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A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos (parte 1) Um protestante publicou um texto em seu blog, dividido em duas partes, intitulado “A virgindade perpétua de Maria e a evidência histórica”. Ele analisa vários escritos, autores antigos e Padres da Igreja e tenta fundamentar-se, principalmente, em Juniper B. Carol, a que julga um especialista sobre o tema, e em J.N.D Kelly, estudioso protestante. Em contrapartida, nosso presente estudo pretende analisar exaustivamente o pensamento dos Pais da Igreja e também dos escritores antigos, eclesiásticos ou não, sobre a virgindade perpétua de Nossa Senhora. No decorrer do estudo apontaremos os erros ou conclusões precipitadas que o blogueiro protestante tomou ao escrever o sobredito artigo. Antes de tudo, por questão de ordem, é importante frisar que o blogueiro não estava utilizando palavras do Pe. Juniper B. Carol, mas na verdade do Pe. Philip J. Donnelly. A Obra “Mariologia” foi escrita por uma Comissão internacional de especialistas sob a presidência do Pe. J. B. Carol, mas deste último só há um estudo na Obra, intitulado “Corredenção de Nossa Senhora”. Essa Comissão foi, de fato, composta de autores especialistas no assunto em questão. Não se trata apenas de estudiosos católicos ou protestantes que estudaram e escreveram sobre a Patrística em geral, mas de católicos que se dedicaram fixamente sobre diversos temas da mariologia e escreveram muitos livros sobre o tema. Por isso, a sua referência (Mariologia, Madrid, BAC, 1964) é preciosa para o nosso presente tema. O estudo será divido em três partes, basicamente. Primeiramente (parte 1) irei deter-me nos ensinamento dos Pais da Igreja e dos escritores antigos sobre a virgindade no parto de Maria. Nesta parte irei analisar o uso que o blogueiro faz do Pe. Philip (que ele imagina ser o Pe. Carol) e apontar se o uso que ele fez do teólogo foi correto. Também irei refutar ou solucionar as citações por ele propostas. Na próxima parte do estudo (parte 2), da mesma forma que fiz na primeira parte, vou tratar dos ensinamentos dos Pais da Igreja sobre a virgindade pós-parto. Por fim, através dos estudos dos especialistas, tiraremos nossas conclusões (parte 3). 1. A VIRGINDADE DE MARIA NO PARTO 1.1. Segundo e terceiro séculos Proto-Evangelho de Tiago: “Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ¨Onde vais?¨ Respondi: ¨Procuro por uma parteira hebréia¨. Ela disse: ¨Sois de Israel?¨ Respondi: ¨Sim¨. Então ela disse: ¨Quem está dando à luz na caverna?¨ Disse-lhe: ¨Minha esposa¨. Ela replicou: ¨Mas não é tua mulher?¨ Respondi-lhe: ¨É Maria: aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada por mulher, mas não o é, e agora concebe por obra do Espírito Santo¨. Disse a parteira: ¨Isso é verdade?¨ José respondeu: ¨Vinde e vede¨. Então a parteira foi com ele. Chegando à caverna, pararam, pois estava coberta por uma nuvem luminosa. Disse a parteira: ¨Minha alma foi agraciada pois meus olhos viram coisas incríveis e a salvação para Israel nasceu!¨ Então a nuvem saiu da caverna e de dentro brilhou uma forte luz, de forma que nossos olhos não conseguiam ficar abertos. E [a luz] começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de sua mãe, Maria. E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi com os meus olhos um novo milagre¨. E, saindo da gruta, veio ao seu encontro Salomé. Disse a parteira: ¨Salomé, Salomé! Preciso contar-lhe uma maravilha jamais vista: uma virgem deu à luz. Como sabes, isso é impossível para a natureza humana¨. Respondeu-lhe Salomé: ¨Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei enquanto não puder tocar os meus dedos em sua natureza para examinar-lhe¨. Então a parteira entrou [na caverna] e disse a Maria: ¨Prepara-te porque existe uma dúvida sobre ti entre nós¨. E Salomé pôs seu dedo na natureza [de Maria] e soltou um grande grito: ¨Ai de mim! Minha malícia e incredulidade são culpadas! Eis que minha mão foi carbonizada e desprendeu-se do meu corpo por tentar ao Deus vivo!¨ E, se ajoelhando diante de Deus, pediu: ¨Ó Deus de nossos pais: recorda-te de mim, pois sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não me tornes exemplo para os filhos de Israel! Cura-me para que possa continuar a me dedicar aos pobres, pois bem sabes, Senhor, que curava em teu Nome e recebia diretamente de Ti o meu salário¨. Então um anjo do céu apareceu-lhe e disse: ¨Salomé, Salomé! Deus te ouviu! Toque o menino e terás alegria e prazer¨. E Salomé se aproximou e pegou o menino. E disse: ¨Adoro-te porque nasceste para ser o Grandioso Rei de Israel¨. Sentiu-se, então, curada e pode sair em paz da caverna. E ouviu-se uma voz que dizia: ¨Salomé, Salomé! Não digas a ninguém as maravilhas que presenciaste até que o menino vá para Jerusalém.” (Proto- evangelho de Tiago 19-20) Os autores José Antonio de Aldama em seu livro “María en la Patristica de los siglos I y II” e De Strucker afirmam que essa obra é do século II, escrita por um cristão[1]. O autor em seu blog admite que o Proto-Evangelho favorece a virgindade de Nossa Senhora no parto, no entanto, faz pouco caso dessa citação pela sua pouca confiabilidade histórica. Concordamos que os apócrifos, no geral, possuem conteúdo fantasioso e que seus valores não são históricos sobre os acontecimentos que relatam. Contudo, para conhecer diversos pontos de doutrina no pensamento dos cristãos primitivos este proto-evangelho é válido e útil. O Pe. Alfred C. Rush explica-nos sua importância em muitas passagens do seu estudo “Maria nos Evangelhos Apócrifos” na obra “Mariologia” de Carol Juniper. Falando dos apócrifos estudados em geral diz: “Estes trabalhos, têm em geral, muito pouco interesse histórico e não se pode tomar como testemunhos fiéis dos acontecimentos. Contudo, possuem grande valor em outros aspectos. De imediato nos oferece um meio de penetração na mentalidade dos tempos que os viram nascer; mostram-nos tendências e costumes junto às crenças dos primitivos tempos do cristianismo; daqui que sejam de capital importância para o teólogo e para o que se dedica à história do dogma. São também de grande valor para o estudo da mariologia” (p. 154). “Terceiro, a sublime mariologia contida nestes livros é um testemunho maravilhoso do bom fundamento da devoção dos fiéis a Maria. Este nos conduz a considerar a grande importância destes relatores para os teólogos e os historiadores do dogma, por seu valor como testemunhas de uma Tradição, e finalmente devemos ter em conta que, com muita freqüência, existe um paralelismo entre o desenvolvimento e a explicação de uma doutrina nos ensinamentos dos apócrifos e na pregação patrística” (p. 182) Especialmente sobre o Proto-Evangelho de Tiago: “Este livro nos demonstra o lugar que ocupava a devoção a Maria na piedade popular nestes primeiros momentos”. (p. 157) Falando mais especificamente do assunto que nos interessa, diz: “Sem embargo, no século II se ataca a virgindade de Maria, dizendo que Jesus inventou a história de seu nascimento virginal e que era em realidade filho de pecado. Para refutar essa teoria, o autor do Proto-Evangelho defende ardentemente a virgindade perpétua de Maria. (E. AMANN, Le Protoévangile de Jacques 10-15)” (p.159). O Pe. Philip J. Donnely (que o autor do blog confunde com Carol) sobre o Proto-Evangelho comenta: “Sem embargo, deve ter sido doutrina corrente a da virgindade perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso temos em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele atribui a São Pedro e no qualos chamados irmãos do Senhor, que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de Isaías e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a apresentar o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há razões, portanto, para afirmar que se cria na virgindade perpétua de Maria desde o século II” (p. 655-656). Ademais, é bom assinalar que o Proto-Evangelho tem uma forma literária ímpar entre os apócrifos por sua simplicidade e discrição. Sobre isso, comenta Hubertus R. Drobner, em seu Manual de Patrologia : “Com relação à forma literária, trata-se de uma coletânea de lendas de caráter pessoal, que todavia são construídas de modo totalmente discreto e não podem ser comparadas com a obsessão por milagres de outros apócrifos. Estas lendas se apóiam em modelos do AT (nascimento de Samuel e Sansão) e utilizam as histórias canônicas da infância de Mt e Lc” (Hubertus R. Drobner - Manual de Patrologia, 2003, p. 33). O autor do blog acredita que o Proto-Evangelho não sugere que Maria fez um voto de virgindade ou que sua virgindade fora consagrada, mas pelo contrário, diz que o Porto-Evangelho insinuaria que não fez. Usa o seguinte verso que supostamente validaria sua posição: “Porém, um anjo do Senhor apareceu à sua frente e disse: ¨Não temas, ó Maria! Alcançaste graça diante do Senhor Todo- Poderoso e conceberás por Sua graça¨. Ela, ao ouvi-lo, ficou admirada e disse consigo mesma: ¨Conceberei por graça do Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?” (Proto- evangelho de Tiago - 11, 2). O que tem que ver o simples fato do Proto-Evangelho relatar que Maria fez a pergunta se conceberá como as demais mulheres, com uma prova contra a consagração de Virgindade? Se Maria encontrava-se em consagração da virgindade, esse questionamento, pelo contrário, seria bastante natural. Qual razão de Maria pensar de imediato que o poder de Deus a cobriria com sua Sombra no Evangelho de Lucas 1, 35? No próprio Evangelho não lemos que Ela pergunta “como se fará isso se não conheço varão”? A pergunta faz sentido se supõe a consagração, na verdade. Ora, de modo ordinário as mulheres concebem através do sexo com um varão, e Maria segundo o próprio Evangelho, foi recebida por São José em seu teto, portanto, ela imaginaria que seria com S. José se não tivesse consagrado sua virgindade a Deus. O próprio escritor protestante Bodie Hodge do site que o protestante do blog em questão utiliza (sem o citar como fonte), diz que “o conceito da virgindade perpétua de Maria está convenientemente explanado no Protoevangelio de Tiago...”[2]. O Proto-Evangelho, na verdade, diz que Maria foi consagrada a Deus por sua Mãe (e não que fez um voto livremente): “Glória a Deus! O que de mim nascer, menino ou menina, o apresentarei como oferenda ao Senhor meu Deus e estará dedicado a seu serviço todos os dias” (4, 1) Alred C. Rush sobre a passagem acima comenta: “Desta maneira Maria foi prometida para o serviço de Deus com virgindade perpétua. Sem embargo, neste relato se considera a Maria quase como um puro agente físico na obra da redenção e o autor sublinha a pureza de Maria, mas uma pureza que poderíamos chamar legal ou exterior sem fazer referência ao exercício de sua vontade” (Ibid., p. 159). E pouco antes sublinhava: “Ao apresentar a Maria como consagrada a Deus e excluída do contrato matrimonial, o autor do Proto-Evangelho se encontra com o problema das relações entre José e Maria. Por uma parte não tem mais remédio que admitir que entre eles o laço conjugal, porque está escrito no Novo Testamento; por outra parte deve defender a virgindade de Maria. Por esta razão suas expressões, ao descrever as relações entre os esposos, resultam um tanto obscuras e vacilantes. Sublinha a virgindade de Maria ante partum, e para isso se apóia no fato de que Maria foi entregue a José para sua proteção, o qual, por causa de sua idade, poderia guardá-la intacta” (pp. 159-160) O blogueiro protestante lança várias acusações sobre supostas contradições entre o Proto-Evangelho e os Evangelho bíblicos que retirou de um site americano, novamente sem mencionar a fonte, para reponder a essas acusações utilizaremos o teólogo ortodoxo Laurent Cleenewerck na obra “Aiparthenos | Ever- Virgin? Understanding the Orthodox Catholic Doctrine of the Perpetual Virginity of Mary, the Mother of Jesus, and the Identity of James... and Sisters of the Lord”. 1ª Suposta Contradição Proto-Evangelho de Tiago Evangelhos canônicos Gabriel é descrito como um arcanjo (Cap. 12) Gabriel nunca é descrito como um arcanjo, mas sim Miguel (Judas 1:9) Aqui não há nenhuma contradição, além do fato da Epístola de Judas não ser um Evangelho, o fato de Gabriel ser mencionado como Arcanjo no proto-evangelho de Tiago, não significa que está em contradição com as Escrituras, uma vez que esta é uma afirmação adicional, e não contraria qualquer relato dos Evangelhos. Apenas acrescenta uma informação a mais do que os evangelhos, isto é, que Gabriel é arcanjo. Também Apocalipse 8, 2, baseado no livro de Tobias, relata que existem 7 anjos que assistem diante do Senhor esses anjos são considerados pela maioria dos Teólogos, os Arcanjos entre quais Gabriel poderia estar naturalmente inserido. Assim o autor ortodoxo Laurent Cleenewerck, responde: “Ponto 1 é um lembrete que para ter uma erudição competente leva tempo (e um decente conhecimento do Grego). Na verdade Gabriel Provavelmente não é chamado de “arcanjo” neste texto, como alguns dos melhores manuscritos indicam[para uma comparação de leituras dos melhores manuscritos ver http://www.sd- editions.com/AnaServer?protevangel+0+start.anv (verso referente 12, 6)]. Mesmo se ete fosse o caso, a ideia que certos anjos (sete) estão mais perto do trono de Deus e podem ser chamados de “anjos chefes” [Comparar Lucas 1, 19; Apocalipse 8, 2] não é certamente uma contradição com o Status de exaltação de Miguel como um Arcanjo encarregado do povo de Deus, como é descrito como “um dos príncipes chefes” (Daniel 10, 13)”. 2ª Suposta Contradição A resposta de Maria ao anjo é diferente: “Conceberei por graça do Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?¨ (9:12) Lucas 1:34 afirma: Perguntou Maria ao anjo: "Como acontecerá isso, se sou virgem? " Há de se notar primeiramente que com essa acusação o protestante parece querer que o Proto-Evangelho fosse uma cópia do Evangelho de Lucas. Para o autor do proto-evangelho relatar tudo igual aos evangelhos, teria que ter lido os evangelhos e estar pretendendo reproduzir o mesmo relato, ou ser inspirado por Deus para tal, e ainda assim mesmo os Evangelhos Inspirados por Deus, em diversos relatos contam coisas diferentes sobre o mesmo tema ou acontecimento, logo o proto- evangelho naturalmente relatou o mesmo acontecimento de forma um pouco diferente, isso de modo algum é questão para invalidar qualquer relato deste Proto-Evangelho. Laurent Cleenewerck assim responde: “Ponto 2, parece querer que cada diálogo isolado fosse recordado com acuracidade jornalistica e absoluta consistência entre todas as testemunhas. Mas isto não verdade nem mesmo para as Escrituras Canônicas em primeiro Lucas, a resposta para a anunciação não é nem extravagante nem muito diferente do que o que é encontrado em Lucas. Este critério não pode ser aplicado nem mesmo para os próprios Evangelhos canônicos, e portanto não pode ser imposto aqui.” 3ª Suposta Contradição Isabel fugiude Belém com seu filho João (Batista) para as montanhas por causa da ira de Herodes quando decidiu matar todos os meninos. (Cap. 22:3). Lucas 1:80 afirma: “E o menino crescia e se fortalecia no espírito; e viveu no deserto, até aparecer publicamente a Israel.” Qual a contradição aqui? Um deserto não pode ter montanhas? É fato altamente conhecido que João Batista era da seita dos Essênios que viviam no deserto onde existem diversas montanhas, inclusive os manuscritos do mar morto que eram pertencentes desta seita dos Essênios, foram encontrados nas montanhas em Qurãm. Logo novamente a menção as montanhas é uma informação complementar e não contraditória. “Ponto 3, é uma acusação esperada que o proto-evangelho adiciona os temas centrais de ‘João Batista’ ao relato. Na verdade ele conta que não só Jesus mas também João Batista (nascido 6 meses antes) foi ameaçado pelo desejo de Herodes de matar qualquer garoto recém nascido com alguma aspiração ao trono. Se nos pegarmos o relato de Mateus como historicamente válido (que é raramente aceito por especialistas hoje do ponto de vista da dificuldade de harmonizar Mateus e Lucas), parece claro que os soldados de Herodes estariam atrás de qualquer garoto comum, o que o Evangelho de João parece ter conhecido. O proto Evangelho, não contradiz aqui o Novo Testamente, mas faz melhor e expande sobre os eventos que circundaram a ida para o deserto.” 4ª Suposta Contradição Jesus nasceu numa caverna fora da cidade de Belém (Cap. 18:1) Jesus nasceu em Belém, a cidade de Davi, de acordo com Lucas 2:4 e Mateus 2:1 A crença de Jesus ter nascido em uma caverna é altamente difundida em vários Escritores Primitivos. São Justino, por exemplo, diz em seu Diálogo Contra Trifão: "Ele, juntamente com Maria, recebe a ordem de partir para o Egito e permanecer aí com o menino, até que novamente lhe seja revelado que podem voltar para a Judéia. Antes, porém, quando o menino nasceu em Belém, como José não encontrasse onde alojar-se nessa aldeia, retirou-se para uma gruta próxima. Então, estando aí os dois, Maria deu à luz a Cristo e o colocou num presépio, onde os magos da Arábia o encontraram ao chegar. Já vos citei as palavras com que Isaías profetizou sobre o símbolo da gruta.” (Diálogo Com Trifão – Capítulo 78) Orígenes também afirma o mesmo: “Mas, para se convencer de que Jesus nasceu em Belém, se alguém, depois da profecia de Miqueias e depois da história registrada nos evangelhos pelos discípulos de Jesus, desejar mais provas, mostra-se, é bom saber, de acordo com a história evangélica de seu nascimento,em Belém, a gruta em que ele nasceu, e, na gruta, a manjedoura em que foi envolvido em panos.” (Orígenis Contra Celso Livro I, Capítulo 51) O fato do proto-evangelho falar “José foi para Belém buscar uma parteira”, não quer dizer que era necessariamente fora de Belém, mas sim ao seu derredor que continua sendo a cidade de Belém, não necessariamente no centro da cidade. Por exemplo, Gênesis relata que o enterro de Raquel foi fora do centro de Belém, e ainda assim diz que foi em Belém: “Quando eu voltava de Padã, tua mãe Raquel morreu em caminho, perto de mim, na terra de Canaã, a alguma distância de Efrata; foi ali que a enterrei, no caminho de Efrata, hoje Belém” (Genesis 48, 7). Logo quando o Evangelho de Mateus, menciona que Jesus nasceu em Belém não contradiz necessariamente o proto- evangelho, pois não quer dizer que foi no meio de Belém entre as casas, mas poderia ser facilmente ao seu derredor que continua sendo Belém, isso é fácil de notar, quando o próprio Evangelho de Lucas menciona que eles estavam no campo próximo aos pastores: "Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.” (Lucas 2, 8) Logo o que indica é que Jesus nasceu próximo ao campo, e não necessariamente entre as casas da cidade. Sobre isso, Laurent Cleenewerck assim responde: “O ponto 4 é de particular interesse: o proto-evangelho ensina como problema de fato casual, que Jesus nasceu emu ma caverna, o que o Novo Testamento não indica. Contudo, o fato de Jesus ter nascido em uma cavern á uma crença bem difundida. Justino mártir tomou por garantido (como de alguma forma anunciado em profecias) que Jesus nasceu em uma caverna, e Orígenes menciona a discussão em Belém sobre o Local Exato. O Antigo Testamento não diz que Jesus teria que nascer dentro do limite das cidades (um conceito moderno). Uma alusão pode ser encontrada no fato que os patriarcas (e suas famílias) eram enterrados em cavernas: “E para mim, quando eu vim o Padan, Raquel morreu por mim na Terra de Canaã no caminho quando eu ainda estava somente há uma pequena distância do Eufrates: E eu enterrei-a no Caminho para o Eufrates; O mesmo é Belém.” (Genesis 48, 7). Seria providencia se a caverna que Raquel foi enterrada fosse a caverna do nascimento de Jesus, portanto sua tristeza foi retirada pela alegria do nascimento do Salvador [de acordo com Edersheim no livro The Life and times of Jesus the Missiah, livro 2, capitulo 6: “Este Midgal Edar não era um torre de vigia para os rebanhos ordinários que pastavam nas terras de carneiros estéreis além de Belém, mas em terras próximas a cidade, na rota para Jesualém. A passagem do Mishná (Shekelinm 7, 4) indica que os rebanhos que pastavam eram destinados para o sacrifício do templo]”. 5ª Suposta Contradição O anjo do Senhor, quando fala a José em sonho diz-lhe para receber Maria, mas não menciona tê-la como esposa. O sacerdote castiga Jose e o acusa de tomar Maria como esposa secretamente. Jose a leva para sua casa, mas está relutante em chamá-la de sua Mateus 1:19 revela que Jose já era o marido de Maria (eles já estavam noivos) antes de o anjo visita-lo em sonho. Mateus 1:24 aponta que depois que o anjo visitou José, ele a manteve como esposa. esposa quando eles vão a Belém (Capítulos Caps. 13- 16). Sobre isto Laurent Cleenewerck fala: “Ponto 5 releva uma comum falta de entendimento de 2 passos no processo de noivado e Casamento. Nós já discutimos Mateus 1, 24 longamente: José toma Maria como sua esposa, ainda sem intenção (como é claro a partir de seu subsequente comportamento) de consumar a união (pelo menos até depois do nascimento). Até este tempo, Maria é legalmente Esposa de José, e ainda, é significante que Lucas 2, 5 ainda chama-a de ‘sua noiva’. Por esta razão, José é lembrado como ‘esposo’ e Maria como ‘noiva’. 6ª Suposta Contradição Maria envolveu Jesus em panos e o escondeu numa manjedoura na pousada para salvá-lo do massacre de Herodes. (Cap. 22) Maria e José foram avisados da trama de Herodes por um anjo e então fugiram para o Egito (Mateus 2:13-14). Novamente não há nenhuma contradição aqui, o fato deles terem colocados eles em uma manjedoura em uma pousada, não contradiz o fato de terem ido para o Egito posteriormente. Este relato do proto-evangelho é apenas um detalhe de várias coisas que aconteceram. "O ponto 6 não é mais difícil de harmonizar do que muitos textos dentro das Sagradas Escrituras. O Capítulo 22 não está preocupado a respeito de Jesus e Maria do que com o destino de João. A ida ao Egito não é mencionado de nenhuma forma, nós temos que assumir a partir do Evangelho de Mateus”. 7ª Suposta Contradição Os sábios foram a Belém perguntar onde tinha nascido orei dos judeus. (Cap. 21) Os sábios chegaram a Jerusalém e perguntaram onde tinha nascido o rei dos judeus. (Mateus 2:1) Sobre isto Laurent Cleenewerck responde: “O ponto 7 é causado por uma leitura apressada do texto em Inglês do Proto-Evangelho 21, 1-2: (1) Agora, José estava prestes a partir para a Judeia quando há uma grande comoção em Belém da Judéia. (2) Pois os astrólogos tinham chegado, dizendo: “Onde está aquele que é o rei dos judeus nascidos? Pois nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá- lo”. O texto na verdade não afirmam que os magos chegaram a Belém, mas sim, no contexto, na Judéia. Ascensão de Isaías: “E ele ficou com ela dois meses. E depois de dois meses, José estava em sua casa, com Maria; estavam sozinhos. E eis que, quando estavam sozinhos, Maria olhava e via uma criança pequenininha, e ela ficou atônita. E após este assombro de Maria, ela se encontrou exatamente como antes de sua gravidez” (11, 6- 9). “E os rumores sobre esta criança se espalhavam em Belém e Judá. Uns diziam que a Virgem Maria havia dado à luz depois de dois meses... Muitos outros asseguravam que ela não havia dado à luz, que ela não havia chamado uma parteira, e que não se ouviram os gritos do parto. E a inteligência de todos se apagara a respeito desta criança; sabia-se que ela havia nascido, não se sabia como ela havia nascido” (11, 12-14). O autor do blog admite que esse livro apócrifo afirma a virgindade no parto de Maria, mas acrescenta que ele tem uma “clara influência gnóstica”. A isto respondemos com o Pe. Philip J. Donnelly que, no mesmo trabalho já mencionado, sobre a Ascensão de Isaías, Proto-Evangelho de Tiago e do Evangelho de Ezequiel comenta: “estes se compuseram, provavelmente, pelo povo simples pertencente à Igreja, não pelas seitas tidas de heresia – como alguns afirmaram” (p. 656). A Ascensão de Isaías é um apócrifo do Antigo Testamento que foi escrito compilado por algum Cristão entre os século I e II. Charles e Tisserant dizem que foi escrito no final do primeiro século[3]. Odes de Salomão “O seio da Virgem (o) recebeu e recebeu a concepção e deu a luz; e a Virgem ficou feita mãe com grande misericórdia; e pariu e deu a luz um filho sem dor; e não ocorreu isto sem finalidade; e não havia necessitado de parteira, porque Ele a livrou, e ela deu a luz, como homem, por sua própria vontade...” (19, 6- 10) Os Odes de Salomão é uma composição de 42 canções ou poemas escritos provavelmente no ano 120 d.C segundo Walter J. Burghardt[4]. Oráculos das sibilas: “Primeiramente, então, Gabriel mostrou a sua forte e pura forma; e carregando as suas próprias notícias, ele então dirigiu- se à donzela com a sua voz: “ó virgem, no teu seio imaculado Receba teu Deus”. Assim falando, ele soprou a Graça de Deus sobre a doce donzela; que imediatamente ficou surpresa e maravilhada quando ouviu, E ela estava tremendo; e sua mente estava agitada com vibração de excitação, enquanto no coração Ela tremia pelas coisas inesperadas que ela ouviu. Mas ela novamente ficou muito contente e seu coração foi aclamado pela voz, e a moça riu e seu rosto ficou vermelho com um sentimento de alegria, E fascinado estava o seu coração com sentimento de vergonha. E confiança veio a ela. E a Palavra veio para o ventre, e no decorrer do tempo. Tendo-se tornado carne e dotado de vida veio a forma humana e veio a ser um menino distinguido por seu nascimento virginal. Pois isso foi uma grande surpresa para a humanidade, mas não era uma grande maravilha a Deus.” (Os Oráculos das Sibilas - Livro 8, 470) Oráculos das Sibilas é o nome dado a algumas coleções de supostas profecias, que emanam das sibilas ou videntes de inspiração divina, que foram amplamente divulgadas na antiguidade. Essas sibilas eram amplamente difundidas entre os padres da Igreja, pois profetizaram a vida de Cristo. São Justino, Atenágoras, Teófilo, Clemente de Alexandria, Lactâncio, Agostinho e outros cristãos primitivos estavam bem familiarizados com estas obras, tanto é que alguns livros destas profecias foram adicionados por Cristão, por exemplo, o livro VIII que fala sobre a Virgindade de Maria. A Enciclopédia Católica data o livro VIII como escrito no século III[5]. Santo Inácio de Antioquia (35 – 107): “Permaneceu oculta ao príncipe deste mundo a virgindade de Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor: três mistérios de grande alcance que se processaram no silêncio de Deus. Como então foram eles manifestados aos séculos?” (aos Efésios 9, 19) Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele são conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martírio, por volta do ano 107. O Pe. De Aldama, em “Maria na Patrística dos séculos I e II”, BAC, sobre essa passagem comenta, contrariando a opinião de Koch: “Então, se Santo Inácio reconhecia que o parto havia sido normal, como não utilizou esse argumento, nem aqui nem em outra parte, contra seus adversários docetas, de igual modo que insistiu em que verdadeiramente foi gerado por Maria, e comeu, e bebeu e foi crucificado e morreu? Ademais, essa razão (N.do.T: Kosh argumentava que um escritor antidoceta não tinha razão para se referir a um parto virginal) valeria igualmente para a virgindade da concepção. Esta, como o parto virginal, viriam bem em uma interpretação doceta da encarnação. Se, então, apesar de seu empenho antidoceta, o bispo de Antioquia assinalou não só a concepção, mas também o parto de Maria como dois mistérios, é sem dúvida porque este último tinha, igual que aquela, umas características que o colocavam fora do normal e ordinário. O caráter misterioso do parto, como da concepção, se estende a sua origem: levaram-se a cabo na serena tranqüilidade das obras divinas e pertencem ao plano soteriológico de Deus. São dois fatos extraordinários”. (p. 198) Nas páginas seguintes diz: “O caráter de misterioso envolve necessariamente um prodigioso de ordem sensível, mas exige algo pelo que se sai do ordinário e normal. Pois, de não ser assim, seria facilmente compreensível sem necessidade de uma especial revelação de Deus. Ademais, esse traço extraordinário do parto é distinto da concepção virginal que lhe precede. Não será precisamente seu caráter virginal também, como parto verificado deixando intacta a integridade corporal da mãe? É óbvio, embora não se admita a explicação do Pe. Orbe” (p. 201). Outros especialistas modernos que creram que Santo Inácio de Antioquia defendia a virgindade de Maria no parto: Orbe, J. Galot, D. Fernández, R. H. Charles[6], Roschini[7]. E o modernista Koch nega que Santo Inácio o defendia. Santo Irineu de Lião (130 — 202): “E também, em torno de seu nascimento, o mesmo profeta diz em outra parte: Antes que dê a luz a que estava em parto e antes que cheguem as dores do parto, deu a luz um menino (Is 66,7). Assim deu a conhece o inesperado e extraordinário de seu nascimento da Virgem” (Demonstração da pregação apostólica, 54). Santo Irineu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu tratado "Contra as Heresias", onde combate as heresias de seu tempo, em especial as dos gnósticos. O Pe. Walter J. Burghardt em seu estudo “Maria na patrística oriental” da Obra Mariologia já citada sobre essa passagem comenta: “Por outra parte, existe uma alusão iniludível a esta prerrogativa em sua Demonstração da pregação apostólica, que escreveuaté o ano 190. Irineu toma o texto de Isaías 66,7, no qual o profeta predisse uma reprovação assombrosa de Jerusalém por meio da mãe Sião, e o interpreta como alusivo à Virgem Maria, que deu a luz um filho varão por maneira maravilhosa: sem dores de parto. Também, referindo-se a seu nascimento, diz em outro lugar o mesmo profeta (Isaías): “Antes de que a que estava de parto parisse e antes de que as dores do parto se apresentassem saiu a luz um filho varão”; assim proclamou seu inesperado e extraordinário nascimento de uma virgem” (IRINEO, Demonstratio apostolicae praedicationis c. 54, em Patrologia Orientalis 12, 701). Se sua linguagem não é transparente e seu pensamento não é demasiado claro, talvez seja simplesmente porque Irineu não teve nunca ocasião de enfrentar-se com este tema teológico tão delicado e cheio de matizes” (p. 503). Tendo essa passagem em vista, o teólogo protestante, J. N. D. Kelly, faz a seguinte afirmação: “Estas idéias estiveram distante de ser imediatamente aceitas na Igreja em geral. Irineu, isto é verdade, considerou que o parto de Maria foi isento de dor física, como Clemente de Alexandria (apelando ao Proto-Evangelho de Tiago)”. (Early Christian Doctrines, p. 493) Outros especialistas que crêem que Santo Irineu defendia firmemente ou insinuava a virgindade no parto: D. Unger, A. De De Aldama, H. A. Genevois, D. Férnandez, E. Dublanchy, F. Vernet[8], Questen[9]. O Pe. Philip J. Donnelly, no estudo já citado, defende a opinião de que não há nos escritos de Santo Irineu uma prova cabal da virgindade de Maria no parto, embora não exista nada nela que ensine o contrário: “Então, levou a Santo Irineu sua maravilhosa penetração na doutrina da concepção virginal a tomar alguma posição definitiva em relação à virgindade de Nossa Senhora? Por desgraça, não foi assim; ao menos não poderia se provar pelos escritos autênticos que – em sua maioria traduzidos – chegaram até nós; nada nessas passagens traduzidas nos permite afirmar que Irineu sustentava a permanência da virgindade de Maria depois da anunciação, no nascimento de Cristo e depois deste até ao final de sua vida terrena. Alguns críticos creram-se autorizados a afirmar que Irineu defendeu a virgindade perpétua de Maria, mas não tem nenhuma prova decisiva para isso; por outra parte, devemos confessar que tampouco existem provas decisivas que demonstrem o contrário” (p. 655). Mas há especialistas que disseram que Santo Irineu nega expressamente o caráter virginal do parto de Maria: F. J. Turmel, L Coulange, H. Koch[10]. São Clemente de Alexandria: “Muitos mesmo em nossos dias pensam que Maria é uma mulher que sofreu dores no parto no nascimento de seu filho. Na realidade não sofreu dores de parto. Porque alguns dizem que, depois que pariu a seu Filho, uma parteira a examinou e a encontrou virgem. Assim são para nós as Escrituras do Senhor: dão à luz a verdade e permanecem virgens porque os mistérios da verdade permanecem ocultos. "Deus a luz e não deu a luz" (Is 7,14; Jb 21,10; cita não literal; cf. Atos de Pedro, 24), diz a Escritura, como concebeu de si mesma, e não ajudada pela união de um acompanhante (lit.: acoplamiento).” (Stromata 7,16). Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela Síria e Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequética de Alexandria, no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali até o ano 202, quando a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadócia, onde faleceu pouco antes do ano 215. Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, de obras de literatura pagã. Clemente considerava o Cristianismo como a realização mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade dispersos na filosofia. Sobre essa passagem o autor do blog comenta: “ele afirma que essa opinião é negada por muitos de seu tempo. Destaca-se que ele se referia a cristãos. Na verdade, a virgindade no parto era uma crença presente entre os hereges docetistas”. E grifa em negrito o seguinte trecho do Pe. Philip para aparentemente confirmar esta posição: “Ele afirmava que não foi acreditado por um grande número, que desejavam manter que o nascimento de Cristo em relação à Sua mãe era perfeitamente normal e natural (...)”. O blogueiro é meio vago nas duas primeiras frases. Dá impressão que quer dizer que a opinião da virgindade no parto é negada por muitos na Igreja primitiva no geral e que só os hereges docetistas criam nisso. De qualquer forma, essa ambigüidade pode levar a muitos o pensamento de que o padre citado por ele, como referência, acreditava que Clemente de Alexandria estava apontando que muitos em toda a Igreja negavam a virgindade de Maria. Não é o caso. O Pe. Philip explica: “Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente de Alexandria, que tinha opiniões muito definidas sobre a virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século II” (p. 659). “Em contraste entre a atitude categórica de Clemente e as subseqüentes vacilações de Orígenes demonstra (e o que colabora assim Clemente) que os católicos de Egito criam que a questão da virgindade in partu era questão discutível e que não havia ainda sido resolvida definitivamente”. (p. 660) Como se vê o padre apenas diz que as passagens de Clemente de Alexandria (e Orígenes) apontam uma séria discussão no Egito e que muitos nessa região discordavam da opinião de Clemente de Alexandria. Não é possível usar o Pe. Philip como defensor da idéia de que muitos cristãos no mundo inteiro negavam a virgindade no parto e que só ou principalmente hereges docetistas acreditavam nisso. O Pe. Walter J. Burghardt em “Maria na patrística oriental” confirma isso: “Clemente é seco, mas instrutivo. Informa-nos que, até fins do século II, a virgindade de Maria em Belém era motivo de controvérsia no Egito, onde um bom número, e não a maioria dos cristãos, a negavam”(p. 503). E em nota de uma frase do mesmo parágrafo diz: “E. NEUBERT, Marie dans l’Eglise anténicéenne (Paris 1908) p.177 1778, pensa que leva a confusão sustentar que, de acordo com Clemente, a maioria dos cristãos negavam a crença. A dúvida não chegou as massas. Para eles, Maria era uma virgem e havia concebido a Deus. Como reconciliar estas afirmações não era preocupação sua, esta é também a atitude dos fiéis em geral hoje em dia”. Tertuliano: “Deu a luz porque produziu um descendente de sua própria carne; não o deu, porque o fez sem intervenção de varão. Foi virgem em relação ao marido, não o foi em relação ao parto... A que deu a luz o fez verdadeiramente, e se foi virgem quando concebeu, no parto foi esposa... O seio da Virgem se abriu de um modo especial, porque havia sido selado especialmente. De fato se deveria chamá-la não tanto “uma virgem” como “a virgem” que se fez mãe sem transição, como se disséssemos, antes de ser esposa”(De Carne Christi, 23). Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 195, se converteuao Cristianismo e chegou a se tornar em um notável escritor eclesiástico. Infelizmente, por aderiu abertamente à heresia de Montano. Normalmente se interpreta essa passagem como uma negação da virgindade de Maria no parto por parte de Tertuliano. No entanto, o grande teólogo Francisco Suárez (1548-1617), com sua razoabilidade que lhe é peculiar, pensava diferente: “Pois, embora Tertuliano seja obscuro; no entanto, a partir de seu livro De Carne Christi (De Carne Christi, 20), é suficientemente claro que ele era ortodoxo sobre a questão do nascimento virgem. Sugiro, no entanto, que antes de tudo não devemos usar essa maneira de falar, sem explicação adequada e clara, uma vez que é metafórica e facilmente capaz de criar uma falsa impressão. Portanto, a referida lei deve ser dada não uma literal, mas uma interpretação mística. Pois adequadamente a frase “o filho abriu o útero”, refere-se a todo útero que é parcialmente aberto no momento da concepção, não- obstante, no primeiro nascimento a ruptura do hímen é, como se fosse completado e terminado. Assim, a lei sobre todo o primeiro-nascido foi entender-se não só aos homens, mas também para os animais.” (The Dignity and Virginity of the Mother of God, Disputations I, V, VI from The Mysteries of the Life of Christ, translated by Richard J. O’Brian, S. J., 1954) Seja como for, mesmo que Tertuliano negue a virgindade de Maria no parto devemos prestar atenção a essa explicação do Pe. Walter J. Burghadt, S. I, em Maria na patrística ocidental sobre a passagem no De Carne Christi: “Tertuliano é claro, mas desagradável. Não pede apoio a tradição ou a uma opinião comum, e, por outra parte, tampouco é consciente de estar contradizendo o ensinamento oficial da Igreja. Existiu alguma tradição na África sobre a virgindade de Maria anterior ao Concílio de Nicéia? Trata-se somente de um afã polêmico, de uma questão de amor próprio por parte de Tertuliano? Não encontramos nada que aclare a questão nem em Cipriano nem em Arbonio, nem em Lactancio. Uma coisa podemos afirmar, a que não é justificável sacar a conclusão, partindo de Tertuliano, de que esta opinião é um eco do pensamento teológico corrente então na Igreja africana (Cf. J. JOUASSARD, Marie à travers la patristique: Maternité divine, virginité, sainteté, em Maria. Études sur la Vierge, Ed. H. DU MANOIR, vol. 1 (Paris 1949) p. 77-78. Todo este artigo (p. 69-157) está cheio de informação e é rico em considerações: cf. a bibliografia anotada nas p. 154-157)”. (p. 123) O Pe. Philip J. Donnelly no trabalho já citado explica: “Tertuliano, em sua honradez, nunca pretende que sua doutrina seja tradicional nem apela a nenhuma autoridade dogmática; por outra parte, não manifesta a mais ligeira consciência de que suas negações da virgindade perpétua de Nossa Senhora contradigam alguma tradição que seja conhecida para ele. Daqui que não podemos evitar inquirir se existia tal tradição na África de Tertuliano. (...) Nada há, por outra parte, que nos autoriza a crer que as opiniões de Tertuliano representem os sentimentos da Igreja africana de seus dias; é perfeitamente possível e talvez provável que o temperamento fogoso de Tertuliano lhe fizesse aferrar-se a certas atitudes singulares neste como em outros pontos. É igualmente possível, até onde podemos julgar por escritos contemporâneos a nosso alcance, que expusesse ele livremente suas crenças sem que nem remotamente temesse causar escândalo, e ainda sem que na realidade o causasse – ao menos não há prova do contrário-. A Igreja africana parece haver sido reservada em extremo em suas declarações oficiais em relação à Santíssima Virgem” (p. 657). O autor do blog tratando de Tertuliano explica que este era contra a virgindade perpétua de Maria por entender que a virgindade ou continência não eram superiores ao matrimônio. Esta não é a visão de Tertuliano, como podemos ler: “Pois nós [montanistas] não rejeitamos o casamento, mas simplesmente abstemos-nos dele. Nem nós prescrevemos a santidade como a regra, mas apenas recomendamos observá- lo como um bem, sim, o melhor estado, se cada homem usa-o cuidadosamente de acordo com a sua capacidade; mas ao mesmo tempo justificando sinceramente o casamento, sempre que os ataques hostis são feitos contra ele, é uma coisa contaminada, para depreciação do Criador. Pois Ele deu a Sua bênção sobre o matrimônio também, como um estado honroso, para o aumento da raça humana; como Ele fez, na verdade em toda a Sua criação, para o uso saudável e bom.” (Contra Marcião I.XXIX) “Concupiscência, no entanto, não é atribuída ao casamento, mesmo entre os gentios, mas aos pecados extravagantes, não naturais, e enormes. A lei da natureza se opõe ao luxo, bem como a grosseria e impureza; que não proíbe a relação sexual conjugal, mas a concupiscência; e cuida do nosso vaso pelo estado honroso do matrimônio. Esta passagem (do apóstolo) gostaria de tratar de forma a manter a superioridade da outra e maior santidade, preferindo a continência e a virgindade do que o casamento, mas não significa que proíbimos o último. Pois minha hostilidade é dirigida contra aqueles que querem destruir o Deus do casamento, não aqueles que seguem a castidade.” (Contra Marcião V.XV) Portanto, parece falso querer atribuir a Tertuliano a visão de que a virgindade ou continência não eram superiores ao matrimônio. Autores costumam assinalar esta obra (207-208) ao período semi-montanista (207 – 212) de Tertuliano. Mesmo em relação ao tratado Ad uxorem, onde Tertuliano chega a valorizar relativamente o matrimônio, Luis M. de Cadiz comenta: “No tratado Ad uxorem [À esposa] expõe Tertuliano suas idéias acerca do matrimônio cristão e as segundas núpcias. O matrimônio é por sua natureza inferior ao estado de virgindade; as segundas núpcias são quase ilícitas. Pelo que aconselha a sua mulher que, se ele chegar a morrer, fique viúva para sempre ou, se voltar a casar-se, o fizesse com um cristão; pois os matrimônios mistos, com pagãos, estão cheios de inconvenientes”. (História de la Literatura Patristica, Nova, p. 255) Segundo Questen, Tertuliano exaltou de tal forma a virgindade e a continência que acabou por negar o valor do matrimônio: "A Exortação à castidade a dedicou Tertuliano a um amigo que acabava de perder a sua esposa... Seu desvio montanista se faz patente. Enquanto no tratado Ad uxorem exaltou as vantagens do matrimônio cristão, neste parece que deplora e o considera como uma espécie de libertinagem legítima. Pelo contrário, exalta a virgindade e a continência. Para este fim cita mesmo a visionária montanista Prisca: "A santa profetisa Prisca declara igualmente que todo santo ministro saberá como administrar as coisas santas. Porque - disse ela - a continência produz a harmonia da alma e os puros vêem visões, e inclinando-se profundamente, ouvem vozes que lhe dizem palavras de salvação e secretas" (c. 10). Apesar disso, não há nenhum indício de que Tertuliano houvesse já rompido com a Igreja quando escreveu este tratado. Se há de datá-lo, portanto, entre 204 e 212". (Patrologia, v. I, bac, 1978 (originalmente publicada em 1950- 1953), p. 602) Acrescenta o Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs: “Sob influxo do montanismo, Tertuliano parece considerar o casamento como um vício legítimo e por esta razão exalta a virtude da virgindade e da continência”. (Vozes, 2002, p. 270) Sobre a obra De Monogamia, João Batista Lourenço comenta: “Para atacar as segundas núpcias, recorre a freqüente sofismas, ataca o próprio casamento e a família, chegando aafirmar que o matrimônio é um mal menor, que Deus simplesmente tolera”. (Curso de Patrologia: História da Patrologia antiga da Igreja , p. 184) Sobre a posição docetista é preciso esclarecer que ela não era uma seita herética que com a crença da virgindade de Maria no parto queria louvá-la ou mostrar que a virgindade é superior ao matrimônio, mas, na verdade, estava preocupada em contestar a Encarnação de Jesus Cristo. Explica o Pe. Walter J. Burghardt em nota na página 121 do estudo Maria na patrística ocidental: “Alguns docetistas sustentam que Jesus Cristo não teve um corpo genuinamente humano como todos os homens. Outros admitem em Jesus Cristo um corpo humano, mas sustentam que Cristo desceu do céu com dito corpo; que não nasceu de uma virgem, ex virgine, mas que simplesmente passou, per virginem”. Outro herege gnóstico, que Tertuliano combateu, foi Marcião, que chegava a afirmar que Cristo desceu do céu sem o nascimento de uma Virgem (cf. The Catholic Encyclopedia, volume 5, 1909, pp. 70-72). Portanto, completamente diferente é o caso. Argumentar usando os docetistas é tão vazio quanto argumentar usando os ebionistas, que criam que Jesus Cristo era filho biológico de Maria com José (portanto, não acreditavam na virgindade perpétua de Maria), contra os protestantes. Levando a doutrina docetista, referida, em consideração se explica a reação de Tertuliano que, pelo menos, aparentemente, é contrária ao parto virginal de Maria. O Pe. J. A. De De Aldama em sua obra Virgo Mater: Estudos de Teologia Patrística, assim explica: “Muito frequentemente o que se urgia era dificuldade de salvar em um parto virginal as exigências da extensão corpórea. Mas ainda posto assim, no fundo era o conceito mesmo de um parto e uma maternidade verdadeiramente humanos, o que parecia levantar uma barreira intransitável diante as pretensões de um parto estritamente virginal. Assim o viu com especial nitidez Ratramno. Diante do problema assim suscitado estava excluída de antemão a posição gnóstica, que negava um dos termos, a verdadeira maternidade humana de Maria. Por isso o que se tentou foi negar o outro termo, a total integridade corporal no parto. E por conseqüência, como com perfeita lógica o proclamaram Tertuliano e Jovianiano (magis non virgo dicenda quam virgo, non virgo a partu), a virgindade in partu de Maria. Mas negar um dos termos do problema não era solucioná-lo, mas antes suprimi-lo na raiz. Os Santos Padres e os escritores medievais mantiveram fielmente a existência simultânea de ambos termos do problema. Para resolvê-lo acudiram à onipotência de Dues, que atua além de todas as leis da natureza. Essa solução é a que nos dá expressamente Santo Agostinho como solução da Igreja; e nela baseou São Martinho I toda sua refutação do monoteleta Teodoro de Farão. Ao longo da literatura patrística esse tema recorre como uma explicação perfeitamente adquirida. Retramno, Pascasio Radberto, Honorio de Autun reproduzem idênticos pensamentos como pertencentes à doutrina da Igreja” (ano 1963, Granada, pp. 299-300). Sobre Tertuliano ter deixado a Igreja é um posicionamento que até décadas atrás era consenso entre os estudiosos (defendido mesmo por protestantes, como Von Harnack, von Campenhausen[11]), mas essa posição começou a ser contestada por estudiosos protestantes, principalmente. A título de exemplo, dois especialistas que crêem que Tertuliano deixou a Igreja: Questen: "A partir do ano 207 passou abertamente ao montanismo, e chegou a ser chefe de uma de suas seitas, chamada dos tertulianistas, que perdurou em Cartago até a época de Santo Agostinho" (ibid, p. 546) "Na introdução e capítulo primeiro aparece já claro que havia renunciado à influência moderadora da Igreja e que havia passado definitivamente aos montanistas.(Questen, p. 602) João Batista Lourenço: "A rigidez da sua têmpera e o seu feitio levaram-no a simpatizar com o rigorismo dos Montanistas, que, erradamente, supunha serem mais perfeitos que os católicos e, quando aí por 213 teve conhecimento de que o Montanismo fora condenado em Roma, rompeu com a Igreja e emparelhou com os Montanistas nos seus ataques contra ela. Mas, desta data em diante, a atividade literária de Tertuliano não fez senão diminuir até o seu nome se obscurecer, como o sol que cai no ocidente. S. Jerônimo diz que ele chegou a uma avançada idade, vindo a falecer em data incerta, entre os anos de 240 e 250. No fim da vida, fora da verdade, desarmonizou-se com os Montanistas e tornou-se chefe de um pequeno partido, o dos tertulianistas. Triste fim de um grande homem”. (p. 172) Santo Agostinho chama Tertuliano de herege e explica: “TERTULIANISTAS, de Tertuliano, de quem muitos livros escritos eloquentissimamente são lidos, decaindo pouco a pouco até nossos dias, puderam durar em suas últimas relíquias na cidade de Cartago. Mas estando eu ali faz alguns anos, como creio que tu também te lembrarás, acabaram-se de todo. Com efeito, os pouquíssimos que haviam ficado passaram à Católica, e sua igreja, que agora é também famosíssima, a entregaram à Católica. Tertuliano, pois, como está em seus escritos, diz que a alma certamente é imortal, mas que ela luta por seu corpo, e não somente ela, mas até o próprio Deus. Sem embargo, não se chama ele de herege por isto. Já que de algum modo se poderia pensar que a mesma natureza e substância divina a chama corpo, não este corpo cujas partes possam e devam pensar-se umas maiores e outras menores, como são os que propriamente chamamos corpos, mesmo quando sobre a alma opine alguma outra coisa; mas, como dito, se pode por isso pensar que chama a Deus corpo porque não é nada, não é vazio, não é qualidade do corpo ou da alma, mas tudo em todas partes, e não repartido por espaço algum local, permanece imutavelmente em sua natureza e substância. Por isto Tertuliano não é herege, mas porque, passando-se aos catafrigas, a quem antes havia destruído, começou também a condenar as segundas núpcias como estupros contra a doutrina apostólica. Depois, separado deles, propagou seus grupúsculos. Ademais, também diz que as almas dos homens péssimos, depois da morte, convertem-se em demônios”. (As Heresias, 86). Sobre a citação de Sullivan por parte do autor do blog há um ponto que não podemos perder de vista: uma coisa é se afastar das estruturas visíveis da Igreja Católica e outra é se afastar da Igreja por heresia. Uma pessoa que professa uma heresia, de modo pertinaz e não oculta, está fora da Igreja, ainda que continue indo à igreja, recebendo os sacramentos e tendo contato com os fiéis da paróquia que freqüentava. Desse modo é possível interpretar a fala de Francis Sullivan: “não há evidência de que tenha deixado a Igreja Católica para se juntar ou formar um grupo cismático”. Isso não indica que Tertuliano não possa ter se tornado herético, e, portanto, afastado-se da Igreja, Corpo Místico de Cristo. O próprio Francis Sullivan também diz em sua obra: “Vamos começar a discussão de seus escritos citando algumas passagens de duas de suas obras contra hereges: uma de seu período Católico, e a outra de seu período Montanista” (From Apostles to Bishops: The Development of the Episcopacy in the Early Church, pp. 154-155) E pouco antes: ‘Os escritos de Tertulianos são divididos entre aqueles de seu período totalmente Católico (196-206) e aqueles mostrando a influência de sua aderência à "Nova Profecia" ou Montanismo” (p. 154). E mais: “Nesta obra de seu período Católico, Tertuliano argumentou contra os Gnósticos...” (p. 155) “Escrevendo tanto como um Católico(N.do.T: O Pe. Sullivan antes citava um escrito de Tertuliano de seu período Católico que defendia a sucessão apostólica) quanto como um Montanista, Tertuliano fornece uma testemunha importante ao fato de que até o final do secundo século cada igreja era liderada por um bispo e que estes bispos foram entendidos como os sucessores dos apóstolos” (p. 160). Em suma: Sullivan parece opinar que Tertuliano materialmente nunca deixou as estruturas visíveis da Igreja Católica, nem deixou a Igreja Católica para juntar-se ou fundar um grupo cismático, mas não nega e mesmo supõe que formalmente deixou a Igreja por suas heresia(s) e/ou cisma. Santo Hipólito de Roma (170 – 235): "...corpo de Maria toda santa, sempre virgem, por uma concepção imaculada, sem conversão, e se fez homem na natureza, mas em separado da maldade: o mesmo era Deus perfeito, e o mesmo era o homem perfeito, o mesmo foi na natureza em Deus, uma vez perfeito e homem." (As obras e fragmentos. Fragmento VIII) O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se que foi discípulo de Santo Irineu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde Orígenes - durante sua viagem à capital do Império - o ouviu pronunciar um sermão. Por ocasião do problema da readmissão na Igreja dos que haviam apostatado durante alguma perseguição, estourou um grave conflito que o colocou em oposição ao Papa Calisto, já que Hipólito mostrava-se rigorista neste assunto, ainda que não negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados. Tão forte foi a oposição, que acabou por se separar da Igreja e, eleito bispo de Roma por um reduzido círculo de amigos, tornou-se o primeiro antipapa da História. O cisma se prolongou até a morte de Calisto, durante o pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Encerrou-se no ano 235, pela perseguição de Maximino, quando Hipólito e o papa legítimo (Ponciano) foram desterrados para as minas da Sardenha, onde se reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado, para facilitar a pacificação da comunidade romana que, deste modo, pôde eleger um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto Hipólito morreram [ali] no ano 235. A impressão do blogueiro está correta quanto a essa obra, “Contra os hereges Berão e Félix sobre a doutrina de Deus e a encarnação”, ser apócrifa. Sobre ela o Pe. J. A. De De Aldama, na obra já citada, comenta em nota de rodapé: “Igualmente apócrifo é o texto atribuído a Hipólito, Contra Beronem et Heliconem (PG 10, 840A). Cf. BARDENHEWER 2, 570; HARNACK. Ueberlieferung 1, 664” (p. 290)[12]. E Luis M. de Cadiz em História da Literatura Patrística concordando que a obra é de autenticidade duvidosa nos informa: “do qual nos conserva alguns fragmentos extensos Anastásio, o Apocrisiário” (Buenos Aires,1954, p. 262) Anastásio, o Apocrisiário, foi um cristão da segunda metade do século VII. Pode-se objetar, ainda, com certa probabilidade, que a expressão “sempre virgem” não quer dizer necessariamente virgindade no parto se se toma a palavra “virgem” somente quanto a não haver tido relação sexual com um varão (cf. Walter J. Burghardt, Maria na patrística oriental, p. 505, nota 94). Adiante, quando tratarmos da concepção de Orígenes voltaremos para esse ponto com mais explicações. Digo probabilidade, pois, por outro lado, é evidente que a expressão foi usada por Santos Padres da Igreja, e mesmo por documentos papais, para significar também a integridade virginal no parto, enquanto, não conhecemos qualquer prova clara dos escritos dos Pais da Igreja que a expressão fosse empregada sem supor o parto virginal. O autor protestante conclui: “Carol ainda cita vários outros pais da igreja e expressa que a virgindade perpétua não encontra nenhum testemunho a favor”. Na verdade, o Pe. Philip J. Donnely em nenhum momento afirma isso. Pelo contrário. O Pe. Philip afirma que a virgindade perpétua de Maria está presente no Proto-Evangelho de Tiago e em outros apócrifos: “No texto, tal e como se conserva, há um claro reconhecimento da virgindade de Nossa Senhora, não só antes do nascimento de Cristo, mas também durante o parto e depois dele, o que não quer dizer que se professasse esta crença nem se expressasse da mesma maneira no original, ou melhor dito nos trabalhos originais, cuja compilação no século III – segundo a crítica interna afirma – foi origem ao atual Proto-Evangelho. Sem embargo, deve haver sido doutrina corrente a da virgindade perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso temos em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele atribui a São Pedro e no qual os chamados irmãos do Senhor, que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de Isaías e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a apresentar o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há razões, portanto, para afirmar que se cria na virgindade perpétua de Maria desde o século II” (p. 655-656). Também diz: “Assim, pois, até o final do século II, somente encontramos evidência fragmentária acerca da crença na virgindade perpétua de Nossa Senhora; quando mais, nos revelam que circulavam então uma série de opiniões interessantes acerca da virgindade em e depois do nascimento de Cristo” (p. 656). Em relação Clemente de Alexandria, o padre comenta: “Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente de Alexandria,que tinha opiniões muito definidas sobre a virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século II. As alusões de Clemente a Nossa Senhora são breves; mais, se a adaptação latina das Adumbrationes in Epistolas Catholicas expressam com exatidão as opiniões do autor, certamente defendeu a virgindade depois do parto, e talvez fosse ele um dos ascetas, citados por Orígenes, que se negavam a aceitar a possibilidade que Maria houvesse tido outros filhos depois do nascimento de Cristo” (p. 659). O padre ao longo do estudo vai citar uma série de Pais da Igreja a favor da virgindade perpétua de Nossa Senhora. Quanto aos antigos que ele nomeia singularmente (Santo Hipólito, Cipriano, Novaciano, Arbonioe, Lactâncio, etc), ele está lamentando que não testemunhem claramente sobre o assunto seja a favor ou contra, pois no parágrafo anterior ele citava os testemunhos de Tertuliano, Orígenes e Clemente que nos ajudam como a situação estava em alguns lugares: “Sem dúvida que os testemunhos de Tertuliano, Orígenes e Clemente, tomados em conjunto e alheio de outras considerações, não seriam suficientes para constitui-los em testemunhos das crenças de todo o mundo cristão contemporâneo, mas nestes três autores temos as três personalidades relevantes do pensamento na África, Egito e Palestina; indiretamente ao menos, refletem a mentalidade da Ásia Menor, se não de todo o Oriente; a própria Roma não pode excluir-se, já que Tertuliano era perfeito conhecedor das opiniões romanas; Orígenes não somente havia estado em Roma, mas havia viajado desde Itália até Arábia passando por Grécia. Enquanto a Clemente era também inveterado viajante e o foi até o final de seus dias.” (p. 661) Outra conclusão do autor do blog foi: “Isso nos permite concluir que para os três primeiros séculos do cristianismo não dispomos de nenhumtestemunho confiável a favor da virgindade perpétua de Maria, muito menos como um artigo de fé obrigatório para os cristãos”. Os testemunhos dos Apócrifos são claros e se não são confiáveis para recebê-los como históricos naquilo que relatam, são confiáveis, pelo menos, para conhecer o pensamento dos cristãos primitivos. Nem Orígenes, nem Tertuliano, nem Clemente dão testemunho histórico de que Maria foi ou não foi sempre virgem. Nenhum deles diz estar referindo uma tradição apostólica que chegou até eles. O valor histórico deles e dos apócrifos é extrínseco, está em mostrar a crença dos cristãos primitivos e não outra coisa. Depois de tratarmos dos escritores dos 3 primeiros séculos poderemos fazer um balanço dos testemunhos até aqui encontrados. Orígenes (185 - 254): “Os meninos varões que eram santos por haver aberto ao seio de sua mãe, eram oferecidos diante do altar do Senhor: “Todo filho varão que abre o seio”, diz (Ex 34, 23), significa algo sagrado. Na realidade, qualquer varão que menciones não abre o seio de sua mãe do modo que o Senhor Jesus o fez, considerando que não é parto, mas o concurso de varão o que abre o seio das mulheres. Mas o seio da Mãe do Senhor estava fechado quando chegou a hora do parto; porque antes do alumbramento de Cristo, aquele santo seio, digno de toda estima e veneração, não havia conhecido o mais ligeiro contato de varão” (Hom. 17 in Lucam) "Pois o Legislador acrescentou esta palavra para distinguir aquela que "concebeu e deu à luz" sem semente de outras mulheres, a fim de não designar como "impura" toda mulher que deu à luz, mas a que "deu à luz por receber semente". Também pode ser acrescentado a isto o fato de que esta Lei, que trata sobre a impureza, pertence às mulheres. Mas a respeito de Maria, diz- se que "uma virgem" concebeu e deu à luz. Portanto, deixem que as mulheres carreguem os fardos da Lei, mas deixem que as virgens sejam imunes a elas." (Lev. hom. 8, 2) “Chegou-nos a este respeito certa tradição: há no templo um lugar onde as virgens se detêm e oram (adoram?) a Deus; mas as que conheceram concurso de varão não lhes está permitido permanecer ali. Pois bem, depois de dar a luz ao Salvador, Maria entrou, adorou e permaneceu naquele lugar reservado às virgens. Os que sabiam que havia dado a luz um filho a trataram de retirá- la dali, mas Zacarias... disse-lhe: “És digna de ocupar o lugar reservado às virgens, porque é ainda virgem””. (Comm. In Matthaeum ser.25) Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até o ano 231, passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia Marítima (Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de seu tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da Bíblia. Essas passagens fizeram que os especialistas se dividissem quanto se Orígenes cria ou não na virgindade de Maria no parto. O Dicionário de Mariologia, dirigido por Stefano de Fiores e Salvatore Meo, ano 1995, da Paulus, resume bem as posições: "Parece, porém, que Orígenes, ao contrário de Tertuliano que nega o parto virginal, considera a virgindade permanentemente de Maria como dado não contradito por parto normal: "O ventre da mãe do Senhor foi aberto no instante em que teve lugar o parto". Essa interpretação, aceita e assumida por K. Rahner, J. Galot, H. Crouzel e G. Soll, não é compartilhada por F. Spedalieri, que observa que Orígenes não considera "pura" uma virgem violentada (ainda que não possa chamá-la de "impudica" no coração) e, por outro lado, atribui ao corpo de Jesus os privilégios próprios do corpo ressuscitado: a abertura do ventre exprimiria somente o dar à luz sem especificar o modo (F. Spedahert, Maria nella Scriptura e nella tradizione della chiesa primitiva, II/1, Herder, Roma, 1968, pp. 304-307). (p. 1329) Entre os partidários da opinião que ele acreditava no parto virginal de Maria também estão: Ludwing[13], Emile Neubert[14], J. Huhn[15], Lehner[16], Questen[17], Roschini[18]. Merkelbach crê que talvez Orígenes mudou de opinião (depois do ano de 244) aceitando a virgindade de Maria no parto[19]. O autor do blog apresenta a seguinte citação do Pe. Philip J. Donnelly: “Há uma perspectiva bastante diferente entre Tertuliano e Orígenes sobre a virgindade perpétua de Maria. Depois de examinar de perto estas divergências e seus fundamentos, dificilmente se pode evitar a impressão de que a resposta pode ser encontrada em práticas ascéticas cristãs e na medida em que elas influenciaram esses dois autores. Tertuliano foi, sem dúvida, um asceta, mas como em todas as outras coisas, de acordo com suas próprias luzes e temperamento singular”. Dela infere: 1) que a crença na virgindade de Maria deriva da ideia “errada” da crença do ascetismo da superioridade da virgindade e continência frente ao matrimônio e atribui ao Pe. Philip o tocar neste “ponto fundamental que explica o principal fundamento do aparecimento e desenvolvimento da virgindade perpétua na igreja”; 2) Pelo fato de Tertuliano, assim como Orígenes, também ser um asceta, mas negar a virgindade pós- parto de Maria “isso coloca ainda mais peso em seu testemunho, pois mostra que não tinha alguma pré-disposição para negar a virgindade perpétua”, a pré-disposição seria no sentido contrário. O autor do blog fala de tal modo que confunde. O leitor é levado a pensar que as conclusões do blogueiro também são teses do próprio Pe. Philip. O blogueiro mistura as premissas do padre e as suas, e daí tira suas conclusões pessoais, mas que dão toda a aparência de estarem fundamentadas no escrito do padre pelo modo que o autor se expressou e cortou os trechos do padre. Primeiro, o Pe. Philip não demonstra ter uma visão negativa do ascetismo, pois é na verdade, muito elogioso ao ascetismo e vê com bons olhos a influência que o ascetismo teve para o desenvolvimento da doutrina da virgindade perpétua de Maria. Ele diz: “a prática do ascetismo levado para a virgindade deu para aqueles homens luz espiritual e sobrenatural intuição, necessária para entender os privilégios de Maria” (p. 678). Portanto, a noção de virgindade do ascetismo, de acordo com o Pe. Philip, foi algo importante e bom, que fez os seus adeptos receberem luz espiritual e intuição sobrenatural para entender os privilégios de Maria. Diz ainda: “Gradualmente e com o apoio da hierarquia, sempre crescente, começaram a prevalecer as opiniões dos ascetas. Sem que fossem infalíveis e em que pese a algum que outro erro, tiveram, em geral, mais clara e profunda percepção que seus antagonistas” (p. 677). Além disso, o ascetismo se define por exercícios espirituais com a finalidade de adquirir os hábitos de virtudes. É um esforço, um meio, para alcançar a perfeição. Ademais, não se pode confundir o ascetismo em si, que teve vários santos Padres da Igreja, com excessos ascéticos de indivíduos ou de seitas heréticas. E, embora, o ascetismo primitivo (digo, aquele que a Igreja não se opunha) pregasse a castidade e o fervor na oração, viviam no mundo sem romper necessariamente seus laços e obrigações comuns da vida diária. O historiador católico Daniel-Rops, citando dois ascetas notórios, explica como era o entendimento dos cristãos: “A própria mudança se operou na atitude do homem para com os bens deste mundo. Não é que, sistematicamente, o fiel devesse rechaçá-los. Não temos que representar aos membros desta primitiva Igreja como um povo de monges e de ferozes ascetas. "Nós temos presente - disse Tertuliano - o reconhecimento quedevemos a Deus. Não recusamos nenhum dos frutos de suas obras". O que condenava o Cristianismo era o abuso, era o excesso de afeição que o homem punha nestes bens da terra e que lhe fazia desconhecer seu verdadeiro sentido e seu limitado valor. Clemente de Alexandria e muitos outros Padres denunciaram vigorosamente o luxo, os vestidos de ricos corantes, "os sapatos bordados de ouro, sobre os quais os pregos se enrolam em espirais", e a desmesurada gula dos ricos com seus rebuscadas gastronomias e "a vã habilidade dos confeiteiros". O ensinamento da Igreja consistia em usar de tudo o que Deus deu aos homens com agradecimento e com moderação, sem perder de vista as riquezas celestiais, que eram as únicas estáveis, e o alimento celeste, que era "o único prazer firme e puro". (La Iglesia de los Apóstoles y de los Mártires, 1955, España, p. 229) O Dicionário de Teologia de Heinrich Fries, em seu quinto volume, no verbete “virgindade”[20] explica que o ascetismo tem uma relação muito íntima com o martírio dos primeiros cristãos. Como se vê, mais uma influência benéfica. O padre também não diz que o testemunho de Tertuliano, em relação ao de Orígenes, teria mais peso em razão do primeiro ser asceta e não ter pré-disposição de negar a virgindade perpétua de Maria, enquanto Orígenes teria pré-disposição para aceitar a virgindade de Maria pós-parto. O padre não faz essas considerações. Na verdade, quem ler o estudo do padre verificará que ele estava dizendo que Tertuliano estava tratando a questão de modo apaixonado e violento, enquanto Orígenes tratou a questão sem considerações polêmicas, mas enfrentando o problema de forma franca e desinteressada. Com o trecho mais completo podemos visualizar bem essa idéia: “Entre Tertuliano e Orígenes existe uma grande diferença quando tratam da perpétua virgindade de Maria; depois de examinar as exigências de opinião e seus fundamentos, dificilmente se pode evitar a impressão de que a explicação está no grau de influência que as práticas de ascética cristã exerceram sobre ambos autores. Tertuliano era indubitavelmente um asceta, mas nisto, como em tudo demais, seguindo suas próprias luzes e seu temperamento singular; com sua crescente tendência montanista seu espírito de controvérsia se fez cada vez mais apaixonado, especialmente em seus escritos referentes à virgindade de Maria. Neles, sua principal preocupação foi descobrir acerados argumentos ad hoc contra adversários determinados; daqui os tons e atitudes violentas que adota ao falar de Maria, somente com o objeto de inchar sua polêmica. Orígenes, por outro lado, ao tratar da virgindade perpétua de Maria depois do nascimento de Cristo, o faz sem ulteriores considerações polêmicas. Enfrenta-se com o problema franca, objetiva e desinteressadamente. Sem embargo, e segundo admissão própria, suas soluções se inspiram nas opiniões de certos ascetas contemporâneos que levavam a vida de virgindade consagrada”. (p. 658) Voltando sobre a questão da influência do ascetismo sobre o desenvolvimento do dogma, é preciso acrescentar que outros teólogos não vêem o ascetismo como a principal influência (como o viu o Pe. Philip) para o desenvolvimento do dogma. Eamon R. Carrol na mesma obra, no estudo María en el magisteiro de la Iglesia, comenta: “É certo que se exaltou seu aspecto ascético, sobretudo, por respeito ao celibato dos clérigos; mas esse não foi o motivo principal da defesa da perpétua virgindade de Maria. Foi mais o que impulsionou para apresentar à Igreja uma fórmula que definisse a doutrina” (p. 15) O Pe. Walter J Burghardt por sua vez, em Maria en la patrística oriental, diz: “A influência dominante que motivava sua convicção (N.do.T: de Orígenes) não eram suas idéias ou ideais ascéticos (que em matéria de matrimônio eram muito severos), por muita importância que lhes seja concedida; nem os livros apócrifos como o Proto-Evangelho de Tiago, por muito que pôde este proporcionar uma exegese plausível para os “irmãos”, nem ainda o silêncio da Sagrada Escritura acerca das relações de Maria e José depois de Belém. A inspiração fundamental que sustenta a convicção de Orígenes e muitos contemporâneos sobre a virgindade de Maria era puramente teológica: uma persuasão fundadíssima de que o corpo de Nossa Senhora foi consagrado irrevogavelmente ao Espírito Santo e ao Verbo pela encarnação”. (p. 510-511) Em relação a outra citação que o blogueiro protestante colocou do padre vejamos a última frase: “Jouassard é da opinião que Rufino muito provavelmente reescreveu o texto original de Orígenes para torná-lo conforme a sua visão pessoal de que Maria permaneceu virgem no parto”. Isso é só uma conjectura de Jouassard, que não é compartilhada por muitos estudiosos de peso como os citados acima. Além disso, o autor protestante não acrescentou a frase seguinte que é muito significativa: “J. Huhn se opôs recentemente a esta conjectura de Jouassard”.O blogueiro silenciou que essa tese de Jouassard foi prontamente criticada. Além disso, o blogueiro deixa parecer que o Pe. Philip concorda com a opinião de Jouassard. Na verdade, ele não opina a que lado está sobre se Rufino reformou ou não o original do “Comentário sobre o Levítico” de Orígenes para fazer crer que este acreditava na virgindade de Maria no parto. Mais adiante, ele acrescentará: “Seja o que for a decisão final dos entendidos...” (p. 659) Ele, portanto, não toma partido dessa divergência dos teólogos, embora creia que Orígenes expressava uma opinião contrária a virgindade de Maria no parto. O padre Philip é bem claro que para Orígenes, Maria permaneceu virgem toda sua vida: “Sustenta, além disso, Orígenes, não somente que Maria permaneceu virgem toda sua vida, mas que seus motivos eram de uma altíssima virtude e de genuína e excelsa santidade, ainda quando tivesse ligeiras deficiências e imperfeições. É verdade que Orígenes nunca usa a expressão “sempre virgem” – ao menos não no texto que agora possuímos -, mas é indubitável que defende a idéia; idéia que tomou, não da tradição propriamente dita ou do magistério eclesiástico, mas das opiniões de certos apóstolos partidários da virgindade”. (p. 658) Ou seja, mesmo Pe. Philip, que acredita que Orígenes não expressava a virgindade do parto de Maria, esclarece que Orígenes ainda assim defendia que Maria sempre permaneceu virgem. O conceito de virgindade para Orígenes era não ter relações sexuais, segundo pensa o estudioso. Orígenes nunca diria que Maria “perdeu a virgindade no parto”. Muito menos faz sentido imaginar que ele defendia que só antes e depois do parto Maria foi virgem (tendo presente o conceito dele de virgindade). No ponto de vista dele, Maria nunca perdeu a virgindade porque a virgindade não consistia em questões fisiológicas da integridade virginal, mas de relações sexuais. É isso que explica o Pe. Philip. Até porque é impossível se falar em perda da virgindade num momento e depois de virgindade no outro. É absurdo! Quem perde a virgindade não a recebe mais. Portanto, temos que levar em conta o que Orígenes entende por ‘virgem’ se se quer adotar a tese de que ele expressou o contrário do nascimento virginal. O Pe. Walter J. Burghardt em María en la patrística oriental comentando o Comentário de Mateus de Orígenes (texto acima), explica com mais precisão: “Este texto parece justificar duas conclusões. Primeira, a passagem não constitui uma retratação implícita da anterior afirmação de Orígenes de que Nossa Senhora havia perdido sua integridade física em Belém. Coloca-se aqui “virgens”
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