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Psicologia da Personalidade aula de 6 a 10

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Aula 6: A abordagem cognitiva 
Introdução
Como discutimos na aula 5, a abordagem behaviorista, que teve início com Watson e foi marcada pelos experimentos de Skinner, enfatizava como objeto de estudo o comportamento observável. Assim, buscava explicar todos os fenômenos psicológicos a partir deste princípio de estímulo e resposta.
 
Com o passar do tempo, alguns teóricos começaram questionar tal vertente, o que trouxe, na década de 60, o que chamamos de “revolução cognitiva”. Esta se caracteriza basicamente pela inserção da cognição nos estudos dos fenômenos psicológicos.
 
Sendo assim, as teorias da personalidade passaram também a ter a cognição como influência em seu entendimento. Dois grandes teóricos se destacam nesse estudo. Então, discutiremos a seguir as características de cada um deles.
Albert Bandura e a aprendizagem social
Provavelmente, antes de realizar uma atividade pela primeira vez, você já tinha algum conhecimento a seu respeito. Esse conhecimento foi adquirido enquanto você ocupava a posição de observador.
Como por exemplo, quando via sua mãe fazer um bolo, antes de fazer o seu; ou quando era passageiro enquanto seu pai dirigia e antes mesmo de você entrar na autoescola.
Esses conhecimentos surgiram de processos de aprendizagem observacionais, ou seja, vendo outras pessoas executando uma determinada atividade.
 
Albert Bandura concentrou seus estudos na natureza da aprendizagem observacional, bem como na maneira pela qual nossa mente e as exigências de cada situação se combinam para determinar nossas ações.
Ampliação da teoria da aprendizagem
Para ele, as pessoas aprendem tantos comportamentos complexos que seria impossível dizer que cada uma dessas aprendizagens é resultado apenas do sistema de reforçamento, conforme propunha Skinner. Sendo assim, ele ampliou a ideia da teoria da aprendizagem para além da abordagem behaviorista tradicional.
 
Então, segundo Bandura, as pessoas não copiam simplesmente o comportamento dos outros, mas decidem de modo consciente se vão ou não se comportar de acordo com o comportamento que aprenderam pela observação.
Com isso, podemos perceber a importância da cognição para o entendimento do que se processa internamente nos sujeitos, levando a determinados comportamentos.
 
Vários estudos foram conduzidos por Bandura e seus colaboradores, sendo amplamente conhecidos. Esses estudos são relacionados à aprendizagem de comportamentos agressivos em crianças.
Aprendizagem de um comportamento agressivo
Bandura fez um estudo que consistia em diferentes grupos:
1º grupo - As crianças assistiram a filmes que mostravam um adulto tendo comportamento agressivo com o “João Bobo”.
 Como resultado para este grupo, observou-se que as crianças que tinham assistido a esses filmes também tendiam a se comportar de modo agressivo quando em contato com o João Bobo.
2º grupo – As crianças assistiram a filmes que mostravam um adulto tendo comportamento agressivo com o “João Bobo” e sendo recompensado pela agressão.
 Neste grupo, assim como no anterior, percebeu-se que as crianças que assistiram aos adultos não só agindo de forma agressiva, mas também sendo recompensadas por isso, também tendiam a se comportar de modo agressivo.
3º grupo – No filme a que essas crianças assistiram, o adulto tinha comportamento agressivo com o “João Bobo” e era punido pela agressão. Neste caso, percebeu-se que elas eram menos propensas a se comportar de modo agressivo.
Cabe aqui lembrar que, para Bandura, a aprendizagem observacional não exigia necessariamente a observação de recompensas. O simples ato de ver o comportamento agressivo era suficiente para “ensiná-lo” às crianças.
Principais conceitos da teoria de Albert Bandura
Autossistema (FRIEDMAN, H. e SHUSTACK, 2004, p. 247-248)
 
Albert Bandura considerou importante levar em conta na personalidade o que ele denominou de autossistema. Este conceito pode ser definido como o “conjunto de processos cognitivos por meio do qual uma pessoa percebe, avalia e regula o próprio comportamento, de modo que ele seja apropriado ao meio e eficaz para que ela alcance suas metas”.
 
Sendo assim, Bandura acredita que o comportamento do indivíduo é influenciado para além do reforçamento.
 
Fontes das nossas convicções sobre a autoeficácia
Para Bandura, as nossas convicções acerca da autoeficácia são resultado de quatro fontes:
1 - Das nossas experiências quando tentamos manifestar determinado comportamento que temos em mente ou um comportamento semelhante relacionado aos nossos sucessos e fracassos do passado;
2- De observarmos outras pessoas realizando esses comportamentos semelhantes, chamados por Bandura de experiências viacariantes;
3 -Da persuasão verbal, ou seja, das pessoas nos encorajando ou desencorajando para manifestar determinado comportamento;
4- Do como nos sentimos em relação ao comportamento, ou seja, das reações emocionais vinculadas ao comportamento.
George Kelly: teoria dos constructos pessoais
Segundo Kelly, nós construímos uma ideia sobre como nosso mundo funciona, portanto para Kelly, somos como cientistas. Esse é o princípio básico da teoria de Kelly sobre a personalidade, segundo a qual cada pessoa tenta compreender o mundo e fazemos isso de forma única, ou seja, cada um de nós terá sua concepção distinta acerca do mundo.
 
Sua teoria, denominada teoria do constructo pessoal, foi desenvolvida principalmente a partir do seu contato com os clientes na terapia.
Sua teoria interpreta o comportamento em termos cognitivos; ou seja, ele enfatiza:
- A maneira como percebemos os eventos;
- A maneira como interpretamos esses eventos em relação às estruturas existentes;
- A maneira como nos comportamos em relação a essas interpretações.
Sua teoria interpreta o comportamento em termos cognitivos; ou seja, ele enfatiza:
Um constructo pode ser então entendido como uma forma de perceber, construir ou interpretar o mundo. É um conceito utilizado pelo indivíduo para categorizar eventos e estabelecer um curso de comportamento.
 
Segundo Kelly, nós experimentamos eventos, interpretamos esses eventos e damos a eles uma estrutura e um significado, distinguindo similaridades e contrastes.
 
Essa construção de uma semelhança e de um contraste leva à formação de um constructo; sem os constructos, não seríamos capazes de organizar nosso mundo.
Principais características da teria dos constructos pessoais de Kelly
-Enfatiza a maneira como os indivíduos interpretam o mundo;
-Considera que a pessoa é um agente ativo em seu envolvimento com o mundo;
-Enfatiza coisas que as pessoas podem fazer para mudar a maneira como pensam;
-Enfatiza os processos cognitivos;
Entretanto, as pessoas somente conseguem perceber os eventos dentro dos limites das categorias (constructos) que estão disponíveis para elas. Segundo Kelly, somos livres para interpretar os eventos, mas estamos presos a nossas construções.
Para Kelly, o método clínico é útil porque leva a novas ideias e concentra a atenção em questões importantes. Ainda, uma boa teoria da personalidade deveria nos ajudar a resolver os problemas das pessoas e da sociedade.
 
Sendo assim, para Kelly, a personalidade de um indivíduo é formada pelo seu sistema de constructos. Os constructos que uma pessoa usa, portanto, definem seu mundo.
Atividade proposta:
Analise o seguintecaso hipotético:
Por muito tempo, a Psicologia utilizou a ideia de estímulo-resposta proposta pelo Behaviorismo para explicar os fenômenos psicológicos.
Você acredita ser de fato essa a única forma de explicar a ocorrência dos fenômenos psicológicos? Reflita sobre essa ideia e compare com as teorias que discutimos nesta aula.
Respostas:
O behaviorismo considera que todos os fenômenos psicológicos podem ser explicados através do estímulo resposta, porém muitos teóricos começaram a questionar tal posicionamento trazendo então teorias que buscassem entender a personalidade e outros fenômenos psicológicos através dos aspectos cognitivos e não somente
do comportamento observável.
Aula 7: A abordagem humanista de Maslow 
A abordagem humanista da personalidade
Na década de 60, alguns psicólogos estavam insatisfeitos com as teorias de Freud consideradas negativas, já que enfatizavam o que havia de errado com as pessoas.
 
Este fato, combinado com a insatisfação com as teorias de aprendizagem propostas pelos behavioristas, fez com que alguns estudiosos – os psicólogos humanistas – tomassem uma direção contrária.
 
Eles voltaram sua atenção não para as motivações básicas das pessoas “doentes”, mas para buscar entender como as pessoas saudáveis se esforçam para obter a autorrealização.
Importantes teóricos humanistas
Dois importantes teóricos foram os pioneiros nesta vertente que enfatiza o potencial humano:
Muito da Psicologia atual vem das ideias propostas por Abraham Maslow e Carl Rogers, em especial o conceito de que “um autoconceito positivo é a chave para a felicidade e o sucesso, de que a aceitação e a empatia ajudam a nutrir sentimentos positivos sobre si mesmo e de que as pessoas são basicamente boas e capazes de se aperfeiçoar” (MYERS, 2006, p. 431).
ATENÇÂO
As abordagens humanistas enfatizam a natureza criativa, espontânea e ativa dos seres humanos. Normalmente, elas são otimistas, como ao concentrarem-se na nobre capacidade humana de superar a privação e a desesperança.
 
Contudo, não raro essas abordagens são pessimistas, como ao contemplarem a futilidade dos atos de uma pessoa. Todavia, essas abordagens tendem a adotar os aspectos espirituais e filosóficos da natureza humana (RYCLAK, 1997, citado por FRIEDMAN SCHUSTACK, 2004, p. 305).
Perspectiva humanista
Fica claro, portanto, que a perspectiva humanista procurou desviar a atenção da Psicologia, que estava muito vinculada aos condicionamentos ambientais e suas motivações.
 
Segundo essa perspectiva, o ser humano tem um grande potencial e deveríamos então estudar esse potencial de crescimento a partir das experiências das pessoas saudáveis.
 
Na perspectiva humanista, a avaliação da personalidade se dava por meio de questionários, em que as pessoas descreviam seus autoconceitos, e também através da terapia, em que se buscava compreender as experiências subjetivas.
Vamos trabalhar as ideias de Maslow?
De acordo com esse teórico, somos motivados por uma hierarquia de necessidades. Para ficar mais claro, os psicólogos costumam fazer uma distinção entre os conceitos de motivo, necessidade, impulso e instinto.
Necessidades
Estão relacionadas exatamente ao que o conceito quer nos dizer. Ou seja, deficiências; aquilo de que precisamos e que está nos falando em um determinado momento. Podem ser exigências corporais específicas, por exemplo.
Motivo ou motivação
 
Refere-se a um estado interno que pode resultar de uma necessidade. É descrito como ativador, ou despertador, de um comportamento geralmente dirigido para a satisfação da necessidade instigadora.
 
Motivos estabelecidos principalmente pela experiência são conhecidos simplesmente como motivos. Aqueles que surgem para satisfazer necessidades básicas relacionadas com a sobrevivência e derivadas da fisiologia são geralmente chamados de impulsos. (DAVIDOFF, 2001, p. 325).
 
A motivação é a energia e a orientação do comportamento, a força que há por trás da nossa ânsia por alimento, do nosso anseio por intimidade sexual, da nossa necessidade de pertencimento e do nosso desejo de realização (MYERS, 2006, p. 333).
Impulso
Os motivos relacionados à sobrevivência, e que são derivados da fisiologia, são o que chamamos de impulsos. Eles são modelados pela experiência, obviamente sem deixar de levar em consideração sua origem biológica.
 
Nós seres humanos experimentamos impulsos por água, comida, oxigênio, sono, esquiva da dor, oxigênio e regulação da temperatura.
 
Teoria da redução do impulso:
 
Uma necessidade fisiológica cria um estado de excitação que impulsiona o organismo a reduzir tal necessidade, digamos, comendo ou bebendo. Com poucas exceções, quando uma necessidade fisiológica aumenta, também aumenta o impulso psicológico – um estado de excitação motivado (MYERS, 2006, p. 331).
Instinto
Refere-se a padrões complexos de comportamentos que se pensa serem derivados da hereditariedade (DAVIDOFF, 2001, 0.325)
Para se qualificar como instinto, um comportamento deve apresentar padrão fixo em uma espécie, e não ser aprendido (MYERS, 2006, p.331)
Maslow desenvolveu sua teoria estudando pessoas saudáveis e criativas, em vez de casos clínicos, como Freud. Ele fundamentou sua descrição de autorrealização a partir de estudos com pessoas que pareciam notáveis, em função de terem levado uma vida rica e produtiva.
 
Dentre essas pessoas, podemos destacar Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e Eleanor Roosevelt. Em seus estudos, Maslow apontou algumas características incomuns entre essas pessoas.
Segundo Maslow, essas pessoas “aceitavam-se tal como eram e tinham consciência de si mesmas; eram francas e espontâneas, afetuosas e solícitas, e não se deixavam afetar pela opinião dos outros”.
 
Seguras por saberem quem eram, seus interesses eram centrados nos problemas, e não nelas mesmas. Elas concentravam suas energias em uma determinada tarefa, uma tarefa que com frequência viam como uma missão em sua vida.
 
A maioria desfrutava de poucos relacionamentos íntimos, em vez de muitos relacionamentos superficiais. Muitas foram movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que vão além da consciência comum (MYERS, 2006, p. 430).
Maslow disse que essas são características adultas maduras que se encontram em pessoas que aprenderam o suficiente sobre a vida.
 
Em um trabalho com universitários, ele especulou que aqueles mais propensos a se tornarem adultos autorrealizados eram “simpáticos, solícitos, particularmente afetuosos com os mais idosos, que merecem seu afeto, e discretamente preocupados com a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue, encontrados com tanta frequência entre as pessoas jovens” (MYERS, 2006, p. 430).
Teoria da hierarquia de Maslow 
Maslow desenvolveu a teoria da hierarquia das necessidades, partindo do princípio de que o ser humano nasce com cinco necessidades, que segundo ele, estariam dispostas em uma hierarquia.
 
Para ele, “as pessoas permanecem como ‘animais carentes’ durante a vida toda. Esses motivos seguiriam uma ordem. Quando um grupo de necessidades é atendido, um novo grupo toma seu lugar. Conseguimos percorrer os vários sistemas em ordem.” (DAVIDOFF, 2001, p. 327).
 
Por exemplo: se neste momento suas necessidades, como a de água, forem satisfeitas, outras necessidades, como o desejo de tirar dez em uma prova, vão energizar e direcionar seu comportamento. Se sua necessidade de sede ficar insatisfeita, você ficará preocupado com ela, mas se você ficar privado de ar, sua sede irá desaparecer.
 
A teoria das necessidades de Maslow começa com as necessidades fisiológicas, seguidas da necessidade de segurança, de pertencimento e de amor, de estima e, no topo da pirâmide, da necessidade de autorrealização.
Necessidades: Realização pessoal, Estima, Sociais (amor, relacionamento), Segurança, Fisiológica
Necessidades fisiológicas :
São as necessidades consideradas requisitos para a sobrevivência; são as mais fortes e imperiosas. São elas as necessidades de: alimento, água, sono, sexo, proteção contra temperaturas extremas, estimulação sensorial e atividade.
 
De acordo com Maslow, elas precisam ser satisfeitas em algum grau, antes que surjam outras necessidades. Segundo ele, se uma única delas for insatisfeita, ela pode dominar todas as demais.
ATENÇÃO: 
Maslow (1970, citado por DAVIDOFF, 2001, p. 328) nos ilustra essa ideia com o seguinte exemplo:
 
Para nosso homem, crônica e extremamente faminto, utopia pode ser definida simplesmente como um lugar onde há comida em abundância. Ele tende a pensar que, se pelo menos tiver alimento garantido
para o resto de sua vida, será perfeitamente feliz e jamais desejará outra coisa.
 
A própria vida tende a ser definida em termos de comida. Qualquer outra coisa será definida como insignificante.
 
Liberdade, amor, sentimento comunitário, respeito, filosofia, todos podem ser descartados como ninharias inúteis, uma vez que não enchem o estômago. Tal homem pode com toda a certeza ser definido como vivendo só de pão.
Necessidade de segurança
Para Maslow, uma vez que as necessidades fisiológicas humanas foram atendidas, surgem as necessidades de se sentir protegido, livre de perigos e seguro. É a necessidade de sentir que o mundo é organizado e previsível; de sentir-se salvo, seguro, protegido e estável.
 
Alguns exemplos das necessidades de segurança são o nosso desejo de ter um emprego estável; o desejo das crianças por rotinas em que possam confiar; as religiões e filosofias de vida, que as pessoas adotam com o objetivo de se sentirem mais seguras e protegidas.
Necessidade de pertencimento e de amor
Uma vez satisfeitas as necessidade de segurança, surgem as necessidades de afeto, intimidade e de sentimento de pertencimento.
 
Segundo Maslow, as pessoas procuram amar e ser amadas. Essa necessidade envolve pertencer e ser aceito e a necessidade de evitar a solidão e a alienação.
ATENÇÂO:
Ninguém é uma ilha; todos somos, como notou John Donne em 1624, parte de um continente humano. Nossa necessidade de afiliação – de nos sentirmos em contato com outras pessoas – aumentou as chances de sobrevivência de nossos ancestrais e, portanto, faz parte da nossa natureza humana.
 
Experimentamos a necessidade de pertencimento quando sofremos com o rompimento dos nossos vínculos sociais, quando sentimentos o desalento da solidão ou a alegria do amor quando buscamos aceitação social (MYERS, 2006, p. 351).
Necessidade de estima
Quando as necessidades de pertencimento e de amor estão satisfeitas, surgem as necessidades de autoestima e estima de terceiros. Essas necessidades estão relacionadas ao desejo das pessoas em serem valorizadas em seu grupo, em seu trabalho, em sua casa e por si mesmas.
 
Em outras palavras, é a necessidade de autoestima, de realização, de competência e de independência, necessidade de reconhecimento e respeito por parte dos demais.
Necessidade de autorrealização
Quando, por fim, todas as demais necessidades já tiverem sido satisfeitas, surge o que Maslow chamou de necessidade de autorrealização. As pessoas buscam realizar seus potenciais e atingir suas metas. É a necessidade de viver o potencial pleno e único da pessoa.
 
Maslow ficou particularmente impressionado pelas necessidades de realização (crescimento), acreditando que elas não só preservam a vida como também a enriquecem. Ele teorizou que essas necessidades predominam em personalidades saudáveis (DAVIDOFF, 2001, p. 328).
Maslow considerava que a maioria das pessoas não era psicologicamente saudável, e que somente cerca de 1% dos americanos chegavam à autorrealização. Maslow acreditava que isto acontecia porque a maioria das pessoas não acredita em seus verdadeiros potenciais.
 
Com relação à hierarquia proposta por Maslow, deve-se levar em conta que ela é um tanto arbitrária, pois a ordem das necessidades descritas por ele não pode ser considerada universalmente fixa.
 
Para exemplificar, podemos pensar nas pessoas que já passaram fome como forma de protestar politicamente.
 
A hierarquia das necessidades de Maslow pode ser considerada a expressão da ideia que, até serem satisfeitas, algumas necessidades são mais impulsionadoras do que outras.
Atividade proposta:
Quem sou eu? O que devo fazer da minha vida? Estudo Psicologia ou Direito? Essas são perguntas comuns feitas por nós ao longo de nossa trajetória, e que ajudam a definir quem nós somos.
 
A aula de hoje ajudará a entender um pouco sobre as teorias que têm como foco o entendimento acerca da existência humana e de seu sentido.
As abordagens humanistas não se direcionam para as motivações básicas das pessoas doentes, mas sim em como as pessoas saudáveis buscam obter sua auto-realização. Com isso podemos entender que estas abordagens buscam auxiliar a pessoa na obtenção de sua auto-realização.
Nesta aula, você:
	Entendeu a proposta da abordagem humanista acerca da personalidade;
	Aprendeu sobre a hierarquia das necessidades propostas por Maslow;
	Entendeu a noção de autorrealização.
Aula 8: A abordagem humanista de Rogers
A abordagem humanista da personalidade
Conforme discutimos na aula passada, houve na década de 60 uma insatisfação com os modelos que vinham sendo usados pela Psicologia para o entendimento da personalidade e de outros fenômenos.
 
Dentre essas abordagens, temos a Psicanálise proposta por Freud e o Behaviorismo amplamente divulgado por Skinner, mas que teve início com as ideias
de Watson.
A Psicanálise era considerada por muitos uma abordagem negativista, por evidenciar as motivações básicas das pessoas doentes. Já as teorias da aprendizagem destacam o determinismo ambiental, ignorando muitas vezes as intenções dos sujeitos na emissão dos comportamentos.
Em virtude desse cenário, os psicólogos intitulados humanistas tomaram um rumo contrário quando buscaram investir seus estudos nas motivações básicas das pessoas saudáveis, trazendo a ideia de que as pessoas têm uma necessidade de autorrealização.
Dentro desta perspectiva, dois grandes teóricos se destacaram:
 
A. Maslow e sua teoria da hierarquia das necessidades, que discutimos na aula passada;
e Carl Rogers, com a ideia da terapia centrada na pessoa, que é o tema que no qual nos aprofundaremos nesta aula.
A perspectiva humanista 
A perspectiva humanista enfatiza o potencial inerente das pessoas para a autorrealização. Não é surpresa, então, que os terapeutas humanistas tenham como objetivo aumentar a autorrealização, ajudando as pessoas a crescerem em autoconsciência e autoaceitação (MYERS, 2006, p.481).
Os terapeutas humanistas, bem diferentes dos psicanalistas, colocam em evidência na terapia, segundo Myers (2006, p. 481):
1 - Mais o presente e o futuro, em vez do foco no passado, buscando explorar os sentimentos à medida que eles vão surgindo, no lugar de se concentrarem nas origens infantis dos sentimentos;
2 - Os pensamentos conscientes, e não os inconscientes;
3 - A tomada de responsabilidade imediata pelos sentimentos e comportamentos da pessoa, no lugar da descoberta de determinantes escondidos;
4 - A promoção do crescimento em vez da cura de doenças; em função disso, quem está em terapia são “clientes” e não “pacientes”.
Carl Rogers e a terapia centrada no cliente Segundo Davidoff (2001, p. 522):
A perspectiva humanista proposta por Carl Rogers foi intitulada de terapia centrada no cliente, mas podemos em alguns livros ou artigos encontrar a denominação de terapia centrada na pessoa.
 
Para Rogers, o terapeuta desta abordagem deve concentrar-se nas percepções que as pessoas têm acerca de si mesmas, em vez de salientar suas interpretações.
 
Para isso, o terapeuta deve ouvir, sem o julgamento e a interpretação do que está sendo falado pelo cliente.
Ele também não deve direcionar o cliente para uma possível interpretação que venha a fazer. Por isso essa abordagem é considerada uma terapia não diretiva, diferentemente das abordagens cognitivo-comportamentais.
 
Rogers partia do princípio de que as pessoas possuem os recursos necessários para o seu crescimento. Por isso, incentivou os terapeutas de sua abordagem que demonstrassem genuinidade, também podendo ser encontrado na literatura como autenticidade; aceitação; e empatia.
Significados das características 
Vejamos o significado de cada uma dessas características, que estão intimamente ligadas umas às outras e são consideradas extremamente importantes para quem deseja se tornar um terapeuta humanista:
Autenticidade ou genuinidade:
Favorece a empatia. Os terapeutas com autenticidade são capazes de mostrar, de maneira
honesta, natural e emocionalmente conectada, que entenderam verdadeiramente a situação de seu paciente;
Empatia:
capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando o terapeuta consegue ser empático, sentindo e refletindo os sentimentos de seus clientes, estes podem aprofundar sua autoaceitação e sua autocompreensão.
 ATENÇÂO
Rogers explicou essas ideias propostas por ele da seguinte maneira (1980, citado por MYERS, 2006, p. 481-482):
 
A escuta tem consequências. Quando eu realmente escuto uma pessoa e os significados que são importantes para ela naquele momento, escutando não apenas suas palavras, mas ela, e quando eu a deixo saber que escutei seus significados pessoais e secretos, muitas coisas acontecem.
 
Em primeiro lugar, há um olhar de gratidão. Ela se sente aliviada. Ela quer me contar mais sobre seu mundo. Ela deixa-se fluir com uma nova sensação de liberdade. Ela se torna mais aberta ao processo de mudança.
 
Eu já notei muitas vezes que, quanto maior a atenção com que escuto os significados da pessoa, mais as coisas acontecem. Quase sempre, quando a pessoa percebe que foi ouvida com atenção, seus olhos marejam.
 
Eu acho que na realidade ela está chorando de alegria. É como se ela estivesse dizendo: “Graças a Deus alguém me ouviu. Alguém sabe como é estar no meu lugar”.
A escuta ativa
Uma técnica utilizada por Rogers se chama escuta ativa, que diz respeito a fazer ecoar o que foi dito pelo cliente. É reformular e buscar esclarecer o que está sendo expresso pelo outro, seja de forma verbal ou não verbal, e reconhecer os sentimentos que estão sendo expressos.
 
Aquele que utiliza a escuta ativa deve escutar o outro atentamente, só interrompendo para reformular e confirmar os sentimentos de seu cliente, para aceitá-lo e buscar esclarecimentos.
Vamos ver como funciona a escuta ativa?
Segue um diálogo em que Rogers ilustra como funciona a escuta ativa (MEADOR; ROGERS, 1984, citado por MYERS, 2006, p. 482):
Eu não sou bom para ninguém, nunca fui e nunca serei.
É o que você está sentindo agora? Que você não é bom para você mesmo, e não é bom para mais ninguém. Nunca será bom para qualquer pessoa. Então você é completamente inútil, é isso? Esses sentimentos realmente são horríveis. Então você acha que não é bom para nada?
É (murmurando em voz baixa e desanimada). Foi isso que um cara com quem fui à cidade outro dia me disse.
Esse cara com quem você foi à cidade realmente lhe disse que você não era bom? É isso o que você está dizendo? Eu entendi bem?
Hum-hum.
Se entendi bem, existe alguém que significa algo para você – e o que ele pensa de você? Vejamos, ele lhe disse que acha que você não é bom para nada. E isso deixou você totalmente sem rumo. (O paciente chora silenciosamente.) Isso realmente faz chorar. (Silêncio de 20 segundos.)
(Um tanto desafiante.) Eu não ligo para isso.
Você diz a si mesmo que não liga, mas eu acho que alguma parte de você liga, porque alguma parte de você chora por isso.
Rogers também admitiu que não é possível ser totalmente não diretivo. Ele acredita que o mais importante é aceitar e entender o cliente, sem julgamentos e cheio de boa vontade de fornecer uma aceitação incondicional.
 
Isto pode levar as pessoas a internalizar essa aceitação positiva e incondicional por si mesmas e até a aceitar seus piores traços e se sentir valorizadas.
Sugestões para a escuta ativa
Para uma escuta ativa, Rogers faz três sugestões (MYERS, 2006, p. 482):
 
1 – Parafraseie: confira o entendimento do que ouve, resumindo, com suas palavras, o que a outra pessoa lhe diz;
 
2 – Convide ao esclarecimento: pergunte ao cliente: “O que poderia servir de exemplo?” Isso pode incentivar o cliente a falar mais;
 
3 – Reflita os sentimentos: Frases como “Isso parece frustrante” pode refletir o que você está sentindo em função da intensidade e da linguagem do seu cliente
O conceito de self na perspectiva de Rogers
Carl Rogers procurou, durante a maior parte da sua trajetória de vida, ajudar as pessoas com problemas. As ideias que compõem sua abordagem foram evoluindo de acordo com suas experiências.
O autoconceito ou self é desenvolvido desde a infância, já que as crianças observam os demais e se auto-observam; começam então a atribuir alguns traços a si próprias.
De acordo com Rogers, as pessoas buscam a todo instante manter as percepções de suas experiências, de modo a confirmar sua autoimagem. Elas ficam abertas às experiências que ao encontro de seu autoconceito e distorcem a realidade quando elas contradizem sua autoimagem
ATENÇÂO
Embora Rogers supusesse que a hereditariedade e o ambiente modelam a personalidade, ele focalizava os limites autoimpostos que geralmente podem ser ampliados.
 
Para promover o crescimento, outras pessoas importantes precisam aceitar totalmente os aspectos de um indivíduo e considerar positivamente a pessoa.
 
Em tais condições, os seres humanos começam a se aceitar, abrindo-se para mais experiências e movendo-se em direção à autorrealização
(DAVIDOFF, 2001, p. 523).
Atividade proposta:
Carl Rogers é muito conhecido na Psicologia, e os conceitos de sua teoria, muito divulgados.
 
Para Rogers, os terapeutas devem apresentar genuinidade, aceitação e empatia. Você, como estudante de Psicologia, sabe o que significa cada um desses conceitos? Consegue pensar em como apresentaria tais características como terapeuta?
 Reflita sobre essas ideias e conheça mais sobre este grande teórico dentro da perspectiva humanista.
Resposta:
..Autenticidade ou genuinidade: favorece a empatia. Os terapeutas com autenticidade são capazes de mostrar de maneira honesta, natural e emocionalmente conectada que entenderam verdadeiramente a situação de seu paciente. 
 
..Aceitação incondicional: Os terapeutas quando autênticos expressam seus verdadeiros sentimentos, não usam máscaras diante de seus clientes, permitem então que seus clientes se sintam aceitos incondicionalmente (aceitação incondicional). 
 
.. Empatia: a empatia é muito conhecida como sendo a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando o terapeuta consegue ser empático, sentindo e refletindo os sentimentos de seus clientes, estes podem aprofundar sua auto-aceitação e sua autocompreensão. 
Nesta aula, você:
	Entendeu a proposta da abordagem humanista acerca da personalidade;
	Aprendeu sobre a terapia centrada no cliente, suas principais características e conceitos;
	Aprendeu a noção de self de acordo com a perspectiva de Rogers.
Aula 9: Abordagem dos traços de Allport  
De acordo com Harré (2009, p. 167-168), Allport nasceu nos Estados Unidos no dia 11 de novembro de 1897, sendo o filho mais novo de quatro meninos.
 
Ele ingressou em Harvard em 1915, onde seu irmão mais velho tinha estudado Psicologia. Passou um ano em Istambul, na Turquia, onde tomou gosto pelo ensino. Allport voltou então para Harvard para estudar Psicologia e obteve seu Mestrado em 1921 e seu PhD em 1922, com seu estudo sobre traços de personalidade.
 
Com uma bolsa de estudos, estudou na Alemanha, onde se aproximou de W. Stern e F. Koffka. Em seguida, foi para Cambridge, na Inglaterra, com o intuito de trabalhar com F. Bartlett. Depois voltou para Harvard, para dar aulas de Ética Social de 1924 a 1926.
 
Em Harvard, Allport trabalhou pelo resto de sua vida. Foi lá que ele descobriu uma afinidade com Murray, que já havia começado a estudar como a Psicologia da Personalidade deveria ser desenvolvida.
Visão mais eclética da natureza humana
Durante os anos de 1922 e 1961, Allport deixou de se dedicar exclusivamente às ideias de traços para se voltar para uma visão mais eclética da natureza humana, enfatizando questões ambientais e a idiossincrasia dos indivíduos.
 
Com isso, houve uma mudança sobre o enfoque dos estudos da personalidade, que deixou de ser nomotético para uma atenção maior voltada para os métodos e concepções idiográficas, ou seja, para
a busca das características de cada pessoa como um indivíduo.
Ele dedicou toda sua vida com estudos para aperfeiçoar a concepção que ele tinha de o que era ser uma pessoa. Sua publicação mais importante sobre a Psicologia da Personalidade foi Pattern and growth in personality (1961).
 
Além desse livro, ele publicou Personality: a psychological interpretation (1937) e um livro sobre as raízes da Psicologia intitulado Becoming (1937).
 Contribuições de Allport 
Allport acreditava que o sujeito possuía algumas características psicológicas consideradas relativamente estáveis, apesar de reconhecer que as características de personalidade de um indivíduo dependem do ponto de vista do observador e varia de acordo com a situação.
 
Isto fica claro quando examinamos os pensamentos, emoções e comportamentos de pessoas que vivenciam a mesma situação, mas não reagem a ela da mesma forma.
DICA:
De acordo com Allport (1937, citado por Harré, 2009, p. 169) personalidade “é a organização dinâmica interior individual daqueles sistemas psicológicos que determinam as características de comportamento e pensamento da pessoa”.
Conceito de traços
Como já vimos, a principal contribuição de Allport para os estudos da personalidade foi o conceito de traços, que podemos entender como: “disposições permanentes de comportamento em determinadas reações ou formas. Traços diferentes são revelados em situações diferentes” (Harré, 2009, p. 169).
 
Nas palavras de Allport (1961, citado por Harré, 2009, p.169), traço é considerado como “uma estrutura neuropsicológica, com a capacidade de representar muitos estímulos com equivalentes funcionalidades e guiar formas (significativamente consistentes) equivalentes ao comportamento adaptativo e expressivo”.
Traços comuns e pessoais
Com essa definição, Allport estabeleceu disposições pessoais em atributos permanentes do ser humano. Continuando, o autor diferencia traços comuns e pessoais da seguinte forma (Harré, 2009, p. 170):
Traços comuns
“São aqueles aspectos da personalidade aos quais a maioria das pessoas, em uma dada cultura, pode ser comparada. Traços comuns são generalizados em uma população”.
 
“Os traços comuns são mais nominais e menos verídicos do que traços pessoais. Traços comuns são revelados pela análise de dados de uma população e são artefatos do método”.
Traços pessoais
“São aspectos da personalidade de um indivíduo e são generalizados nas situações em que a pessoa se encontra. Respostas semelhantes de um indivíduo (e de um animal também) a situações semelhantes são manifestações dos traços pessoais”.
 
“Traços pessoais são revelados no comportamento verdadeiro de uma pessoa real. Eles refletem a consistência de uma pessoa no que tange o seu comportamento em situações mais ou menos semelhantes”.
Dificuldades da origem dos traços
Dificuldades da origem dos traços
“Não existem evidências, no método estatístico, de que unidades fatoriais, que chegaram estatisticamente à situação como uma disposição de traços, correspondem à origem do traço de personalidade, isto é, às características dos seres humanos que poderiam explicar seu comportamento nessa ou naquela situação”.
“A própria denominação dos traços, com palavras que parecem psicologicamente pertinentes, é bastante arbitrária. Exemplos revelam uma mistura incoerente de diversos aspectos da personalidade (...). Correlações não estabelecem a existência de atributos semânticos comuns mais do que faz a causalidade comum”.
“No final, Allport confessa estar indiferente aos modelos que submetem a personalidade a elaborações matemáticas e estatísticas. Ele ressalta a necessidade de uma abordagem idiográfica: quanto mais buscamos o que é homogêneo na natureza humana, mais urgente se torna a consideração de uma unicidade na forma e no padrão do todo”.
De acordo com Harré (2009, p. 173), Cattell nasceu na Inglaterra, em 1903. Teve muito destaque na escola, o que lhe garantiu uma bolsa de estudos em Londres, onde estudou Química.
 
Cattell se interessou pela pesquisa científica com o objetivo de reforma social. Ele aceitou realizar um treinamento acadêmico formal em Psicologia após participar de algumas experiências práticas na escola progressiva de Dartington Hall. Obteve seu PhD em Psicologia na University College, em Londres, no ano de 1929.
 
O autor começou a lecionar antes do término do seu Doutorado na Exeter University, em 1926. Em 1932, dedicou-se ao aconselhamento infantil e, em 1937, deu início a uma longa carreira nos Estados Unidos, primeiramente como pesquisador na Columbia University e, em seguida, ingressou na Clark University, onde ficou até 1941.
As contribuições de Cattell
Em sua teoria, Cattell fez uma distinção entre três tipos de traços:
 
Habilidades;
Atributos de temperamento, que envolvem a maior parte de respostas específicas;
Traços dinâmicos, que envolvem os motivos.
Para ele, os traços dinâmicos tendem a reagir a situações e às pessoas, e vêm e vão de acordo com a modificação que elas fazem dos motivos 
(Harré, 2009, p. 174).
 
De acordo com ele, “um tipo psicológico não passa de uma coleção de traços relativamente permanentes. Ele insistia que a clareza só poderia ser obtida ao se prestar atenção aos detalhes, ou seja, aos traços, às características que são resumidas quando se expressam sobre os tipos” (Harré, 2009, p. 174).
Tipos X traços
A tipificação refere-se à classificação das pessoas em categorias de personalidade ou tipos de personalidade baseados em diversos traços relacionados. As abordagens de tipo diferem das abordagens de traços de duas maneiras (Davidoff, 2001, p. 525-526):
Traços
Os traços referem-se a pequenas “partes” da personalidade; os tipos respondem por toda a personalidade.
Tipificação
A tipificação supõe que traços específicos aglutinam-se, uma suposição sustentada pelas pesquisas. Conversar muito e ser ativo está associado a gostar de contato social, por exemplo.
Traços originais propostos por Cattell
Extrovertido;
Sério;
Tímido;
Apreensivo.
Atividade proposta:
Todas as pessoas possuem características que as diferem umas das outras. Algumas são tímidas, outras mais expansivas, umas mais agressivas outras submissas. Como podemos explicar essas diferenças?
Resposta:
Essas características são definidas por Allport como sendo traços. Para ele um traçosde personalidade é considerado como “uma estrutura neuropsicológica, com a capacidade de representar muitos estímulos com equivalentes funcionalidades e guiar formas (significativamente consistentes) equivalentes ao comportamento adaptativo e expressivo”. Essa definição de traço nos revela um pouco sobre o por que de nossas diferenças individuais.
Nesta aula, você:
	Conheceu a história de Allport e Cattell;
	Aprendeu a proposta de Cattell sobre a personalidade;
	Conheceu o grupo de traços propostos por ele.
Aula 10: Abordagem dos traços de Eysenck  
Hans Jürgen Eysenck (1916 – 1997)
Eysenck nasceu em Berlim, no dia 4 de março de 1916. Foi criado por seus avós desde os dois anos de idade, quando seus pais de separaram.
 
Pertencia a uma família judia e, como muitos alemães, deixou o país aos 18 anos, assim que Hitler assumiu o governo. Eysenck foi para Londres, local em que permaneceu por toda a sua vida.
 
Estudou na University of London, conseguindo seu PhD no ano de 1940. Durante o período da II Guerra Mundial, ele assumiu o cargo de psicólogo-chefe do Mill Hill Emergency Hospital, sendo esta sua primeira oportunidade para testar a confiabilidade dos diagnósticos psiquiátricos.
Melhor tratamento para os distúrbios mentais
Eysenck continuou interessado no que seria um melhor tratamento para os distúrbios mentais, mais ainda em função de uma atitude hostil com relação à prática da Psiquiatria clássica e à Psicanálise freudiana.
 
Após isto, publicou um influente e controverso ataque sobre a eficácia da cura pela fala, em 1973.
 
Depois, trabalhou por um breve período
pelo Maudesley Hospital e passou o restou de sua vida profissional no Institute of Psychiatry na University of London, quando aceitou um cargo em 1946.
 
Alguns anos depois, fundou o primeiro curso de Psicologia clínica em uma instituição britânica de ensino superior, local em que conduziu estudos estatísticos que lhes renderam material para uma ampla publicação de livros e artigos.
Controvérsia no tratamento dos distúrbios mentais
Ele era considerado um homem com uma mistura de amabilidade e dogmatismo. Tinha um modo relaxado que ocultava sua grande energia, que usava a serviço das teorias da personalidade e da inteligência.
 
Ele não temia controvérsias: suas publicações eram voltadas basicamente para demonstrar a ineficácia da psicoterapia, o que o levou a um debate público feroz.
 
Ele dizia ter mostrado que as pessoas que não se submeteram ao tratamento psicanalítico para distúrbios mentais se recuperavam da mesma maneira que aqueles que se submeteram.
Eysenck era ainda favorável a uma explicação neurológica e biológica dos atributos pessoais, que o levou a compartilhar da ideia de que a inteligência era basicamente hereditária.
 
Isso mais uma vez levou a uma grande controvérsia, já que essa ideia poderia facilmente resvalar para o racismo.
 
Apesar de todas as controvérsias, ele era muito tranquilo, pois acreditava em sua metodologia, na análise estatística de respostas aos questionários que propunha, complementadas por incursões na Neuropsicologia.
 
Eysenck se aposentou no ano de 1983, mas trabalhou até sua morte, que ocorreu em 4 de setembro de 1997.
Eysenck e as dimensões da personalidade
Segundo Harré (2009, p. 177-179), a personalidade está relacionada à neuropsicologia de cada indivíduo.
 
Sendo assim, para Eysenck, as diferenças de temperamento devem ser decorrentes de diferenças na neuropsicologia de cada ser humano, e que são inerentes à genética de cada indivíduo.
 
Apesar de a direção da causalidade ser a da neuropsicologia para a personalidade, a ordem desta descoberta se deu no sentido oposto.
 
Esses estudos exigiam uma metodologia de investigação dos traços de personalidade que pudessem buscar as dimensões mais fundamentais em que as pessoas se diferenciavam.
Analisando as características de personalidade
Em vez de fazer observações cuidadosas das manifestações humanas relacionadas às características de personalidade, Eysenck preferiu analisar o que as pessoas diziam sobre si próprias.
 
Com isso, as pessoas que participavam dos estudos de Eysenck respondiam a questionários dos mais variados tipos.
 
Esses questionários eram compostos essencialmente por listas de características de palavras que as pessoas normalmente usavam para se descrever em termos de personalidade, caráter e temperamento.
 
Cada sujeito se autoavaliava de acordo com o grau em que demonstrava cada atributo. Desta forma, a pessoa poderia se autoavaliar como “animada”, que é o termo relacionado ao apreciador de companhia, mas não tem correlação com “melancólico” ou com “pessoa autossuficiente”.
Neuroticismo e extroversão/introversão
De acordo com essa metodologia adotada, Eysenck chegou a duas principais dimensões: neuroticismo e extroversão/introversão.
A dimensão relacionada ao neuroticismo separa pessoas calmas e recolhidas em suas vidas das ansiosas e que, sob estresse, podem chegar até ao pânico.
 
De acordo com sua teoria, Eysenck procurava mostrar que as pessoas com elevado neuroticismo tinham maior propensão a desenvolver doenças nervosas.
Diferenças no funcionamento dos cérebros
Segundo as ideias de Eysenck e sua teoria geral, essas diferenças no comportamento das pessoas deveriam ter uma explicação no âmbito das diferenças do modo de funcionar de seus cérebros.
Segundo Harré (2009, p. 178):
 
O sistema nervoso simpático reage a situações imediatas com uma variedade de respostas que preparam o corpo para a ação.
 
As emoções típicas associadas à excitação do sistema nervoso simpático são o medo e a raiva.
 
Portanto, aquelas pessoas com elevado neuroticismo devem ter um sistema nervoso simpático mais responsivo do que aquelas do que aquelas que ficam calmas sob pressão.
 
Por sua vez, tal diferença deve ser atribuída às diferentes dotações genéticas. Do ponto de vista da filosofia e da ciência, essa abordagem fortemente realista não pode estar errada.
A dimensão extroversão/introversão
A dimensão extroversão/introversão é mais conhecida por nós por fazer parte do nosso modo cotidiano de definir as pessoas.
 
Comumente descrevemos as pessoas extrovertidas como animadas, seguras, com boa desenvoltura social,
enquanto que as pessoas introvertidas são consideradas tímidas, retraídas, autossuficientes, autocríticas.
 
Neste caso, Harré (2009, p. 178) afirma que, segundo Eysenck:
 
A explicação neurofisiológica obrigatória baseia-se no equilíbrio entre processos supostos de excitação e inibição.
 
Em um estado de excitação, uma pessoa está muito consciente do que acontece e, a menos que a atividade do cérebro seja inibida, provavelmente lembra-se de tais acontecimentos e, assim, tem material disponível para se torturar.
 
Manter-se afastado dos refletores é uma estratégia óbvia para o introvertido.
Psicoticismo
A terceira dimensão para Eysenck é o psicoticismo, que ele descobriu através da análise das respostas de seus questionários. Essa dimensão foi revelada quando Eysenck começou a unir as dimensões existentes aos problemas mentais.
 
Eysenck aponta que as pessoas com graus elevados de neuroticismo e introversão tendiam a desenvolver quadros fóbicos, e que as pessoas com graus elevados de psicoticismo tendem a ser solitárias, insensíveis, desinteressadas com relação aos outros e contra os costumes sociais aceitos.
 
Os métodos de Eysenck nada têm a nos oferecer sobre essas importantes questões. Além disso, são incapazes de esquematizar o curso da vida de alguém que é extrovertido com algumas pessoas e introvertido com outras.
 
Um indivíduo assim poderia ser um tipo de fantasia na visão de Eysenck, incorporando duas fisiologias diferentes, como um centauro, que é tanto homem como cavalo (Harré, 2009, p. 179).
Teoria dos Cinco Grandes Fatores
Para chegarmos às unidades básicas da personalidade, é necessário fazer uma pesquisa em que as pessoas avaliem a si mesmas e aos outros, a partir de um número vasto de características, denominadas traços. A partir dessas avaliações, faz-se uma análise fatorial que nos leva aos fatores.
 
Goldberg, em 1981, revisou algumas pesquisas nesta área e passou a defender a ideia de que “qualquer modelo para estruturar diferenças individuais deverá abranger – em algum nível – alguma coisa semelhante a essas ‘cinco grandes dimensões’” (Goldberg, citado por Pervin e John, 2004, p. 213).
 
A utilização da palavra “grande” se dá porque cada fator engloba uma variedade de traços específicos. As cinco dimensões foram lançadas para pegar os traços de personalidade que as pessoas consideram mais importantes em suas vidas.
Os cinco grandes fatores
De acordo com Pervin e John (2004, p. 213), compõem os cinco grandes fatores:
1 – Neuroticismo (N): Avalia o ajustamento x instabilidade emocional. Identifica indivíduos propensos a perturbações psicológicas, ideias irrealistas, necessidades ou ânsias excessivas e respostas mal adaptativas.
 
“Preocupado”, “nervoso”, “emotivo”, “inseguro”, “inadequado” e “hipocondríaco” são características dos indivíduos que apresentam um resultado elevado nesta dimensão.
 
Já “calmo”, “descontraído”, “não emotivo”, “forte”, “seguro”, “autossatisfeito” são as características daqueles com um resultado baixo.
2 – Extroversão (E): 
Avalia a quantidade e intensidade de interações interpessoais, nível de atividade, necessidade de estimulação e capacidade de alegrar-se.
 
“Sociável”, “ativo”, “falante”, “orientado para as pessoas”, “otimista”, “divertido” e “afetuoso” são características dos indivíduos que apresentam um resultado
elevado nesta dimensão.
 
“Reservado”, “sóbrio”, “contraído”, “indiferente”, “orientado para tarefas”, “desinteressado” e “quieto” são as características daqueles com um resultado baixo.
3 – Abertura (O): 
Avalia a atividade proativa e a apreciação da experiência por si só; tolerância e exploração do que não é familiar.
 
Características dos indivíduos que apresentam um resultado elevado: curioso, interesses amplos, criativo, original, imaginativo, não tradicional.
 
Características daqueles com um resultado baixo: convencional, sensato, interesses limitados, não artístico, não analítico.
4 – Amabillidade (A):Avalia a qualidade da orientação interpessoal do indivíduo ao longo de um contínuo de compaixão ao antagonismo em pensamentos, sentimentos e ações.
 
Características dos indivíduos que apresentam um resultado elevado: generoso, bondoso, confiante, prestativo, clemente, crédulo e honesto.
 
Características daqueles com um resultado baixo: cínico, rude, desconfiado, não cooperador, vingativo, inescrupuloso, irritável e manipulador.
5 – Consciência (C): Avalia o grau de organização, persistência e motivação do indivíduo no comportamento dirigido para os objetivos. Compara pessoas confiáveis e obstinadas com aquelas que são apáticas e descuidadas.
 
Características dos indivíduos que apresentam um resultado elevado: organizado, confiável, trabalhador, autodisciplinado, pontual, escrupuloso, asseado, ambicioso e perseverante.
 
Características daqueles com um resultado baixo: sem objetivos, não confiável, preguiçoso, descuidado, negligente, relaxado, fraco e hedonístico.
ATENÇÂO
Em resumo, a ideia da Teoria dos Cinco Grandes Fatores é formar um retrato completo do indivíduo e proporcionar sua aplicação em diferentes áreas, tais como orientação vocacional e diagnóstico.
 
Vale lembrar que se trata de um modelo recente e em construção que, diferentemente de outras teorias da personalidade, busca descrever as várias formas de psicopatologia, no lugar de explicar os transtornos.
 
Este modelo não se propõe a oferecer uma abordagem terapêutica, como em outras teorias estudadas por nós.
Atividade proposta:
As dimensões da personalidade propostas por Eysenck levavam em conta a autoavaliação que as pessoas faziam, através de questionários com listas de palavras que definiam seu caráter, personalidade e temperamento.
 
De acordo com essas ideias, imagine que você marcou no questionário de Eysenck “apreciador de companhia”. A que outro atributo de personalidade poderíamos relacioná-lo?
Resposta:Poderíamos relacionar este atributo de personalidade como “animado”.

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