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Profª. Simone Biangolino Transtornos Bipolar e Transtornos Relacionados 0 Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados são separados dos transtornos depressivos no DSM-5 e colocados entre os capítulos sobre Transtornos do Espectro da Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos e Transtornos Depressivos em virtude do reconhecimento de seu lugar como uma ponte entre as duas classes diagnosticas em termos de sintomatologia, história familiar e genética. TRANSTORNO BIPOLAR O Transtorno Bipolar difere do Transtorno Depressivo (Unipolar) no sentido em que envolve mudanças de humor entre DEPRESSÃO e MANIA. A característica-chave de identificação dos Transtornos Bipolares é a tendência de episódios maníacos se alternarem com episódios depressivos maiores em uma interminável montanha-russa que vai dos picos da elação às profundezas do desespero. TRANSTORNO BIPOLAR Devido a estes desvios, o Transtorno Bipolar foi previamente referido como Transtorno Maníaco- Depressivo. Há aparentemente um pequeno número de indivíduos que experimentam apenas a MANIA. TRANSTORNO BIPOLAR O aspecto maníaco do Transtorno Bipolar pode ter estado em desenvolvimento por algum tempo e pode tornar-se bastante sério antes que alguém perceba que há um problema. Somos frequentemente lentos para reconhecer um episódio maníaco porque o indivíduo não está aborrecido, ansioso ou deprimido. TRANSTORNO BIPOLAR Ao contrário o indivíduo está feliz, descuidado, despreocupado em relação a problemas potenciais, autoconfiante, aparentemente produtivo e constantemente com um humor brincalhão. A pessoa na fase de mania se sente bem no início, mas tende a perder seu controle. Ela muitas vezes se comporta de forma imprudente durante um episódio maníaco: desperdiça as economias em jogos de azar, envolve-se em atividades sexuais impróprias ou faz investimentos financeiros tolos, por exemplo. Ela também pode ficar com raiva, irritada e agressiva – provocando brigas, atacando os outros quando eles não concordam com seus planos e repreendendo quem critica seu comportamento. Algumas pessoas até entram em delírio ou começam a ouvir vozes. Mais do que apenas um bom ou mau humor fugaz, os ciclos do transtorno bipolar duram dias, semanas ou meses. E ao contrário de oscilações comuns de humor, as mudanças no transtorno bipolar são tão intensas que interferem em sua capacidade de atuar. TRANSTORNO BIPOLAR Sintomas de Humor Durante episódios maníacos, o humor predominante é a euforia. O paciente está empolgado, excessivamente feliz, emocionalmente expansivo e geralmente “voando alto” Sintomas de Humor De modo geral, para o indivíduo maníaco, “tudo serão rosas”, mas pode tornar-se irritado e raivoso quando alguém tenta cortar estas rosas. Sintomas Cognitivos Os sintomas cognitivos associados a um episódio maníaco incluem: Os pacientes com mania tem crenças completamente irrealistas sobre o que eles podem realizar Auto-estima inflamada Grandiosidade Sintomas Cognitivos Um outro sintoma importante observado na MANIA é: Em seus humores eufóricos e expansivos, os indivíduos maníacos não são capazes de manter a atenção focalizada sobre qualquer coisa por muito tempo e estão continuamente desviando a atenção ou sendo distraídos por ideias, problemas ou planos. Distraibilidade Fragmentação da Atenção Fuga Maníada de Ideias Sintomas Cognitivos Em alguns casos, a fuga de ideias e os desvios de tópicos são tão rápidos que é difícil seguir a trilha do pensamento de uma pessoa maníaca. Em decorrência de sua inabilidade de focalizar a atenção, e porque ficam mudando de tarefa para tarefa, a maioria dos pacientes maníacos é ineficaz e não obtém muitos resultados positivos A fuga de ideias e a confusão resultantes podem ser tomadas como distúrbios do pensamento do tipo esquizofrênico e, assim,às vezes erroneamente diagnosticados Sintomas Motores O comportamento motor dos indivíduos maníacos progride na mesma proporção que seu comportamento cognitivo excitado. Sintomas Motores Seus altos níveis de atividade e auto-importância exagerada podem levar algumas pessoas com mania a comportamentos bastante inapropriados. Notável em relação a isto são inumeráveis telefonemas, hipersexualidade e o gasto de dinheiro em excesso. Sintomas Somáticos O único sintoma somático consistente, observado na mania, é uma necessidade reduzida de sono. As pessoas sofrendo de mania estão constantemente “acesas” e “em movimento” e dormem muito pouco. MANIA A euforia ou alegria patológica, assim como a elação ou expansão do eu constituem a base da síndrome maníaca. MANIA Além disso, é fundamental, e quase sempre presente, a aceleração de todas as funções psíquicas (taquipsiquismo), manifestando-se como: Agitação psicomotora Exaltação Logorréia Pensamento acelerado De modo geral, pode-se observar os seguintes sinais e sintomas para síndromes maníacas: Aumento da auto-estima: o paciente sente-se superior, melhor, mais potente, etc. Elação, isto é, sentimento de expansão e engrandecimento do eu, Insônia, geralmente associada a sensação de diminuição da necessidade de sono. Logorréia, produção verbal rápida, fluente e persistente. Pressão para falar: paciente sente uma tendência irresistível a falar sem parar. Distraibilidade: a atenção voluntária está diminuída e a espontânea-aumentada. Agitação psicomotora: que pode ser muito intensa, até quadro de furor maníaco. Irritabilidade: que pode ocorrer em graus variados, desde leve, irritabilidade até a franca agressividade. Arrogância: em alguns pacientes maníacos, é um sinal destacável. Heteroagressividade, geralmente desorganizada e sem objetivos precisos. Desinibição social e sexual, levando o paciente a comportamentos inadequados em seu meio sociocultural; comportamentos que o paciente não realizaria fora da fase maníaca. Tendência exagerada a comprar objetos ou a dar seus pertences indiscriminadamente. Idéias de grandeza, de poder, de importância social, que podem chegar a configurar verdadeiros: Delírios de grandeza e poder. Alucinações: geralmente auditivas, com conteúdo de grandeza Paulo Dalgalarrondo (2008) Hipomania Ciclotimia Mania Mista Mania Irritada ou Disfórica Mania com Sintomas Psicóticos Mania Franca ou Grave Transtorno Bipolar Tipo I Transtorno Bipolar Tipo II Transtorno Afetivo Bipolar Tipo “Ciclador” Rápido TIPOS DE MANIA É a forma mais intensa da mania, com taquipsiquismo acentuadíssimo, agitação psicomotora importante, heteroagressividade, fuga de ídéias e delírio de grandeza. Pacientes idosos ou com lesões cerebrais prévias em fase de mania podem se apresentar confusos, desorientados, com aparente redução do nível de consciência. Tal apresentação pode dificultar o diagnóstico diferencial entre uma síndrome maníaca e um delirium MANIA FRANCA OU GRAVE É uma forma de mania na qual predomina a irritabilidade, o mau humor, a Hostilidade em relação as pessoas, podendo ocorrer heteroagressividade e destruiçãode objetos MANIA IRRITADA OU DISFÓRICA Sintomas maníacos como agitação, irritabilidade, logorréia, expansão do eu, entre outros, e sintomas depressivos como’idéia de culpa, desânimo, tristeza, etc., ocorrem ao mesmo tempo, ou alternando-se rapidamente. Sintomas frequentes são: Pensamento e/ou comportamento confuso Agitação psicomotora Transtorno de apetite Ideação suicida e. eventualmente, Sintomas psicóticos É UM DIAGNÓSTICO DIFÍCIL, TENDENDO A SER MAIS FREQÜENTEMENTE OBSERVADO EM ADOLESCENTES E EM INDIVÍDUOS IDOSOS. MANIA MISTA É uma forma atenuada de episódio maníaco, que muitas vezes passa despercebida e não recebe atenção médica. O indivíduo está mais disposto do que o normal, fala muito, conta piadas, faz muitos planos, não se ressente com as dificuldades e limites da vida. Pode ter diminuição do sono, não se sente cansado após muitas atividades e deseja sempre fazer mais. HIPOMANIA (ou Episódio Hipomaníaco) Pessoas em estado hipomaníaco sentem-se eufóricas, dinâmicas e produtivas, mas são capazes de tocar adiante sua vida cotidiana e nunca perder o contato com a realidade. O característico da hipomania é que o indivíduo e seu meio não são seriamente prejudicados, a hipomania não produz disfunção social importante e não há sintomas claramente psicóticos. Muitas vezes a pessoas acometida não busca serviços médicos Pode parecer que as pessoas com hipomania estão simplesmente em um estado de bom humor invulgar. No entanto, a hipomania pode resultar em decisões ruins que prejudicam relacionamentos, carreiras e reputações. Além disso, ela muitas vezes se agrava a ponto de chegar à mania severa ou é seguida por um grande episódio depressivo. Muitos pacientes apresentam ao longo de suas vidas muitos e frequentes períodos de poucos e leves sintomas depressivos seguidos, em uma periodicidade variável, de certa elação e discreta elevação do humor (hipomania). Isto ocorre sem que o indivíduo apresente um episódio completo de depressão ou de mania. Os períodos depressivos assemelham-se à distimia E nas fases hipomaníacas, o paciente tem uma sensação agradável de autoconfiança; aumento da sociabilidade da atividade laborativa da criatividade, etc. O PACIENTE PERMANECE, AOS OLHOS DA MAIOR PARTE DAS PESSOAS, NOS “MARCOS” DA NORMALIDADE, NÃO SENDO CONDUZIDO, NO MAIS DAS VEZES, A UMA TRATAMRENTO MÉDICO CICLOTIMIA A Ciclotimia e uma versão mais suave do Transtorno de Humor Bipolar, porém, tem a característica de ser mais crônica. É semelhante em muitos aspectos ao Transtorno Depressivo Persistente; é uma alternância crônica entre elevação do humor e depressão, que não alcança a gravidade dos episódios maníacos ou depressivos graves. Indivíduos com Transtorno ciclotímico tendem a estar em um ou outro estado de humor por anos, com relativamente poucos períodos de humor neutro (eutímico). Esse padrão deve durar pelo menos dois anos (um para crianças e adolescentes) para cumprir os critérios para o transtorno. Indivíduos com Transtorno Ciclotímico alternam entre os tipos de sintomas depressivos leves, o os tipos de episódios hipomaníacos. Em grande parte do tempo os indivíduos são considerados apenas mal-humorados. Entretanto, os estados de humor flutuantes são, por definição, substanciais o suficiente para interferir no funcionamento. Critérios Diagnósticos para o Transtorno Ciclotímico: A. Por pelo menos dois anos (um ano em crianças e adolescentes), presença de vários períodos com sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para episódios hipomaníacos e vários períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para episódio depressivo maior. B. Durante o período antes citado de dois anos (um ano em crianças e adolescentes), os períodos maníacos e depressivos estiveram presentes por pelo menos metade do tempo, e o indivíduo não permaneceu sem os sintomas por mais que dois meses consecutivos. C. Os critérios para um episódio maior, maníaco ou hipomaníaco nunca foram satisfeitos D. Os sintomas do Critério A não são bem explicados por Transtorno Esquizoafetivo, Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante, outro Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e outro Transtorno Psicótico Especificado ou Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e outro Transtorno Fisiológico não especificado. E. Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex, droga de abuso, medicamento) ou outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. Os sintomas causam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outra área importante da vida do indivíduo. É um episódio maníaco grave com sintomas psicóticos tais como: Delírio de grandeza ou de poder Delírios místicos, às vezes acompanhados de Alucinações auditivas ou visuais Nesses casos, o paciente tem geralmente um comportamento francamente alterado, com agitação psicomotora e desinibição social e/ou sexual importante. MANIA COM TRANSTORNO PSICÓTICO Episódios depressivos leves e graves, intercalados com fases de normalidade e fases maníacas bem caracterizadas. TRANTORNO BIPOLAR TIPO I Os critérios para transtorno bipolar tipo I representam o entendimento moderno do transtorno maníaco-depressivo clássico, ou psicose afetiva, descrito no século XIX. Para diagnosticar Transtorno Bipolar Tipo I, é necessário preencher os seguintes critérios para o episódio maníaco: A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração se a hospitalização se fizer necessária). B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflamada ou grandiosa 2. Redução da necessidade de sono (ex: sente-se descansado com apenas 3 h de sono) 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Figa de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distraibilidade (a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes e irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou na escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito, não dirigida a objetivos) 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscriminações sexuais ou investimentos financeiros insensatos) C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático. D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas. E* O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicosde uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento). Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar. Para diagnosticar Transtorno Bipolar Tipo I, é necessário preencher os seguintes critérios para o episódio DEPRESSIVO MAIOR: A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase diária. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente). 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por - relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa). 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. Episódios depressivos leves e graves, intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas (aqui o paciente não apresenta fases evidentemente maníacas, mas apenas hipomaníacas). TRANTORNO BIPOLAR TIPO II Requer um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida. Não é mais considerado uma condição "mais leve" que o' transtorno bipolar tipo I, em grande parte em razão da quantidade de tempo que pessoas com essa condição passam em depressão e pelo fato de a instabilidade do humor vivenciada ser tipicamente acompanhada de prejuízo grave no funcionamento profissional e social. Uma característica comum do transtorno bipolar tipo II é a impulsividade, que pode contribuir com tentativas de suicídio e transtornos por uso de substância. A IMPULSIVIDADE pode também se originar de um transtorno da personalidade comórbido, transtorno por uso de substância, transtorno de ansiedade, outro transtorno mental ou uma condição médica. Especificadores de Ciclagem Há um especificador exclusivo para os Transtornos Bipolares Tipo I e Tipo II. Algumas pessoas entram e saem rapidamente dos episódios maníacos ou depressivos. Um indivíduo com Transtorno Bipolar que apresenta pelo menos quatro episódios maníacos ou depressivos em um mesmo ano tem um padrão considerado de ciclagem rápida que aparentemente é uma variedade grave do Transtorno Bipolar que não responde bem aos tratamentos padronizados. O especificador CICLAGEM RÁPIDA Ocorrem muitas fases depressivas, maníacas, hipomaníacas ou mistas em um período curto de tempo, com apenas breves períodos de remissão. Para o diagnóstico de ciclador rápido é necessário que o paciente tenha apresentado pelo menos quatro fases bem caracterizadas e distintas de mania (ou hipomania) e/ou depressão, num período de um ano. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR TIPO “CICLADOR RÁPIDO” Coryell e colaboradores (2003) demonstraram uma probabilidade maior de tentativas de suicídio e episódios mais graves de depressão em 89 pacientes com um padrão de ciclagem rápida, em comparação com um grupo de ciclagem não rápida; Kupka e colaboradores (2005) e Nierenberg e colaboradores (2010) também descobriram que os sintomas desses pacientes eram mais graves em uma série de medidas. Aproximadamente de 20% a 50% dos pacientes bipolares experimentam a ciclagem rápida. Destes, 60% a 90% são mulheres, uma taxa mais alta do que em outras variações do transtorno bipolar (esse achado foi consistente em dez estudos, dentre eles Altshuler et al., 2010; Coryell et. al., 2003; Kupka et al., 2005; Scheck et al., 2004) Na maioria dos casos, a ciclagem rápida tende a aumentar em frequência com o passar do tempo e pode alcançar estados muito graves em que os pacientes ciclagem entre a mania e a depressão sem nenhuma interrupção. Quando essa transição direta de um estado de humor a outro ocorre, é chamada troca rápida ou rápida troca de humor e é uma forma de transtorno particularmente grave e resistente ao tratamento. TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNOS RELACIONADOS DSM - 5 TRANSTORNO BIPOLAR TIPO I TRANSTORNO BIPOLAR TIPO II TRANSTORNO CICLOTÍMICO TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNOS RELACIONADOS INDUZIDO POR SUBSTÂNCIAS/ MEDICAMENTOS TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNOS RELACIONADOS DEVIDO A OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA OUTRO TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNO RELACIONADO ESPECIFICADO TRANSTORNO BIPOLAR NÃO ESPECIFICADO Muitas substâncias de abuso, alguns medicamentos prescritos e várias condições médicas podem estar associados a um fenômeno semelhante ao episódio maníaco. As características diagnosticas do transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento são essencialmente as mesmas que as de mania, hipomania ou depressão. Efeitos colaterais de alguns fármacos antidepressivos e outros psicotrópicos (p. ex., nervosismo, agitação) podem se assemelhar a sintomas primários de síndrome maníaca, embora sejam fundamentalmente distintos de sintomas bipolares e insuficientes para o diagnóstico. TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNO RELACIONADO INDUZIDO POR SUBSTÂNCIA/ MEDICAMENTO A etiologia (relacionada causalmente com o uso de medicamentos psicotrópicos ou substâncias de abuso com base nas melhores evidências clínicas) é a principal variável nessa forma etiologicamente especificada de transtorno bipolar. Substâncias/medicamentos comumente consideradas como associadas são: Estimulantes Fenciclidina Esteroides Uma série de substâncias potenciais continua surgindo conforme novos compostos são sintetizados (p. ex., os chamados sais de banho). A etiologia (i.e., uma relação causal com outra condição médica baseada nas melhores evidênciasclínicas) é a principal variável nessa forma etiologicamente específica de Transtorno Bipolar. TRANSTORNO BIPOLAR E TRANSTORNO RELACIONADO DEVIDO A OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA A lista completa de condições médicas supostamente capazes de induzir mania nunca está completa, e o melhor julgamento do clínico é a essência desse diagnóstico. Entre as condições médicas mais conhecidas que causam mania ou hipomania estão doença de Cushing e esclerose múltipla, além de acidente vascular cerebral e lesões cerebrais traumáticas. A síndrome de Cushing, também conhecida como hipercortisolismo ou hiperadrenocorticismo, consiste em um conjunto de sinais e sintomas provocados por uma desordem endócrina Alguns autores chamam a atenção para o aspecto diferenciado da manifestação dos sinais e sintomas da depressão nos Transtornos Bipolares. Apesar de muitas semelhanças, alguns sintomas são mais comuns na depressão bipolar do que na depressão regular. Especificidade da DEPRESSÃO no Transtorno Bipolar Por exemplo, a depressão bipolar é mais suscetível de envolver irritabilidade, culpa, alterações de humor imprevisíveis e sentimentos de inquietação. Pessoas com depressão bipolar também tendem a mover-se e a falar devagar, dormir muito e ganhar peso. Além disso, elas são mais propensas a desenvolver depressão psicótica – a condição em que perdem contato com a realidade e experimentam grande deficiência no trabalho e nas atividades sociais. Durante um episódio de mania, uma pessoa pode impulsivamente sair de um emprego, gastar enormes quantias em cartões de crédito ou se sentir refeita depois de dormir duas horas. Durante um episódio depressivo, a mesma pessoa pode se sentir muito cansada para sair da cama e cheia de autoaversão e desesperança sobre estar desempregada e com dívidas. PSICODINÂMICA Além do humor, o transtorno bipolar afeta também o nível de energia, o julgamento, a memória, a concentração, o apetite, o sono, o desejo sexual e a autoestima. O transtorno bipolar tem sido associado à ansiedade, ao abuso de substâncias e a problemas de saúde como diabetes, doenças cardíacas, enxaqueca e pressão arterial elevada. O transtorno bipolar pode ser muito diferente em pessoas diferentes. Os sintomas variam muito em padrão, gravidade e frequência. Alguns têm variações frequentes de humor, enquanto outros as experimentam pouco ao longo da vida. Algumas pessoas são mais propensas à mania ou à depressão, enquanto outras oscilam igualmente entre os dois tipos de episódios. As causas do transtorno bipolar não são totalmente compreendidas; é uma condição complexa, e não tem causa única. O diagnóstico pode ser complicado e o tratamento é muitas vezes difícil. ETIOLOGIA Parece que algumas pessoas são geneticamente predispostas à doença, mas nem todos com vulnerabilidade hereditária desenvolvem a doença, o que indica que os genes não são a única causa. Alguns estudos de imagem cerebral mostram mudanças físicas no cérebro de pessoas com transtorno bipolar. Outras pesquisas apontam para desequilíbrios de neurotransmissores, funcionamento anormal da tiroide, distúrbios do ritmo circadiano e altos níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Acredita-se que fatores ambientais e psicológicos externos também estão relacionados ao desenvolvimento do transtorno bipolar. Esses fatores externos são chamados GATILHOS. Eventos Estressantes Medicação Abuso de Substâncias Mudanças Sazonais Privação do Sono Eventos Estressantes Os eventos estressantes podem desencadear o transtorno bipolar em uma pessoa geneticamente vulnerável. Esses eventos tendem a envolver mudanças repentinas ou drásticas – tanto boas como más –, como casar, ir para uma faculdade fora da sua cidade, perder um ente querido, ser demitido ou mudar-se. Abuso de Substâncias Embora não cause transtorno bipolar em si, o abuso de substâncias pode provocar um episódio e piorar a evolução da doença. Drogas como a cocaína, o ecstasy e as anfetaminas podem desencadear a mania, enquanto o álcool e os tranquilizantes podem desencadear a depressão. Medicação Mudanças Sazonais Privação do Sono A perda de sono – mesmo que seja pequena, como cortar algumas horas de descanso – pode desencadear um episódio de mania. Certos remédios, sobretudo antidepressivos, podem desencadear mania. Outras drogas que podem causar mania incluem remédios sem tarja para resfriado, inibidores de apetite, cafeína, corticosteroides e medicamentos para a tiroide. Os episódios de mania e depressão seguem muitas vezes um padrão sazonal. Episódios de mania são mais comuns no verão, e episódios depressivos, no outono, no inverno e na primavera. O primeiro episódio de mania ou depressão do transtorno bipolar geralmente ocorre na adolescência ou no início da fase adulta. Os sintomas podem ser sutis e confusos; muitas pessoas com transtorno bipolar são negligenciadas ou mal diagnosticadas, o que resulta em sofrimento desnecessário. CURSO Algumas pessoas alternam episódios extremos de mania e depressão, mas a maioria fica com mais frequência deprimida do que maníaca. A mania também pode ser tão leve que passa despercebida. Pessoas com transtorno bipolar também podem passar longos períodos sem sintomas. Muitas pessoas com transtorno bipolar têm carreiras de sucesso, vida familiar feliz e relacionamentos satisfatórios. Viver com transtorno bipolar é um desafio, mas, com o tratamento e um sistema de suporte sólido, há possibilidade de viver plenamente, uma vez que é possível administrar sintomas. O transtorno bipolar requer tratamento de longo prazo. POR SER uma doença crônica e com recidivas, é importante continuar o tratamento mesmo quando o paciente está se sentindo melhor. Embora a medicação seja a base do tratamento, a terapia e estratégias de autoajuda também desempenham papéis importantes. TRATAMENTO A maioria das pessoas com transtorno bipolar precisa de medicação para prevenir novos episódios e ficar livre dos sintomas. O tratamento não se resume à medicação. Sozinho, o remédio em geral não basta para controlar totalmente os sintomas do transtorno bipolar. Por razões de segurança, a medicação deve ser acompanhada de perto O tratamento medicamentoso é geralmente feito com estabilizadores de humor, antidepressivos, antipsicóticos e, em casos de urgência, tranquilizantes. O tratamento não deve ser descontinuado sem o consentimento do profissional. Por ser uma doença que dura a vida inteira e pode se tornar invisível (hibernar) durante alguns meses ou anos, há o risco de que pacientes que se sintam bem e acreditem estarem curados e, por isso, pararem de tomar os remédios sem que o médico tenha ciência. É preciso que o profissional explique que a bipolaridade é uma doença crônica e o tratamento é para a vida toda, podendo sofrer alterações e ajustes de acordo com as necessidades do paciente. Os medicamentos prescritos dependem muito do estado do paciente. O mais comum é começar com estabilizadores de humor, para evitaras oscilações, dentre eles: carbonato de lítio, carbamazepina, oxcarbazepina, volproato de sódio, lamotrigina, gabapentina e topiramato). É interessante notar que, fora o Carbonato de Lítio, os estabilizadores de humor também são usados como anticonvulsivantes no tratamento da epilepsia. Se necessário, pode haver a prescrição de antidepressivos algumas semanas após o estabilizador de humor. Em geral, não é comum que seja prescrito um antidepressivo sem o estabilizador, pois seu uso exclusivo poderia desencadear um episódio de mania. A curto prazo, o efeito dos remédios só é sentido a partir de 2 semanas de uso, podendo se estender para 4 semanas caso ainda não haja resultados significativos. Após a estabilização (melhora completa) do paciente, é preciso ajustar o tratamento para a fase de manutenção. Neste caso, é possível que haja diminuição das doses ou até mesmo troca completa de medicamento. A estratégia de tratamento mais eficaz envolve uma combinação de medicamentos, terapia, mudanças de estilo de vida e apoio social. É de extrema importância que o paciente esteja inserido em um ambiente saudável, com pessoas que o apoiam e tentam ajudar na sua melhora. A fase depressiva do transtorno bipolar é frequentemente muito grave, e o suicídio é um importante fator de risco. As tentativas de suicídio tendem a ser mais letais. Transtorno Bipolar e SUICÍDIO Na verdade, as pessoas que sofrem de transtorno bipolar são mais propensas a tentar o suicídio do que aqueles que sofrem de depressão regular. É muito importante levar quaisquer pensamentos ou conversas de suicídio a sério. Os sinais de aviso de suicídio incluem: Falar sobre morte, automutilação ou suicídio Sentir-se sem esperança ou desamparado Sentir-se inútil ou como um fardo para os outros Agir de forma imprudente, como se a pessoa tivesse um “desejo de morte” Pôr assuntos em ordem ou dizer adeus Procurar armas ou pílulas que poderiam ser usadas para cometer suicídio O risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com transtorno bipolar é estimado em pelo menos 15 vezes o da população em geral. Na verdade, o transtorno bipolar pode responder por um quarto de todos os suicídios. História pregressa de tentativa de suicídio e o percentual de dias passados em depressão no ano anterior estão associados com risco maior de tentativas de suicídio e sucesso nessas tentativas. As mulheres são três vezes mais propensas a tentar o suicídio do que os homens, mas os homens são três vezes mais propensos a ser bem sucedidos em suas tentativas. A taxa superior de sucesso entre homens reflete o fato de que os homens usam técnicas mais violentas (revólver, saltar de edifícios) do que mulheres (overdoses, cortas os pulsos) e as técnicas mais violentas tendem a ser mais bem sucedidas. Uma das possíveis explicações para o elevado número de mulheres, e destas em comparações aos homens, é o fato de ser mais frequente, entre mulheres, a ocorrência da depressão. Com relação à idade, as taxas, em todas as culturas, aumentam com a idade, principalmente acima dos 65 anos. Muitos suicídios são disfarçados, e acabam não sendo reconhecidos como suicídios. Suicídios encobertos ocorrem quando pessoas não desejam que outros saibam o que elas fizeram porque estão com vergonha ou porque planos de seguro de vida aos quais possam estar vinculados, não fazem a cobertura das ocorrências que envolvam casos de suicídio. Acidentes automobilísticos se constituem como um método de suicídio encoberto. SUICÍDIOS ENCOBERTOS E GESTOS SUICIDAS Já os gestos suicidas são situações explícitas e óbvias da intenção suicida, sendo que, na realidade, as pessoas não desejam matar-se. Ex: Overdose de pílulas, mas não o suficiente para matar; ou cortar os pulsos, mas não tão profundamente para sangrar até a morte. Indivíduos que fazem gestos de suicídio via de regra os fazem de tal modo que outros descobrirão. Eles podem deixar o vidro de remédio vazio à vista ou permitir que os outros percebam seus pulsos enfaixados Para alguns indivíduos, gestos de suicídio são gritos de ajuda (Farberow & Shneidman, 1961). O gesto suicida é uma forma de dramatizar (no sentido de colocar em cena) a seriedade da vivência de um determinado problema e pedir auxílio indiretamente. Pelo estado no qual se encontram, essas pessoas não sabem ou não conseguem pedir ajuda; ou então, podem ser demasiado tímidas para pedir ajuda, ou mesmo podem ter pedido, mas foram ignoradas. Gestos suicidas podem constituir-se ainda como tentativas de manipular ou controlar pessoas ao seu redor. Gestos de suicídio tendem a ser mais impulsivos e menos letais do que tentativas reais. No entanto, é difícil distinguir entre um gesto de suicídio e uma tentativa de suicídio que falhou. Vale chamar a atenção que, mesmo sendo “um gesto”, este é um sinal de que há um problema sério e, ao fazer um gesto, o indivíduo poderia, acidentalmente, obtêr um êxito. Referências Bibliográficas DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Armed, 2018. HOLMES, D. Psicologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 1997. SADOCK,B. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2016. ANDREASEN, N. C. Admirável Cérebro Novo: Vencendo a doença mental na era do genoma. Porto Alegre: Armed, 2005.
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