da moeda estrangeira (valor da exportação); Caso o deságio seja antecipado, o banco cobra o valor do deságio referente à operação. Data 120 O exportador apresenta os documentos de exportação ao banco, comprovando que houve o embarque da mercadoria ao exterior; O ACC é transformado em ACE. Contratação do ACC 0 dias Data de embarque 120 dias 210 dias 120 dias Vencimento do ACE Entrega dos documentos de exportação Transformação de ACC em ACE ACC ACE 10 Data 210 O importador paga o exportador em moeda estrangeira; Em moeda estrangeira o exportador liquida (paga) o banco financiador; Caso o deságio seja postecipado, o banco cobra o valor do deságio referente à operação. No ACE, o deságio (juros) é estabelecido e calculado da mesma forma que se faz para o ACC, sendo que a base que forma a taxa de deságio é a taxa LIBOR, taxa de juros praticada no mercado de Londres. Para o ACE, o financiamento também pode ser de até 100% do valor da exportação e também não há restrições quanto ao tipo de mercadorias exportadas, desde que estejam adequadas às legislações vigentes, principalmente à Portaria SECEX n. º 23, de 14/07/2011. Como o ACE é uma operação na fase pós-embarque, é óbvio, que a mercadoria tem que estar embarcada, para isso o exportador, para contratar o financiamento, tem que apresentar os documentos representativos da exportação (fatura comercial, conhecimento de embarque, letra de câmbio, registro de exportação etc.). O prazo do financiamento tem que ser compatível com os prazos apresentados nos documentos de exportação. O exportador pode apresentar os documentos originais se a modalidade de pagamento for uma cobrança bancária, ou cópias, se for a remessa sem saque. O ACE pode ter como garantias, além das usuais praticadas no mercado, a carta de crédito e o seguro de crédito à exportação. Saiba mais A importância que a exportação tem para um país, disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Administracao-de- empresas/noticia/2016/05/exportacao-e-melhor-estrategia-para-crises-diz- diretor-da-apex.html> 11 TEMA 3: LETRA DE CÂMBIO O Decreto número 57.663, de 24/01/1966, promulga as Convenções para a adoção de uma Lei Uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias tendo como objetivo evitar situações contrárias devido às várias legislações existentes nos países, em que as letras de câmbio são negociadas, dessa maneira, visa padronizar e dar maior segurança às operações de comércio internacional. Encontra-se no Anexo I, Título I, Capítulo I, no seu o artigo primeiro, o conteúdo de uma letra de câmbio: 1. a palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; 2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 3. o nome daquele que deve pagar (sacado); 4. a época do pagamento; 5. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 6. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; 7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 8. a assinatura de quem passa a letra (sacador). Não é considerada uma letra de câmbio quando não constar algum dos requisitos relacionados anteriormente, a não ser em situações que: a letra de câmbio que não tiver a informação da data do pagamento, será considerada como pagamento à vista; na falta de indicação especial para o local de pagamento, considera-se a praça (domicílio)do sacado na falta da indicação do local aonde foi emitida a letra de câmbio, considera-se a praça (domicílio) do sacador. Há muito mais detalhes a respeito da letra de câmbio que não foram colocados nesse material, porém vou deixar como sugestão de leitura o teor do Decreto 57.663, que apresentará todas as vertentes sobre o específico documento. Em nossa aula, vamos direcionar a utilização da letra de câmbio para as operações de financiamentos. Assim, Joni Tadeu Borges (2012, p. 73) descreve a letra de câmbio (bill of exchange) como: Equivalente a uma duplicata utilizada no mercado interno, a letra de câmbio é um documento emitido pelo exportador (sacador) contra o importador (sacado). O sacado deverá pagar o valor ao beneficiário 12 indicado no documento em data e local especificados. É utilizado no comércio internacional e, com os demais documentos representativos da exportação, é encaminhado a pedido do exportador para o banco do importador mediante instruções: se a exportação for à vista, liberar os documentos ao importador mediante pagamento; se for a prazo, liberar os documentos mediante "aceite" na letra de câmbio. Para consolidar o conceito da letra de câmbio (saque), Aquiles Vieira (2005, p. 68) relata: Saque é um documento emitido pelo exportador, em moeda estrangeira, pelo valor total da operação mencionada na fatura comercial, constituindo o direito de receber a importância declarada do importador da mercadoria, substituindo as duplicatas das vendas internas. Esse documento obedece a um modelo-padrão internacional, composto de três vias originais já numeradas, elaborado no idioma inglês, devendo conter os seguintes elementos: número; praça e data de emissão; vencimento; valor em moeda estrangeira, em algarismo e por extenso; beneficiário; instrumento que originou (fatura comercial, carta de crédito); nome e endereço do emitente e assinatura do exportador. O importador (sacado), ao dar o aceite em uma letra de câmbio, reconhece (aceita) que tem uma dívida a pagar de determinado valor, em determinada data e local. O ato aceite significa que o sacado deve assinar o verso da letra de câmbio. Caso o importador não efetue o pagamento na data prevista na letra de câmbio, esse documento aceito pelo importador pode ser protestado a pedido do exportador. Interessante salientar em relação ao protesto de uma letra de câmbio, que os países possuem legislações específicas quanto ao tema. Modelo de letra de câmbio (exportação de USD 100.000,00 para o Canadá) 13 Legenda: 1 - Número da letra de câmbio 2 - Vencimento 3 - Valor em moeda estrangeira 4 - Local e data da emissão 5 - Prazo de pagamento 6 - Beneficiário 7 - Instrumento que originou a letra de câmbio 8 - Nome e endereço do sacado - importador (drawee) 9 - Nome e assinatura do sacador - exportador (drawer) BILL OF EXCHANGE Number 0016/2017 (1) Maturaty, 30th October 2017 (2) USD 100.000,00 (3) Curitiba (Brazil), 03th, may 2017 (4) At 180 day (5) pay this Bill of Exchange to the order of ComexEad Ltda (6) the amount of one hundred thousand dollars value against our commercial invoice number 0016/2017 (7). To (8) Import Beer CO 301 Front St W, ComexEad Ltda. (9) Toronto - Canada Joni Tadeu Borges ___________________________ 14 Saiba mais Leia na integra a legislação que trata sobre a letra de câmbio disponível em https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=29276 TEMA 4: GARANTIAS PARA O ACE O ACE é um financiamento à exportação, como qualquer outro tipo de financiamento, seja ele para o mercado interno ou externo, o financiador (banco) tem o risco de crédito, isso é, conforme definição do Banco do Brasil: "Como a possibilidade de perda resultante da incerteza quanto ao recebimento de valores pactuados com tomadores de empréstimos, contrapartes de contratos ou emissões de títulos". Para mitigar o risco, e também por exigências do Banco Central do Brasil, os bancos solicitam garantias em seus financiamentos. Em regra geral, os bancos trabalham com dois tipos de garantias: pessoais e reais. Joni Tadeu Borges (2012, p. 114) comenta: "A real é quando existe a vinculação de um bem, que pode ser do devedor ou de terceiros, à dívida contraída. Já a garantia pessoal, tal bem será o patrimônio do devedor ou do coobrigado". Tipos de garantias pessoais aval; fiança. Tipos de garantias reais: hipoteca; penhor; anticrese; alienação fiduciária. Vamos exemplificar que determinada empresa exportadora tem um limite de crédito para exportação no valor de US$ 500.000,00 e que está contratando a primeira operação de crédito de exportação com seu banco, um ACE no valor 15 de US$ 100.000,00. Ficou negociado entre as partes que a garantia será uma hipoteca de um imóvel. Normalmente os bancos, quando recebem uma hipoteca como garantia, estabelece que o valor do imóvel tem que ser duas vezes o valor da dívida (financiamento), esse critério é particular para cada banco, podendo ser maior ou menor. Após a negociação (contratação) do ACE, teríamos a seguinte situação em relação ao limite e à garantia: Limite inicial.................................................. US$ 500.000,00 Utilização da linha de crédito ...................... US$ 100.000,00 Limite disponível ........................................ US$ 400.000,00 Garantia para operação .............................. US$ 200.000,00 Para o exemplo anterior, a empresa exportadora teria mais US$ 400.000,00 para utilizar em linhas de financiamento à exportação com seu banco de relacionamento. E, caso fizesse, teria que apresentar novas garantias. O exemplo é somente didático, em uma situação real haveria também a necessidade de converter os valores de US$ paras R$. As empresas exportadoras podem ainda ter outras opções para oferecer como garantia para as operações de ACE, a carta de crédito e o seguro de crédito à exportação. A carta de crédito, segundo Eduardo Fortuna (2002, p. 330): Trata-se de um crédito documentário que o importador abre a favor do exportador em um banco no seu país. Podemos definir a carta de crédito como sendo uma ordem de pagamento condicionada, isso é, o exportador só fará jus ao recebimento se atender todas as exigências por ela estipuladas. É a modalidade de pagamento que oferece maior respaldo ao exportador, pois envolve operação garantida por um ou mais bancos, que se responsabilizam pelo pagamento. 16 Por esse motivo que a carta de crédito pode ser outra garantia que o exportador pode disponibilizar ao banco ao contratar um ACE. Vamos analisar essa situação: 1 - o exportador negocia a venda de seu produto ao importador na condição de pagamento - carta de crédito a prazo; 2 - o exportador embarca a mercadoria e apresenta todos os documentos representativos da exportação, conformeinstruções da carta de crédito para o banco negociador (normalmente o banco de relacionamento do exportador); 3 - o exportador precisa antecipar o recebimento por sua venda; 4 - o banco de relacionamento do cliente, considerando que os documentos apresentados estão em ordem, aceita a carta de crédito como garantia para financiar o ACE ao exportador; 5 - o banco de relacionamento contrata o ACE, adianta os reais equivalentes para o exportador; 6 - o valor da operação de ACE não impacta o limite de crédito da empresa exportadora; 7 - o banco de relacionamento aceita a carta de crédito como garantia, por que sabe que o banco que abriu a carta de crédito no exterior (banco de relacionamento do importador) tem o compromisso de honrar o pagamento na data estabelecida. Obs.: previamente o aceite da carta de crédito como garantia para o ACE, o banco de relacionamento do exportador faz uma consulta sobre o banco que emitiu a carta de crédito, avaliado o seu risco. O seguro de crédito à exportação também pode servir como garantia para o ACE, uma vez que, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) entende que 17 O Seguro de Crédito à Exportação (SCE) garante ao exportador a indenização por perdas líquidas definitivas, em consequência do não recebimento do crédito concedido a cliente no exterior. Adicionalmente, funciona também como instrumento de prevenção, como incentivo de prospecção de novos clientes e novos mercados e ainda como ferramenta de cobrança. Entre as garantias vinculadas às vendas externas, esta modalidade é a que apresenta o menor custo. Na medida em que o SCE pode ser aceito como garantias pelas instituições financeiras, ele facilita o acesso a financiamentos, tais como o ACE, o BNDES/EXIM e o PROEX, mantendo as outras opções de garantias disponíveis pelo tomador do financiamento não comprometidas, de modo a poderem ser utilizadas em outras finalidades. Na mesma linha da garantia de carta de crédito, os bancos podem se sentir mais confortáveis em receber a garantia do SCE. No caso que o importador não efetue o pagamento, a seguradora de crédito indeniza o banco que fez o financiamento, uma vez que, o exportador ao contratar o ACE com a garantia do seguro de crédito à exportação, inclui uma cláusula na apólice de seguro deixando o banco negociador do ACE como beneficiário. Saiba mais Conheça os produtos e serviços de uma empresa seguradora de crédito à exportação em: <http://www.coface.com.br/>. TEMA 5: CUSTOS ENVOLVIDOS NO ACE E APLICABILIDADE Vimos que a aplicabilidade do ACE para os exportadores brasileiros ocorre na fase pós-embarque. O exportador pode ganhar novos mercados e aumentar a performance de exportação vendendo a prazo. Sabendo que pode utilizar a linha de financiamento para antecipar os recursos a um custo que fica comparado aos custos das linhas de crédito internacionais, uma vez que a taxa base é a LIBOR. No ACC o risco para o banco é maior, pois o adiantamento é realizado antes do embarque, portanto, há o risco do exportador não embarcar a mercadoria por motivos diversos. 18 O financiamento ACE deveria ter um custo menor para o exportador, uma vez que o exportador já realizou o embarque da mercadoria e não há mais risco quanto a este fator. Na prática, os bancos utilizam os mesmos critérios para precificar o ACC ou ACE. Os juros cobrados do exportador é a relação existente entre o valor do financiamento, a taxa de juros e o prazo. A metodologia de cálculo é dos juros simples. A base para a formação da taxa de deságio (juros) é o custo que os bancos têm em captar recursos no exterior, adiciona-se a esse custo o spread que o banco pretende ganhar na operação. O exportador pode pagar o deságio antecipado ou postecipado conforme a negociação realizada com seu banco de relacionamento. Exemplo: a empresa ComexEad Ltda. realizou uma exportação a prazo, 210 dias para pagamento a começar da data de embarque. O valor da exportação é de US$ 75.580,25. Decorridos 17 dias do embarque, o exportador necessitou adiantar os recursos e contratou com seu banco de relacionamento um ACE. A taxa de deságio ficou negociado em 5,65% a.a. (antecipado) e taxa de câmbio da contratação foi de US$ 1,00 = R$ 3,4350. Com base nas informações apresentadas no exemplo, vamos calcular o prazo do ACE, o valor do adiantamento em reais, valor do deságio em dólares e em reais e o valor líquido que o exportador vai receber em reais: Prazo do ACE O prazo do ACE compreende desde a data da contratação até o vencimento das cambiais (data em que o importador deve pagar a dívida), no caso: Prazo do ACE: 210 dias - 17 dias = 193 dias Valor do adiantamento em reais É o valor da exportação, no caso US$ 75.580,25, vezes a taxa de câmbio da contratação: Adiantamento em reais = US$ 75.580,25 x 3,4350 = R$ 259.618,16 19 Valor do deságio (juros) em US$ Emprega-se a fórmula dos juros simples Deságio = Valor do Financiamento x taxa do deságio x prazo 36.000 Deságio = 75.580,25 x 5,65 x 193 36.000 Deságio = US$ 2.289,35 Valor do deságio (juros) em R$ É o valor do deságio em US$ vezes a taxa de câmbio do dia do pagamento do deságio, no caso, antecipado (taxa de câmbio da contratação): Deságio em R$ = 2.289,35 x 3,4350 Deságio = R$ 7.863,91 Valor líquido do adiantamento É o valor do adiantamento menos o valor do deságio (antecipado): Valor líquido = R$ 259.618,16 - R$ 7.863,91 Valor líquido = R$ 251.754,25 Caso o deságio tivesse sido negociado na modalidade postecipado, isso é, o exportador pagaria o deságio no vencimento do contrato, 193 dias após a contratação do financiamento. Na data da contratação receberia o adiantamento de R$ 259.618,16, o valor do deságio em US$ permaneceria o mesmo, US$ 2.289,35. Porém o valor em reais que a empresa pagaria no vencimento seria o valor do deságio em US$ vezes a taxa de câmbio do dia da liquidação do contrato 20 (vencimento), que poderia ser maior ou menor do que a taxa da contratação de R$ 3,4350. Curiosidade Veja na matéria que trata das principais modalidades de captação de recursos privados. Disponível em: <http://www.carvalhoribas.com.br/index.php?option=com_content&view=article &id=81:principais-modalidades-de-captacao-de-recursos-privados-para-a- exportacao-e-a-missao-dos-advogados-nestas- operacoes&catid=17:artigos&Itemid=4> TROCANDO IDEIAS Procurem obter as seguintes informações com empresas exportadoras que contratam o ACE, verifiquem o valor, o prazo e a taxa de deságio praticada pelos bancos. Após, divulguem e discutam sobre o tema em fórum apropriado. NA PRÁTICA Um exportador fez uma venda a prazo de 180 dias para um importador estrangeiro nas seguintes condições: Valor USD 300.000,00 Data de embarque 15/04/201X Data de vencimento 12/10/201X 21 Exportador solicita um ACE ao banco 10 dias após o embarque. O deságio negociado foi de 5% a.a. Com base nas informações anteriores, calcule o valor do deságio em US$. Deságio = Valor x Taxa x Prazo = 300.000,00 x 5/100 x 170/360 ou Deságio = 300.000,00 x 5,00 x 170 36.000 Deságio = US$ 7.083,33 SÍNTESE Podemos perceber que a linha de crédito (financiamento à exportação) apresentada nessa aula atende às necessidades das empresas exportadoras que vendem a prazo. Os exportadores têma vantagem de obter o financiamento a um custo interessante e condições de ter maior competitividade no mercado internacional. O financiamento ACE ainda apresenta a possibilidade de o exportador aumentar a sua capacidade de venda ao exterior, caso utilize as garantias da carta de crédito ou do seguro de crédito à exportação. Porém, como qualquer financiamento à exportação que uma empresa venha a realizar, é fundamental que haja o conhecimento de como se operam essas linhas, principalmente a prática de mercado e as legislações vigentes. 22 REFERÊNCIAS BANCO DO BRASIL. Tipos de Riscos. Disponível em: <http://www.bb.com.br/portalbb/page3,136,2545,0,0,1,8.bb>. BRASIL. Decreto n. º 57.663, de 24 de janeiro de1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d57663.htm>. BORGES, J. Financiamento ao Comércio Exterior - o que uma empresa precisa saber. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012. COFACE. Disponível em: <http://www.coface.com.br/>. CORTINÃS LOPEZ, J. M. Comércio Exterior Competitivo. São Paulo: Editora Aduaneiras, 2002. FORTUNA, E. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2002. VIEIRA, A. Teoria e Prática Cambial Exportação e Importação. São Paulo: Editora Aduaneiras, 2005).
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