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Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 1 QUÍMICA II AULA 8 A Segunda Lei da Termodinâmica METAS: Apresentar a segunda lei da termodinâmica, a definição de entropia e seus conceitos associados. OBJETIVOS: Espera-se que ao final dessa aula você seja capaz de: • determinar classificar um determinado processo como espontâneo ou não; • reconhecer o ciclo de Carnot e a eficiência das máquinas térmicas; • relacionar os motores atuais com conceitos termodinâmicos; • reconhecer as propriedades macroscópicas da matéria como consequência direta da média ponderada do comportamento das partículas componentes do sistema (termodinâmica estatística) AS TRA SFORMAÇÕES ATURAIS OU ESPO T EAS Você já notou que algumas coisas ocorrem naturalmente e algumas outra não?! Você já viu um livro em cima de uma mesa mover- se sozinho? Acho que não. Para isso acontecer a mesa teria que dar PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 2 energia cinética para o livro e desta maneira teria que ficar mais fria. Vemos portanto que esse não é um processo espontâneo. Por outro lado, algumas coisas ocorrem espontaneamente. Exemplos disso são a água descer das montanhas em direção aos rios e mares, os gases se misturarem e ocuparem todo o volume disponível de um recipiente, e um copo de café esfriar. A combustão de gasolina, que é uma reação química, ocorre em no sentido de formar CO2 e H2O, mas a reação inversa, ou seja, CO2 e H2O reagirem formando o combustível e O2, não ocorre. A transformação natural ou espontânea é uma mudança que ocorre sem que haja, aparentemente, alguma interferência, e em apenas um sentido. Se considerarmos a transformação no sentido inverso veremos que ela não ocorre naturalmente. Para várias mudanças temos como reverter o processo interferindo sobre ele, ou seja, podemos recolocar a água no topo da montanha bombeando-a para lá, podemos voltar a aquecer uma panela no fogão. Em todos os caso temos que realizar trabalho. Para algumas outras ainda não sabemos reverter o processo, como por exemplo do envelhecimento. No início desta discussão utilizamos o princípio da conservação da energia, ou seja, a primeira lei da termodinâmica, para compreender os processos de conversão de energia. Fizemos considerações sobre calor, trabalho, energia interna de um sistema, reversibilidade, interpretamos o conteúdo da Primeira Lei da Termodinâmica e definimos uma grandeza termodinâmica chamada entalpia. ================= BOXE DE ATENÇÃO============ A Primeira Lei da Termodinâmica estabelece que em qualquer transformação a energia se conserva. ================= FIM BOXE DE ATENÇÃO============ PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 3 Entretanto, a conservação de energia não impede que o livro mova-se sozinho sobre a mesa, nem sobre a água subir sozinho dos rios para as montanhas. Parece então que falta algo, pois não sabemos até agora o que define o sentido de uma mudança espontânea. Portanto a pergunta que se apresenta é: Apenas com a Primeira Lei podemos determinar a espontaneidade de um processo? A resposta a esta pergunta é não, e podemos confirmá-la observando o seguinte exemplo: Um objeto qualquer caindo de cima de uma mesa no chão é um processo espontâneo. Neste processo a Primeria Lei é obedecida pois a energia perdida pelo objeto (energia potencial) é transferida aos átomos das substâncias do chão, aumentado a agitação deles. Vamos imaginar agora o processo inverso, ou seja, os átomos do chão concentrando sua agitação no local onde está o livro e transferindo esta energia cinética para ele, que é jogado para cima da mesa. Isto necessitaria de uma alto grau de ordenamento das vibrações e translações moleculares de modo a concentrar a energia em um ponto exatamente debaixo do livro. Isto é altamente improvável (ou você já viu um caso ao contrário?). Neste processo, também, a Primeira Lei é obedecida, pois a energia é conservada, todavia sabemos que ele nunca acontecerá. Se observarmos o sistema sob estudo como um sistema isolado, veremos que a energia total dele se conservará. Entretanto, nada pode ser dito como a energia estará distribuída dentro desse sistema. O sentido de uma mudança está relacionado com a distribuição da energia. Vemos que o sentido de uma mudança espontânea sempre leva a uma dispersão mais caótica da energia total em um sistema isolado. Ou seja, a energia PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 4 espontaneamente tende a se dispersar de um local ou sub-sistema com energia mais concentrada para tornar-se mais “uniformemente espalhada” entre as outras partes do sistema. Veja por exemplo uma pedra de gelo dentro de um copo d’água. As moléculas da água no líquido vão colidindo com a superfície do gelo, também composto de moléculas de água, e vão transferindo energia cinética para as moléculas do gelo. Com essa transferência de energia cinética, o líquido vai se esfriando e o gelo vai ganhando energia vibracional e rotacional. À medida que o tempo passa, as colisões vão provocando um aumento das vibrações e rotações das moléculas de água do gelo, até que essas consigam se desprender da rede cristalina do gelo, indo para a fase líquida. Uma nova molécula na superfície do gelo é exposta e novamente vai sofrendo colisões e ganhando energia cinética, assim como a anterior. Esse processo vai se repetindo até que todas as moléculas do gelo sejam “libertadas” e tenham ido para a fase líquida, onde todas as moléculas na média possuam a mesma quantidade de energia. No final, a energia foi redistribuída do sistema de maior energia (água líquida) para o de menor energia (o gelo). Esse é o processo de derretimento do gelo em água. O sentido contrário, entretanto, não seria possível. Um copo de água não forma espontaneamente um cubo de gelo e água morna, pelo fato da natureza não tender a concentrar energia em nenhum subsistema. PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química Figura 8.1: sistema isolado A chave para esta questão é o que vai dar origem à da Termodinâmica colocar uma gota de tinta preta dentro de um copo com água, você verá que a tinta vai se dispersar, tornando a água com a cor da tinta. Vemos que o sistema ficou colorida vai Uma quantidade utilizada para medir o grau de desordem de um sistema é chamado de do sistema, e é representada pela letra a energia de um si pela adição ou subtração de calor do mesmo. A entropia pode ser encarada como o “grau de liberdade” desordem molecular. Assim como ocorre com os seres humanos, no mundo molecular Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II Figura 8.1: Copo (imagine de isopor) contendo água com gelo, um isolado. (credito da figura: autores) A chave para esta questão é o que vai dar origem à da Termodinâmica e versa sobre o sentido dos processos físicos. colocar uma gota de tinta preta dentro de um copo com água, você verá que a tinta vai se dispersar, tornando a água com a cor da tinta. Vemos que o sistema ficou mais desordenado. Jamais vemos que esta água ficar novamente límpida, separando a gota de tinta. Uma quantidade utilizada para medir o grau de desordem de um sistema é chamado de entropia. A entropia é uma propriedade (função de estado) , e é representada pela letra S. Lembre-se que podemosmudar a energia de um sistema pela realização de trabalho sobre o mesmo ou pela adição ou subtração de calor do mesmo. A entropia pode ser como o “grau de liberdade” ou uma medida do grau de desordem molecular. Assim como ocorre com os seres humanos, no mundo molecular processos em que há diminuição da liberdade não são 5 contendo água com gelo, um A chave para esta questão é o que vai dar origem à Segunda Lei e versa sobre o sentido dos processos físicos. Se você colocar uma gota de tinta preta dentro de um copo com água, você verá que a tinta vai se dispersar, tornando a água com a cor da tinta. Vemos . Jamais vemos que esta água parando a gota de tinta. Uma quantidade utilizada para medir o grau de desordem de um sistema (função de estado) se que podemos mudar stema pela realização de trabalho sobre o mesmo ou pela adição ou subtração de calor do mesmo. A entropia pode ser ou uma medida do grau de desordem molecular. Assim como ocorre com os seres humanos, no rocessos em que há diminuição da liberdade não são PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 6 apreciados, a menos que haja algum ganho explícito para o sistema (abaixamento de energia potencial). A segunda lei da Termodinâmica afirma que: em um processo espontâneo ocorrendo em um sistema isolado, a entropia, ou seja, seu grau de desordem (ou de liberdade), pode apenas aumentar ou permanecer igual, mas nunca diminuir. Se considerarmos o nosso universo como um sistema isolado, então a quantidade de desordem está continuamente aumentando. A entropia funciona então, como uma “seta do tempo” estabelecendo um sentido na qual as coisas acontecem naturalmente. A ordem de um sistema pode até ser aumentada, mas somente mediante a realização de trabalho externo, fazendo com que o sistema não seja mais um sistema isolado. Pense por exemplo em reagrupar os cacos de um prato quebrado que caiu da mesa ou agrupar cartas conforme seu naipe. ================ VERBETE =============== Entropia A entropia mede a dispersão espontânea de energia: quanto de energia é espalhada em um processo ou quão amplamente ela se torna dispersa em uma dada temperatura. ================= FIM VERBETE ============== Enquanto como a primeira lei da termodinâmica usa a energia interna para identificar mudanças possíveis (aquelas que conservam energia), a segunda lei da termodinâmica usa a entropia para identifica as mudanças espontâneas dessas mudanças possíveis. De maneira simplificada, a segunda lei da termodinâmica é a lei que explica que sistemas isolados com componentes com diferentes temperaturas, pressões e densidades tendem a se equilibrar com o tempo. A entropia é uma medida do grau de progressão desse movimento, ou PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 7 seja, uma medida do grau de dispersão de energia entre os componentes do sistema. Isto é simples de compreender do ponto de vista molecular, visto que as moléculas tendem a colidir umas com as outras e redistribuir energia internamente. Atividade 1: Considere dois gases distintos com a mesma pressão, em um duas partes de recipiente separado por uma válvula. Ao se abrir a válvula eles se misturam espontaneamente. Por quê? PULAR 15 LINHAS Resposta comentada: as moléculas de cada gás estão se movendo e colidindo o tempo inteiro entre si e com as paredes do recipiente (a pressão é na verdade a força média das colisões das moléculas do gás na parede do recipiente dividida pela área). Elas têm energia translacional. Desta forma, como a segunda lei da termodinâmica prediz, a energia translacional tende a se espalhar por todo o sistema, caso isso seja possível. Desta forma, quando abrimos a válvula que separa os dois gases, estamos permitindo que moléculas dos dois gases comecem a transladar no volume agora ampliado das duas câmaras, ao invés de fica apenas na sua própria câmara. A probabilidade de que existam mais “posições” para as moléculas dos gases ocuparem em duas câmaras do que em uma única câmara é importante? Sim. Desta forma, as moléculas dos gases andam com igual probabilidade entre as duas câmaras, desta forma aumentando a entropia (desordem) do sistema. ======= FIM RESPOSTA COME TADA==== Algumas afirmações importantes podem então serem feitas: 1) o calor flui espontaneamente somente do objeto mais quente para o mais frio 2) é impossível construir uma máquina térmica em que a energia de uma fonte quente seja completamente convertida em trabalho. A PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 8 própria máquina vai entrar em equilíbrio térmico e vai “roubar” energia do sistema. Para extrair trabalho útil de um determinado sistema, é necessário haver fluxo de calor de uma fonte quente para um sorvedouro frio. É necessário que se tenha uma diferença de temperatura ∆T entre os dois objetos. É impossível extrair trabalho de um sistema isolado, com ∆T = 0. A eficiência percentual de um determinado dispositivo ou máquina é definida como: �����ê���� = í� �� �� � ��� ú������� � �� ������ �100% (8.1) O princípio da conservação da energia no diz que o trabalho realizado é igual à entrada de energia menos o calor transferido para fora do sistema. Portanto, �����ê���� = ����� !"# #�$ � − ���� !"# &������ !"# #�$ � ' �100% = = (1 − ) ��� *+� �) ��� *+� ���� , �100% (8.2) Se uma parte do calor é transferida para um sorvedouro frio, como exige a segunda lei, então vemos que jamais teremos uma máquina com 100% de eficiência. O valor da eficiência será sempre menor que 100%. Mesmos na ausência de atrito na máquina, uma parte do calor será transferida para o sorvedouro frio (mesmo que este seja o meio- ambiente) e a eficiência será menor do que 100%. Para se ter uma idéia, se você comprar um carro novo, “zero quilômetro”, com útima tecnologia, e portanto o mais eficiente pois está todo bem regulado, sua eficiência será em torno de 20%, ou seja, de cada R$ 100,00 em gasolina que você colocar para encher um tanque, por exemplo, apenas cerca de R$ 20,00 serão utilizados para fazer com que o conjunto carro + motorista sejam deslocados. Os R$ 80,00 reais restantes viram calor PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 9 produzido pelo motor e é energia perdida. Isso sem contar que estamos poluindo o ambiente desnecessariamente, pois cinco vezes mais CO2 é produzido do que o necessário. Mas se uma parte do calor tem que ser perdida para o ambiente, então qual a eficiência máxima que podemos obter? Imaginemos então uma fonte quente, com temperatura Tquente e uma fria, com temperatura Tfria, ambos em Kelvins (para converter a temperatura de graus Celsius para Kelvins use a fórmula K = oC + 273). A eficiência máxima possível de uma máquina operando entre uma caldeira à temperatura Tquente e um sorvedouro frio ou condensador, a uma temperatura Tfrio é dada por �����ê���� -á��/� (1� ��$) = �1 − 34567389:;<:' �100% (8.3) Esta expressão foi proposta pelo engenheiro francês Sadi Carnot baseado no estudo de uma máquina térmica ideal, e ficou conhecida como eficiência de Carnot. Ela foi de extrema importância para o desenvolvimentodas máquinas a vapor no século XIX, que foram umas das grandes chaves para impulsionar a revolução industrial que moldou nosso jeito moderno de viver. Infelizmente, no mundo real, a maior parte das máquinas térmicas operar com metade ou dois terços da eficiência de Carnot. ==============Verbete=============== icolas Léonard Sadi Carnot (1796–1832) Nicolas Léonard Sadi Carnot foi um físico e engenheiro militar francês, nascido em Paris, que estudou máquinas térmicas e responsável pela primeira interpretação teórica sobre o assunto, que ficou conhecido como ciclo de Carnot, dando a base para a descoberta da segunda lei da termodinâmica. Foi o primeiro cientista a estudar a termodinâmica. Ele formulou seus estudos sobre termodinâmica no livro de 1824, Réflexions PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 10 sur la puissance motrice du feu et sur les machines propres à développer cette puissance. Figura: Carnot, em trajes de estudante da famosa École Polytechnique de Paris (http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Sadi_Carnot.jpeg) Seu livro e suas teorias somente foram apreciados anos depois por Clayperon, Clausius e Kelvin, que levaram ao conceito da entropia e o estabelecimento da segunda lei da termodinâmica. Carnot morreu devido ao vibrião da cólera em 1932 aos 36 anos de idade. Infelizmente, como ação preventiva para evitar a propagação da cólera, boa parte de suas anotações e demais ítens pessoais foram enterrados com ele. As idéias de Carnot foram fundamentais para o desenvolvimento dos motores por Rudolf Diesel, e que certamente formataram nosso mundo moderno. ================= FIM BOXE============= Baseado nesta expressão vemos que para maximizar a eficiência de uma máquina térmica, temos que usar as temperaturas mais extremas possíveis (isto é o maior diferença entre Tquente e Tfria) para que a razão Tfria/Tquente tenda a zero e a eficiência tenda a 100%. Vamos ver esse conceito aplicado em um caso real. Digamos que queremos gerar energia elétrica a partir de um gerador queimando um combustível, como é o caso das termoelétricas. Neste caso, há a PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 11 conversão de energia química (o combustível) em energia mecânica, que em seguida é convertida em energia elétrica. Os primeiros dois processos também ocorrem em nossos carros também como veremos adiante. Em uma termoelétrica, o combustível (seja ele carvão, gás natural, diesel, biodiesel, bagaço de cana-de-açúcar, palha de arroz, etc) é usado para aquecer a água e gerar vapor. Este vapor move uma grande turbina que está conectada a um dínamo (do mesmo tipo que usamos para acender faróis de bicicleta), que portanto gera eletricidade. A escolha do combustível é importante considerando a quantidade de CO2 produzido e sua origem fóssil ou renovável. Mas a eficiência de todas essas termoelétricas é limitada pela segunda etapa – a conversão em energia mecânica. Pense cuidadosamente no processo acima. A energia mecânica é gerada pela ação de expansão do vapor, e não a do combustível. A energia liberada quando um fluido (nesse caso água) sofre mudanças de temperatura e pressão (um ciclo de Carnot) é limitado pela termodinâmica. Considerando que energia não pode ser nem criada nem destruida, mas apenas transformada de uma forma à outra, a energia de um fluido quando sofre essas mudanças de parâmetros fisico-químicos, requer (do combustível) e entrega (à turbina) um quantidade muito bem definida de energia. Como sempre, a eficiência é definida como a razão entre a energia que entra em um sistema e a energia que sai. A eficiência maxima de Carnot é definida como a mudança de temperatura sentida pelo fluido e dada pela equação 5.3. Desta forma, a eficiência será máxima quando a mudança de temperatura sentida pelo fluido for a maior possível, como dito anteriormente. Uma termoelétrica que usa uma turbina à vapor, com vapor entrando a 813 K e resfriado a 293 K, terá eficiência maxima (de Carnot) de 64%. Na prática, tais turbinas operam no máximo em 30-40% da eficiência máxima de Carnot. A maior parte das máquinas térmicas opera na faixa de 33-50% da eficiência de Carnot maxima. PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 12 Como falamos anteriormente, os carros também obedecem à eficiência maxima de Carnot. Nos nossos carros, o combustível (gasolina, por exemplo) é queimado para aquecer um fluido – o conjunto ar + gases de combustão, ao invés de água. O ar e os gases gerados na combustão expandem-se no cilindro do carro, empurrando o pistão, que faz rodar o virabrequim (nome do eixo que conecta os cilindros), que por sua vez se liga a um sistema de engrenagens (transmissão) que faz as rodas girarem. Ou seja, a expansão dos gases é que é a responsável pela transformação do calor em energia mecânica. Infelizmente, os motores de combustão interna operam com cerca de 20% de eficiência. Muitas pessoas reclama do preço dos combustíveis. Imagine quando eles descubrirem que o carro deles poderia ser 5 vezes mais eficiente, visto que somente 1/5 da energia da gasolina são usados para fazerem as rodas girarem!!! Esse é um dos grandes desafios tecnológicos da nossa era. Como arrumar um motor que seja mais próximo do 100% de eficiência. Uma possibilidade interessante que tem sido explorada é baseada nas pilhas à combustível. Em uma pilha a combustível (chamadas em inglês de fuel cells), a energia química é convertida diretamente em energia elétrica. Não existe ciclos intermediários, ou seja, não existe a necessidade de passar pela etapa de expansão dos gases como nos motores à explosão interna, o que faz com que o limite de Carnot não seja aplicável. É uma quebra de paradigma. O resultado é que, teoricamente, as pilhas a combustível podem capturar cerca de 90% da energia do combustível e transformá-la em energia elétrica. Esta pode ser transformada em energia mecânica por um motor elétrico, mais eficiente. Imagine o impacto que isso vai ter na vida das pessoas, na economia global e no meio ambiente (podemos reduzir a poluição e emissão dos automóveis potencialmente em cerca de 80%). Talvez uma mudança nessa tecnologia nos levará da era do petróleo a uma nova era da espécie humana. Lembre-se que quando mudamos da era das pedras para a era do bronze, não foi por falta de pedras, mas por uma mudança de tecnologia Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 13 (metalurgia). O funcionamento das pilhas à combustível será tema de uma outra aula, quando pilhas e eletroquímica forem estudadas. Atividade 2: Pesquise quais os processos que estão envolvidos na geração de energia elétrica em uma usina nuclear? A eficiência é limitada pelo ciclo de Carnot? PULAR 10 LINHAS Resposta comentada: Uma usina nuclear usa bastões contendo átomos de urânio (isótopo 235), chamado de “combustível” nuclear (na verdade não há uma combustão), e que é bombardeado com neutrons. A fragmentação do núcleo atômico (fissão nuclear), libera uma enorme quantidade de energia (E=mc2), que é usada para evaporar água, formando vapor. O vapor então, em alta pressão, move hélices (turbinas), que geram então energia elétrica. Como há expansão e condensação do vapor, o ciclo de Carnot também limita o processo, pois não se pode aproveitar 100% da energia nuclear emitida. ============ FIM RESPOSTA COMENTADA=======Interpretações da Entropia Sabemos que os níveis de energia das moléculas e demais espécies químicas podem ser calculados, medidos espectroscopicamente e relacionado com as formas e tamanho das mesmas. Mas como o comportamento de um grupo de moléculas pode resultar na propriedade de uma quantidade macroscópica de uma substância, como uma gota, por exemplo? O comportamento da gota, por exmplo, é consequência do comportamento de todos as partículas desse sistema. Uma forma de medir essas tendências seria conhecer o comportamento ou a propriedade de interesse de cada uma das partículas componentes individualmente e tirar uma média. Podemos assim usar a estatística para derivar as propriedades macroscópicas da matéria a partir do comportamento PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 14 individual das partículas componentes desse sistema. O nome dessa abordagem é termodinâmica estatística. A entropia tem uma interpretação estatística e uma termodinâmica. A intepretação estatística supõe que a entropia está ligada ao grau de desordem de um sistema. Podemos calcular a entropia usando uma fórmula proposta por Ludwig Boltzmann em 1896 S = k lnΩ(Ei) (5.4) onde k = 1,381 x 10-23 J K-1 é chamada de constante de Boltzmann. A quantidade Ω(E) refere-se ao número de diferente maneiras (microestados) na qual a energia de um sistema pode ser obtida rearranjando os átomos ou moléculas nos seus estados, de energia Ei. A probabilidade do sistema se encontrar um determinado microestado Ω de energia Ei, é dada por P = 1/ Ω(Ei). O estado termodinâmico (macroestado) que poderia resultar do maior número de microestados é também o macroestado de maior probabilidade do sistema. O estado macroscópico de entropia máxima para o sistema é o na qual todos os microestados têm mesma probabilidade de ocorrer durante as flutuações do sistema. Vamos exemplificar essa relação da entropia com o comportamento estatístico de um sistema molecular. Considere um conjunto de moléculas de monóxido de carbono, CO, em T = 0 K. Nesta temperatura o sistema que tem a menor energia possível quando todas as moléculas estão perfeitamente ordenadas, como mostrado na figura abaixo. PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química Figura 8. No arranjo mostrado, somente há uma maneira de organizar as moléculas de CO, de modo que Nessa temperatura, com o sistema perfeitamente ordenado, tem entropia igual a zero. T= 0K (terceira lei da termodinâmica). CO pode se ordena a mostra a figura 8.2. Figura 8.2 Se por exemplo, a amostra consistir de CO, cada molécula Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II Figura 8.1: Moléculas de CO perfeitamente ordenadas em T= 0 K. No arranjo mostrado, somente há uma maneira de organizar as moléculas de CO, de modo que Ω = 1. Assim, S = S = k. ln Ω = k. ln(1) = 0 J K Nessa temperatura, com o sistema perfeitamente ordenado, tem entropia igual a zero. Todos os sólidos perfeitamente cristalinos têm S =0 quando T= 0K (terceira lei da termodinâmica). Se ao contrário, cada molécula de CO pode se ordenar de duas formas diferentes (dois microestados), como a mostra a figura 8.2. : Moléculas de CO perfeitamente ordenadas em T= 0 K, em diferentes microestados. Se por exemplo, a amostra consistir de um número . de CO, cada molécula pode tomar duas posições no cristal sem afetar a 15 Moléculas de CO perfeitamente ordenadas em T= 0 K. No arranjo mostrado, somente há uma maneira de organizar as moléculas = k. ln(1) = 0 J K-1. Nessa temperatura, com o sistema perfeitamente ordenado, tem entropia Todos os sólidos perfeitamente cristalinos têm S =0 quando cada molécula de r de duas formas diferentes (dois microestados), como Moléculas de CO perfeitamente ordenadas em T= 0 K, em de moléculas de pode tomar duas posições no cristal sem afetar a Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 16 energia significativamente (momento dipolo relativamente pequeno, de modo que a energia de interação é relativamente pequena, levando a energias parecidas), o número total de modos de obter-se a mesma energia total para N moléculas é Ω(Ei) = 2 x 2 x 2 x ... = 2 . e a entropia S = k ln 2Ν = ..k ln 2 Se . for o número de Avogadro (1 mol de CO), temos que S = 6,022 x 1023 x 1,381 x 10-23 J K-1 x ln 2 S = 5,76 J K-1 ou S = 5,76 J K-1 mol-1 (para 1 mol) O importante de se guardar é que à medida que a desordem de um sistema cresce, a sua entropia também crescerá. Atividade 3: Calcule a entropia de um sólido formado por 14N≡15N, na temperatura T=0 K. Resposta comentada: ================= FIM RESPOSTA COMENTADA======== Por outro lado, uma abordagem mais antiga, e que estava mais preocupada apenas com o estudo da dinâmica transferência de calor entre objetos (daí o termo termodinâmica), independente de uma abordagem mais microscópica do fenômeno, se concentra na mudança de entropia, dS, durante um determinado processo, e não no seu valor absoluto S. A definição de dS é baseada no grau de mudança na dispersão de energia Curso de Química pode estar relacionado à energia transferida como calor quando um determinado processo acontece. Figura 8.4: e no ambiente. Vamos considerar que a mudança de entropia do ambiente como dS Representamos o ambiente como um imenso reservatório térmico, que mantém a temperatura T constante. Imagine que um peso amarrado a um gerador ligado a um aquecedor liberando uma quantidade de calor dq Figura 8.5: térmica. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II pode estar relacionado à energia transferida como calor quando um determinado processo acontece. Sistema global isolado e sua divisão no sistema de inte no ambiente. Vamos considerar que a mudança de entropia do ambiente como dS Representamos o ambiente como um imenso reservatório térmico, que mantém a temperatura T constante. Imagine que um peso amarrado a um gerador ligado a um aquecedor como mostrado na figura a seguir liberando uma quantidade de calor dqamb dentro do reservatório Transformação espontânea de energia potencial em energia 17 pode estar relacionado à energia transferida como calor quando um Sistema global isolado e sua divisão no sistema de interesse Vamos considerar que a mudança de entropia do ambiente como dSamb. Representamos o ambiente como um imenso reservatório térmico, que mantém a temperatura T constante. Imagine que um peso amarrado a um mostrado na figura a seguir é solto, dentro do reservatório térmico. Transformação espontânea de energia potencial em energia Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 18 Quanto maior a quantidade de calor transferido para o reservatório, maior será o movimento térmico das suas partículas componentes, e portanto uma maior dispersão de energia ocorrerá. Isto sugere que => ?� ∝ =! ?� Se considerarmos que o reservatório pode ter duas diferentes temperaturas, T1 e T2, em que T1 < T2, veremos que mais desordem ou maior grau de distribuição de energia é gerada se esse calor dqamb for transferido para um reservatório mais frio com um T1, em relação a um reservatório mais quente, com temperatura T2. Então verifica-se que quanto maior a temperatura menor o aumento de desordem. Grandes mudanças de entropia acontecem quando movimento (translacional, rotacional , vibracional, etc) é gerado à baixastemperaturas, onde os átomos movem-se relativamente mais lentamente. => ?� = =! ?�A Essa equação pode ser interpretada como Mudança de entropia = “energia dispersa”/T Para variações finitas, ∆> ?� = ! ?�A Quando uma reação ou processo químico ocorre sob pressão constante, qamb=-∆H. Assim, pode-se mostrar que ∆> ?� = − ∆CA Esta relação, que pode ser escrita como PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 19 A∆> ?� = −∆C ou ∆C − A∆> ?� = 0 será útil para determinar a direção espontânea do uma mudança química. Atividade 4: Resposta comentada: ================= FIM RESPOSTA COMENTADA======== As Funções de Helmoltz e Gibbs Consideremos um sistema em equilíbrio com o ambiente na temperatura T. A inequalidade de Clausius, pode ser então escrita como => − �*3 ≥ 0 (8.5) Se considerarmos a transferência de calor à volume constante e se não houver trabalho de expansão, temos que dq = dU, portanto substituindo em na equação 8.5, temos => − �E3 ≥ 0 (8.6) Ou seja, A=> ≥ =F (8.7) =F − A=> ≤ 0 (8.8) PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 20 Para os processos espontâneos, em volume constante e sem trabalho de expansão, se dU = 0 implica necessariamente que dS ≥ 0 (segunda lei da termodinâmica) e se dS = 0, para satisfazer a equação 8.6, temos que ter dU ≤ 0. Quando o calor é transferido em pressão constante, e não existe outro trabalho diferente do trabalho de expansão, podemos escrever que dq = dH e analogamente obter que A=> ≥ =C (8.9) ou =C − A=> ≤ 0 (8.10) Assim, de maneira análoga podemos ver que nesse caso, um processo espontâneo em que a entalpia for constante (dH = 0) nos leva a dS ≥ 0 e no caso onde a entropia seja constante (dS = 0) dH ≤ 0. As condições acima devem ser satisfeitas nos processos espontâneos. Assim duas novas funções termodinâmicas foram propostas e demonstram se um processo é espontâneo ou não. Elas são as funções de Helmoltz, A, usada para processos em volume constante, e a função de Gibbs, G, usada para processos em pressão constante. A = U –TS (Helmoltz) G = H –TS (Gibbs) Quando há mudança do estado do sistema sob temperatura constante, temos que dA = dU –TdS (Helmoltz) dG = dH –TdS (Gibbs) PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 21 Se colocarmos os critérios para que ocorra um processo espontâneo (para V constante, dS ≥ 0 e dU ≤ 0; e para pressão constante dS ≥ 0 e dH ≤ 0) chegamos à conclusão que A e G devem obedecer à seguinte inequalidade: dAT,V ≤ 0; dGT,P ≤ 0 Estas são as conclusões mais importantes derivados da termodinâmica para a química. Ela nos diz que um processo somente será espontâneo se a variação da função (seja de Gibbs, para P e T constante, ou de Helmoltz, para T e V constantes), também chamada energia livre, seja nula ou negativa. Atividade Final: Por que um ar condicionado consome tanta energia elétrica quando está em funcionamento? Isso tem algo a ver com entropia ou espontaneidade? Resposta comentada: Um ar condicionado usa compressões e expansões sucessivas de um gás, para poder resfriar um ambiente. Na prática, o que fazemos é retirar calor de um local (um quarto, por exemplo) e jogar esse calor em outro local (o exterior, por exemplo). Se lembrarmos que temperatura é uma medida da energia cinética dos átomos de um determinado sistema, vamos ver que estamos tirando energia cinética de um dos lados, aumentando sua ordem, e transferindo-a para um outro lado, o que aumenta sua desordem. Assim, estamos colocando um sistema mais ordenado (o quarto) e outro mais desordenado (o exterior). Sabemos que os sistemas tendem a equilibrarem-se termicamente. Fazer o movimento oposto não é um processo espontâneo e temos que usar energia para promover tal mudança. Essa energia na verdade, compensa a menor entropia do PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 22 sistema (Squarto frio + Sexterior quente < (Squarto + Sexterior)mesma temperatura), colocando uma quantidade extra de desordem pelo seu consumo energético (Sar condicionado). Assim, o processo de resfriar um quarto torna- se espontâneo devido ao aumento de desordem total (Stotal = Squarto + Sexterior + Sar condicionado) e pela realização de trabalho pelo motor do ar condicionado. Informações sobre a próxima aula Na próxima aula estudaremos o equilíbrio e sua relação com a termodinâmica. Resumo Nesta aula vimos que nem todo processo que conserva energia é espontâneo. Vimos que a espontaneidade de um determinado acontecimento depende de uma quantidade denominada entropia. Esta vai dar origem à Segunda Lei da Termodinâmica que sobre o sentido perimitido dos processos físicos. A entropia que mede o grau de liberdade de um determinado sistema, ou das diferentes maneiras que um determinado sistema pode se arrumar internamente. Isto de certa forma é uma medida da desordem do sistema. Processos espontâneos são favorecidos pelo aumento do número de maneiras diferentes que o sistema pode organizar. Em outras palavras, processos que levam a maior desordem do sistema favorecem a uma maior espontaneidade de que ele ocorra. O ciclo de Carnot diz que máquinas térmicas não têm como ser 100%, sendo parte da energia perdida sobre a forma de calor. A eficiência das máquinas térmicas pode então ser calculadas teoricamente. As funções de estado que dizem se um processo pode ou não ser espontâneos são as funções de Gibbs (G), para processos ocorrendo sob PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 23 pressão e temperatura constantes, ou de Helmoltz, que é usada para processos ocorrendo sob volume e temperatura constantes. Bibliografia Utilizada: • P. W. Atkins e J. de Paula, Físico-Química, LTC, 2004. • J. E. Brady, G. E. Humiston, Química Geral, vol. 1, 2ª Ed., LTC ed., 1986. PAULA Realce
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