Prévia do material em texto
Imunidade: feto e recém-nascido O útero é considerado um ambiente estéril, assim, ao nascer, o recém-nascido, que não possui um sistema imune completamente funcional, sai de um ambiente estéril e entra em contato com um completamente contaminado por diversos patógenos. Dependendo da espécie a imunidade passiva pode auxiliar nos primeiros dias de vida porém, espécies como bovinos, ovinos e caprinos que possuem placenta sindesmocorial e equinos e suínos que possuem uma placenta epiteliocorial, não há passagem de imunidade passiva na vida intrauterina tornando indispensável para sanidade do recém-nascido a ingestão do colostro para imunização dos neonatos. Em animais com placenta endoteliocorial, como os carnívoros, há passagem de algumas imunoglobulinas, porém ainda não o suficiente para garantir a imunidade do recém-nascido. Recém-nascidos possuem as barreiras da imunidade inata já funcionais, porém a imunidade adquirida depende ainda de processos de maturação. Desenvolvimento da imunidade inata: Ao nascer possuem com os TLRs, neutrófilos e macrófagos já funcionais e proteínas do sistema complemento ainda não totalmente funcionais. No momento do nascimento a elevação do cortisol faz com que haja uma imunossupressão também no recém-nascido, diminuindo a atividade fagocítica de neutrófilos e macrófagos, que já são funcionais, as proteínas do complemento não são completamente funcionais o que não permite a rápida quimiotaxia de células fagocíticas, porém após o nascimento a atividade das células vai retornando e a quimiotaxia aumenta gradativamente até que se tenha uma completa imunidade inata. Resposta imune dos recém-nascidos: Como tudo que o recém-nascido entra em contato é estranho ao organismo, tudo gera uma resposta imune primária lenta e com pouca produção de anticorpos. Imunidade passiva do feto: Não é passada através da placenta de equinos, suínos e ruminantes devido às 6 camadas de suas placentas. Em cães e gatos é passada parcialmente por sua placenta endoteliocorial com 5 camadas, porém não o suficiente para garantir uma imunidade passiva. Nos primatas há passagem de imunidade através da placenta hemocorial com apenas 3 camadas, garantindo a imunidade passiva ainda no período fetal o que não exclui a necessidade e importância do consumo do colostro pelo recém-nascido, dessa vez por outros fatores que não apenas imunes. Diferença de colostro e leite: O leite contém anticorpos locais (produzidos nas glândulas mamárias), IgG em ruminantes e IgA em não ruminantes, garante a imunização do trato digestivo. Já o colostro acumula anticorpos IgG (60%), IgM e IgA do sangue que são acumulados durante as últimas semanas de gestação, garante a imunização sistêmica. Absorção de colostro: Como ao ingerir o colostro as enzimas digestivas não degradam os anticorpos que, nada mais são que proteínas? A atividade proteolítica é baixa no recém nascido, ou seja, não degradam as imunoglobulinas, porém, com o passar das horas, essa atividade vai aumentando o que explica importância da ingestão do colostro nas primeiras horas de vida. Outro fator que torna a rápida colostragem importante é a capacidade de as moléculas grandes das imunoglobulinas passarem do lúmen intestinal para a corrente sanguínea que se deve a presença de receptores de imunoglobulinas nas células epiteliais da parede do lúmen (Ig-FcRn) que reconhecem as moléculas e as endocitam, o que só ocorre nas primeiras horas após o nascimento, visto que, com o passar do tempo esses receptores são perdidos e as imunoglobulinas não passam mais para a corrente sanguínea, até que com 24 horas de vida, não há absorção de mais nenhuma imunoglobulina. Ou seja, quanto mais tarde a ingestão do colostro menos absorve, tanto pela perda das imunoglobulinas na digestão, quanto pela diminuição de sua endocitose. Assim, o colostro promove a imunidade sistêmica = suas Ig vão para o sangue, enquanto que o leite promove a imunidade intestinal = Ig ficam no trato digestório. Falhas de transferência passiva: Pode ser por (1) falha de produção quando o colostro é de má qualidade ou insuficiente que pode ocorrer em casos de nascimentos prematuros, lactação prematura em novilhas por exemplo, ou gotejamento excessivo das glândulas mamárias antes da parição causando perda do colostro; (2) Por falha de ingestão quando há o consumo inadequado do recém nascido que ocorre quando se tem um número elevado de neonatos, com mães jovens, ou por tetos machucados fazendo com que a mãe evite amamentar; E por (3) falha de absorção, muito comum em equinos, é quando não é ofertada a quantidade necessária de Ig ou no tempo correto. OBS: O volume de colostro é sempre o mesmo não importando a quantidade de crias que o animal irá ter, por exemplo, matrizes suínas produzem de 1 a 3 litros de colostro não importando o número de crias, e quanto mais crias, menos colostro fica disponível individualmente para cada recém-nascido. As falhas na transmissão da imunidade passiva podem ser diagnosticadas com testes como a imunodifusão radial, a aglutinação em látex e o teste de turvação do sulfato de zinco, muito utilizado a campo para medição da passagem de imunidade em equinos. Imunidade adquirida nos neonatos: A presença dos anticorpos maternos passados pelo colostro inibem a formação de resposta imune adquirida pelos neonatos visto que, ao entrarem em contato com algo estranho ao organismo as imunoglobulinas maternas que agirão não permitindo a ligação e montagem da resposta imune pelos linfócitos B do neonato. As Ig maternas sobrevivem por até 36 horas no organismo do recém-nascido por isso recomenda-se que a vacinação dos filhotes seja feita em, pelo menos, 3 semanas depois do nascimento, garantindo a eficiência da imunização. Durante a passagem de período em que a imunidade passiva está decaindo e a imunidade adquirida ainda não está totalmente formada cria-se uma JANELA IMUNOLÓGICA em que os animais ficam mais suscetíveis a infecções, é o período que as taxas de mortalidade de neonatos mais é elevada. Imunidade passivaem aves: A principal Ig passada passivamente nas aves é a IgY que é transferida para a gema. A medida que passa pelo oviduto o ovo incorpora também as IgM e IgA. Assim enquanto o pintinho cresce ele come a gema e ingere as Ig. Infecção intra-uterina: O útero é considerado estéril, porém, pode haver passagem transplacentária durante a gestação. Dependendo do patógeno e do período em que a gestação se encontra no momento da infecção pode gerar abortos, animais tolerantes, animais persistentemente infectados ou animais normais. Quando a infecção ocorre antes do período de maturação dos linfócitos, ao serem maturados e passarem pelas seleções positiva e negativa e serem expostos para antígenos do patógeno, mesmo que reconheçam esses antígenos como não próprios, sofrem apoptose como se estivessem reconhecendo erroneamente uma proteína própria o que pode causar tolerância podendo, dependendo do patógeno gerar uma animal que possui uma infecção permanente, ou animal persistentemente infectado. Imunidade das superfícies corpóreas: União entre imunidade inata e adquirida, como os tecidos linfoides, IgA e IgE.