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APOSTILA-COMPLETA-MDCR-DIREITO-CONSTITUCIONAL-

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PROF. JEAN CASTELO 
 
MATERIAL PARA CONCURSOS 
Matéria: Material para concursos 
 
0001/09 - 1/306 direitoconstitucional 
TEMAS ABORDADOS EM CONCURSOS EM 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
POSSÍVEIS MUDANÇAS NO QUE SERÁ 
COBRADO NAS FUTURAS PROVAS JÁ 
INCLUSOS. 
 
CONSTITUCIONALISMO 
O Direito Constitucional é um ramo do Direito 
Público, destacado por ser fundamental à 
organização e funcionamento do Estado, à 
articulação dos elementos primários do mesmo e ao 
estabelecimento das bases da estrutura política. 
Tem, pois, por objeto a constituição política do 
Estado, no sentido amplo de estabelecer sua 
estrutura, a organização de suas instituições e 
órgãos, o modo de aquisição e limitação do poder, 
através, inclusive, da previsão de diversos direitos e 
garantias fundamentais. 
É, no conceito, o constitucionalismo um princípio, 
uma ideologia, que menciona o fato da limitação de 
poderes do governo, indispensável a dar garantias de 
direitos em dimensões que estruturem a organização 
político-social de uma comunidade. Assim, esta 
teoria, representará uma técnica específica de 
limitação do poder com fins garantísticos, ou seja, 
juízo de valores para o desenvolvimento da teoria da 
democracia. 
Segundo o mestre Pedro Lenza, a ideia de que todo 
Estado deva possuir uma Constituição e de que deve 
conter limitações ao poder autoritário e regras de 
prevalência dos direitos fundamentais desenvolve-se 
no sentido de consagração de um Estado 
Democrático de Direito ( art. 1º, caput, da CF/88 ) e, 
portanto, de soberania popular. 
Assim, não há dúvidas quanto aquilo que vem 
exposto na Constituição Federal de que “todo o poder 
emana do povo, que o exerce por meio de seus 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos 
desta Constituição.” 
Cumpre destacar que o antes mencionado distingue 
titularidade de exercício de poder. O titular do poder é 
o povo. Como regra, o exercício desse poder cujo 
titular é o povo, dá-se através dos representantes do 
povo, ou seja, do Poder Legislativo, senão Deputados 
Federais, Deputados Estaduais, Deputados Distritais, 
Vereadores, Deputados Territoriais 
O povo, portanto, desempenha o poder que possui 
de maneira indireta (democracia representativa), por 
intermédio de seus representantes ou de maneira 
direta, por exemplo, através de iniciativa popular, que 
consiste, no âmbito federal, na apresentação de 
projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito 
por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído 
por, pelo menos cinco Estados, com não menos de 
0,3% dos eleitores de cada um deles. 
 
O SENTIDO DA PALAVRA 
CONSTITUCIONALISMO 
 
O termo constitucionalismo possui dois sentidos: 
• sentido amplo - é o fenômeno relacionado ao Jato 
de todo Estado possuir uma constituição em qualquer 
época da humanidade, independentemente do 
regime político adotado ou do perfil jurídico que se lhe 
pretenda irrogar; e 
• sentido estrito - é a técnica jurídica de tutela das 
liberdades, surgida nos fins do século XVIII, que 
possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em 
constituições escritas, os seus direitos e garantias 
fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse 
oprimir pelo uso da força e do arbítrio. 
 
Constitucionalismo em sentido amplo 
No primeiro sentido, a ideia de constitucionalismo 
logra amplitude considerável, porque se prende ao 
fato de que todos os Estados, seja qual for a época 
de evolução da humanidade, possuem uma 
constituição. 
É que a história das civilizações resume-se, até os 
nossos dias, no embate entre a opressão e a 
liberdade. Daí a busca pelo reconhecimento dos 
direitos fundamentais, de modo que a razão 
sobrepuje a força e a violência. 
Se é exato que esse embate culminou com a 
eclosão da Revolução Francesa, mais certo ainda é 
que os ideais de liberdade, democracia e justiça 
sempre foram a tônica dos reclamos contra os 
processos de domínio das coletividades. 
Por isso, sempre existiu uma norma básica para 
conferir poderes ao soberano. Aqui pouco importa se 
o documento constitucional impõe limites, ou não, aos 
atos de governo, se é escrito ou consuetudinário. O 
que interessa, apenas, é a existência, explícita ou 
tácita, de um conjunto de princípios, preceitos, 
praxes, usos, costumes etc., que ordenavam, com 
supremacia e coercitividade, a vida de um povo. 
É nessa vertente que desponta o sentido amplo de 
constitucionalismo, que não se confunde com aquela 
técnica jurídica de tutela das liberdades surgida nos 
fins do século XVIII e adotada pela maioria dos 
Estados para pôr fim ao governo absolutista. 
 
Constitucionalismo em sentido estrito 
Da ótica stricto sensu, o significado do 
constitucionalismo advém do movimento 
constitucionalista, que o alçou ao posto de técnica 
jurídica de tulela das liberdades públicas. 
O movimento constitucionalista teve caráter jurídico, 
social, político e ideológico. 
Jurídico, porquanto propôs a regulamentação legal 
do exercício do poder por intermédio da adoção de 
constituições escritas, cuja superioridade implica a 
subordinação de todos os atos governamentais aos 
seus dispositivos. 
Social, porque estimulou o povo a lutar contra a 
hegemonia do poder absoluto, a fim de dividi-lo, 
organizá-lo e discipliná-lo. 
Político, pois bradou contra a opressão e o arbítrio, 
em nome da defesa dos direitos e garantias 
fundamentais. 
Ideológico, uma vez que exprimiu a ideologia 
 
 
 
 
 
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liberalista, baseada na implantação de um governo 
das leis e não dos homens. Nesse particular aspecto 
de cunho liberal-burguês, a concepção de 
constitucionalismo não se restringe a limitar o poder e 
a garantir as liberdades públicas. Vai mais adiante, 
abrangendo os diversos quadrantes da vida 
econômica, política, cultural, social etc. 
Com efeito, o movimento constitucionalista 
apregoava que todos os Estados deveriam possuir 
constituições escritas, as quais funcionariam como 
instrumentos assecuratórios dos direitos e garantias 
fundamentais. O marco do seu apogeu foi o fim do 
século XVIII, em oposição ao absolutismo 
 
O Ancien Régime. 
Enquanto o Antigo Regime previa a concentração 
do exercício do poder nas mãos da monarquia, o 
constitucionalismo, pelo contrário, defendia a divisão 
do poder. 
Esse é o sentido mais comum e usual da palavra 
constitucionalismo. 
Nesse particular, salientou Nicola Matteucci: 
"A definição mais conhecida de constitucionalismo é 
a que o identifica com a divisão do poder ou, de 
acordo com a formulação jurídica, com a separação 
dos poderes. A favor desta identificação existe um 
precedente assaz respeitável, a Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que tão 
grande influência havia de ter nas mudanças 
constitucionais da Europa no século XIX" (Dicionário 
de política, v.1 , p. 248). 
Realmente, a Declaração dos Direitos do Homem e 
do Cidadão de 1789 proclamou em seu art. 16: "Toda 
a sociedade na qual não está assegurada a garantia 
dos direitos, nem determinada a separação dos 
Poderes, não tem constituição". 
O constitucionalismo é uma técnica jurídica de tutela 
das liberdades, porquanto engloba um conjunto de 
normas, instituições e princípios constitucionais 
positivos, depositados em constituições escritas, a 
exemplo do direito à vida, à igualdade, à dignidade, 
ao devido processo legal, e tantos outros vetores 
relacionados à mecânica dos direitos humanos 
fundamentais. 
Nos fins do século XVIII, o constitucionalismo tinha 
o objetivo de limitar o poder despótico, mediante o 
estabelecimento de regimes constitucionais. 
Regimes constitucionais no sentido de se 
consagrar, nas constituições, os limites do poder dos 
governantes, pelo reconhecimento dos postuladossupremos da personalidade humana, consectários da 
igualdade, da fraternidade, da legalidade, da 
liberdade e da democracia. 
A necessidade de proteger, no plano constitucional 
positivo, os direitos fundamentais, como a liberdade 
de locomoção, a liberdade de manifestação do 
pensamento, a liberdade de imprensa, a liberdade de 
culto religioso, dentre inúmeras liberdades públicas, 
foi a justificativa para a deflagração do 
constitucionalismo. 
Não faremos uma abordagem ampla acerca da 
evolução do constitucionalismo, mas trataremos aqui 
apenas daquilo retratado nos textos anteriores, senão 
dos meados do século XVIII, que foi definido como 
Constitucionalismo Moderno bem como o 
Neoconstitucionalismo. 
Como movimento jurídico, político e cultural, o 
constitucionalismo só adquiriu consistência no fim do 
século XVIII, com o fortalecimento de certos 
princípios, que passaram a ser adotados pela maioria 
dos Estados, sob a forma de declarações de direitos 
e garantias fundamentais. 
Nessa época, o povo dizia que havia um tesouro 
enterrado numa ilha. A riqueza que nele se continha 
era a happy constitution, ou seja, uma constituição 
feliz, afortunada, que transformaria a sociedade 
patriarcal e imperialista num celeiro de alegria, onde 
rodos seriam iguais, livres e bem-aventurados. 
A partir de então, a ideia de constitucionalismo ficou 
associada à necessidade de rodo Estado possuir uma 
constituição escrita para frear o arbítrio dos Poderes 
Públicos. 
Por último, vale observar que o período do 
constitucionalismo moderno coincide com a fase do 
pós-positivismo jurídico, por alguns chamado de 
neopositivismo, que promoveu a superação do 
normativismo exacerbado. A partir da segunda 
metade do século XX, questões de cunho ético 
passaram a ser discutidas, rompendo os grilhões do 
conhecimento convencional, que procurava reduzir o 
Direito à sua dimensão absolutamente normativa. 
 
Noções: 
• Positivismo - esta palavra deriva do latim positum, 
que significa posto, firma do, situado, observado, 
experimentado. O movimento positivista granjeou 
enorme prestígio em todo o mundo, nas diversas 
áreas da cultura e do saber, sempre proclamando a 
importância dos métodos experimentais e advertindo 
para as limitações da filosofia racionalista. O nome 
positivismo surgiu em 1830, na Escola do socialismo 
utópico de Saint-Simon ( 1760-1825). Desenvolveu-
se, ganhando notável projeção com Augusto Comte, 
considerado o pensador protótipo do movimento, 
principalmente na França. 
• Neopositivismo - Positivismo Lógico, Filosofia 
Analítica, Empirismo Contemporâneo, Empirismo 
Lógico, ou, simplesmente, Neopositivismo, são os 
nomes que equivalem a uma corrente de pensamento 
que surgiu em Viena, na segunda década do século 
XX. Filósofos, físicos, matemáticos, sociólogos, 
psicólogos, lógicos e juristas se encontravam no 
Círculo de Viena para debater problemas ligados ao 
conhecimento científico. Discutiam, pois, Filosofia das 
Ciências, em última análise, Epistemologia Geral - 
teoria crítica voltada para o estudo dos conceitos 
básicos, com vistas à busca de resultados concretos. 
Mantinham um grupo harmônico, em que o colóquio 
de alto nível se nutria em clima de cooperação 
intelectual. Além de se ocuparem com a análise dos 
 
 
 
 
 
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princípios basilares do saber científico, os 
neopositivistas lógicos esmiuçaram a Semiótica - 
teoria geral dos signos linguísticos, que abrange todo 
e qualquer esquema de comunicação, desde os mais 
primitivos e singelos aos mais avançados e 
complexos. Daí deflui o traço marcante do 
Neopositivismo: a preocupação que atribuem à 
linguagem, tida como o instrumento indispensável ao 
saber científico. 
Em nossa opinião, o grande contributo do 
Neopositivismo para o Direito Constitucional foi deixar 
a mensagem de que não há linguagem quimicamente 
pura, em qualquer dos planos por onde percorra 
(sintático, semântico ou pragmático). Daí as 
imprecisões, ambiguidades e contradições nos 
artigos, incisos e alíneas das constituições, muitas 
vezes dissociados de uma visão rigorosa e 
sistemática do mundo. 
• Pós-positivismo jurídico - movimento que atribui 
importância aos princípios do Direito, e não somente 
às leis. Trata-se de uma designação provisória e 
genérica, que procura transmitir um ideário difuso, 
que busca definir as relações entre valores, princípios 
e regras. Parte da premissa de que, desde o 
constitucionalismo moderno ao início do 
constitucionalismo contemporâneo, começou a surgir 
uma nova hermenêutica constitucional, uma nova 
teoria dos direitos fundamentais, edificada sobre o 
fundamento da dignidade humana. Além de ressaltar 
a importância dos princípios-alçados ao status de 
normas jurídicas vinculantes -, preocupa-se com o 
estudo das relações do Direito interno com o 
internacional, propondo, ainda, uma reaproximação 
entre Direito e Ética. Seus defensores atribuem a sua 
enorme ascensão à própria derrocada histórica do 
Jusnaturalismo e ao fracasso político do Positivismo, 
que abriram caminho para um conjunto amplo e, até 
hoje, inacabado de reflexões acerca dos problemas 
jurídicos, da função social do Direito e de sua 
exegese. 
Destaque nosso - A corrente do jusnaturalismo 
defende que o direito é independente da vontade 
humana, ele existe antes mesmo do homem e 
acima das leis do homem, para os jusnaturalistas 
o direito é algo natural e tem como pressupostos 
os valores do ser humano, e busca sempre um 
ideal de justiça. 
O direito natural é universal, imutável e 
inviolável, é a lei imposta pela natureza a todos 
aqueles que se encontram em um estado de 
natureza. 
Ao contrário do que defende a corrente 
jusnaturalista (jusnaturalismo), a corrente 
juspositivista (juspositivismo) acredita que só 
pode existir o direito e conseqüentemente a 
justiça através de normas positivadas, ou seja, 
normas emanadas pelo Estado com poder 
coercivo, podemos dizer que são todas as normas 
escritas, criadas pelos homens por intermédio do 
Estado. 
O constitucionalismo moderno, portanto, 
representou o estágio da reaproximação entre os 
fundamentos éticos da vida humana e o Direito, 
reintroduzindo as concepções de justiça e 
legitimidade. 
Eis aí o que se pode chamar de constitucionalismo 
principialista, proveniente do reconhecimento da face 
principiológica do Direito, que irá encontrar notável 
sequência na etapa do constitucionalismo 
contemporâneo. 
Significa dizer que os princípios, expressos ou 
implícitos, passaram a inscrever-se nas constituições, 
embora já estivessem presentes no repositório 
universal do saber jurídico dos povos, de maneira 
explícita ou oculta. 
Ora, a grande novidade do constitucionalismo 
moderno não foi propriamente especificar os 
princípios que deveriam integrar as constituições 
escritas, mas sim reconhecer-lhes a dimensão 
normativa que se lhes encontra subjacente. É que os 
princípios vêm de priscas eras. Presentes em textos 
religiosos, filosóficos, jusnaturalistas e místicos, 
atravessaram os milênios, influenciando a vida social. 
Seja como for, os princípios foram reconhecidos 
normativamente, sintetizando a tábua de valores que 
viriam influenciar os ordenamentos jurídicos de todo 
o mundo. É o caso dos pórticos da legalidade, da 
igualdade, da separação de Poderes, do Estado 
Democrático de Direito, da dignidade da pessoa 
humana, da razoabilidade, da reserva de jurisdição, 
da solidariedade e da equidade. Todos eles, alguns 
tidos como clássicos, outros como modernos, 
evoluíram significativamente, sofreram releituras para 
espelhar as necessidades da vida moderna. 
No Brasil, como em rodo o mundo, existem julgados 
evidenciando o importante contributo do 
constitucionalismo moderno. Libertando-se do 
legalismoestrito, juízes e tribunais têm proferido 
decisões paradigmáticas, tomando como arrimo os 
vetores da legalidade, da igualdade, da separação de 
Poderes, do Estado Democrático de Direito, da 
dignidade da pessoa humana, da razoabilidade, da 
reserva de jurisdição, da solidariedade e da equidade. 
O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, 
aplicando o princípio constitucional da dignidade da 
pessoa humana, liberou o réu de ser conduzido 
"debaixo de vara" ao exame de DNA numa ação de 
investigação de paternidade (STF, Pleno, HC 71. 
373/RS - Rei. Min. Marco Aurélio, j. em 1 0- 11 - 1994, 
RTJ, 1 65: 902). 
Já o Superior Tribunal de Justiça autorizou o 
levantamento de Fundo de Garantia do Tempo de 
Serviço para uma mãe tratar do vírus da AIDS, nada 
obstante o fato de inexistir previsão legal explícita: "É 
possível o levantamento do FGTS para fins de 
tratamento de portador do vírus HIV, ainda que tal 
moléstia não se encontre prevista no art. 20, XI, da 
Lei 8 .036/90, pois não se pode apegar, de forma 
rígida, à letra fria da lei, e sim considerá-la com 
temperamentos, tendo-se em vista a intenção do 
 
 
 
 
 
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legislador, mormente perante o preceito maior 
insculpido na Constituição Federal garantidor do 
direito à saúde, à vida e à dignidade humana, e 
levando-se em conta o caráter social do Fundo, que 
é, justamente, assegurar ao trabalhador o 
atendimento de suas necessidades básicas e de seus 
familiares" (STJ , REsp 249.026/PR, Rei . Min. José 
Delgado, DJU de 26-6-2000, p. 138). 
A contribuição do constitucionalismo moderno pode 
ser sintetizada nos seguintes pontos: 
• As constituições passaram a ser escritas, 
instrumentalizando as ordenações constitucionais 
dos Estados em documentos formais, dotados de 
coercibilidade, cujas normas devem integrar um 
código sistemático e único de rodo o seu conteúdo. 
Disso promana o caráter racionalizador, estabilizante, 
instrumental e de segurança jurídica das cartas 
supremas, exteriorizados pelas noras da 
calculabilidade (o Estado só pode interferir na 
economia mediante previsão legal) e da publicidade 
(os atos constitucionais devem ser levados ao 
conhecimento de rodos, pelos órgãos oficiais de 
comunicação, e, em especial, publicados nos diários 
de justiça). 
• Os textos constitucionais são procriados pelo 
poder constituinte originário (ou de primeiro grau) . Ele 
não se confunde com o poder constituinte derivado 
(ou de segundo grau) , muito menos com os poderes 
constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) . 
• No campo das reformas constitucionais, houve o 
estabelecimento de um processo legislativo 
cerimonioso, diverso daquele responsável pela feitura 
das leis comuns, baseado em critérios solenes, 
dificultosos e demorados. Inaugurou-se, a partir daí, 
o império das constituições rígidas e das cláusulas 
pétreas. 
• Nascimento da doutrina do poder constituinte 
decorrente (ou de terceiro grau) , incumbido da 
criação e reforma das cartas dos Estados-membros, 
bem como do poder constituinte municipal (ou de 
quarto grau) , responsável pela elaboração e 
mudança formal das leis orgânicas municipais. 
• Constatou-se a existência da constituição 
dogmática, escrita e sistematizada por um órgão 
constituinte soberano, e da constituição histórica, 
obra dos costumes e das tradições seculares dos 
povos, a exemplo da Carta da Inglaterra. Com o 
tempo, esfloraram outros arquétipos de compreensão 
constitucional: o sociológico (Lassale), o normativo 
(Kelsen), o político (Schmitt). 
• Primado da supremacia material e formal das 
constituições, elevando o Direito Constitucional ao 
posto de ramo do Direito Público por excelência, fonte 
primeira de roda produção normativa. 
• Surgimento das concepções de controle de 
constitucionalidade das leis e dos atos normativos. 
• Limitação das funções estatais, não apenas as 
executivas e as judiciárias, mas também as 
legislativas. 
• Primazia do princípio da separação de Poderes. 
Os mandatários do povo, os exercentes de funções 
públicas, os aplicadores da lei têm responsabilidade 
pelos seus atos. 
• Tutela reforçada dos direitos e garantias 
fundamentais, exigência que se impõe globalmente 
a rodas as funções do Estado, e não apenas a um 
ou outro poder. Daí o movimento constitucionalista 
ter defendido que rodo texto constitucional deve 
estatuir uma declaração de direitos para nortear os 
aros dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. 
• Aparecimento do princípio da força normativa da 
constituição, cujos estudos viriam a ser 
sistematizados e aprimorados, cientificamente, na 
fase do constitucionalismo contemporâneo. 
Constatou-se que as constituições possuem uma 
força jurídica interna que as distingue dos demais 
diplomas normativos (leis ordinárias, decretos, 
resoluções etc.) . 
• Reconhecimento normativo da dimensão 
principiológica do Direito, cujos reflexos se 
espraiaram por todo o mundo, inclusive no Brasil, 
onde juízes e Tribunais vêm aplicando os pórticos da 
legalidade, da igualdade, da separação de Poderes, 
do Estado Democrático de Direito, da dignidade da 
pessoa humana, da razoabilidade, da reserva de 
jurisdição, da solidariedade e da equidade. 
 
CONSTITUCIONALISMO E SOBERANIA 
POPULAR 
 
Aspectos gerais 
A ideia de que todo Estado deva possuir uma 
Constituição e de que esta deve conter limitações ao 
poder autoritário e regras de prevalência dos 
direitos fundamentais desenvolve -se no sentido da 
consagração de um Estado Democrático de Direito 
(art. 1.º, caput, da CF/88) e, portanto, de soberania 
popular. 
Assim, de forma expressa, o parágrafo único do 
art. 1.º da CF/88 concretiza que “todo o poder 
emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos 
termos desta Constituição”. 
Vale dizer, mencionado artigo distingue titularidade 
de exercício do poder. O titular do poder é o povo. 
Como regra, o exercício desse poder, cujo titular, 
repita -se, é o povo, dá-se através dos 
representantes do povo, que, como veremos ao 
tratar do Poder Legislativo, são os Deputados 
Federais (âmbito federal), os Deputados Estaduais 
(âmbito estadual), os Deputados Distritais (âmbito do 
DF), os Vereadores (âmbito municipal) e os 
Deputados Territoriais (âmbito de eventuais 
Territórios Federais que venham a ser criados). 
Lembramos, desde já, que os Senadores da 
República Federativa do Brasil representam os 
Estados-membros e o Distrito Federal, de acordo com 
o art. 46 da CF/88. 
 
 
 
 
 
 
 
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Além de desempenhar o poder de maneira indireta 
(democracia representativa), por intermédio de seus 
representantes, o povo também o realiza 
diretamente (democracia direta), concretizando a 
soberania popular, que, segundo o art. 1.º da Lei 
n.9.709, de 18.11.1998 (que regulamentou o art. 14, 
I, II e III, da CF/88), “é exercida por sufrágio universal 
e pelo voto direto e secreto, com valor igual para 
todos, nos termos desta Lei e das normas 
constitucionais pertinentes, mediante: plebiscito, 
referendo e iniciativa popular”. 
Podemos falar, então, que a CF/88 consagra a 
democracia semidireta ou participativa, verdadeiro 
sistema híbrido. 
 
CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO 
A fase que estamos vivendo é a do 
constitucionalismo contemporâneo, marcada pela 
existência de documentos constitucionais amplos, 
analíticos, extensos, a exemplo da Constituição 
brasileira de 1988. 
O constitucionalismo contemporâneo engloba dois 
assuntos: 
• o neoconstitucionalismo, que, para nós, é o mesmo 
que constitucionalismo contemporâneo; 
e 
• o transconstitucionalismo,com a sua desafiante 
proposta de um constitucionalismo de níveis 
múltiplos. 
É no constitucionalismo contemporâneo que iremos 
ver, com notável nitidez, a consagração daquelas 
ideias pós-positivistas, propostas na etapa do 
constitucionalismo moderno (metade do século XX). 
No constitucionalismo contemporâneo é nítido o 
desprestígio da lei. Muitos são os seus problemas, a 
exemplo da inflação legislativa, da 
desconstitucionalização, da deslegisficação e da 
desregulamentação. 
Significados: 
• inflação legislativa - excesso de leis ern vigor; 
• desconstitucionalização - transferência de ternas 
constitucionais para a órbita legislativa; 
• deslegisficação - o Poder Legislativo exclui a lei da 
ordem jurídica, mediante cláusula revogatória; 
• desregulamentação - exclusão de matéria 
constitucional. Reserva-se o uso desse termo para o 
campo da lei das leis, da lei máxima por excelência: a 
Constituição do Estado. 
Se, entre os publicistas, as discussões giram em 
torno da (in)governabilidade dos Estados, no âmbito 
do Direito Privado, os códigos civis já nascem 
superados pelo predomínio dos microssistemas 
legislativos, a exemplo do Código de Defesa do 
Consumidor e do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
Por outro lado, é nítida a prevalência da lex 
mercatoria nas relações mercantis, notadamente 
naquelas que dizem respeito ao comércio exterior. 
Nesse campo, as questões tendem a ser 
regulamentadas pelos usos e costumes 
internacionais, pelos contratos e cláusulas-tipo, pela 
arbitragem e pelos princípios gerais de Direito 
comuns às diversas legislações nacionais. 
Na órbita do Direito Comercial, Penal, Tributário, 
Eleitoral e orçamentário predomina a péssima 
regulamentação, ensejando males impossíveis de 
serem sanados. Os financiamentos de campanhas 
eleitorais, como única saída de levar ao povo um 
plano de governo, o flsiologismo na votação 
congressual do orçamento, a voracidade fiscal, 
estimulando a cultura da sonegação como única 
saída para a própria sobrevivência, são alguns dos 
exemplos desalentadores de um catálogo extenso de 
absurdos. 
Quanto ao princípio da segurança jurídica e aos 
seus respectivos desdobramentos – direito adquirido, 
ato jurídico perfeito e coisa julgada -, é inegável que, 
na etapa do constitucionalismo contemporâneo, eles 
têm sido renegados ao último plano, mediante o 
império da interpretação distorcida, casual e 
imediatista dos problemas deduzidos em juízo. 
Temos de reconhecer, contudo, que a própria 
evolução histórica do constitucionalismo o credencia 
como um projeto jurídico, social, político e ideológico 
triunfante. 
Na contemporaneidade, por exemplo, ocorreram 
avanços dignos de nota, os quais muito se amoldam 
à realidade brasileira. 
É que, promulgada a Carta de 1988, com a 
redemocratização e reconstitucionalização do País, 
ocorreram mudanças significativas, a exemplo da 
tentativa de buscar a eficácia social das constituições 
(efetividade), a prevalência do princípio da força 
 
 
 
 
 
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normativa da Constituição e o aprimoramento da 
hermenêutica constitucional. 
Porém, se o constitucionalismo contemporâneo 
avançou positivamente em determinados aspectos, 
consagrou, por outro lado, uma espécie de 
totalitarismo constitucional, muito próximo à ideia de 
constituição programática. 
Temas que muito bem se enquadrariam em leis 
comuns são postos nas constituições. É que nos 
textos constitucionais contemporâneos o supérfluo e 
o acessório predominam. Ilustrando, precisaria vir 
expresso, na Carta brasileira, que o Colégio Pedro II, 
localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido 
na órbita federal (art. 242, § 2º)? Que a bandeira, o 
hino, as armas e o selo são os símbolos do País (art. 
13, § 1º). 
Em verdade, as constituições contemporâneas 
firmaram o compromisso entre o liberalismo 
capitalista e o intervencionismo estatal. Isso fez com 
que ocorresse um alargamento dos textos 
constitucionais, isentando os indivíduos das coações 
autoritárias em nome da democracia política, dos 
direitos econômicos, dos direitos dos trabalhadores. 
Assim, os textos constitucionais contemporâneos 
deixaram de impor relações coativas de convivência 
e passaram a consagrar princípios socioeconômicos, 
vertidos em normas dependentes de regulamentação 
legislativa, no intuito de celebrarem compromissos e 
promessas genéricas, difíceis de serem realizadas na 
prática (concretizadas). 
Reportamo-nos às normas programáticas, cuja 
formulação doutrinária se iniciou no 
constitucionalismo moderno, mas que encontrou seu 
apogeu na contemporaneidade. 
Revestidas sob a forma de promessas e programas, 
as normas programáticas limitam-se a enunciar 
princípios a serem cumpridos pelos Poderes 
Legislativo, Executivo e Judiciário. Em vez de 
disciplinarem diretamente a matéria que enunciam, 
deixam para os órgãos públicos a complexa tarefa de 
realizar os fins sociais do Estado. 
Do ponto de vista da realização constitucional, 
temos reservas quanto à eficácia social das normas 
constitucionais programáticas (referimo-nos à 
efetividade, não à eficácia normativa, intrínseca a 
toda disposição constitucional) . 
Ao prometer benefícios futuros, deixando a 
implementação deles a cargo da chancela legislativa, 
que não se sabe quando será acionada, criam falsas 
expectativas 
 O certo é que, na contemporaneidade, a ampliação 
do conteúdo das constituições acabou 
desvalorizando-as. 
No Brasil, a Carta de 1988 é um exemplo eloquente 
do totalitarismo constitucional. Além das disposições 
de direitos sociais e econômicos, o constituinte previu 
normas programáticas de índole financeira, 
securitária, educacional, cultural, desportiva etc. 
A experiência comprova que o detalharnento de 
conteúdos leva à ineficácia social das disposições 
supremas do Escada. Aí está o segredo da 
sobrevivência da Constituição americana. 
Por isso, as constituições não devem ser 
convertidas em fontes inesgotáveis de pormenores, 
propiciando, mais ainda, o descompasso entre a 
normatividade constitucional e a facticidade política, 
no dizer de W Hennis ( Verfassung und 
Verfassungswirklichreit, p. 249). 
Mas não é essa a tendência de um setor 
significativo da constitucionalística 
contemporânea, que propõe a implantação de 
textos constitucionais pormenorizados, 
criticando a ideia de constituição como mero 
instrumento de governo (]. P. Müller, Soziale 
Grundrechte in der Verfassung, p. 7 1 5) . 
Nesse aspecto, é possível dizer que, nas 
constituições contemporâneas, os direitos 
fundamentais apresentam duas notas distintas: 
• refletem as aquiescências, as angústias e os 
brados por uma sociedade melhor, justa e igualitária. 
Daí os constantes apelos para se colocar nas 
constituições normas relacionadas à informática, 
softwares, biociências, eutanásia, alimentos 
transgênicos, sucessão dos filhos gerados por 
inseminação artificial etc. Também desponta uma 
preocupação ética e moral acentuada. Inúmeros são 
os reclamos para que esses elementos integrem a 
tábua de direitos fundamentais nos textos supremos 
contemporâneos; e 
• consagram instrumentos de proteção das 
liberdades públicas, que se somam aos mecanismos 
de defesa da própria constituição. No Brasil, 
exemplificam os primeiros o mandado de segurança, 
o habeas data, o habeas corpus, o mandado de 
injunção, a ação popular e a ação civil pública. 
Ilustramos referidos mecanismos a ação direta de 
inconstitucionalidade interventiva, a ação direta de 
inconstitucionalidade genérica, a ação declaratória de 
inconstitucionalidade, a arguição de descumprimento 
de preceito fundamental e a ação direta de 
constitucionalidade por omissão. 
Enfim, eis os traços gerais do constitucionalismocontemporâneo ou neoconstitucionalismo: 
• fase marcada pela existência de documentos 
constitucionais amplos, analíticos, extensos, 
consagrando uma espécie de totalitarismo 
constitucional, consectário à ideia de constituição 
programática; 
• alargamento dos textos constitucionais, isentando 
os indivíduos das coações autoritárias em nome da 
democracia política, dos direitos econômicos, dos 
direitos dos trabalhadores; 
• disseminação da ideia de constituição dirigente 
que diverge daquela visão tradicional de constituição, 
que a concebe como lei processual, definidora de 
competências e reguladora de processos; 
• advento de novos arquétipos de compreensão 
constitucional, que vieram a enriquecer a Teoria Geral 
das Constituições; 
• destaque dos direitos e garantias fundamentais 
 
 
 
 
 
Matéria: Material para concursos 
 
3122 - 7/306 direitoconstitucional 
como resposta às aquiescências, angústias e brados 
por uma sociedade melhor, justa e igualitária. 
 
Neoconstitucionalismo 
O Direito Constitucional, assim como o ser humano 
em geral, está sujeito a modas. 
Um desses modismos é, sem sombra de dúvida, 
aquilo que alguns autores americanos e europeus 
convencionaram chamar de neoconstitucionalismo e 
que acabou se espalhando por todo o mundo, 
criando-se a atmosfera de que "surgiu" algo "novo", 
para "revolucionar" o saber constitucional da 
humanidade. 
Mas será que o neoconstitucionalismo é, realmente, 
"novo" ? 
Afigura-se-nos que, em sua essência, ele não traz 
nada de "novo" , a despeito de seu imponente nome 
e da "logística" implementada ao seu derredor. 
 
a) O que é neoconstitucionalismo 
Neoconstitucionalismo, constitucionalismo pós-
positivista, ou constitucionalismo neopositivo, é um 
viés teórico no campo do Direito Constitucional, que 
aglutina tendências e teses dos mais variados 
matizes. 
Designa a evolução de certos aspectos 
provenientes da cultura constitucional 
contemporânea. 
É, portanto, o constitucionalismo contemporâneo 
com outro nome. E nada mais. 
 
b) Origem do neoconstitucionalismo 
Os "neoconstitucionalistas" afirmam que o 
neoconstitucionalismo surgiu, na Europa, a partir da 
Segunda Guerra Mundial, na época de nascimento do 
Estado Constitucional Social. 
Na realidade, é impossível se precisar a origem do 
neoconstitucionalismo. 
Não há uma data, que, a rigor, possa ser 
considerada como o marco histórico de seu 
nascimento. 
O único dado passível de constatação é que, a partir 
de 1990, alguns estudiosos americanos e europeus 
passaram a adotar esse epíteto do constitucionalismo 
contemporâneo em seus escritos 
 
Transconstitucionalismo 
Como dissemos acima, o estudo do 
constitucionalismo contemporâneo engloba, além do 
neoconstitucionalismo, o transconstitucionalismo. 
Apesar da falta de definições para embasarmos o 
neoconstitucionalsmo, o mesmo não acontece para o 
transconstitucionalismo. 
a) O que é transconstitucionalismo 
Transconstitucionaismo é o fenômeno pelo qual 
diversas ordens jurídicas de um mesmo Estado, ou de 
Estados diferentes, se entrelaçam para resolver 
problemas constitucionais. 
Vale observar que as relações de interpenetração 
entre ordenamentos diferenciados não são, 
propriamente, uma novidade. Isto porque já existiam 
pactos, a exemplo daquele firmado no Tratado de 
Westfália de 1648, em que o direito internacional 
clássico e o direito estatal já se conectavam. 
O componente "novo" do transconstitucionalismo, 
portanto, não é o entrelaçamento entre uma 
pluralidade de ordenamentos de países distintos. A 
novidade está no modo como são travadas as formas 
de conversações entre os atores do cenário estatal. 
Esse detalhe é muito interessante, principalmente 
se levarmos em conta que a sociedade mundial do 
presente é bastante complexa, competitiva e de risco, 
e, mesmo assim, os diálogos ultrapassam fronteiras e 
quebram paradigmas. 
Quer dizer, os detentores do poder de 
ordenamentos diferentes abrem mão do tom de 
disputa de suas conversações, a fim de solucionarem 
problemas constitucionais, algo que não equivale a 
uma cooperação permanente entre Estados diversos. 
Por isso, podemos dizer que o 
transconstitucionalismo decorre do caráter 
multicêntrico dos sistemas jurídicos mundiais, onde a 
conversa e o diálogo desenvolvem-se em vários 
níveis que se integram, formando um bloco compacto 
de comunicação entre os atores do cenário estatal. 
Há um superentrelaçamento de níveis múltiplos. No 
lugar da vaidade, do provincianismo, da rebeldia, da 
discórdia e da mediocridade, comuns no mundo, 
abre-se espaço para o entendimento, a cooperação, 
a conversa e a criatividade. 
Douglas R. Hofstadter explicou, melhor do que 
ninguém, esse superentrelaçamento: 
"Como, sem dúvida, você já percebeu, não há nada 
que nos impeça de fazer o 'impossível' - ou seja, 
entrelaçar o nível I e o nível E, tornando as próprias 
convenções de interpretação sujeitas à revisão, d e 
acordo com a situação no tabuleiro de xadrez. Mas, 
para levar a cabo este 'superentrelaçado', você teria 
de estar de acordo com seu adversário quanto a 
convenções ulteriores para ligar os dois níveis - e o 
ato de fazê-lo criaria um novo nível, um novo tipo de 
nível inviolável, acima do nível 'superentrelaçado' (ou 
abaixo dele, se você preferir)" ( Gddel, Escher, Bach: 
an Eternal Golden Braid, 1 979) . 
Desse modo, podemos dizer que o 
transconstitucionaLismo é um constitucionalismo de 
níveis múltiplos ou, melhor dizendo, um 
constitucionalismo multiplex. 
Imaginemos estar passeando num shopping center. 
Resolvemos, então, assistir a um filme. Vamos ao 
piso superior e lá encontramos salas, exibindo filmes 
variados. Pois bem, comparando o nosso passeio ao 
transconstitucionalismo diríamos: cada uma dessas 
salas equivale a uma ordem jurídica, que possui 
particularidades próprias, não havendo, porém, 
hierarquia entre elas. 
Decerto, em vez de hierarquia, o que existe, na 
expressão de Anne-Marie Slaughter, é uma 
"fertilização constitucional cruzada'' (A New World 
Order, p. 69 e s.) . Isto porque, um determinado órgão 
 
 
 
 
 
Matéria: Material para concursos 
 
3122 - 8/306 direitoconstitucional 
de cada Estado, a exemplo do Poder Judiciário, toma 
como base os trabalhos, os estudos, as técnicas de 
outros órgãos, para, desse modo, demonstrar o 
acerto de suas teses. Um juiz, por exemplo, cita uma 
sentença de outro juiz; um deputado um projeto de lei 
de outro; um governador, uma experiência implantada 
noutro lugar, e assim por diante. 
Essa verdadeira troca de informações deve estar 
presente nos litígios globais, isto é, aqueles que 
envolvem conflitos de interesses entre vários Estados 
diferentes, exigindo que os magistrados, integrantes 
das estruturas judiciais específicas de seu respectivo 
país, recorram às duas palavrinhas mágicas, que 
devem nortear a vida do ser humano, do berço ao 
túmulo, e que constituem o cerne das negociações, 
inclusive as judiciais: bom senso. 
 
b) Cronologia do transconstitucionalismo 
No fim do século XX, o Direito Constitucional 
doméstico de alguns países começou a ultrapassar 
as fronteiras locais, adentrando em ordens jurídicas 
de outros Estados. 
Concomitante a isso, especialistas das mais 
diferentes tradições teóricas começaram a falar em 
constituição Europeia, constituição multilevel, 
constituição da comunidade internacional, 
constituições globais, constituições civis da 
sociedade mundial, constituições transversais, dentre 
tantos outros termos metafóricos, surgidos não por 
capricho intelectual ou modismo, mas pela própria 
necessidade de se nomear um fenômeno irrefreável, 
de tendência universal. 
 
Transconstitucionalismo stricto sensu 
Em sentido restrito, o transconstitucionalismo opera 
entreordens jurídicas de Estados diferentes. 
Poderíamos chamá-lo, sem prejuízo de outras 
denominações, de transconstitucionalismo 
propriamente dito, porque ele possui características 
específicas. 
No transconstitucionalismo propriamente dito, 
ordenamentos distintos se interagem e somam 
esforços conjuntos para resolverem casos complexos 
e difíceis. 
O que predomina é a superação do 
constitucionalismo provinciano ou paroquial em nome 
de algo maior: a integração cooperativa, pacífica e 
desterritorializada de ordens estatais diferentes. 
Cada Estado continua com a sua soberania e vida 
própria. 
Ocorre, apenas, uma integração harmoniosa entre 
ordens constitucionais de Estados completamente 
diferentes, algo que está acima de quaisquer 
simpatias ou antipatias, camaradagens ou disputas 
pessoais, muito menos institucionais. 
Para solucionar conflitos envolvendo direitos 
humanos, duas ou mais Cones de Justiça, de Estados 
diferentes, rompem suas barreiras territoriais e 
abandonam o regionalismo em nome da conversação 
e do diálogo constitucional. 
Segundo Carl Baudenbacher, essa conversação 
pode ocorrer entre o Tribunal de Justiça das 
Comunidades Europeias e os Tribunais dos Estados-
membros, bem como entre o Tribunal Europeu de 
Direitos Humanos e as Cortes Nacionais (Judicial 
globalization: new development or old wine in new 
bordes, p. 507 e s.). 
Mas não é só no âmbito judiciário que vemos o 
transconstitucionalismo propriamente dito 
concretizar-se. 
Anne-Marie Slaughter alerta-nos que o fenômeno 
também pode se verificar fora do Judiciário, ou seja, 
entre outros níveis do ordenamento, onde os 
aprendizados e intercâmbios delineiam-se 
informalmente (A New World Order, p. 1 04 e s.). 
Para ilustrar, enfatizem-se as conversações 
travadas entre o Legislativo e o Executivo de Países 
distintos, onde ocorrem aprendizado recíproco e 
intercâmbio criativo, mediante a troca de informações 
das respectivas esferas governamentais. 
Também nada impede que cada órgão do poder se 
comunique entre si: Legislativo com Legislativo; 
Executivo com Executivo; e Judiciário com Judiciário. 
A recíproca também é verdadeira. Órgãos distintos 
podem travar diálogos. 
 
Características do transconstitucionalismo 
O transconstitucionalismo propriamente dito 
apresenta as seguintes características: 
• exige que o estudioso abandone, por completo, 
aquela ideia, haurida do constitucionalismo moderno, 
de que o conceito de constituição liga-se, 
exclusivamente, a determinado Estado, sem que daí 
seja preciso recorrer a outras constituições de outros 
Estados; 
• permite a externalização e a internalização de 
informações entre Estados, órgãos e atividades 
completamente diferentes, pela troca de 
experiências, conhecimentos, técnicas etc.; 
• duas ou mais ordens jurídicas de Estados distintos 
se entrelaçam, mantendo a independência 
inerente a cada uma; e 
• fomenta a existência de pontes de transição entre 
ordens jurídicas, onde órgãos do poder de Estados 
diversos passam a se intercomunicar, solificando 
relacionamentos formais e informais. 
 
O RESULTADO DO PLEBISCITO OU DO 
REFERENDO PODE SER MODIFICADO POR LEI 
OU EMENDA À CONSTITUIÇÃO? 
 Pode o legislador contrariar a manifestação 
popular editando lei ou Emenda à Constituição? 
Exemplificando: tendo o “povo” afirmado ser contra 
a proibição do porte de armas, poderia o legislador 
editar lei em sentido contrário? Essa lei teria 
validade? 
Ou ainda, tendo o povo manifestado em plebiscito a 
preferência pelo presidencialismo, poderia uma 
emenda à Constituição (EC) instituir o 
parlamentarismo no Brasil? 
 
 
 
 
 
Matéria: Material para concursos 
 
3122 - 9/306 direitoconstitucional 
Entende-se que tanto a lei como a EC seriam 
flagrantemente inconstitucionais, porque uma vez 
manifestada a vontade popular, essa passa a ser 
vinculante, não podendo desmerecê-la ou 
desrespeitá-la. Assim sendo, é fácil concluir que a 
democracia direta prevalece sobre a democracia 
representativa. 
A única forma de modificar a vontade popular seria 
mediante uma nova consulta ao povo, a ser 
convocada ou autorizada por decreto legislativo do 
Congresso Nacional, e o decreto dependeria de 
provocação do legislador ou por lei, ou por nova 
emenda. 
 
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
Juridicamente, porém, Constituição deve ser 
entendida como a lei fundamental e suprema de um 
Estado, que contém normas referentes à estruturação 
do Estado, à formação dos poderes públicos, forma 
de governo e aquisição do poder de governar, 
distribuição de competências, direitos, garantias e 
deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição 
que individualiza os órgãos competentes para a 
edição de normas jurídicas, legislativas ou 
administrativas. 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
Quanto ao conteúdo -> Materiais, Formais. 
Quanto à forma -> Escritas, Não escritas. 
Quanto ao modo de elaboração -> Dogmáticas, 
Históricas 
Quanto à origem -> Promulgadas, Outorgadas. 
Quanto à estabilidade -> Imutáveis, Rígidas, 
Flexíveis, Semirígidas. 
Quanto à extensão e finalidade -> Analíticas, 
Sintéticas. 
 
QUANTO À CONTEÚDO 
CONSTITUIÇÃO MATERIAL consiste no conjunto 
de regras materialmente constitucionais, estejam ou 
não codificadas em um único documento. 
CONSTITUIÇÃO FORMAL é aquela 
consubstanciada de forma escrita, por meio de um 
documento solene estabelecido pelo poder 
constituinte originário. 
Ressalta-se que, com introdução do §3° no art. 5°, 
pela EC n° 45/2004, passamos a ter uma espécie de 
conceito misto, já que a nova regra só confere a 
natureza de emenda constitucional (norma 
formalmente constitucional) aos tratados e 
convenções internacionais sobre direitos humanos 
(matéria), desde que observadas as formalidades de 
aprovação (forma). 
 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO 
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA se apresenta como 
produto escrito e sistematizado por um órgão 
constituinte, a partir de princípios e idéias 
fundamentais da teoria política e do direito dominante. 
CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA é fruto da lenta e 
contínua síntese da História e tradições de um 
determinado povo. 
 
QUANTO À ORIGEM 
São promulgadas, também denominadas 
democráticas ou populares, as Constituições que 
derivam do trabalho de uma Assembléia Nacional 
Constituinte composta de representantes do povo, 
eleitos com a finalidade de sua elaboração. 
Outorgadas as elaboradas e estabelecidas sem a 
participação popular, através de imposição do poder 
da época (exemplo: Constituições brasileiras de 
1824, 1937, 1967 e EC n.° 01/1969). 
Existem, ainda, as chamadas constituições 
cesaristas, que são aquelas que, não obstante 
outorgadas, dependem da ratificação popular por 
meio de referendo. 
 
QUANTO À ESTABILIDADE OU ALTERALIDADE 
Rígidas são aquelas que exigem, para a sua 
alteração (daí preferirmos a terminologia 
alterabilidade), um processo legislativo mais árduo, 
mais solene, mais dificultoso do que o processo de 
alteração das normas não constitucionais. 
A rigidez constitucional da CF/88 está prevista no 
art. 60, que, por exemplo em seu § 2° estabelece um 
quorum de votação de 3/5 dos membros de cada 
Casa, em dois turnos de votação, para aprovação das 
emendas constitucionais. 
PAD.: Lembramos que, à exceção da Constituição 
de 1824 (considerada semi-rígida), todas as 
Constituições brasileiras foram, inclusive a de 1988, 
rígidas. 
 
OBS.: São imutáveis as constituições onde se veda 
qualquer alteração, constituindo-se relíquias 
históricas. Em algumas constituições, a imutabilidade 
poderá ser relativa, quando se preveem as chamadas 
limitações temporais, ou seja, um prazo em que não 
se admitirá a atuação do legislador constituinte 
reformador. 
Como um meio-termoentre as duas anteriores, 
surge a constituição semiflexível ou semi-rígida, na 
qual algumas regras poderão ser alteradas pelo 
processo legislativo ordinário, enquanto outras 
somente por um processo legislativo especial e mais 
dificultoso. 
 
PAD.: Ressalte-se que a Constituição Federal de 
1988 pode ser considerada como super-rígida, uma 
vez que em regra poderá ser alterada por um 
processo legislativo diferenciado, mas, 
excepcionalmente, em alguns pontos é imutável (CF, 
art. 60, § 4.° - cláusulas pétreas). 
 
 Flexível é aquela constituição que não possui um 
processo legislativo de alteração das normas 
infraconstitucionais. Vale dizer, a dificuldade em 
alterar a constituição é a mesma encontrada para 
alterar uma lei que não é constitucional. 
 
 
 
 
 
 
Matéria: Material para concursos 
 
3122 - 10/306 direitoconstitucional 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APLICABILIDADE DAS NORMAS 
 
CONSTITUCIONAIS 
 
EFICÁCIA JURÍDICA E EFICÁCIA SOCIAL 
Como regra geral, todas as normas constitucionais 
apresentam eficácia, algumas jurídica e social e 
outras apenas jurídica. 
Michel Temer observa que a “eficácia social se 
verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com 
potencialidade para regular determinadas relações, 
ser efetivamente aplicada a casos concretos. Eficácia 
jurídica, por sua vez, significa que a norma está apta 
a produzir efeitos na ocorrência de relações 
concretas; mas já produz 
efeitos jurídicos na medida em que a sua simples 
edição resulta na revogação de todas as normas 
anteriores que com ela conflitam”. 
As normas constitucionais, segundo José Afonso da 
Silva, podem ser de eficácia: plena, contida e 
limitada. 
 
Normas constitucionais de eficácia plena, 
contida e limitada 
 Tradicional a classificação das normas 
constitucionais, dada por José Afonso da Silva em 
relação a sua aplicabilidade em normas de eficácia 
plena, contida e limitada. 
São normas constitucionais de eficácia plena 
"aquelas que, desde a entrada em vigor da 
Constituição, produzem, ou têm possibilidade de 
produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente 
aos interesses, comportamentos e situações, que o 
legislador constituinte, direta e normativamente, quis 
regular" (por exemplo: os "remédios constitucionais"). 
 
Normas constitucionais de eficácia contida são 
aquelas "que o legislador constituinte regulou 
suficientemente os interesses relativos a determinada 
matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por 
parte da competência discricionária do poder público, 
nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de 
conceitos gerais nelas enunciados" (por exemplo: art. 
5.°, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, 
ofício ou profissão, atendidas as qualificações 
profissionais que a lei estabelecer). 
Por fim, normas constitucionais de eficácia 
limitada são aquelas que apresentam "aplicabilidade 
indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem 
totalmente sobre esses interesses, após uma 
normatividade ulterior que lhes desenvolva a 
aplicabilidade" (por exemplo: CF, art. 192, § 3.°: as 
taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e 
quaisquer outras remunerações direta ou 
indiretamente referidas à concessão de crédito, não 
poderão ser superiores a 12% ao ano; a cobrança 
acima deste limite será conceituada como crime de 
usura, punido, em todas as suas modalidades, nos 
termos que a lei determinar). 
 
Normas programáticas 
As normas programáticas, conforme salienta Jorge 
Miranda, 
 
"são de aplicação diferida, e não de aplicação ou 
execução imediata; mais do que comandos-regras, 
explicitam comandos-valores; conferem elasticidade 
ao ordenamento constitucional; têm como 
destinatário primacial - embora não único - o 
legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo 
e dos meios em que vem a ser revestidas de plena 
eficácia (e nisso consiste a discricionariedade); não 
consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos 
as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em 
vigor da Constituição), pedindo aos tribunais o seu 
cumprimento só por si, pelo que pode haver quem 
afirme que os direitos que delas constam, máxime os 
direitos sociais, têm mais natureza de expectativas 
 
 
 
 
 
Matéria: Material para concursos 
 
3122 - 11/306 direitoconstitucional 
que de verdadeiros direitos subjetivos; aparecem, 
muitas vezes; acompanhadas de conceitos 
indeterminados ou parcialmente indeterminados". 
Portanto, o juízo de oportunidade e a avaliação da 
extensão do programa incumbem ao Poder 
Legislativo, no exercício de sua função legiferante e, 
como salientado por Tércio Sampaio Ferraz Jr.., "a 
eficácia técnica, neste caso, é limitada. E a eficácia 
social depende da própria evolução das situações de 
fato. Daí resulta uma aplicabilidade dependente". 
Maria Helena Diniz cita os arts. 21, IX, 23, 170, 205, 
211, 215, 218, 226, § 2.°, da Constituição Federal de 
1988 como exemplos de normas programáticas, por 
não regularem diretamente interesses ou direitos 
nelas consagrados, mas limitarem-se a traçar alguns 
preceitos a serem cumpridos pelo Poder Público, 
como "programas das respectivas atividades, 
pretendendo unicamente a consecução dos fins 
sociais pelo Estado". 
Maria Helena Diniz cita os arts. 21, IX, 23, 170, 205, 
211, 215, 218, 226, § 2.°, da Constituição Federal de 
1988 como exemplos de normas programáticas, por 
não regularem diretamente interesses ou direitos 
nelas consagrados, mas limitarem-se a traçar alguns 
preceitos a serem cumpridos pelo Poder Público, 
como "programas das respectivas atividades, 
pretendendo unicamente a consecução dos fins 
sociais pelo Estado". 
 
INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS 
CONSTITUCIONAIS 
O conflito entre direitos e bens constitucionalmente 
protegidos resulta do fato de a Constituição proteger 
certos bens jurídicos (saúde pública, segurança, 
liberdade de imprensa, integridade territorial, defesa 
nacional, família, idosos, índios etc.), que podem vir a 
envolver-se numa relação do conflito ou colisão. Para 
solucionar-se esse conflito, compatibilizando-se as 
normas constitucionais, a fim de que todas tenham 
aplicabilidade, a doutrina aponta diversas regras de 
hermenêutica constitucional em auxílio ao intérprete. 
Como definido por Vicente Ráo, 
 
"a hermenêutica tem por objeto investigar e 
coordenar por modo sistemático os princípios 
científicos e leis decorrentes, que disciplinam a 
apuração do conteúdo, do sentido e dos fins das 
normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico 
do direito, para efeito de sua aplicação e 
interpretação; por meio de regras e processos 
especiais procura realizar, praticamente, estes 
princípios e estas leis científicas; a aplicação das 
normas jurídicas consiste na técnica de adaptação 
dos preceitos nelas contidos assim interpretados, às 
situações de fato que se lhes subordinam". 
 
Analisando a Constituição Federal, Raul Machado 
Horta aponta a precedência, em termos 
interpretativos, dos Princípios Fundamentais da 
República Federativa e da enunciação dos Direitos e 
Garantias Fundamentais, dizendo que 
 
"é evidente que essa colocação não envolve o 
estabelecimento de hierarquia entre as normas 
constitucionais, de modo a classifica-la em normas 
superiores e normas secundárias. Todas são normas 
fundamentais. A precedência serve à interpretação da 
Constituição, para extrair dessa nova disposição 
formal a impregnação valorativa dos Princípios 
Fundamentais, sempre que eles forem confrontados 
com atos do legislador, do administrador e do 
julgador", motivo pelo qual classifica-a de 
Constituição plástica. 
A Constituição Federal há de sempre ser 
interpretada,pois somente por meio da conjugação 
da letra do texto com as características históricas, 
políticas, ideológicas do momento, se encontrará o 
melhor sentido da norma jurídica, em confronto com 
a realidade sociopolítico-econômica e almejando sua 
plena eficácia. 
Canotilho enumera diversos princípios e regras 
interpretativas das normas constitucionais: 
• da unidade da constituição: a interpretação 
constitucional dever ser realizada de maneira a evitar 
contradições entre suas normas; 
• do efeito integrador: na resolução dos 
problemas jurídico-constitucionais, deverá ser dada 
maior primazia aos critérios favorecedores da 
integração política e social, bem como ao reforço da 
unidade política; 
• da máxima efetividade ou da eficiência: a uma 
norma constitucional deve ser atribuído o sentido que 
maior eficácia lhe conceda; 
• da justeza ou da conformidade funcionai: os 
órgãos encarregados da interpretação da norma 
constitucional não poderão chegar a uma posição que 
subverta, altere ou perturbe o esquema organizatório-
funcional constitucionalmente estabelecido pelo 
legislador constituinte originário; 
• da concordância prática ou da harmonização: 
exige-se a coordenação e combinação dos bens 
jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício total 
de uns em relação aos outros; 
• da força normativa da constituição: entre as 
interpretações possíveis, deve ser adotada aquela 
que garanta maior eficácia, aplicabilidade e 
permanência das normas constitucionais. 
 
PREÂMBULO CONSTITUCIONAL 
 
Significado 
É a parte introdutória ou preliminar de uma 
constituição. Na expressão de Peter Haberle, os 
preâmbulos são "pontes no tempo", exteriorizando as 
origens, os sentimentos, os desejos e as esperanças 
que palmilharam o ato constituinte originário (E! 
Estado constitucional, p. 276) . 
É o documento de intenções que serve para 
certificar a legitimidade e a origem do novo texto. 
Trata-se, pois, de uma proclamação de princípios, 
 
 
 
 
 
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3122 - 12/306 direitoconstitucional 
que não integra o bloco de constitucionalidade da 
Carta de 1988. 
 
NÃO HÁ INCONSTITUCIONALIDADE POR 
VIOLAÇÃO DO PREÂMBULO 
O preâmbulo propriamente dito não tem força 
cogente, visto que não vale como norma jurídica, tese 
consagrada na jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal. 
Precedente: "O preâmbulo da Constituição não tem 
valor normativo, apresentando-se desvestido de força 
cogente" (STF, MS 24.645-MC/DF, Rei . Min. Celso 
de Mel lo, decisão de 8-9-2003, DJU de 1 5-9-2003 ) 
. 
Resultado: seus princípios não prevalecem diante 
do texto expresso da constituição. 
Em virtude de não apresentar força normativa, 
desserve de parâmetro para declarar a 
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade 
normativa. 
No Brasil, por exemplo, os direitos sociais e 
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça, 
consagrados no preâmbulo da Carta de 1988, não 
funcionam como paradigma para a declaração de 
inconstitucionalidade dos atos do Poder Público. 
 
Assim, repete-se, a invocação de Deus no 
preâmbulo da Constituição Federal é norma de 
reprodução obrigatória nas Constituições 
estaduais e leis orgânicas do DF e dos 
Municípios? Referida previsão enfraquece a 
laicidade do Estado brasileiro? 
 
Não. 
Como se sabe, desde o advento da República (Dec. 
n. 119 -A, de 07.01.1890), existe separação entre 
Estado e Igreja, sendo o Brasil um país leigo, laico 
ou não confessional, não existindo, portanto, 
qualquer religião oficial da República Federativa do 
Brasil. 
Todas as Constituições pátrias, exceto as de 1891 e 
1937, invocaram a “proteção de Deus” quando 
promulgadas, exprimindo, assim, inegável símbolo de 
religiosidade. 
Em âmbito estadual essa realidade se repetiu, com 
exceção do Estado do Acre. 
Referida omissão foi objeto de questionamento no 
STF pelo Partido Social Liberal. O STF, definindo a 
questão, além de estabelecer e declarar a 
irrelevância jurídica do preâmbulo, assinalou que a 
invocação da “proteção de Deus” não é norma de 
reprodução obrigatória na Constituição estadual, 
não tendo força normativa (ADI 2.076 -AC, Rel. Min. 
Carlos Velloso). 
O STF também confirmou que a invocação a Deus 
no preâmbulo não enfraquece a laicidade do 
Estado brasileiro, que, inclusive, nos termos do art. 
5.º, VI, declara ser inviolável a liberdade de 
consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma 
da lei, a proteção aos locais de culto e das suas 
liturgias. 
Ainda, o art. 5.º, VIII, estabelece que ninguém será 
privado de direitos por motivo de crença religiosa ou 
de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar 
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e 
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em 
lei. 
Finalmente, o art. 19, I, declara, tendo em vista a 
inexistência de religião oficial, ser vedado à União, 
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios 
estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-
los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com 
eles ou seus representantes relações de dependência 
ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a 
colaboração de interesse público. 
Como exemplo de colaboração de interesse público, 
podemos citar a decretação de ponto facultativo 
para os servidores municipais de São Paulo quando, 
em de maio de 2007, o Papa Bento XVI esteve em 
São Paulo para celebrar a missa de canonização de 
Frei Galvão. 
Interessante, ainda, a crítica de José Afonso da 
Silva ao estabelecer que “um Estado leigo não 
deveria invocar Deus em sua Constituição. Mas a 
verdade também é que o sentimento religioso do 
povo brasileiro, se não impõe tal invocação, a 
justifica. 
Por outro lado, para os religiosos ela é importante. 
Para os ateus, há de ser indiferente. Logo, não há 
por que condená-la. Razão forte a justifica: o 
sentimento popular de quem provém o poder 
constituinte”. 
Assim, e concluindo, o preâmbulo não tem 
relevância jurídica, não tem força normativa, não 
cria direitos ou obrigações, não tem força 
obrigatória, servindo, apenas, como norte 
interpretativo das normas constitucionais. Por 
essas características, a invocação à divindade não é 
de reprodução obrigatória nos preâmbulos das 
Constituições estaduais e leis orgânicas do DF e dos 
Municípios. 
Conforme visto, o Brasil é um país leigo, laico ou 
não confessional. 
 
FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA 
DO BRASIL 
A República Federativa do Brasil, formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático 
de direito e tem como fundamentos: 
1. a soberania: consiste, na definição de 
Marcelo Caetano, em "um poder político supremo e 
independente, entendendo-se por poder supremo 
aquele que não está limitado por nenhum outro na 
ordem interna e por poder independente aquele que, 
na sociedade internacional, não tem de acatar regras 
que não sejam voluntariamente aceites e está em pé 
 
 
 
 
 
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3122 - 13/306 direitoconstitucional 
de igualdade com os poderes supremos dos outros 
povos"; 
É a capacidade de editar suas próprias normas, sua 
própria ordem jurídica (a começar pela Lei Magna), de 
tal modo que qualquer regra heterônoma só possa 
valer nos casos e nos termos admitidos pela própria 
Constituição. A Constituição traz a forma de exercício 
da soberania popular no art. 14; 
2. a cidadania: representa um status e 
apresenta-se simultaneamente como objeto e um 
direito fundamental das pessoas; 
3. a dignidade da pessoa humana: concede 
unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo 
inerente às personalidades humanas.Esse 
fundamento afasta a idéia de predomínio das 
concepções transpessoalistas de Estado e Nação, 
em detrimento da liberdade individual. A dignidade é 
um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se 
manifesta singularmente na autodeterminação 
consciente e responsável da própria vida e que traz 
consigo a pretensão ao respeito por parte das demais 
pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que 
todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, 
somente excepcionalmente, possam ser feitas 
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, 
mas sempre sem menosprezar a necessária estima 
que merecem todas as pessoas enquanto seres 
humanos; 
4. os valores sociais do trabalho e da livre 
iniciativa: é através do trabalho que o homem 
garante sua subsistência e o crescimento do país, 
prevendo a Constituição, em diversas passagens, a 
liberdade, o respeito e a dignidade ao trabalhador (por 
exemplo: CF, arts. 5.°, XIII; 6.°; 7.°; 8.°; 194-204, 
todos da CF). 
Como salienta Paolo Barile, a garantia de 
proteção ao trabalho não engloba somente o 
trabalhador subordinado, mas também aquele 
autônomo e o empregador, enquanto 
empreendedor do crescimento do país; 
 
5. o pluralismo político: demonstra a preocupação 
do legislador constituinte em afirmar-se a ampla e 
livre participação popular nos destinos políticos do 
país, garantindo a liberdade de convicção filosófica e 
política e, também, a possibilidade de organização e 
participação em partidos políticos. 
O Estado Democrático de Direito, que significa a 
exigência de reger-se por normas democráticas, com 
eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o 
respeito das autoridades públicas aos direitos e 
garantias fundamentais, proclamado no caput do 
artigo, adotou, igualmente, no seu parágrafo único, o 
denominado princípio democrático, ao afirmar que 
"todo o poder emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 
desta Constituição". 
Assim, o princípio democrático exprime 
fundamentalmente a exigência da integral 
participação de todos e de cada uma das pessoas na 
vida política do país. 
E nesse diapasão, citamos o Princípio 
representativo (art. 1º, parágrafo único) - pelo vetor 
representativo, todo poder emana do povo, que o 
exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos da Constituição, mediante 
eleições livres e periódicas. Todo poder emana do 
povo, no sentido de que o regime democrático e o 
respeito às liberdades públicas constituem a pedra de 
toque da República Federativa do Brasil, algo que as 
autoridades públicas devem observar. Democracia é 
o governo do povo, para o povo, pelo povo e em 
benefício dele. Assim, a emanação do poder advém 
do povo, porque o povo não pode apresentar-se na 
função de governo. Os seus escolhidos o 
representam, governando e tomando decisões em 
seu nome, como se estivessem em seu próprio lugar, 
exteriorizando a vontade geral. O poder, contudo, é 
exercido por meio de representantes eleitos ou 
diretamente. São os mandatários, ou representantes 
eleitos pelo povo, os incumbidos de exercer 
mandatos. Tais mandatos obrigam politicamente os 
eleitos a agir em benefício dos seus eleitores (do 
povo), defendendo teses, fórmulas e propostas de 
campanha. 
Curioso observar que o cumprimento do princípio da 
representatividade deve ser nos termos da 
Constituição Federal. Quer dizer, os mandatários do 
povo devem pautar o exercício de suas atribuições à 
luz das balizas constitucionais. Exorbitá-las, ou 
renegá-las a segundo plano, é olvidar a democracia, 
fomentando a demagogia, muito comum nas 
campanhas eleitorais brasileiras. 
Não podemos deixar de citar o art. 2º da CF, que 
trata do Princípio da separação de Poderes (art. 2º-
) - conforme esse princípio, são Poderes da União, 
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário. 
Trata-se, pois, de um conceito que tem por base a 
ideia de limitação, baseada na fórmula clássica de 
Montesquieu segundo a qual o poder deve frear o 
poder. Resultado: quaisquer tentativas no sentido de 
instaurar instâncias hegemónicas de poder 
padecerão do vício de inconstitucionalidade, pois o 
escopo do constituinte foi claro: neutralizar, no âmbito 
político-jurídico do Estado, qualquer possibilidade de 
dominação institucional por parte dos Poderes da 
República. O pórtico em análise funciona como 
parâmetro de observância indispensável à exegese 
das normas constitucionais, sendo uma das vigas-
mestras da Constituição de 1988. Veja-se que, em 
rigor, o poder político é uno (não se biparte, 
esfacelando seu conteúdo) e indecomponível (não se 
divide, cindindo a sua forma) . Por isso, quando 
falamos em separação de Poderes estamos nos 
reportando a uma separação de Junções estatais, 
conferidas a órgãos especializados para cada 
atribuição. Algumas funções são típicas, próprias ou 
preponderantes. Assim, cumpre ao Legislativo 
elaborar pautas de comportamento gerais, abstratas 
 
 
 
 
 
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3122 - 14/306 direitoconstitucional 
e impessoais, é dizer, as leis; ao Executivo incumbe 
resolver os problemas concretos e individualizados, à 
luz das leis. Ao fazê-lo exerce a função de governo, 
desempenhando atribuições políticas e de decisão, e 
a função administrativa, quando promove a 
intervenção, o fomento e o serviço público; ao 
Judiciário compete aplicar autoritariamente a lei nos 
casos concretos, intersubjetivos e litigiosos. 
Em contrapartida, os órgãos estatais também 
exercem funções atípicas ou impróprias. 
São denominadas atípicas porque não são 
inerentes a cada órgão, mas sim secundárias ou 
subsidiárias. Assim, o Legislativo também administra 
e julga (CF, arts. 5 1 , IV, e 52, XIII); o Executivo julga 
e legisla (CF, arts. 62 e 68, § 2º-) e o Judiciário legisla 
e administra (CF, art. 96, I, a e ./J. Mas nada impede 
falar em Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder 
Judiciário, terminologias consagradas e utilizadas, 
correntemente, no vocabulário jurídico. Aliás, essas 
denominações devem ser mantidas, porque quando 
as mencionamos queremos, em verdade, dirigir-nos 
às próprias funções que o poder político 
desempenha. 
OBS.: Independência entre Poderes - a 
independência de cada Poder delineia-se: pela 
investidura e permanência das pessoas num dos 
órgãos do governo, as quais, ao exercer as 
atribuições que lhes foram conferidas, atuam num 
raio de competência próprio, sem a ingerência de 
outros órgãos, com total liberdade, organizando 
serviços e tomando decisões livremente, sem 
qualquer interferência alheia, mas permitindo 
colaboração quando a necessidade o exigir. Em 
última análise, a independência das funções do poder 
político, uno e indivisível, exterioriza-se pelo 
impedimento de uma função se sobrepor à outra, 
admitidas as exceções participantes dos mecanismos 
de freios e contrapesos. 
 
Exemplos de casos julgados pelo STF acerca do 
Princípio da Separação de Poderes: 
 
Prévia licença para Governador e Vice se 
ausentarem do País: "Afronta os princípios 
constitucionais da harmonia e independência entre os 
Poderes e da liberdade de locomoção norma estadual 
que exige prévia licença da Assembleia Legislativa 
para que o Governador e o Vice-Governador possam 
ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie de 
autorização que, segundo o modelo federal, somente 
se justifica quando o afastamento exceder a quinze 
dias. Aplicação do princípio da simetria" (STF, A D ! n 
738, Rei. Min . Maurício Corrêa, DJ de 7-2-2003). 
Norma cerceadora da competência de 
Secretários de Estado: " Norma que subordina 
convênios, acordos, contratos e atos de Secretários d 
e Estado à aprovação da Assembleia Legislativa: 
inconstitucionalidade, porque ofensiva ao princípio da 
in dependência e harmonia dos poderes" (STF, AD ln 
676, Rei. M i n . Carlos Velloso, DJ de 29-1 1 -1 996. 
N o mesmo sentido: STF, AD!n 770, D} d e 2 0-9-
2002; AD l n 1 65, D} de 2 6-9-1 997). 
 
OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA 
FEDERATIVA DO BRASIL 
Os objetivos fundamentais da República Federativa 
do Brasil vem previstos no art. 3-º da Constituição 
Federal. 
O art. 3º da Carta de 1988 é originalíssimo: não 
mantém correspondência com nenhum outro preceito 
de nossas constituições anteriores. O constituinte 
seguiu o modelo português, cujo Texto Maior, no seu 
art. 9º, também consagrou objetivos, tarefas, metas a 
serem observadas como categorias fundamentais, as 
quais visam assegurar a existência de u m a 
sociedade livre, justa e solidária, procurando o 
desenvolvimento nacional e a erradicação da pobreza 
para promover o bem-estar de todos. A enumeração 
do art. 3º evidencia os fins do Estado brasileiro. 
Não é taxativa, mas exemplificativa, não exaurindo 
os escopos a que se destina a República Federativa 
do Brasil. Disso decorre a afirmação de que, entre 
nós, a definição dos fins estatais promana de uma 
enunciação de princípios, não se esgotando, 
simplesmente, pela intelecção d o art. 3º da Lex 
Mater, que deve ser analisado em conjunto com os 
arts. 1º, 2º e 4º. O certo é que a norma traz os 
objetivos definidos como categorias fundamentais, 
que se instrumentalizam através dos aludidos 
princípios. 
Eis os referidos objetivos fundamentais da 
República pátria: 
• Construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 
3º, I) - é a meta prioritária da República Federativa do 
Brasil, irmando-se com os ideários de liberdade, 
justiça e solidariedade humana. 
Nesse sentido: "Se o comportamento da 
Administração impõe ao titular dos depósitos 
sacrifício individual desproporcional, agravado pela 
virtualidade do prejuízo irrecuperável ante a idade 
avançada do mesmo, não é ilegal o ato judicial que 
garante liminar de desbloqueio"(TRF, 42 Região, 3􀉶 
T., MS 90.04.25430/RS, Rei . Des. Vol kmer de 
Castilho, decisão de 1 2-11-199 1 , OJ, 2 , de 2 9- 1 -
1 992, p . 898). 
• Garantir o desenvolvimento nacional (art. 3º, II) - 
os recursos materiais são imprescindíveis à melhoria 
das condições de vida do homem, porque lhe 
propiciam estabilidade, educação, saúde, cultura etc. 
Na Carta de 1988, desenvolvimento social é um 
sonho ainda inatingível a milhões de brasileiros. O 
vocábulo é recente na Sociologia e na Economia, 
significando a passagem de uma sociedade agrária 
para uma sociedade industrial, com aumento do 
Produto Interno Bruto e da renda per capita. 
Normalmente, o desenvolvimento social é medido 
pelo índice de mortalidade infantil, atendimento 
hospitalar, sanitarização pública, instalação de 
indústrias geradoras de empregos, grau de 
alfabetização, consumo de energia elétrica, cimento e 
 
 
 
 
 
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petróleo etc. 
• Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir 
as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III) - ante 
a pobreza generalizada, o desenvolvimento social 
impõe a sua extirpação como única saída para o 
extermínio das desigualdades sociais e regionais. A 
preocupação do constituinte de 1988 foi salutar, pois, 
no Brasil, a pobreza, a indigência e a miséria são 
comuns, o que o distingue com o triste título de País 
do Terceiro Mundo, ainda quando muitos pensem de 
modo diferente, propagando o contrário. Metade da 
população brasileira, de 5 anos para cima, é ainda 
analfabeta, não sabendo escrever um simples bilhete. 
Lembre-se que a Emenda Constitucional n. 31, de 14 
de dezembro de 2000, criou o Fundo de Combate à 
Pobreza. Para financiar esse Fundo, a Emenda 
Constitucional n. 42, de 19 de Dezembro de 2003, 
autorizou a criação adicional de até dois pontos 
percentuais na alíquota do Imposto sobre Circulação 
de Mercadorias e Serviços. 
O ICMS, por sua vez, deverá incidir sobre os 
produtos e serviços supérfluos e nas condições 
definidas em lei complementar, a qual deverá definir 
seus contribuintes, dispor sobre substituição tributária 
e disciplinar o regime de compensação do imposto 
(CF, art.155, § 22, XII). Recordemos que a Emenda 
Constitucional n. 67, de 22 de dezembro de 
2010, prorrogou, por tempo indeterminado, o prazo 
de vigência do Fundo de Combate e Erradicação da 
Pobreza. Numa tacada só, sapecou: ''Art. 12 
Prorrogam-se, por tempo indeterminado, o prazo de 
vigência do Fundo de Combate e Erradicação da 
Pobreza a que se refere o caput do art. 79 do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias e, 
igualmente, o prazo de vigência da Lei Complementar 
n. 111, de 6 de julho de 2001, que 'Dispõe sobre o 
Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, na 
forma prevista nos arts. 79, 80 e 81 do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias"'. Pelo art. 
22 da EC n. 67/2010, ela entrou em vigor na data de 
sua publicação, algo que ocorreu via Diário Oficial da 
União de 23 de dezembro de 2010. 
 
Informações adicionais sobre o Fundo de 
Combate e Erradicação da Pobreza: 
• O Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, 
instituído no âmbito do Poder Executivo Federal, foi 
regulamentado pela Lei Complementar n. 111 , de 6-
7-200 1 . Os arts. 79 a 83 do ADCT da Carta Magna 
estabeleceram as suas diretrizes. Já a Resolução n. 
1 , de 6-5-2003, aprovou o Regimento Interno do 
Conselho Consultivo e de Acompanhamento do 
Fundo, com representantes da sociedade civil (CF, 
art. 79, parágrafo único, do ADCT). 
• A aplicação dos recursos do Fundo devem 
direcionar-se às ações suplementares de nutrição, 
habitação, educação, saúde, reforço da renda familiar 
e outros programas de relevante interesse social que 
busquem a melhoria da qual idade de vida (CF, art. 
79 do ADCT) . 
• Estados, Distrito Federal e Municípios devem 
instituir Fundos de Combate à Pobreza, com a 
participação obrigatória da sociedade civil em seu 
gerenciamento (CF, art. 82 do ADCT). 
• Promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discrimina􀉶o (art. 3º, IV) - eis a igualdade 
formal consagrada como um dos objetivos da 
República pátria. Nossos irmãos do sul, norte, leste, 
oeste; os brancos, negros, judeus, índios, mulatos 
etc.; os heterossexuais e os homossexuais; crianças, 
jovens, adultos e idosos, todos são iguais em direitos 
e deveres. A presença deles, no cenário histórico 
brasileiro, repercutiu sensivelmente na miscigenação, 
nos costumes, na alimentação e, também, na religião. 
 
PRINCÍPIOS REGENTES DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS DA REPÚBLICA BRASILEIRA 
A República Federativa do Brasil rege-se, em suas 
relações internacionais, pelos princípios insculpidos 
no art. 4º, I a X, e parágrafo único, da Lex Mater. 
Basta ver a cooperação entre os povos para o 
progresso da humanidade (CF, art. 4º, IX), que se 
combina com a institucionalização do Mercosul (CF, 
art. 4º, parágrafo único), ou então a prevalência dos 
direitos do homem (CF, art. 4º, lI), suscetíveis de 
apreciação até por um Tribunal Internacional de 
Direitos Humanos (CF, art. 72 do ADCT). E mais: 
recorde-se dos próprios incisos que compõem o art. 
52, Eles tratam dos direitos e garantias fundamentais, 
ligando-se ao princípio de que a República Federativa 
do Brasil participa dos tratados internacionais(CF, art. 
5º, § 1º). 
 
Estudemos tais princípios: 
• Independência nacional (art. 4º, I) - explícito na 
Carta Imperial de 1824, o princípio retorna com o 
Texto de 1988. As demais constituições brasileiras 
não o previram. A independência nacional liga-se à 
ideia de soberania. O Estado brasileiro é 
independente, pois a sua vontade não está 
condicionada a injunções externas. 
• Prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II) -

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