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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE ENFERMAGEM Professora: Luiza Cremonese Cachoeira do Sul, 2018 DOR 1 CONCEITO Experiência sensorial e emocional desagradável que está associada ou é descrita em termos de lesões teciduais. É uma qualidade perceptual complexa que pode ser modificada por aspectos culturais, sociais, raciais, sexuais, etários e mentais dos indivíduos. 2 Novos hábitos de vida; Maior longevidade do indivíduo; Prolongamento de sobrevida dos doentes com afecções clínicas naturalmente fatais - distanásia; Modificações do ambiente em que vivemos; Reconhecimento de novos quadros dolorosos. Considera-se atualmente que a dor, especialmente a crônica, ocorre devido a: 3 INCIDÊNCIA DA DOR É a razão principal pela qual 75 a 80% das pessoas procuram os serviços de saúde. A dor afeta pelo menos 30% dos indivíduos durante algum momento da sua vida e, 10 a 40% deles, tem duração superior a um dia. Constitui a causa principal de sofrimento, incapacitação para o trabalho e ocasiona graves conseqüências psicossociais e econômicas. 4 EPIDEMIOLOGIA DA DOR A dor crônica é a 2º causa de procura pela assistência médica e, aproximadamente, 80% das consultas aos profissionais da saúde. Por isso, constitui um problema grave de saúde pública e social, com impactos significativos na economia mundial e, apesar dos avanços nos diagnósticos e terapias em diversas áreas da saúde, ainda continua sendo condição frustrante para pacientes. 5 Nos idosos, a dor geralmente é crônica e relacionada a doenças degenerativas. 80 a 85% dos indivíduos com mais de 65 anos apresentam, pelo menos, um problema significativo de saúde que as predispõe a apresentar dor. 6 FISIOPATOLOGIA Após traumatismo ou outro fator, as terminações nervosas existentes no local afetado conduzem o estímulo doloroso por nervos até a medula espinhal. Deste local, o estímulo é levado até diferentes regiões do cérebro, onde é percebido como dor e transformado em respostas a este estímulo inicial. 7 8 CLASSIFICAÇÃO DA DOR A dor pode ser considerada como um sintoma ou manifestação de uma doença ou afecção orgânica, mas também pode vir a constituir um quadro clínico mais complexo. Por isso, existem muitas maneiras de se classificar a dor. 9 1. DURAÇÃO E MANIFESTAÇÃO DOR AGUDA Aquela que se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. 10 Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e quando o tratamento recomendado pelo especialista é seguido corretamente pelo paciente. 11 A dor constitui-se em importante sintoma que primariamente alerta o indivíduo para a necessidade de assistência médica: 12 Dor pós-operatória Dor após um traumatismo; Dor durante o trabalho de parto; Dor de dente; As cólicas em geral, como nas situações normais (fisiológicas) do organismo que podem provocar dores agudas, como o processo da ovulação e da menstruação na mulher. DOR CRÔNICA: Tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a vários anos e que está quase sempre associada a um processo de doença crônica. A dor crônica pode também pode ser conseqüência de uma lesão já previamente tratada. 13 Exemplos: Dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das articulações), dor oncológica, dor relacionada a esforços repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras. DOR RECORRENTE • Apresenta períodos de curta duração que, no entanto, se repetem com frequência, podendo ocorrer durante toda a vida do indivíduo, mesmo sem estar associada a um processo específico. 14 Um exemplo clássico deste tipo de dor é a enxaqueca. 2. PERCEPÇÃO DO ESTÍMULO DOLOROSO DOR RÁPIDA: É a dor sentida em cerca de 0,1” depois que o estímulo doloroso é aplicado. Este tipo de dor é sentido frente a um traumatismo agudo, geralmente térmico ou mecânico. 15 DOR LENTA: É a dor sentida após 1s ou mais, aumentando lentamente durante muitos segundos até minutos. Este tipo de dor está geralmente associado a destruição de tecidos, podendo ser um estímulo químico, físico ou mecânico. Pode levar a um sofrimento insuportável e prolongado. Pode ocorrer tanto na pele como nos tecidos mais profundos do corpo. 16 CARACTERÍSTICAS DA DOR Por se tratar de uma experiência totalmente individual, subjetiva, a dor pode apresentar diferentes características. 17 Dor Intensidade Qualidade Localização Duração Etiologia Natureza Frequência 18 1. LOCALIZAÇÃO NO CORPO A dor pode ter suas origens nos músculos, juntas (articulações), dentes, pele ou órgãos internos. Quando tem a sua localização bem definida, chama-se de dor localizada e quando for difícil apontar com precisão a sua localização, denomina-se dor difusa. 19 2. QUALIDADE DA DOR É a principal sensação que a dor transmite ao indivíduo. Pode ser expressa como ardor, queimação, pontada, choque, latejamento, corte, pressão ou formigamento. 20 3. INTENSIDADE DA DOR É difícil determinar quantitativamente a dor e por tal motivo o profissional da saúde utiliza ESCALAS para auxiliar o paciente a determinar a intensidade da dor, bem como para acompanhar a sua evolução. 21 A) ESCALA VERBAL NUMÉRICA O paciente é informado sobre a necessidade dele classificar sua dor em notas que variam de 0 a 10, de acordo com a intensidade da sensação. Nota zero corresponderia a ausência de dor, enquanto nota 10 a maior intensidade imaginável. 22 B) ESCALA VISUAL NUMÉRICA Funciona como a escala verbal, acrescidas da escala concreta, onde o paciente localizará espacialmente a intensidade de sua dor com uma marca. 23 Zero (0) = Ausência de Dor Um a Três (1 a 3) = Dor de fraca intensidade. Quatro a Seis (4 a 6) = Dor de intensidade moderada. Sete a Nove (7 a 9) = Dor de forte intensidade. Dez (10) = Dor de intensidade insuportável. 24 C) ESCALA VISUAL ANALÓGICA Esta escala submete ao paciente uma linha não graduada cujas extremidades correspondem a ausência de dor, em geral situada na extremidade inferior, nas dispostas verticalmente, e à esquerda, naquelas dispostas horizontalmente; E a pior dor imaginável, nas extremidades opostas. 25 26 27 AVALIAÇÃO DA DOR Multiprofissional Enfermeiro 28 4. FREQUÊNCIA DA DOR Determina a periodicidade dos eventos dolorosos. Pode ser: • Episódica ou Esporádica quando acontece com períodos sem dor. • Contínua quando se manifesta sem interrupção. 29 5. NATUREZA DA DOR Quando a causa física é determinada e diagnosticada, chama se de Orgânica e quando está ligada à psique do indivíduo ela é conhecida como Psicogênica. 30 6. ETIOLOGIA DA DOR A dor pode ser resultante de um ou mais fatoresinternos e/ou externos, sendo, por isto, o seu diagnóstico e tratamento mais complexos. Alguns dos fatores mais importantes que podem desencadear um processo doloroso: 31 32 7. DURAÇÃO A dor pode ter diferentes durações, variando desde segundos até meses ou anos. 33 DIAGNÓSTICO DA DOR O processo de diagnóstico de dor pelo profissional da saúde tem como objetivo principal a identificação do(s) agente(s) causal(is), a origem, a intensidade e a influência de fatores psicossociais sobre a dor, visando determinar o método mais adequado para seu tratamento. 34 1. HISTÓRICO (OU ANAMNESE) É constituído pelas perguntas do profissional e pelas informações fornecidas pelo próprio paciente. São coletadas informações sobre a forma como aconteceu a dor, sua duração e periodicidade, a localização, como evoluiu, fatores que podem ter contribuído para o seu agravamento ou alívio. 35 Também procura-se verificar as repercussões da dor nas atividades diárias do paciente, fatores que podem contribuir para a dor, como o estado de ânimo, relacionamento familiar, atitudes frente à dor, crenças, valores do indivíduo e da família. O profissional da saúde procura também obter informações sobre os medicamentos e outras terapias previamente utilizados pelo paciente e seus resultados. 36 O histórico pode ser complementado por outras ferramentas auxiliares, tais como: Desenhos representativos do corpo do paciente, onde ele mesmo pode indicar os pontos afetados pela dor; Desenhos da forma como essa dor se manifesta; Escalas qualitativas ou quantitativas, nas quais se pede ao paciente para indicar um valor para a sua dor em números (de 1 a 5 ou de 1 a 10) ou por desenhos onde indica uma gradação de faces, de sorridentes a chorosas (escala de faces). 37 2. EXAME CLÍNICO O profissional da saúde deve observar criteriosamente o paciente, uma vez que as manifestações mais comuns da dor podem se apresentar na forma de choros ou gemidos, expressões no rosto como o enrugamento ou contração muscular, movimentos do corpo considerados como defensivos contra a fonte da dor, principalmente na dor aguda, uma vez que na dor crônica o organismo muitas vezes está “acostumado” com estas sensações. 38 Faz parte ainda do exame a palpação de diferentes estruturas do corpo, que permitem delimitar áreas dolorosas, consistência muscular, alterações em órgãos internos como fígado, baço e outros e em determinados casos a presença de PONTOS GATILHO, que são pequenas áreas de dor intensa, localizadas em músculos muito tensos. 39 EXAMES DE IMAGEM: Os exames de imagem auxiliam a identificar as anormalidades dos locais afetados e que ajudam a confirmar lesões em tecidos e órgãos. O mais conhecido deles é a radiografia simples (ou raio X). A medicina conta hoje com modernos dispositivos de exame como a tomografia computadorizada, a ultrassonografia, o mapeamento ósseo e os estudos funcionais de imagem, dentre outros. 40 EXAMES LABORATORIAIS: São importantes para detectar ou excluir anormalidades inflamatórias, metabólicas, degenerativas, entre outras. Podem ser verificadas alterações no funcionamento de algumas estruturas do corpo através de alguns exames específicos, como exames de líquido sinovial (que “banha” as articulações) ou de líquido cefalorraquidiano (que “banha” a medula espinhal), bem como biópsias 41 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA DOR Depressão, ansiedade, raiva, hostilidade; Atitudes e crenças frente à dor e seu manejo; Situação trabalhista; Estratégias para lidar com a dor 42 EFEITOS DA DOR NA QUALIDADE DE VIDA 1 - Aspectos Físicos: Diminuição da capacidade funcional; Diminuição da força e da resistência; Náusea e perda de apetite; Dependência química; Transtornos do sono causando irritabilidade, fadiga. 43 2 - Aspectos psicológicos: Diminuição da alegria e do humor; Aumento da ansiedade e do temor; Depressão, sofrimento; Dificuldade de concentração; Perda do controle; 44 Perdas sociais; Diminuição das relações sociais; Diminuição da atividade sexual e afetiva; Aumento da necessidade de cuidados; Tensão financeira como resultado de contas médicas, medicamentos e perda de renda devido ao tempo fora do trabalho. 45 3 - Aspectos espirituais: Aumento do sofrimento; Exercício da espiritualidade; Maior equilíbrio emocional; Mudança de interesses. 46 TRATAMENTO DA DOR DOR AGUDA: A remoção da causa da dor (por exemplo, a extração de um dente), o uso de medicamentos adequados e em determinados casos, procedimentos de fisioterapia e/ou psicologia são suficientes para a melhora da dor e restabelecimento do indivíduo em suas atividades normais. 47 DOR CRÔNICA: • Demandam um tratamento mais complexo e prolongado, por serem resultantes de mecanismos multifatoriais que conduziram o organismo afetado a esse ponto de cronicidade e, em geral, demandam avaliação por especialistas de várias áreas para se obter um melhor alívio da dor. 48 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO A medicação deve ser utilizada de acordo com a orientação médica e não somente quando o paciente considere necessário. 49 Consiste na administração por via oral, injetável ou uma outra mais apropriada, de produtos como os analgésicos e anti- inflamatórios, que combatem a dor e as inflamações nos tecidos ou órgãos e de produtos adjuvantes, que são auxiliares dos analgésicos, aumentando a sua eficiência no alívio da dor e, ao mesmo tempo, melhorando o apetite, o humor e a parte emocional. 50 ANALGÉSICOS: Vários tipos de analgésicos (medicamentos que aliviam a dor) podem ajudar a aliviar a dor e são enquadrados em três categorias: a) Analgésicos Opióides: são os medicamentos mais poderosos no combate à dor, sendo a base do tratamento da dor grave devido a sua grande eficácia, mas apresentam muitos efeitos colaterais. 51 Estão relacionados à morfina, uma substância natural extraída da papoula, embora alguns opióides sejam extraídos de outras plantas e outros sejam sintetizados laboratorialmente. Com o tempo, o indivíduo que utiliza analgésicos opióides pode necessitar de doses mais elevadas. 52 Morfina Duração do Efeito: Intravenosa ou intramuscular – 2 a 3 horas ; Via oral – 3 a 4 horas (liberação prolongada – 8 a 12 horas) Começa a agir rapidamente. A forma oral pode ser muito eficaz no tratamento da dor causada pelo câncer. 53 Codeína Duração do Efeito: Via oral – 3 a 4 horas. Menos potente que a morfina. Meperidina Duração do Efeito: Intravenosa ou intramuscular – cerca de 3 horas Via oral – não muito efetiva. Pode causar crises convulsivas, tremores e espasmos musculares. 54 Metadona Duração do Efeito: Via oral – 4 a 6 horas, às vezes mais tempo. Também é utilizada no tratamento da síndrome da abstinência da heroína. 55 B) ANALGÉSICOS NÃO-OPIÓIDES: Agem de duas maneiras: 1º) Interferem no sistema das prostaglandinas, um sistema de substânciasinterativas que são parcialmente responsáveis pela sensação de dor. 2º) A maioria desses medicamentos reduz a inflamação, o edema e a irritação que frequentemente circundam uma ferida e pioram a dor. 56 Aspirina A aspirina é administrada pela via oral e provê um alívio moderado da dor que dura de 4 a 6 horas. Efeitos colaterais: ● Irritação do estômago ● Afetar a coagulação sanguínea 57 C) ANALGÉSICOS ADJUVANTES: Os analgésicos adjuvantes são medicamentos geralmente administrados por outras razões que não a dor. Entretanto, em determinadas circunstâncias, eles podem aliviar a dor. Exemplo: alguns antidepressivos e anticonvulsivantes também são analgésicos inespecíficos e são utilizados no tratamento de muitos tipos de dor crônica, incluindo a lombalgia e a cefaleia. 58 EFEITOS COLATERAIS Sistema Nervoso Central: • Sonolência • Depressão respiratória; • Náusea e vômito; • Dificuldade de concentração; • Euforia, alucinação e disforia; • Miose; • Aumento de hormônio anti-diurético; • Tolerância e dependência. 59 Sistema Cardiovascular: • Hipotensão. Sistema Gastrointestinal: • Empachamento gástrico (favorecendo náuseas e vômitos); • Constipação intestinal (pela diminuição da motilidade intestinal); • Diminuição nas secreções biliares e pancreáticas Sistema Genito-urinário: • Retenção urinária. 60 TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO Métodos físicos: Calor Frio Massagens 61 Vibração Terapia Comportamental Cognitiva Relaxamento Técnicas de distração Acupuntura 62 Tratamento Cirúrgico Neurotomia – secção de um nervo Simpatectomia – remoção nervo simpático Rizotomias – secção de raízes nervosas medulares 63 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Avaliação diagnóstica Intervenção e monitorização dos resultados do tratamento Comunicação das informações sobre a dor do paciente 64 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Outras medidas básicas de Enfermagem no controle da dor são o relacionamento enfermeiro-paciente e a orientação do paciente em relação à dor e seu alívio. Esse relacionamento serve para diminuir a ansiedade do paciente em relação à dor e comumente resulta no seu alívio, seja por reduzir sua intensidade ou por torná-la mais tolerável ao paciente. 65 O conhecimento dos fatores psicológicos e ou psiquiátricos associados à dor é extremamente valioso para a compreensão das reações do paciente. 66 As falhas na formação dos profissionais de saúde contribuem para o quadro de insuficiência no alívio da dor. Para evitar a negligência e a omissão na assistência de enfermagem é necessário que os profissionais saibam identificar claramente o quadro clínico em questão. Para isto, além de conhecimentos teóricos sobre o assunto, ele precisa ter consciência das diferenças culturais entre sua realidade e a do paciente para que não se faça uma avaliação errônea do quadro, fazendo com a queixa do paciente comparações com seus próprios valores. 67 REFERÊNCIAS CHAVES, L. D.; LEÃO, E. R. Dor 5° sinal vital: reflexões e intervenções de enfermagem.Curitiba: Editora Maio, 2004, 348p. PIMENTA, C. A. M. Dor: manual clínico de enfermagem. São Paulo, s/d, 2000. FIGUEIRÓ, J. A. B.; ANGELOTTI, G.; PIMENTA, C. A.M. Dor e saúde mental. São Paulo: Editora Atheneu, 2006. 68
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