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WEB 13 - João da Silva é proprietário de um terreno não edificado e que vem servindo de atalho para se chegar à única escola pública da sua região. A grande maioria das crianças do bairro costumam passar por dentro da propriedade de João da Silva. Incomodado com o grande número de crianças circulando em sua propriedade, João da Silva resolver proibir a passagem das crianças de pele negra, como meio de reduzir o número de crianças que cortam o caminho para a Escola por seu terreno. A família de uma das crianças decide ajuizar uma ação para obrigar João da Silva a liberar a passagem de todas as crianças, amparando sua pretensão no direito à igualdade. Citado, João da Silva argumenta que a propriedade é sua e que não há nenhuma lei infraconstitucional que o obrigue a liberar a passagem por sua propriedade. Alega que, nos termos do inciso II do artigo 5º da Constituição de 1988, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Portanto, como não há nenhuma lei que o impeça de proibir o trânsito pela sua propriedade, ele pode permitir a passagem de quem bem entender. Na qualidade de juiz da causa e com espeque na reconstrução neoconstitucionalista, responda, JUSTIFICADAMENTE, se o caso em tela é de aplicação direta dos direitos fundamentais nas relações entre particulares? Muito embora o terreno seja propriedade de João da Silva, o direito fundamental de igualdade pode perfeitamente incidir diretamente sobre uma questão de natureza privada. Neste caso, seria uma hipótese de aplicação da teoria da eficácia imediata dos direitos fundamentais. O aluno deve compreender que a eficácia horizontal (vinculação dos particulares aos direitos fundamentais) é bem diferente da eficácia vertical que atrela os poderes estatais aos direitos fundamentais. Não se há de confundir os destinatários de uma e de outra modalidade de eficácia. O próprio §1º do art. 5º que garante aplicação imediata para as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais nada sentenciou sobre a quem se destina tais normas, ou seja, devem ser exigidas só contra os agentes estatais, ou, não, vinculam também os particulares. Portanto, no caso em tela, deve o juiz da causa aplicar a teoria da eficácia imediata dos direitos fundamentais, mediante um processo de ponderação de valores, que coloca de um lado a autonomia da vontade, e, do outro, o direito fundamental da igualdade. Como já destacado antes, tem prevalecido na doutrina e na jurisprudência a teoria da eficácia imediata. Em essência, tal teoria advoga a tese da verticalidade imposta pela supremacia constitucional, o que evidentemente implica na aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais na órbita privada.
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