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ARGUMENTAÇÃO I: Definição, Recursos e Falácias Aula 14 SUMÁRIO Aula 14 - ARGUMENTAÇÃO I: Definição, Recursos e Falácias Considerações iniciais .................................................................................................................................................................. 3 1 Argumentação: definição ........................................................................................................................................................ 3 1.1 Recursos argumentativos ............................................................................................................................................... 4 1.2 Falácias da argumentação .............................................................................................................................................. 5 1.3 De cães e ratos .................................................................................................................................................................... 6 Considerações finais ..................................................................................................................................................................... 7 Referências ....................................................................................................................................................................................... 8 3 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Objetivos Compreender como se estrutura um texto argumentativo; Identificar recursos e falácias da argumentação; Avaliar esquemas argumentativos de textos diversos. Considerações iniciais Você é capaz de convencer alguém acerca de algo? Reflexão Sabemos que, no nosso dia a dia, sempre emitimos opinião acerca de um ou outro assunto; tentamos impor nosso modo de “ver” o mundo àqueles que nos ouvem. No ambiente de trabalho, não é diferente: em todos os momentos, há sempre um colega ou mesmo nossos superiores nos tentando convencer de algo, de como definir estratégias ou de como modo podemos apresentar nossos pareceres técnicos para que sejam aceitos. Nesta aula, daremos início ao estudo da argumentação. Para isso, iremos, incialmente, defini-la; depois, serão apresentados alguns recursos argumentativos e algumas falácias. 1 Argumentação: definição Há uma confusão sobre o que seja texto dissertativo e texto argumentativo. Emediato (2008) procura esclarecer essa questão. Segundo esse autor, considera-se, de modo geral, o texto dissertativo como um tipo de discurso explicativo, cujo objetivo é explorar certo assunto sem, no entanto, incluir um posicionamento ou uma opinião. A argumentação visa a persuadir ou a convencer um auditório da validade de uma tese ou proposição, cujo objetivo é construir uma comunicação persuasiva. Atualmente, somos bombardeados pelo discurso persuasivo. A noção de argumentatividade está presente nos mais diversos gêneros. Segundo Terra e Nicola (2001), a maneira como o falante organiza seu discurso para chegar a determinadas conclusões (ato de argumentar) está intimamente ligada à persuasão. A argumentação é a base da persuasão e, assim, podemos ver a argumentação como uma estrutura criada que pressupõe o uso de estratégias linguísticas, racionais e até mesmo emocionais. Para que a argumentação seja válida, deve surgir de um raciocínio lógico, que comprove e justifique um ponto de vista, mas deve também estar adequada ao interesse ou à expectativa do interlocutor. Sem a noção do outro como alvo, a argumentação perde a força. Segundo Emediato (2008), a estrutura básica do discurso argumentativo deve pressupor a existência de atitudes antiéticas (posições contra e a favor) explícitas ou implícitas. Em conformidade com Emediato, temos a seguinte estrutura para o discurso argumentativo: 4 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Afirmação (tese, proposição): afirmação feita pelo falante sobre a verdade de algum fenômeno, seguida da análise de seus termos essenciais, que se contrapõe, explícita ou implicitamente, a uma outra concepção sobre o mesmo fenômeno. Posicionamento: o falante explicita sua posição sobre o fenômeno posto em discussão, posição que pode demonstrar uma concordância, parcial ou total, ou uma discordância, parcial ou total, com uma tese já existente – o posicionamento pode ser acompanhado, ainda, de uma avaliação que o falante faz. Quadro de problematização: insere a argumentação numa perspectiva social, econômica, política, ideológica, religiosa, científica, moral, ética – as possibilidades de problematização são bem diversificadas e dependem, basicamente, do tipo de público ao qual é a argumentação é dirigida. Formulação dos argumentos: não se pode argumentar bem sem apresentar, em determinado momento, argumentos que possam ser aceitos como plausíveis e aceitáveis pelo interlocutor ou pelo público – a formulação dos argumentos será, portanto, a parte da argumentação relativa aos tipos de provas, à lógica dos raciocínios e princípios de explicação e justificação que fundamentam a tese. Conclusão: dedução ou inferência a que se quer chegar a partir dos argumentos apresentados e pertinência e adequação ao quadro de problematização apresentado. De modo geral, o esquema argumentativo se resume na seguinte equação: tese + argumentos + conclusão. Por essa equação, podemos afirmar que a argumentação é um conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir a pessoa a quem a comunicação se destina. A argumentação está presente em todo tipo de texto e visa a promover adesão à tese e aos pontos de vista defendidos no texto. Os recursos argumentativos são inúmeros. Fiorin e Savioli (1990) comentam alguns desses recursos. 1.1 Recursos argumentativos Os recursos argumentativos são procedimentos utilizados pelo produtor do texto com o propósito de convencer ou de seduzir o leitor ou ouvinte. São inúmeros esses recursos. Os mais recorrentes são: Argumento de autoridade: quando se recorre à citação de autoridades em determinado campo do saber para dar credibilidade ao que está sendo apresentado. Exemplo disso é quando fazemos citação de um médico para mostrar a importância de uma alimentação saudável para evitar determinadas doenças. Argumento baseado no consenso: quando se recorre a determinadas ideias que são inquestionáveis numa determinada época, o que dispensaria comprovações. Exemplo disso é quando dizemos que esporte faz bem à saúde, que é necessário preservar as florestas e os rios. Argumento baseando em provas: quando se recorre à comprovação das afirmações com dados concretos. Enquadram-se neste tipo de argumentos a apresentação de dados estatísticos, os quais são bastantes recorrentes nas publicações midiáticas. Exemplo disso também é quando advogados apresentam documentos ou relatórios técnicos para auxiliarem na defesa ou na acusação de seus clientes. Argumento com base nas relações lógicas: quando se recorre às relações de causa e efeito, ou seja, “isso porque aquilo”. Enquadram nesse tipo de argumento as comparações ou analogias. Exemplo disso é 5 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Li ng ua ge m e C om un ic aç ão quando se recorre às justificativas do ponto de vista lógico (coerente). Para finalizar, citamos quatro pontos, os quais, segundo Viana (1998, p. 87), sustentam a argumentação: 1. Argumentos de valor universal: aqueles que são irrefutáveis, com os quais conquistamos a adesão incontinenti dos leitores. Se você diz, por exemplo, que sem resolver os problemas da família não se resolvem os das crianças de rua, vai ser difícil alguém contradizê-lo. Trata-se de um argumento forte. Por isso, evite afirmações baseadas em emoções, sentimentos, preconceitos, crenças, porque são argumentos pessoais. Podem convencer algumaspessoas, mas não todas. Use argumentos relevantes, adequados à defesa de seu ponto de vista. 2. Dados colhidos na realidade: as informações têm de ser exatas e do conhecimento de todos. Você não conseguirá convencer ninguém com informações falsas, que não têm respaldo na realidade. 3. Citações de autoridades: procure ler os principais autores sobre o assunto de que você vai falar. Ler revistas e jornais ajuda muito. 4. Exemplos e ilustrações: para fortalecer sua argumentação recorra a exemplos conhecidos, a fatos que a ilustrem. 1.2 Falácias da argumentação A palavra “falácia” diz respeito àquilo que é ardiloso, enganador, ilusório. Portanto, quando falamos em falácias da argumentação, estamos nos referindo aos defeitos na montagem do esquema argumentativo. Devemos pensar no seguinte: argumentamos para fazer com que o outro (leitor ou ouvinte) acredite em nossas ideias, em nossos pontos de vistas. Se generalizarmos, correremos o risco de que o ouvinte apresente um exemplo que derrube nossas ideias. Ou seja, cometemos uma falácia. Platão e Fiorin (2006) apresentam as seguintes falácias da argumentação: Uso sem delimitação adequada de palavras de sentido tão amplo: segundo os autores, essas palavras servem de argumento para um ponto de vista e seu contrário. São noções confusas, como “progresso” para um industrialista e para um ambientalista. Essas palavras podem ter valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregada de valor negativo (autoritarismo, depredação do meio ambiente, injustiça, corrupção). Uso de afirmações tão amplas: segundo os autores, podem ser derrubadas por um único contra-exemplo. Quando se diz “Os políticos são ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir o argumento. São generalizações. Emprego de noções científicas sem nenhum rigor: segundo os autores, é o uso de termos fora do contexto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-os e atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseria. Os autores exemplificam com a seguinte frase: “O imperialismo de certas indústrias não permitem que outras cresçam”, em que o termo “imperialismo” é descabido, uma vez que essa palavra, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir outros à sua dependência política e econômica” ou “estágio superior do capitalismo”. 6 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão A seguir, você irá ler o texto De cães e ratos para detectar recursos argumentativos presentes nele. 1.3 De cães e ratos “O coração tem suas razões que a razão desconhece”, escreveu Pascal. O pensamento do filósofo se aplica bem aos paulistanos e seu amor pelos animais. Segundo o Datafolha, 66% dos entrevistados se opõem ao uso de cães em pesquisas científicas. O índice baixa para 59% quando as cobaias são macacos, 57% caso sejam coelhos e apenas 29% se forem ratos. Esses resultados, embora não surpreendentes, contrastam com o discurso dos ativistas, para os quais infligir sofrimento a bichos constitui um caso de especismo, delito moral que os militantes mais radicais equiparam ao racismo e ao escravagismo. Em termos puramente filosóficos, esse é um raciocínio consistente, se aceitarmos as premissas consequencialistas de pensadores como Peter Singer, para o qual todos os seres sencientes são dignos de igual consideração. Se há uma hierarquia entre eles, ela é dada pela capacidade de sentir dor e prazer de cada espécie e indivíduo. Um ser humano vale mais que uma lesma; o problema é que os mamíferos, em geral, estão todos mais ou menos no mesmo plano. Sob essa chave interpretativa, proteger cães em detrimento dos ratos constituiria especismo. Seria o equivalente de, na escravidão, defender a libertação dos nagôs e jejes, mas não dos hauçás e axantis, para citar alguns dos grupos étnicos entre os quais o Brasil fez mais vítimas. O que a pesquisa Datafolha mostra, no fim das contas, é que as pessoas definitivamente não pensam por meio de categorias filosóficas. Ao rejeitar a lógica consequencialista com base em emoções, o paulistano revela a principal dificuldade dessa matriz ética, que é exigir um igualitarismo tão forte que se torna desumano. Um consequencialista consequente, afinal, precisaria atribuir ao próprio filho o mesmo valor que dá ao filho de um desconhecido. Não importa o que digam Singer e a filosofia, nos corações dos paulistanos um cão vale mais do que um rato. (SCHWARTSMAN, Hélio. De cães e ratos. Folha de S. Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ colunas>. Acesso em: 07/jan/2014). 1. Com que intenção o texto foi escrito? 2. A que recursos argumentativos o autor recorreu para apoiar suas ideias? Agora é com você! 7 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Para que você aprimore a construção de seus argumentos, vi- site esta página: <http://ideias-em-movimento.blogs.sapo. pt/5983.html>. Acesso em: 07/jan/2014. Leia mais sobre os tipos de recursos argumentativos, por meio deste link: <http://oblogderedacao.blogspot.com. br/2012/10/tipos-de-argumentos.html>. Acesso em: 07/ jan/2014. Conectando saberes Considerações finais Nesta aula, você entrou em contato com alguns recursos e falácias da argumentação. Não há como definir com exatidão quantos e quais são os recursos argumentativos. Quando produzimos textos, quando lemos textos, recorremos a várias estratégias. Além dos recursos estudados, podemos ainda recorrer às figuras de linguagem (metáforas, hipérboles, metonímias, ironias, eufemismos etc), à exemplificação e ilustração de nossas ideias, à intertextualidade, ao humor, ao apelo emocional, entre tantas outros. Acreditamos que, quando percebemos a presença desses recursos, estamos lendo com mais propriedade. E assim iremos produzir textos com mais argumentatividade, ou seja, com mais poder para convencer e seduzir. Fique seguro 1. O texto foi escrito para mostrar o comportamento dos paulistanos em relação aos animais. 2. Para desenvolver seu texto, o autor recorreu, entre outros, aos seguintes recursos argumentativos: Citação direta: o autor inicia seu texto com uma citação direta de Pascal; essa citação funciona, no texto, como uma base argumentativa, ou seja, em todo o texto, ela está pressuposta. Podemos dizer, portanto, que é uma citação de autoridade. Recurso de autoridade: o autor utiliza-se dos dados apresentados pelo Datafolha; a voz do Datafolha é de credibilidade e de aceitabilidade. O autor também recorre às ideias do filósofo Peter Singer, para quem há uma hierarquia entre os seres sencientes. Dados estatísticos: ao recorrer ao Datafolha, como recurso de autoridade, o autor está também se valendo dos dados percentuais para sua análise. Comparação ou analogia: o autor estabelece, como forma de criar polêmica, comparações entre animais sencientes. Relações lógicas: o autor, a partir das informações do Datafolha e das ideias da filosofia, constrói raciocínios 8 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão lógicos; daí, em virtude das informações colhidas, afirmar, por exemplo, que “o problema é que os mamíferos, em geral, estão todos mais ou menos no mesmo plano”. Referências ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2008. EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto: redação, argumentação e leitura: técnicas inéditas de redação para alunos de graduação e ensino médio. São Paulo: Geração Editorial, 2008. FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 16. ed. São Paulo: Ática, 2006. TERRA, Ernani; NICOLA, José de. Práticas de linguagem: leitura e produção de textos. São Paulo: Scipione, 2001. VIANA, Antonio Carlos(coord). Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1998. Consideraçõesiniciais 1 Argumentação: definição 1.1 Recursos argumentativos 1.2 Falácias da argumentação 1.3 De cães e ratos Considerações finais Referências
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