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LILIA FIGUEREDO - MANU

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CÓDIGO DE MANU
 Lília Lima Martins de Figueiredo[1: Acadêmica do 1º período do curso de Direito da UNIRV- Universidade de Rio Verde.]
Estefânia Naiara da Silva Lino [2: Orientadora Professora Ms. Estefânia Naiara da Silva Lino.]
RESUMO
O presente trabalho busca através de pesquisa bibliográfica realizar um breve estudo sobre o Código de Manu, apresentando também uma síntese de como era dividida e estruturada a sociedade. Redigido de forma imaginosa e poética, o Código de Manu se apresenta em forma de versos, segundo os indianos, o código foi inventado por um santo eremita chamado Valmiki, por volta do ano 1300 e 800 a.C. e criado com o intuito de nortear a convivência social. 
PALAVRAS-CHAVE: Código de Manu, Casta, Sociedade.
1 INTRODUÇÃO
O Código de Manu é parte de uma coletânea de livros bramânicos atados em quatro livros de doutrinas: o Mahabharata, o Ramayana, os Puranas, e as leis de Manu. O Código de Manu estabelece o sistema de casta para os hindus, e constitui na legislação do mundo indiano. Uma série de valores como verdade, justiça e respeito é apresentado no código, porém a validade dos testemunhos não era a mesma para todas as castas. Existem estudos que indicam que o código era inicialmente composto por mais de cem mil dísdicos, ou grupos de dois versos, porém através de manipulações em diferentes épocas, foi reduzido para facilitar a compreensão integral do texto. Atualmente as edições constam 2685 dísdicos distribuídos em 12 livros.
2 CÓDIGO DE MANU
2.1 Histórico
O código de Manu é o livro sagrado da Índia considerado para os Indus, o mais importante, e é dividido em Leis civis, Moral e Religião. A data de promulgação do Código de Manu, não é certa, sendo datada por alguns estudiosos por volta de 1300 e 800 antes de Cristo, e Manu é visto como oriundo de Brahma, e o mais antigo legislador no mundo. O código de Hamurabi é mais antigo que o de Manu em pelo menos 1000 anos, porém, não é um verdadeiro código, e sim uma coletânea de normas que abrange diversos preceitos e assuntos (ARAÚJO e PINTO, 2011, p17). 
Conta a lenda que Sarasvati, primeira mulher que existiu, foi criada por Brahma, de sua própria substância, e após ser desposada nasceu Manu, pai da humanidade.
Ainda hoje, mesmo com influências de outros povos e civilizações, as regiões onde o hinduísmo permanece, a sociedade Hindu é dividida em castas e não sofreu alterações em sua estrutura. Para os Hindus, não é natural encarar a igualdade entre as pessoas, e progredir socialmente não é visto como algo que todos mereçam. A crença de que cada cidadão deva viver no nível em que nasceu, no caso de membros de castas menos privilegiadas, é um demérito de vidas passadas, e no caso de membros de castas mais privilegiadas, mérito também oriundos de vidas anteriores, para que alguns possam alcançar o paraíso após a morte (CASTRO, 2010, p.44).
Para Castro (2010, p 44-46), o sistema de castas era imutável em vida, durante toda existência, ao nascer, a casta que o indivíduo permanecerá por toda a vida é definida, irá se casar com alguém dessa casta, ter filhos apenas dessa casta e ali também irá morrer. 
As castas eram quatro, os demais que não pertenciam a nenhuma delas, eram considerados “resto”: 
Brâmanes: Casta mais pura e superior, possuíam funções como médicos, administradores, e outras como líderes espirituais, e os demais lhes deviam obediência, o que é notado no seguinte artigo:
Art. 733º - Instruído ou ignorante, um Brâmane é uma divindade poderosa, do mesmo que o fogo consagrado ou não consagrado é uma poderosa divindade. 
Ksatryas: Inferiores aos Brâmanes, essa era a Casta dos guerreiros, os reis normalmente, saíam desta casta; 
Varsyas: inferiores aos Ksatryas, Casta dos comerciantes; 
Sudras: Casta inferior, responsável pela mão-de-obra da Índia, são os pedreiros, agricultores, empregados em geral, obrigados a trabalhar para as outras castas. 
No Art º410 pode-se constatar que essa última casta deve servir as demais castas superiores:
Art. 410º - Mas, que ele obrigue um Sudra, comprado ou não, a cumprir as funções servis; porque ele foi criado para o serviço de Brâmane pelo ser existente por si mesmo.
E ainda no Art- 411º, pode-se notar a inferioridade de um Sudra em relação às demais castas:
Art. 411º Um Sudra, ainda que liberto por seu senhor, não é livre do estado de servidão; porque este estado, lhe sendo natural, quem poderia dele isentá-lo?
Os demais, que não pertenciam a nenhuma casta, ou “resto” era chamado Chandalasou pátrias, e não eram considerados nem gentes, eram considerados como mais impuros, e responsáveis por tarefas extremamente impuras para ser executada por um membro de qualquer casta, por mais baixa que fosse. Trabalhavam como limpadores de fossa, sapateiros, e outros como curtidores, funções que lidavam com restos e dejetos humanos ou de animais.
A religião para os Hindus era o Vedismo, que vem de Veda, cujo significado é “a soma de todo conhecimento”. Apoiava-se na crença da reencarnação, na qual reencarnar em posição social boa ou ruim, dependia de ser bom ou ruim na vida presente. (CASTRO, 2010, P.46). 
No Art 751º do Código de Manu, está bem claro no que diz respeito à crença de ser bom ou ruim na vida presente, e suas possíveis consequências para a próxima encarnação:
Art. 751º - Um Sudra, puro de espírito e de corpo, submetido às vontades das classes superiores, doce em sua linguagem, isento de arrogância e se ligando principalmente aos Brâmanes, obtém um nascimento mais elevado.
2.2 Principais pontos do Código de Manu
Mulheres: a situação da mulher nesse código, é de subordinação, o que está bem claro no Art 420º:
Art. 420º-Uma mulher está sob a guarda de seu pai, durante a infância, sob a guarda de seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais se conduzir à sua vontade. 
Divórcio: a separação só poderia ocorrer se a deficiência fosse oriunda da esposa, somente o marido poderia decidir a separação. 
Art. 494º - Durante um ano inteiro, que o marido suporta a aversão de sua mulher, mas, depois de um ano, se ela continua a odiá-lo, que lhe tome o que ela possui em particular, lhe dê somente o que subsistir e vestir-se, e deixe de habitar com ela. 
Testemunhas: Uma testemunha não pode, ficar calada, pois o silêncio de uma testemunha é equivalente ao falso testemunho. 
Art. 13º É preciso ou não vir ao Tribunal ou falar segundo a verdade: o homem que nada diz, ou profere uma mentira, é igualmente culpado. 
Casamento: Nessa sociedade, a maioria das crianças já nasciam prometidas em casamento, e no caso da mulher, casavam-se ainda muito crianças, segundo o Código de Manu: 
Art. 505º É a um mancebo distinto, de exterior agradável e da mesma classe, que um pai deve dar sua filha em casamento, segundo a lei, embora ela não tenha chegado ainda à idade de oito anos em que a devam casar. 
Defloração: A defloração no Código de Manu era punida severamente, e ocorria sem o uso do órgão sexual: 
Art. 364º O homem que, por orgulho, macula violentamente uma rapariga pelo contato de seu dedo, terá dois dedos cortados imediatamente, e merece, além disso, uma multa de seiscentos panas. 
Juros: O Código de Manu legisla também sobre a questão dos juros, e é presente a diferença das possibilidades de cobrança para as diferentes castas. O art 140º mostra como poder ser cobrado os juros segundo o código:
Art. 140º- Que ele receba dois por cento de juro, por mês (porém nunca mais) de um Brâmane, três de um Ksatriya, quatro de um Vaisya e cinco de um Sudra, segundo a ordem direta das classes. 
Ofensas Físicas: No que se rata das ofensas físicas, segue o princípio muito forte da lei de talião, ferindo o culpado da mesma maneira que feriu, e até mesmo mutilando-o órgão usado para ferir o outro, independentemente do tipo de ofensa que causou. 
Art. 277º- Se ele levantou a mão ou um bastão sobre o superior,deve ter a mão cortada; se em um movimento de cólera lhe deu um pontapé, que seu pé seja cortado. 
Art. 280º Se ele o pega pelos cabelos, pelos pés, pela barba, pelo pescoço, ou pelos testículos, que o rei lhe faça cortar as duas mãos sem hesitar.
O código de Manu, trata de diversos outros assuntos como a questão da herança, dente outros, artigos de igual importância aos demais, tendo em vista que para os hinduísta, não se trata apenas de um código a ser seguido, mas também uma questão religiosa (CASTRO, 2010).
2.3 Finalidade do Código de Manu
O Código de Manu objetiva estabelecer o bom e o mau, o que é permitido fazer ou não, de que modo pode-se obter uma vida tranquila, seguindo as normas estabelecidas tanto moral quanto social de acordo com o código (CASTRO, 2010).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Código de Manu foi promulgado em torno do ano 1300 a C, e suas leis são tidas como uma organização geral política e religiosa daquela civilização. O continente asiático possui em torno de 75% de sua população seguidores do Hinduísmo, e sendo a principal religião da Índia, o hinduísmo divide a sociedade em castas, mantendo distintas crenças como o ciclo eterno de nascimento, morte e renascimento do ser humano, e todo ser humano, cumpridor de uma vida voltada para o bem, se liberta desse ciclo. 
No Código, não se vê uma ideia consignada de vingança, e em todos os artigos está presente a sistematização das leis religiosas e sociais do Hiduísmo, que até hoje influencia a vida social e religiosa na Índia.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Edvaldo Lopes de. PINTO, Tainá de Araújo. Súmulas de Aulas. História do Direito. Disponível em: http://www.univercidade.br/cursos/graduacao/direito/pdf/ sumulas de aulas/SUMULAS_DE_HISTORIA_WEB.pdf. Acesso em: 13/05/2015. 
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito. Geral e Brasil. 8 ed. Rio de Janeiro: LumenJuris, 2010.
CÓDIGO DE HAMURABI. CÓDIGO DE MANU. LEI DAS XII TÁBUAS. Supervisão editorial: Jair Lot Vieira. Bauru e São Paulo: Edipro, 1994.

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