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GESTÃO DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA AULA 5 Profª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, nesta aula, você terá a oportunidade de entender o que as são políticas públicas e os programas delas derivados, bem como conhecer as políticas e os programas de Estado que envolvem a inovação nacional. Para tanto, você passará a conhecer o conceito de políticas e incentivos à inovação tecnológica, os programas de inovação tecnológica existentes no Brasil, o funcionamento dos programas de apoio financeiro para quem decide inovar, as políticas para inovação no que tange a financiamento e incentivo, além dos trâmites para o financiamento à inovação. Vamos lá! TEMA 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS Tendo em vista ser a inovação tecnológica uma mudança que ocorre nos processos ou nos produtos de uma organização, que por sua vez faz parte de uma sociedade, percebe-se que os processos de inovação precisam ser pensados não somente no âmbito da empresa privada, mas também em termos de Estado. As nações, de uma forma geral, percebem os processos inovadores propulsores de vantagem competitiva nacional. Nesse sentido, elaborar políticas e programas que apoiem a inovação as auxilia como um todo a alcançar e manter o progresso econômico e social e ajuda as empresas a se manterem competitivas no mercado em que atuam. Para compreender as políticas e os programas específicos relativos à inovação, cabe antes compreender o que são políticas públicas e o que são programas desenvolvidos pelo Estado. Deve-se levar em conta que, ao conviver em sociedade, uma série de situações-problema surgem e precisam ser resolvidas. É papel do Estado, por meio de Administração Públicas, gerir essas situações. Para tanto, formulam-se políticas de enfrentamento desses problemas sociais. De acordo com Procopiuck (2013, p. 138), a política pública é afeita à “mobilização político-administrativa para articular e alocar recursos e esforços para tentar solucionar dado problema coletivo”. Para que essa mobilização aconteça, verificam-se as possibilidades de solução, levantam-se os custos, define-se o escopo da ação para resolver o problema, parcial ou totalmente, observando a perspectiva temporal. 3 Ainda conforme Procopiuck (2013), as políticas públicas têm por função dar as orientações normativas necessárias para atingir um determinado objetivo. Para tanto, devem ser norteadas pelos valores da sociedade e para a elaboração de estratégias, programas e planos que as transformem em ação real. Com a evolução da Administração Pública, suas atividades passaram a ser identificadas de forma temática. “A segmentação temática de conjuntos de atividades e ações governamentais, de acordo com a sua amplitude e consistência, ganharam identidade e passaram a ser definidos como políticas públicas”, tais como a política de saúde, da educação, de tecnologia, entre outras (Procopiuck, 2013, p.140). Resumindo, uma política pública é um conjunto de diretrizes que delineiam a ação governamental e estão baseadas, dentre outros elementos, na legislação, em ordens executivas e em sistemas de controles institucionais. As políticas públicas são formadas por um conjunto de ações estratégicas associadas a instrumentos para sua execução, pela alocação de recursos para obtenção de resultados e pela ação de agentes do governo, da sociedade civil organizada ou de mercado (Procopiuck, 2013). Figura 1 – Ciclo de políticas públicas O processo para a determinação de uma política pública acontece num ciclo em que se identificam problemas e, a partir de então, verifica-se a 4 emergência da situação e os recursos disponíveis. O reconhecimento dos problemas que precisam ser solucionados ganha espaço na agenda governamental, mas nem tudo que está na agenda será solucionado imediatamente. A partir daí, formulam-se possíveis soluções ou alternativas. Neste momento, são definidos o objetivo da política, os programas que serão desenvolvidos e as linhas de ação. Após esse processo, avaliam-se as causas e as prováveis alternativas para minimizar ou eliminar o problema em questão. Com todas as possíveis alternativas disponíveis, toma-se a decisão de qual será o curso de ação adotado. São definidos os recursos e o prazo temporal da ação da política, por meio do planejamento da execução. Finalmente, a política é implementada, ou seja, transforma-se o planejamento em ação, direcionando recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos para executá-la. Paralelamente, faz-se o controle da política por meio da avaliação do ciclo (Andrade, 2016). As políticas públicas normalmente são apresentadas como programas de ação governamental num dado setor social ou espaço geográfico. Assim que são definidas as políticas, há a necessidade de organizar as ações para realizar os programas. Estes são necessários à medida que o Estado precisa organizar as ações para colocar as políticas em prática, detalhando os investimentos e as despesas necessárias para o alcance dos objetivos. Essas ações são denominadas ações orçamentárias. No Brasil, essas ações orçamentárias são articuladas em três tipos de programas distintos: programas temáticos, programas de gestão, manutenção e serviços do Estado e programas especiais. Os programas temáticos têm os objetivos mais amplos das políticas públicas, atuando, por exemplo, na promoção e defesa dos direitos humanos, na defesa nacional ou na educação de qualidade para todos. Os programas de gestão estão relacionados aos custos com o funcionamento da estrutura do Estado: servidores, prédios, veículos, serviços de telefonia e limpeza, entre outros. Finalmente, os programas especiais tratam dos gastos com a dívida brasileira. (Portal Transparência, 2018). No Brasil, ainda há os programas de governo, que são políticas públicas comunicadas como um programa por serem gerenciadas dessa maneira, embora não haja um programa formalmente estabelecido no orçamento público para o acompanhamento de suas respectivas despesas. 5 TEMA 2 – LEGISLAÇÃO PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA A inovação tecnológica é uma mudança que ocorre nos processos ou nos produtos de uma organização. Nessa situação, uma invenção se tornou viável técnica e economicamente, podendo então ser lançada no mercado. Conforme Oliveira e Borschiver (2013), depois de lançada no mercado, a inovação ainda passa por transformações denominadas de difusão da inovação. Ao se difundir uma inovação, busca-se atender de forma mais próxima as necessidades do usuário final, modificando os produtos da empresa. Para as autoras, todo esse processo de desenvolvimento de uma nova tecnologia e sua implementação no mercado trazem uma série de incertezas e de riscos que podem ser gerenciados por meio do entendimento das ligações existentes entre todas as atividades que envolvem a inovação, da pesquisa básica à comercialização. Essas relações são mostradas por Kline e Rosenberg (1986) na Figura 2, na qual os autores ressaltam que o processo de inovação deve ser compreendido como um processo interativo, repleto de feedbacks entre os diversos estágios do desenvolvimento. Nesse modelo de inovação não existe um único caminho principal de inovação, mas, sim, diferentes relações entre cada uma das fases, o que o torna um processo não linear Figura 2 – Cadeia de relações entre pesquisa, invenção, inovação e produção Fonte: Kline; Rosenberg, 1986, p. 289. Conforme Oliveira e Borschiver (2013, p. 121-122), esse modelo pode representar uma série de situações distintas de difusão dainovação, desde o relacionamento entre departamentos de uma mesma empresa que desenvolve da pesquisa básica à comercialização dos produtos até “institutos de pesquisa e universidades que fazem parcerias com o propósito de produzir inovações”. 6 Pode ainda representar as relações “entre pesquisadores, usuários, técnicos, cientistas, governo e empresas, que constituem a rede de inovação”. Para que essas relações ocorram da maneira mais eficaz possível é que se promovem políticas de inovação, cujo objetivo é “gerar ou ampliar a capacidade tecnológica e incentivar não somente os investimentos privados, mas também a montagem da infraestrutura que promova a interação e a transferência de tecnologia entre diferentes agentes como universidades, institutos de pesquisa (públicos e privados) e empresas” (Avellar, 2007, p. 630). Tais políticas consistem de diversos instrumentos, tais como o incentivo fiscal e o incentivo financeiro, sob o formato, por exemplo, de subsídios a projetos de pesquisa, financiamento por meio de fundos financeiros, compras do setor público ou política de atração de investimento externo direto em atividades de pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, esses movimentos tomaram maior importância a partir da entrada em vigor da Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004, regulamentada em 11 de outubro de 2005 pelo Decreto N. 5.563/2005, denominada como Lei da Inovação: “Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional do País”. A Lei de Inovação é tida como o marco regulatório para a inovação no país e foi organizada em torno de três eixos: a constituição de ambiente propício para parcerias estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas; o estímulo à participação de institutos de ciência e tecnologia no processo de inovação; e o estímulo à inovação na empresa privada (Brasil, 2004). A partir dessa lei, em conjunto com a Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005, conhecida Lei do Bem (lei que, entre outras disposições, proporcionou incentivos à inovação tecnológica), o governo brasileiro estabeleceu políticas governamentais que visavam incentivar a inovação tecnológica e incrementar a competitividade das empresas brasileiras nos mercados nacional e internacional, de maneira que essas empresas incorporem atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação no seu processo produtivo, além de estimular a interação com as instituições científicas e tecnológicas (ICTs). No entanto, apesar de ter estabelecido legalmente mecanismos de estímulo nas relações de 7 entes públicos em atividades de inovação com empresas, a Lei de Inovação não foi suficiente para alterar a dinâmica da pesquisa no Brasil. Para Rauen (2016, p. 22), universidades públicas e institutos de pesquisa mantiveram o padrão de suas formas de produzir conhecimento, já que continuam estabelecendo “linhas de pesquisa dissociadas dos interesses do setor produtivo, e produzem como resultados de suas atividades aquilo em que tradicionalmente possuem maior vantagem competitiva: a produção de artigos científicos[...]”. Tendo em vista esse cenário, foi promulgada a Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016, conhecida como o Código de Ciência, Tecnologia e Inovação. Conforme Rauen (2016, p. 24), a nova lei avança em diversos pontos na promoção de um ambiente regulatório mais seguro e estimulante para a inovação no Brasil. Entre eles, destacam-se: • A formalização das ICTs privadas (entidades privadas sem fins lucrativos) como objeto da lei; • A ampliação do papel dos NITs, incluindo a possibilidade de que fundações de apoio possam ser NITs de ICTs; • A diminuição de alguns dos entraves para a importação de insumos para pesquisa e desenvolvimento (P&D); • A formalização das bolsas de estímulo à atividade inovativa, entre outros. (Rauen, 2016, p. 24) Embora haja avanços visíveis em relação à legislação anterior, Rauen (2016) pontua que o atual marco legal nacional da inovação parece partir de uma premissa science-push em que as iniciativas de inovação se originam, tradicionalmente, das universidades e instituições de pesquisa e de seus pesquisadores para o sistema produtivo nacional. A autora defende que tal premissa desconsidera o dinamismo dos processos de pesquisa e de produção de novas tecnologias e diz da necessidade de estimular o aumento da participação empresarial no processo inovativo. TEMA 3 – POLÍTICAS DE INOVAÇÃO: FINANCIAMENTO E INCENTIVOS No Brasil, o papel do setor público no financiamento do desenvolvimento foi sempre marcante, ao contrário do observado em outras economias, nas quais o financiamento privado, via crédito de longo prazo e mercado de capitais, representa também papel relevante nessa missão (Buainain, 2017). O apoio governamental visa reduzir o custo relativo e/ou o risco associados às atividades de inovação, seja pela participação de setor público no financiamento direto de pesquisas realizadas pela ou para a empresa, por meio 8 de transferência financeira a fundo perdido, de financiamento à taxa mais favorável que as de mercado ou de participação acionária. Também pode ser feita concessão de benefícios fiscais que reduzam a carga tributária incidente sobre as empresas (Guimarães, 2008, p. 152). Conforme Menezes Filho et al. (2014), há, basicamente, dois grandes tipos de políticas de apoio a inovação no Brasil: as políticas de apoio indireto e as políticas de apoio direto. Quanto ao apoio indireto, os autores apontam que o principal instrumento é o incentivo fiscal instituído pelo capítulo III da Lei 11.196/2005. Os autores dizem que: A Lei se caracteriza por permitir de forma automática a utilização de incentivos fiscais por empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento tecnológicos, sem apresentação de projeto prévio. Ela possibilita benefícios para P&D em empresas tributadas com base no lucro real (que são as grandes empresas) e [...] a dedutibilidade dos gastos com P&D da base de tributação (lucro real) de IRPJ (Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica) e CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) na proporção de 160%, podendo chegar a 180%. (Menezes Filho et al., 2014, p. 11) Já no que se refere às políticas de apoio direto à inovação tecnológica, Menezes Filho et al. (2014) comentam que estas foram instituídas há algumas décadas e apresentam grande importância no fomento à inovação. Corroborando essa ideia, Negri (2018) afirma que, ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil empreendeu uma série de medidas destinadas a reforçar a capacidade científica, tecnológica e de inovação do país. Essas medidas vão incluem apoio financeiro direto para investimentos e pesquisa em universidades, centros de pesquisa e empresas; crédito para investimentos empresariais em P&D; incentivos fiscais para investimentos empresariais em P&D; além de medidas regulatórias. Outros incentivos são a possibilidade de incubação de empresas em espaço público com compartilhamento de infraestrutura, equipamentos e recursos humanos, públicos e privados. Para os pesquisadores públicos, foram criadas regras claras de sua participação nos processos de inovação tecnológica desenvolvidos no setor produtivo. 9 Figura 3 – Principais políticas de apoio à ciência, tecnologia e inovação no Brasil até 2015 Fonte: Negri, 2018, p. 108. Apesar das novas políticas que vêm surgindo no Brasil, em especial a partir da promulgação da Lei da Inovação, ainda hámuito a ser feito para que o país se torne uma nação com capacidade inovadora, como a geração de um ambiente econômico propício para a inovação, a existência de uma infraestrutura real de suporte aos processos inovadores ou uma formação mais adequada de cientistas e pesquisadores. Para Negri (2018), os atuais problemas podem ser resolvidos ou evitados por meio da implementação de políticas públicas adequadas e inteligentes. De acordo com a autora, tais políticas não devem obrigar as empresas a inovar nem devem dizer aos cientistas quais devem ser seus objetos de pesquisa, mas, sim, confiar nos cientistas para que estes apontem os caminhos da ciência e confiar nas empresas para que estas indiquem os rumos da inovação. Entretanto, há necessidade de formulação de políticas com base em conhecimento técnico sólido. Negri (2018, p. 136) aponta que o “respeito à ciência e ao conhecimento se expressa não apenas na valorização da C&T mas também na utilização de informação qualificada para a própria formulação de políticas”. Em suma, o Brasil só terá uma maior vantagem competitiva como nação inovadora à medida que for capaz de usar o conhecimento científico e tecnológico como mola propulsora do seu desenvolvimento, estabelecendo políticas com uma visão consistente do que se espera da ciência e da tecnologia e de quais são os mecanismos para alcançar esses objetivos. 10 TEMA 4 – PROGRAMAS DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA A cada quadriênio, o governo federal brasileiro institui o PPA – Plano Plurianual, por meio de lei. O mais recente PPA diz respeito aos anos de 2016- 2019 e foi sancionado pela Lei n. 13.249, de 13 de janeiro de 2016. O PPA 2016- 2019 é o planejamento governamental que [...] define diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada, com o propósito de viabilizar a implementação e a gestão das políticas públicas. (Brasil, 2016) Suas diretrizes buscam o “estímulo e a valorização da educação, ciência, tecnologia e inovação e competitividade” (Brasil, 2016). Figura 4 – Parte da identificação visual adotada para o PPA 2016-2019 Fonte: Brasil, 2016. De forma a controlar e observar se as políticas propostas a cada quadriênio estão sendo efetivadas, todo ano publica-se um relatório de avaliação do PPA. Nele são apresentados os principais resultados devidos à implementação das políticas e dos programas realizados durante o período. Além de observar a realização das políticas e dos programas, os relatórios também têm por função destacar a importância da ciência, da tecnologia e da inovação (CT&I) como elementos fundamentais para o desenvolvimento e o crescimento econômico do país e como esse crescimento acaba por influenciar na geração de empregos relacionados não só às organizações inovadoras, mas também às organizações que se utilizam dos resultados das inovações. Alguns programas citados nos relatórios de avaliação de PPA deste quadriênio, em especial os programas de fomento do governo federal em relação a inovação e tecnologia, são aqueles de “[...] formação de recursos humanos, ao fomento a redes de pesquisa como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), à melhoria e ampliação da infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento e ao fortalecimento do ambiente para o desenvolvimento da inovação” (Brasil, 2016b, p. 22). 11 Quanto aos INCTs, mais de uma centena de novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia tiveram início no quadriênio em pauta. O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia tem por objetivo: mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país; impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental competitiva internacionalmente; estimular o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica de ponta associada a aplicações para promover a inovação e o espírito empreendedor, em estreita articulação com empresas inovadoras, nas áreas do Sistema Brasileiro de Tecnologia – Sibratec. (INCT) O programa de incentivo aos INCTs busca promover o avanço da competência nacional criando ambientes estimulantes para alunos talentosos desde o ensino médio ao pós-graduado. Também tem responsabilidade direta pela formação de jovens pesquisadores e pelo apoio à instalação e ao funcionamento de laboratórios em instituições de ensino e pesquisa, assim como em empresas privadas. Desta forma, proporciona melhor distribuição no país da pesquisa científico-tecnológica, bem como sua qualificação em áreas prioritárias para o desenvolvimento tanto regional quanto nacional. Ainda, estabelece programas que contribuem para a melhoria do ensino de ciências e a difusão da ciência para o cidadão comum. Participam desse programa de consolidação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), além do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, fundações envolvidas com pesquisa do país inteiro. São elas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ, a Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa – FAPESPA, Fundação Araucária – Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná – FAADCT, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – FAPEG, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina – FAPESC, a Fundação de Apoio a 12 Pesquisa do Distrito Federal – FAP-DF, a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe – FAPITEC e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul –FUNDECT. Desta forma, o programa difunde-se por todo o país. Outro programa de relevância relacionado ao avanço de C&T no país é a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Criado em 2005, o programa tem como objetivo estimular o estudo da matemática e revelar talentos na área, contribuindo para a melhoria da qualidade da educação básica ao possibilitar que mais alunos brasileiros possam ter acesso a material didático de qualidade, além de promover a inclusão social por meio da difusão do conhecimento. EM 2017, o programa alcançou 99,59% dos municípios brasileiros, com 17.839.424 alunos inscritos, matriculados em 47.474 escolas públicas de 5.544 municípios (Brasil, 2016b, p. 44). O apoio a startups, à formação e à capacitação de recursos humanos para atuar em atividades de P&D em tecnologias digitais avançadas e na atração de jovens para a carreira de TI, a exemplo da plataforma Brasil Mais TI, é mais um programa a ser ressaltado. Em 2017 houve a incorporação de mais 42.140 novos estudantes e a seleção de 50 projetos de empresas nascentes de tecnologias digitais no âmbito do Programa StartUp Brasil, com um montante de investimento previsto de R$ 10 milhões, totalizando até o momento 90 empresas beneficiadas no âmbito do PPA 2016-2019 (Brasil, 2016b, p. 44).Figura 5 – Brasil Mais TI Fonte: Brasil Mais TI, 2019. O Sibratec, programa voltado para ampliação da capacidade de inovação e competitividade das empresas brasileiras, encontra-se operando com 6 redes estaduais de extensão tecnológica, 22 redes temáticas de serviços tecnológicos e 2 redes temáticas de centros de inovação. A inovação nas empresas também foi apoiada por meio do Plano de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Inovação do Setor de Mineração e Transformação Mineral (Inova Mineral) e do Plano de Apoio ao Desenvolvimento e Inovação da Indústria Química (Padiq), iniciativas 13 conjuntas da Finep e do BNDES para apoio a planos de negócio de empresas voltados à inovação, em parceria com instituições de pesquisa ou universidades. O Inova Mineral, lançado em maio de 2016, conta com R$ 1,18 bilhão, sendo até R$ 220 milhões não reembolsáveis. Já o Padiq teve resultado final divulgado em agosto de 2016: foram aprovados 27 planos de negócios –12 de micro, pequenas e médias empresas – que receberam um total de R$ 2,4 bilhões (Brasil, 2016b, 22-23). Quanto à energia nuclear, a política nacional de atividades nucleares tem como objetivos assegurar o uso pacífico e seguro da energia nuclear, desenvolver ciência e tecnologia nuclear e correlatas para medicina, indústria, agricultura, meio ambiente e geração de energia, além de atender ao mercado de equipamentos, componentes e insumos para indústria nuclear e de alta tecnologia. Os programas relativos a essa política têm caminhado no sentido de modificar o atual cenário nacional, visto que o país possui domínio tecnológico de todas as etapas do ciclo do combustível nuclear, em escala laboratorial ou em usina de demonstração, mas em escala industrial ainda não há capacidade instalada nas etapas de enriquecimento (parcialmente atendida) e conversão do U3O8 em UF6 (totalmente importada) suficiente para atendimento da demanda de Angra I, II e III. Desta forma, para o atual quadriênio, busca-se a continuidade da implantação da Usina de Enriquecimento de Urânio pela INB, em Resende (RJ), estratégica para o país, etapa mais relevante para a evolução da taxa de nacionalização do ciclo do combustível (Brasil, 2016b, p. 26). Também cabe destaque no ano de 2017 a intensificação da produção de componentes e dispositivos para o SIRIUS – um acelerador de partículas do tipo sincrotron localizado no município de Campinas (SP) – como sistema de alinhamento e posicionamento, câmaras de vácuo, ímãs, sistema de controle e diagnóstico, fontes e sistema de rádio frequência do anel de armazenamento, bem como front-ends, cabanas, espelhos e componentes das estações experimentais das linhas de luz. (Brasil, 2016b, 44). O acelerador, tido como o mais potente do mundo, foi inaugurado em novembro de 2018. 14 Figura 6 – Acelerador de partículas Sirius Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações/CC.BY- 2.0. A manutenção desses programas e da criação de novos programas relativos à inovação é essencial ao país, visto que a ciência, a tecnologia e a inovação (CT&I) são fundamentais para o desenvolvimento, o crescimento econômico e a geração de empregos. TEMA 5 – FINANCIAMENTO À INOVAÇÃO Por ter uma natureza essencialmente intangível, as organizações que buscam fomentar atividades de inovação encontram dificuldades de financiamento no mercado. As incertezas próprias desse tipo de empreendimento e a grande diferença de entendimento das ações necessárias à inovação entre os agentes fazem que os investidores procurem oportunidades muito particulares, em especial quanto a risco e prazos, para esse tipo de investimento. Cabe ressaltar que um financiamento para a inovação é um recurso monetário, normalmente conseguido em fontes externas à organização, para que se possa realizar um projeto inovador. Nesse contexto, conforme Luna et al. (2008, p. 229), os setores mais dinâmicos da economia, aqueles que possuem alto valor agregado por meio de sua produção e inovação, oferecem grandes oportunidades para aumentar a eficiência no uso do capital. A redução do ciclo de vida dos produtos, causada pelos recentes avanços tecnológicos, faz com que as atividades de inovação se tornem um processo dinâmico e necessário dentro das empresas, na medida em que essas atividades são fundamentais para enfrentar a crescente competição mundial por mercados. 15 As atividades passíveis de financiamento voltadas para a área de inovação e tecnologia estão disponíveis no Brasil para instituições de pesquisa, universidades, indústrias, associações, sociedades, organizações não governamentais (ONGs), entre outros tipos de organizações. Os principais órgãos de fomento no país, conforme Menezes et al (2014), são a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). A Finep é uma empresa pública criada em 1967, ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Desde 1971, possui a função de Secretaria Executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que provê recursos para seus programas e ações. Parte dos recursos do FNDCT são provenientes dos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, criados em 1999, vindos de fontes diversas, e sua utilização é vinculada a setores estratégicos, sujeita à aprovação de conselhos formados por membros da comunidade científica, do governo e do setor privado (Menezes et al., 2014, p. 11-12). Figura 7 – Logo da Finep Fonte: Finep, 2014. Já o BNDES, empresa pública federal criada em 1952, é o principal instrumento de financiamento de longo prazo para diversos segmentos da economia. A inovação foi incorporada como uma prioridade em seu Plano Corporativo de 2009/2014 e, a partir de então, o banco tem como objetivo apoiar operações ligadas à formação de capacitações e ao desenvolvimento de ambientes inovadores. Há uma série de mecanismos pelos quais o BNDES apoia as empresas inovadoras, tais como linhas e produtos de financiamento à inovação (BNDES Inovação, BNDES automático, Cartão BNDES e BNDES Limite de crédito), programas de apoio setoriais e recursos diretos não reembolsáveis às empresas (Menezes et al., 2014, p. 12). 16 Figura 8 – Logo do BNDES Fonte: BNDES, S.d. Além do BNDES e da FINEP, podem-se destacar como principais órgãos financiadores nacionais o Banco da Amazônia S/A (BASA), o Banco do Brasil S/A (BB), o Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Cada um desses órgãos tem finalidades distintas e, portanto, auxiliam em financiamentos de atividades diferentes. No Quadro 1, é possível observar as atividades que podem ser financiadas e os órgãos responsáveis pelo financiamento. Quadro 1 – Atividades financiáveis e órgãos financiadores Atividades passíveis de financiamento CNPq FINEP BNDES BB BASA BNB Capacitação e treinamento de recursos humanos X X X X X Contratação temporária de recursos humanos especializados X Utilização de serviços de consultoria técnica X X X X Utilização de especialistas visitantes X Estágios e visitas técnicas X Implantação de laboratórios de desenvolvimento X X X X X Desenvolvimento de produtos e processos X X X X X Transferência de tecnologia X X X X X Estudos técnicos e de viabilidade de projetos X X X X Implantação de sistema de qualidade X X X Desenvolvimento de banco de dados X X Capacitação em gestão tecnológica X X X X X Aquisição de máquinas e equipamentos X X X Participaçãoem feiras como expositor X X X Colocação de produtos inovadores no mercado X X X X (continua) (continuação do Quadro 1) 17 Capital de giro X X X Capitalização de empresa (participação acionária) X Importação de máquinas e equipamentos X X Exportação de produtos e serviços X X X Conservação do meio ambiente X X Desenvolvimento de software X Design X Educação básica para o trabalhador X Implantação de sistemas para gestão de impacto ambiental X Fonte: Valentim, 2015, p. 5-6. Vale ressaltar que os elevados custos de capital para o investimento no Brasil, aliados com os custos ainda maiores inerentes aos projetos de inovação, constituem uma barreira importante à inovação no Brasil. Para Negri (2018, p. 92), além das taxas de juros, é necessário reduzir também a “assimetria de informação e outras falhas de mercado que, em última instância, fazem com que o custo do financiamento à inovação seja maior do que o financiamento ao investimento convencional”. Ou seja, o financiamento público já existente pode ser uma das alternativas, mas não é suficiente para atender a todos os tipos de organização que necessitam de financiamento para inovar. FINALIZANDO Nesta aula, você teve acesso a informações acerca das questões de Estado em relação a inovação e tecnologia. Pôde conhecer, desta forma, o que são políticas públicas de um modo geral, bem como seu desdobramento em programas. Também teve conhecimento sobre algumas das leis mais importantes em termos de inovação e tecnologia. Ficou ciente das políticas propostas pelo governo federal, bem como dos programas para o fomento de ciência e tecnologia no país. Finalmente, pôde informar-se sobre os vários órgãos financiadores de inovação tecnológica no país e quais ações são normalmente financiadas. 18 REFERÊNCIAS ANDRADE, D. Conheça o ciclo das políticas públicas. Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/ciclo-politicas-publicas/>. Acesso em: 13 mar. 2019. AVELLAR, A. P. Impacto das políticas de fomento à inovação no Brasil sobre o gasto em atividades inovativas e em atividades de P&D das empresas. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 629-649, jul./set. 2009. BRASIL MAIS TI. Disponível em: <http://www.brasilmaisti.com.br>. BUAINAIN, A. et al. Desafios do financiamento à inovação no Brasil. In: COUTINHO, D.; FOSS, M. C.; MOUALLEM, P. S. B. (Org.). 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