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Larissa Rezende da Hora
O processo de criação publicitária é o fazer publicitário. Atuar nesta área exige a responsabilidade de impactar as pessoas, pois a maior exigência nesta área é a resposta rápida, soluções criativas e originais. Segundo WAITMER (2006) a criação é responsável por desenvolver formas diferentes e sedutoras de resolver problemas, preocupando-se mais com a qualidade da ideia do que com a sua visibilidade. O foco não é fazer anúncio e sim a força e relevância da sua ideia.
A preocupação com uma influência excessiva da publicidade no comportamento infantil permitiu a criação de diversos códigos de ética e projetos de lei no Brasil, bem como de organismos governamentais ou não governamentais voltados a proteger esse público (BRAGAGLIA; CABRAL; SEABRA, 2010), limitando o responsável por criação de expandir suas ideias e persuadir o público infantil, gerando assim a necessidade de compreender o pensamento da sociedade e encontrar novas maneiras de desenvolver o convencimento sem que a publicidade seja acusada de precursora do consumismo infantil. 
Inúmeras empresas com marcas bem conhecida pelos seus slogans como a Hotwheels, Amoeba e Baby Alive, desenvolveram métodos criativos para que tenham um bom retorno e aceitação mediante as diversas leis, usando a movimentação do brinquedo, jogada de cores, musicas e frases indiretas como maior aliado com objetivo de despertam o desejo da criança e mostrar aos pais que o filho será mais feliz se ele comprar aquele brinquedo.
A interferência da publicidade na vida das crianças é um assunto que preocupa e que exige um envolvimento de toda a sociedade, segundo a ABAP (2013), para que essa relação seja mantida em um nível saudável. O Brasil está em uma posição avançada nesta discussão quando comparado a outros países, por possuir um conjunto de leis e instituições que vêm se mostrando eficientes para limitar abusos.
Diante das leis e a busca por uma nova maneira de persuadir os pequenos consumidores, no ano de 2016, empresas com grande popularidade no Brasil, como C&A (roupas), Cartoon Network (canal a cabo infantil), Foroni (material escolar), Long Jump e Mattel (brinquedos), Ri Happy (loja de brinquedos), SBT (canal de TV), Sestini (mochilas) e Tilibra (papaleria), recorreram ao novo meio de publicidade: O Youtube.
O Youtube é uma plataforma de compartilhamento de vídeos, que revela diversos talentos, exibe novidades e é uma fonte de aprendizado, mediante a um universo de possibilidades visuais, ali presente, encontram-se lá também os youtubers mirins, que são crianças que tem grande repercussão nesta mídia social e que contagiam outras crianças seguidoras e expectadoras do canal. As empresas, observando as burocracias nas emissoras de TV, de acordo com dados do Interactive Advertising Bureau Brasil, investiram, em 2014, 811 milhões de reais para poder anunciar na plataforma do Youtube (MENDONÇA; 2015),
 recorreram às crianças para que fizessem vídeos empolgados diante de uma caixa de presente, sem ser aniversário, dia das crianças ou natal e sim mostrando presentes enviados por fabricantes de brinquedos, roupas, mochilas e outros produtos, que desperta na criança do outro lado da tela, seja do computador ou celular, a querer ter a mesma sensação que aquele youtuber.
Outro exemplo é a empresa Vigor, ao fazer uma parceria com a Disney, patrocinando a série Star Wars Rebels que foi exibida na televisão e desenvolveu uma ação mercadológica em múltiplas plataformas para as crianças. Os produtos da linha Vigor Grego Kids passaram a ser vendidos junto com cartas colecionáveis das personagens da série e funcionavam como chave de entrada para um jogo que poderia ser baixado no celular ou tablete, na qual a estratégia atraiu as crianças sob a ilusão de que ao consumir os produtos é possível adquirir a ação e aventura presentes no jogo e na animação.
O sistema misto de regulação que pune abusos segundo a Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e Código do Consumidor regem a questão, além do Código de Autorregulamentação Publicitária do Conar. Segundo a Folha de São Paulo (2017), é permitido fazer publicidade direcionada a crianças desde que respeitando os limites impostos por esse arcabouço regulatório. Com isso muitas empresas aproveitam e abusam das brechas e acabam sujando seus nomes e prejudicando a imagem da marca pela falta de estratégias.
Segundo o filósofo canadense Marshall McLuhan (2007), os meios de comunicação são extensões do homem e não só um canal para transmitir mensagens, mas sim uma parte fundamental do processo de comunicação, sabendo disso pode-se associar ao processo de publicidade infantil, é necessário algum meio, porém leis impedem a mensagem ser transmitida da forma que um publicitário deseja, no entanto a busca de outros meios e formas criativas inovadoras poderá engajar a nova era publicitária, a fim de exprimir e dialogar com o público alvo.
Buscar novas formas de atingir o público infantil na publicidade requer análise e compreensão das leis, buscar os impactos causados no público consumidor, os pais das crianças, os limites implantados para proteção dos tais, mas o que é de suma importância é a busca de retomar a confiança destes pais, cativando, mostrando a preocupação da empresa com o psicológico, a saúde e o desempenho escolar das crianças, pois é um ponto que de certa forma é crucial para o consumo e para a boa imagem da empresa.
Segundo Neves (p.64, 1998) :
 “Imagem de uma entidade (...) é o resultado do balanço entre as percepções positivas e negativas que esta organização passa para um determinado público. (...) Mas, se na vida geral a boa imagem ajuda muito”. 
A boa imagem de uma empresa que produz produtos infantis necessita da responsabilidade do publicitário junto com sua equipe para evitar transtornos ou qualquer processo em cima da empresa, a fim de manter uma boa imagem e uma fidelidade com os consumidores do público infantil, que de fato são bastante exigentes.
A publicidade permite a criança obter um contato com realidades da vida. A realidade dos desejos, por exemplo. O mundo, dentro e fora de casa, é um lugar de muita demanda, de muitos bens concorrentes que buscam a atenção, gosto, tempo e verba do consumidor. Consumir não é feio. É parte necessária da vida. A publicidade nos indica e permite que todos tenham alternativas existentes e suscita de desejo. 
Aprender a lidar com a publicidade, e com a real distância entre o prometido e o entregue, são parte da vida. É aprender que a bala Halls não refresca como prometido, ou que os produtos da Apple não transformam as pessoas em alguém descolado e super criativo, segundo Toscani (2009) a publicidade interrompe os filmes na televisão, invade o rádio, as revistas, as praias, os esportes, as roupas, acha-se impressa até nas solas dos nossos sapatos, ocupa todo o nosso universo, todo o planeta, segundo ele é impossível esboçar um passo, ligar o rádio, abrir uma correspondência, ler o jornal, sem dar de cara com a mamãe publicidade. Ela está por toda a parte. É o irmãozinho, sempre sorridente.
Definir o conceito de publicidade para a Economia é a arte de criar demanda. Ao contrário, para a Psicologia, é a ação de modelar atitudes ou as opiniões do público utilizando os meios de comunicação social. Em meio a tantas definições a publicidade de fato busca introduzir um pensamento e torna-lo homogêneo, a fim de lucrar e alcançar o maior público de diversas faixas etárias.
A proibição da publicidade infantil há de fato uma ansiedade e vaidade de pais e mães. Ansiedade porque queremos o melhor para os filhos, e vivem sob o medo irreal de que um detalhe além do ideal terá impacto na vida futura deles. Outro fator são que pais optam por terem filhos mais tarde e em menor quantidade e tudo deve ser absolutamente perfeito. Fazendo com que essa mesma ansiedade que exige perfeição deixe o pai incapaz de dizer um "não" ao pedido do filho, preferindo assim terceirizar a responsabilidade impossível que atribuiu a si mesmo, as indústrias alimentícias,de brinquedo, roupas e etc.
Há muitas discussões sobre o poder da publicidade na vida das pessoas. Segundo KOTLER (1992) Os mais críticos afirmam que a publicidade interfere no cotidiano dos indivíduos muito mais além do que se imagina; que a investigação científica das razões do inconsciente tem dado a possibilidade às agências de publicidade de ajustar os processos e decisões de compra do consumidor. Os menos críticos dizem que o número das mensagens publicitárias para as quais é realmente reservada certa dose de atenção é pequeno. Afirmam ainda que dentre tantas interferências no comportamento do consumidor, a publicidade é apenas mais uma, e, provavelmente, muito menos importante do que as observações de pessoas e de grupos de influência.
Na infância real, da época dos avós de muitos, no modo geral, o que importava mesmo era a diversão, brincadeiras, competir com os amigos e imitar coisas do mundo adulto etc. Porém a criança vive hoje numa bolha isolada da realidade, que proíbe propaganda, guloseimas, impondo padrões adultos de produtividade e uso do tempo, não tolerando o choro porque ele indica que não há perfeição, afastando as crianças de todo e qualquer risco. Segregando-as por idade, limitamos o tempo de brincadeira livre pelo fato da ilusória ideia que uma campanha publicitária infantil pode afetar o intelectual de uma criança.
REFERÊNCIAS:
ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). No mundo da publicidade infantil: Pais e mães de 50 países falam sobre a propaganda na vida de seus filhos. São Paulo – SP, 2013.
BARBA MARIANA. BBC Brasil. São Paulo, 2016. Empresas são denunciadas por publicidade infantil no YouTube. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2016/06/empresas-sao-denunciadas-por-publicidade-infantil-no-youtube.html>. Acesso em: 31 outubro 2018.
CABRAL, Adilson; BRAGAGLIA, Ana Paula; SEABRA, Ingrid. A publicidade infantil no Brasil e suas implicações ético-legais: estudo empírico em campanhas voltadas ao Dia da Criança. Rio de Janeiro – RJ: Universidade Federal Fluminense - UFF, 2010.
COHN, Gabriel. “O meio é a mensagem: análise de McLuhan”. In: Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, TA-Queiroz, 1987. Pág. 363-371. 
CRIANÇA E CONSUMO. Empresas insistem em direcionar publicidade às crianças. Abril. 2015. Disponível em: <http://criancaeconsumo.org.br/noticias/empresas-insistem-em-publicidades-abusivas-direcionadas-as-criancas/>. Acesso em: 31 outubro 2018.
KOTLER, Philip. Marketing. Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1992
NEVES, Roberto de Castro. Imagem Empresarial: como as organizações (e as pessoas) podem proteger e tirar partido do seu maior patrimônio. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2007
MENDONÇA, Heloísa. “Agora é o ‘boom’ dos ‘Youtubers”. El País, São Paulo, 5 Jun. 2015. Disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/04/politica/1433444934_909992.html>. Acesso em: 06 Jun. 2015.
TOSCANI, Oliveiro. A publicidade é um cadáver que nos sorri. 6. ed. Rio de Janeiro: Edirouro, 2009, p.22.
WAITEMER, Flavio. Manual prático de criação publicitária. São Paulo – SP: Nobel, 2006. 20,24,67 p.
FOLHA DE SÃO PAULOA. Benefícios de proibição de publicidade infantil superam perdas em R$ 77 bi. Agosto. 2017. Disponível em: 
< https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/08/1912929-beneficios-de-proibicao-de-publicidade-infantil-superam-perdas-em-r-77-mi.shtml>. Acesso em: 22 Novembro 2018.

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