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RESUMO AMÉRICA II

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Conceito de América Latina
O continente americano e o período pós-Primeira Guerra 
Nas primeiras décadas do século XX, todo o continente americano passou por transformações muito significativas para a condução da política e da sociedade na região. Os Estados Unidos se consolidaram como forte potência regional e, posteriormente, mundial. 
Os países latino-americanos iniciaram o processo de mudança em sua ordenação política sobretudo em virtude do desencantamento com uma Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, houve intensas transformações modernizadoras nas sociedades latino-americanas, o que favoreceu a tomada de posição de cunho nacionalista nos âmbitos culturais e políticos de formas variadas, até mesmo conduzindo alguns países da região a ditaduras.
Em nossa aula anterior, vimos que, logo no início do século, a região viveu sua primeira revolução no México, um fator muito importante quando analisamos a trajetória do continente. Foi a luta pela terra e por interesses políticos que inseriu o México no século XX.
Os EUA e o período pós-Primeira Guerra 
Os Estados Unidos consolidaram sua prosperidade sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, conflito que adquiriu proporções mundiais e marcou a história contemporânea, inserindo todas as regiões do planeta na lógica da guerra. 
Segundo Eric Hobsbawm:
(…) as guerras foram visivelmente boas para a economia dos EUA. Sua taxa de crescimento nas duas guerras foi bastante extraordinária, sobretudo na Segunda Guerra Mundial, quando aumentou mais ou menos 10% ao ano, mais rápido que nunca antes ou depois. Em ambas, os EUA se beneficiaram do fato de estarem distantes da luta e serem o principal arsenal de seus aliados, e da capacidade de sua economia de organizar a expansão da produção de modo mais eficiente que qualquer outro. (…) Em 1914, já era a maior economia industrial, mas ainda não a dominante. As guerras, que os fortaleceram enquanto enfraqueciam, relativa ou absolutamente, suas concorrentes, transformaram sua situação (1995, p. 55).
O crescimento estadunidense se consolidou cada vez mais após a Primeira Guerra e o país viveu o “American Way of Life”, o estilo de vida americano que tornou os Estados Unidos um modelo de consumo. 
De acordo com José Jobson Arruda:
Após o término da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiram a hegemonia econômica em escala planetária, passando de país devedor a potência credora no mercado internacional, pois fizeram vultosos empréstimos aos países envolvidos no conflito, tanto a vencedores quanto a vencidos (2001, p. 13).
A crise de 1929
Os Estados Unidos adotaram uma postura isolacionista em relação à Europa, e seu crescimento econômico propiciou intensa euforia e a certeza, ainda que falsa, de uma prosperidade sem limites, marcada pelo alto grau de consumo de produtos, que rapidamente se tornaram bens de consumo. 
Os salários cresciam, e o desemprego era relativamente baixo, com crédito fácil alimentando a produção. 
Uma forte busca por enriquecimento rápido supervalorizou ações de empresas e, em dado momento, em 1929, tudo veio abaixo, pois a bolsa de valores de Nova York quebrou e fomentou uma crise generalizada e sem precedentes em todo o mundo capitalista, encerrando a era do capitalismo liberal e dando início a  uma reorientação na economia estadunidense. 
Os Estados Unidos adotaram uma postura isolacionista em relação à Europa, e seu crescimento econômico propiciou intensa euforia e a certeza, ainda que falsa, de uma prosperidade sem limites, marcada pelo alto grau de consumo de produtos, que rapidamente se tornaram bens de consumo. 
Os salários cresciam, e o desemprego era relativamente baixo, com crédito fácil alimentando a produção. 
Uma forte busca por enriquecimento rápido supervalorizou ações de empresas e, em dado momento, em 1929, tudo veio abaixo, pois a bolsa de valores de Nova York quebrou e fomentou uma crise generalizada e sem precedentes em todo o mundo capitalista, encerrando a era do capitalismo liberal e dando início a  uma reorientação na economia estadunidense. 
Depois desse acontecimento, o mundo jamais seria o mesmo.
E por que os Estados Unidos viveram essa crise em um momento de grande prosperidade?  Que razões levaram essa potência a passar por um período turbulento em sua vida financeira?
A crise de 1929 foi causada, sobretudo, pela insistência americana em manter depois da guerra o mesmo ritmo de produção alcançado durante o conflito, quando abastecia os países envolvidos nos combates, fornecendo desde gêneros alimentícios até produtos industrializados e combustível.
Com a paz, os países europeus recomeçaram a produção de bens que importavam dos Estados Unidos durante o conflito. Com isso caíram as exportações do país e o mercado interno americano viu-se abarrotado de produtos que não conseguia absorver. 
E qual seria a solução?
A crise se acirrou ainda mais, pois apenas 5% da população estadunidense detinha 35% da riqueza do país, o que demonstra a intensa disparidade que marcava os Estados Unidos.
A crise foi construída aos poucos. A bolsa de valores refletia esse momento sobretudo pelo fato de muitas empresas serem de capital aberto, ou seja, as ações estavam nas mãos de muitas pessoas que, alarmadas com os acontecimentos, começaram a querer vender suas ações até o momento em que começou a haver mais vendedores que compradores, o que fez com que as ações passassem a ser vendidas a preços irrisórios, culminando em sua desvalorização praticamente total.
A quinta-feira negra
No dia 29 de outubro de 1929, a famosa quinta-feira negra, a crise chegou ao seu ápice. As ações despencaram e foi registrada uma queda histórica. O caos parecia instalado e não havia, naquele momento, perspectiva alguma de melhora.
Muitos investidores que haviam perdido tudo se suicidaram pulando das janelas dos edifícios, ao passo que muitos pobres passaram a contar com a caridade alheia, aumentando a fila da sopa gratuita para os desempregados.
A repercussão da crise de 1929 na América Latina  
A América Latina sempre esteve na esfera de influência estadunidense, sobretudo com a afirmação da Doutrina Monroe: “A América para os americanos. ”Os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania sobre seus vizinhos de todas as formas possíveis, em especial tentando afastar a influência europeia que ainda era significativa na região. 
Uma grande parte do comércio empreendido pelos países latino-americanos era realizada com a Europa e outra parte com os Estados Unidos, tanto no âmbito das importações quanto no das exportações.
Com a crise, todos começaram a estabelecer certo protecionismo, o que complicou bastante a vida financeira de algumas nações da América, sobretudo pelo fato de que várias delas tinham economias agroexportadoras e que foram afetadas pela retração de investimentos estrangeiros e pela redução nas exportações de suas matérias-primas.
Argentina e México também passaram pelo processo de substituição de importações e estimularam sua produção interna. 
A crise de 1929 gerou diferentes efeitos sobre a política de toda a região do continente americano, fomentando a formação de governos de cunho nacionalista e de ditaduras que buscaram transformar a condução dos países da região. 
Tivemos o advento da Era Vargas no Brasil, em que o presidente Getúlio Dorneles Vargas chegou ao poder por meio de um golpe em 1930. Tivemos ainda a ascensão de Juan Domingo Perón na Argentina e o governo de Lázaro Cárdenas no México. 
As décadas de 1930 e 1940 no continente americano 
Os anos 1930 e 1940 foram de especial atenção para a condução da política de todo o continente americano. Alguns acontecimentos marcaram toda a região, até mesmo pautando as relações de alguns países com os Estados Unidos e com alguns países da Europa.
Nesse período, a própria condução da política estadunidense para a América se modificou. 
A política do Big Stick foi substituída por uma política mais amena, a de boa vizinhança, que consistia basicamente em estabelecerlaços de amizade com os países da América Latina a fim de expandir cada vez mais o modelo de vida e de consumo americanos.
Foram criados mecanismos para garantir essa expansão, que ocorreu em diferentes campos, mas, sobretudo, no cultural. O objetivo dos Estados Unidos era ampliar sua esfera da atuação na América Latina e, para isso, utilizou-se de todas as formas possíveis para fortalecer essa política. No Brasil, estreitou laços com Getúlio Vargas e até visitou nosso país.
Esse estreitamento de laços se consolidou fortemente no âmbito cultural. Artistas do cinema dos Estados Unidos vinham frequentemente ao Brasil divulgar seus filmes e produtos estadunidenses eram divulgados nos meios de comunicação. A revista Seleções (Reader's Digest) chegou ao Brasil em 1938.
A América Latina se viu cada vez mais influenciada pelos estadunidenses e por sua busca de atuação internacional, o que fortaleceu a presença dos Estados Unidos em todo o continente e consolidou a política de alianças estabelecida entre os países da região.
Penetração cultural americana
O poder cultural era muito forte. Foi criada uma agência específica para cuidar da política de boa vizinhança na América Latina, o Office of the Coordinator ofInter-American Affairs (OCIAA) ou simplesmente Birô, como o chama Gerson Moura em seu clássico livro Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. O objetivo estadunidense ― muito bem-apontado nessa obra ― era promover a penetração cultural americana e consolidar a solidariedade hemisférica. Promover essa cooperação interamericana era fundamental.
Para alcançar seus objetivos, o OCIAA contava com as divisões de comunicações, relações culturais, saúde e comercial/financeira. Cada uma dessas divisões subdividia-se em seções: rádio, cinema, imprensa; arte, música, literatura; problemas sanitários; exportação, transportes e finanças (CPDOC. “Tio Sam chega ao Brasil”).
O rádio foi um excelente instrumento para a divulgação da cultura estadunidense. Apresentavam-se programas transmitidos diretamente dos Estados Unidos por estações locais. Sobre a área cinematográfica, vejamos mais um trecho coligido do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC):Já na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentos desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos. Na produção dos primeiros, o OCIAA contou com a colaboração das indústrias cinematográficas de Hollywood.
Procurava-se evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos Estúdios Disney, o papagaio Zé Carioca. O filme Alô Amigos, que apresentou esse personagem ao mundo como amigo do Pato Donald, enfatizava a política de boa vizinhança. Vejamos o que diz Gerson Moura: “Zé Carioca é falador, esperto e fã de Donald; sente um imenso prazer em conhecer o representante de Tio Sam e logo o convida para conhecer as belezas e os encantos do Brasil. Brasileiramente, faz-se íntimo de Donald ― quando este lhe estende a mão, Zé Carioca lhe dá um grande abraço ―, que aceita o oferecimento e sai para conhecer o Brasil” (CPDOC. “Tio Sam Chega ao Brasil”).
Populismo na América Latina
Você sabe o que significa Populismo?
Quando pensamos no termo populismo, imediatamente nos vem à mente a existência de governos de cunho popular e que buscam suas bases de assentamento nas massas, sobretudo nos trabalhadores.  Esse é um tema muito interessante e rico, pois, apesar de o situarmos no recorte das décadas de 1930 e 1940, permanece como uma característica de alguns governos contemporâneos que, cientes do papel de mobilização das massas, buscam nelas suas bases de apoio. 
A seguir veremos como Angela de Castro Gomes (2001) e o “Grupo de Itatiaia” define o populismo.
m primeiro lugar, o populismo é uma política de massas, vale dizer, é um fenômeno vinculado à proletarização dos trabalhadores na sociedade complexa moderna, sendo indicativo de que tais trabalhadores não adquiriram consciência e sentimento de classe:
não estão organizados e participando da política como classe. 
As massas, interpeladas pelo populismo, são originárias do proletariado, mas dele se distinguem por sua inconsciência das relações de espoliação sob as quais vivem. Só a superação dessa condição de massificação permitiria a libertação do populismo ou, o que seria quase o mesmo, a aquisição da verdadeira consciência de classe (...).
Em segundo lugar, o populismo está igualmente associado a uma certa conformação da classe dirigente, que perdeu sua representatividade e poder de exemplaridade, deixando de criar os valores e os estilos de vida orientadores de toda a sociedade. Em crise e sem condições de dirigir com segurança o Estado, a classe dominante precisa conquistar o apoio político das massas emergentes. 
Finalmente satisfeitas estas duas condições mais amplas, é preciso um terceiro elemento para completar o ciclo: o surgimento do líder populista, do homem carregado de carisma, capaz de mobilizar as massas e empolgar o poder (Gomes, 2001, p. 24-25).
Construção do modelo populista
Para a construção do modelo populista, alguns elementos se fazem necessários, como um proletariado sem consciência de classe, uma classe dirigente em crise e um líder que possa arregimentar essas massas, transcendendo todas as fronteiras possíveis.
No caso da América Latina, tudo isso pode ser pensado como uma fase de transição de uma economia baseada em modelo agrário-exportador para uma fase mais moderna, de expansão urbana e industrial, em que a existência de massas se torna uma característica importante.
Quando pensamos a relação do populismo como política de manipulação de massas, temos a interação entre Estado e classes populares no centro das discussões. 
As massas são o objeto das políticas populistas, que visam manter aquelas sob controle e utilizá-las dentro do jogo político da contemporaneidade.
Movimentos populares
Temos de refletir acerca do contexto do século XX e a ascensão de movimentos populares. A Revolução Russa produziu o fantasma do comunismo, e a crise do liberalismo e da democracia após a Primeira Guerra Mundial abriu caminho para correntes de pensamento de cunho antiliberal e antidemocrático, pregando a necessidade de um Estado forte, intervencionista e capaz de promover a ordem. O fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha foram exemplos claros desse tipo de pensamento. 
O líder carismático
Cabe ressaltar que, na América Latina, sempre houve uma preocupação com possíveis sublevações das classes populares, o que acabou por fortalecer a ideia de construção de um Estado autoritário e centrado na figura de um líder carismático, capaz de influir nos conflitos sociais e políticos, estabelecendo um contato direto com as massas, aprofundando uma política de controle das classes trabalhadoras. A figura do líder carismático em defesa do povo: uma das mais claras manifestações do populismo latino-americano. 
O movimento populista também é tido como de manipulação de massas, com políticos estigmatizados como enganadores e manipuladores por promessas não cumpridas. 
Surge no contexto de crise das classes dominantes comprometidas com o capital estrangeiro e, em um momento de transição da própria estrutura econômica da região, uma mudança de política agrária para relações modernas de produção, amparadas em um processo de industrialização em desenvolvimento.
Populismo latino-americano
Sobre o assunto, Octavio Ianni (1989) destaca: 
Sob vários aspectos, o populismo latino-americano parece corresponder a uma etapa específica na evolução das contradições entre a sociedade nacional e a economia dependente. A natureza do governopopulista está na busca de uma nova combinação entre as tendências do sistema social e as determinações da dependência econômica. Nesse contexto, as massas assalariadas aparecem como um elemento político dinâmico e criador. As massas populistas possibilitam a reelaboração da estrutura e atribuições do Estado. 
Segundo as determinações das próprias relações sociais e econômicas, na época do populismo, o Estado revela uma nova combinação dos grupos e classes sociais, em âmbito nacional e nas relações externas. O colapso das oligarquias liberais ou autoritárias constituídas no século XIX, juntamente com as crises do imperialismo europeu e norte-americano, abre novas possibilidades à reorganização do aparelho estatal. Aí as massas aparecem como um elemento político importante e às vezes decisivo (Ianni, 1989, p. 9).
Líderes populistas
A ideia de demagogia, as promessas e o personalismo fazem parte dos líderes populistas. Tanto na América Latina quanto no mundo contemporâneo, esses elementos continuam presentes. Em alguns casos, muda-se o nome, mas as características permanecem, em um processo que alguns denominam neopopulismo, uma versão atualizada do populismo praticado entre as décadas de 1930 e 1960.
O populismo no México, na Argentina e no Brasil
Não há como agrupar e definir o populismo nos três países de forma idêntica, pois cada um tem suas especificidades.
Cárdenas e Perón foram eleitos democraticamente para a presidência de seus respectivos países, enquanto Vargas assumiu o poder por meio do que denominou revolução. Todos se ampararam nas classes trabalhadoras e buscaram nelas seus elementos de fortalecimento.
O principal objetivo desses líderes era fazer frente ao domínio oligárquico que havia se estabelecido em seus países. Contavam fortemente com o apoio das massas, e seus discursos eram sempre direcionados a essa classe.
Lázaro Cárdenas – México
Seu principal objetivo era modernizar a economia e a sociedade mexicana.Foi um forte conciliador e, durante seu governo, realizou a reforma agrária, uma demanda do México que vinha desde a época da Revolução Mexicana. Apesar de a divisão de terras no México já estar em andamento antes do governo de Cárdenas, a atuação dele não tinha precedentes na história do México até então. 
Cárdenas também nacionalizou a exploração do petróleo mexicano, acabando com o privilégio das companhias petrolíferas estrangeiras que dominavam esse comércio no país, em sua maioria inglesas e estadunidenses.Incentivou ainda a criação de sindicatos e, em seu mandato, formou-se a Confederação dos Trabalhadores Mexicanos, que incorporou outras centrais sindicais. 
Também incentivou a educação dos trabalhadores mexicanos e dos camponeses, dando-lhe um caráter mais laico.Alguns historiadores não classificam o governo de Cárdenas como populista, mas sim como um governo nacionalista e corporativista.Em seus discursos, Cárdenas buscava mostrar as massas como portadoras de direitos e as convidava a legitimar sua gestão e sua plataforma de governo. 
Para obter apoio popular, ele se remetia aos signos da Revolução Mexicana, que tinham um forte apelo no imaginário social das massas, uma vez que canalizavam as expectativas de diferentes grupos.
Juan Domingo Perón – Argentina
Assumiu a Secretaria de Trabalho e ali iniciou sua consolidação na política argentina, baseando-se na inserção popular, um modo inovador de fazer política, com a participação de trabalhadores e dos sindicatos. As massas passaram a ter um espaço mais consolidado na vida política argentina.
Getúlio Vargas – Brasil
Vargas buscou consolidar-se junto aos trabalhadores e também buscou o apoio dos sindicatos, inserindo as massas na vida política brasileira. Os três presidentes analisados aqui caracterizaram a política na América Latina de forma diferente, marcada pela inserção das massas e dos trabalhadores, que passaram a ocupar um espaço importante na vida política dos países analisados nesta aula. 
Não podemos deixar de destacar que era necessário manter esses trabalhadores sob controle; a própria Revolução Russa e o advento do socialismo soviético haviam mostrado a necessidade desse controle.
O Continente Americano e a Segunda Guerra Mundial
Conforme estudamos em aulas anteriores, desde o início do século XX, o continente americano passou por muitas transformações, incluindo revoluções, participação em conflitos internacionais e advento de governos populistas. Houve ainda o advento de um novo conflito internacional, a Segunda Guerra Mundial. 
Nas palavras de Eric Hobsbawm, esse conflito foi global e praticamente todos os estados independentes do mundo se envolveram, forçadamente ou não, embora a América Latina participasse de forma mais nominal. 
Os Estados Unidos e a América Latina antes da Segunda Guerra 
Os Estados Unidos adotaram uma postura de distanciamento em relação aos acontecimentos europeus, buscando se aproximar cada vez mais de seus parceiros latino-americanos. Com a ascensão de Franklin Delano Roosevelt à presidência da República em 1933, houve uma reorientação da política estadunidense. s décadas de 1930 e 1940 marcaram essa política de aproximação dos Estados Unidos com a América Latina por meio de uma forte massificação cultural ― essencial para que os Estados Unidos se afirmassem ―, inserindo, em todos os países da região, sobretudo no Brasil, sua cultura, seus costumes... o “American Way of Life”.
Os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania
No campo político, os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania sobre a América formando alianças que visavam sobretudo impedir a penetração dos países fascistas e garantir a supremacia dos estadunidenses diante de seus irmãos latinos.
Assim, foram realizadas várias conferências, nas quais se procurava estabelecer qual seria a posição da região em relação aos acontecimentos europeus. Não podemos deixar de destacar que a iniciativa para a realização dessas conferências era sempre dos Estados Unidos.
Conferência de Buenos Aires 
A Conferência de Buenos Aires, realizada em 1936, nessa cidade, tinha a preocupação de assegurar uma defesa continental comum para a região diante de um possível conflito internacional.
Segundo Seintenfuss (1981, p. 281 ): “Nessa oportunidade, adota-se uma recomendação segundo a qual qualquer atentado à soberania de um Estado do continente por um Estado extracontinental é considerado atentado ao conjunto do Novo Mundo.”
Essa preocupação com a segurança continental foi reforçada nas conferências seguintes, que contaram com a participação de todos os países do continente americano.
Conferência de Lima
Em dezembro de 1938, tivemos a VIII Conferência Pan-Americana, conhecida como Conferência de Lima, ocorrida no Peru, e que também contou com a participação de vários países do continente. Vejamos o principal item da agenda dessa conferência. A implementação da Declaração de Buenos Aires de 1936, que instituía que qualquer ato suscetível de perturbar a paz do hemisfério dizia respeito a todos os Estados e justificava uma consulta. A delegação dos EUA (...) esperava obter aprovação da declaração segundo a qual a tentativa de um Estado não americano de perturbar a paz de uma nação americana dizia respeito a todos e que tomariam iniciativa para uma resistência conjunta (Maccan, 1995 , p. 101-102). 
Ainda sobre a conferência, podemos destacar o seguinte:
(...) defesa continental contra as ameaças externas; reunião não protocolar e urgente dos ministros das Relações Exteriores quando uma situação, continental ou extracontinental, o exigir; não reconhecimento das aquisições territoriais realizadas através da coerção ou força; rejeição do conceito de minoria étnica, linguística ou religiosa (Seintenfuss, 1981, p. 235). Os países do Eixo acompanhavam atentamente os acontecimentos da Conferência de Lima. A imprensa italiana destacava que esse era um sonho do presidente Roosevelt e que não se consolidaria. Já a imprensa alemã definia a conferência como uma manifestação do imperialismo políticoe econômico dos Estados Unidos. O documento final dessa conferência, conhecido como Declaração de Lima, estabeleceu como princípios importantes a consagração da não intervenção estrangeira nas questões continentais e, quando houvesse necessidade, a convocação de reuniões extraordinárias por qualquer país signatário da Conferência de Lima.
1º Reunião Extraordinária de Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas
Após a eclosão da guerra na Europa, os países do continente americano decidiram convocar uma reunião extraordinária, item previsto na Conferência de Lima. Ocorreu a Iº Reunião Extraordinária de Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, em setembro de 1939, que apresentou alguns pontos principais.
Ao final da reunião foram geradas algumas declarações.
A Declaração do Panamá tornou efetiva a neutralidade e a paz no continente americano e criou uma zona de segurança continental marítima no Atlântico. 
Conferência de Havana
Buscando posicionar o continente americano acerca dos acontecimentos internacionais, foi realizada a Conferência de Havana, que objetivava fornecer uma visão comum acerca do contexto internacional e reforçar as decisões adotadas nas conferências e reuniões anteriores. 
Conferência do Rio de Janeiro
Em dezembro de 1941, os Estados Unidos tiveram uma frota naval localizada em Pearl Harbor, no Pacífico, atacada pelos japoneses, o que gerou uma imediata declaração de guerra, mergulhando o Novo Mundo em um conflito de proporções internacionais. Foi então convocada uma nova conferência, reunida na cidade do Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, a Conferência do Rio de Janeiro, que definiu os rumos adotados pela região no conflito. 
Foi decidido o seguinte nessa Conferência:
As nações americanas reafirmavam a Resolução XV, aprovada na II Reunião de Havana de 1940, referente à “Assistência Recíproca e Cooperação Definitiva das Nações Americanas”, que estabeleceu o princípio de que todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou inviolabilidade do território, contra a soberania ou independência política de um Estado Americano, será considerado como um ato de agressão contra os Estados que assinam esta Declaração (Seintenfuss, 1981).
A Guerra Fria no Continente Americano
A Segunda Guerra Mundial constituiu um fenômeno global que envolveu direta ou indiretamente todos os países do mundo. 
O continente americano se viu envolvido diretamente no conflito após o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, no Pacífico, em 1941. 
O envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra foi um fator de suma importância para a vitória dos Aliados e marcou a inserção do continente americano na política internacional que se organizou no pós-Segunda Guerra.
A expansão do comunismo pelo mundo
Ao fim da guerra, a participação dos Estados Unidos e da União Soviética na vitória dos Aliados consolidou uma rivalidade que se estendeu por toda a segunda metade do século XX. Temos de considerar a posição da América Latina nesse contexto, sobretudo porque a participação da União Soviética nessa vitória fez com que o prestígio do comunismo aumentasse bastante e, com isso, houve também uma expansão dos partidos comunistas pelo mundo. 
Mudanças políticas na América Latina
O historiador Leslie Bethell afirma que o período entre 1944-1945 e 1947-1948 não foi um divisor de águas na América Latina, apesar das mudanças políticas ocorridas, e isso se deveu especialmente ao fato de a região estar passando por certo isolacionismo internacional. Temos de considerar, no entanto, que esse período foi marcado por questões internas muito fortes em vários de seus países, como a democratização que passou a existir na região, uma forte tendência à esquerda e à militância trabalhista. 
Houve a queda de ditadores e a mobilização das forças populares. Partidos progressistas e reformistas começavam a chegar ao poder. 
Bethell afirma que:
“O principal fator por trás das mudanças políticas na América Latina durante os anos de 1944, 1945 e 1946 foi a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. 
A despeito do poderio do Eixo, especialmente da Alemanha, dos interesses na América Latina e, de fato, das amplas simpatias pró-Eixo e pró-fascismo verificadas em toda a região no final da década de 1930 e começo da década de 1940, logo depois de Pearl Harbor todos os estados latino-americanos, com exceção do Chile e da Argentina, alinharam-se com os Estados Unidos e romperam relações com as potências do Eixo; ao fim, muitos deles, embora não até 1945, declararam guerra” (Bethell e Roxborough, 1996).
O historiador continua:
“Quando ficou óbvio que os Aliados venceriam a guerra ― a derrota alemã de Stalingrado, em fevereiro de 1943, assinalou a mudança da maré ―, evidenciando-se a natureza da ordem política e econômica internacional que iria imperar no pós-guerra e a posição hegemônica dos Estados Unidos no seio dela, os grupos dominantes da América Latina, inclusive os militares, reconheceram a necessidade de fazer alguns ajustes políticos e ideológicos, além de concessões” (Bethell e Roxborough, 1996).
A democracia – o novo caminho
Ao fim da Segunda Guerra, a democracia passou a ser o caminho buscado pelos países em virtude de fortes pressões políticas internas e do novo rumo que estava sendo dado na região. 
A partir de 1947, a América Latina começou a passar por um processo de aprofundamento da Guerra Fria. 
O mundo do trabalho começou a ser mais fortemente controlado, e o alinhamento internacional com os estadunidenses se consolidou efetivamente, passando a ocupar um espaço central na política latino-americana em toda a segunda metade do século XX.
A vitória dos Aliados na guerra – consequências
Com a vitória dos Aliados na guerra, houve uma expansão do comunismo em todo o mundo, com a ascensão dos partidos comunistas ao poder e sua inserção na vida política de alguns países. No entanto, após um curto período, esses partidos começaram a ser perseguidos, caíram no ostracismo, como o Partido Comunista da Argentina, ou foram postos na ilegalidade, como o Partido Comunista do Brasil. Cada país buscou se inserir na lógica da Guerra Fria de acordo com seus interesses, mas é fator consolidado que a América se alinhou com os Estados Unidos, e isso fez com que o continente passasse a estar sob a ótica capitalista, buscando repelir qualquer influência soviética.
Segundo Luis Fernando Ayerbe: 
“A preocupação dos Estados Unidos em relação à América Latina no início da guerra fria se concentra especialmente nas posturas nacionalistas de alguns governos e movimentos que visualizam uma perspectiva equidistante da influência do país como base para qualquer política de afirmação nacional.
A maior preocupação é com a disponibilidade dos recursos naturais da região em caso de uma guerra com a União Soviética e a eventualidade de um boicote de governos, sindicatos e demais movimentos, em que a infiltração de ideias antiamericanas possa ser decisiva” (2002, p. 81).
O surgimento de um governo comunista no continente americano
Havia um forte temor do crescimento do comunismo, e era fundamental que os governos constituídos, utilizando todos os recursos necessários, conseguissem impedir esse crescimento.
É claro que o surgimento de um governo comunista no continente americano, com a Revolução Cubana, foi um fator de grande relevância para pensarmos no acirramento da Guerra Fria na América e para uma mudança na condução da política e no relacionamento dos países com o comunismo. 
A consolidação desse fantasma em solo americano foi extremamente importante para pensarmos a relação entre a Guerra Fria e o continente americano.
Os Estados Unidos no fim da Segunda Guerra 
Vamos agora considerar os Estados Unidos no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial e avaliar como eles se tornaram uma grande potência no século XX. 
De acordo com Sean Purdy:
“Os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial como a mais poderosa nação da terra. Suas forças armadasocuparam o Japão e uma grande parte da Europa Ocidental. Além disso, muitas bases militares estabelecidas em países aliados durante a guerra ficaram intactas. 
Economicamente, os Estados Unidos detinham a maioria do capital de investimento, produção industrial e exportações no mundo, controlando até dois terços do comércio mundial, enquanto grandes partes da Europa e Ásia estavam devastadas” (Karnal et al., 2007, p. 226).
Ainda segundo Purdy:
“A Guerra Fria na América Latina começou no fim dos anos 1940, quando movimentos favoráveis à mudança política e econômica surgiram em muitos países do continente e acabaram refreados ou esmagados pelas elites locais com a ajuda dos Estados Unidos. 
Manipulando a retórica do anticomunismo, os Estados Unidos mantiveram os países latino-americanos na esfera da influência ocidental por meio de invasão, orquestração de golpes, obstáculos à reforma social e apoio técnico e político a regimes militares repressivos. O Departamento de Estado e a CIA, por exemplo, promoveram, planejaram e executaram a derrubada do governo reformista de Jacobo Arbenz na Guatemala em 1954 preocupados com a ameaça que reforma agrária, redistribuição de renda e democracia política representavam para os latifundiários, os Estados Unidos, como aponta o historiador Greg Grandin, viram a Guatemala e outros casos semelhantes na América Latina em grande parte através das lentes ideológicas da Guerra Fria. 
Ações como essa se multiplicariam nas próximas décadas na América Central e Sul, especialmente depois da Revolução Cubana em 1959. Os Estados Unidos, nesse período, tornaram-se o “World Cop” (Karnal et al., 2007, p. 229-230).
Como pudemos ver, ao término da Segunda Guerra Mundial e durante grande parte da Guerra Fria, os Estados Unidos tornaram-se hegemônicos em diferentes partes do mundo. Procuraram estabelecer uma atuação direta na política da América Latina, financiando golpes e procurando consolidar a região para sua conduta anticomunista e, assim, ganhá-la para sua esfera de influência. 
Esquerdas na América Latina
Premissa
No início da Guerra Fria, os movimentos de esquerda começaram a ganhar um destaque maior no mundo, amparados em:
Um forte desenvolvimento da classe trabalhadora e na ascensão de movimentos reformistas em toda a região e na ascensão de partidos comunistas inspirados na União Soviética.
De acordo com Angel
“Em outros países da América Latina, durante os anos que se seguiram à guerra houve um breve período de democracia. O final das ditaduras coincidiu com um clima internacional de apoio à instauração de governos democráticos. Os partidos comunistas beneficiaram-se dessa nova atmosfera liberal.” Angel (2009, p. 501)
Angel aborda como exemplos o caso do Partido Comunista do Brasil, que se organizou em muitas regiões do país e cresceu significativamente, participando do pleito eleitoral de 1945 e obtendo 90% dos votos, elegendo 14 deputados e 1 senador, que, posteriormente, foram cassados.
O comunismo em outros pontos da América do Sul
Na Argentina, o comunismo empreendeu uma franca retirada depois do final da Segunda Guerra, quando a ascensão de Perón mergulhou o partido em erros e confusões, principalmente ao ver no peronismo uma extensão do fascismo europeu.
No caso do Chile, que na época do início da Guerra Fria possuía o partido comunista mais poderoso do continente, o partido também foi proscrito através da Lei de Defesa da Democracia, aprovada em 1948.
Destino dos países esquerdistas
Governos com tendência esquerdista ou mesmo reformista foram derrubados e a América Latina viveu um período altamente turbulento em sua história recente: 
A instauração de ditaduras militares, em praticamente toda a região, calando fortemente a esquerda e consolidou a Guerra Fria no continente. 
Alguns exemplos são significativos de como a esquerda estava se posicionado e a forma como foi tratada no cenário que se anunciou a partir do início da Guerra Fria no continente:
Revolução Bolivariana, 1952
A Bolívia constantemente passou por momentos de crise e de insatisfação por parte de seu povo, principalmente devido à opressão e ao intenso quadro de miséria e exploração ao qual os bolivianos eram submetidos. Assim, em 1951, ocorreram eleições para presidente e o MNR, lançou a candidatura de Victor Paz Estenssoro. Sobre a eleição, Luiz Bernardo Pericás afirma que:
“Em 1951, ocorreram as eleições que preparariam o caminho para a revolução. O MNR tinha como aliados os sindicatos mineiros, mas os trabalhadores, em sua maioria, eram analfabetos e, portanto, sem direito a voto. Apesar disto, o partido recebeu o apoio de Juan Lechin, importante líder sindical, e celebrou a união da oposição em torno da candidatura de Paz Estenssoro. Estes dois elementos supracitados foram fundamentais para o candidato emenerrista e o levaram à vitória nas urnas aquele ano. Não conseguindo os 50% mais 1, necessários para empossar o presidente, em eleição direta, porém, Paz Estenssoro e seus correligionários esperaram a decisão do Congresso. Pressionado pelas Forças Armadas, o então presidente Urriolagoitia fugiu do país, e uma junta militar, encabeçada pelo General Balliván, tomou o poder. Não se passou muito tempo, contudo, e os militares se viram forçados a deixar o governo em razão das pressões populares em torno do Movimento Nacionalista Revolucionário. A 9 de abril de 1952, o MNR finalmente se estabeleceu como governo na Bolívia.”
Golpe militar na Guatemala
Em 1954, a Guatemala foi alvo de uma operação militar organizada pela CIA para derrubar o então presidente eleito Jacobo Arbenz. Podemos afirmar que a revolução na Guatemala tinha contornos nacionalistas, pois pretendia reivindicar as riquezas que pertenciam ao país e estavam em poder de estrangeiros, principalmente norte-americanos, com o objetivo de tirar o país da condição de “República das Bananas”.
Ao assumir o governo, uma das primeiras atitudes de Arbenz foi efetuar a reforma agrária, que para ele era necessária a fim de tirar o país da posição de dependência que então vivia mas, para isso tinha que enfrentar a poderosa oligarquia latifundiária que dominava o país.  A reforma agrária afetava as terras não cultivadas das grandes fazendas, o que gerou confisco de terrenos das oligarquias locais.
O conflito se iniciou quando o presidente intentou nacionalizar uma companhia norte-americana que existia no país, a UFCO, corporação que controlava a maior parte da agricultura no país.  Arbenz buscou oferecer compensação pela empresa, o que foi recusado pela companhia e fez com que ele fosse acusado de ser comunista e poderia abrir um precedente para a instauração de um regime desse tipo na região.
O governo norte-americano ficou insatisfeito com as ações de Arbenz e preparou uma reação ao governo reformista, isolando a Guatemala em toda a região da América e estimulando os governos regionais a adotarem postura agressiva contra o país. Honduras e Nicarágua preparam uma intervenção armada contra o governo de Arbenz.
Postura de Arbenz
O presidente não contou com o apoio do Exército para a defesa da Guatemala e seu isolacionismo frente aos outros países do continente acabou abrindo espaço para o sucesso do golpe perpetrado pelos norte-americanos. Assim, a Guatemala foi invadida e o presidente, forçado a renunciar. Após sua renúncia, Arbenz foi substituído por uma ditadura militar liderada pelo chefe das Forças Armadas sendo considerada a primeira intervenção direta da CIA na América Latina. Há que destacarmos o apoio de Honduras e Nicarágua para a invasão perpetrada pelos Estados Unidos e que levou à queda do governo de Arbenz.
“Depois desta constante e sistemática campanha contra a Guatemala, na América Latina e nos Estados Unidos, acrescida das divisões internas nas instituições provocadas pela Agência Central de Inteligência, tudo estava preparado para a queda de Arbenz. Começa, então, comandada pela Agência Central de Inteligência, a invasão armada a um país cujo governo apenas desejava um capitalismo mais modernopara seu povo e soberania e independência para o Estado. A Guatemala ficou absolutamente só na América Latina, nesta luta de um grande país pequeno contra a o maior Estado imperial do mundo.”
(Rampinelli, 2007, p. 114)
Revolução Cubana, 1959
Cuba é uma pequena ilha no Caribe que foi colônia da Espanha e obteve sua independência em 1898, contando com o apoio norte-americano, que operava dentro da lógica “América para os americanos”, doutrina idealizada por Theodore Roosevelt e que desejava afastar toda a influência europeia da região.
Fatores que desencadearam a Revolução
Em 1902, foi implantada a República na ilha e os norte-americanos adquiriram, através da implantação da Emenda Platt, o direito de intervir na ilha caso seus interesses estivessem ameaçados. Cabe ressaltar que essa emenda constava da Constituição cubana. A economia de Cuba era baseada principalmente na exportação de açúcar e disso saía grande parte dos recursos do país. 
De 1934 a 1959, a presidência da República foi ocupada por Fulgencio Batista, um militar que havia liderado a Revolta dos Sargentos, resultando na instauração de um governo provisório liderado por Ramon Grau de San Martin. Batista, o verdadeiro homem forte do país, atuou nos bastidores e delegou poderes a civis de sua confiança até que, em 1940, passou a ocupar a presidência do país, através de eleições consideradas fraudulentas.
Fulgencio Batista
Batista, o verdadeiro homem forte do país, atuou nos bastidores e delegou poderes a civis de sua confiança até que, em 1940, passou a ocupar a presidência do país, através de eleições consideradas fraudulentas. É importante frisarmos que Batista acumulou imensa fortuna pessoal e se tornou um dos homens mais ricos do país.
Fulgencio Batista governava Cuba com total apoio dos norte-americanos e, em 1952, deu um golpe contra o então presidente Carlos Prio Socarras. Em 1952, haveria eleições para a presidência e Batista estava disputando-as, contudo, pesquisas o colocavam em terceiro lugar nas intenções de voto. Assim, a apenas 4 meses da eleição, Batista dá um golpe e assume a presidência do país. O desemprego e a queda na qualidade de vida da classe média fazem com que a insatisfação com Batista comece a crescer.
Luis Fernando Ayerbe afirma que:
“A frustração das expectativas dos setores que apostavam na vitória eleitoral de junho de 1952 deu lugar rapidamente à organização de movimentos de resistência, que passam a colocar a luta armada como principal método de ação política. Da mesma forma que, no período de Machado, os atores de vanguarda virão da universidade, que faz as primeiras manifestações contra o golpe e se torna a fonte principal da formação de organizações clandestinas, abarcando um amplo espectro de posições, desde os adeptos do presidente deposto, Prío Socorrás, até os militantes do Partido Ortodoxo, em que começa a destacar-se a figura do jovem advogado Fidel Castro.” (2004, p. 28-29).
A insatisfação com o governo de Batista crescia a passos largos e a situação interna de Cuba demonstrava alto grau de disparidade entre diferentes setores da população. A maioria do povo vivia no campo e não contava com água encanada e nem luz elétrica e faltava trabalho para muitos. A ilha era considerada um local de divertimento de norte-americanos, famosa por seus cassinos e bordéis. Em 1953, começou a organizar-se dentro da ilha uma forte oposição ao governo de Batista e, nesse momento, destaca-se a figura de um jovem advogado, Fidel Castro, que, junto com alguns de seus companheiros, organizaram uma ação para tomar o quartel de Moncada, o mais importante do país, e ocupar os principais pontos estratégicos da cidade e do Estado. 
 Em 23 de julho de 1953, iniciaram o assalto ao quartel, que resultou em fracasso, pois houve uma grande falta de coordenação entre os grupos que fizeram parte da operação. 
Início das lutas
Em 1955, o grupo que foi condenado conseguiu anistia, se reorganizou e tramou uma nova investida para derrubar o governo de Fulgencio Batista. 
Iniciou-se então, um período de lutas de guerrilha e, ao término do processo, em 1959, Fidel e seus companheiros obtiveram vitórias. Fulgencio Batista fugiu. Sobre essa questão, Emir Sader relata afirmando que: 
“Quando a queda de Havana já era questão de horas, Batista reuniu todos os seus ministros, secretários, oficiais das Forças Armadas e auxiliares diretos para uma festa de Ano Novo, no quartel Columbia, onde residia. Sem que praticamente ninguém soubesse, na hora do brinde, Fulgencio Batista anunciou que, “para evitar maior derramamento de sangue”, ele decidia abandonar o país, para o que tinha preparado alguns aviões e a lista de pessoas que poderiam embarcar com ele. E partiu para a República Dominicana, dado que os Estados Unidos se recusaram a conceder-lhe asilo. O tratamento que receberá de seu grande amigo Trujillo tampouco será lisonjeiro, pela aura de covardia que reinará sobre a sua imagem.” (1985, p. 40)
Inicialmente, o novo governo, sob a liderança de Castro, foi reconhecido pelos principais países do continente. 
 Os bens vinculados a Batista e as famílias atreladas aos seus negócios foram confiscados e redistribuídos. Iniciou-se a reforma agrária, a redução no preço dos aluguéis, nos livros escolares, nas tarifas de eletricidade. Um forte e amplo programa reformista foi administrado para melhorar a situação da ilha.
Fidel e os americanos
Nos anos de governo do Presidente Kennedy e diante do quadro gerado pela Guerra Fria, as preocupações com a América Latina e seus movimentos cresceram significativamente e, de início ele se tornou motivo de inquietações por parte dos norte-americanos. 
De acordo com Luis Fernando Ayerbe
“As preocupações com a região adquirem prioridade com a constatação dos erros das políticas anteriores, que enfatizavam o alinhamento político em razão da Guerra Fria, apoiando sem nenhuma seletividade todo regime aliado e combatendo aqueles que ensaiavam voos próprios, sem medir meios e consequências de médio e longo prazo causados pela imposição de opções antipopulares. A Revolução Cubana aparece nesse momento como um indício do que pode acontecer com outros países, caso a política externa dos Estados Unidos continue apostando exclusivamente no intervencionismo”.
É importante pensarmos que a Revolução Cubana, apesar de ter um significado muito importante para a História Contemporânea, ocorreu na América Latina e adquiriu grande significado para a condução da política norte-americana na região, tendo também uma enorme importância no contexto da Guerra Fria.
Golpes Militares na América Latina
Conforme já vimos, a região da América Latina sempre esteve envolvida em processos de alteração de sua ordem política. 
 Destacamos, como exemplo, a própria ocupação da região, colonizada por portugueses e espanhóis e que buscou a sua independência de diferentes maneiras, ao longo do século XIX, com destaque para a ocorrência de lutas em algumas regiões como forma de garantir a sua liberdade.
Os países que então se formaram aderiram ao modelo republicano de governo mas, em algumas regiões, lutas foram empreendidas para que o seu direito de escolha pudesse ser acatado.
Início do século XX
O século se iniciou com a Revolução Mexicana, que refletiu em uma luta de camponeses para buscar melhorias em suas condições de vida, passando pela tentativa de toda a região em se afirmar diante do cenário imposto pela primeira metade do século XX.
Claro que não podemos deixar de destacar a grande influência que os norte-americanos sempre buscaram exercer na região e que ganhou um vulto maior após o fim da Segunda Guerra Mundial e a inserção da União Soviética no cenário internacional. Nesse sentido, o temor de um crescimento do comunismo, em todo o mundo, fomentou diversas intervenções e, principalmente, o apoio dos Estados Unidos para os diversos golpes militares que ocorreram, em especial, os que se efetivaram na América Latina.
Por trás das manifestações
Também não podemos deixar de comentar sobre o próprio contextoque acompanhou a América Latina nos anos 1950, onde analisamos:
Todos os movimentos citados, revelaram o desejo de mudança na condução da política e da economia latino-americanas e já acenavam para conflitos. De todos os movimentos estudados, ganha destaque a Revolução Cubana, principalmente por ser uma ação guerrilheira que contou com ampla adesão de camponeses e obteve sucesso. Após, alinhou-se à União Soviética e consolidou-se como uma revolução comunista nas Américas.
Com certeza, o temor do crescimento das ideias plantadas pela Revolução Cubana, aliado ao próprio contexto da Guerra Fria, trouxe incertezas quanto ao futuro da região.
Golpes militares
Entre as décadas de 1960 e 1980, a América Latina foi alvo de uma sucessão de golpes militares. Eric Hobsbawm afirma que:
“Pois mesmo na América Latina as grandes forças da mudança política eram políticos, civis e exércitos. A onda de regimes militares direitistas que começou a inundar grandes partes da América do Sul, na década de 1960 – o governo militar jamais saíra de moda na América Central, com exceção do México revolucionário e da pequena Costa Rica, que na verdade aboliu seu exército após uma revolução em 1948 – não respondia, basicamente, a rebeldes armados. Na Argentina, eles derrubaram o caudilho populista Juan Domingo Perón (1895-1974), cuja força estava na organização dos trabalhadores e na mobilização dos pobres (1955), após o que se viram retomando o poder a intervalos, pois o movimento de massa peronista se revelou indestrutível e não se pôde construir nenhuma alternativa civil e estável.” (1995, p. 429)
Cada país apresentou uma conjuntura interna que facilitou a tomada do poder pelos militares e isso não pode e não deve ser desconsiderado, principalmente devido ao aumento da luta de guerrilha que se espalhou pela região e começou a questionar os rumos políticos do país. É importante que os analisemos para que fique determinado o caráter de responsabilidade interna quanto aos rumos seguidos por cada uma das nações que passaram pelo golpe.
Medo do comunismo
Um importante ponto a ser destacado aqui e já citado anteriormente é o temor pelo aumento da esquerda na América Latina e seu ideário comunista. Não podemos nos esquecer de que os partidos comunistas cresceram muito após o fim da Segunda Guerra Mundial e isso os colocou em destaque, apesar de alguns passarem por processos legais de cassação de seu registro político (caso do Partido Comunista do Brasil) ou de entrarem em um ostracismo (caso do Partido Comunista da Argentina).
Outro ponto de destaque é o fato de que sempre houve uma dura propaganda anticomunista na região, fortemente desenvolvida no Brasil e que tornou-se um dos pilares para o apoio ao golpe ocorrido no país em 1964.
Osvaldo Coggiola (2001) destaca que há uma grande dificuldade em determinarmos traços comuns a regimes e situações políticas diversas, pois tivemos alguns golpes nacionalistas e populistas, e repressivos e entreguistas, mas no que concernem as diferenças, podemos identificar como ponto comum:
Analisando ainda os golpes militares que ocorreram, é possível compreender que eles modificaram bastante a história da região, inaugurando um período de ditaduras em praticamente todos os países e consolidando um forte alinhamento com os Estados Unidos. A seguir, veremos os alvos de golpe militares: Bolívia, Brasil, Chile e Argentina.
Bolívia, 1964
Na Bolívia, em 1964, foi derrubado o governo civil do Movimento Nacionalista Revolucionário, considerado herdeiro da revolução de 1952.  
René Barrientos Ortuño liderou as Forças Armadas nessa ação, iniciando um processo que se estendeu por grande parte da América Latina ao longo de 20 anos.
Com a chegada de Barrientos ao poder, parte das reformas buscadas pelo movimento de 1952 acabou sendo abandonada. O novo governo que se instaurou foi apoiado pelos norte-americanos, sendo fortemente marcado por:
Barrientos morre em um acidente de avião, no ano de 1969, tendo seu governo sido marcado pelo assassinato de Ernesto Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana e que se encontrava na Bolívia, em uma tentativa de promover ali também alguma forma de combate ao governo que havia se instalado no país. Guevara foi morto, em uma ação militar, em outubro de 1967 e alçado a condição de mito, sendo considerado um dos maiores revolucionários da América Latina e inspirando jovens e gerações posteriores.
Brasil, 1964
No Brasil, tivemos a instauração de uma ditadura militar que derrubou o governo de João Goulart.
As forças de esquerda caminhavam em direção a um reformismo do Estado, com forte pressão pela reforma agrária e de base, gerando intenso temor por parte de setores da elite brasileira que, insatisfeitos com o governo de Jango - acusado por alguns grupos de ser comunista - apoiaram a tomada do poder pelos militares.
Ressaltamos também que grande parte da classe média brasileira também se mostrou favorável à tomada de poder pelos militares.
Nesse golpe, é interessante destacar o apoio norte-americano para a ação, consolidado na figura do embaixador Lincoln Gordon, que tinha estreitas relações com o palácio presidencial durante e após a orquestração do golpe de 1964. O grau de envolvimento dos norte-americanos, no golpe perpetrado contra Jango, aparece claramente na Operação Brother Sam que não se efetivou, e todo o aparato militar enviado ao Brasil foi deslocado sem a necessidade de entrar em ação.
Argentina, 1966
Dentro do quadro de estabelecimento de ditaduras militares na América Latina, ocorreu na Argentina, em 1966, um levante organizado pelo exército e liderado por Juan Carlos Onganía, derrubando o governo civil de Arturo Illia do Partido Radical.
De acordo com Osvaldo Coggiola, os governos civis que sucederam o governo militar de Aramburu, em 1957 e que havia derrubado Perón através de um golpe em 1955, padeceram de instabilidade política crônica devido a proscrição do Partido Peronista, então majoritário e cujo líder, Perón, se encontrava exilado na Espanha. 
Havia ainda uma grande hostilidade ao movimento operário e aos sucessivos ultimatos dos militares e, nesse sentido, os governos civis se sentiam reféns das Forças Armadas. A ditadura encarregou-se de dissipar a ilusão de uma possível volta dos peronistas e adotou algumas atitudes radicais. Houve uma forte associação da burguesia argentina com o capital estrangeiro, consolidando o projeto de penetração norte-americana na região. Esse projeto necessitava da deposição de vários governos civis como forma de garantir a tranquilidade necessária as suas negociações.
Jornada Cordobaço
O governo de Onganía agiu com forte repressão a movimentações dos trabalhadores na região, atingindo seu auge com a jornada conhecida como “Cordobaço”.
Grandes empresas foram ocupadas e ao final da tarde do mesmo dia o Exército consegue entrar na cidade e retomar seu controle. Após esse acontecimento, ocorreu uma greve geral em todo o país, confirmando que a população estava pronta para apoiar combates contra a ditadura. Depois desse movimento, o governo de Ongania tornou-se enfraquecido, sendo destituído pelas 
Forças Armadas, sob a liderança de Roberto Marcelo Levingston, que também não deu nenhuma resposta ao movimento dos trabalhadores. Devido ao fato de que as mobilizações populares colocavam em risco a estabilidade do Governo, foi efetuado um novo golpe de Estado, levando ao poder o General Alejandro Agustín Lanusse, em março de 1971, que governou até 1973.
Perón, mesmo do exílio, começou a articular seu retorno à política argentina, mas quando ocorreram as eleições, em 1973, o candidato vencedor foi Hector José Cámpora, que governou por pouco tempo. Cámpora renunciou alguns meses depois e convocando novas eleições, vencidas pela chapa Perón-Perón - essa era composta por Juan Domingo e sua esposa, Maria Estela Martinez de Peron, conhecida como Isabelita Perón.
O presidente morreu alguns meses depois e sua esposa, então vice-presidente, assumiu o governo no país sendo, posteriormente destituídapor um golpe militar perpetrado por Jorge Rafael Videla, que governou o país pelos anos seguintes.
Chile, 1973
O Chile também foi alvo de um golpe militar que marcou os rumos políticos do pais durante os anos seguintes. 
Em 1970, o país passou por eleições democráticas e o candidato eleito foi Salvador Allende, vitorioso através da coalizão de esquerda denominada Unidade Popular (UP), formada pelos partidos socialista e comunista, setores católicos e liberais e contando com enorme apoio dos trabalhadores urbanos e também de camponeses.
Reação da ultradireita chilena
A ultradireita chilena ficou temerosa de ter mais um governo socialista na região, pois o governo de Allende havia se comprometido com o processo de reforma agrária e nacionalização da economia, acreditando em reformas econômicas que pudessem melhorar a vida dos trabalhadores. 
Insatisfeitos com os rumos que Allende pretendia dar ao país, eles articularam um golpe contra o presidente, apoiados pela CIA e chefiado pelo General Augusto Pinochet, contando ainda com a aprovação da burguesia chilena e o apoio dos norte-americanos.
De acordo com Osvaldo Coggiola...
“O compromisso de Allende e da UP, já selado desde a vitória eleitoral de 1970 por meio de um “pacto de garantias”, de não tocar os alicerces do Estado e principalmente as Forças Armadas, e de manter seu programa de reformas dentro dos limites do regime capitalista, não foi suficiente para conter uma direita que, também desde 1970, começou a se organizar para dar uma saída radicalmente reacionária à situação de crise e mobilização popular. O eixo dessa saída seria novamente a coluna vertebral do Estado: as Forças Armadas”. (2001, p.32) As mobilizações populares se tornaram um obstáculo para o avanço da direita no Chile e era um problema que precisava ser resolvido. Os operários continuavam tentando impulsionar transformações revolucionárias, que lhes garantisse melhores condições, o que foi mais um motivador para que o golpe pudesse ser gestado e o país passou a viver sob o clima de golpe com setores expressivos da população reagindo a essa possibilidade, principalmente por perceberem as articulações que estavam sendo levadas a cabo pelos patrões. Quanto às reações do governo de Allende, Osvaldo Coggiola afirma que: “Enquanto setores expressivos do movimento popular reagiam ao clima de possível golpe, denunciando as articulações da cúpula militar e sustentando a mobilização, os chefes políticos da UP não faziam nada de concreto para preparar um enfrentamento com a direita. Pelo contrário, eles insistiam, obstinadamente, em promover um acordo com a direita e implantar um novo plano econômico de caráter extremamente vago, que não respondia às exigências do momento. Mais grave ainda é que Allende não propunha nenhuma orientação de confronto com o Congresso conservador, sujeitando-se a fazer cada vez mais concessões à Democracia Cristã, argumentando que a guerra civil deveria ser evitada, guerra que há tempos já fora deflagrada contra os trabalhadores sob os olhares passivos do governo. Nesse contexto final de deterioração do quadro político e institucional e de aguçamento das lutas de classes, as diferenciações políticas já latentes no interior de UP surgiram com certa nitidez.” (2001, p. 42-43)
No dia 11 de setembro de 1973, o Chile amanheceu sob os auspícios de um golpe que instituiu uma das mais violentas ditaduras na América Latina. Seu presidente, Salvador Allende, apesar de toda a organização do Exército para tomar o Palácio La Moneda, resistiu o quanto julgou possível até ser definitivamente derrotado combatendo àqueles com quem tentou buscar conciliação, demonstrando que resistir ao golpe no país era impossível.
Segundo seu médico pessoal, Allende cometeu suicídio para não se entregar, disparando contra si com uma arma dada a ele por seu amigo, Fidel Castro, um AK-47. 
A América Latina foi palco de um conjunto de ditaduras que marcaram a sua história e a transformaram em uma região de intensos conflitos e mortes, fator que marcou os governos militares na América Latina durante as décadas de 1960 a 1980.
Governos Militares na América Latina
A inserção do continente americano na Guerra Fria 
A América Latina viveu, entre as décadas de 1960 e 1980, uma série de golpes militares que instauraram na região um clima de terror e incertezas quanto ao seu futuro político. Dentro da lógica da Guerra Fria, havia a necessidade de combater o comunismo em todos os lugares e, claro que não podemos deixar de considerar que a ascensão da Revolução Cubana em plena América reforçou ainda mais esse quadro.
O crescimento das ideias comunistas era uma realidade em várias regiões do mundo e isso se deveu principalmente ao fortalecimento da União Soviética no pós-Segunda Guerra Mundial. Já durante os anos 1950, marcadamente, tivemos um forte crescimento do capitalismo naquilo que Hobsbawn chamou de “Os anos dourados”.
Após a instauração dos golpes militares...
Produtos de processos políticos muito específicos em cada país e ligado ao contexto de crescimento do trabalhismo e de anseios democráticos, na região, cada regime visualizou a melhor forma de se manter no poder e diminuir qualquer influência desses setores.
Notadamente, percebemos um forte processo de caça aos ativistas políticos que pudessem representar ameaça ao regime, ainda que fosse de cunho teórico. 
Caso do Chile de Pinochet 
Houve uma forte detenção de ativistas políticos que foram para campos de concentração ou mesmo assassinados, cabendo aqui destacar que ele, diferente de outros ditadores latino-americanos, permaneceu no poder até o fim da ditadura, consolidando a noção de “ditadura de um homem só”. Marcadamente, um dos mais fortes traços desse regime foi a perseguição aos seus opositores e para consolidar isso, foi criada, no Chile, a DINA, que segundo Priscila Antunes: “Embora já atuasse em fins de 1973, a Dirección de Inteligencia Nacional/DINA foi inicialmente implementada sem qualquer norma jurídica que respaldasse sua atuação. O Departamento de Inteligência seria oficialmente transformado em DINA, em janeiro de 1974, sendo que sua constituição formal se produziria apenas em 11 de junho daquele ano. O Decreto 521 responsabilizava a DINA por colaborar com o governo chileno de forma imediata e permanente, por proporcionar de forma sistemática e devidamente processada, toda informação requerida, no sentido de adequar suas resoluções no campo da segurança e do desenvolvimento nacional, e por adotar as medidas necessárias ao resguardo da “segurança nacional” e ao desenvolvimento do país. Dessa forma a DINA, organismo técnico-profissional dependente direto da Junta de Gobierno, tornou-se responsável por coletar e reunir informações provenientes “de los diferentes campos de acción” para auxiliar na produção de toda inteligência requerida para a formulação de políticas destinadas a proteger a segurança do país. Na prática, esse órgão dependeu diretamente do General Augusto Pinochet, pois de acordo com o General Gustavo Leigh, um dos principais articuladores do golpe militar, “nadie de la Junta podía meterse en la DINA”. A DINA seria conduzida por Manuel Contreras desde sua criação não oficial em 1973, até sua extinção em 1977. Esse cargo permitiria ao então Coronel Contreras solicitar informes e documentos a quaisquer serviços públicos ou empresas e sociedades em que o Estado possuísse representação ou participação.” A DINA foi a responsável pela repressão no Chile e por caçar opositores ao regime até no exterior, como o caso do assassinato de Orlando Letelier, diplomata chileno que estava nos Estados Unidos e que fazia forte oposição ao governo de Pinochet, foi alvo de um atentado. O carro onde estava explodiu em uma rua de Washington, matando ele e sua amiga que estavam no veículo, Ronnie Moffit. Seu marido, Michael Moffit, conseguiu sobreviver ao atentado. A ação chilena dentro de território norte-americano acabou por minar um pouco o apoio dado pelos Estados Unidos ao Chile, que passa a contestar a violaçãoaos Direitos Humanos ocorrida no país durante o governo de Pinochet. Os norte-americanos tiveram forte presença na manutenção da ditadura chilena. De acordo com Osvaldo Coggiola: “O governo dos Estados Unidos, como ele próprio teve de reconhecer posteriormente, foi o grande articulador do golpe chileno, ao qual forneceu apoio logístico, político, financeiro e militar. A conspiração pinochetista foi orquestrada na própria embaixada norte-americana, que pouco se importou com a segurança dos próprios cidadãos norte-americanos apanhados pela fúria homicida dos militares chilenos (o que inspirou um celebrado filme norte-americano, Missing, interpretado por Jack Lemmon, que daria repercussão mundial à questão dos desaparecidos políticos)”. (2001, p.52) Osvaldo Coggiola destaca ainda que o apoio dos norte-americanos não se limitou ao golpe. A política econômica estabelecida por Pinochet foi acompanhada e encorajada pelos norte-americanos, amparada na ideia do livre mercado e da abertura para o capital internacional com consequente redução de entraves para a importação, o que fez com que muitas companhias da região amargassem dificuldades financeiras e passassem a questionar o apoio dado ao golpe.
Considerações do caso Pinochet
Há quem considere o caso do Chile como a primeira experiência neoliberal da região da América Latina. Por conta dessa experiência neoliberal e abertura ao capital estrangeiro, houve reduzida diminuição nos postos de trabalho e a repressão ao movimento trabalhista acabou por minimizar as contestações ao regime. Houve aumento significativo da pobreza, gerando um intenso retrocesso no país.
Na Argentina
Na Argentina, também tivemos um intenso processo de perseguições que marcaram a ditadura estabelecida naquele país. Com a tomada do poder por uma junta militar que depôs a Presidente Isabelita Perón, tivemos a consolidação das ditaduras no Cone Sul e em grande parte do restante da região. A partir do momento em que os militares assumiram o poder, foi organizada uma intensa perseguição a todos que fossem considerados inimigos do regime. Posteriormente, no rol de queda das ditaduras militares na América Latina, o país dá início ao seu processo de redemocratização. 
Apesar da Argentina ter ficado pouco tempo sob domínio de governos militares, sua história não se tornou muito diferente de outros países da região, com repressões, crescimento de dívidas, violações aos Direitos Humanos  e busca pela eliminação de opositores.
O governo foi exercido por Jorge Rafael Videla (foto), que ficou na presidência do país entre os anos de 1976 e 1981, sendo substituído por outro general devido ao desgaste de seu governo.
Aumento da dívida externa
Como ocorreu em outros países, a economia argentina passou por crises e teve um forte aumento da corrupção, elevada a níveis muito altos e que acabou por aumentar significativamente a dívida externa do país. 
O peso dos sindicatos foi fortemente reduzido com a ocorrência de várias intervenções. Assim como no Chile, houve uma forte abertura da economia para o capital internacional e também eliminação de tarifas; houve queda na produção industrial e o endividamento do país se tornou maior ainda, apesar de vários planos dos militares para tentar equilibrar a vida econômica do país.
Madres de Plaza de Mayo
O desaparecimento tornou-se uma questão interna argentina muito forte, marcando a fase da ditadura militar neste país e tornando-a, ao lado da chilena, uma expressão da violência que marcou a América Latina nos anos 1970. 
De acordo com Osvaldo Coggiola:
“Entre 1976 e 1983 funcionaram na Argentina 362 campos de concentração e extermínio. Por aí passaram mais de 30 mil pessoas dentre os quais militantes políticos, ativistas sociais, opositores ou simples testemunhas incômodas dos tantos sequestros que diariamente se produziam. A maioria delas nunca mais apareceu. Seus filhos, no melhor dos casos, foram criados por tios ou avôs. Outros foram “apropriados” pelos mesmos assassinos de seus pais e ainda permanecem sequestrados, como uma espécie de butim de guerra. A maioria dos que se encontram nessa situação ainda hoje ignora o passado, nem sabe quem foram seus pais verdadeiros”.
A entidade existe até os dias de hoje e transformou-se em um movimento de luta contra a ditadura na Argentina e uma forma de pressionar os governos posteriores a buscarem informações sobre os desaparecidos e, também, culpar os responsáveis pelos assassinatos e desaparecimentos.
Brasil
No Brasil, a ditadura se instaurou a partir de 1964 e se autodenominou Revolução de 1964. Implementou-se um golpe arquitetado pelos militares contra o então presidente João Goulart, que era considerado herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e buscava implantar no país reformas de base que ameaçavam o poder da elite brasileira.
Por sua importância e demografia, o golpe perpetrado no Brasil pode ser considerado como o mais importante da América do Sul.
Ditadura
A ditadura no Brasil foi uma das mais longas da região, durando 21 anos e contando largamente com apoio norte-americano para a sua consolidação, que buscava ver resguardados seus investimentos financeiros na região. 
O combate ao comunismo foi o principal motivador do golpe, contando com o apoio de grande parte da classe média brasileira, que posteriormente iria ver as reais intenções dos militares ao permanecerem no poder por longos anos.
Os setores mais reacionários do país estiveram ao lado dos militares, inclusive o golpe contou com apoio da Igreja Católica.
Implantação dos Atos Institucionais
Após o início da ditadura, o país viu sua estrutura política ser alterada pela implantação de Atos Institucionais que passaram a reger a vida política do país:
Formaram-se, no Brasil, vários grupos de resistência à ditadura tais como o MR-8 e a Guerrilha do Araguaia (foto). Diferentes formas de protesto se consolidaram no país apesar de toda a repressão.
Operação Condor
Para se consolidar na América do Sul, as ditaduras militares estabeleceram uma rede de comunicações que lhes garantia obter informações e prender vítimas do esquema de repressão conjunta organizada entre as ditaduras do Cone Sul. 
Houve uma unificação das Forças Armadas de diferentes países estabelecendo um pacto para coordenar forças e operações repressivas e eliminar àqueles considerados inimigos do governo.
Osvaldo Coggiola analisa a Operação Condor e afirma que:
“A ação criminosa dos exércitos e das polícias do Cone Sul incluíram, à rotina atroz das desaparições, as torturas, os “voos da morte” (nos quais os prisioneiros políticos eram jogados sobre o Rio da Prata ou sobre oceano, de grandes alturas e ainda vivos) e os roubos de propriedades dos sequestrados. As operações de extermínio atingiam a todos, inclusive oficiais de prestígio como o general uruguaio Ramón Trabal, em Paris, em 1974; o General Juan José Torres, ex-presidente da Bolívia, em Buenos Aires, em 1976 e o general chileno Julio Prats e sua esposa em Buenos Aires, em 1974.” (2001, p. 69)
Justificativa militar
Para justificar a aliança, afirmavam que era contra a subversão e o comunismo, mas na verdade desejavam minar toda e qualquer forma de resistência ao regime em todos os países que compunham a Operação Condor. E que, quando vieram a público documentos e informações sobre a rede de espionagem, foi fortemente demonstrado o grau de cooperação entre os países do Cone Sul.
A América Latina viveu um de seus períodos mais críticos e marcados pela violência, dentro de um contexto de Guerra Fria e de fragilidade das instituições democráticas, conseguindo se recuperar dos efeitos das ditaduras no governo anos depois.
Redemocratização na América Latina
A região da América Latina foi marcada por diversos golpes militares, que a inseriram em um período de intensa repressão e violação aos direitos humanos. Houve ainda um discurso homogêneo na região contra a ascensão do comunismo e por uma melhoria no nível econômico dos países.
A ideia de um inimigo interno e da importância de combatê-lofoi um dos pilares de sustentação dos regimes, mas em um determinado momento esse discurso perde a validade. Então, começamos a ter efetivamente o início da queda das ditaduras militares na região como um todo.
O suposto “fantasma do comunismo” foi uma das justificativas para a implantação das ditaduras militares dentro do contexto da Guerra Fria, mas os objetivos eram outros. Era primordial deter a expansão do trabalhismo e minar o reformismo que estava começando a se gestar na região.
Os movimentos de resistência às ditaduras existiram em todos os países
Foram uma marca no combate a esses governos, que contaram abertamente com o apoio estadunidense para sua manutenção. O país esteve na origem da implantação de diversas ditaduras, fornecendo apoio logístico e financeiro para que elas obtivessem sucesso. No entanto, o final dos anos 1970 marcou uma virada na política de todo o continente americano.
Nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, assumia o cargo de presidente Jimmy Carter, um democrata que buscou modificar a política tanto na região do continente quanto na própria história. Durante seu governo, Carter tornou-se mediador no conflito entre árabes e israelenses, através do acordo de Camp David, que buscava a paz entre Israel e Egito, com a devolução pelos israelenses da Península do Sinai, ocupada por eles desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Além da península, outras regiões haviam sido conquistadas pelos israelenses nesse conflito. Ele também estabeleceu relações diplomáticas com a China comunista, buscou estabelecer com os soviéticos um controle maior no uso de armamentos e procurou reduzir tensões políticas com Cuba.
Carter promoveu uma política de paz e foi em seu governo que o Panamá recebeu a promessa de devolução de seu canal.
Na América Latina
No contexto da América Latina, Carter mostrou-se favorável ao fim das ditaduras militares na região, com o objetivo de estabelecer novas políticas econômicas junto aos latino-americanos. Sua política baseada nos direitos humanos passou a pressionar os países em prol de mudanças.
Há um retrocesso nas condições de vida da população, com estagnação econômica em grande parte da região. 
De acordo com Coggiola:
Na Argentina
Na Argentina, em março de 1982, foi organizada uma grande greve, marcando forte mobilização da oposição à ditadura. Dentre as várias exigências, estava a queda da ditadura.
O governo do ditador Jorge Rafael Videla entra em crise, principalmente devido a disputas políticas entre os próprios militares e a insatisfação desses com a condução política por Videla e sua “inabilidade” para lidar com a situação econômica do país e com a “intranquilidade” civil.
 Foi substituído por Roberto Viola, chefe do Estado Maior do Exército, que adotou medidas consideradas também ineficientes e com muitos fracassos econômicos.Uma junta militar declara Viola incapaz de continuar na Presidência por supostos problemas de saúde. Pouco depois, Leopoldo Galtieri assume a presidência do país.
Foi durante o governo de Galtieri que as Forças Armadas, em 1982, invadiram as Ilhas Malvinas, situadas a 464 km da costa argentina. O arquipélago tinha uma posição geográfica estratégica, e os argentinos reclamavam para si esse território.
Um dos principais objetivos de Galtieri era unir a nação em um desejo patriótico e garantir maior apoio ao governo militar. Os Estados Unidos apoiaram a Inglaterra na contenda.
Milhares de soldados argentinos foram mortos e uma forte onda de indignação popular ocorreu, levando a substituição de Galtieri pelo general Reynaldo Bignone. A crise interna se acirrou ainda mais, as manifestações públicas contra o governo se fortaleceram e a ditadura argentina entrou em colapso.
No Brasil, o fim da ditadura militar coincidiu com o momento político que toda a região vivia
A segunda metade da década de 1970 marcou o início de transformações na história do país, com manifestações operárias contra o governo crescendo cada vez mais. As perdas salariais eram visíveis e o desejo de reposição era uma realidade. As lutas operárias começaram a avançar cada vez mais e uma forte onda grevista começou a se estruturar, junto com o movimento popular pelo fim da ditadura, com manifestações públicas em todo o país.
O então Deputado Dante de Oliveira apresentou uma Emenda Constitucional que objetivava reinstaurar as eleições diretas para Presidente no Brasil e houve forte pressão popular para que a emenda fosse aprovada pelo Congresso. Porém, a emenda foi rejeitada e o Brasil continuou elegendo presidentes indiretamente. 
A campanha das Diretas Já ganhou espaço intenso na sociedade, e nas principais capitais do país as pessoas iam às ruas demonstrar abertamente sua insatisfação com a ditadura.
Brasil (1985)
Em 1985, foi eleito pelo Congresso Nacional Tancredo Neves, que faleceu antes de tomar posse, assumindo o então Vice-presidente José Sarney. 
Assim, o Brasil deixava para trás os governos militares, mas continuava dentro de um sistema que não garantia a participação popular na escolha do Presidente, fator que se alterou no ano de 1989, com a primeira eleição direta desde o advento dos governos militares no Brasil.
No Chile
No Chile de Pinochet, pressões políticas e internacionais passaram a desmobilizar a ditadura, principalmente diante das acusações de violação aos direitos humanos, que marcou a presidência de Pinochet. O plebiscito decidiu por sua não continuidade na presidência, negando a renovação de seu mandato. A continuidade do governo de Pinochet havia sido colocada em questão por conta das dificuldades econômicas por que o país passava. 
No ano seguinte, foi eleito para a presidência o democrata-cristão Patricio Alwin, marcando o definitivo retorno do Chile à democracia. 
Sobre a redemocratização na região, Coggiola afirma:
A crise econômica mundial afundou as ditaduras militares, que procuraram inaugurar uma fase de desenvolvimento econômico e impôs a necessidade da substituição desses regimes.
 (...) Em caso algum, a mudança de um regime militar para um regime civil significou verdadeiramente a implantação de uma democracia política, mas a fachada constitucional para um conjunto de instituições que tinham sua origem na ditadura militar.
Os compromissos internacionais estabelecidos no período ditatorial foram respeitados pelos governos emergentes dos processos democráticos, em especial a dívida externa.
Fim da ditadura em outros países
Além dos países aqui citados, vários outros viveram o término de suas ditaduras militares, na maioria das vezes por insatisfação de suas elites econômicas e por questões políticas internas. Claro que isso deve também ser pensado em conjunto com o término da Guerra Fria e o do fantasma do comunismo, ainda que esse, na América, nunca tenha sido realmente um perigo representativo. 
Destacamos que o fantasma do comunismo foi um dos fatores para legitimar as ações militares empreendidas na região, fortalecendo perseguições, tudo em nome de livrar a sociedade do “perigo vermelho”.
Analisando o quadro do término das ditaduras militares na América Latina, percebemos que, de imediato, as heranças de anos de governos militares foram difíceis de superar, principalmente no aspecto de lidar com a impunidade dos agentes do Estado, que empreenderam vários crimes.
Muitos países buscaram formas de denunciar seus criminosos e buscar a real punição para eles, empreendendo julgamentos e revelando os bastidores de um período negro na história da região, de uma violência desmedida e que custou a vida de muitos que sonharam com um país mais justo. 
Fim da ditadura na América Latina
O fim das ditaduras militares, na América Latina, marcou uma fase de transição na região, com a ascensão de governos democráticos e eleições diretas. 
Ao mesmo tempo em que ocorreu o término desses governos militares, a Guerra Fria, fator que marcou toda a segunda metade do século XX e colocou em lados opostos o capitalismo e o socialismo, ambos representados respectivamente por Estados Unidos e União

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