Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
39 UNIDADE 2 DIREITO PÚBLICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade o(a) acadêmico(a) estará apto a: • compreender o conceito de Direito Público; • compreender os diversos ramos que o compõem; • conhecer os institutos regulados pelo Direito Público. O conteúdo desta unidade está dividido em seis tópicos. Após estudá-los, você deverá fazer os exercícios propostos ao final. TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL TÓPICO 2 – DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL TÓPICO 3 – DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO TÓPICO 4 – DIREITO ELEITORAL E DIREITO MILITAR TÓPICO 5 – RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO CONSUMIDOR TÓPICO 6 – DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 40 41 TÓPICO 1 DIREITO CONSTITUCIONAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Este tópico 1 foi reservado para o estudo do Direito Constitucional que estuda as normas constitucionais. Iniciaremos pelo seu conceito, para então estudarmos especificamente a Constituição da República de 1988, principal objeto do estudo do Direito Constitucional. Nos itens seguintes, estudaremos matérias constitucionais de grande importância e conheceremos os principais direitos e garantias fundamentais, quais são os direitos sociais e ainda como funcionam e quais são as obrigações que os partidos políticos terão que cumprir. 2 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO O Direito Constitucional, como o próprio nome diz, é aquele que “engloba as normas jurídicas constitucionais, isto é, aquelas pertencentes à Constituição, em toda a sua amplitude [...]” (NUNES, 2003, p. 125). Segundo Alexandre Moraes (2003, p. 35), o Direito Constitucional “é um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental (sic) à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. A Constituição, conforme Canotilho apud Moraes (2003, p. 36), “pode ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos.” Ou seja, UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 42 É importante entendermos que o princípio que rege o Direito Constitucional Brasileiro é o do “Estado de Direito”, “isto é, do Estado que tem como princípio inspirador a subordinação de todo poder ao Direito.” Como o Estado é o responsável pela criação e aplicação da Constituição, ficando ao mesmo tempo submetido a ela, esta relação é também objeto de estudo pela Teoria Geral do Estado. Entendido o conceito de Constituição e sua supremacia, vamos estudar especificamente a Constituição Federal de 1988. PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. FONTE: Disponível em: <www.sbef.org.br>. Acesso em: 11 jun. 2008. FIGURA 10 - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 No Estado Brasileiro, a atual Constituição foi promulgada em 1988 e já foi modificada por algumas Emendas. A Carta Magna em vigor traz em seu preâmbulo o seguinte: IMPORTANT E Por isso é que nenhuma lei poderá ser contrária à Constituição, sob pena de ser considerada inconstitucional e retirada do ordenamento jurídico. Em razão da supremacia da Constituição, é comum a utilização da expressão “Carta Magna” para nos referirmos à Constituição. CONSTITUIÇÃO LEI FUNDAMENTAL E SUPREMA DE UM ESTADO TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 43 l formal: porque “consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte originário” (MORAES, 2003, p. 37); l escrita: porque é um “conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento [...]”(MORAES, 2003, p. 38); l dogmática: por ser “um produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante (MORAES, 2003, p. 38); l promulgada (democrática, popular): porque derivou “do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua elaboração [...]”(MORAES, 2003, p. 39); l rígida: porque para sua modificação é necessário “um processo mais solene e mais dificultoso do que o existente para a edição das demais espécies normativas” (MORAES, 2003, p. 39). “A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como super-rígida, uma vez que em regra poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente, em alguns pontos é imutável (CF, art. 60 § 4º - cláusulas pétreas)” (MORAES, 2003, p. 39); l analítica: porque “examina todos os assuntos que entende relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado” (MORAES, 2003, p. 40). Também segundo Moraes (2003), extraímos como pode ser classificada a Constituição Federal de 1988: 2.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Os direitos e garantias fundamentais são previstos na Constituição Federal em seu artigo 5º. Este artigo traz, em seus setenta e seis incisos, vários direitos e NOTA O preâmbulo da Constituição, segundo Alexandre Moraes (2003, p.48), “é o documento de intenções do diploma, e uma certidão de origem e legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios, demonstrando a ruptura com o ordenamento constitucional anterior e o surgimento jurídico de um novo Estado. E continua: “[...] por não ser norma constitucional não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal [...]”, mas deverá ser usado como instrumento de interpretação da Constituição (MORAES, 2003 p.49). UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 44 garantias, dentre eles: a inviolabilidade da casa das pessoas (inciso XI), a liberdade da manifestação do pensamento, a liberdade de consciência e de crença (inciso VI), o direito de propriedade (art. XXII), entre muitos outros. Conforme Moraes (2003, p. 59), podemos dividir os direitos e garantias em cinco espécies. Para visualizarmos melhor esta divisão, atende à figura a seguir: FONTE: A autora Agora que conhecemos as espécies de direitos e garantias fundamentais, partiremos para o estudo de seus conceitos em separado. Após, de forma resumida, abordaremos cada um dos direitos e garantias fundamentais. Os direitos fundamentais “representam só por si certos bens, as garantias destinam-se a assegurar a fruição desses bens” (MIRANDA apud MORAES, 2003, p. 62). As garantias traduzem-se “quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a proteção dos seus direitos quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade (exemplo: direito de acesso aos tribunais para a defesa de direitos [...]” (CANOTILHO apud MORAES, 2003, p. 62). Podemos entender esta diferença no exemplo seguinte: A Constituição Federal garante o direito à liberdade. Violado este direito, nasce para a vítima a garantia constitucional que é o de impetrar um habeas corpus e ver cessada esta ilegalidade. Não só as pessoas físicas, mas também as jurídicas são protegidas pela Constituição Federal. FUNDAMENTAIS FIGURA 11– CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS UNI É importante que você tenha em mãos um exemplar da Constituição Federal, que vai ajudá-lo(a) bastante... Se você não tiver uma Constituição Federal, acesse o site “www. planalto.gov.br” e no link “legislação”, copie o teor do art. 5º, da Carta Magna, que será nosso objeto de estudo neste tópico. TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 45 2.2.1 Direitos e Garantias Individuais e Coletivos Observando a imagem a seguir, iniciaremos pelo conceito dos direitos e garantias individuais e coletivos. Para estudá-los, vamos conhecer o art. 5º. da Constituição Federal: Da leitura do artigo 5º. e de seus vários incisos, concluímos que a Constituição Federal adotou diversos princípios, dos quais passaremos a estudar os principais: Iniciamos com o princípio da igualdade. Já no começo do artigo, lemos que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]” , ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei [...]” (MORAES, 2003, p. 64). Também no inciso I, a Constituição garante que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.” Pelo princípio da igualdade, a Constituição Federal garante a todos o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O direito à vida é o principal direito, “já que se constitui em prerrequisito à existência e exercício de todos os demais direitos.” O direito à vida, compreende, além da própria existência, o direito a uma subsistência digna (MORAES, 2003, p. 63). A liberdade também é tutelada pela Constituição Federal, sendo que é o próprio texto constitucional que prevê as garantias a esta liberdade, ou seja, os meios de que disporá a vítima para ver seu direito respeitado. Assim, poderá impetrar: IMPORTANT E Saiba que por proteção constitucional estende-se também a vida intrauterina (MORAES, 2003, p. 64). Art. 5º.: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (grito nosso) UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 46 l Habeas Corpus: (art. 5º. LXVIII): a vítima de ilegalidade ou abuso de poder poderá impetrar habeas corpus. “Portanto, o habeas corpus é uma garantia individual ao direito de locomoção, consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, fazendo cessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção em sentido amplo – o direito do indivíduo de ir, vir e ficar” (MORAES, 2003, p. 138). Interessante é o fato de que não é necessário ser advogado para impetrar habeas corpus, podendo até ser impetrado pelo próprio paciente (vítima). O habeas corpus pode ser preventivo ou repressivo. l Habeas Data (art. 5º. LXXII): objetiva “fazer com que todos tenham acesso às informações que o Poder Público ou entidades de caráter público (ex.: serviços de proteção ao crédito) possuam a seu respeito” (MORAES, 2003, p. 153). O habeas data cabe quando houver negativa de fornecimento destas informações, que também poderão ser retificadas. É a lei n. 9.507/97 que estabelece as regras referentes ao habeas data. l Mandado de Segurança (art. 5º., LXIV) : caberá mandado de segurança quando houver um ato ilegal e coator de uma autoridade contra direito líquido e certo e contra este ato não for cabível habeas corpus e habeas data. Além do art. 5º., LXIV da Constituição da República, temos disposições sobre o Mandado de Segurança na Lei n. 1.533/51. O direito líquido e certo é aquele que pode ser comprovado já no ajuizamento do mandado de segurança por documentos, sem a possibilidade de produção de provas. Para você entender bem quando cabe o mandado de segurança, podemos citar como exemplo a exigência de prévio pagamento de multas para o licenciamento de veículos, sem que tenha sido oportunizada a defesa ou também o corte de energia elétrica sem a prévia notificação, dentre outros. O mandado de segurança pode ser impetrado (ajuizado) por pessoa física ou jurídica, que é chamado “impetrante”. Pode ser individual (quando uma só pessoa impetra) ou coletivo, quando é impetrado em nome de uma coletividade (ex.: sindicato representando os sindicalizados). NOTA Conforme MORAES (2003, p. 138), “Habeas Corpus eram as palavras iniciais da fórmula do mandado que o Tribunal concedia e era endereçado a quantos tivessem em seu poder ou guarda o corpo do detido, da seguinte maneira: “Tomai o corpo desse detido e vinde submeter ao Tribunal o homem e o caso.” TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 47 Quanto à finalidade do mandado de segurança, podemos, pois, dizer que: O mandado de segurança pode ser impetrado de duas formas: preventiva e repressiva. Vejamos: l Preventiva: para tentar evitar a ofensa ao direito líquido e certo; l Repressiva: quando há ofensa ao direito líquido e certo, devendo o impetrante “demonstrar justo receio de sofrer uma violação de direito líquido e certo por parte da autoridade impetrada (MORAES, 2003, p. 163). l Mandado de Injunção: O Mandado de Injunção está previsto no art 5º, LXXI da Constituição Federal “sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania” (MORAES, 2003, p. 179). Assim: Existem algumas normas constitucionais que são “incompletas”. Por exemplo, Moraes (2003, p. 180) cita o artigo 7º, XI que prevê a participação dos empregados nos lucros ou resultados da empresa, conforme previsto em lei (grifamos). Por isso, como não existe a lei que regulamenta esta matéria, poderá NOTA Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conhecimentos sobre as ações constitucionais estudadas anteriormente, sugiro a leitura completa da Lei n. 1.533/51. O Mandado de segurança é conferido aos indivíduos para que eles se defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder, constituindo-se verdadeiro instrumento de liberdade civíl e liberdade política (GUIMARÃES apud MORAES, 2003,p.163) O mandado de injunção [...] visa suprir uma omissão do Poder Público, no intuito de viabilizar o exercício de um direito, uma liberdade ou uma prerrogativa prevista na Constituição Federal. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 48 ser impetrado Mandado de Injunção para este fim, a fim de possibilitar o exercício desta garantia. O mandado de injunção também poderá ser impetrado por pessoas físicas ou jurídicas, mas sempre será impetrado contra o Estado. l Ação Popular: Esta ação constitucional é prevista no art. 5º., LXXIII. Pode ser definida como: Resumidamente, podemos dizer que só poderá ajuizar ação popular o cidadão, ou seja, quem estiver “no gozo de seus direitos políticos” (MORAES, 2003, p. 193). Por isso, somente a pessoa física, desde que no gozo de seus direitos políticos, é que poderá propor esta ação. Quanto à natureza do “ato ou a omissão do Poder Público a ser impugnado, que dever ser obrigatoriamente lesivo ao patrimônio público, seja por ilegalidade, seja por imoralidade” (MORAES, 2003, p. 192). De forma esquematizada e bem simplificada, podemos resumir as principais ações constitucionais e o direito que protegem no seguinte: FONTE: A autora FIGURA 12 - AÇÕES CONSTITUCIONAIS E OS DIREITOS QUE PROTEGEM HABEAS DATA (conhecer e retificar dados que contam de registros públicos) MANDADO DE INJUNÇÃO (garantia constitucional – omissão da norma) MANDADO DE SEGURANÇA (direito líquido e certo contra ato coator de autoridade ilegal ou abusivo) HABEAS CORPUS (liberdade - direito de ir e vir) AÇÃO POPULAR (Patrimônio público - existência de ato lesivo) AÇÕES CONSTITUCIONAISTÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 49 Além do princípio da liberdade que estudamos anteriormente, outro importante princípio constitucional é o princípio da legalidade. Por este princípio, previsto no inciso II do art. 5º da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” Segundo Moraes (2003, p. 69), “Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies normativas devidamente elaboradas conforme as regras do processo legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo.” Também o artigo 5º, em seu inciso VI e VIII, garantem a liberdade de consciência e de crença (VI), impedindo expressamente, que alguém seja privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, a não ser se alegar esta situação para tentar descumprir uma obrigação legal (por exemplo alguém que diga que não paga impostos porque sua religião não permite), ou se recusar a cumprir prestação alternativa fixada em lei. Outro importante princípio é o que garante a indenização por dano material, moral ou à imagem. O dano material é aquele que se traduz em perda material, enquanto o direito moral é aquele que atinge o indivíduo de forma pessoal, quando, por exemplo, a situação expõe a vítima a um constrangimento ou sofrimento desnecessário. Interessante ressaltar que as pessoas jurídicas também podem sofrer danos morais, estando, porém ligado ao abalo de crédito que a ofensa poderá gerar. Além da indenização, é garantido o direito de resposta. A liberdade do pensamento também é garantida pela Constituição Federal, (inciso IX), garantida a inexistência de censura prévia. Porém, como adverte Moraes (2003, p. 78-79), esta liberdade não é absoluta, quando afirma que: A inviolabilidade prevista no inciso X do art. 5º., porém, traça os limites tanto para a liberdade de expressão do pensamento, como para o direito à informação, vedando-se o atingimento à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas (MORAES, 2003, p. 78). Ao se manifestar sobre a liberdade de imprensa, adverte: Essa previsão, porém, não significa que a liberdade de imprensa é absoluta, não encontrando restrições nos demais direitos fundamentais, pois a responsabilização posterior e/ou responsável pelas notícias injuriosas, difamantes, mentirosas sempre será cabível, em relação a eventuais danos materiais e morais. (MORAES, 2003, p. 79). NOTA Quer conhecer mais sobre as ações constitucionais? Sugiro que leia a obra Mandado de Segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, habeas data. São Paulo: Revista dos Tribunais. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 50 O inciso X do art. 5º garante proteção constitucional à vida privada, “salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas externas” (MORAES, 2003, p. 79). A utilização indevida ou não autorizada de imagem, por exemplo, ou a ofensa da honra de uma pessoa sujeitarão o infrator a responder civil e criminalmente por esta ofensa. Como dissemos anteriormente, também a pessoa jurídica pode ser afetada em sua honra, quando, por exemplo, vê encaminhado a protesto um título “frio”, mostrando-se assim ser indevido. Outro princípio que merece destaque é o da inviolabilidade do domicílio, previsto no art. 5º, XI da CF. Domicílio é “todo local, delimitado e separado, que alguém ocupa com exclusividade, a qualquer título, inclusive profissionalmente, pois nessa relação entre pessoa e espaço, preserva-se, mediatamente, a vida privada do sujeito” (MORAES, 2003, p. 81). Assim como no direito à liberdade do pensamento, esta inviolabilidade não é absoluta. As exceções estão previstas no próprio texto constitucional: casos de flagrante delito ou desastre, para prestar socorro, e também durante o dia, por determinação judicial. Também são garantidos constitucionalmente (art. 5º, XII) o sigilo da correspondência, de dados e das comunicações. Ainda nesta categoria, podemos incluir a garantia do sigilo bancário e fiscal. Porém, estas garantias também sofrem exceções quando o interesse público for o motivo determinante para sua quebra, como ocorre, por exemplo, na instrução criminal. Conforme a Constituição, a interceptação telefônica somente será possível mediante autorização judicial nos termos que a lei estabelecer, e para fins de investigação. Com relação ao sigilo dos dados, estes também poderão ser quebrados pelo Ministério Público ou pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), entre outros casos previstos na Lei e na própria Constituição Federal. NOTA A Lei que regulamenta este artigo é a Lei n. 9.296/96, estabelecendo disposições para que seja possível a interceptação telefônica que vulgarmente se conhece por “grampo”. IMPORTANT E “O sigilo bancário individual coloca-o na condição de “cláusula pétrea” (CF, art. 60, §4º,IV), impedindo, dessa forma, a aprovação de emenda constitucional tendente a aboli-lo ou mesmo modificá-lo estruturalmente” (MORAES, 2003, p. 97). TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 51 Também o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada são protegidos pela Constituição Federal, que garante que a lei não os prejudicará (art. 5º. XXXVI). Bastos apud Moraes (2003, p. 105), ao definir o direito adquirido e o ato jurídico, observa que este: constitui-se num dos recursos de que se vale a Constituição para limitar a retroatividade da lei. Com efeito, esta está em constante mutação; o Estado cumpre seu papel exatamente na medida em que atualiza suas leis. No entretanto, a utilização da lei em caráter retroativo, em muitos casos, repugna porque fere situações jurídicas que já tinham por consolidadas no tempo, e esta é uma das fontes principais do homem na terra. O ato jurídico perfeito: Isto não quer dizer, por si só, que ele encerre em seu bojo um direito adquirido. Do que está o seu beneficiário imunizado é de oscilações de forma aportadas pela lei nova. De uma forma resumida, podemos dizer, então, que por este princípio a lei não poderá retroagir para modificar uma situação já concretizada. O princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório são expressos nos incisos LIV e LV do art. 5º e também o princípio da presunção da inocência (art. 5º., LVII). Vejamos cada um deles: O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito da liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa [...] Este princípio garante, assim, tanto nos processos judiciais quanto nos administrativos, que serão respeitadas todas as fases do processo e garantida a defesa em toda a sua amplitude (meios e provas). Como consequência da ampla defesa, é assegurado ainda o contraditório, que garante que aquele que for acusado terá o direito de se defender. Já o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII), estabelece que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” Ou seja, por este princípio, presume-se que todo mundo é inocente, sendo função do Estado provar a culpa do sujeito. Passemos à segunda espécie de direitos e garantias fundamentais: direitos sociais. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 52 2.2.2 Direitos Sociais Os direitos sociais são os direitos fundamentais do trabalhador, que é o “empregado que mantiver algum vínculo de emprego” (MORAES, 2003, p. 202). Estes direitos são previstos no art. 7º da Constituição Federal e têm por objetivo principal a proteção dos direitos do trabalhador. Além disso, os direitos sociais têm que ser obrigatoriamente respeitados. Estas regras “formam a base do contrato de trabalho, uma linha divisória entre a vontade do Estado,manifestada pelos poderes competentes, e as dos contratantes” (SUSSEKIND apud MORAES, 2003, p. 203). De uma forma resumida, são os seguintes os principais direitos fundamentais do trabalhador: l proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa; l seguro-desemprego em caso de desemprego involuntário; l Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; l salário-mínimo; l piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; l irredutibilidade do salário, salvo previsto em convenção ou acordo coletivo de trabalho; l décimo terceiro salário; l férias; l licença à gestante e licença paternidade; l aviso prévio; l aposentadoria; l seguro contra acidentes de trabalho, entre outros. UNI É importante que você leia no inteiro teor o art. 7º Da Constituição Federal. Caso não tenha um exemplar, baixe-o no site <www.planalto.gov.br>. ESTUDOS FU TUROS Você conhecerá estes direitos mais profundamente em uma disciplina específica. TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 53 2.2.3 Direitos da Nacionalidade Pode-se conceituar a nacionalidade como sendo “o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado” (CARVALHO apud MORAES, 2003, p. 213). Segundo Moraes (2003, p. 213), este vínculo “capacita o indivíduo a exigir sua proteção, mas, ao mesmo tempo, o sujeita ao cumprimento dos deveres impostos”. Como salienta Moraes (2003), o conceito de nacionalidade está ligado aos conceitos de povo, população e nação, os quais também extraímos das ideias do referido autor: agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos e linguísticos (MORAES, 2003 p. 214). conjunto de habitantes de um território, de um país, de uma região ou de uma cidade. Abrange os nacionais e os estrangeiros (MORAES, 2003, p. 213). conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado (MORAES, 2003, p. 213). A nacionalidade pode ser adquirida com o nascimento (ex.: brasileiro nato), chamada “originária” ou posteriormente, através de um pedido de naturalização (ex.: o estrangeiro que pede naturalização e se torna brasileiro naturalizado), que se chama nacionalidade “adquirida”. POVO POPULAÇÃO NAÇÃO UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 54 Quanto aos critérios utilizados para o reconhecimento da nacionalidade originária, segundo Moraes (2003, p. 215) são basicamente dois: l a origem sanguínea – todo descendente de nacionais será nacional, independente de onde nasceu. l a origem territorial – quem nasce em determinado território terá a respectiva nacionalidade, independente de sua ascendência. E qual o critério adotado pela atual Constituição Brasileira? O critério adotado pela nossa Carta Magna foi, como regra geral, o da origem territorial. Ou seja, em princípio, quem nascer em território nacional, será considerado brasileiro. Porém, há exceções a esta regra, previstas no próprio ordenamento constitucional, qual seja, no artigo 12, I da CF: Art. 12: São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; (exceção à origem territorial - Nota da autora) b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II – naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver IMPORTANT E A Constituição proíbe que a lei faça diferenciação entre brasileiros natos e naturalizados a não ser em casos previstos na própria Carta Magna. Assim, apesar de se tornar brasileiro pela naturalização, o estrangeiro naturalizado não adquire os mesmos direitos que os brasileiros natos. Por exemplo, existem cargos públicos privativos de brasileiros natos, tais como o de Presidente da República e Ministro do Supremo Tribunal Federal, como veremos a seguir. TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 55 reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. No parágrafo terceiro deste mesmo artigo, encontramos os cargos que só poderão ser ocupados por brasileiros natos: § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Ministro de Estado da Defesa. Segundo o art. 12, §4º da Constituição da República, o brasileiro perderá sua nacionalidade, quando: [...] I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 2.2.4 Direitos Políticos No capítulo V da CF (arts. 14 ao 16), estão expressos os direitos políticos e as condições de elegibilidade, alistamento e voto etc. Segundo Moraes (2003, p. 232), os direitos políticos formam “o conjunto de regras que disciplina a forma de atuação da soberania popular [...]”. Dos ensinamentos do referido autor, podemos apontar, de forma resumida, como direitos políticos os seguintes: l direito ao sufrágio direito de votar e ser votado; l direito de votar em eleições, plebiscitos e referendos; l elegibilidade possibilidade de concorrer a cargos políticos. Para ser elegível, é necessário que o candidato cumpra as seguintes condições, as previstas no art. 14, §3º da CF: a nacionalidade brasileira, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação partidária; a idade mínima para cada cargo. Os analfabetos e os inalistáveis (art. 14 §4º); l iniciativa Popular de lei; l ação Popular; l organização e participação de partidos políticos. Poderá haver a perda ou a suspensão dos direitos políticos. A perda é definitiva, enquanto a suspensão é temporária. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 56 O art. 15 da CF estabelece os casos de perda e suspensão, sendo que em razão da Constituição não estabelecer o critério diferenciador, colhemos da doutrina de Moraes (2003, p. 258-263): Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; (perda) II - incapacidade civil absoluta; (suspensão) III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; (suspensão) IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; (suspensão) V - improbidadeadministrativa, nos termos do art. 37, § 4º (suspensão). 2.2.5 Direitos Relacionados à Organização, Participação e Funcionamento dos Partidos Políticos Segundo a Constituição Federal (art. 17), os partidos podem ser livremente criados, fundidos, incorporados e extintos, devendo ser observados: a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana . Ainda segundo o mesmo artigo, deverão ser seguidos os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. Os partidos políticos, após se constituírem em conformidade com a lei civil, deverão registrar seus estatutos no Tribunal Regional Eleitoral, conforme exige a Constituição Federal. Nos demais parágrafos do art. 17, lemos que os partidos políticos são autônomos para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, entre outros direitos previstos na Constituição, tais como participação em fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão, que serão disciplinados por leis específicas. UNI Agora que você já conhece alguns aspectos do Direito Constitucional, após resolver nossos exercícios de fixação, vamos, no próximo tópico, passar ao estudo do Direito Administrativo. 57 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você estudou que: l O Direito Público é o Direito em que o Estado participa como parte na relação jurídica. l O Direito Público é dividido em Direito Público interno e externo. l O Direito Público Interno é dividido em diversos ramos, dentre eles o Direito Constitucional. l O Direito Constitucional tem como objeto de estudo a Constituição Federal, que é a Lei Magna de um país. l A Constituição Federal de 1988 traz vários direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5º. l Há várias ações constitucionais que tutelam a liberdade, tais como habeas corpus, habeas data, entre outros. l Os direitos sociais protegem o trabalhador. l Há duas espécies de nacionalidade: a que se adquire com o nascimento (originária), reconhecida pelos critérios da origem sanguínea ou territorial e a que decorre da naturalização também chamada “adquirida”. l Os direitos políticos e os relativos à organização e funcionamento dos partidos políticos. 58 AUTOATIVIDADE 1 Assinale a alternativa que não contém uma característica da Constituição Federal de 1988: a) ( ) Formal. b) ( ) Rígida. c) ( ) Sintética. d) ( ) Dogmática. 2 Com relação aos direitos políticos, pode-se afirmar que o cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado resultará: a) ( ) Na perda dos direitos políticos. b) ( ) Não é caso de perda nem suspensão dos direitos políticos. c) ( ) Suspensão dos direitos políticos. d) ( ) Pagamento de multa à Justiça Eleitoral. 3 Sobre as formas de interposição do mandado de segurança, é correto afirmar: a) ( ) Admite-se sua impetração de forma individual, mas apenas repressivamente. b) ( ) Pode ser impetrado de forma individual ou coletiva, mas apenas preventivamente. c) ( ) Apenas se admite sua impetração de forma coletiva e de forma preventiva. d) ( ) Admite-se sua impetração de forma coletiva ou individual, preventiva ou repressivamente. 4 O artigo 7º, XI prevê a participação dos empregados nos lucros ou resultados da empresa, conforme previsto em lei. Como não existe a lei que regulamenta esta matéria, aponte o remédio constitucional cabível: a) ( ) Mandado de Injunção. b) ( ) Ação Popular. c) ( ) Ação Civil Pública. d) ( ) Habeas Data. 5 Ao propor uma Ação Popular, podemos afirmar que o objetivo do autor é proteger: a) ( ) A liberdade de ir e vir. b) ( ) Direito líquido e certo. c) ( ) Patrimônio público. d) ( ) Liberdade de pensamento. 59 6 Segundo a Constituição Federal, não existirá no Brasil censura prévia. Podemos dizer que esta afirmação decorre do princípio: a) ( ) Da presunção de inocência. b) ( ) Da liberdade de pensamento. c) ( ) Da inviolabilidade do domicílio. d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 7 “É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários à sua formação, debaixo da lei velha”. Este é um conceito de: a) ( ) Ato jurídico perfeito. b) ( ) Ato jurídico julgado. c) ( ) Direito líquido e certo. d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 8 Este princípio garante tanto nos processos judiciais quanto nos administrativos, que serão respeitadas todas as fases do processo e garantida a defesa em toda a sua amplitude (meios e provas): a) ( ) Presunção de inocência. b) ( ) Inviolabilidade do domicílio. c) ( ) Devido processo legal. d) ( ) Direito líquido e certo. 9 Qual dos seguintes cargos não é privativo de “brasileiro nato”? a) ( ) Presidente e Vice-Presidente da República. b) ( ) Vereador. c) ( ) Presidente da Câmara dos Deputados. d) ( ) Presidente do Senado Federal. 10 Enquanto durarem os efeitos da condenação criminal transitada em julgado, os direitos políticos do réu: a) ( ) Ficarão suspensos. b) ( ) Serão extintos. c) ( ) Não serão nem extintos nem suspensos. d) ( ) Serão transferidos para outro membro do partido. 11 Leia as afirmações a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Na ação popular, há a necessidade de haver ato lesivo do patrimônio público. 60 ( ) O mandado de segurança só pode ser impetrado por cidadãos. ( ) O mandado de segurança pode ser impetrado preventivamente. ( ) O habeas data serve para se ter acesso a informações constantes nos registros públicos. ( ) O mandado de injunção e mandado de segurança têm o mesmo objetivo. ( ) A ação popular pode ser proposta por uma pessoa jurídica. ( ) O habeas corpus é impetrado para garantir o direito de ir e vir. ( ) Os princípios constitucionais são sempre absolutos. ( ) O direito à vida abrange não somente o direito de existir, mas também de ter uma vida digna. ( ) O direito à liberdade de pensamento não é absoluto. ( ) Direito Moral e Material são expressões sinônimas. 61 TÓPICO 2 DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, vamos estudar o Direito Administrativo que traz as regras que disciplinam a atividade da Administração Pública. Iniciaremos pelo estudo do conceito deste importante ramo do Direito, para então estudarmos os atos administrativos. Por fim, estudaremos os princípios que regem a Administração Pública e conheceremos os princípios e características dos contratos administrativos. Apenas em razão da necessária divisão do conteúdo neste tópico, estudaremos também o Direito Processual. Preparado? Então, mãos à obra! 2 DIREITO ADMINISTRATIVO 2.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO Segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), o Direito Administrativo “é o conjunto de normas que regem a Administração Pública”, ou seja, traz as regras que “organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a forma de ação para a consecução de seus objetivos (NUNES, 2003, p. 125). É, pois, no Direito Administrativo que encontraremos as regras que determinam, por exemplo, porque será realizada a desapropriação de um bem de um particular, como deverá ser realizado um contrato com um particular etc. Importante salientar que estas normas são de cumprimento obrigatório e nem por acordo entre a Administração e o particular podem ser modificadas. 2.2 ATOS ADMINISTRATIVOS A Administração Pública realiza sua função através dos atos administrativos. O ato administrativo, segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), pode ser: UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 62 l unilateral: quando a Administração, “cria, modificaou extingue direitos em relação aos administrados, aos seus servidores ou a ela própria”. Ou seja, neste tipo de ato a administração age “sozinha”. l bilateral: no ato administrativo bilateral, existem duas partes envolvidas na relação jurídica. “Refere-se aos contratos realizados pela Administração, tendo por fim a satisfação de algum interesse público”. O ato administrativo será ainda vinculado, “quando o modo de praticar o ato já vem descrito na lei (FÜHRER; MILARÉ 2003, p. 128-129) ou discricionário, quando o administrador tem certa liberdade de escolher a oportunidade ou a forma de realizar o ato”. Dentre os poderes da Administração regulamentados pelo Direito Administrativo há ainda o poder de polícia, que “consiste na faculdade de a Administração Pública coibir atos individuais que contrariem a lei e os interesses públicos” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 128). Advertem os mesmos autores que este poder também é limitado, sendo que, em caso de abuso, o particular poderá recorrer ao Judiciário, para fazer cessar o abuso, impetrando geralmente habeas corpus ou mandado de segurança. Veja que interessante este caso extraído da jurisprudência: Poder de polícia. Estabelecimento comercial. Drive-in. Fechamento por ordem de autoridade municipal, sob alegação de desvirtuamento das respectivas finalidades. Inexistência, contudo, de prova nesse sentido, ao menos de instauração de sindicância. Ato ilegal. Segurança concedida (RT 445/186). Entenderemos, a partir de agora, quais são e como funcionam as entidades estatais e as autarquias. “As entidades estatais são a União, os Estados e os Municípios e as suas autarquias. As autarquias são entes públicos autônomos, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, detentoras de uma parcela do poder estatal, destacadas da administração indireta, com a finalidade de descentralizar os serviços públicos. Exemplos de autarquias: INSS, Caixas Econômicas etc.”(FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 131). Além das atividades estatais, existem as entidades paraestatais, que “assumem forma civil, embora sejam públicas na essência” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 131). Com base nos ensinamentos dos referidos autores (p. 131-132), podemos afirmar que são entidades paraestatais, resumidamente, as seguintes: “empresas públicas (pessoas jurídicas de direito privado com capital inteiramente público (ex.: BNDES, Embratel etc.), sociedades de economia mista (pessoas jurídicas de direito privado, formadas com capital público e particular, com predominância de direção estatal, exemplo: Petrobrás), fundações públicas, constituem uma universalidade de bens, com personalidade jurídica própria, destacada do patrimônio da entidade estatal instituidora, com finalidades predeterminadas [...] Ex.: FUNAI. TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL 63 2.3 PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública não poder agir indistintamente. Os limites a esta atuação são delineados por princípios que estão previstos no art. 37 da Constituição Federal: Art. 37: A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. (grifo nossos) Para fixar bem este conhecimento, visualize a figura a seguir (DICA: caso necessite “decorar” estes princípios, veja que, na ordem em que aparecem na figura, formam a palavra “LIMPE”): FONTE: A autora FIGURA 13 - DIREITO ADMINISTRATIVO E SEUS PRINCÍPIOS Apesar dos princípios se destinarem à Administração Pública, também os outros poderes (Legislativo e Judiciário) ficam obrigados a cumpri-los quando praticam atos administrativos. Assim, os atos da Administração Pública, devem, necessariamente, cumprir alguns princípios, previstos no art. 37 da Constituição da República: 2.3.1 Princípio da Legalidade Já estudamos este princípio no tópico anterior. Ele garante que: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Também já afirmamos que o princípio da legalidade é considerado uma das bases do Estado Democrático de Direito. Este princípio, quando aplicado ao Direito Administrativo, impõe certos limites à atuação da Administração Pública, que assim não poderá agir em desconformidade com a lei, sob pena de configuração de ato abusivo. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 64 Vejamos os ensinamentos de Mello (2004 , p. 57): Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e captar-lhe o sentido profundo, cumpre atentar para o fato de que ele é a tradução jurídica de um propósito político: o de submeter os exercentes do poder em concreto – administrativo – a um quadro normativo que embargue favoritismos, perseguições ou desmandos. Pretende-se através da norma geral, abstrata e impessoal, a lei, editada pelo Poder Legislativo – que é o colégio representativo de todas as tendências (inclusive minoritárias) do corpo social – garantir que a atuação do Executivo nada mais seja senão a concretização da vontade geral. 2.3.2 Princípio da Impessoalidade Por este princípio, impõe-se uma igualdade de tratamento entre os particulares (administrados), focando-se os atos administrativos no interesse público, não sendo assim possível o favorecimento de uns em detrimento dos outros, conforme ensina Mello (2004, p. 57): No princípio da impessoalidade se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. O princípio em causa é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia. Segundo Meirelles (2005, p. 91): O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal.[...] Desde que o princípio da finalidade exige que o ato seja praticado sempre com finalidade pública, o administrador fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros. Pode, entretanto, o interesse público coincidir com o de particulares, como ocorre normalmente nos atos administrativos negociais e nos contratos públicos, casos em que é lícito conjugar a pretensão do particular com o interesse coletivo. O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente satisfazer interesses privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de finalidade. 2.3.3 Princípio da Moralidade Por este princípio, os atos administrativos devem ser realizados com base na moral, o que pode ser traduzido na necessidade de os atos administrativos serem praticados com base na probidade. TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL 65 Sua importância é tal, que a inobservância deste princípio gera a invalidade do ato administrativo (você se lembra da ação popular que estudamos anteriormente, que tem por objetivo justamente anular o ato administrativo lesivo ao patrimônio público?) e ainda a suspensão dos direitos políticos do agente ímprobo (art. 37, §4º da CF). É necessária, pois, além da observância dos ditames legais (princípio da legalidade) que a prática dos atos administrativos ocorra de acordo com a moralidade administrativa que traz as regras de conduta ética que devempermear sua realização. Sobre este princípio, colhemos dos ensinamentos de Meirelles (2005, p. 89): A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto da validade de todo ato da Administração Pública (Const. Rep., art. 37, caput). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como "o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração". Desenvolvendo a sua doutrina, explica o mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também entre o honesto e o desonesto. Por considerações de direito e de moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme já proclamavam os romanos – non omne quod licet honestum est. A moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para a sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum. [...] O certo é que a moralidade do ato administrativo, juntamente com a sua legalidade e finalidade, constituem pressupostos de validade, sem os quais toda atividade pública será ilegítima. 2.3.4 Princípio da Publicidade Por este princípio, torna-se necessário que os atos administrativos sejam praticados com transparência, permitindo o conhecimento por todos (pela publicação, por exemplo, no Diário Oficial, ou comunicação) dos atos que estão sendo praticados pela Administração Pública. UNI Você se lembra do conceito de moral que estudamos na Unidade 1? Se não lembra, volte um pouquinho em seus estudos e confira este conceito. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 66 Medauar (2005, p. 147) ressalta a relevância do princípio quando aduz que “O tema da transparência e visibilidade, também tratado como publicidade da atuação administrativa, encontra-se associado à reivindicação geral da democracia administrativa”. Proíbe, pois, este princípio, como regra geral, uma atuação da administração pública que não permita o conhecimento pela coletividade de seus atos. Ao contrário, exige, assim, que seja possível o acompanhamento e a fiscalização dos atos dos entes públicos pela sociedade. 2.3.5 Princípio da Eficiência Conforme Medauar (2005, p. 149), o vocábulo eficiência está ligado “à ideia de ação para produzir resultado, de modo rápido e preciso para satisfazer a população”. Este princípio estabelece que não basta o administrador praticar o ato de acordo com os princípios antes estudados, mas deve praticá-lo com eficiência, o que significa dizer economia do dinheiro público e resultados mais efetivos. Exige-se não apenas cumprimento da lei, mas atos capazes de realizar as necessidades dos administrados. 2.3.6 Contratos Administrativos O contrato é um negócio jurídico realizado por duas ou mais pessoas e nasce da junção destas “vontades”, chamado consentimento. Para a validade deste negócio jurídico, são necessários: agente capaz, forma prescrita ou não defesa em lei e objeto lícito, conforme exige o art. 104 do Código Civil. O contrato administrativo se diferencia do contrato comum em razão de possuir a característica de publicidade e da participação do Poder Público. Este poder aparece “como parte predominante, e pela finalidade de atender a interesse público” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 135). Além disso, possui características próprias, apontada por Führer e Milaré (2003, p. 135), as quais resumimos no mapa conceitual a seguir: ESTUDOS FU TUROS Você estudará cada um destes requisitos na Unidade 3. TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL 67 FONTE: Adaptado de Führer e Milaré (2003, p. 135) FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO ESTUDOS FU TUROS Você estudará a licitação, suas formas e características em disciplina futura. UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 68 3 DIREITO PROCESSUAL O Direito Processual é o ramo do Direito Público que regulamenta a forma que as ações judiciais se desenvolverão no Judiciário. Traz as regras que chamamos de “direito formal”, enquanto o Direito Civil, por exemplo, traz as regras de “direito material”. Para entendermos este sistema, podemos visualizar o direito material como sendo “o jogo”, enquanto o direito processual traz “as regras do jogo”. Assim, tomemos como exemplo o direito de propriedade. Enquanto o direito civil estabelece como se origina e se extingue este direito, o direito processual civil determinará como se deve proceder para retomá-lo. O Direito Processual é dividido em três grandes ramos: Direito Processual Civil, Direito Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, correspondentes a cada uma das áreas do direito material. O Código de Processo Civil, Lei n. 5.869/73, é a lei que serve de instrumento para o Direito Processual Civil. O Código de Processo Penal (decreto-lei n. 3.689 - de 03 de outubro de 1941) é o instrumento que traz as disposições relativas ao processo penal. Já as regras de direito processual do trabalho estão na Consolidação das Leis do Trabalho, (Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943) conhecida como “CLT”, e subsidiariamente utiliza-se o CPC. 69 RESUMO DO TÓPICO 2 Prezado(a) acadêmico(a), este tópico permitiu a você: l Compreender que o Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que traz as regras que se aplicam ao Estado como administrador público. l Conhecer os princípios que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelo administrador público: Legalidade, Moralidade, Publicidade, Impessoalidade e Eficiência. l Entender o conceito de ato administrativo e compreender suas espécies. l Conhecer o conceito de contrato administrativo e suas características. l Compreender o conceito de direito processual e suas subdivisões. 70 AUTOATIVIDADE Para verificar seu aprendizado sobre os conteúdos deste tópico, responda às questões a seguir: 1 Cite duas diferenças entre o contrato comum e o contrato administrativo. 2 Explique a característica execução inafastável que é própria do contrato administrativo. 3 O que são autarquias? 4 Quais são as características das entidades paraestatais? 5 Como se explica a característica “alteridade” dos contratos administrativos? 6 O que ocorrerá com o contrato administrativo, caso não seja respeitado o princípio da moralidade? 7 O que estabelece o princípio da impessoalidade? 8 Cite os princípios previstos na Constituição Federal e que devem ser respeitados obrigatoriamente pela administração pública. 9 Quais os ramos do Direito Processual? 10 Quais os principais diplomas legais que trazem as normas de Direito Processual? 71 TÓPICO 3 DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Partiremos agora para o estudo do Direito Penal e do Direito Tributário. Inicialmente, vamos estudar o Direito Penal, analisando o fato típico, seu principal objeto e as ações ou omissões culposas e dolosas que os configuram. Estudaremos também a questão da culpa, para definirmos o que vem a ser um crime doloso ou culposo. Ainda neste tópico, conheceremos as causas que excluem a antijuridicidade do crime, tais como a legítima defesa e os crimes que têm por objeto a defesa do patrimônio. Também neste tópico, teremos uma breve noção do Direito Tributário, uma vez que o seu estudo será objeto de disciplina própria de seu curso. 2 DIREITO PENAL 2.1CONCEITO E FUNÇÃO O Direito Penal “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que regulam os crimes e as contravenções penais” (condutas ilícitas penais de menor potencial ofensivo), com as correspondentes penas aplicáveis (NUNES, 2003, p. 127). Sua função é a “proteção de bens jurídico-penais – bens do Direito – essenciais ao indivíduo e à comunidade” (PRADO, 2005, p. 23). Estes bens são a vida, o patrimônio, os costumes, a paz social etc. Uma vez atingidos estes bens jurídicos, o infrator ficará sujeito às sanções previstas na própria legislação penal (penas ou medidas de segurança). 2.2 DIVISÃO DO DIREITO PENAL O Direito Penal é regulamentado pelo Código Penal, que é o Decreto-Lei nº 2.848/1940, que é composto de uma parte geral (art. 1º. a 121) e de uma parte especial (art. 121 ao 361). A parte especial traz os crimes divididos de acordo com o bem jurídico tutelado (ex.: crimes contra a vida, crimes contra o patrimônio 72 UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO etc.). Ainda é parte do Direito Penal a legislação extravagante, tais como a Lei de Entorpecentes, a Lei Maria da Penha, a Lei de Execução Penal, entre outras. 2.3 FATO TÍPICO - CRIME E CONTRAVENÇÃO Segundo Damásio de Jesus (2006, p. 33), “Para que haja crime, é preciso, em primeiro lugar, uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão)”. Porém, para que esta ação ou omissão seja relevante para o Direito Penal, é necessário que esta ação ou omissão esteja tipificada. Ou seja, é necessário que a lei preveja que esta ação ou omissão seja enquadrada como crime ou contravenção, chamados “tipos penais”. Caso contrário, esta ação será irrelevante para o Direito Penal. O homicídio, o furto, o estupro e todos os crimes previstos na Parte Especial do Código Penal são exemplos de tipos legais. Damásio de Jesus (2006, p. 33) fornece um exemplo, ao citar o furto de uso, em que a pessoa pega um bem de outrem para usar e após devolver, sem a intenção de subtraí-lo para si, como ocorre no furto previsto no art. 155. Podemos dizer assim que se trata de um ato atípico, ou seja, que não se enquadra no tipo legal, sendo assim irrelevante para o Direito. Além de típico, o fato precisa ser antijurídico, ou seja, contrário à lei. O fato antijurídico pode ser considerado como o “fato que, além de típico, não tem a seu favor nenhuma justificativa como a legítima defesa ou o estado de necessidade” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 141). Assim, um homicídio praticado em legítima defesa será típico, mas não será antijurídico, porque haverá uma excludente de antijuridicidade que é a legítima defesa, que estudaremos mais adiante. Podemos dizer, assim, conforme assentado na doutrina, que crime é “fato típico e antijurídico”. Já na contravenção, há uma conduta menos grave e que causa menos prejuízo, sendo que, por isso, se cominam penas mais brandas. As contravenções penais são regulamentadas pelo Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de Outubro de 1941, conhecido como “Lei das Contravenções Penais”, à qual se aplicam as disposições do Código Penal, naquilo que for aplicável. Exemplos de contravenção são: o jogo do bicho, uso indevido de uniforme, entre outras. 2.4 DOLO E CULPA Nos crimes e contravenções, há de se distinguir a conduta dolosa da conduta culposa. TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO 73 Assim, “são dolosos os crimes intencionais. Diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado (dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual)” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). Então: DOLO = INTENÇÃO DE PRODUZIR O RESULTADO OU ASSUMIR O RISCO DE PRODUZI-LO. Na culpa, ao contrário, não há intenção na prática do fato delituoso, “faltando também o agente a um dever de atenção e cuidado” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). A ação culposa ocorre em três tipos de conduta: negligência, imprudência e imperícia. Veja a seguir o conceito de cada uma das modalidades: l NEGLIGÊNCIA: “displicência, relaxamento, falta de atenção devida, como não observar a rua ao dirigir” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). l IMPRUDÊNCIA: “Conduta precipitada ou afoita, a criação desnecessária de um perigo, como dirigir veículo em excesso de velocidade” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). l IMPERÍCIA: “É a falta de habilidade técnica para certas habilidades, como não saber manobrar direito um veículo” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). Por isso, podemos dizer que há crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por negligência, imprudência ou imperícia. Do que estudamos até agora, podemos visualizar o seguinte: FONTE: A autora FIGURA 15 - DIFERENÇAS ENTRE CRIMES CULPOSOS E DOLOSOS 74 UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO 2.5 CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE Como vimos anteriormente, a antijuridicidade é a prática de um ato contrário à lei, sem que haja uma justificativa para tanto. O ato pode ser assim antijurídico (ex.: matar alguém), mas haver uma justificativa (ex.: legítima defesa). Neste item, vamos conhecer cada uma das causas que excluem a antijuridicidade, também chamada ilicitude de um ato típico. São causas excludentes de antijuridicidade: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. Vamos conhecer cada uma delas? Age em estado de necessidade, segundo o art. 24 do Código Penal, quem “pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” “Exemplo de estado de necessidade é a disputa de náufragos pela posse de uma tábua de salvação” (FÜHRER ; MILARÉ, 2005, p. 149). Em legítima defesa, segundo o art. 25 do Código Penal, age quem “usando moderadamente dos meios necessários, impele injusta agressão, atual ou iminente a direito seu ou de outrem.” Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2005, p. 149), podemos, resumidamente, apontar que “são critérios para a configuração da legítima defesa: a defesa deve ser contra ser humano, deve ser injusta, atual ou iminente (acontecendo ou em vias de acontecer)”. Deve ainda ser moderada, ou seja, ser proporcional à agressão sofrida. Ex.: não será considerada legítima defesa a reação de quem atira em uma pessoa que ataca com as mãos vazias. A configuração do estrito cumprimento do dever legal ocorre quando o agente “cumpre exatamente o determinado pelo ordenamento jurídico, realizando, assim, uma conduta lícita [...]. Há de ser dever legal, proveniente de disposição jurídico-normativa (lei, decreto, portaria, regulamento,etc.) v.g., oficial de justiça que cumpre o mandado de prisão, e não simplesmente moral, religioso ou social” (PRADO, 2005, p. 114). Por fim, conforme Prado (2005, p. 115, grifos nossos) “aquele que age no exercício regular de direito, quer dizer, que exercita uma faculdade de acordo com o direito, está atuando licitamente, de forma autorizada – art. 5º., II, CF [...] (v.g., [...] defesa no esbulho possessório - Art. 1.210 do CC; [...]. Não se pode considerar ilícita a prática de ato justificado ou permitido pela lei, que se consubstancie em exercício de direito dentro do marco legal, isto é, conforme os limites nele inseridos,de modo regular e não abusivo. 2.6 CULPABILIDADE Havendo a conduta típica e antijurídica, para que tenha lugar a aplicação da pena, há necessidade de haver a culpabilidade. Assim, diante de um fato típico e antijurídico, verificar-se-á a conduta do agente, sendo a culpabilidade, segundo TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO 75 Prado (2005, p. 115), “um juízo de censura ou reprovação pessoal, ou seja, que recai sobre a pessoa do agente, já que podia ter agido conforme a norma e não o fez [...]”. A seguir, estudaremos os elementos da culpabilidade. 2.7 IMPUTABILIDADE PENAL A imputabilidadepenal “é a capacidade de culpabilidade, entendida como capacidade de entender e de querer” (PRADO, 2005, p. 115). Em nosso ordenamento penal, entende-se, como regra geral, como imputável penalmente o maior de 18 anos, sendo que os menores ficam sujeitos à legislação específica. Pode se considerar imputável, pois, “o sujeito mentalmente são e desenvolvido, capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com este entendimento” (JESUS, 2006, p. 124). O artigo 26 do CP traz as causas de inimputabilidade, que, uma vez presentes, afastam a imputabilidade do agente: doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, menoridade e embriaguez acidental completa. 2.8 PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA Presentes os requisitos que configuram o crime (fato típico e antijurídico) e ainda a culpabilidade, terá lugar a aplicação da penalidade respectiva. De uma forma bem didática, podemos dizer que são três as espécies de penas: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa, que serão aplicadas conforme a gravidade do crime. As restritivas de liberdade classificam-se em reclusão e detenção. Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2003, p. 156-157) extraímos os regimes de cumprimento de cada uma das espécies de penas: l Regime fechado (cumprimento na penitenciária) reclusão. l Regime semiaberto (cumprimento em colônia agrícola ou similar) reclusão e detenção. IMPORTANT E Como regra geral, apenas as pessoas físicas (seres humanos) podem ser sujeitos ativos dos crimes. Como exceção a esta regra, temos a legislação ambiental, que prevê a responsabilização penal da pessoa jurídica (Lei n. 9.605/98). 76 UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO l Regime aberto (cumprido em casa do albergado) reclusão e detenção. As restritivas de direitos serão cumpridas através de prestação de serviços à comunidade (tarefas gratuitas junto a hospitais, escolas ou orfanatos), interdição temporária de direitos (com a proibição do exercício de profissão ou atividade ou suspensão da licença para dirigir veículo) e limitação de fim de semana (com a obrigação de permanecer o condenado, aos sábados e domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado). Por fim, as penas de multa que variam de 10 a 360 dias-multa (1 dia multa = 1/30 do salário-mínimo (mínimo) a 5 salários-mínimos (máximo), conforme a situação econômica do réu. Por fim, as medidas de segurança, segundo Führer e Milaré (2003, p. 156-157): As medidas de segurança não são penas, mas tão somente meios defensivos da sociedade. A pena refere-se mais à gravidade do delito, ao passo que a medida de segurança preocupa-se com a periculosidade do agente. [...]. As medidas de segurança são aplicáveis aos loucos. E também, em caráter substitutivo da pena, aos semiloucos. As medidas de segurança consistem na internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou na sujeição a tratamento ambulatorial, por tempo indeterminado, no mínimo de 1 a 3 anos, até a cessação da periculosidade verificada em perícia médica. 2.9 AÇÕES PENAIS As ações penais são os meios através dos quais o Estado realizará a persecução penal. De uma forma geral, as ações penais são de duas espécies: públicas ou privadas. Na maioria dos crimes, as ações penais são públicas, ou seja, quem inicia a ação penal é o Ministério Público, representado pelo Promotor de Justiça, que oferece a denúncia, independentemente da vontade do ofendido. A este tipo de ação damos o nome de ação penal pública incondicionada. Há casos, porém, em que a ação penal é pública, mas depende de iniciativa do ofendido para que possa ser iniciada. A esta iniciativa, dá-se o nome de “representação”. Já as ações privadas são aquelas em que o início da ação penal somente ocorre mediante a iniciativa do ofendido, que ocorre através da “queixa-crime”. São exemplos de crimes que somente terão a ação penal iniciada mediante queixa- crime: a calúnia, a injúria e a difamação. TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO 77 2.10 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Na parte especial do Código Penal, existem crimes que protegem os principais bens jurídicos, a vida, o patrimônio, a paz social etc. Para nossa disciplina, será suficiente conhecermos os crimes contra o patrimônio, previstos do art. 155 ao art. 183 do CP, conhecendo os tipos legais, com suas características principais e as penas a ele cominadas, os quais constam do quadro abaixo (os arts. 181 a 183 do CP não constam do quadro por trazerem disposições relativas à ação penal): QUADRO 1 - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Tipo Legal Características Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Furto de coisa comum Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. Intenção de permanecer com o bem (furto de uso não é crime). Existem as formas qualificadas, que aumentam a pena, tais como a utilização de chave falsa ou se o crime é praticado durante o repouso noturno. Roubo Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Semelhante ao furto, o roubo dele se diferencia em razão do emprego de violência. Também existe a forma qualificada, a exemplo do emprego de arma ou a violência ser cometida por mais de uma pessoa. Extorsão Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. Na extorsão, pretende especificamente a obtenção de indevida vantagem econômica (JESUS, 2006, p. 605). Na extorsão mediante sequestro, não há apenas a violência ou grave ameaça como no artigo anterior, mas há também um crime contra a liberdade de locomoção. Trata-se de crime hediondo (Lei n. 8.072/90). Extorsão indireta Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Não há necessidade de recebimento efetivo do documento, apenas a exigência é suficiente para configurar o crime. Alteração de limites Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem: Usurpação de águas I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias; Esbulho possessório II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada. § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. Este delito tem como objeto jurídico a posse e a propriedade. Só pratica este crime o proprietário do prédio vizinho àquele em que se alteram os limites (JESUS, 2006, p. 614). Além do tipo previsto no caput (cabeça) do artigo, os parágrafos preveem outras hipóteses que também se consideramcomo alteração dos limites. 78 UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO Supressão ou alteração de marca em animais Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Este artigo trata do crime de dano, inclusive o proprietário de coisa comum. Existe também a forma qualificada, quando o dano, por exemplo, for praticado contra bem de propriedade da União. Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou multa. Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Interessante que até mesmo o proprietário poderá ser sujeito ativo neste crime, uma vez que o objeto jurídico é o patrimônio histórico protegido. Alteração de local especialmente protegido Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei: Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. Apropriação indébita Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Apropriação indébita previdenciária Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Neste crime, o agente apropria-se de bem móvel de que tem a posse ou detenção. Ex.: Caixa que se apropria de dinheiro do banco. Também existe a forma qualificada. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: Apropriação de tesouro I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio; Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. Estelionato e outras fraudes Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Duplicata simulada Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. Abuso de incapazes Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. No estelionato, o agente busca obter indevidamente vantagem, induzindo uma pessoa ao erro. Também são formas de estelionato, a ele equiparados: a disposição de coisa alheia como própria; a alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria, a defraudação de penhor, a fraude na entrega de coisa, a fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro; a fraude no pagamento por meio de cheque. O Crime também pode ser qualificado, nos casos previstos no 3º. Este crime é o que conhecemos como “duplicata fria”. Toda duplicata, necessária e obrigatoriamente, deverá ser emitida a partir de uma nota fiscal ou fatura, motivo pelo qual se chama este título de crédito de título causal. TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO 79 Induzimento à especulação Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Fraude no comércio Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; II - entregando uma mercadoria por outra: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de outra qualidade: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. Outras fraudes Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant" Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Fraude à execução Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. Receptação Art. 180- Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Para que se configure a receptação, não é necessário que o crime seja contra o patrimônio. Damásio de Jesus (2006, p. 691) dá o exemplo de um funcionário público que pratica o crime de peculato. FONTE: A autora 3 DIREITO TRIBUTÁRIO O Direito Tributário estuda todas as normas que dizem respeito à arrecadação de tributos. Existem várias formas de tributo, especialmente: impostos, contribuições de melhoria e taxas. É a ocorrência do fato gerador que determinará a incidência do tributo. Assim, por exemplo, auferindo renda, o contribuinte pagará imposto de renda, adquirindo um carro, terá que pagar o IPVA e assim por diante. 80 UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO O Direito Tributário estudará, pois, tudo que se refere aos tributos, desde sua origem, fato gerador, o responsável pelo seu pagamento, qual a alíquota correspondente, a base de incidência e como se faz o recolhimento. Este ramo do Direito também especifica quem ficará isento do pagamento, o
Compartilhar