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O Capataz

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O Capataz 
Chico 
Bem, é o trabalhador de muita confiança do fazendeiro. Sua função é de 
estimular o trabalho no campo para que a produção de larga escala seja 
satisfatória para o fazendeiro. Chico inicia o seu trabalho antes do sol raiar, 
prepara o seu cavalo, o monta e nunca esquece o seu instrumento de trabalho, 
o chicote. 
Os Trabalhadores 
Pessoas que não tem qualificação, terras e nem bens, dentre eles, 
crianças, jovens, adultos, idosos, mulheres e homens. Se submetem à 
exaustivas horas de trabalho árduo do campo, desde a plantação à colheita da 
fazenda, em troca de comida e abrigo. 
O Fazendeiro 
É detentor de todos os trabalhadores e dos lucros de suas terras, que 
assim o herdou de seu pai deixará como herança a seu filho primogênito, a 
costume da época. 
Todos os dias o capataz levantava voz dando comandos, na maioria das 
vezes, agressivos aos trabalhadores, como “trabalhem, trabalhem, trabalhem”. 
Negligenciava a limitação dos trabalhadores, os açoitava, dizendo que sua 
função era a de os fazer trabalhar e que a faria. Não se sensibilizava com os 
idosos, mulheres e até crianças, os oprimia dizendo-lhes que não teriam outras 
oportunidades em suas vidas e que se não trabalhassem com os todos seus 
esforços, eram ingratos com a “chance” que lhes foi dada, chantageava-os 
relembrando os casos em que os trabalhadores não eram submissos a ele, 
contava-lhes que depois de espancar e humilhar, expulsava a ponta pés pela 
porteira da fazenda, os entregando à própria sorte. 
Tais cenas se perpetuaram até uma certa manhã, onde capataz fora 
convidado à casa-grande para conversar com o fazendeiro, este último estava 
lhe aguardando em uma cadeira de balanço, fumando tranquilamente um 
cachimbo; o capataz ao vê-lo não poupou saudações: 
- Sinhozinho, bom dia! Lhe adianto logo que o trabalho tá tudo em dia! Já 
até dei um jeito naqueles preguiçosos, sabe como é, meu chicote eles 
conhecem! 
- Ô Chico, se acomode. Diz homem, a quanto tempo trabalhas pra mim? 
- Oxe patrão, já tô aqui desde muito jovem! Bote uns 45 anos aí! 
- Pois bem Chico, hoje vou lhe dar um refresco dessa labuta... tá vendo 
aquele rapazote ali? É sobrinho de um velho amigo, nosso prefeito Francisco! 
Esse homem é dos grandes, vai ajudar muito nos negócios na cidade! E esse 
garoto... é indicação e é de grande confiança! Sendo assim, os seus serviços 
não são mais necessários pra mim. Dou até o meio dia pra catares tuas coisas 
e ir-te embora! 
- Mas, patrão... 
- Mas o quê? É ordem minha! Quer sair daqui vivo ou morto? 
O capataz se retirou, cabisbaixo e impotente, caminhou em direção aos 
seus aposentos, passando diante dos trabalhadores que outrora açoitava, nem 
de longe lembrando aquele dominador, que apenas com seu olhar soberbo 
amedrontava, agora silencioso, andava frágil e pensativo rumo a execução da 
última ordem que lhe foi dada. Remoía dolorosamente o ego que permitiu ser 
construído em si, envergonhado com a ilusão destruída de que sentia-se “dono 
da fazenda”, algo que realmente nunca fora e nunca seria. 
Ao passar pela porteira, lugar que antes expurgava os “reles” 
trabalhadores, sentiu-se igual, ou até pior, constatou que era mais um vendendo 
sua força de trabalho em troca de subsistência, agora, tão humano quanto outro 
qualquer, entende que nenhuma de suas crueldades praticadas, o assegurou de 
sua permanência na fazenda, carrega na mala, junto a outras culpas, a amarga 
penitência de desumanidades perpetradas, finalmente se foi, entregue à própria 
sorte. 
[Moisés Vasconcelos] 
Texto em parceria com a linda Pietra Sabri

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