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Análise do Discurso - Livro-Texto Unidade I

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Autora: Profa. Mônica Oliveira Santos
Colaboradoras: Profa. Cielo Festino 
Profa. Joana Ormundo
Profa. Tânia Sandroni
Análise do Discurso
Professora conteudista: Mônica Oliveira Santos
A Professora Mônica Oliveira Santos nasceu em Campina Grande, PB, graduou‑se no curso de Letras (1997) pela 
Universidade Federal da Paraíba, tendo desenvolvido trabalhos de iniciação científica na área de análise do discurso, 
durante a graduação. É mestre em linguística aplicada (2000), com ênfase na área de ensino de língua materna, 
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e é doutora em linguística (2004), com ênfase nas áreas da 
semântica e análise do discurso, também pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professora adjunto II 
da Universidade Paulista – UNIP, ministrando as disciplinas Gramática Aplicada à Língua Portuguesa, Teorias do Texto, 
Semântica e Estilística da Língua Portuguesa, Análise do Discurso, Análise do Discurso/Pragmática e Morfossintaxe 
Aplicada à Língua Portuguesa. É Coordenadora do curso de Letras da (UNIP) – Campus de Campinas/Swift e atua ainda 
como líder de disciplinas e conteudista (EAD) de Teorias do Texto, Análise do Discurso e Análise do Discurso/
Pragmática. Tem experiência na área de linguística, com ênfase em semântica, texto e discurso, atuando principalmente 
nas abordagens relativas à enunciação coletiva, enunciação proverbial, funcionamento enunciativo‑discursivo, 
textualidade‑discursividade, relação sentido e sujeito e ensino do português. Dentre outras produções nas áreas de 
estudo do texto e da análise do discurso, Mônica Oliveira Santos é autora do livro: Um comprimido que anda de 
boca em boca: os sujeitos e os sentidos no espaço da enunciação proverbial (2007, publicado pela FAPESP e 
Editora Pontes) e coautora dos livros: Em torno da língua(gem): questões e análises (2007, publicado pelas Edições 
UESB); Território da linguagem (2004, publicado pela Editora Bagagem); e Texto, discurso, interpretação: ensino e 
pesquisa (2001, publicado pela Editora Ideia). De modo bastante direcionado, o percurso teórico‑produtivo de Mônica 
Oliveira Santos focaliza‑se nas questões pertinentes às teorias do texto e do discurso, centralizando‑se sobremaneira 
nas abordagens do ensino, da enunciação, dos sujeitos e da construção/produção de sentidos.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S237a Santos, Mônica Oliveira
Análise do discurso / Mônica Oliveira Santos. ‑ São Paulo: 
Editora Sol, 2011. 
 136 p., il.
Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑042/11, ISSN 1517‑9230. 
1. Análise do discurso. 2. Construção dos sentidos 3. Estudos 
enunciativos I. Título
CDU 37
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Leandro Freitas
Sumário
Análise do Discurso
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA (AD) E SUA IMPORTÂNCIA ENTRE OS 
ESTUDOS DO DISCURSO NO BRASIL ............................................................................................................11
1.1 As principais correntes de estudos do discurso no Brasil .................................................... 12
1.2 O nascimento e constituição da análise do discurso francesa .......................................... 18
1.3 A análise do discurso hoje ................................................................................................................ 22
1.4 Por que a AD pertence ao campo da linguística? ................................................................... 22
2 A DETERMINAÇÃO SÓCIO‑HISTÓRICO‑IDEOLÓGICA: ASSUJEITAMENTO E 
ALTERIDADE ........................................................................................................................................................... 23
2.1 O pensamento de Lacan sobre a função do EU e o jogo imaginário .............................. 23
2.2 O pensamento de Althusser sobre o assujeitamento e os aparelhos 
ideológicos de Estado ................................................................................................................................ 25
2.3 A visão de Pêcheux sobre estas contribuições para a AD .................................................... 29
3 CONCEITOS‑CHAVE DA AD: CATEGORIAS TEÓRICAS E DE ANÁLISE ........................................... 32
3.1 O discurso ................................................................................................................................................ 33
3.2 As Condições de Produção (CP) ...................................................................................................... 35
3.3 A Formação Discursiva (FD) .............................................................................................................. 35
3.4 Formações imaginárias ...................................................................................................................... 36
3.5 A Formação Ideológica (FI) ............................................................................................................... 37
3.6 O par interdiscurso e intradiscurso ............................................................................................... 37
3.7 Os esquecimentos no discurso ........................................................................................................ 38
3.8 O assujeitamento .................................................................................................................................. 38
3.9 Sujeito ....................................................................................................................................................... 39
3.10 Paráfrase e polissemia ...................................................................................................................... 41
3.11 Relação do objeto discurso com os mecanismos de análise ............................................ 42
4 TIPOLOGIA DISCURSIVA: LÚDICA, POLÊMICA E AUTORITÁRIA ..................................................... 44
Unidade II
5 AD: CONSTRUÇÃO/PRODUÇÃO DOS SENTIDOS NA RELAÇÃO COM O SUJEITO E 
COM A HISTÓRIA ................................................................................................................................................. 59
5.1 Breve introdução sobre o tema ...................................................................................................... 59
5.2 Análise do discurso e a construçãodos sentidos .................................................................... 60
5.3 Conceitos que permeiam a construção dos sentidos na AD .............................................. 63
5.3.1 Sentido – transparência ou opacidade .......................................................................................... 63
5.3.2 Sentido – paráfrase e polissemia ..................................................................................................... 63
5.3.3 Sentido e incompletude ....................................................................................................................... 63
5.3.4 Sentido literal e efeito de sentido .................................................................................................... 64
6 AD: TEXTO E AUTOR; DISCURSO E SUJEITO – HETEROGENEIDADE MOSTRADA 
E CONSTITUTIVA ................................................................................................................................................... 67
Unidade III
7 OS ESTUDOS ENUNCIATIVOS DE BAKHTIN, BENVENISTE, DUCROT, GUIMARÃES 
E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA AS TEORIAS DO DISCURSO .................................................................. 82
7.1 A enunciação sob a ótica de Bakhtin ........................................................................................... 83
7.2 Enunciação sob a ótica de Benveniste ........................................................................................ 93
7.3 Enunciação sob a ótica de Ducrot ................................................................................................. 95
7.4 Enunciação sob a ótica de Guimarães ......................................................................................... 99
7.4.1 Análise: o fenômeno da ironia sob a ótica do acontecimento enunciativo .................103
7.5 As teorias enunciativas e a AD .....................................................................................................106
8 A AD FRANCESA E OS ESTUDOS ENUNCIATIVO‑DISCURSIVOS: RETOMANDO 
ALGUNS CONCEITOS .........................................................................................................................................111
7
APRESENTAÇÃO
“Os linguistas e os que recorrem à linguística para vários fins deparam‑se, 
frequentemente, com dificuldades que surgem por eles desconhecerem 
a ação dos efeitos ideológicos em todos os discursos – até mesmo nos 
discursos científicos” (ALTHUSSER, 1996, p. 141).
“Ideologia não se define como o conjunto de representações, nem muito 
menos como ocultação de realidade. Ela é uma prática significativa; sendo 
necessidade da interpretação, não é consciente – ela é efeito da relação do 
sujeito com a língua e com a história em sua relação necessária, para que se 
signifique” (ORLANDI, 2007b, p.48).
Caro aluno,
Daremos início à reflexão e aos estudos concernentes ao universo discursivo. Devemos partir do 
princípio de que para alcançar a materialidade do discurso, a porta de entrada é o texto. O texto pressupõe 
o discurso, uma vez que o primeiro é manifestação simbólica do segundo. Ao enunciarmos uma sentença, 
somos movidos/determinados por uma força ideológica que parte das instâncias discursivas às quais 
estamos filiados enquanto sujeitos. Essa determinação ideológica é manifestada linguisticamente no 
texto oral ou escrito e não se iludam quanto ao que possa parecer “origem” do dizer, pois todo dizer 
está marcado sócio‑histórico‑ideologicamente por um “já‑dito” e todo enunciado refere‑se ao seu lugar 
histórico de enunciação, pareando a enunciação atual com enunciações anteriores. Prepare‑se! São 
estes os caminhos que iremos percorrer a partir de agora!
Ementa: atualmente, os estudos discursivos concebem o discurso, de modo geral, como a prática 
social de produção de textos. Todo discurso é um construto social, não individual e analisável a partir de 
sua estrutura e de suas determinações sociais, históricas e ideológicas. Não existe no campo de estudos 
do discurso apenas uma linha de análise, ao contrário, são várias as áreas de estudo da linguagem que 
se intitulam como Análise do Discurso. Nesta disciplina, nos centralizaremos no percurso da Análise do 
Discurso francesa: seu nascimento e desenvolvimento teórico, suas categorias teóricas e de análise, 
suas contribuições para os estudos da linguagem e sua relação com as teorias enunciativas. A Análise 
do Discurso francesa é uma área da linguística que se particulariza por analisar formações discursivas e 
ideológicas presentes e enraizadas/atravessadas em um texto. É muito utilizada para a análise de textos 
polêmicos, relacionados aos contextos: político, pedagógico, religioso, jurídico, científico, midiático 
e também artístico, de protesto ou ainda que evidenciem minorias marginalizadas, em busca das 
ideologias que trazem em si. As categorias teóricas da Análise do Discurso mais importantes são: sujeito; 
ideologia; formações discursivas, formações imaginárias e formações ideológicas; intertextualidade 
interdiscursividade e intradiscursividade; condições de produção do discurso; polissemia e efeitos 
de sentido. Aprofundaremos ainda a abordagem do discurso nos processos de autoria, produção e 
interpretação da linguagem: heterogeneidade, exterioridade e ideologia, considerando o texto como 
uma dimensão do discurso no contraste dos conceitos texto/discurso, pontuando questões como efeito 
de leitura, efeito de autoria e efeitos de sentido. Destacaremos ainda a importância da construção do 
sentido na sua relação com o sujeito do discurso e com a história.
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Objetivos:
• levar o aluno ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do seu conhecimento e domínio do 
funcionamento sócio‑histórico‑discursivo;
• desenvolver o senso crítico e a capacidade de análise de diferentes discursos, observando as diversas 
possibilidades de tipos, domínios e gêneros discursivos e suas relações intra e interdiscursivas;
• desenvolver a habilidade de observação e de análise das estruturas discursivas e seus processos 
formadores, a partir de categorias teóricas específicas;
• capacitar o aluno na análise dos processos discursivos orientados pelos pressupostos teóricos da 
análise do discurso francesa em contraste com outros olhares enunciativo‑discursivos.
INTRODUÇÃO
A ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos denomina‑se semiologia (segundo Saussure) 
ou semiótica (conforme Pierce), sendo a linguística uma parte dessa ciência mais geral, além de ser 
caracterizada pelo foco no estudo das línguas naturais, sistemas de signos que correspondem à forma 
de comunicação mais desenvolvida e de maior uso.
Pierce, filósofo norte‑americano, contemporâneo de Saussure, dedicou‑se aos estudos semióticos. A 
semiótica, ou ciência dos signos, desenvolvida por esse filósofo, tinha por objeto o estudo da linguagem 
e da comunicação. Essa noção de signo implica que um elemento A, de qualquer natureza, tem a função 
de representar um elemento B. Para melhor compreensão, imaginemos um pedestre que, ao atravessar 
a rua, observa o sinal verde para ele e vermelho para o motorista, o que lhe permite a travessia.
Tendo em vista ser amplo o conceito de linguagem, uma vez que esta abarca tanto a humana quanto 
a animal, tanto a verbal (que tem por base a palavra) quanto a não verbal (gesto, dança, entre outras 
formas de expressão), torna‑se importante ressaltar que a linguística propõe‑se a estudar a linguagem 
verbal humana.
Como você já estudou nas disciplinas anteriores do curso, foi no século XX que a linguística 
passou a ser considerada uma ciência, a partir dos estudos de Saussure, que deixou clara a 
necessidade de se estudar a língua enquanto sistema convencionado na e pela sociedade, sob 
o ponto de vista sincrônico. Saussure, em função do pensamento científico da época, delimitou 
como objeto de seu estudo a língua e sua ciência, a linguística,deveria se estruturar como objetiva, 
autônoma e descritiva.
Os estudos linguísticos, em seus primórdios, eram realizados de um ponto de vista unidisciplinar, ou 
seja, estudava‑se a língua pela língua, em sua imanência, em sua estrutura interna, sem se relacionarem 
outras ciências ao se analisar esse objeto, nem muito menos os aspectos na época considerados 
extralinguísticos, contextuais, interacionais, subjetivos da linguagem. Além do que, a linguística estrutural 
definia como unidade maior de análise, a frase, considerada como uma sentença/proposição possível no 
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sistema abstrato da língua e sem considerar a complexidade e riqueza do funcionamento da linguagem, 
como enunciação, texto, discurso. Assim procedia o estudo da linguagem.
Entretanto, em função de seus limites e insuficiências, por volta dos anos 1960, houve insatisfação 
quanto a esse ponto de vista unidisciplinar e, com o intuito de ampliar os estudos referentes à língua, 
observou‑se também a necessidade de essas investigações fazerem interface com outras ciências, 
tornando‑as inter, multi, transdisciplinares. Com a dicotomia língua X fala, e recorte da língua como 
objeto de investigação, Saussure, exclui a fala de seu estudo e com ela o falante/sujeito, a situação 
comunicativa, a construção dos sentidos, as relações sócio‑histórico‑ideológicas que envolvem o 
acontecimento enunciativo‑discursivo; limitando a análise linguística à decomposição da estrutura 
da frase, sem pensar a frase possivelmente como um enunciado que faz parte de uma enunciação 
maior que se filia a um espaço enunciativo que regula os seus enunciadores/enunciatários naquilo 
que eles podem ou não enunciar. É nesse contexto que se originam outras investigações, dentre elas o 
que se denomina Análise do Discurso, em busca de dar conta daquilo que ficou lacônico/insuficiente/
equivocado na linguística estrutural.
Observe que a expressão Análise do Discurso não diz respeito simplesmente a analisar as palavras e o 
significado delas, não se restringe à verificação de como se manifesta, em língua, o pensamento humano, 
nem tampouco a correspondência entre linguagem/palavra e coisas/mundo. Nesse sentido, devemos 
entender que o texto é uma forma de representação que materializa na linguagem os sentidos advindos 
das nossas relações históricas, sociais e determinados pelas ideologias que nos interpelam como sujeitos. 
Então, ao compreendermos que a linguagem é utilizada pelo homem para “dizer” o mundo, não significa 
que as coisas, os objetos têm uma relação direta e transparente com as palavras. Estas são elaboradas 
a partir da linguagem verbal humana em suas relações sociais, históricas, ideológicas, culturais, étnicas, 
políticas, artísticas, religiosas, econômicas, científicas, humorísticas, familiares etc.
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ANÁLISE DO DISCURSO
Unidade I
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO DISCURSO: NASCIMENTO, BASES TEÓRICAS E 
CATEGORIAS DE ANÁLISE
1 A ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA (AD) E SUA IMPORTÂNCIA ENTRE OS 
ESTUDOS DO DISCURSO NO BRASIL
Os estudos do discurso definitivamente conquistaram um lugar de destaque na investigação linguística 
contemporânea. Para início de conversa, vamos recuperar aqui o contexto histórico‑científico que abriu 
espaço para que esses estudos do discurso se inscrevessem na investigação acerca da linguagem, bem 
como as principais motivações do interesse por essa faceta tão importante da linguagem – o discurso.
Como você já sabe, a linguística estrutural (iniciada por Ferdinand Saussure), embora reconhecidamente 
importante e definitiva para conferir à linguística o estatuto de ciência, por outro lado, limitou o campo 
de abordagens investigativas de seu objeto: separando rigidamente a língua da fala, o linguístico do 
extralinguístico e recortando para análise somente a “parte” da língua, em seu aspecto linguístico, 
apenas, descartando, assim, a fala e os aspectos extralinguísticos a ela vinculados.
Seja por necessidade/imposição do momento histórico em que a linguística se constituiu, obedecendo 
a um padrão de ciência que exigia autonomia (em oposição à complementaridade), objetividade (em 
oposição à subjetividade) e descritivismo como aspectos fundamentais, seja por razões ideológicas que 
marcaram a produção do texto/obra de Saussure (postumamente publicada por seus alunos), o fato é 
que tais “escolhas” deixaram marcas, lacunas, insuficiências que, ao longo dos estudos da linguagem, 
ficaram cada vez mais evidentes e sujeitas a muitas críticas.
No século XX, o pensamento científico determinava que, para um estudo ser reconhecido como 
científico, deveria estar ancorado nos critérios de cientificidade necessários à época. A ciência tinha de 
ser autônoma, objetiva e descritiva.
 Lembrete
Autônoma – possuir ferramentas suficientes para descrever seu objeto 
sem necessidade de interface com outras ciências;
Objetiva – impessoal, portanto, não subjetiva; e
Descritiva – decomposição do objeto em unidades/estruturas mínimas 
e recomposição à sua unidade maior, em níveis distintivos de análise.
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Veja que, de modo geral, podemos apontar três grandes problemas bastante criticados na linguística 
estrutural:
1. Toma como maior unidade de análise linguística a frase (e não o texto, o discurso, a enunciação).
2. Separa língua de fala (separação inaceitável nos dias de hoje) e com isso deixa de fora 
(“descarto”) o falante (o sujeito e todos os níveis de subjetividade na linguagem), a 
situação comunicativa, a variação linguística, os fatores pragmáticos do texto/discurso/
enunciação, o contexto, as condições de produção da linguagem, a interação entre 
falante/ouvinte, autor/leitor, locutor/alocutário, as relações dialógicas entre os sujeitos 
da linguagem, tanto no nível interpessoal/intersubjetivo, como no nível intertextual/
interdiscursivo.
3. Aborda muito superficialmente e insuficientemente as questões de sentido e significação na 
linguagem.
Em decorrência disso, a partir da década de 1960, os estudos que se desenvolveram na linguística 
procuraram, cada um a seu modo, preencher os espaços dessas lacunas e insuficiências, buscando 
resgatar outros elementos de interesse dos estudos da linguagem exatamente naquilo que Saussure 
excluiu da linguística, a fala/o falante.
1.1 As principais correntes de estudos do discurso no Brasil
Conforme descreve Barros (1999, p. 183‑184), tais estudos revisaram e retomaram abordagens e 
posições descartadas pela linguística saussuriana, ampliaram seu campo de estudos, deixaram, enfim, o 
caminho a seguir previamente demarcado, “mas mantiveram, com outros nomes e novas definições, a 
distinção entre o que cabe ao linguista examinar e o que é da alçada de outras ciências ou disciplinas”, 
considerando, sobretudo, o fato de os linguistas se dedicarem mais seriamente a questões de significação 
e sentido.
Nesse percurso, duas barreiras precisavam ser rompidas:
1ª – a que impede a passagem da frase ao texto;
2ª – a que separa o enunciado de sua enunciação.
Alguns estudos procuraram transpor a primeira barreira, outros se voltaram diretamente à segunda, 
muitos buscaram ultrapassar ambos os obstáculos.
Com base nas descrições de Barros (1999), veja a seguir um quadro que sintetiza alguns desses 
principais estudos e seus posicionamentos:
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ANÁLISE DO DISCURSO
Quadro 1
Estudos pós-estruturalistas Aspectos importantes
Teoria distribucional (Harris) Método formal, prescindindo do conteúdo e voltado à estruturação global do texto.
Teorias pragmáticas 
Resgatam oextralinguístico e elementos 
situacionais indispensáveis ao estudo do sentido no 
texto.
Relacionam enunciação e enunciado.
Recuperam parte do fenômeno da fala, 
considerando as condições de uso da língua.
Abordam fenômenos sistemáticos, que fazem parte 
das regras que o falante domina para usar a língua.
Estudos do texto e do discurso
Preocupam‑se com a organização global do texto e 
examinam as relações entre discurso, enunciação e 
fatores sócio‑históricos.
Esses novos caminhos trouxeram aos estudos da linguagem mudanças significativas e não 
somente acréscimos – criaram um novo objeto de investigação na linguagem, pautado pelas 
seguintes características:
• deixou‑se de ver a língua como lugar de representação apenas de significados objetivos – ela 
é um meio convencional de agir no mundo (a pragmática dos atos de linguagem);
• passou‑se a considerar a linguagem como um instrumento de argumentação e de interação 
e não somente de informação (Ducrot e as teorias da argumentação, a sociolinguística 
interacional e a análise da conversação);
• concebeu‑se o texto (discurso) como objeto de estudos e não mais a frase como unidade de 
sentido: análise condicionada aos mecanismos de organização textual (as teorias do texto e 
do discurso e Bakhtin);
• postulou‑se a intersubjetividade em posição anterior à subjetividade: a relação entre 
interlocutores funda a linguagem, dá sentido ao texto e constrói os próprios sujeitos 
produtores do texto (os estudos de Bakhtin, as teorias pragmáticas e a análise da 
conversação);
• caracterizou‑se o discurso como espaço do social e do individual e definiu‑se a linguagem 
pelo dialogismo em suas duas acepções: a do diálogo entre interlocutores (intersubjetividade) 
e a do diálogo que cada texto mantém com outros textos (interdiscurso/intertextualidade) 
(as teorias do texto e do discurso e Bakhtin) (BARROS, 1999).
 Observação
Os estudos bakhtinianos são precursores dessas ideias, dado que foram 
produzidos anteriormente, em outro contexto histórico, ideológico e social, 
na União Soviética comunista e no início do século XX.
Em síntese, as diferentes teorias pragmáticas, textuais e discursivas 
trazem novas posturas e objeto aos estudos da linguagem, na segunda 
metade do século XX. E o fazem com fundamentos diferentes, 
herdados de quadros teóricos diversos, com que dialogam – a lógica 
e a filosofia da linguagem, a antropologia estrutural, os estudos 
cognitivos, a psicanálise lacaniana, o materialismo histórico, entre 
outros – e com graus de formalização e de estabilização dos objetos 
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também diferentes. Há, portanto, um ponto de vista comum a tais 
estudos, que paira sobre ou sob as diferenças, qual seja o de ocupar 
o “vão” entre pontos estáveis, o de preencher o espaço entre posições 
bem definidas pelos estudos linguísticos anteriores – língua versus 
fala, competência versus performance, enunciação versus enunciado, 
linguístico versus extralinguístico. Embaralham‑se diferenças bem 
estabelecidas, mistura‑se o que antes estava claramente separado, ou, 
como diz Guimarães Rosa, “tão claro como água suja”. Os estudos do 
texto e do discurso, em decorrência, caracterizam‑se pela fragilidade 
e instabilidade de não serem “nem isto nem aquilo” ou de serem ao 
mesmo tempo “isto e aquilo” (BARROS, 1999, p.185).
Conforme a autora, essa “fragilidade” dos estudos do texto e do discurso possibilita um conjunto de 
críticas e objeções diversas:
Uma das objeções que sofrem as teorias do discurso é a de reducionismo1, referente ao 
“empobrecimento” que as teorias do discurso e do texto trazem a seu objeto, por excessivo formalismo, 
ou por adoção de um ponto teórico único, ou por muita preocupação com procedimentos linguísticos 
e discursivos, em detrimento de outros aspectos mais “intuitivos” ou “criativos”, ou ainda por fazerem 
do texto o espaço apenas de exemplificação de complicadas elaborações teóricas (BARROS, 1999, 
p.185‑186).
Outra objeção, também bastante relevante e frequente, é a crítica ideológica de negação da história, 
feita por teorias como as de Benveniste (1966), de Greimas (1975), das pragmáticas em geral, que 
consideraram apenas a enunciação pressuposta no discurso.
Ainda uma terceira crítica seria o desafio “fundamentalista” de propostas mais descritivas que 
explicativas: por um lado, não são suficientemente formais e explicativas para a linguística hard, por 
outro, são demasiadamente formais ou estruturalistas ou amarradas a mecanismos internos, para as 
teorias de análises mais livres.
É bom salientar que as teorias do discurso e do texto são muitas vezes marginalizadas, pela 
instabilidade anteriormente mencionada, mesmo sendo tal instabilidade a própria condição do estudo 
da linguagem.
Conforme Barros (1999), sobre as críticas de reducionismo, cabe um mea culpa e uma defesa:
• É necessário reconhecer que são muitos os que se dizem estudiosos do texto sem o serem, muitos 
os que utilizam uma metalinguagem que desconhecem, muitos os que fazem realmente do texto 
um exemplo para teorias mal‑digeridas e mal‑sustentadas.
1Grifo nosso.
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ANÁLISE DO DISCURSO
• Mas, é fácil “separar o joio do trigo”, e, se nem sempre se faz a distinção, é porque interferem 
questões de outra ordem: o desconhecimento dos estudos do texto e do discurso, de seus avanços 
e resultados, a má‑fé e o medo de perder espaços científico‑institucionais.
• São os fatos linguísticos instáveis, aqueles que não se resolvem como “ou isto ou aquilo”, que 
instigam os estudiosos da linguagem e os do discurso e do texto, sobretudo (a questão do sujeito, 
por exemplo!).
Acompanhe a seguir as mais relevantes áreas de estudos do texto e do discurso no Brasil, diferenciadas 
segundo particularidades e perspectivas teóricas.
De acordo com Barros (1999), sete linhas teóricas sobressaem‑se nos estudos do texto e do discurso 
no Brasil:
1. a análise do discurso (AD) francesa;
2. a análise semiótica do discurso, também iniciada na França;
3. a análise crítica do discurso (as teorias inglesas do discurso);
4. os estudos funcionalistas do discurso;
5. a análise do discurso norte-americana, linguística textual;
6. a análise da conversação;
7. uma última direção que reúne, de modo mais eclético, estudos que dialogam com a teoria 
da literatura, a semiologia, a pragmática e a semântica, Bakhtin ou Benveniste.
 Observação
Há ainda outras áreas que não ganham destaque nesta descrição por 
terem menor alcance no país.
A seguir, traçamos um quadro que sintetiza as características mais relevantes dessas linhas de estudo 
do texto e do discurso.
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Quadro 2
Linha teórica Características relevantes2
Análise do 
discurso francesa
Estudos sobre o sujeito, a autoria, a interpretação e o sentido, o discurso e o acontecimento 
enunciativo‑discursivo, a heterogeneidade discursiva, a noção de arquivo. Estudos com ênfase em discursos 
específicos: da imigração, do humor, da gramática, da mídia, político, jurídico, religioso, pedagógico etc. E 
ainda estudos sobre a realidade brasileira, língua nacional, identidade nacional, espaços públicos e urbanos, 
línguas indígenas etc.
Análise semiótica 
do discurso
Estudos de abordagem linguístico‑discursiva: verbais, orais e escritos, aproximados dos discursos do 
cinema, da publicidade, da pintura, o plano da expressão dos textos na relação semissimbólica ou tensiva 
entre expressão e conteúdo. Estudos sobre a sintaxe e a semântica do discurso, sobre as estratégiasdo discurso (ambiguidade discursiva, argumentação, figurativização, aspectualização, relações entre 
enunciação e discurso). Estudos sobre o nível fundamental dos discursos, a partir da figuratividade e a 
tensividade no esquema profundo. Estudos sobre uma semiótica específica (discursos visuais, gustativos, 
poéticos, estéticos, da canção popular, da música, da pintura, do cinema), sobre traduções intersemióticas, 
estudos interdisciplinares – semiótica e psicanálise, semiótica e teoria das catástrofes, semiótica e estudos 
cognitivos, semiótica e análise da conversação, semiótica e retórica. Estudos de abordagem da construção 
do sentido pela perspectiva social e histórica: a canção popular brasileira, os discursos dos livros didáticos 
de história do Brasil, a história das ideias linguísticas no país, o discurso do vestibulando, o discurso 
separatista gaúcho, os discursos literários brasileiros, o discurso da crítica de arte no Brasil.
Análise crítica do 
discurso
Estudos sobre o discurso e a interação em contextos institucionais, as interações médico‑paciente, 
terapeuta‑paciente. Estudos que se voltam para questões de discurso e sexo, discurso jurídico, interação 
verbal e não verbal, discursos de autoajuda, multimodalidade discursiva, discurso e mudança social etc. 
Abordagens que relacionam aspectos linguísticos e extralinguísticos.
Estudos 
funcionalistas do 
discurso
Estudo da língua como um instrumento de comunicação (e não como objeto autônomo): estrutura 
submetida às pressões das situações comunicativas (analisa a estrutura gramatical, tendo como referência 
a situação comunicativa inteira), o propósito do ato de fala, seus participantes e seu contexto discursivo. O 
estudo da língua exige que se leve rigorosamente em conta a variedade das funções linguísticas e dos seus 
modos de realização no caso considerado. O estudo da gramática não pode proceder sem parâmetros, como 
cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição 
e evolução. O que se põe sob análise, portanto, é a chamada competência comunicativa, considerando 
o propósito do evento da fala, seus participantes e o contexto discursivo. O sistema linguístico está 
intrinsecamente ligado ao sistema social, ao uso. A língua é um sistema para produzir significados.
AD 
norte-americana: 
linguística 
textual
Estudo dos fatores/critérios de textualidade: semântico‑formais (coesão, coerência) e 
pragmático‑discursivos (interação, polifonia, argumentação, aceitabilidade, intencionalidade, inferência, 
conhecimento de mundo e partilhado, cooperação, situacionalidade, contextualização, intertextualidade, 
interpretabilidade, relevância etc.). O texto é o objeto de análise e é considerado dentro de um 
funcionamento processual que envolve a construção dos sentidos articulada ao produtor, ao receptor e ao 
próprio texto, mas sem isolar ou dar prevalência a nenhum destes polos. O processamento cognitivo do 
texto tem grande relevância.
Análise da 
conversação
Estudos dos textos orais de perspectiva textual‑interativa‑conversacional, fazendo interface com estudos 
sociolinguísticos, interacionais, cognitivos, etnográficos, da comunicação e da etnometodologia. Estudos 
que relacionam fala e escrita, estudos do português falado, da organização textual‑interativa da fala, 
sobre o poder na interação e dos procedimentos de construção dos discursos orais – estruturas paralelas, 
repetição, tópico, turnos, paráfrase, correção, hesitação, inserções, marcadores, rituais. Estudos ainda 
sobre linguagem, interação e sexo, interação no trabalho e em contextos institucionalizados, interação via 
computador, no discurso jurídico, na linguagem dos idosos etc.
Estudos diversos: 
literários, 
semiológicos, 
pragmáticos, 
semânticos
Estudos a partir das contribuições de Bakhtin: dialogismo, polifonia, intertextualidade, heterogeneidade 
discursiva, metalinguagem, paráfrase, ironia, humor, tanto no que diz respeito à linguística quanto à 
literatura. Estudos do discurso nas várias perspectivas pragmáticas, semânticas ou enunciativas (Benveniste, 
Jakobson e outros) e com materiais diversificados, como os provérbios, as fábulas, o discurso totalitário, o 
discurso jornalístico, a nação brasileira, a metáfora, o paratexto (prefácio), o texto publicitário, metáforas 
na TV. Estudos nos cursos de literatura sobre os discursos poéticos, estéticos ou literários (narrativa literária, 
discurso memorialista, biográfico, epistolar, ensaio, intertextualidade). Estudos na crítica genética, na 
semiologia, sobre o discurso feminino ou sobre a mulher na literatura, sobre leitura e literatura, sobre a 
formação de leitores, sobre o ensino da literatura, sobre música e literatura, sobre pintura, arquitetura ou 
artes visuais, em geral, e literatura, sobre literatura e jornalismo ou literatura e mídias, sobre o discurso da 
crítica, da teoria literária, das revistas culturais. Estudos semiológicos e semiolinguísticos do discurso.
2Descrições baseadas principalmente nos apontamentos de Barros (1999).
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ANÁLISE DO DISCURSO
É importante relatar ainda quais são os papéis e as funções dos estudos do texto e do discurso no 
Brasil. Conforme Barros,
as funções primeiras dos estudos do texto e do discurso são, sem dúvida, 
as dos estudos linguísticos em geral: a de contribuir para o conhecimento 
da linguagem, através da língua e de seus discursos e, pela linguagem, do 
homem; a de concorrer para o desenvolvimento teórico e metodológico 
da própria disciplina. Com esses fins, os estudiosos do discurso no Brasil 
têm realizado pesquisas nas várias direções já apontadas neste artigo e 
conforme a perspectiva teórica escolhida. O acúmulo de conhecimento 
já é grande e sabe‑se hoje bem mais sobre o discurso do que se sabia 
há trinta anos. Além das preocupações teóricas, os estudos do texto e 
do discurso têm papéis que poderiam ser ditos “sociais”, não fosse a 
redundância do termo nesse campo do conhecimento: o de participar 
dos debates sobre ensino/aprendizagem da competência discursiva, 
em língua materna e em segunda língua; o de contribuir para que 
se conheçam melhor, por meio dos discursos, a cultura e a sociedade 
brasileiras (BARROS, 1999, p.196).
Os estudos do discurso também são fundamentais para o ensino/aprendizagem da competência 
discursiva, e as pesquisas no Brasil cumprem bem essa tarefa. Poucos são os estudiosos que não se 
dedicam a questões de ensino, cujas principais preocupações são: leitura, redação, escrita e tradução; 
ensino/aprendizagem de língua materna e estrangeira; interação, sala de aula, relação professor/aluno.
Barros assevera que esses laços são, portanto, estreitos com a linguística aplicada, apesar das 
diferenças teóricas e de métodos entre a linguística aplicada e os estudos do discurso. A autora termina 
revelando a sua crença (ou certeza) de que, dado o amadurecimento que se alcançou nessa área, é hora 
de deixar que os esforços dos estudiosos do discurso na América Latina somem‑se aos resultados e 
preocupações, dificuldades e soluções, caminhos comuns e perspectivas diversas já traçados para que, 
juntos, esses caminhos encontrem novas alternativas cada vez mais efetivas, profícuas e integradas às 
necessidades sociais.
 Saiba mais
Para aprofundar o olhar acerca desse panorama múltiplo dos estudos 
discursivos, veja a resenha feita por Lúcia Gonçalves de Freitas (2006) do 
livro Nas instâncias do discurso: uma permeabilidade de fronteiras, dos 
autores Garcia da Silva e Denise Helena (2005), disponível on‑line no site: 
<http://www.portalaled.com/es/garc%C3%AD‑da‑silva‑denize‑elena‑20
05‑nas‑inst%C3%A2ncias‑do‑discurso‑uma‑permeabilidade‑de‑fronteir
as‑bras%C3%ADli> pertencente à página da Associação latino‑americana 
de estudosdo discurso (ALED).
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Após o panorama de descrição dos vários estudos do discurso e do texto visto anteriormente, 
centralizaremos, a seguir, a discussão desta apostila na Análise do Discurso de linha francesa, por ser 
a abordagem teórica dessa natureza que mais repercussão tem entre as universidades (cursos de letras) e 
centros de pesquisa linguística do Brasil; e para aprofundar as contribuições introduzidas por essa teoria 
que veio enriquecer e diversificar a natureza dos estudos da linguagem.
1.2 O nascimento e constituição da análise do discurso francesa
Você acompanhará agora uma breve apresentação do percurso histórico da Análise do Discurso 
de linha francesa (doravante AD), com a descrição sucinta de suas principais categorias teóricas, feita 
com o propósito de dar suporte ao prosseguimento e aprofundamento dessa abordagem, centralizando 
aspectos mais aprofundados e específicos.
A Análise do Discurso surgiu na França, nos anos de 1960 para suprir as insuficiências da análise 
de conteúdo (das ciências humanas), que concebia o texto em sua transparência, como representação 
da realidade no mundo (extradiscursivo) sem considerar as relações linguístico‑textuais com as 
práticas ideológicas em sua exterioridade. Nessa análise de conteúdo, atravessa‑se o texto, buscando 
encontrar nele um sentido. A AD, ao contrário, considera o texto em sua opacidade significativa, 
enfatizando‑lhe o funcionamento linguístico‑textual e sua materialidade, que constitui discursos no 
contexto ideológico‑histórico‑social.
Entenda que considerar a opacidade significativa do texto é levar em conta a sua múltipla possibilidade 
significativa em função das contingências de seu acontecimento enunciativo‑discursivo, suas condições 
de produção e circulação, pois os sentidos podem se deslocar e se ressignificar com o passar do tempo 
ou mesmo em face de diferentes contextos sócio‑histórico‑ideológicos nos quais possam circular e 
significar.
Por exemplo, o resultado de uma eleição vai produzir sentidos completamente diferentes a depender 
de onde circule como acontecimento enunciativo‑discursivo:
1. haverá grupos que entenderão o resultado como mudança, esperança, renovação;
2. outros grupos entenderão como retrocesso, involução, atraso social;
3. e outros ainda entenderão como desilusão e estagnação.
 Lembrete
Ou seja, o mesmo acontecimento linguístico‑discursivo, pode produzir 
sentidos diferentes, opacos em sua materialidade.
Nessa perspectiva, a AD recusa fortemente o pressuposto da informacionalidade e representação do 
mundo/verdade como características essenciais e primordiais da linguagem, posto que a produção de 
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ANÁLISE DO DISCURSO
sentidos nos textos relaciona os elementos linguísticos à sua exterioridade discursiva, considerando as 
relações de poder entre as posições‑sujeito em seu funcionamento e as determinações ideológicas que 
ancoram as formações discursivas por trás dos textos.
Portanto, os sentidos produzidos nos textos vão muito além da sua literalidade lexical e estão 
marcados pela sua historicidade na memória enunciativo‑discursiva. Assim, é ilusão acreditar que a 
linguagem simplesmente “informa”, representa de maneira neutra uma verdade que está fora dela, no 
mundo.
Conforme Maingueneau (1997), o nascedouro da AD traz um legado de práticas de estudo da 
linguagem que não pode ser apagado. Análise do Discurso – três práticas:
1. Tradição filológica – história e reflexão sobre os textos (instrumento para história, antropologia, 
filosofia).
2. Prática da explicação de textos – teoria da leitura (contexto universitário na França).
3. Base no estruturalismo – que via o texto em sua imanência diferenciado dos modos de estudo 
da filologia.
Orlandi (2007a) sintetiza um pouco mais sistemática e especificamente as balizas 
teórico‑epistemológicas da AD, que podem ser desenhadas a partir de três rupturas teórico‑filosóficas, 
três rupturas que estabelecem novos campos de saber:
• marxismo (materialidade e opacidade histórica – real da história);
• linguística (materialidade e opacidade da linguagem – real da língua);
• psicanálise (materialidade e opacidade do sujeito – real do inconsciente).
 Observação
No conjunto dessas rupturas, constitui‑se a ruptura da AD. Mas atenção! 
Você não deve supor que a AD é simplesmente a soma desses três novos 
campos do saber.
A AD recorta aspectos pontuais dessas áreas (o real da história, o 
real da língua e o real do inconsciente) e os articula, relacionando‑os e 
integrando‑os a outras categorias teóricas, numa nova prática científica, a 
análise discursiva.
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Quadro 3
Marxismo
Linguística
Psicanálise
Análise do discurso
Materialidade e opacidade discursiva 
– teoria da ideologia, da sintaxe e da 
enunciação, da determinação histórica dos 
processos de significação: atravessadas pela 
teoria psicanalítica do sujeito.
Não se pode deixar de enfatizar aquelas que foram as influências teóricas pontuais para a constituição 
das balizas epistemológicas da AD (MAINGUENEAU, 1997 e ORLANDI, 2007a):
Influência do pensamento marxista por meio de Althusser: distinção entre ciência e ideologia, 
recorrendo ao materialismo histórico – ideologia geral x ideologias particulares. Para M. Pêcheux, 
principal autor na França dessa corrente, uma das vias para esse funcionamento é a linguagem: ela é o 
lugar privilegiado em que a ideologia se materializa.
Influência da linguística estrutural: a AD apoia‑se criticamente em Saussure, mesmo que 
reconhecendo nele o ponto de origem da ciência linguística – fonologia, morfologia, sintaxe. Mas 
afirma que o estruturalismo saussuriano não dá conta da semântica discursiva e suas condições 
sócio‑históricas de produção e constituição. A linguística de Saussure era insuficiente por não 
investigar linguisticamente a linguagem, incorporando a sua “exterioridade”, sua condição social, 
histórica e ideológica.
Influência da psicanálise freudiana por meio de Lacan: a AD apoia‑se na ideia de que é o sujeito 
que se coloca como tendo sua opacidade – ele não é transparente nem para si mesmo, nem para os 
outros. A constituição da subjetividade está inteiramente relacionada com a alteridade – o outro.
Influência da filosofia foucaultiana: a história tem sua materialidade e opacidade, o homem 
faz a história, mas ela não lhe é transparente. Aprofundamento filosófico sai das noções de “ideologia” 
e de “luta de classes” para ir além – à noção de práticas discursivas e das relações de saber e poder. 
Foucault concebia o discurso como dispositivo enunciativo e institucional de diferentes práticas 
discursivas.
Feitas estas considerações é importante destacar que a AD pode ser dividida em três fases (AD1; 
AD2; AD3), cuja transformação/evolução M. Pêcheux chama de conversão filosófica do olhar.
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ANÁLISE DO DISCURSO
Quadro 4
Análise do discurso – três fases
A primeira fase
Caracteriza‑se pelo esforço de teorização de uma máquina 
estrutural‑discursiva automática. Essa proposta de Análise do Discurso 
é iniciada em 1969 com o lançamento do livro Análise automática 
do discurso, de Pêcheux, tendo como proposta a apresentação de 
algoritmos para a análise automática de discursos, apoiada no 
método de Harris (Discourse Analysis, 1952 apud PÊCHEUX, 1969). A 
passagem para a segunda fase é defendida por Pêcheux, no sentido 
de quea tomada de posição estruturalista esfuma‑se depois da AD1 e 
produz uma recusa de qualquer metalíngua universal supostamente 
inscrita no inatismo do espírito humano e de toda suposição de 
um sujeito intencional como origem enunciadora de seu discurso 
(PÊCHEUX, 1975/2010).
A segunda fase
Começa em 1975 com o lançamento de Semântica e discurso, 
de Pêcheux, aprimorando conceitos e introduzindo novidades 
essenciais para a teoria como a noção de formação discursiva 
heterogênea, trabalhada na arqueologia de Foucault, aparecendo para 
fazer explodir a noção de maquinaria estrutural fechada (PÊCHEUX, 
1975/2010) da fase anterior. Outra noção fundamental que surge é 
a de interdiscursividade, que se revela como base para se pensar o 
processo discursivo e é proveniente da Filosofia da linguagem de 
Bakthin. A AD2 representou um período de amadurecimento, não 
metodológico, mas teórico, para a terceira fase, momento no qual 
a teoria do discurso assumiu a sua forma atual: discurso como o 
encontro da estrutura e do acontecimento.
A terceira fase
Traz uma inovação metodológica e uma sofisticação no 
tratamento do sujeito. Até a AD2, o método harrisiano ainda 
funcionava, dando lugar na AD3 ao chamado gesto de leitura. No 
tratamento do sujeito, a questão da dispersão do sujeito e suas 
posições na formação discursiva entram em cena para transformar 
a ideia do sujeito comportado, obediente em seu assujeitamento a 
uma forma‑sujeito historicamente determinada.
 Saiba mais
Para entender melhor o percurso histórico de constituição da AD veja 
o texto de Brandão (2003) Análise do Discurso: um itinerário histórico, 
disponível on‑line em PDF* no site: <www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/
brand005.pdf>
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1.3 A análise do discurso hoje
Maingueneau (1997) reflete sobre não se poder mais falar em uma escola de análise do discurso 
francesa nos dias de hoje, e sim em várias ramificações. Houve um deslocamento do discurso político para 
qualquer tipo de produção verbal. A AD passou a fazer fronteira interdisciplinar com outras disciplinas: 
sociolinguística, etnolinguística, análise conversacional, teorias da argumentação, da comunicação etc.
 Observação
Há uma proliferação da expressão “análise do discurso”, o que causa 
certa confusão. Um dos objetivos desta disciplina é diferenciar os sentidos 
de “discurso” em suas várias práticas de análise.
Algumas críticas foram lançadas à AD francesa, que a apontam como voltada aos corpora impressos, 
institucionalizados, interessados nos mecanismos linguísticos formais e nas condições de produção3, 
deixando de lado outras possibilidades do discurso “comum”, heterogêneo. Tais críticas são, em certo 
ponto, legítimas, mas elas acabam conduzindo a uma posição confusa.
É isso que acontece com as tantas “análises do discurso”, que se complementam em certa medida 
e se digladiam em alguns aspectos, dado que, em sua variedade, o discurso, seu objeto de análise, 
constitui‑se singularmente para cada uma delas e nem sempre a comunidade acadêmica está atenta 
a isso, veiculando por vezes uma verdadeira “salada de discurso”, tomada generalizadamente como a 
mesma coisa em diferentes práticas de análise. Por isso é importante observar o que cada uma tem a 
contribuir com os estudos da linguagem e como é possível trabalhar com elas em complementaridade 
(quando possível!).
Mesmo sendo visto por alguns de forma restrita, reducionista, o domínio da AD permanece ilimitado 
– discurso jurídico, religioso, político, pedagógico, sindical etc., ou discurso da gramática, imprensa, 
militante, publicitário etc., ou ainda questões que atravessam essa ou aquela coletividade, minoria, em 
dada conjuntura: discurso homossexual, racista, feminista, indígena, sobre os deficientes etc. Daí se 
constata a possibilidade de construção de uma infinidade de objetos de análise.
1.4 Por que a AD pertence ao campo da linguística?
Após acompanhar as reflexões até aqui, você é capaz de responder à pergunta acima? O que 
diferencia a AD das outras práticas de análise de texto é justamente a utilização da linguística ou ainda 
a maneira como essa teoria recupera os aspectos linguísticos que se relevam em um texto. Ela não se 
prende necessariamente a este ou àquele ramo teórico (fonologia, morfologia, sintaxe...), mas atravessa 
o conjunto de ramos da linguística.
3 Veremos essas críticas de maneira mais minuciosa na apresentação mais detalhada da análise do discurso crítica, 
outra vertente de estudo do discurso, como já foi introduzido no tópico anterior.
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ANÁLISE DO DISCURSO
A AD, mais do que simplesmente fazer parte do arcabouço teórico da linguística, opta 
epistemologicamente pelos mecanismos de análise linguística, mas sem restringir‑se apenas a eles – “é 
preciso ser linguista e deixar de sê‑lo ao mesmo tempo” (MAINGUENEAU, 1997, p.18).
Tal perfil a faz muitas vezes conhecida como disciplina periférica, pois as áreas mais formais da 
linguística julgam que o tratamento linguístico em AD é superficial e insuficiente, já que, por sua vez, 
observam na linguagem prioritariamente os seus aspectos formais, objetivos, deixando de fora da 
análise as múltiplas questões que integram o componente linguístico da linguagem à sua exterioridade 
e historicidade em dadas condições de produção, atendidas por um sujeito de uma relação/posição 
hierárquica e determinada social e ideologicamente.
Hoje, o pensamento científico, bem como as políticas científicas e (mais institucionalmente) as 
agências de fomento à pesquisa (Capes, CNPq, Fapesp etc.) entendem que a ciência é composta de 
múltiplos pontos de vista, de diferentes verdades, não necessariamente unificadas, de modo que o 
mesmo objeto pode ser passível de diversos olhares e métodos de investigação, podendo dar muitas 
respostas às muitas perguntas que se possam fazer sobre esse mesmo objeto.
Assim acontece com os fenômenos da linguagem, que em sua natureza rica, múltipla e heterogênea 
permitem várias análises, e vários pontos de vista (verdades) ganham espaço para se instituírem e 
destituírem‑se em compatibilidade ou em total dissidência com outras áreas de estudo. Assim é que na 
grande área da linguística há espaço para as pesquisas de natureza mais formal, objetiva e descritiva (a 
chamada linguística hard), e há espaço também para os estudos mais informais, funcionais e discursivos dos 
fenômenos linguísticos, tanto que, nas últimas décadas, houve uma verdadeira explosão de novas áreas.
2 A DETERMINAÇÃO SÓCIO‑HISTÓRICO‑IDEOLÓGICA: ASSUJEITAMENTO E 
ALTERIDADE
Você não pode perder de vista que para a configuração teórica acerca do processo de 
determinação sócio‑histórico‑ideológica na construção da subjetividade e da alteridade constitutivas 
do assujeitamento ideológico, são influências fundamentais as contribuições do pensamento de Marx 
(via Althusser) sobre os aparelhos ideológicos do estado e a determinação ideológica do sujeito; e de 
Freud (via Lacan) sobre o processo inconsciente que constitui a subjetividade na relação com a alteridade. 
Michel Pêcheux faz uma releitura destes autores e incorpora suas contribuições ao arcabouço teórico 
da AD.
Vejamos a seguir uma breve apresentação do pensamento desses autores e de como Pêcheux os 
recupera para a AD.
2.1 O pensamento de Lacan sobre a função do EU e o jogo imaginário
Lacan, em seu texto O estádio do espelho como formador da função do EU (LACAN, 1996, p. 97‑103), 
começa fala sobre a concepção do estádio no espelho como função formadora do EU. O autor descreve 
a descoberta pelos indivíduos da sua posição e seu espaço dimensional como ser humano, fato que ele 
identifica como começandona infância entre os seis até os dezoitos meses de vida. Esse reconhecimento 
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de si próprio é o que leva a criança a realizar movimentos diante de um espelho, como se localizando no 
espaço e também no seu próprio corpo, a si própria.
O autor fala da psicologia comparada na qual uma criança é utilizada como referente, pois a criança 
reconhece sua imagem no espelho num curto espaço de tempo. Ao se perceber no espelho a criança 
faz uma série de gestos mesmo de forma lúdica e complexa consegue interagir com a imagem que 
aparece refletida duplicada na mente. Basta compreender o estádio do espelho como uma identificação 
cuja predestinação parece ser suficientemente indicada pelo uso na teoria do antigo termo imago 
(imaginário).
Você deve perceber que isso acontece na fase inicial na qual a criança ainda lida com uma 
incompetência motora e com a dependência da amamentação, a criança no estádio do espelho já 
parece manifestar situação exemplar à matriz simbólica em que se precipita de forma primordial antes 
de se identificar com outro e antes que a linguagem a configure na sua função de sujeito. Embora seu 
sentido motor seja irreconhecível, simboliza por esses dois aspectos de seu aparecimento a permanência 
mental do eu, ao mesmo tempo, para a figura de destinação alienante (o outro), é também o nenhum 
eu numa relação ambígua.
Esse estágio da formação primordial antecede o que depois se manifesta na fala como um 
reconhecimento do Eu em relação ao outro. Assim, nesse estádio há o reconhecimento de um Eu interior 
e lúdico de si próprio, não ainda um “eu” sujeito social. O conceito “Gestalt” ou a chamada psicologia da 
forma refere‑se a um processo de formação cujo sentido no texto é a formação do EU mental, que pode 
ocorrer durante uma visão especular, havendo a formação daquilo que aliena o indivíduo, ou o difere de 
outro ser humano, o torna individual.
Entenda que a razão que torna o conhecimento do homem mais autônomo que o do animal também 
determina a escassez da realidade, já que ele se denuncia pela sua insatisfação surreal, na captação 
espacial manifestada pelo estádio no espelho. A função de estar no espelho revela em caso particular: a 
função do imaginário que é estabelecer uma relação do organismo com a realidade, porém essa relação 
com a natureza alterada no homem por uma discórdia primordial dá uma ideia de algo inacabado.
Jacques Lacan compara a formação, o Gestalt, dos humanos como algo similar que ocorre com os 
animais. Estes parecem precisar ver algum animal de sua espécie para se reconhecerem como seres e 
se desenvolverem tanto mentalmente como sexualmente. De forma semelhante ocorre com os seres 
humanos, há um mimetismo durante o estádio do espelho, nos identificamos com a forma apresentada 
diante do espelho, e nos camuflamos nela para nos entendermos como reais.
Assim, nesse estádio há a função da imago, a formação de uma relação com a realidade. Mas, o Eu 
mental que surge é ilusório porque se apresenta como o todo, completo, aos nossos olhos infantis. São 
noções prematuras, já que fisicamente e mentalmente tudo irá se modificar. No entanto essa primeira 
construção é essencial para os estágios seguintes da construção mental do EU, como o Eu social.
Seu retorno ao estágio mais arcaico da inversão obsessiva e seus processos isoladores como 
precedentes na geração da alienação paranoica datam a passagem do Eu espetacular para o Eu social.
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Esse momento de passagem faz com que todo ser humano diante desse EU no espelho tenha qualquer 
impulso perigoso, ainda que respondendo à maturação natural de seu desenvolvimento. O indivíduo vai 
passando desse impulso à normalização dessa maturação, sofrendo efetivamente as interferências de 
uma determinação cultural, histórica e social no que tange ao objetivo sexual inicialmente vinculado ao 
complexo de Édipo. Nesse ínterim, a construção mental e psicológica do ser humano acaba culminando 
num desejo pelo outro diferente, numa sociabilidade, para preencher um desejo sexual primário. O Eu 
social tenta satisfazer sua libido com seus semelhantes, ao mesmo tempo em que, antagonicamente, 
esse mesmo Eu social comporta agressividade e alienação aos outros, constituindo assim um processo 
complexo e multilateral.
Lacan esclarece que nos dados da experiência do espelho, do visual, não se esgota esta experiência 
de formação do eu. A passagem do Eu especular, o ego ideal, para o Eu social, ou ideal do ego, será 
veiculada pela intermediação cultural que constituirá o ideal do eu.
Lacan afirma o acontecimento de uma dialética a partir da qual há uma passagem do Eu especular 
para o Eu social, na qual começa a concorrência com outro, situações nas quais uma criança fala, 
brinca, se mostra e a outra observa. Uma se exibe e a outra se submete, relação semelhante a do amo e 
o escravo, destacando que ambas as crianças estão de algum modo fundidas na situação.
É a partir deste momento, entre a imagem especular e a imagem do outro semelhante, (pequeno 
outro) que aparece como competidor, ameaçador, que podemos falar da relação entre libido narcísica, 
como função alienante do eu, e da agressividade que dela se ressalta em qualquer relação com o 
outro.
Com esta posição, Lacan se opõe a todas as teorias tradicionais que concebem o Eu como sistema de 
percepção‑consciência e deixa o Eu no lugar da alienação e o desconhecimento. O ser do sujeito não se 
esgota no eu, este não é mais que uma miragem e se contenta com ser isso.
 Saiba mais
Para entender melhor as contribuições de J. Lacan, na teoria da análise 
do discurso francesa, veja o texto Sujeito do inconsciente e sujeito em análise 
de discurso: diferenças e aproximações, do autor Fernando Hartmann (2005), 
disponível no site: <www.discurso.ufrgs.br/sead2/doc/ideologia/hartmann.pdf>.
2.2 O pensamento de Althusser sobre o assujeitamento e os aparelhos 
ideológicos de Estado
Em seu famoso texto Ideologia e aparelhos ideológicos de estado (ALTHUSSER, 1996, p. 105‑142). 
Louis Althusser apresenta sua teoria, se apoiando e direcionando outros pontos no decorrer do texto, 
sobre as ideologias constituintes de uma sociedade, que de forma abstrata e até mesmo inconsciente 
(para alguns) definem o modo de pensar da sociedade em geral.
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O autor declara que entender o processo da reprodução e produção das ideologias é o mesmo que 
se colocar num nível acima, elevar‑se. Isso acontece porque estamos todos inseridos nesse processo 
de reprodução e produção em massa. Dessa forma, nós temos uma consciência coletiva, fator que 
possibilita a formação dos indivíduos desta sociedade, mas, pode também, alienar em relação à alguns 
fatos desta mesma sociedade (ALTHUSSER, 1996, p. 105). Althusser descreve o processo dessa forma:
Conforme Althusser, o conceito de “reprodução das condições de produção” para a continuidade de 
um processo é um conceito que Quesnay e Marx desenvolveram para falar sobre modo de produção do 
capitalismo. Althusser estabelece esta relação, visto que, da mesma forma que o capitalismo atual forma 
as relações de produção dos bens de consumo, ele também influenciou e influencia o modo de pensar 
das pessoas inseridas nesse sistema. Suas formações sociais, as ideologias, são os produtos da sociedade 
capitalista.
Sobre a reprodução da força de trabalho, Althusser fala do trabalho assalariado, ou trabalhar para 
adquirir o dinheiro, e não mais o alimento como em sistemas anteriores, que surge categoricamente 
na sociedade moderna.Em termos de produção, o trabalhador equivaleria à força de trabalho de uma 
empresa. A reprodução dessa força por parte do empregador, em sua diversidade de modelos, não 
aconteceria na própria empresa. O trabalhador assalariado, com base no valor combinado com o seu 
empregador, utilizaria dessa parcela mínima de seu trabalho cedida a ele para recuperar suas próprias 
forças.
No entanto, essa reprodução acontece fora do domínio da empresa, já que o trabalhador às repõe em 
outros momentos fora do horário de trabalho e de modos independentes da sua função. Focalizando a 
questão da ideologia, a parcela que é paga ao trabalhador é o produto de um acordo que ambos aceitam 
como justo, isto é, ideologicamente. O empregador oferece uma quantia que pareça pagar o trabalho 
oferecido e que consiga reproduzir a força de trabalho que o seu negócio necessita; por outro lado, o 
empregado aceita essa parcela mínima por acreditar que seja o suficiente para si (chamado no texto de 
mínimo “biológico” mais o mínimo “histórico” que são convencionais ou construídos na sociedade), ou 
por não receber oferta maior.
Falando sobre o trabalhador com “competência”, que se especializa em determinado trabalho, este 
precisa receber ainda outra reprodução da força de seu trabalho: a qualificação. Essa outra reprodução da 
força de trabalho, fato cada vez mais comum na sociedade atual, também não ocorre totalmente dentro 
da empresa. Para assegurar essa reprodução, o empregador precisa investir também no aperfeiçoamento 
profissional do trabalhador. Assim, o trabalhador com “competência” deveria receber um acréscimo em 
seu salário para frequentar cursos técnicos, ou frequentar alguma instituição de ensino, incentivado 
pelo empregador e pela sociedade.
No ínterim, há a função ideológica das instituições de ensino. Por investir na educação do 
trabalhador, mais “coisas importantes” são ensinadas que também garantem o melhor desempenho 
da força de trabalho: as normas de conduta social e a obediência especificamente (ALTHUSSER, 1996, 
p.106). Dessa forma, os trabalhadores, de variados cargos e camadas sociais, aprendem a se submeter às 
ideologias da sociedade capitalista. Resumidamente Althusser postula que “é nas formas e sob as formas 
da sujeição ideológica que se assegura a reprodução da qualificação da força de trabalho” (ALTHUSSER, 
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1996, p.109). De maneira que, esse pensamento racional sobre as relações de produção do capitalismo 
se reflete nas ideologias da sociedade.
Sobre os conceitos de infraestrutura e superestrutura, Althusser discorre sobre a estrutura da 
sociedade, de sua configuração. Uma possível metáfora que ilustraria a estrutura da sociedade atual é 
a de se tratar de um prédio ou edifício que tem suas bases fortes para sustentar as camadas superiores. 
Os andares superiores equivalem à superestrutura e a base à infraestrutura.
Pragmaticamente, os componentes da infraestrutura são as forças produtivas, a base econômica, 
que corresponde às camadas sociais mais baixas. Já a superestrutura comportaria dois níveis: o 
jurídico‑político ou o direito e o Estado; e o ideológico ou as diferentes ideologias como a religião, ética, 
lei, política.
Assim configurada, a superestrutura de certa forma dependeria da infraestrutura para se sustentar 
e esta própria determinaria a eficácia do nível da superestrutura. A autonomia da superestrutura é, 
portanto, relativa, embora ela aja efetivamente sobre o nível da infraestrutura. Essa seria a descrição 
da sociedade com base na metáfora de Marx. No entanto, para Althusser essa descrição não estaria 
completa, e somente no “Ponto de vista reprodução” que se compreenderia a superestrutura em seus 
dois níveis: a ideologia, a política, a lei (jurídico) da sociedade atual.
Sobre o Estado, Althusser categoricamente afirma que o chamado Estado é um aparelho de repressão 
que funciona para assegurar o poder (poder estatal) da classe dominante. Essa é a sua função ou seu 
fundamento. Pautado nos estudos de Marx e nas afirmações de Lênin, define que a polícia, os tribunais, 
os presídios e o exército formam o aparelho repressor, e ainda acima desse conjunto, juntamente, o 
governo e administração do Estado (ALTHUSSER, 1996, p. 111).
O autor afirma que a posse do poder estatal é o que gera conflitos e revoluções nas sociedades, 
sendo a classe do proletariado uma militante para consegui‑la. No entanto, salvo poucas exceções, 
graças ao aparelho do estado a classe dominante não perdeu, e não perde ainda atualmente, seu poder 
estatal. Partindo dessas teorias que descrevem o estado em seu sistema, Althusser propõe expandir essa 
teoria para exemplificar o aparelho do estado.
Com efeito, o autor destaca a presença das ideologias que também asseguram o poder estatal, 
descreve esse poder abstrato que, então, passa a chamar de Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE). 
As seguintes instituições são os Aparelhos Ideológicos do Estado: sistema das diferentes Igrejas; o 
sistema das diferentes escolas; o AIE familiar; o AIE jurídico; o sistema político; O AIE sindical; o AIE da 
informação, ou seja, imprensa, rádio e televisão; o AIE da cultura, ou seja, literatura, artes, esportes, e 
etc. Esses seriam os parelhos ideológicos agentes da sociedade.
Embora alguns sejam de domínio privado, como, por exemplo, a imprensa que tem dono(s), 
funcionariam também para a classe dominante, independente de quem seja(m) seu(s) dono(s). 
Aprofundando o conceito, o autor mostra que o aparelho repressivo funcionaria primariamente 
através da repressão e secundariamente através da ideologia. A ideologia é o foco de Althusser 
ao falar da sociedade. Entretanto, ele mostra que os Aparelhos Ideológicos de Estado existentes 
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também funcionariam secundariamente pela repressão, embora sua ação efetiva e primária aconteça 
através da ideologia. Ou seja, uma via de mão dupla: tanto os aparelhos ideológicos funcionam 
secundariamente pela via da repressão, como os aparelhos repressivos funcionam secundariamente 
pela via da ideologia.
Assim, os Aparelhos Ideológicos de Estado teriam um duplo funcionamento que atua sutilmente. 
O que unifica os vários aparelhos ideológicos de estado é o caráter comum de trazer a ideologia 
oriunda da classe dominante. Sobretudo e em suma, a classe só se sustenta por controlar também 
os Aparelhos Ideológicos de Estado. Ainda, pragmaticamente, os Aparelhos Ideológicos de Estado 
garantem a reprodução das relações de produção da classe dominante se apoiando na proteção 
dos Aparelhos Repressores de Estado. Assim, historicamente, a classe dominante manteve seu poder 
estatal funcionando.
Como exemplo dado por Althusser, é reconhecido o papel que a Igreja tinha na sociedade feudal, 
na verdade ela era o principal Aparelho Ideológico de Estado dessa época, formando a população 
culturalmente e religiosamente. Hoje, dividimos esses dois Aparelhos Ideológicos de Estado porque houve 
uma ruptura entre formação escolar e cultural/religiosa. O aparelho ideológico escolar surge, segundo 
Althusser, para se tornar o principal e mais atuante. Desde a infância, na formação social e psicológica do 
individuo, as pessoas são formadas ideologicamente, como ele mesmo afirma “O aparelho da informação, 
empanturrando cada ‘cidadão’ com doses diárias de nacionalismo, chauvinismo, liberalismo, moralismo 
etc.” (ALTHUSSER, 1996, p.121).
Embora, haja essa divisão entre os aparelhos ideológicos, é claro que os funcionamentos dos 
vários aparelhos se inter‑relacionam, um validando e auxiliando o funcionamento do outro. A serviço 
do Estado, o aparelho escolar, juntamente com o auxílio de outros aparelhosideológicos, estratifica 
a formação dos cidadãos, pois forma uma grande quantidade de operários para a indústria, uma 
quantidade menor para a vida acadêmica, (estes últimos tendem assim futuramente a se tornarem 
“os pequenos burgueses”), outros ainda alcançam um nível superior, muito distante das classes baixas. 
Ou seja, pragmaticamente, a instituição escolar forma as várias classes da sociedade, respeitando a 
poder estatal classe dominante.
 Lembrete
O aparelho ideológico dominante atual, a escola, contribui para a 
reprodução das relações de produção, rechaçando a ameaça da luta de 
classes mundiais, visando à ascensão social.
Sobre a ideologia, Althusser comenta que o conceito de ideologia advém do pensamento Marxista 
em A ideologia alemã. A ideologia, segundo Marx e relatada por Althusser, seria equivalente a um 
sonho, algo imaginário cuja única existência concreta seria se pensarmos nos indivíduos concretos 
que a possuíssem. A ideologia, por Marx, não possuiria uma história própria. Já a proposta de Althusser 
sobre o conceito de ideologia é dividirmos em duas visões diferentes: as ideologias (plural) que têm uma 
história própria; e a ideologia em geral (singular) que não tem.
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Relacionando com o conceito de inconsciente de Freud, ele diz que assim como o inconsciente é eterno e 
não tem história, a ideologia em geral não tem história, é imutável. Depois o autor apresenta duas teses:
1. a ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com as condições reais de 
existência; e
2. a ideologia tem uma existência material.
Sobre a primeira tese, formularam‑se duas respostas do porquê dessa representação imaginária 
da realidade surgir formando as chamadas ideologias ao longo da história. A primeira é que “padres e 
déspotas” criaram esse “recurso” para dominar a imaginação e mente da grande maioria das pessoas 
e assegurar‑lhes a continuação do poder. Outra explicação é que as próprias condições sociais são 
alienadoras e por isso esses homens criam para si as representações da realidade alienadas ou imaginárias. 
Essa última explicação para a representação imaginária foi defendida por Marx. Althusser apresenta 
uma reformulação dessa explicação: “O que é representado na ideologia, portanto, não é o sistema das 
relações reais que regem a existência dos indivíduos, mas a relação imaginária desses indivíduos com as 
relações reais em que vivem” (ALTHUSSER, 1996, p.128).
Sobre a segunda tese, ele afirma que as ideias e representações têm existência material: estão 
presentes nos aparelhos ideológicos e sua prática. Os indivíduos conscientes escolhem a representação de 
mundo em que acreditam, ou ainda, acreditam na representação de mundo à qual foram condicionados 
a acreditar. Assim, dessa forma eles agem de acordo com ideias e consciência que lhes foram impostas 
através dos AIE, ocorrendo um reflexo dessas imposições nas atitudes e modo de vida dos indivíduos.
Althusser complementa que as ações desses indivíduos demonstram as ideologias às quais eles estão 
assujeitados (um exemplo seria a religião que move os fiéis a ter um estilo de vida regrado e praticar 
alguns rituais como ajoelhar‑se para rezar). Sintetizando, Althusser conclui essa reflexão com as seguintes 
proposições: “Não existe prática, a não ser através de uma ideologia, e dentro dela;” e consequentemente, 
“não existe ideologia, exceto pelo sujeito e para os sujeitos”. (ALTHUSSER, 1996, p. 131). Mais ainda, a 
Ideologia interpela os indivíduos como sujeitos. Embora as pessoas mudem e a ideologia chame novas 
pessoas, invoque as pessoas para uma conduta e para um pensamento ideologicamente determinado. É 
o que se chama assujeitamento ideológico.
2.3 A visão de Pêcheux sobre estas contribuições para a AD
Em seu texto O mecanismo do desconhecimento ideológico, Pêcheux (1996, p. 143‑152) procura 
esclarecer alguns fatos sobre a ideologia que poderiam obscurecer o entendimento total de sua obra, 
também para auxiliar a leitura de Althusser em Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. Ele afirma 
que a ideologia não é um Zeitgeist4, como pode parecer de primeiro momento, e tampouco existe uma 
ideologia para cada classe social da sociedade, formando mundos diferentes que lutam entre si.
4 Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist 
significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um 
determinado período de tempo. Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeitgeist>. Acesso em: 28 jul. 2011.
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A ideologia não se produz de maneira regular e homogênea, e a luta ideológica de classes é o ponto 
de encontro de dois mundos distintos e preexistentes cada um com suas práticas e uma visão própria de 
mundo. Os aparelhos ideológicos de estado não são puros instrumentos das classes dominantes de duas 
condições ideológicas: da transformação e da produção; isso faz sentido na revolução marxista‑leninista.
Os próprios AIE não devem ser entendidos como um produto somente da classe dominante. Assim, 
ele mostra que há diferentes níveis entre os vários AIE e sua influência social, mostrando a sua relação 
com as regiões (Deus, ética, lei, justiça, família, saber etc.) dos indivíduos e suas características essenciais 
que tornam sua atuação em algumas situações mais efetivamente predominantes do que em outras.
A efetiva atuação de um AIE condiciona‑se ao sentido, ou à sua função em 
determinada região, servindo aos interesses de alguma classe dominante. 
Assim, “as relações de desigualdade‑subordinação entre essas regiões 
constituem o que está em jogo na luta ideológica de classes” (PECHEUX, 
1996, p. 145).
A luta das classes, nessa proposição, seria a luta pela transformação das relações de produção dentro 
de uma sociedade com os AIE instalados e operantes.
Outros esclarecimentos são dados pelo autor, como a leitura errônea de que a luta de classes 
antagônicas significa que ambas as classes lutam pela mesma coisa e da mesma forma ou que a 
reprodução das forças de produção seja o inverso de transformação das forças de produção.
Se Althusser afirma que ideologia é eterna, fazendo um paralelo ao que Freud afirma sobre o 
inconsciente, para Pêcheux há uma relação entre os funcionamentos da ideologia e do inconsciente no 
sentido de que tanto a ideologia como o inconsciente estão velados, ocultos. Assim, existem algumas 
verdades subjetivas produzidas inconscientemente, ocultamente.
Outro ponto retomado por Pêcheux na leitura de Althusser é o conceito de interpelação do sujeito. 
Essa ilustração do reconhecimento de alguém quando interpelado na rua mostra como a coletividade 
chama um sujeito para assumir alguma posição. A ideologia faz desse ainda não sujeito um sujeito 
constituído.
Pêcheux retoma que, segundo Althusser, “a ideologia interpela o indivíduo como sujeito”, e afirma 
que os aparelhos ideológicos de estado não são meramente a realização da ideologia em termos de 
sujeito. Não se pode deixar de ressaltar em comum a essas duas estruturas chamadas ideologia e 
inconsciente o fato de que elas operam no oculto de sua própria existência, produzindo uma rede de 
verdades subjetivas evidentes, significando, afetando e constituindo o sujeito.
Segundo Pêcheux, somente EU posso dizer “eu” quando falo de mim mesmo, pois o sujeito é 
responsável passível de responder por seus atos. Na linguagem, o poder das palavras tem seu papel 
principal naquilo que o sujeito representa para o outro. Na condição de falantes e ouvintes que somos, 
dentro da ideologia, somos recrutados

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