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Transtorno Dismórfico Corporal Profa. Simone Biangolino Envolve a preocupação em relação a algum defeito imaginado ou secundário na própria aparência física Por muitos anos o TDC foi considerado um Transtorno Somatoforme porque sua característica central é uma preocupação com problemas somáticos (físicos). Com as reformulações do DSM-V, passou a compor a categoria diagnóstica dos Transtornos Compulsivos, por ser identificado relação estreita com o TOC, como, por exemplo, a referência importante que, pessoas com esse transtorno fazem à pensamentos persistentes, intrusivos e horríveis sobre sua aparência e se envolvem em comportamentos compulsivos olhando repetidamente no espelho para checar suas características físicas. TDC e o TOC também tem aproximadamente a mesma idade de início e desenvolvem-se com o mesmo curso. Um estudo de imagens cerebrais demonstrou funcionamento anormal do cérebro entre pacientes com TDC e com TOC (Rauch et al., 2003) Neste tipo de Transtorno, pessoas de aparência relativamente normal, passam a imaginar um defeito na aparência e tornam-se excessivamente preocupadas com isso. Esta preocupação costuma torná-las incapazes de interagir com outras pessoas. Esse transtorno também tem sido chamado de “feiúra imaginária”. “Pessoas com esse transtorno desenvolvem fixação por espelhos. Outras evitam espelhos de maneira quase fóbica”. (Veale e Riley, 2001) “Ideações suicidas, tentativas de suicídio e o próprio suicídio são consequências frequentes desse transtorno”. (Phillips, 1991; Zimmerman e Mattia, 1998) Pessoas com TDC também tem “ idéias de referência” – pensam que tudo o que acontece em seu mundo de alguma forma está relacionado a elas – nesse caso, ao defeito imaginado. Esse transtorno pode interromper a vida dos pacientes. Em casos graves, eles se tornam incapazes de sair de casa por medo de se mostrar a outras pessoas. Por décadas, essa condição de saúde, antes conhecida como dismorfofobia (literalmente, medo da feiúra), representou um estado psicótico delirante porque os indivíduos afetados eram incapazes de perceber, mesmo por um rápido momento, que suas idéias eram irracionais. Atualmente, indivíduos com TDC, cujas crenças são tão firmes que poderiam ser chamadas delirantes, recebem um segundo diagnóstico de TRANSTORNO DELIRANTE (tipo somático) Estatísticas indicam que a maior parte das pessoas com TDC procuram profissionais da saúde como cirurgiões plásticos e dermatologista, raramente profissionais de saúde mental. (Barlow e Durand, 2008). Esta patologia não está associada com determinado sexo. Alguns estudos desenvolvidos nos EUA indicaram que um pouco mais de mulheres que homens apresentavam este transtorno, mas, no Japão, 62% de um grande número de indivíduos com TDC eram homens. (Phillips et al. 1993; Veale et al, 1996; Zimmerman e Mattia, 1998) Poucas pessoas com esse transtorno se casam. (Phillips et al. 1993; Veale et al, 1996; Zimmerman e Mattia, 1998) A idade de surgimento varia do princípio da adolescência até os 20 anos com pico entre 18 ou 19 anos. (Phillips et al. 1993; Veale et al, 1996; Zimmerman e Mattia, 1998) Indivíduos com este tipo de transtorno são relutantes para procurar tratamento. Um estudo com 62 pacientes com TDC descobriu que o grau de estresse e do prejuízo psicológico era geralmente pior que os índices comparáveis dos pacientes com depressão, diabetes ou que sofreram recente infarto do miocárdio (ataque cardíaco) em diversas mensurações de questionário (Phillips, 2000) Isso mostra que o TDC está entre os transtornos psicológico s mais sérios. Determinantes sociais e culturais de beleza precisam ser considerados neste grupo de transtornos clínicos. (Brownmiller, 1984; Fallen, 1990; Fallon, 1990; Liggett, 1974; Morris, 1985) Não incluídos neste transtorno estão os indivíduos com ANOREXIA que são injustificavelmente preocupados em relação ao seu peso. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL A. Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas percebidas na aparência física que não são observáveis ou que parecem leves para os outros. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL B. Em algum momento durante o curso do transtorno o indivíduo executou comportamentos repetitivos (por exemplo, verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente, beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (por exemplo, comparando sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL C. A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL D. A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com a gordura ou com o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios para um transtorno alimentar. ESPECIFICADORES Com dismorfia muscular: O indivíduo está preocupado com a ideia de que sua estrutura corpórea é muito pequena ou insuficientemente musculosa. Ocorre quase exclusivamente no sexo masculino O especificador é usado mesmo que o indivíduo esteja preocupado com outras áreas do corpo, o que com frequência é o caso. Os indivíduos com essa forma de transtorno, na verdade, têm uma aparência corporal normal ou são ainda mais musculosos. Eles também podem ser preocupados com outras áreas do corpo, como a pele ou o cabelo. A maioria (mas não todos) faz dieta, exercícios e/ou levanta pesos excessivamente, às vezes causando danos ao corpo. Alguns usam esteroides anabolizantes perigosos e outras substâncias para tentar deixar seu corpo maior e mais musculoso. Muitos indivíduos com transtorno dismórfico corporal têm ideias ou delírios de referência, acreditando que outras pessoas prestam especial atenção neles ou caçoam deles devido a sua aparência. O transtorno dismórfico corporal está associado a altos níveis de ansiedade, ansiedade social, esquiva social, humor deprimido, neuroticismo e perfeccionismo, bem como a baixa extroversão e baixa autoestima. Muitos indivíduos têm vergonha da sua aparência e do foco excessivo em seu visual e têm relutância em revelar suas preocupações aos outros. A maioria dessas pessoas faz tratamento estético para tentar melhorar seus defeitos percebidos. Tratamento dermatológico e cirurgia são mais comuns, mas qualquer tipo de tratamento (p. ex., dentário, eletrólise) pode ser feito. As vezes, os indivíduos podem realizar cirurgia em si mesmos. O transtorno dismórfico corporal foi associado a disfunção executiva e anormalidades no processamento visual, com uma propensão a analisar e codificar detalhes em vez de aspectos holísticos ou configuracionais dos estímulos visuais. Os indivíduos com esse transtorno tendem a interpretar de forma negativa e ameaçadora expressões faciais ou cenários ambíguos. ESPECIFICADORES Grau de Insight: Bom ou Razoável O indivíduo reconhece que as crenças do Transtorno Dismórfico Corporal são definitivas ou provavelmentenão verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras Pobre O indivíduo acredita que as crenças do Transtorno Dismórfico Corporal são provavelmente verdadeiras Ausente/Crenças delirantes O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do Transtorno Dismórfico Corporal são verdadeiras EPIDEMIOLOGIA A prevalência é de 2,4% (2,5% no sexo feminino e 2,2% no masculino). A prevalência atual é de 9 a 15% entre pacientes dermatológicos, 7 a 8% entre pacientes norte-americanos de cirurgia estética, 3 a 16% entre pacientes de cirurgia estética em outros países (a maioria dos estudos), 8% entre pacientes adultos de ortodontia e 10% entre pacientes que se apresentam para cirurgia facial ou maxilofacial. DESENVOLVIMENTO E CURSO A média de idade de início do transtorno é 16 a 17 anos, a mediana de idade de início é 15 anos, e a idade mais comum de início é 12 a 13 anos. Dois terços dos indivíduos têm início do transtorno antes dos 18 anos. Os sintomas subclínicos do transtorno dismórfico corporal começam, em média, aos 12 ou 13 anos. As preocupações subclínicas geralmente se desenvolvem de forma gradual até o transtorno completo, embora alguns indivíduos experimentem o início abrupto do transtorno. BARLOW, D. ; DURAND, V. M. Psicopatologia. Uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008. HOLMES, D. Psicologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria. Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002 Bibliografia Consultada