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Curso de Técnicas Posturais e Manipulativas Sumário Apresentação Introdução Capítulo 1- Anatomia e Postura 1.1 A Coluna Vertebral 1.2 Músculos 1.3 As Fáscias 1.4 Disco Intervertebral 1.5 Respiração 1.6 A Estática 1.7 O que é postura 1.8 A boa postura 1.9 Métodos e Materiais 1.10 O que é postura errada Capítulo 2 – Disfunções, Introdução às Técnicas e R.P.G. 2.1 Disfunções 2.2 Técnicas posturais 2.3 R.P.G. (REEDUCAÇÃO POSTURAL GLOBAL) Capítulo 3 - Osteopatia, Maitland e Quiropraxia 3.1 Osteopatia 3.2 Maitland 3.3 Quiropraxia Capítulo 4 - Isostretching e Pilates 4.1 Isostretching 4.2 Pilates Apresentação Olá, seja bem-vindo (a) ao estudo de Técnicas Posturais e Manipulativas. Com este conteúdo você aprenderá sobre as técnicas mais famosas, existentes no mercado, voltadas ao tratamento dos desvios posturais e disfunções ósseas que requerem manipulação. No entanto, trabalhar com tais técnicas exige muita responsabilidade e conhecimento. São manobras delicadas que, se não bem executadas, podem causar lesões e agravar o problema do paciente, ao invés de propiciar a cura. Estudar e se aprofundar é fundamental, pois, para a execução perfeita das manobras, é preciso obter os conhecimentos de anatomia e fisiologia da coluna vertebral e de seus ligamentos, e do sistema musculoesquelético. Além disso, saber exatamente quais são as indicações e contraindicações de cada técnica, é de suma importância. Portanto, o assunto é sério e exige conhecimento e dedicação. Assim, preparamos este conteúdo que, certamente, lhe ajudará na identificação com alguma técnica em específico (ou até mais de uma). Nele, você encontrará noções de anatomia da coluna vertebral e músculos, o que é e a história de cada técnica postural ou manipulativa, além de exemplos de exercícios de cada uma delas. Introdução O conteúdo “Técnicas Posturais e Manipulativas” descreverá as técnicas posturais e de manipulação óssea e muscular, fornecendo conhecimentos de anatomia dos principais sistemas envolvidos, das disfunções tratadas com as técnicas em questão, além dos dados necessários para que o aluno conheça as técnicas existentes no mercado e escolha aquela(s) que mais lhe chame a atenção, em relação à metodologia de trabalho, para buscar seu aprofundamento profissional. Capítulo 1 Anatomia e Postura 1.1 A Coluna vertebral A coluna vertebral é o pilar mestre do nosso corpo. Também chamada de “coluna mestra”, trata-se de um empilhamento de ossos sobrepostos em perfeita harmonia, sendo constituída de vértebras, ligadas entre si por um “bolo” cartilaginoso, o disco intervertebral, formando uma nova articulação. Atrás, o arco posterior forma um canal para a medula, protegendo-a e, também, apresentando três apófises (bicos ósseos), onde se ligam os ligamentos e músculos. O conjunto é solidificado por muitos ligamentos fortes que limitarão sua flexibilidade e assegurarão sua coesão. O sistema de músculos implantado sobre a parte posterior é importante e muito complexo. A camada profunda desse sistema é composta por vários músculos que formarão um grupo importante no desenvolvimento de um trabalho postural. Essa construção tem por função oferecer mobilidade e força para a coluna, mas também causa certa fragilidade, devido aos seus componentes. Além disso, assegurará três funções principais para a coluna, que se combinarão de uma maneira permanente: - Flexibilidade: para participar do movimento; - Apoio: por assegurar a verticalidade e o equilíbrio; - Proteção medular: para boa transmissão do sistema nervoso, a fim de organizar o funcionamento de modo mais justo possível. A coluna vertebral também serve de apoio aos músculos dos membros, tanto superiores como inferiores. A coluna normal deve ser capaz de se deformar nas diferentes direções para participar e conceder mais amplitude aos movimentos, e depois, retornando dos movimentos, tornar-se rígida novamente para fixar as articulações, a fim de assegurar sua função de proteção e de ponto de apoio, repartindo, da maneira mais eficaz, as pressões ao nível das vértebras, entre os corpos vertebrais, protegendo os discos e as articulações. As dores ocorrem quando alguma coisa em todo esse “sistema” não funciona de maneira adequada. Separamos os sistemas (ósseo, muscular, disco intervertebral e ligamentos) de uma maneira mais didática, para que se possa entender como ocorrem as lesões e de que forma as técnicas posturais e de manipulação podem atuar. Principais ossos: Conheceremos, agora, os ossos que compõem a coluna vertebral, juntamente com suas principais articulações e acidentes anatômicos. Denominamos de acidentes anatômicos todas as irregularidades existentes em um osso, cada pico, forâmen (buraco), fossas e encaixes das articulações. Estes acidentes são importantes, pois são os locais onde se encontram as origens e inserções dos músculos e ligamentos, além de formarem as superfícies das articulações. Olhando para a figura, cada sulco, forame, pedículo, processo e tubérculo trata-se de um acidente anatômico. Fonte: www.sogab.com.br. Acidentes anatômicos do osso fêmur. Fonte: ATLAS DE ANATOMIA HUMANA – SOBOTTA. A coluna vertebral forma uma haste móvel que compõe, juntamente com as costelas e o osso esterno, o esqueleto do tronco. Ela possui trinta e três ossos chamados de vértebras que possuem características diferentes, de acordo com a região da coluna onde se localizam. Com essas diferenças, há uma subdivisão da coluna em regiões, cada uma com as suas particularidades, formando as curvaturas fisiológicas que a coluna vertebral possui. Podemos classificar essas curvaturas assim (incluindo o número de ossos que cada região possui): Região cervical: formada por sete vértebras, a sua curvatura fisiológica denomina-se lordose (côncava para trás); Região dorsal ou torácica: formada por doze vértebras, sendo a maior das curvaturas, denominando-se cifose (côncava para frente). Tem ligação com as costelas, que se conectam na frente com o osso chamado esterno, por cartilagens (algumas não se ligam, sendo denominadas costelas flutuantes), formando a Caixa Torácica, que por sua vez tem papel fundamental na respiração e sofre alterações nos desvios posturais; Região lombar: é formada por cinco vértebras, sendo as maiores em tamanho e largura. A sua curvatura denomina-se lordose (côncava para trás); Região sacra: formada por cinco vértebras, são todas fundidas entre si formando um único osso; Região coccígea: formada por cinco vértebras, também fundidas. Algumas pessoas possuem variações anatômicas, não possuindo todas as cinco vértebras coccígeas. Olhando a coluna de uma visão anterior, podemos notar que as vértebras tornam-se cada vez mais largas à medida que descemos. Contam- se as vértebras de cima para baixo, sendo nomeadas por suas iniciais e número, conforme sua posição. Por exemplo: - C.3: terceira vértebra cervical, - T.6: sexta vértebra torácica, - L.5: quinta vértebra lombar, - S.2: segunda vértebra sacral. Observe a imagem: Número de vértebras e curvaturas de cada região. Fonte: Própria. As vértebras são mais ou menos visíveis, de acordo com a quantidade de gordura e músculos de cada pessoa. Utilizaremos, como exemplo, uma pessoa bem magra, cujas vértebras e escápulas são bem visíveis, enquanto que outra pode ter maismassa muscular nessa região, com os músculos romboides bem salientes entre as escápulas, não se podendo visualizar os ossos. Estas duas pessoas diferentes podem ter as mesmas angulações em nível de coluna torácica na radiografia, mesmo que não aparente. Cada vértebra possui duas partes principais: a anterior, que é maciça e chamada de corpo vertebral, e a parte posterior, denominada de arco vertebral posterior. O corpo tem formato cilíndrico, enquanto o arco posterior tem dois pedículos que são implantados atrás do corpo. Duas lâminas se juntam para trás, simetricamente, prolongando-se em uma projeção óssea única, denominada processo espinhoso ou espinha. Em cada junção entre os ossos ocorre um espessamento mais ou menos vertical: os processos articulares. Cada uma possui, nas suas extremidades (superior e inferior), uma superfície articular cartilaginosa e, deste processo articular, sai uma projeção lateral chamada processo transverso. O arco posterior e a parte de trás do corpo vertebral delimitam o forame vertebral. O empilhamento dos forames vertebrais forma uma espécie de canal ósseo que é denominado canal vertebral, sendo que este local abriga a medula espinhal. A cada espaço intervertebral, os pedículos de duas vértebras “empilhadas” formam o forame intervertebral, por onde passa cada nervo que sai da medula de uma maneira simétrica, de cada lado da coluna vertebral. Esses nervos saem da medula espinhal e dão movimento e sensibilidade aos membros e tronco, através de estímulos cerebrais. A vértebra e seus acidentes anatômicos. Fonte: www.sogab.com.br. Canal Medular (acidente anatômico por onde passa a medula espinhal.) Fonte: www.fm.usp.br. Detalhando cada uma das vértebras de cada região da coluna vertebral, veremos que são bem diferentes entre si, determinando as características de cada região. O esqueleto do pescoço é formado pela coluna cervical. É dividida em duas regiões: a coluna cervical suboccipital (parte atípica) e pela parte típica. A coluna atípica é formada pelas duas primeiras vértebras C.1, chamada de Atlas, que se encontra exatamente sob o crânio; e C.2, chamada de Áxis, e ambas têm um funcionamento específico. A coluna cervical típica é formada por C.3 a C.7, e todas as vértebras possuem as mesmas características. O corpo da vértebra cervical é pequeno e a espessura dos discos intervertebrais é cerca de um terço da espessura do corpo vertebral. Estas duas características permitem uma grande mobilidade. A forma retangular dos corpos limita um pouco as inclinações laterais. Elas têm como particularidade que as suas faces superiores salientam-se dos lados, chamando-se “lábios" (ou uncus) e as faces inferiores são incisadas de tal forma que se correspondem. Essa forma óssea permite a mobilidade e uma grande estabilidade, ao mesmo tempo. Assim, os corpos estão “calçados” lateralmente. As faces superiores destas vértebras são um pouco convexas e inclinadas para frente. As faces inferiores são um pouco côncavas e inclinadas para trás. As espinhas têm comprimentos variados; C.2 e C.7 são longas e as outras bem mais curtas, favorecendo o movimento de extensão. O processo transverso das vértebras cervicais nasce de duas raízes: uma ao lado do corpo e a outra no pedículo. São largas e limitam, pelo seu encontro, as inclinações laterais. Essas duas raízes delimitam um orifício– o forame transversário - e, depois, juntam-se, por fora, formando um pequeno sulco por onde passa o nervo espinhal. Os processos transversos cervicais estão “furados”, dando passagem (com exceção de C.7) para uma artéria muito importante: a artéria vertebral, que irriga, em parte, o encéfalo. Assim, um bom alinhamento da coluna cervical é importante, pois além do risco de um pinçamento nervoso (de raízes nervosas saídas dos forames), há o risco de compressão da artéria, podendo haver acidentes vasculares. Facetas articulares das vértebras. Fonte: www.fm.usp.br. Como processos articulares, temos as facetas superiores que se voltam para cima e para trás, e as facetas inferiores, para baixo e para frente. Elas posicionam- -se em um ângulo de 45 graus e, por isso, a inclinação lateral sempre se combina com uma certa rotação: de fato, se olhamos a vértebra de cima, veremos que, do lado da inclinação, a superfície articular se desloca para baixo e um pouco para trás. No lado oposto à inclinação, desloca-se para cima e um pouco para frente. A união dos dois movimentos produz uma rotação para o lado da inclinação. Assim, temos que a mobilidade da coluna cervical típica é importante para a flexão, extensão e rotação, e é muito menos importante para a inclinação lateral. A coluna suboccipital (ou atípica) é a parte mais alta da coluna cervical, região na qual são produzidos os movimentos independentes da cabeça, como os movimentos de pescoço, que simbolizam “sim” e “não” leves. C.1 ou atlas e C.2 ou áxis, têm as suas particularidades. O atlas parece mais um anel ósseo do que uma vértebra, reforçado por dois maciços colaterais. A parte dianteira constitui o arco anterior, pois o atlas não tem corpo e a parte traseira constitui o arco posterior. Lateralmente, as massas laterais encontram-se no processo transverso por onde passa a artéria vertebral. O anel está dividido em dois pelo ligamento transverso do atlas, que se fixa no interior das massas laterais. A parte anterior envolve o pivô da vértebra áxis. A parte posterior constitui o forame vertebral, por onde passa a medula espinhal. As partes de cima e de baixo das massas laterais constituem as superfícies articulares, pelas quais o atlas se une, em cima, com o occipital e, abaixo, com o áxis. O osso occipital faz parte dessa articulação entre atlas e áxis, e fica localizado na parte de trás da base do crânio, possuindo um forame, que é a continuação do canal vertebral, por onde a medula entra no crânio. De cada lado deste forame, há uma superfície convexa, recoberta por cartilagem, que equivale a uma das massas laterais do atlas, sendo chamados de côndilos do occipital. Em cima de cada massa lateral também há uma superfície ovalada, porém côncava, recoberta por cartilagem. Esse conjunto forma um bloco, uma esfera maciça que se articula com uma esfera côncava. Isso permite movimentos em todas as direções, mas um tanto quanto limitados. Dessa forma, temos que os principais movimentos são em flexão e extensão, estando fortemente impedidos pelos ligamentos, ou seja, os movimentos de balançar a cabeça afirmativamente. Você sabia? O atlas é mantido sob o occipital por uma cápsula bastante frouxa, com ligamentos nos quatro pólos: um anterior, um posterior e dois colaterais. Além disso, outros ligamentos unem o áxis ao occipital e mantêm, indiretamente, o atlas entre o áxis e o occipital. O áxis é a segunda vértebra cervical. Tem uma forma típica de uma vértebra cervical, mas com duas particularidades ósseas na parte de cima, o que lhe permite a articulação com o atlas. De cada lado do corpo vertebral há uma superfície ovalar convexa, que corresponde à parte inferior de uma massa lateral do Atlas. Em cima do corpo do áxis há um processo em forma de pivô: é o processo odontoide ou “dente” do áxis, que, como um eixo, aloja-se na parte anterior do anel do atlas. Assim, não há disco intervertebral entre C.1 e C.2, mas sim, duas articulações clássicas. Essas superfícies são convexas tanto no atlas quanto no áxis, não se encaixando, sendo uma dobradiça de mobilidade permanente. Existem duasarticulações entre o atlas e o processo odontoide; a primeira está entre o atlas e a face anterior do processo odontoide; e a segunda, entre o ligamento transverso do atlas (que possui uma superfície articular anterior) e a face posterior do processo odontoide. Veja as imagens: A coluna cervical. Note as duas primeiras vértebras diferentes, atlas e áxis, com o processo odontóide. Fonte: www.fm.usp.br. Vértebra atlas (C1), vista anterior. Fonte: www.fm.usp.br. Vértebra atlas (C1), vista posterior. Fonte: www.fm.usp.br. Vértebra áxis (C2), vista anterior. Fonte: www.fm.usp.br. Vértebra áxis (C2), vista posterior. Fonte: www.fm.usp.br. Articulação atlas e áxis (C1-C2). Fonte: www.fm.usp.br. Os ligamentos que unem o áxis e o atlas são atlantoaxial anterior e posterior; e o áxis ao occipital são o occipitoaxial e o occipitodontóide ou “suspensor do dente”. A coluna cervical superior tem como função o equilíbrio vertical da cabeça durante os movimentos do corpo. Para preenchê-la, ela deve permanecer livre. A coluna cervical inferior tem como função os deslocamentos da cabeça e a orientação do olhar, que comanda todos os nossos gestos. A coluna torácica ou dorsal é constituída por doze vértebras, onde a espessura do disco é de um sexto do corpo vertebral. Sendo assim, temos um disco muito estreito, o que limita bastante a sua mobilidade. O corpo vertebral é cilíndrico e seu corte é circular. Nas faces laterais dos corpos vertebrais, encontram-se superfícies articulares onde se articulam as costelas, estando: - uma em cima e outra em baixo, de T.2 a T.9; - uma no meio e outra embaixo na vértebra T.1; - e apenas uma nas vértebras T.11 e T.12. A superfície dos processos articulares é arredondada, mas plana; as superiores voltam-se para trás (um pouco para cima e lateralmente); as inferiores voltam-se para frente (um pouco para baixo e medialmente). São as vértebras inferiores que permitem os movimentos de flexão, extensão e inclinação lateral. As vértebras torácicas possuem facetas articulares que estão situadas sobre a curva de um mesmo círculo, cujo centro seria do corpo vertebral, o que permite e favorece as rotações. As lâminas das vértebras são achatadas e retangulares, mais altas do que largas e sobrepõem-se, como se fossem as telhas de um telhado. Seus processos espinhosos são alongados, muito oblíquos para baixo, com exceção de T.11 e T.12, limitando a hiperextensão de coluna, pois se encontram posteriormente. Os processos transversos têm comprimentos desiguais, sendo mais longos nas torácicas altas do que nas baixas. Em sua face anterior está uma superfície que corresponde a uma costela (novamente, exceto em T.11 e T.12). É uma região da coluna onde todos os movimentos são possíveis quando falamos de mobilidade, mas há um pouco de limitação pela caixa torácica, que se fixa nas vértebras. Isso se vê principalmente nas vértebras de T.1 a T.7 (região situada entre as escápulas), cujas costelas estão unidas quase diretamente na frente ao esterno, por meio de uma cartilagem. As vértebras de T.8 a T.10 sustentam as „‟costelas falsas‟‟, que são mais livres na frente. Sua ligação com o esterno se realiza através de uma cartilagem mais comprida, que, por sua vez, está unida à cartilagem da sétima costela. E, por final, as vértebras T.11 e T.12 sustentam as costelas “flutuantes”, não unidas com o esterno. Essa região se parece muito com uma dobradiça, com grande mobilidade. Veja, a seguir, a constituição anatômica diferenciada da vértebra torácica. A vértebra torácica com seus acidentes anatômicos. Fonte: www.sogab.com.br. A coluna lombar tem um disco espesso, de um terço do corpo, o que lhe confere um grande grau de mobilidade. Os corpos são volumosos, de forma oval e côncava para trás. Os processos transversos são longos e são chamados de “costiformes”. Nas suas extremidades, encontram-se um tubérculo. Os processos articulares ultrapassam o comprimento do corpo da vértebra em cima e embaixo, com uma parte central reduzida: o istmo. Em cima, eles têm a forma de uma cavidade cilíndrica voltada medialmente e um pouco para trás; embaixo, a forma de um cilindro maciço, voltado lateralmente e um pouco para frente. As superfícies articulares são verticais, mas as lombares superiores são cada vez mais frontais, indo para as lombares inferiores, e totalmente frontais na junção lombossacral. As espinhas das vértebras são curtas e maciças, permitindo uma boa amplitude de extensão. Assim, temos que a coluna lombar permite boa amplitude em flexo- -extensão, em inclinação lateral e pouca mobilidade em rotação. A região lombar tem como função a sustentação do peso. Todas as compensações de movimento entre as colunas lombar e cervical ocorrem na região dorsal, sejam elas estáticas ou dinâmicas. Diferença anatômica da vértebra lombar. Fonte: www.fm.usp.br. A junção lombossacra tem uma característica em particular: a base do sacro está inclinada para frente, havendo grandes variações de ângulos de um indivíduo para outro, e isto é mais marcado na postura ereta, onde a articulação está submetida a um grande esforço de abertura pelo peso corporal sobreposto. O corpo de L.5 e o disco L.5/S.1 são um pouco menos altos atrás do que na frente. Este conjunto está disposto em forma de curva, sendo côncava para trás. As superfícies dos processos articulares estão em plano quase frontal. Esta junção está reforçada fortemente pelos ligamentos iliolombar e sacrolombar. O sacro é um osso mediano e posterior da pelve, situado entre os dois ossos da pelve, os ilíacos. Tem a forma de um triângulo e é formado pela fusão de cinco vértebras. A sua face pélvica é côncava e no centro vemos a forma dos corpos vertebrais, separados por linhas transversas, que representam os discos. A parte mais alta salienta-se para dentro da pelve, região chamada de promontório sacro. Lateralmente, há os forames sacrais pélvicos, que se prolongam para fora por meio de sulcos. Destes sulcos, saem os ramos anteriores dos nervos sacrais. A face superior apresenta, no centro, o platô sacral, ou base do sacro, sobre o qual se coloca o disco L5/S1 e a quinta vértebra lombar. Atrás do platô encontra-se o canal sacral que é a continuação do canal vertebral e, lateralmente, temos as asas do sacro. A face dorsal do sacro é convexa. Da linha mediana para fora, bilateralmente, encontram-se a crista mediana do sacro (fusão das espinhas); em seguida, o sulco sacral (fusão das lâminas); depois, a crista intermediária do sacro (fusão dos processos articulares). Mais lateralmente, os forames sacrais dorsais, de onde emergem os ramos posteriores dos nervos sacrais; e, para finalizar, a crista lateral do sacro (fusão dos processos transversos). A face lateral é um pouco triangular. Nela há uma superfície articular em forma de “meia-lua”, um pouco côncava: a faceta auricular ou aurículo do sacro. Osso sacro, vista anterior. Fonte: www.fm.usp.br. Osso sacro, vista posterior. Fonte: www.fm.usp.br. Osso sacro, vista lateral. Fonte: www.fm.usp.br. O cóccix é um pequeno osso triangular, resultado da fusão de três a cinco vértebras, porém, não reconhecíveis. O cóccix se articula com o sacro por meio de uma superfície ovalada, sendo mantido por uma cápsula e por ligamentos (esta articulação encontra-se normalmente soldada). Osso cóccix, vista anterior. Fonte: www.fm.usp.br. Osso cóccix, vista posterior.Fonte: www.fm.usp.br. Agora, conversaremos a respeito de um assunto muito importante: os movimentos da coluna e sua flexibilidade (mobilidade). Devido à mobilidade da coluna vertebral, o tronco pode realizar movimentos nos três planos: - Para frente e para trás (frontal): flexão e extensão; - De lado (sagital): inclinação lateral; - Girando sobre si próprio (lateral): rotação. Esses movimentos não têm a mesma amplitude em todos os níveis vertebrais, dependendo de diversos fatores variáveis: a forma das vértebras; a altura dos discos em relação à altura dos corpos (quanto mais os discos são espessos, maior é a mobilidade) e a presença das costelas (na região torácica, limitando a mobilidade). Vimos que a coluna lombar tem grande mobilidade e que dentro de cada segmento, seja lombar, torácico ou cervical, um nível é mais móvel que outro. Todos os movimentos podem combinar-se, formando movimentos maiores, como por exemplo, rotação, extensão e inclinação lateral do pescoço. A flexibilidade é, geralmente, bem maior nas crianças, pois suas estruturas, como ligamentos e cartilagens, ainda estão “moles”, já que seu processo de formação ainda não está concluído. Pode-se fazer manutenção desta flexibilidade ao longo da vida. Isto garante uma coluna mais saudável e um corpo menos propenso à lesões. Deve-se evitar alongamentos excessivos, trabalhando sempre dentro da amplitude de movimento fisiológico de cada articulação. Manobras mais ousadas e suas indicações, serão expostas mais tarde. Existem zonas de hipermobilidade da coluna (zonas de articulação em dobradiça), onde se passa de um tipo de vértebra para outro: Articulação em dobradiça C.1- occipital: (cabeça – atlas primeira dobradiça vertebral), mobilidade em flexo-extensão; Articulação C.1- C.2: quer dizer atlas – axis, hipermobilidade em rotação; Articulação em dobradiça cérvico-dorsal: hipermóvel em flexão. Passa-se sobre um nível de uma região pouco móvel em flexão (a região dorsal) para uma região hipermóvel, ou seja, a cervical; Articulação em dobradiça dorso-lombar: hipermóvel em flexão (é frequente, neste local, que a coluna começe a se curvar para frente); em inclinação lateral e em rotação, no nível de T.11 – T.12 (atenção, durante os movimentos de rotação forçada ou de rotação rápida, o disco, neste nível, possui o risco de ser hipersolicitado. É a primeira dobradiça rotatória a partir da região baixa da coluna); Articulação em dobradiça sacro-lombar: hipermóvel em extensão (sendo esta que “forçará”, portanto, as curvaturas). Entre estas áreas articulares em dobradiça, há outras regiões da coluna que também possuem particularidades da mobilidade: - A região cervical é hipermóvel em quase todos os planos e vemos que a rigidez de pescoço ou o limite de movimentos, nesta região, é frequentemente de origem articular, não muscular; - A região torácica é propícia para flexão anterior, limitada principalmente na sua parte alta pela presença das costelas, que limitam toda a amplitude de movimentos; - A região lombar é, sobretudo, usada para a realização da flexão posterior, ou seja, extensão. Ligamentos: Um ligamento é uma banda de tecido fibroso que se une aos dois ossos adjacentes. Normalmente, é um espessamento da cápsula, mas também, pode estar dentro ou fora desta. Assim como a cápsula articular, que recobre todas as nossas articulações, os ligamentos têm o papel mecânico importante de manter a articulação. É um papel passivo, ou seja, eles não se contraem como os músculos para exercer essa função. Por esta razão, são considerados inextensíveis ou inelásticos; mas são colocados sob tensão por determinadas posições da articulação e relaxados por outras. Os ligamentos possuem inúmeros receptores nervosos sensitivos, que percebem a velocidade, o movimento, a posição da articulação, além de estiramentos e dores que podem ocorrer, eventualmente. Eles transmitem permanentemente essas informações ao cérebro, que responde com ordens motoras aos músculos. É isto que chamamos de sensibilidade proprioceptiva. Apesar desse dispositivo, um movimento excessivo da articulação pode produzir um estiramento ligamentar, que ocasiona distensão ou ruptura, sendo o que acontece nos casos de entorse. Temos como principais ligamentos anatômicos da coluna: Ligamento Flavo, ligamento Longitudinal Posterior e Ligamentos Inter e Supraespinhal. Ligamento flavo. Fonte: www.fm.usp.br. Ligamento Longitudinal Posterior e Ligamentos Inter e Supraespinhal. Fonte: www.fm.usp.br . 1.2 - Músculos O músculo é um órgão do corpo humano, formado por tecido muscular, sendo este tipo de tecido muito versátil, tendo como principal característica a propriedade de contração e distensão de suas células, geralmente em resposta a um estímulo nervoso. E é essa propriedade que gera os movimentos dos membros e das vísceras. Há três tipos básicos de tecido muscular: liso, estriado esquelético e estriado cardíaco. O que denominamos músculo é constituído, na realidade, por dois elementos: o sistema aponeurótico, que reúne os segmentos e os elementos de contração que permitem ao sistema fibroelástico fazer a função de tensão sobre os membros, para promover os seus movimentos ou controlá-los. O Músculo Esquelético O músculo esquelético forma a maior parte da musculatura do corpo, chamada na “boca popular” de “carne”. O esqueleto é totalmente recoberto por este tecido, que está preso aos ossos e é responsável pela movimentação do corpo. Este tipo de músculo apresenta, na microscopia, listas alternadas entre claro e escuro, dispostas transversalmente. Esse tipo de estriação é resultado do arranjo regular de microfilamentos, formados por duas proteínas: actina e miosina. Estas são as reais responsáveis pela contração muscular. A célula muscular estriada é chamada de fibra muscular e possui muitos núcleos, podendo atingir comprimentos que vão de 1mm a 60 cm. Este tecido é inervado pelo sistema nervoso central (SNC) e, por isso, é chamado de músculo voluntário, pois se encontra em parte sob controle consciente. As contrações do músculo esquelético são responsáveis pelos movimentos de todos os ossos e cartilagens do corpo humano. Há outros tipos de tecido muscular no corpo humano; porém, o mais importante para os movimentos é o esquelético. Mas, para nível de conhecimento, falaremos das características dos outros tipos de tecido muscular para que você compreenda as diferenças com o músculo esquelético. O tecido muscular liso está presente em vários órgãos internos, na pele, aparelho reprodutor e excretor e na parede dos vasos sanguíneos, as fibras musculares lisas possuem um só núcleo. As proteínas actina e miosina estão dispostas em hélice em seu interior, não formando um padrão estriado como no tecido muscular esquelético. A sua contração, ao contrário da dos músculos esqueléticos, geralmente ocorre involuntariamente. O estímulo responsável pela sua contração vem do sistema nervoso vegetativo. Já o tecido muscular estriado cardíaco é o tipo de músculo presente no coração. Na microscopia, a sua estriação é transversal. Suas células também só possuem um núcleo e sua contração é involuntária. Sua inervação é de responsabilidade do sistema nervoso vegetativo. rincipais músculos no corpo humano. Fonte: ATLAS DE ANATOMIA – SOBOTTA. Diferenças das disposições das fibras dos diferentes tipos de músculo.Fonte: www.afbio.com.br Para quem trabalha com técnicas que exigem muita contração da musculatura esquelética, como ocorre no Iso-stretching e no Pilates, é importante saber o conceito de fadiga muscular e tetania. A estimulação intensa e ininterrupta da contração de um determinado músculo faz com que este chegue ao máximo grau de contração. Então, esse músculo permanece em uma contração constante, o que recebe o nome de tetania. Se o estado de tetania muito prolongado continuar, causará a fadiga muscular. No caso de um músculo chegar ao estado de fadiga, após seu relaxamento, perderá a propriedade de contração por um determinado período de tempo. As causas deste fenômeno são: deficiência de ATP, incapacidade de propagação do estímulo nervoso através da membrana celular ou acúmulo de ácido lático no tecido muscular. Origem e Inserção: Os termos origem e inserção referem-se aos locais onde os músculos nascem e onde eles se fixam, respectivamente. Estes pontos de fixação em ossos e/ou estruturas anatômicas é que vão determinar a ação do músculo, ou seja, a sua função no corpo, pois estas fixações são os pontos fixos de alavanca para a realização de uma determinada ação muscular. Anatomicamente, é difícil determinar, de maneira exata, qual é a verdadeira origem e qual é a inserção de um músculo, mas isto não interfere na sua ação. A determinação destes pontos é importante para a realização das provas de comprimento e força musculares. Tríceps Braquial Origem: Cabeça longa: escápula (tubérculo infraglenoidal) Cabeça lateral: úmero (face posterior, acima do sulco para o n. radial) Cabeça medial: úmero (face posterior, abaixo do sulco para o n. radial) Inserção: face posterior do olécrano da ulna Ação: extensão do antebraço Antagonista: bíceps braquial Tônus: É uma propriedade do músculo. Toda a fisiologia do tônus é inconsciente e escapa totalmente do controle voluntário. Trata-se do estado de semicontração, de contração parcial normal, no qual os músculos se encontram constantemente. É causado por estímulos nervosos, sendo um processo totalmente inconsciente, que mantém os músculos em alerta para entrarem em ação. Dentro do conceito de tônus, podemos ter hipotônus, quando o estímulo nervoso é bloqueado por alguma lesão. Neste caso, perde-se o tônus normal e o músculo se torna flácido. É importante não confundir esta flacidez da hipotonia patológica com a flacidez normal (fisiológica), ocasionada por falta de atividade física. Esta última é facilmente contornada com exercícios físicos e, mesmo baixo, apresenta certo tônus muscular. Já o aumento do tônus muscular acima do normal é denominado de hipertonia, que também aparece em patologias neurológicas. O tônus também pode estar aumentado em casos de tensão emocional, causando a sensação física de tensão muscular. Esta última condição pode ocasionar fadiga, pois o músculo gasta mais energia que o normal. O tônus antigravitacional é o mais conhecido. Trata-se do tônus que poderíamos denominar de proprioceptivos. Na realidade,encontra- se sob a dependência dos proprioceptores: fusos e reflexos miotáticos, labirínticos e sistema vestibular, articulares, musculares, etc. Para ele devemos a manutenção da posição ereta; a suspensão dos segmentos pendulares; as reações de adaptação estática e adaptação às mudanças de posição e às reações inconscientes de equilíbrio. É com esse tônus antigravitacional que se relacionam todos os músculos classificados na categoria tônica. Agonistas, antagonistas e sinérgicos: Dois músculos são ditos agonistas quando concorrem para uma mesma função. São ditos antagonistas, quando são de funções opostas. Vamos olhar mais fundo este conceito, pois a afirmação é simples, mas este sistema é mais complexo do que se pensa: se a contração do flexor fizesse a flexão e a do extensor fizesse a da pura extensão, e etc..., esses movimentos seriam sempre realizados em suas amplitudes máximas e em um único plano, sendo assim, inúteis na vida diária. Os gestos funcionais são feitos por sutilezas articulares; ou seja, X graus de flexão aliam-se à X graus de abdução, etc. Ao lado do sistema puramente motor, encontra-se um sistema regulador que freia, limita, orienta, controla; resumindo, harmoniza o movimento. Esse sistema é denominado sinergia muscular. Para entendermos melhor, vamos utilizar um trecho de BIENFAIT, Marcel (2000) em “As Bases da Fisiologia da Terapia Manual”. Ele diz o seguinte: “Na região de cada eixo articular, dois movimentos são possíveis em direções diametralmente opostas: a flexão ou a extensão, a abdução ou a adução, a rotação interna ou externa. Existem assim, dois grupos musculares em oposição aparente. É desse antagonismo que se origina a regulação do movimento. Um grupo realiza o movimento, o antagonismo o controla: seja para frear sua violência, seja para limitar a velocidade, seja regular a amplitude, seja para conferir grande precisão. No entanto, esse controle não se limita ao sistema antagonista. Esse sistema intervém por intermédio de músculos laterais para dirigir o movimento, ou por músculos antifuncionais para limitar a ação.” Continuando o trecho: “Não existem músculos antagonistas, mas sim complementares. Dois músculos são sinérgicos quando, inicialmente de funções diferentes, aliam-se para um objetivo comum.” O músculo sinérgico de outro raramente é seu agonista. Não há músculo de função única. Todos apresentam em seu vetor de tração uma obliquidade que faz com que seja um flexor e rotador interno, e outro flexor e rotador externo. Assim, podemos afirmar que na fisiologia muscular, não há ação de um músculo isoladamente, há apenas as sinergias. Músculos Fásicos e Músculos Tônicos: Ainda utilizando as citações de BIENFAIT: “Cada músculo tem uma função própria diferente de seu aparente agonista e é única. O braquial é tônico e suspende o antebraço em leve flexão nas posições de “braço solto”. O bíceps é supinador e flexor do antebraço. Não existe agonismo entre esses dois músculos. Um entra em contração reflexa por estiramento quando a articulação se abre, e o outro por estímulo direto para fechá- la.” Dentro das funções fisiológicas do tecido muscular, este usa de dois tipos diferentes de unidades motoras. Enfatizando, são estruturas bem distintas. As fibras dinâmicas (ou fásicas) possuem em sua estrutura por fibras longas, enquanto que as fibras motoras tônicas são por fibras curtas. Ranvier foi quem classificou as fibras musculares em fásicas rosas ou pálidas e em fibras tônicas vermelhas ou escuras. Diferenciou-se em três tipos de fibras musculares: Fibras FF (Fast Fatigable): tratam-se de músculos cujas fibras possuem uma coloração pálida, sendo sua contração rápida, de valor elevado de tensão tetânica, de velocidade de condução rápida, mas são pouco resistentes à fadiga. São estes tipos de fibras utilizadas pelo corredor de 100 metros rasos, pois este precisa de explosão na hora da largada, e a distância a ser percorrida é curta. São denominadas também de fibras tipo I; Fibras S (Slow): aqui temos fibras de coloração vermelha, tendo como características a contração lenta, baixo valor de tensão tetânica, velocidade de contração lenta, mas com enorme resistência à fadiga. São estas as fibras recrutadas pelos maratonistas, pois precisam de trabalho muscular para grandes distâncias. São denominadas de fibras tipo II; Fibras FR (Fast Resistent): são fibras mais raras de serem encontradas, sendoum tipo intermediário. São mais rápidas que as fibras II e mais resistentes que as fibras tipo II. Considerando a fisiologia dos músculos, é importante ressaltarmos que nas unidades motoras fásicas, temos uma função dinâmica e que nas unidades motoras tônicas, temos uma função estática. Todo músculo tem uma função considerada dominante. Podemos considerar alguns músculos como completamente dinâmicos, sendo estes geralmente dos membros inferiores e superiores. São estes os grandes músculos que geram movimentos grandes. Outros tipos de músculos são tônicos por completo, sendo estes os chamados de antigravitacionais, pois lutam constantemente contra a gravidade para manter o nosso corpo em posição ereta, sendo músculos posturais. Por esta razão, estes músculos devem ser constantemente trabalhados com alongamento e fortalecimento, pois estão mais suscetíveis aos encurtamentos importantes, causando desvios posturais. São músculos de fibras curtas. Nas figuras a seguir, estão relacionados todos os músculos considerados antigravitacionais: Músculos antigravitacionais nas visões anterior e posterior. Fonte: BIENFAIT, 2000. Também temos os músculos considerados dinâmicos, sendo estes os grupos musculares do tronco e cintura. O que são cadeias musculares Todos os nossos músculos são indiretamente ligados uns aos outros por forma de cadeias musculares, que são a passagem das linhas de força que percorrem o nosso corpo, fazendo-o reagir de uma extremidade à outra. Toda atividade dentro de uma parte do corpo terá repercussões no corpo todo. É por isso que temos que ter uma atenção especial nas extremidades, que são a expressão das compensações corporais. Desse modo, a modificação da posição delas permitirá buscar uma maior tensão e assegurar as múltiplas variantes aos exercícios. A definição clássica de cadeia muscular dada por Françoise Meziéres (conhecida como Madame Meziéres) é: “Conjunto de músculos de mesma direção e sentido, geralmente poliarticulares que se comportam como se fossem um só músculo e se recobrem como telhas de um retalho”. A partir de observações práticas e estudos anatômicos, nossa Madame pioneira neste campo, descreve também três leis relacionadas às cadeias musculares, que seguem: - Toda tentativa de correção local irá gerar uma compensação à distância; - Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular, resulta em uma tendência de rotação interna dos membros; - Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular, leva a tendência de um bloqueio respiratório em apneia inspiratória. Como já vimos anteriormente, o que segura o nosso corpo em pé é a cadeia dos músculos estáticos. Os músculos que compõem esta cadeia possuem maior quantidade de tecido conjuntivo e um tônus mais elevado, pois exercem uma função antigravitacional, exigindo uma contração parcial constante. São músculos que tendem a ser mais tensos, hipertônicos, encurtados e menos flexíveis, e são os mais atingidos nos casos de patologias. Quando os músculos estáticos encurtam-se demasiadamente, podem ocorrer desvios ósseos e compressões das articulações. Quando um músculo de uma cadeia muscular é afetado, todos os outros músculos da mesma cadeia são afetados. Para os nossos principais movimentos, utilizamos a cadeia dos músculos dinâmicos. Estes músculos têm uma quantidade menor de tecido conjuntivo e tônus muscular mais baixo, por esta razão, podem tornar-se extremamente flácidos e hipotônicos. Um exemplo clássico disso são os músculos abdominais de pessoas sedentárias. Músculos locais: Multífidios, diafragma, transverso abdominal (TA) e assoalho pélvico. Esses músculos formam o cilindro da estabilidade, por isso, devem estar sempre contraídos durante os exercícios de pilates. Músculos Globais: Cadeia longitudinal - é formado pelo eretor espinhal, ligamento sacrotuberoso, bíceps femoral e fibular; Cadeia Oblíqua anterior: é formada pelo oblíquo interno, adutor e oblíquo externo contralateral; Cadeia Oblíqua posterior: formada pelo latíssimo do dorso, glúteo máximo contralateral; Cadeia lateral: tensor da fáscia lata, glúteo médio e mínimo, adutores contralaterais. Nossos grupos musculares são, na maior parte, pluriarticulares, ou seja, passam por mais de uma articulação, e sobem uns nos outros, constituindo assim as cadeias musculares. Como exemplo, podemos falar assim: numa fila de pessoas de mãos dadas, se uma delas tropeça, seu desequilíbrio se transmitirá às outras. Da mesma forma, qualquer tração efetuada em uma extremidade de uma cadeia muscular se traduz imediatamente por uma compensação em um ponto qualquer da cadeia. Colocando esse exemplo em nosso corpo, vejamos os músculos espinhais; uma tentativa de alongamento da nuca traduz-se por uma agravação da lordose lombar ou por uma diminuição da cifose torácica. Da mesma forma, uma correção da lordose lombar “achata” a nuca e acarreta uma flexão do quadril. Resumindo, cadeias musculares são músculos que exercem a mesma função, tendo muita influência nas alterações posturais. Podem ser estáticas ou dinâmicas e dividem-se em grupos: Cadeia Mestra Anterior: é subdividida em quatro cadeias menores – a inspiratória, antero-interna do ombro, anterior do braço e antero-interna do quadril. É composta pelos seguintes músculos: escalenos, intercostais, diafragma e seus pilares, psoas, adutores pubianos (pectíneo, adutor curto, adutor longo, reto interno e pequena porção do adutor magno), músculos anteriores da perna, peitoral menor, subescapular e coracobraquial. Obs: a retração desses músculos causa projeção da cabeça para frente, dorso curvo, enrolamento dos ombros para frente, joelhos em valgo, pés planos, tórax elevado, rotação interna do braço e hiperlordose lombar. Também ocorre o desabamento do arco plantar. Cadeia Mestra Posterior: também subdividida em quatro cadeias menores – póstero superior, póstero inferior, superior do ombro e superior lateral do quadril. Os músculos que a compõem são: músculos da planta dos pés, bíceps, ísquios tibiais, pélvico-trocanterianos, glúteos, espinhais, fáscia lata, tibiais anterior e posterior. Obs: a retração desses músculos causa dorso plano, projeta o tronco para frente, nuca ou região lombar escavada, genu varo, pés cavos, retração muscular do posterior da coxa e retificação das curvaturas da coluna. No entanto, os praticantes do RPG consideram outra cadeia mais ampla, que engloba todos os músculos que passam pelas três curvaturas principais da coluna. Trata-se da Cadeia Cérvico-tóraco-abdominopélvica. No pescoço, ela começa pela aponeurose profunda ou pré-vertebral, as aponeuroses intra e peri-faringianas que se tornam mais abaixo as bainhas vasculares e viscerais, a aponeurose média. Todas essas formações ligam-se à base do crânio. Na caixa torácica, a aponeurose pré-vertebral prolonga-se pelo reforço posterior da fáscia endocárdica. Por meio de todo esse conjunto aponeurótico, fascial e ligamentar, o diafragma encontra-se de certa forma suspenso à base do crânio e coluna cervicodorsal até T4. Os autores comparam o corpo humano com uma marionete, cuja fáscia são os fios que fazem com que se mova. Nada representa melhor essa imagem do que a cadeia cérvico-tóraco-abdominopélvica. Ela seria a cadeia central de suspensão, na qual se ligam os quatro membros. “Power House” - O Centro de Forças: Power House, ou Centro de Força, constitui o que há de mais importante nos métodos posturais, sendo o princípio mestre do Método Pilates. Trata-se da área entre a base da suacaixa torácica e a linha que vai de um quadril ao outro. É composto por quatro músculos. São eles: Transverso do abdômen: tem a função de estabilizar as vértebras lombares. É um músculo involuntário. É ligado neurologicamente ao períneo (possuem a mesma inervação) e, por isso, sua contração só é possível quando simultânea à contração do períneo. Também só entra em ação na expiração forçada; Períneo: músculo do assoalho pélvico, fazendo sustentação visceral, causando uma pressão positiva. Suas ações são diretamente proporcionais, ou seja, quanto maior a pressão intrabdominal, maior a estabilização lombar; Multíferos: trata-se de um músculo bem interno da coluna e que tem a função de estabilizar a mesma. Faz a flexão lateral da coluna e rotação lateral do tronco, também sendo um auxiliar na extensão; Diafragma: tem a forma de cúpula. Na inspiração, ele aplaina para expansão da caixa torácica (quando a respiração é mais anatômica possível, ou seja, sem protusão abdominal). Como ele tem inserções nas vértebras lombares, também possui a função de estabilização da coluna. Músculos abdominais. Fonte: ATLAS DE ANATOMIA – SOBOTTA. O conceito que Joseph Pilates chamou de POWER HOUSE (casa de força) é coordenar a mecânica respiratória do diafragma, com a sinergia dos músculos abdominais (principalmente o transverso do abdômen), multíferos e períneo, conseguindo, assim, estabilizar a coluna lombar. Sabe-se que o transverso do abdômen e o oblíquo interno são os únicos músculos a terem conexões com o tronco anterior e com a coluna, por isso, autoridades australianas em estabilização de coluna descrevem estes músculos como um cilindro tridimensional. Frente e lado do cilindro são feitos pelo transverso do abdômen e oblíquo interno; Atrás estão os multíferos; A base é constituída pelos músculos do assoalho pélvico; O teto é constituído pelo diafragma. A estabilidade da coluna lombar depende de que os músculos "do centro" estejam fortes e trabalhando em conjunto, para transformar o abdômen e a coluna em pilares resistentes, o que é essencial para a vida diária e atividades desportivas, e é isso o que Joseph Pilates propõe com o conceito de POWER HOUSE. Ele ainda considerava os músculos períneo e transverso do abdômen. Segundo KENDALL, (1995) "uma insuficiência em controle postural podem causar cargas excessivas aos tecidos do corpo, deixando a coluna vertebral às lesões”. A essência da estabilidade da coluna vertebral é aliar a flexibilidade com força, portanto, o sistema muscular fornece a 1ª linha de defesa contra o desabamento da coluna osteoligamentar. A "POWER HOUSE" faz com que possamos desenvolver a estabilidade ativa da coluna lombar, o que possibilita ao paciente e/ou aluno a educar a relação membros inferiores/bacia organizada/organização axial nas posturas deitado, sentado e em pé, dando foco no trabalho, não só na força dos músculos do tronco, mas também desenvolvendo a coordenação, e o melhor padrão da atividade muscular. Além disso, com a "POWER HOUSE" ativa, há a organização da coluna dorsal, desbloqueando a cintura escapular, educando os movimentos fisiológicos das escápulas, eliminando as tensões e desequilíbrios que refletem na coluna cervical. Tudo isso possibilita a liberação dos movimentos da cabeça. A somatória de tudo é um tronco estável, forte e flexível para organizar membros inferiores e membros superiores alinhados e com fluidez de movimentos. Alguns outros músculos são importantes para ajudar a Power House. São eles: Paravertebrais: são motores primários da extensão; Intertransversários: situado entre os processos transversos (promovendo a flexão lateral), e entre os processos espinhosos (auxiliar na extensão). 1.3 - As Fáscias As fáscias designam anatomicamente uma membrana de tecido conjuntivo fibroso de proteção: um órgão (fáscia periesofagiana, fáscia peri e intrafaringiana) ou de um conjunto orgânico (fáscia endocárdica, fáscia parietalis), designa também tecidos conjuntivos de nutrição (fáscia superficialis, fáscia própria). Esta foi uma denominação utilizada, primeiramente, pelos osteopatas que, na realidade, foram os primeiros a ter noção de globalidade. A palavra fáscia, no singular, não representa uma entidade fisiológica, mas um conjunto membranoso muito extenso, no qual tudo se encontra ligado, em continuidade. Este conjunto tissular é muito importante, pois nele se apoiam todas as técnicas modernas de terapia manual. BIENFAIT, em As Bases da Fisiologia da Terapia Manual (2000), diz: “A fáscia é um conjunto de tecido conjuntivo, que representa praticamente 70% dos tecidos humanos. Seja qual for o nome que leve, ele sempre possui a mesma base. Por exemplo, entre um osso e uma aponeurose, não há diferença. Como todos os tecidos, o conjuntivo é formado por células conjuntivas: os blastos. São osteoblastos nos ossos, controblastos na cartilagem, fibroblastos no tecido fibroso, etc. Essas células em forma de estrela comunicam-se todas por prolongamentos proctoplásmicos, não havendo nenhuma atividade metabólica. Sua fisiologia é unicamente a de secretar duas proteínas de constituição: o colágeno e elastina. A fáscia superficialis é um exemplo de fáscia nutridora, tratando-se de um imenso tecido conjuntivo frouxo que forra a pele praticamente ao longo de toda a sua superfície, e desaparece em certas regiões: na base do crânio e na região da nuca, na região esternocostal, na região sacra e glútea, nas patelas e cotovelos. Uma de suas principais funções da fáscia superficialis é a de nutrir o epitélio cutâneo, explicando por que todas as regiões que acabamos de ver, desprovidas desse conjuntivo, são regiões de maior incidência de escaras. 1.4 – Disco Intervertebral O disco intervertebral é uma “esponjinha” que fica entre duas vértebras, sendo uma espécie de amortecedor da coluna. Separando as vértebras, estes discos amortecem a carga que exercemos sobre a coluna com cada passo que damos, e também, permitem que façamos os mais diversos movimentos. Juntamente com a vértebra, o disco forma a unidade vertebral, possuindo várias funções: amortece impactos; dá flexibilidade à coluna; mantém a vértebra de cima separada da de baixo. Estrutura do disco intervertebral. Fonte: Acervo pessoal, 2009. Unidade vertebral. Fonte: Acervo pessoal, 2009. Esse disco é formado por um núcleo pulposo arredondado, de consistência gelatinosa semilíquida, composta por mucopolissacarídeos. Este núcleo pulposo tem uma enorme capacidade de reter água. No adulto jovem, aliás, é composto de 88% de água. O núcleo produz uma pressão que mantém as vértebras distantes umas das outras e o anel fibroso mantém o núcleo na posição central. Este núcleo é rodeado por uma parte periférica, o anel fibroso, uma placa de fibrocartilagem disposta em camadas concêntricas ao redor do núcleo. Trata-se de um amortecedor fibro-hidráulico, autodistribuidor de tensões. Infelizmente, com o avançar da idade, o disco vai perdendo a capacidade de absorver e reter líquido, de acordo com a pressão que sofre durante a vida, ano após ano. O desgaste do disco se inicia aos 25 anos de idade. O disco precisa de um sistema de compressão e descompressão para nutri- -lo; funciona como uma esponja e sua nutrição se dá por osmose. Resumindo: ao dormirmos (onde não há pressão), o líquido nutritivo é absorvido do meio externo para dentro do núcleo (o disco enche de água) num processo de hidratação. Com o passar do dia, havendo pressão sobre odisco, o líquido extravasa do interior para o exterior, num processo de desidratação. Esta é a razão pela qual levantamos pela manhã uns centímetros mais altos do que deitamos à noite (disco bem nutrido = aumento do diâmetro). Este aumento de diâmetro noturno em um disco desidratado (com fissuras) que perdeu a elasticidade, aliado à falta de movimentos, também explica por que, às vezes, acordamos com dor nas costas. Os discos são unidos aos corpos vertebrais por uma fina cartilagem. Eles são também mantidos pelos ligamentos vertebrais comuns: o ligamento longitudinal posterior (LLP), fixando-se aos discos; e o ligamento longitudinal anterior (LLA), fixando-se aos corpos vertebrais. Um movimento de flexão anterior da coluna, visto de perfil ao nível de duas vértebras lombares: - O disco é pinçado anteriormente e alongado posteriormente; - Os ligamentos situados posteriormente ao núcleo (eixo do movimento de flexão) são colocados em tensão. O primeiro a estar tensionado é o ligamento supraespinhal; posteriormente vêm os ligamentos interespinhais e interapofisários. Estes ligamentos não são suficientes para frear estas inclinações quando estas são de grande amplitude ou de longa duração. Um trabalho muscular também se faz necessário para frear estes movimentos. Com o passar do tempo, os ligamentos distendidos não fornecem uma estabilização suficiente e não informam em tempo hábil que a coluna está em tensão. Com essa estrutura fragilizada, pode-se apresentar uma solicitação mais viva da flexão anterior em carga. Há também a possibilidade de estiramento do ligamento longitudinal posterior (LLP). Isto é mais grave devido à posição onde este ligamento se encontra, ou seja, no canal raquidiano, anteriormente à medula espinhal. Ao mínimo edema consequente a um estiramento de ligamento, rapidamente as consequências levam às dores, ou seja, a lombalgia. O edema pode, igualmente, comprimir as raízes nervosas em sua saída do canal, a compressão mais frequente é a do nervo ciático, nervo que sai de orifícios de conjugação L4/L5, L5/S1 e dos três primeiros orifícios sacros. Pode mesmo ocorrer a migração de uma parte do núcleo para fora do disco, no canal raquidiano: é a hérnia de disco (que é de fato, uma hérnia do núcleo). Com a flexão do tronco, há uma pressão muito maior do núcleo do disco, deslocando-o para trás, do que a pressão que é exercida no núcleo para frente, quando a coluna é movimentada em extensão. 1.5 - Respiração O Diafragma: O diafragma é um músculo singular e totalmente assimétrico, ou seja, ele não é como os outros músculos que possuem os dois lados iguais. Ele separa o tórax do abdômen, compreendendo duas partes: uma muscular e periférica, graças a qual o músculo insere-se ao longo do contorno do tórax e sobre a coluna; outra tendinosa e central, denominada “centro tendíneo”. Trata-se do motor do movimento torácico; não sendo considerado um músculo, mas sim, um conjunto músculo-tendíneo constituído por oito músculos. É um conjunto membranoso e muscular porque deve adaptar-se aos movimentos do tronco e às deformidades torácicas. É o diafragma que se adapta ao tórax e não o contrário. Sua fisiologia está intimamente ligada aos movimentos das costelas. Segundo SOUCHARD, em seu livro Respiração (1989), a respeito do diafragma: “Formando uma abóboda de concavidade inferior, o diafragma é na realidade constituído na periferia por finos músculos digástricos justapostos cujos tendões centrais, imbricados, formam o centro tendíneo. A parte muscular, por sua vez, divide-se em uma ação vertebral, uma porção costal e uma porção esternal.” Falar de origem e inserção do músculo diafragma torna-se delicado, pois este possui vários locais de inserção. No entanto, é primordial ter este entendimento devido à ação biomecânica, através da anatomia funcional. Por isso, deve-se prestar uma particular atenção às inserções aponeuróticas dos músculos, porque o sistema fibroso aponeurótico possibilita a ação sequencial dos músculos, contribuindo para a formação de cadeias musculares que tornam inoperante toda a ginástica analítica ou segmentar. Portanto, de uma forma resumida, temos como origem e inserção as porções: Porção vertebral: parte interna ou pilares do diafragma, constituída por 2 grossos feixes de fibras de comprimentos desiguais. O pilar direito insere-se sobre os discos intervertebrais L.1-L.2 e L.2-L.3, descendo, às vezes, sobre o disco L.3-L.4. O pilar esquerdo insere-se sobre o disco L.1-L.2 e, frequentemente, prolonga-se até o disco L.2-L.3; Porção costal: é toda região lateral do diafragma. Origina-se na face interna das últimas costelas e sobre as arcadas aponeuróticas que unem os ápices da 10ª, 11ª e 12ª costelas (Arcadas de Senac). Essas inserções confundem-se com as do transverso do abdômen, especialmente ao nível da 10ª, 11ª e 12ª costelas. As fibras musculares terminam-se sobre os bordos laterais dos folíolos laterais e anteriores do centro tendíneo. Porção esternal: é constituída por um ou dois feixes musculares distintos, provenientes da face posterior do processo xifóide, terminando-se sobre a porção média do folíolo anterior; Centro tendíneo: lâmina fibrosa formada pelo cruzamento dos tendões medianos dos músculos digástricos periféricos; o centro tendíneo ocupa a porção central do diafragma. Vista inferior do diafragma, com seus orifícios. Fonte: www.wikipédia.com.br. O diafragma possui orifícios importantes, que obturam totalmente a região inferior do tórax. Esses três orifícios juntam-se co m as estreitas zonas entre os pilares, que permitem a passagem do tronco simpático, dos nervos esplâncnicos e da raiz interna das veias Ázigos. São eles: Orifício aórtico: essa ranhura ósteo-fibrosa sobe até a 12ª dorsal e permite a passagem da aorta que adere à sua porção anterior; Orifício esofágico: unicamente muscular, situa-se ao nível da 10ª dorsal. De forma elíptica, permite a passagem dos nervos pneumogástricos e do esôfago que a ele adere fortemente, através das fibras musculares e conjuntivas; Orifício da veia cava inferior: a veia cava atravessa o centro tendíneo na junção folíolo anterior com o folíolo direito, onde se adere. Ainda utilizando trechos de SOUCHARD sobre o diafragma e sua localização, ele diz: “A posição do diafragma: em pé, em posição de repouso, a cúpula diafragmática direita projeta-se ao nível do 4º espaço intercostal, à esquerda no nível do 5º. No entanto, essa posição é variável. A fisiopatologia do diafragma dependerá, entre outras coisas, da forma do tórax e do volume das vísceras abdominais.” O diafragma é inervado somente pelos nervos frênicos, que possuem suas raízes em C3, C4 e C5, sendo estes os motores do diafragma. Estes nervos também aparecem com participação importante na sensibilidade proprioceptiva do mesmo. Sua vascularização é riquíssima, e como artérias principais, temos: - Artéria mediastinal posterior, derivada da aorta torácica, no nível dos pilares; - Artéria frênica superior derivada da mamária interna; - Artéria frênica inferior derivada da aorta abdominal, e suas anastomoses, juntamente com sua simétrica compõem as arcadas perifoliares; - Ramos da artéria músculo-frênica e das quatro últimas intercostais. Também possui um rico sistema venoso que caminha junto ao sistema arterial, sendo composto pelas veias cava inferior e mamárias internas. Já o seu sistema linfático é bem complexo, pois o diafragma é um enorme cruzamento das redes torácica e abdominal. Seus principais linfonodos linfáticos localizam-se no mediastino. Os músculos*inspiratórios e *expiratórios são acessórios, pois o motor primário é o diafragma. * Os inspiratórios acessórios são numerosos e de implantação anatômica variada. Pela própria definição, entram em jogo apenas durante inspirações de grande amplitude (com exceção apenas de leve atividade possível dos intercostais e escalenos na respiração de média amplitude). São eles: esternocleidomastóideos; escalenos anterior, médio e posterior; trapézio superior e médio; subclávio; peitoral menor e maior; elevador da escápula; rombóides; serrátil anterior e posterior superior; grande dorsal; multifídios; semi-espinhal do tórax, do pescoço e da cabeça; rotadores lombares, torácicos e cervicais; dorsal longo; iliocostal; intercostais internos e médios; subcostais e supracostais. * A expiração é um movimento passivo desencadeado a partir do cessar da contração dos músculos inspiratórios. Eles intervêm apenas durante esforços, no grito, na tosse, etc. isto é, em atividades de grande dinâmica. Os músculos expiratórios são expiratórios acessórios. São eles: oblíquos internos e externos; transverso do abdômen; reto do abdômen; piramidal do abdômen; quadrado lombar; serrátil posterior inferior; transverso do tórax e grande dorsal. 1.6 – A Estática Como todos os sólidos, o corpo humano encontra-se submetido às leis de gravidade, ou seja, o corpo encontra-se em equilíbrio quando a vertical abaixada do centro de gravidade cai em sua base de sustentação. Quando estudamos um corpo, assim como suas perturbações, devemos considerar sua base de sustentação e seu centro de gravidade. Isso também nos remete para a primeira lei da estática, “A Lei das Compensações”, do nosso Marcel Bienfait, onde “para que nosso corpo permaneça em condições de equilíbrio, todo o desequilíbrio deverá ser compensado por um desequilíbrio inverso.” Toda a compensação da patologia estática encontra- se nessa lei. Em pé, não há desequilíbrio segmentar sem compensação. Há outra noção importante; a de que as posições humanas não são posições fixas, ou seja, são equilíbrios controlados constituídos por desequilíbrios permanentes, que se corrigem ou compensam-se. Toda função tônica encontra-se nessa noção, que corrige os desequilíbrios quando isso é possível, controla-os e limita-os, quando necessário. Não existe uma linha de gravidade imutável. Em pé, o corpo humano oscila permanentemente sobre sua base. As oscilações variam, evidentemente, de acordo com a forma dessa e de sua orientação. Centros de Gravidade: Nosso corpo é um sólido articulado, e como tal, seu centro de gravidade geral é condicionado pela posição de seus diversos segmentos no espaço. Marcel Bienfait (2000) ainda nos diz que “o centro de gravidade geral é a resultante de todos os centros de gravidade segmentares. Em nossa estática, há tantos centros de gravidade quanto posições.” Veremos apenas o centro de gravidade em pé, mas lembre-se que ele é diferente nas posições de sentado ou inclinado para frente. E vale a pena lembrar que a avaliação postural é muito importante na aplicação das técnicas posturais, e nela devemos levar em consideração a morfologia dos indivíduos, pois ela pode não ser a mesma para todos. Por exemplo,em pessoas de raça negra, as curvaturas vertebrais, especialmente a lombar, são mais acentuadas do que nas pessoas brancas. Para os asiáticos, isso é o inverso. Na posição vertical, o centro de gravidade de nosso corpo no espaço situa-se na região do corpo da terceira vértebra lombar, mas nosso corpo “flutua” raramente no espaço. Na posição em pé, os pés encontram seu apoio no chão, e transferem esse apoio à cintura pélvica. Na nossa posição ereta, não é o centro de gravidade no espaço que devemos considerar, mas o centro de gravidade do tronco e segmentos superiores em equilíbrio sobre as articulações coxofemurais. Este se situa, ligeiramente, à frente do corpo da quarta vértebra dorsal. 1.7 – O que é Postura A postura é composta das posições de todas as articulações do corpo em um dado momento, e o alinhamento postural estático é bem mais descrito em termos de posições das várias articulações e partes do corpo (KENDALL, 1995). Postura é um termo geral, definido como uma posição ou atitude do corpo, o arranjo relativo das partes corporais para uma atividade específica, ou uma maneira característica de uma pessoa sustentar o corpo (LEHMKUHL, 1987). A função principal das posturas é ajudar-nos a realizar as nossas atividades de vida diária, ou até mesmo físicas, com o menor gasto energético possível. Dessa forma, temos que a postura e o movimento estão intimamente relacionados, pois o movimento começa em uma postura e pode terminar em outra; exemplo disto é quando uma pessoa começa o movimento sentada e termina em pé. Tais relações de postura dos membros podem ser modificadas e controladas de maneira voluntária, mas este controle exige muita concentração. 1.8 – A Boa Postura A boa postura ou postura padrão serve para padronizar o alinhamento postural durante a avaliação. O alinhamento padrão ideal é baseado em princípios científicos válidos e fundamentados, envolvendo uma quantia mínima de esforço e sobrecarga, e conduz à eficiência máxima do corpo. Na postura padrão, a coluna encontra-se com as curvaturas normais e os ossos dos membros inferiores em alinhamento ideal para sustentação de peso. A pelve neutra conduz ao bom alinhamento do abdômen e do tronco. O tórax e a coluna superior devem estar em uma posição que favoreça o funcionamento ideal para os órgãos respiratórios. A cabeça fica ereta em uma posição bem equilibrada, que minimiza a sobrecarga sobre a musculatura cervical. É lógico que há variações de uma pessoa para outra, de acordo com o tipo corporal, a forma e as proporções do corpo, sendo fatores importantes na distribuição de peso. Para esta análise, é utilizado um fio de prumo para representar uma linha de referência. Um fio de prumo é uma linha com um peso preso na ponta para promover uma linha absolutamente vertical-padrão, para medir desvios. O ponto na linha onde o fio de prumo é suspenso deve ser um ponto fixo padronizado. O teste do fio de prumo é usado para determinar se os pontos de referência da pessoa que está sendo testada estão no mesmo alinhamento que os pontos correspondentes da postura padrão. Os desvios de vários pontos de referência, a partir do fio de prumo, revelam a extensão do alinhamento defeituoso do indivíduo. Veja os pontos de referência na vista lateral, a partir do fio de prumo: Cabeça: Posição neutra, não inclinada nem para frente, nem para trás; Coluna cervical: Curvatura normal, ligeiramente convexa anteriormente; Escápulas: Em bom alinhamento, achatadas de encontro à parte superior das costas; Coluna torácica: Curvatura normal, ligeiramente convexa posteriormente; Coluna lombar: Curvatura normal, ligeiramente convexa anteriormente; Pelve: Posição neutra, espinhas ântero-superiores no mesmo plano vertical que a sínfise púbica; Articulações dos quadris: Posição neutra, nem fletidas, nem estendidas; Articulações dos joelhos: Posição neutra, nem fletidos, nem estendidos; Articulações dos tornozelos: Posição neutra, perna vertical e em ângulo reto com a planta do pé. Postura padrão, vista lateral. Pontos onde o fio de prumo deve passar. Fonte: Acervo pessoal,2009. Em vista lateral, os músculos anteriores e posteriores, presos à pelve, mantêm-se em alinhamento ideal. Anteriormente, os músculos abdominais tracionaram para cimae os flexores do quadril tracionaram para baixo. Assim, os músculos abdominais anteriores e extensores dos quadris trabalham juntos para inclinar a pelve posteriormente; os músculos da região lombar e os flexores dos quadris trabalham juntos para inclinar a pelve, anteriormente. 1.9 – Métodos e Materiais O material a ser usado consiste em: * Pranchas de Postura: são tábuas de madeira compensadas, nas quais foram desenhadas impressões dos pés; * Fio de Prumo: o fio de prumo é suspenso de uma barra acima da cabeça, e o peso do prumo é pendurado em linha com o ponto de base- padrão, ou seja, anterior ao maléolo lateral na vista lateral, a meio caminho entre os calcanhares na vista posterior; * Régua Dobrável com Nível: esta é usada para medir a diferença de nível entre as espinhas ilíacas posteriores. Também é usada para descobrir quaisquer diferenças entre os ombros. Um plano quadriculado de fundo também é eficiente para medir diferenças entre os ombros; * Conjunto de seis blocos: são usados com a finalidade de determinar a quantidade de elevação necessária para nivelar, horizontalmente, a pelve lateralmente; * Lápis Dermatográfico: é usado para marcar os processos, a fim de observar a posição da coluna em casos de desvio lateral; * Fita Métrica: usada para tirar medidas de comprimento de membros inferiores e para medir a limitação da flexão para frente, ao tentar alcançar os artelhos dos pés; * Cartão para registrar o exame. Atenção!!! O paciente deve estar trajando roupas adequadas para o exame, tais como maiô ou duas peças para mulheres, e sungas para homens. Caso contrário, será impossível identificar todas as estruturas necessárias. 1.10 - O que é Postura Errada Todos esses pontos fazem parte de uma postura nadequada: - O quadril está em retroversão; portanto, caído para trás; - A coluna, vista de lado, tem a forma de um “C” (postura cifótica); - O gradil costal está voltado para dentro; - Os ombros estão virados para dentro; - A cabeça está para frente, sendo sustentada pelos músculos da cervical, havendo até pregas no pescoço; - O corpo se encontra em um padrão totalmente flexor. A postura errada provoca um maior desgaste das vértebras, dos discos intervertebrais e das articulações, pois elas estão incongruentes, gastando mais rapidamente a cartilagem articular nos pontos de maior pressão. As estruturas posteriores estão sendo alongadas e as anteriores comprimidas. Em função disto, ocorrem distensões nos ligamentos e desequilíbrio muscular. O indivíduo pode até não ter um desvio estrutural ou patologia na coluna vertebral instalada, mas, se continuar adotando uma postura inadequada por muito tempo, isto certamente ocorrerá. Postura padrão (ideal) e as formas de postura fora do padrão, vista lateral. Fonte: Acervo pessoal, 2009. Desvio postural vista posterior ao fio de prumo. Fonte: Acervo pessoal, 2009. Nesta unidade estudamos a anatomia da coluna vertebral de uma maneira geral, falamos tanto da parte óssea, como da muscular, ligamentar e do disco intervertebral. Também conhecemos a anatomia dos ossos da pelve e do sistema muscular esquelético, e ainda o conceito de postura, avaliação postural e o que é a boa e a má postura. Capítulo 2 Disfunções, Introdução às técnicas e R.P.G Agora, você conhecerá as disfunções, para depois passarmos as técnicas e as manobras de execução. Além disso, iniciaremos os estudos sobre o R.P.G., (Reeducação Postural Global), que vem sendo reciclado através dos tempos, sendo uma das técnicas mais famosas e praticadas pelos amantes deste tipo de terapia. E poderá, ainda, fazer uma associação entre a anatomia aprendida e as disfunções existentes, construindo sua própria opinião sobre qual técnica é a mais adequada para os seus trabalhos. 2.1 – Disfunções A palavra disfunção, quando falamos de coluna vertebral, pode englobar as várias estruturas que envolvem este conjunto. Pode afetar sua própria estrutura; neste caso, são as que afetam as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, como a hiperlordose, hipercifose e escoliose. As outras disfunções incluem as lesões do disco intervertebral, do próprio osso (ex: osteoporose), da pelve, dos músculos e as psicológicas. 2.1.1 - Principais Disfunções Posturais As disfunções da coluna vertebral formam um grupo de patologias que atinge a humanidade. Diz-se que 90% da população sofrem ou sofrerão com algum problema de coluna. Cifoses: A hipercifose é um aumento anormal da concavidade posterior da coluna vertebral, que é a cifose dorsal. Também é chamada, popularmente, de corcunda. Vista lateralmente, a coluna forma um C. A cabeça está para baixo, em flexão; os ombros estão caídos e para frente, e os braços virados para dentro. Este desvio postural é o mais comum de todos, primeiro porque a força da gravidade atua sobre nós e, em segundo lugar, porque quase todas as nossas atividades são desenvolvidas a frente do nosso corpo, em postura de flexão. Assim, a musculatura posterior vai ficando enfraquecida. Este tipo de postura causa, com o tempo, um verdadeiro desvio da estrutura vertebral, não só puramente vertebral, mas também instalado, podendo levar a disfunções de outras estruturas. Daremos uma explicação mais didática: digamos que uma pessoa fica sentada por um bom período de seu tempo. Com essa postura, há uma tendência de encurtamento da musculatura anterior e flexora da coluna, enquanto que a musculatura posterior e extensora da coluna tende a enfraquecer e contraturar, principalmente no nível de paravertebrais. Vai ocorrendo um desequilíbrio gradual dessas musculaturas com o passar do tempo, o que faz com que as articulações não se encontrem mais na posição normal. Isto acontece porque os músculos, que deveriam dividir a carga com a articulação, estão em desequilíbrio. Assim, temos que os desequilíbrios musculares são causadores de um tipo de incongruência, ou seja, de um desarranjo no movimento articular. Por consequência, uma região da articulação pode sofrer uma pressão maior e tender a sofrer um desgaste, o que provocará um processo de artrose. Os músculos e tendões ficam mais predispostos às lesões, do tipo tendinites e bursites. A hipercifose da coluna torácica pode provocar uma diminuição do espaço da região abdominal, ocasionando uma compressão dos órgãos internos e diminuindo a expansão máxima do diafragma, por falta de espaço. Assim, temos várias consequências para a pessoa que permanece em má postura, sentada por horas. Ela apresentará uma menor capacidade pulmonar, sua respiração será mais apical e menos diafragmática, o que gerará uma menor oxigenação sanguínea e cerebral, levando o indivíduo a se cansar mais facilmente e a render menos nas suas atividades da vida diária e no trabalho. De uma maneira geral, acabamos de demonstrar o quanto um simples desvio postural pode desencadear outros distúrbios, não só da própria coluna, mas o quanto pode afetar outros sistemas do nosso organismo. Hiperlordose: É uma alteração postural que acontece no nível da coluna lombar, que acentua a curvatura normal fisiológica já existente. Na região lombar, o quadril estará muito inclinado para frente, o que chamamos de anteversão da pelve (se ficou alguma dúvida, leia novamente na Biblioteca Virtual o texto sobre Anatomia - Curvaturas fisiológicas e seus eixos). A inclinação da pelve leva a uma acentuação maior da curvatura lombar. Os
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