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A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos (parte 1)

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A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos 
(parte 1) 
 
Um protestante publicou um texto em seu blog, dividido em duas 
partes, intitulado “A virgindade perpétua de Maria e a evidência 
histórica”. Ele analisa vários escritos, autores antigos e Padres 
da Igreja e tenta fundamentar-se, principalmente, em Juniper B. 
Carol, a que julga um especialista sobre o tema, e em J.N.D 
Kelly, estudioso protestante. Em contrapartida, nosso presente 
estudo pretende analisar exaustivamente o pensamento dos Pais 
da Igreja e também dos escritores antigos, eclesiásticos ou não, 
sobre a virgindade perpétua de Nossa Senhora. No decorrer do 
estudo apontaremos os erros ou conclusões precipitadas que o 
blogueiro protestante tomou ao escrever o sobredito artigo. 
Antes de tudo, por questão de ordem, é importante frisar que o 
blogueiro não estava utilizando palavras do Pe. Juniper B. Carol, 
mas na verdade do Pe. Philip J. Donnelly. A Obra “Mariologia” 
foi escrita por uma Comissão internacional de especialistas sob 
a presidência do Pe. J. B. Carol, mas deste último só há um 
estudo na Obra, intitulado “Corredenção de Nossa Senhora”. 
Essa Comissão foi, de fato, composta de autores especialistas no 
assunto em questão. Não se trata apenas de estudiosos católicos 
ou protestantes que estudaram e escreveram sobre a Patrística em 
geral, mas de católicos que se dedicaram fixamente sobre 
diversos temas da mariologia e escreveram muitos livros sobre o 
tema. Por isso, a sua referência (Mariologia, Madrid, BAC, 
1964) é preciosa para o nosso presente tema. 
O estudo será divido em três partes, basicamente. Primeiramente 
(parte 1) irei deter-me nos ensinamento dos Pais da Igreja e dos 
escritores antigos sobre a virgindade no parto de Maria. Nesta 
parte irei analisar o uso que o blogueiro faz do Pe. Philip (que 
ele imagina ser o Pe. Carol) e apontar se o uso que ele fez do 
teólogo foi correto. Também irei refutar ou solucionar as 
citações por ele propostas. Na próxima parte do estudo (parte 2), 
da mesma forma que fiz na primeira parte, vou tratar dos 
ensinamentos dos Pais da Igreja sobre a virgindade pós-parto. 
Por fim, através dos estudos dos especialistas, tiraremos nossas 
conclusões (parte 3). 
 
1. A VIRGINDADE DE MARIA NO PARTO 
1.1. Segundo e terceiro séculos 
 
Proto-Evangelho de Tiago: 
“Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ¨Onde 
vais?¨ Respondi: ¨Procuro por uma parteira hebréia¨. Ela disse: 
¨Sois de Israel?¨ Respondi: ¨Sim¨. Então ela disse: ¨Quem está 
dando à luz na caverna?¨ Disse-lhe: ¨Minha esposa¨. Ela 
replicou: ¨Mas não é tua mulher?¨ Respondi-lhe: ¨É Maria: 
aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada 
por mulher, mas não o é, e agora concebe por obra do Espírito 
Santo¨. Disse a parteira: ¨Isso é verdade?¨ José respondeu: 
¨Vinde e vede¨. Então a parteira foi com ele. Chegando à 
caverna, pararam, pois estava coberta por uma nuvem luminosa. 
Disse a parteira: ¨Minha alma foi agraciada pois meus olhos 
viram coisas incríveis e a salvação para Israel nasceu!¨ Então a 
nuvem saiu da caverna e de dentro brilhou uma forte luz, de 
forma que nossos olhos não conseguiam ficar abertos. E [a luz] 
começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de 
sua mãe, Maria. E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi 
com os meus olhos um novo milagre¨. E, saindo da gruta, veio 
ao seu encontro Salomé. Disse a parteira: ¨Salomé, Salomé! 
Preciso contar-lhe uma maravilha jamais vista: uma virgem deu 
à luz. Como sabes, isso é impossível para a natureza humana¨. 
Respondeu-lhe Salomé: ¨Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei 
enquanto não puder tocar os meus dedos em sua natureza para 
examinar-lhe¨. Então a parteira entrou [na caverna] e disse a 
Maria: ¨Prepara-te porque existe uma dúvida sobre ti entre nós¨. 
E Salomé pôs seu dedo na natureza [de Maria] e soltou um 
grande grito: ¨Ai de mim! Minha malícia e incredulidade são 
culpadas! Eis que minha mão foi carbonizada e desprendeu-se 
do meu corpo por tentar ao Deus vivo!¨ E, se ajoelhando diante 
de Deus, pediu: ¨Ó Deus de nossos pais: recorda-te de mim, pois 
sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não me tornes 
exemplo para os filhos de Israel! Cura-me para que possa 
continuar a me dedicar aos pobres, pois bem sabes, Senhor, que 
curava em teu Nome e recebia diretamente de Ti o meu salário¨. 
Então um anjo do céu apareceu-lhe e disse: ¨Salomé, Salomé! 
Deus te ouviu! Toque o menino e terás alegria e prazer¨. E 
Salomé se aproximou e pegou o menino. E disse: ¨Adoro-te 
porque nasceste para ser o Grandioso Rei de Israel¨. Sentiu-se, 
então, curada e pode sair em paz da caverna. E ouviu-se uma voz 
que dizia: ¨Salomé, Salomé! Não digas a ninguém as maravilhas 
que presenciaste até que o menino vá para Jerusalém.” (Proto-
evangelho de Tiago 19-20) 
Os autores José Antonio de Aldama em seu livro “María en la 
Patristica de los siglos I y II” e De Strucker afirmam que essa 
obra é do século II, escrita por um cristão[1]. O autor em seu 
blog admite que o Proto-Evangelho favorece a virgindade de 
Nossa Senhora no parto, no entanto, faz pouco caso dessa citação 
pela sua pouca confiabilidade histórica. Concordamos que os 
apócrifos, no geral, possuem conteúdo fantasioso e que seus 
valores não são históricos sobre os acontecimentos que relatam. 
Contudo, para conhecer diversos pontos de doutrina no 
pensamento dos cristãos primitivos este proto-evangelho é 
válido e útil. 
O Pe. Alfred C. Rush explica-nos sua importância em muitas 
passagens do seu estudo “Maria nos Evangelhos Apócrifos” na 
obra “Mariologia” de Carol Juniper. Falando dos apócrifos 
estudados em geral diz: 
“Estes trabalhos, têm em geral, muito pouco interesse histórico 
e não se pode tomar como testemunhos fiéis dos acontecimentos. 
Contudo, possuem grande valor em outros aspectos. De 
imediato nos oferece um meio de penetração na mentalidade dos 
tempos que os viram nascer; mostram-nos tendências e 
costumes junto às crenças dos primitivos tempos do 
cristianismo; daqui que sejam de capital importância para o 
teólogo e para o que se dedica à história do dogma. São também 
de grande valor para o estudo da mariologia” (p. 154). 
“Terceiro, a sublime mariologia contida nestes livros é um 
testemunho maravilhoso do bom fundamento da devoção dos 
fiéis a Maria. Este nos conduz a considerar a grande 
importância destes relatores para os teólogos e os historiadores 
do dogma, por seu valor como testemunhas de uma Tradição, e 
finalmente devemos ter em conta que, com muita freqüência, 
existe um paralelismo entre o desenvolvimento e a explicação de 
uma doutrina nos ensinamentos dos apócrifos e na pregação 
patrística” (p. 182) 
Especialmente sobre o Proto-Evangelho de Tiago: 
“Este livro nos demonstra o lugar que ocupava a devoção a 
Maria na piedade popular nestes primeiros momentos”. (p. 157) 
Falando mais especificamente do assunto que nos interessa, diz: 
“Sem embargo, no século II se ataca a virgindade de Maria, 
dizendo que Jesus inventou a história de seu nascimento virginal 
e que era em realidade filho de pecado. Para refutar essa teoria, 
o autor do Proto-Evangelho defende ardentemente a virgindade 
perpétua de Maria. (E. AMANN, Le Protoévangile de Jacques 
10-15)” (p.159). 
O Pe. Philip J. Donnely (que o autor do blog confunde com 
Carol) sobre o Proto-Evangelho comenta: 
“Sem embargo, deve ter sido doutrina corrente a da virgindade 
perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam 
em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso temos 
em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele 
atribui a São Pedro e no qualos chamados irmãos do Senhor, 
que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de 
José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de Isaías 
e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a apresentar 
o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há razões, 
portanto, para afirmar que se cria na virgindade perpétua de 
Maria desde o século II” (p. 655-656). 
Ademais, é bom assinalar que o Proto-Evangelho tem uma forma 
literária ímpar entre os apócrifos por sua simplicidade e 
discrição. Sobre isso, comenta Hubertus R. Drobner, em seu 
Manual de Patrologia : 
“Com relação à forma literária, trata-se de uma coletânea de 
lendas de caráter pessoal, que todavia são construídas de modo 
totalmente discreto e não podem ser comparadas com a 
obsessão por milagres de outros apócrifos. Estas lendas se 
apóiam em modelos do AT (nascimento de Samuel e Sansão) e 
utilizam as histórias canônicas da infância de Mt e Lc” 
(Hubertus R. Drobner - Manual de Patrologia, 2003, p. 33). 
O autor do blog acredita que o Proto-Evangelho não sugere que 
Maria fez um voto de virgindade ou que sua virgindade fora 
consagrada, mas pelo contrário, diz que o Porto-Evangelho 
insinuaria que não fez. 
Usa o seguinte verso que supostamente validaria sua posição: 
“Porém, um anjo do Senhor apareceu à sua frente e disse: ¨Não 
temas, ó Maria! Alcançaste graça diante do Senhor Todo-
Poderoso e conceberás por Sua graça¨. Ela, ao ouvi-lo, ficou 
admirada e disse consigo mesma: ¨Conceberei por graça do 
Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?” (Proto-
evangelho de Tiago - 11, 2). 
O que tem que ver o simples fato do Proto-Evangelho relatar que 
Maria fez a pergunta se conceberá como as demais mulheres, 
com uma prova contra a consagração de Virgindade? Se Maria 
encontrava-se em consagração da virgindade, esse 
questionamento, pelo contrário, seria bastante natural. Qual 
razão de Maria pensar de imediato que o poder de Deus a cobriria 
com sua Sombra no Evangelho de Lucas 1, 35? No próprio 
Evangelho não lemos que Ela pergunta “como se fará isso se não 
conheço varão”? A pergunta faz sentido se supõe a consagração, 
na verdade. Ora, de modo ordinário as mulheres concebem 
através do sexo com um varão, e Maria segundo o próprio 
Evangelho, foi recebida por São José em seu teto, portanto, ela 
imaginaria que seria com S. José se não tivesse consagrado sua 
virgindade a Deus. O próprio escritor protestante Bodie Hodge 
do site que o protestante do blog em questão utiliza (sem o citar 
como fonte), diz que “o conceito da virgindade perpétua de 
Maria está convenientemente explanado no Protoevangelio de 
Tiago...”[2]. 
O Proto-Evangelho, na verdade, diz que Maria foi consagrada a 
Deus por sua Mãe (e não que fez um voto livremente): 
“Glória a Deus! O que de mim nascer, menino ou menina, o 
apresentarei como oferenda ao Senhor meu Deus e estará 
dedicado a seu serviço todos os dias” (4, 1) 
Alred C. Rush sobre a passagem acima comenta: 
“Desta maneira Maria foi prometida para o serviço de Deus 
com virgindade perpétua. Sem embargo, neste relato se 
considera a Maria quase como um puro agente físico na obra da 
redenção e o autor sublinha a pureza de Maria, mas uma pureza 
que poderíamos chamar legal ou exterior sem fazer referência 
ao exercício de sua vontade” (Ibid., p. 159). 
E pouco antes sublinhava: 
“Ao apresentar a Maria como consagrada a Deus e excluída do 
contrato matrimonial, o autor do Proto-Evangelho se encontra 
com o problema das relações entre José e Maria. Por uma parte 
não tem mais remédio que admitir que entre eles o laço conjugal, 
porque está escrito no Novo Testamento; por outra parte deve 
defender a virgindade de Maria. Por esta razão suas expressões, 
ao descrever as relações entre os esposos, resultam um tanto 
obscuras e vacilantes. Sublinha a virgindade de Maria ante 
partum, e para isso se apóia no fato de que Maria foi entregue 
a José para sua proteção, o qual, por causa de sua idade, 
poderia guardá-la intacta” (pp. 159-160) 
O blogueiro protestante lança várias acusações sobre supostas 
contradições entre o Proto-Evangelho e os Evangelho bíblicos 
que retirou de um site americano, novamente sem mencionar a 
fonte, para reponder a essas acusações utilizaremos o teólogo 
ortodoxo Laurent Cleenewerck na obra “Aiparthenos | Ever-
Virgin? Understanding the Orthodox Catholic Doctrine of the 
Perpetual Virginity of Mary, the Mother of Jesus, and the 
Identity of James... and Sisters of the Lord”. 
 
1ª Suposta Contradição 
Proto-Evangelho de Tiago Evangelhos canônicos 
Gabriel é descrito como um 
arcanjo (Cap. 12) 
Gabriel nunca é descrito 
como um arcanjo, mas sim 
Miguel (Judas 1:9) 
 
Aqui não há nenhuma contradição, além do fato da Epístola de 
Judas não ser um Evangelho, o fato de Gabriel ser mencionado 
como Arcanjo no proto-evangelho de Tiago, não significa que 
está em contradição com as Escrituras, uma vez que esta é uma 
afirmação adicional, e não contraria qualquer relato dos 
Evangelhos. Apenas acrescenta uma informação a mais do que 
os evangelhos, isto é, que Gabriel é arcanjo. Também Apocalipse 
8, 2, baseado no livro de Tobias, relata que existem 7 anjos que 
assistem diante do Senhor esses anjos são considerados pela 
maioria dos Teólogos, os Arcanjos entre quais Gabriel poderia 
estar naturalmente inserido. 
 
Assim o autor ortodoxo Laurent Cleenewerck, responde: 
 
“Ponto 1 é um lembrete que para ter uma erudição competente 
leva tempo (e um decente conhecimento do Grego). Na verdade 
Gabriel Provavelmente não é chamado de “arcanjo” neste 
texto, como alguns dos melhores manuscritos indicam[para uma 
comparação de leituras dos melhores manuscritos ver 
http://www.sd-
editions.com/AnaServer?protevangel+0+start.anv (verso 
referente 12, 6)]. Mesmo se ete fosse o caso, a ideia que certos 
anjos (sete) estão mais perto do trono de Deus e podem ser 
chamados de “anjos chefes” [Comparar Lucas 1, 19; 
Apocalipse 8, 2] não é certamente uma contradição com o Status 
de exaltação de Miguel como um Arcanjo encarregado do povo 
de Deus, como é descrito como “um dos príncipes chefes” 
(Daniel 10, 13)”. 
 
2ª Suposta Contradição 
 
A resposta de Maria ao anjo é 
diferente: “Conceberei por 
graça do Deus vivo e darei à 
luz como as demais 
mulheres?¨ (9:12) 
Lucas 1:34 afirma: Perguntou 
Maria ao anjo: "Como 
acontecerá isso, se sou 
virgem? " 
 
Há de se notar primeiramente que com essa acusação o 
protestante parece querer que o Proto-Evangelho fosse uma 
cópia do Evangelho de Lucas. Para o autor do proto-evangelho 
relatar tudo igual aos evangelhos, teria que ter lido os evangelhos 
e estar pretendendo reproduzir o mesmo relato, ou ser inspirado 
por Deus para tal, e ainda assim mesmo os Evangelhos 
Inspirados por Deus, em diversos relatos contam coisas 
diferentes sobre o mesmo tema ou acontecimento, logo o proto-
evangelho naturalmente relatou o mesmo acontecimento de 
forma um pouco diferente, isso de modo algum é questão para 
invalidar qualquer relato deste Proto-Evangelho. 
 
Laurent Cleenewerck assim responde: 
 
“Ponto 2, parece querer que cada diálogo isolado fosse 
recordado com acuracidade jornalistica e absoluta consistência 
entre todas as testemunhas. Mas isto não verdade nem mesmo 
para as Escrituras Canônicas em primeiro Lucas, a resposta 
para a anunciação não é nem extravagante nem muito diferente 
do que o que é encontrado em Lucas. Este critério não pode ser 
aplicado nem mesmo para os próprios Evangelhos canônicos, e 
portanto não pode ser imposto aqui.” 
 
3ª Suposta Contradição 
 
Isabel fugiude Belém com 
seu filho João (Batista) para 
as montanhas por causa da ira 
de Herodes quando decidiu 
matar todos os meninos. 
(Cap. 22:3). 
Lucas 1:80 afirma: “E o 
menino crescia e se fortalecia 
no espírito; e viveu no 
deserto, até aparecer 
publicamente a Israel.” 
 
Qual a contradição aqui? Um deserto não pode ter montanhas? 
É fato altamente conhecido que João Batista era da seita dos 
Essênios que viviam no deserto onde existem diversas 
montanhas, inclusive os manuscritos do mar morto que eram 
pertencentes desta seita dos Essênios, foram encontrados nas 
montanhas em Qurãm. Logo novamente a menção as montanhas 
é uma informação complementar e não contraditória. 
 
“Ponto 3, é uma acusação esperada que o proto-evangelho 
adiciona os temas centrais de ‘João Batista’ ao relato. Na 
verdade ele conta que não só Jesus mas também João Batista 
(nascido 6 meses antes) foi ameaçado pelo desejo de Herodes de 
matar qualquer garoto recém nascido com alguma aspiração ao 
trono. Se nos pegarmos o relato de Mateus como historicamente 
válido (que é raramente aceito por especialistas hoje do ponto 
de vista da dificuldade de harmonizar Mateus e Lucas), parece 
claro que os soldados de Herodes estariam atrás de qualquer 
garoto comum, o que o Evangelho de João parece ter conhecido. 
O proto Evangelho, não contradiz aqui o Novo Testamente, mas 
faz melhor e expande sobre os eventos que circundaram a ida 
para o deserto.” 
 
4ª Suposta Contradição 
 
Jesus nasceu numa caverna 
fora da cidade de Belém (Cap. 
18:1) 
Jesus nasceu em Belém, a 
cidade de Davi, de acordo 
com Lucas 2:4 e Mateus 2:1 
 
A crença de Jesus ter nascido em uma caverna é altamente 
difundida em vários Escritores Primitivos. São Justino, por 
exemplo, diz em seu Diálogo Contra Trifão: 
 
"Ele, juntamente com Maria, recebe a ordem de partir para o 
Egito e permanecer aí com o menino, até que novamente lhe seja 
revelado que podem voltar para a Judéia. Antes, porém, quando 
o menino nasceu em Belém, como José não encontrasse onde 
alojar-se nessa aldeia, retirou-se para uma gruta próxima. 
Então, estando aí os dois, Maria deu à luz a Cristo e o colocou 
num presépio, onde os magos da Arábia o encontraram ao 
chegar. Já vos citei as palavras com que Isaías profetizou sobre 
o símbolo da gruta.” (Diálogo Com Trifão – Capítulo 78) 
 
Orígenes também afirma o mesmo: 
 
“Mas, para se convencer de que Jesus nasceu em Belém, se 
alguém, depois da profecia de Miqueias e depois da história 
registrada nos evangelhos pelos discípulos de Jesus, desejar 
mais provas, mostra-se, é bom saber, de acordo com a história 
evangélica de seu nascimento,em Belém, a gruta em que ele 
nasceu, e, na gruta, a manjedoura em que foi envolvido em 
panos.” (Orígenis Contra Celso Livro I, Capítulo 51) 
 
O fato do proto-evangelho falar “José foi para Belém buscar 
uma parteira”, não quer dizer que era necessariamente fora de 
Belém, mas sim ao seu derredor que continua sendo a cidade de 
Belém, não necessariamente no centro da cidade. Por exemplo, 
Gênesis relata que o enterro de Raquel foi fora do centro de 
Belém, e ainda assim diz que foi em Belém: 
 
“Quando eu voltava de Padã, tua mãe Raquel morreu em 
caminho, perto de mim, na terra de Canaã, a alguma distância de 
Efrata; foi ali que a enterrei, no caminho de Efrata, hoje Belém” 
(Genesis 48, 7). 
 
Logo quando o Evangelho de Mateus, menciona que Jesus 
nasceu em Belém não contradiz necessariamente o proto-
evangelho, pois não quer dizer que foi no meio de Belém entre 
as casas, mas poderia ser facilmente ao seu derredor que 
continua sendo Belém, isso é fácil de notar, quando o próprio 
Evangelho de Lucas menciona que eles estavam no campo 
próximo aos pastores: 
 
"Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam 
seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.” (Lucas 
2, 8) 
 
Logo o que indica é que Jesus nasceu próximo ao campo, e não 
necessariamente entre as casas da cidade. 
 
Sobre isso, Laurent Cleenewerck assim responde: 
 
“O ponto 4 é de particular interesse: o proto-evangelho ensina 
como problema de fato casual, que Jesus nasceu emu ma 
caverna, o que o Novo Testamento não indica. Contudo, o fato 
de Jesus ter nascido em uma cavern á uma crença bem 
difundida. Justino mártir tomou por garantido (como de alguma 
forma anunciado em profecias) que Jesus nasceu em uma 
caverna, e Orígenes menciona a discussão em Belém sobre o 
Local Exato. O Antigo Testamento não diz que Jesus teria que 
nascer dentro do limite das cidades (um conceito moderno). 
Uma alusão pode ser encontrada no fato que os patriarcas (e 
suas famílias) eram enterrados em cavernas: “E para mim, 
quando eu vim o Padan, Raquel morreu por mim na Terra de 
Canaã no caminho quando eu ainda estava somente há uma 
pequena distância do Eufrates: E eu enterrei-a no Caminho para 
o Eufrates; O mesmo é Belém.” (Genesis 48, 7). Seria 
providencia se a caverna que Raquel foi enterrada fosse a 
caverna do nascimento de Jesus, portanto sua tristeza foi 
retirada pela alegria do nascimento do Salvador [de acordo com 
Edersheim no livro The Life and times of Jesus the Missiah, livro 
2, capitulo 6: “Este Midgal Edar não era um torre de vigia para 
os rebanhos ordinários que pastavam nas terras de carneiros 
estéreis além de Belém, mas em terras próximas a cidade, na 
rota para Jesualém. A passagem do Mishná (Shekelinm 7, 4) 
indica que os rebanhos que pastavam eram destinados para o 
sacrifício do templo]”. 
 
5ª Suposta Contradição 
 
O anjo do Senhor, quando 
fala a José em sonho diz-lhe 
para receber Maria, mas não 
menciona tê-la como esposa. 
O sacerdote castiga Jose e o 
acusa de tomar Maria como 
esposa secretamente. Jose a 
leva para sua casa, mas está 
relutante em chamá-la de sua 
Mateus 1:19 revela que Jose 
já era o marido de Maria (eles 
já estavam noivos) antes de o 
anjo visita-lo em sonho. 
Mateus 1:24 aponta que 
depois que o anjo visitou 
José, ele a manteve como 
esposa. 
esposa quando eles vão a 
Belém (Capítulos Caps. 13-
16). 
 
Sobre isto Laurent Cleenewerck fala: 
 
“Ponto 5 releva uma comum falta de entendimento de 2 passos 
no processo de noivado e Casamento. Nós já discutimos Mateus 
1, 24 longamente: José toma Maria como sua esposa, ainda sem 
intenção (como é claro a partir de seu subsequente 
comportamento) de consumar a união (pelo menos até depois do 
nascimento). Até este tempo, Maria é legalmente Esposa de José, 
e ainda, é significante que Lucas 2, 5 ainda chama-a de ‘sua 
noiva’. Por esta razão, José é lembrado como ‘esposo’ e Maria 
como ‘noiva’. 
 
6ª Suposta Contradição 
 
Maria envolveu Jesus em 
panos e o escondeu numa 
manjedoura na pousada para 
salvá-lo do massacre de 
Herodes. (Cap. 22) 
Maria e José foram avisados 
da trama de Herodes por um 
anjo e então fugiram para o 
Egito (Mateus 2:13-14). 
 
Novamente não há nenhuma contradição aqui, o fato deles terem 
colocados eles em uma manjedoura em uma pousada, não 
contradiz o fato de terem ido para o Egito posteriormente. Este 
relato do proto-evangelho é apenas um detalhe de várias coisas 
que aconteceram. 
 
"O ponto 6 não é mais difícil de harmonizar do que muitos textos 
dentro das Sagradas Escrituras. O Capítulo 22 não está 
preocupado a respeito de Jesus e Maria do que com o destino de 
João. A ida ao Egito não é mencionado de nenhuma forma, nós 
temos que assumir a partir do Evangelho de Mateus”. 
 
7ª Suposta Contradição 
 
Os sábios foram a Belém 
perguntar onde tinha nascido 
orei dos judeus. (Cap. 21) 
Os sábios chegaram a 
Jerusalém e perguntaram 
onde tinha nascido o rei dos 
judeus. (Mateus 2:1) 
 
Sobre isto Laurent Cleenewerck responde: 
“O ponto 7 é causado por uma leitura apressada do texto em 
Inglês do Proto-Evangelho 21, 1-2: (1) Agora, José estava 
prestes a partir para a Judeia quando há uma grande comoção 
em Belém da Judéia. (2) Pois os astrólogos tinham chegado, 
dizendo: “Onde está aquele que é o rei dos judeus nascidos? 
Pois nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-
lo”. O texto na verdade não afirmam que os magos chegaram a 
Belém, mas sim, no contexto, na Judéia. 
 
Ascensão de Isaías: 
“E ele ficou com ela dois meses. E depois de dois meses, José 
estava em sua casa, com Maria; estavam sozinhos. E eis que, 
quando estavam sozinhos, Maria olhava e via uma criança 
pequenininha, e ela ficou atônita. E após este assombro de Maria, 
ela se encontrou exatamente como antes de sua gravidez” (11, 6-
9). 
“E os rumores sobre esta criança se espalhavam em Belém e 
Judá. Uns diziam que a Virgem Maria havia dado à luz depois 
de dois meses... Muitos outros asseguravam que ela não havia 
dado à luz, que ela não havia chamado uma parteira, e que não 
se ouviram os gritos do parto. E a inteligência de todos se 
apagara a respeito desta criança; sabia-se que ela havia nascido, 
não se sabia como ela havia nascido” (11, 12-14). 
O autor do blog admite que esse livro apócrifo afirma a 
virgindade no parto de Maria, mas acrescenta que ele tem uma 
“clara influência gnóstica”. A isto respondemos com o Pe. Philip 
J. Donnelly que, no mesmo trabalho já mencionado, sobre a 
Ascensão de Isaías, Proto-Evangelho de Tiago e do Evangelho 
de Ezequiel comenta: 
“estes se compuseram, provavelmente, pelo povo simples 
pertencente à Igreja, não pelas seitas tidas de heresia – como 
alguns afirmaram” (p. 656). 
A Ascensão de Isaías é um apócrifo do Antigo Testamento que 
foi escrito compilado por algum Cristão entre os século I e II. 
Charles e Tisserant dizem que foi escrito no final do primeiro 
século[3]. 
 
Odes de Salomão 
“O seio da Virgem (o) recebeu 
e recebeu a concepção e deu a luz; 
e a Virgem ficou feita mãe com grande misericórdia; 
e pariu e deu a luz um filho sem dor; 
e não ocorreu isto sem finalidade; 
e não havia necessitado de parteira, 
porque Ele a livrou, 
e ela deu a luz, como homem, por sua própria vontade...” (19, 6-
10) 
Os Odes de Salomão é uma composição de 42 canções ou 
poemas escritos provavelmente no ano 120 d.C segundo Walter 
J. Burghardt[4]. 
 
Oráculos das sibilas: 
“Primeiramente, então, Gabriel mostrou a sua forte e pura 
forma; e carregando as suas próprias notícias, ele então dirigiu-
se à donzela com a sua voz: “ó virgem, no teu seio imaculado 
Receba teu Deus”. Assim falando, ele soprou a Graça de Deus 
sobre a doce donzela; que imediatamente ficou surpresa e 
maravilhada quando ouviu, E ela estava tremendo; e sua mente 
estava agitada com vibração de excitação, enquanto no coração 
Ela tremia pelas coisas inesperadas que ela ouviu. Mas ela 
novamente ficou muito contente e seu coração foi aclamado pela 
voz, e a moça riu e seu rosto ficou vermelho com um sentimento 
de alegria, E fascinado estava o seu coração com sentimento de 
vergonha. E confiança veio a ela. E a Palavra veio para o ventre, 
e no decorrer do tempo. Tendo-se tornado carne e dotado de 
vida veio a forma humana e veio a ser um menino distinguido 
por seu nascimento virginal. Pois isso foi uma grande surpresa 
para a humanidade, mas não era uma grande maravilha a Deus.” 
(Os Oráculos das Sibilas - Livro 8, 470) 
Oráculos das Sibilas é o nome dado a algumas coleções de 
supostas profecias, que emanam das sibilas ou videntes de 
inspiração divina, que foram amplamente divulgadas na 
antiguidade. Essas sibilas eram amplamente difundidas entre os 
padres da Igreja, pois profetizaram a vida de Cristo. São Justino, 
Atenágoras, Teófilo, Clemente de Alexandria, Lactâncio, 
Agostinho e outros cristãos primitivos estavam bem 
familiarizados com estas obras, tanto é que alguns livros destas 
profecias foram adicionados por Cristão, por exemplo, o livro 
VIII que fala sobre a Virgindade de Maria. A Enciclopédia 
Católica data o livro VIII como escrito no século III[5]. 
 
Santo Inácio de Antioquia (35 – 107): 
“Permaneceu oculta ao príncipe deste mundo a virgindade de 
Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor: três 
mistérios de grande alcance que se processaram no silêncio de 
Deus. Como então foram eles manifestados aos séculos?” (aos 
Efésios 9, 19) 
Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) 
nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele são 
conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martírio, por 
volta do ano 107. 
O Pe. De Aldama, em “Maria na Patrística dos séculos I e II”, 
BAC, sobre essa passagem comenta, contrariando a opinião de 
Koch: 
“Então, se Santo Inácio reconhecia que o parto havia sido 
normal, como não utilizou esse argumento, nem aqui nem em 
outra parte, contra seus adversários docetas, de igual modo que 
insistiu em que verdadeiramente foi gerado por Maria, e comeu, 
e bebeu e foi crucificado e morreu? Ademais, essa razão 
(N.do.T: Kosh argumentava que um escritor antidoceta não 
tinha razão para se referir a um parto virginal) valeria 
igualmente para a virgindade da concepção. Esta, como o parto 
virginal, viriam bem em uma interpretação doceta da 
encarnação. Se, então, apesar de seu empenho antidoceta, o 
bispo de Antioquia assinalou não só a concepção, mas também 
o parto de Maria como dois mistérios, é sem dúvida porque este 
último tinha, igual que aquela, umas características que o 
colocavam fora do normal e ordinário. O caráter misterioso do 
parto, como da concepção, se estende a sua origem: levaram-se 
a cabo na serena tranqüilidade das obras divinas e pertencem 
ao plano soteriológico de Deus. São dois fatos extraordinários”. 
(p. 198) 
Nas páginas seguintes diz: 
“O caráter de misterioso envolve necessariamente um 
prodigioso de ordem sensível, mas exige algo pelo que se sai do 
ordinário e normal. Pois, de não ser assim, seria facilmente 
compreensível sem necessidade de uma especial revelação de 
Deus. Ademais, esse traço extraordinário do parto é distinto da 
concepção virginal que lhe precede. Não será precisamente seu 
caráter virginal também, como parto verificado deixando 
intacta a integridade corporal da mãe? É óbvio, embora não se 
admita a explicação do Pe. Orbe” (p. 201). 
Outros especialistas modernos que creram que Santo Inácio de 
Antioquia defendia a virgindade de Maria no parto: Orbe, J. 
Galot, D. Fernández, R. H. Charles[6], Roschini[7]. E o 
modernista Koch nega que Santo Inácio o defendia. 
 
Santo Irineu de Lião (130 — 202): 
“E também, em torno de seu nascimento, o mesmo profeta diz 
em outra parte: Antes que dê a luz a que estava em parto e antes 
que cheguem as dores do parto, deu a luz um menino (Is 66,7). 
Assim deu a conhece o inesperado e extraordinário de seu 
nascimento da Virgem” (Demonstração da pregação apostólica, 
54). 
Santo Irineu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, 
por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu 
tratado "Contra as Heresias", onde combate as heresias de seu 
tempo, em especial as dos gnósticos. 
O Pe. Walter J. Burghardt em seu estudo “Maria na patrística 
oriental” da Obra Mariologia já citada sobre essa passagem 
comenta: 
“Por outra parte, existe uma alusão iniludível a esta 
prerrogativa em sua Demonstração da pregação apostólica, que 
escreveuaté o ano 190. Irineu toma o texto de Isaías 66,7, no 
qual o profeta predisse uma reprovação assombrosa de 
Jerusalém por meio da mãe Sião, e o interpreta como alusivo à 
Virgem Maria, que deu a luz um filho varão por maneira 
maravilhosa: sem dores de parto. Também, referindo-se a seu 
nascimento, diz em outro lugar o mesmo profeta (Isaías): “Antes 
de que a que estava de parto parisse e antes de que as dores do 
parto se apresentassem saiu a luz um filho varão”; assim 
proclamou seu inesperado e extraordinário nascimento de uma 
virgem” (IRINEO, Demonstratio apostolicae praedicationis c. 
54, em Patrologia Orientalis 12, 701). Se sua linguagem não é 
transparente e seu pensamento não é demasiado claro, talvez 
seja simplesmente porque Irineu não teve nunca ocasião de 
enfrentar-se com este tema teológico tão delicado e cheio de 
matizes” (p. 503). 
Tendo essa passagem em vista, o teólogo protestante, J. N. D. 
Kelly, faz a seguinte afirmação: 
“Estas idéias estiveram distante de ser imediatamente aceitas na 
Igreja em geral. Irineu, isto é verdade, considerou que o parto 
de Maria foi isento de dor física, como Clemente de Alexandria 
(apelando ao Proto-Evangelho de Tiago)”. (Early Christian 
Doctrines, p. 493) 
Outros especialistas que crêem que Santo Irineu defendia 
firmemente ou insinuava a virgindade no parto: D. Unger, A. De 
De Aldama, H. A. Genevois, D. Férnandez, E. Dublanchy, F. 
Vernet[8], Questen[9]. 
O Pe. Philip J. Donnelly, no estudo já citado, defende a opinião 
de que não há nos escritos de Santo Irineu uma prova cabal da 
virgindade de Maria no parto, embora não exista nada nela que 
ensine o contrário: 
“Então, levou a Santo Irineu sua maravilhosa penetração na 
doutrina da concepção virginal a tomar alguma posição 
definitiva em relação à virgindade de Nossa Senhora? Por 
desgraça, não foi assim; ao menos não poderia se provar pelos 
escritos autênticos que – em sua maioria traduzidos – chegaram 
até nós; nada nessas passagens traduzidas nos permite afirmar 
que Irineu sustentava a permanência da virgindade de Maria 
depois da anunciação, no nascimento de Cristo e depois deste 
até ao final de sua vida terrena. Alguns críticos creram-se 
autorizados a afirmar que Irineu defendeu a virgindade 
perpétua de Maria, mas não tem nenhuma prova decisiva para 
isso; por outra parte, devemos confessar que tampouco existem 
provas decisivas que demonstrem o contrário” (p. 655). 
Mas há especialistas que disseram que Santo Irineu nega 
expressamente o caráter virginal do parto de Maria: F. J. Turmel, 
L Coulange, H. Koch[10]. 
 
São Clemente de Alexandria: 
“Muitos mesmo em nossos dias pensam que Maria é uma mulher 
que sofreu dores no parto no nascimento de seu filho. Na 
realidade não sofreu dores de parto. Porque alguns dizem que, 
depois que pariu a seu Filho, uma parteira a examinou e a 
encontrou virgem. Assim são para nós as Escrituras do Senhor: 
dão à luz a verdade e permanecem virgens porque os mistérios 
da verdade permanecem ocultos. "Deus a luz e não deu a luz" (Is 
7,14; Jb 21,10; cita não literal; cf. Atos de Pedro, 24), diz a 
Escritura, como concebeu de si mesma, e não ajudada pela união 
de um acompanhante (lit.: acoplamiento).” (Stromata 7,16). 
Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais 
pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela 
Síria e Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou 
em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola 
catequética de Alexandria, no Egito) fizeram com que se 
estabelecesse ali até o ano 202, quando a perseguição de Sétimo 
Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadócia, 
onde faleceu pouco antes do ano 215. 
Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é 
notável. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 
360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 
do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o 
primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada 
Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, 
inclusive, de obras de literatura pagã. Clemente considerava o 
Cristianismo como a realização mais bela e o coroamento de 
todos os elementos de verdade dispersos na filosofia. 
Sobre essa passagem o autor do blog comenta: “ele afirma que 
essa opinião é negada por muitos de seu tempo. Destaca-se que 
ele se referia a cristãos. Na verdade, a virgindade no parto era 
uma crença presente entre os hereges docetistas”. E grifa em 
negrito o seguinte trecho do Pe. Philip para aparentemente 
confirmar esta posição: “Ele afirmava que não foi acreditado 
por um grande número, que desejavam manter que o nascimento 
de Cristo em relação à Sua mãe era perfeitamente normal e 
natural (...)”. 
O blogueiro é meio vago nas duas primeiras frases. Dá impressão 
que quer dizer que a opinião da virgindade no parto é negada por 
muitos na Igreja primitiva no geral e que só os hereges docetistas 
criam nisso. De qualquer forma, essa ambigüidade pode levar a 
muitos o pensamento de que o padre citado por ele, como 
referência, acreditava que Clemente de Alexandria estava 
apontando que muitos em toda a Igreja negavam a virgindade de 
Maria. Não é o caso. O Pe. Philip explica: 
“Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou 
Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente de 
Alexandria, que tinha opiniões muito definidas sobre a 
virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra 
que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século 
II” (p. 659). 
“Em contraste entre a atitude categórica de Clemente e as 
subseqüentes vacilações de Orígenes demonstra (e o que 
colabora assim Clemente) que os católicos de Egito criam que a 
questão da virgindade in partu era questão discutível e que não 
havia ainda sido resolvida definitivamente”. (p. 660) 
Como se vê o padre apenas diz que as passagens de Clemente de 
Alexandria (e Orígenes) apontam uma séria discussão no Egito 
e que muitos nessa região discordavam da opinião de Clemente 
de Alexandria. Não é possível usar o Pe. Philip como defensor 
da idéia de que muitos cristãos no mundo inteiro negavam a 
virgindade no parto e que só ou principalmente hereges 
docetistas acreditavam nisso. 
O Pe. Walter J. Burghardt em “Maria na patrística oriental” 
confirma isso: 
“Clemente é seco, mas instrutivo. Informa-nos que, até fins do 
século II, a virgindade de Maria em Belém era motivo de 
controvérsia no Egito, onde um bom número, e não a maioria 
dos cristãos, a negavam”(p. 503). 
E em nota de uma frase do mesmo parágrafo diz: 
“E. NEUBERT, Marie dans l’Eglise anténicéenne (Paris 1908) 
p.177 1778, pensa que leva a confusão sustentar que, de acordo 
com Clemente, a maioria dos cristãos negavam a crença. A 
dúvida não chegou as massas. Para eles, Maria era uma virgem 
e havia concebido a Deus. Como reconciliar estas afirmações 
não era preocupação sua, esta é também a atitude dos fiéis em 
geral hoje em dia”. 
 
Tertuliano: 
“Deu a luz porque produziu um descendente de sua própria 
carne; não o deu, porque o fez sem intervenção de varão. Foi 
virgem em relação ao marido, não o foi em relação ao parto... A 
que deu a luz o fez verdadeiramente, e se foi virgem quando 
concebeu, no parto foi esposa... O seio da Virgem se abriu de um 
modo especial, porque havia sido selado especialmente. De fato 
se deveria chamá-la não tanto “uma virgem” como “a virgem” 
que se fez mãe sem transição, como se disséssemos, antes de ser 
esposa”(De Carne Christi, 23). 
Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 
195, se converteuao Cristianismo e chegou a se tornar em um 
notável escritor eclesiástico. Infelizmente, por aderiu 
abertamente à heresia de Montano. 
Normalmente se interpreta essa passagem como uma negação da 
virgindade de Maria no parto por parte de Tertuliano. No 
entanto, o grande teólogo Francisco Suárez (1548-1617), com 
sua razoabilidade que lhe é peculiar, pensava diferente: 
“Pois, embora Tertuliano seja obscuro; no entanto, a partir de 
seu livro De Carne Christi (De Carne Christi, 20), é 
suficientemente claro que ele era ortodoxo sobre a questão do 
nascimento virgem. Sugiro, no entanto, que antes de tudo não 
devemos usar essa maneira de falar, sem explicação adequada 
e clara, uma vez que é metafórica e facilmente capaz de criar 
uma falsa impressão. Portanto, a referida lei deve ser dada não 
uma literal, mas uma interpretação mística. Pois 
adequadamente a frase “o filho abriu o útero”, refere-se a todo 
útero que é parcialmente aberto no momento da concepção, não-
obstante, no primeiro nascimento a ruptura do hímen é, como se 
fosse completado e terminado. Assim, a lei sobre todo o 
primeiro-nascido foi entender-se não só aos homens, mas 
também para os animais.” (The Dignity and Virginity of the 
Mother of God, Disputations I, V, VI from The Mysteries of the 
Life of Christ, translated by Richard J. O’Brian, S. J., 1954) 
Seja como for, mesmo que Tertuliano negue a virgindade de 
Maria no parto devemos prestar atenção a essa explicação do Pe. 
Walter J. Burghadt, S. I, em Maria na patrística ocidental sobre 
a passagem no De Carne Christi: 
“Tertuliano é claro, mas desagradável. Não pede apoio a 
tradição ou a uma opinião comum, e, por outra parte, 
tampouco é consciente de estar contradizendo o ensinamento 
oficial da Igreja. Existiu alguma tradição na África sobre a 
virgindade de Maria anterior ao Concílio de Nicéia? Trata-se 
somente de um afã polêmico, de uma questão de amor próprio 
por parte de Tertuliano? Não encontramos nada que aclare a 
questão nem em Cipriano nem em Arbonio, nem em Lactancio. 
Uma coisa podemos afirmar, a que não é justificável sacar a 
conclusão, partindo de Tertuliano, de que esta opinião é um 
eco do pensamento teológico corrente então na Igreja africana 
(Cf. J. JOUASSARD, Marie à travers la patristique: Maternité 
divine, virginité, sainteté, em Maria. Études sur la Vierge, Ed. 
H. DU MANOIR, vol. 1 (Paris 1949) p. 77-78. Todo este artigo 
(p. 69-157) está cheio de informação e é rico em considerações: 
cf. a bibliografia anotada nas p. 154-157)”. (p. 123) 
O Pe. Philip J. Donnelly no trabalho já citado explica: 
“Tertuliano, em sua honradez, nunca pretende que sua 
doutrina seja tradicional nem apela a nenhuma autoridade 
dogmática; por outra parte, não manifesta a mais ligeira 
consciência de que suas negações da virgindade perpétua de 
Nossa Senhora contradigam alguma tradição que seja 
conhecida para ele. Daqui que não podemos evitar inquirir se 
existia tal tradição na África de Tertuliano. (...) Nada há, por 
outra parte, que nos autoriza a crer que as opiniões de 
Tertuliano representem os sentimentos da Igreja africana de 
seus dias; é perfeitamente possível e talvez provável que o 
temperamento fogoso de Tertuliano lhe fizesse aferrar-se a 
certas atitudes singulares neste como em outros pontos. É 
igualmente possível, até onde podemos julgar por escritos 
contemporâneos a nosso alcance, que expusesse ele livremente 
suas crenças sem que nem remotamente temesse causar 
escândalo, e ainda sem que na realidade o causasse – ao menos 
não há prova do contrário-. A Igreja africana parece haver sido 
reservada em extremo em suas declarações oficiais em relação 
à Santíssima Virgem” (p. 657). 
O autor do blog tratando de Tertuliano explica que este era contra 
a virgindade perpétua de Maria por entender que a virgindade ou 
continência não eram superiores ao matrimônio. Esta não é a 
visão de Tertuliano, como podemos ler: 
“Pois nós [montanistas] não rejeitamos o casamento, mas 
simplesmente abstemos-nos dele. Nem nós prescrevemos a 
santidade como a regra, mas apenas recomendamos observá-
lo como um bem, sim, o melhor estado, se cada homem usa-o 
cuidadosamente de acordo com a sua capacidade; mas ao 
mesmo tempo justificando sinceramente o casamento, sempre 
que os ataques hostis são feitos contra ele, é uma coisa 
contaminada, para depreciação do Criador. Pois Ele deu a Sua 
bênção sobre o matrimônio também, como um estado honroso, 
para o aumento da raça humana; como Ele fez, na verdade em 
toda a Sua criação, para o uso saudável e bom.” (Contra 
Marcião I.XXIX) 
“Concupiscência, no entanto, não é atribuída ao casamento, 
mesmo entre os gentios, mas aos pecados extravagantes, não 
naturais, e enormes. A lei da natureza se opõe ao luxo, bem como 
a grosseria e impureza; que não proíbe a relação sexual 
conjugal, mas a concupiscência; e cuida do nosso vaso pelo 
estado honroso do matrimônio. Esta passagem (do apóstolo) 
gostaria de tratar de forma a manter a superioridade da outra 
e maior santidade, preferindo a continência e a virgindade do 
que o casamento, mas não significa que proíbimos o último. 
Pois minha hostilidade é dirigida contra aqueles que querem 
destruir o Deus do casamento, não aqueles que seguem a 
castidade.” (Contra Marcião V.XV) 
Portanto, parece falso querer atribuir a Tertuliano a visão de que 
a virgindade ou continência não eram superiores ao matrimônio. 
Autores costumam assinalar esta obra (207-208) ao período 
semi-montanista (207 – 212) de Tertuliano. 
Mesmo em relação ao tratado Ad uxorem, onde Tertuliano chega 
a valorizar relativamente o matrimônio, Luis M. de Cadiz 
comenta: 
“No tratado Ad uxorem [À esposa] expõe Tertuliano suas idéias 
acerca do matrimônio cristão e as segundas núpcias. O 
matrimônio é por sua natureza inferior ao estado de virgindade; 
as segundas núpcias são quase ilícitas. Pelo que aconselha a sua 
mulher que, se ele chegar a morrer, fique viúva para sempre ou, 
se voltar a casar-se, o fizesse com um cristão; pois os 
matrimônios mistos, com pagãos, estão cheios de 
inconvenientes”. (História de la Literatura Patristica, Nova, p. 
255) 
Segundo Questen, Tertuliano exaltou de tal forma a virgindade 
e a continência que acabou por negar o valor do matrimônio: 
"A Exortação à castidade a dedicou Tertuliano a um amigo que 
acabava de perder a sua esposa... Seu desvio montanista se faz 
patente. Enquanto no tratado Ad uxorem exaltou as vantagens 
do matrimônio cristão, neste parece que deplora e o considera 
como uma espécie de libertinagem legítima. Pelo contrário, 
exalta a virgindade e a continência. Para este fim cita mesmo a 
visionária montanista Prisca: "A santa profetisa Prisca declara 
igualmente que todo santo ministro saberá como administrar as 
coisas santas. Porque - disse ela - a continência produz a 
harmonia da alma e os puros vêem visões, e inclinando-se 
profundamente, ouvem vozes que lhe dizem palavras de salvação 
e secretas" (c. 10). Apesar disso, não há nenhum indício de que 
Tertuliano houvesse já rompido com a Igreja quando escreveu 
este tratado. Se há de datá-lo, portanto, entre 204 e 212". 
(Patrologia, v. I, bac, 1978 (originalmente publicada em 1950-
1953), p. 602) 
Acrescenta o Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs: 
“Sob influxo do montanismo, Tertuliano parece considerar o 
casamento como um vício legítimo e por esta razão exalta a 
virtude da virgindade e da continência”. (Vozes, 2002, p. 270) 
Sobre a obra De Monogamia, João Batista Lourenço comenta: 
“Para atacar as segundas núpcias, recorre a freqüente 
sofismas, ataca o próprio casamento e a família, chegando aafirmar que o matrimônio é um mal menor, que Deus 
simplesmente tolera”. (Curso de Patrologia: História da 
Patrologia antiga da Igreja , p. 184) 
Sobre a posição docetista é preciso esclarecer que ela não era 
uma seita herética que com a crença da virgindade de Maria no 
parto queria louvá-la ou mostrar que a virgindade é superior ao 
matrimônio, mas, na verdade, estava preocupada em contestar a 
Encarnação de Jesus Cristo. 
Explica o Pe. Walter J. Burghardt em nota na página 121 do 
estudo Maria na patrística ocidental: 
“Alguns docetistas sustentam que Jesus Cristo não teve um 
corpo genuinamente humano como todos os homens. Outros 
admitem em Jesus Cristo um corpo humano, mas sustentam que 
Cristo desceu do céu com dito corpo; que não nasceu de uma 
virgem, ex virgine, mas que simplesmente passou, per 
virginem”. 
Outro herege gnóstico, que Tertuliano combateu, foi Marcião, 
que chegava a afirmar que Cristo desceu do céu sem o 
nascimento de uma Virgem (cf. The Catholic Encyclopedia, 
volume 5, 1909, pp. 70-72). Portanto, completamente diferente 
é o caso. Argumentar usando os docetistas é tão vazio quanto 
argumentar usando os ebionistas, que criam que Jesus Cristo era 
filho biológico de Maria com José (portanto, não acreditavam na 
virgindade perpétua de Maria), contra os protestantes. 
Levando a doutrina docetista, referida, em consideração se 
explica a reação de Tertuliano que, pelo menos, aparentemente, 
é contrária ao parto virginal de Maria. O Pe. J. A. De De Aldama 
em sua obra Virgo Mater: Estudos de Teologia Patrística, assim 
explica: 
“Muito frequentemente o que se urgia era dificuldade de salvar 
em um parto virginal as exigências da extensão corpórea. Mas 
ainda posto assim, no fundo era o conceito mesmo de um parto 
e uma maternidade verdadeiramente humanos, o que parecia 
levantar uma barreira intransitável diante as pretensões de um 
parto estritamente virginal. Assim o viu com especial nitidez 
Ratramno. Diante do problema assim suscitado estava excluída 
de antemão a posição gnóstica, que negava um dos termos, a 
verdadeira maternidade humana de Maria. Por isso o que se 
tentou foi negar o outro termo, a total integridade corporal no 
parto. E por conseqüência, como com perfeita lógica o 
proclamaram Tertuliano e Jovianiano (magis non virgo 
dicenda quam virgo, non virgo a partu), a virgindade in partu 
de Maria. Mas negar um dos termos do problema não era 
solucioná-lo, mas antes suprimi-lo na raiz. Os Santos Padres e 
os escritores medievais mantiveram fielmente a existência 
simultânea de ambos termos do problema. Para resolvê-lo 
acudiram à onipotência de Dues, que atua além de todas as leis 
da natureza. Essa solução é a que nos dá expressamente Santo 
Agostinho como solução da Igreja; e nela baseou São Martinho 
I toda sua refutação do monoteleta Teodoro de Farão. Ao longo 
da literatura patrística esse tema recorre como uma explicação 
perfeitamente adquirida. Retramno, Pascasio Radberto, 
Honorio de Autun reproduzem idênticos pensamentos como 
pertencentes à doutrina da Igreja” (ano 1963, Granada, pp. 
299-300). 
Sobre Tertuliano ter deixado a Igreja é um posicionamento que 
até décadas atrás era consenso entre os estudiosos (defendido 
mesmo por protestantes, como Von Harnack, von 
Campenhausen[11]), mas essa posição começou a ser contestada 
por estudiosos protestantes, principalmente. 
A título de exemplo, dois especialistas que crêem que Tertuliano 
deixou a Igreja: 
Questen: "A partir do ano 207 passou abertamente ao 
montanismo, e chegou a ser chefe de uma de suas seitas, 
chamada dos tertulianistas, que perdurou em Cartago até a 
época de Santo Agostinho" (ibid, p. 546) "Na introdução e 
capítulo primeiro aparece já claro que havia renunciado à 
influência moderadora da Igreja e que havia passado 
definitivamente aos montanistas.(Questen, p. 602) 
João Batista Lourenço: "A rigidez da sua têmpera e o seu feitio 
levaram-no a simpatizar com o rigorismo dos Montanistas, que, 
erradamente, supunha serem mais perfeitos que os católicos e, 
quando aí por 213 teve conhecimento de que o Montanismo fora 
condenado em Roma, rompeu com a Igreja e emparelhou com 
os Montanistas nos seus ataques contra ela. Mas, desta data em 
diante, a atividade literária de Tertuliano não fez senão diminuir 
até o seu nome se obscurecer, como o sol que cai no ocidente. S. 
Jerônimo diz que ele chegou a uma avançada idade, vindo a 
falecer em data incerta, entre os anos de 240 e 250. No fim da 
vida, fora da verdade, desarmonizou-se com os Montanistas e 
tornou-se chefe de um pequeno partido, o dos tertulianistas. 
Triste fim de um grande homem”. (p. 172) 
Santo Agostinho chama Tertuliano de herege e explica: 
“TERTULIANISTAS, de Tertuliano, de quem muitos livros escritos 
eloquentissimamente são lidos, decaindo pouco a pouco até 
nossos dias, puderam durar em suas últimas relíquias na cidade 
de Cartago. Mas estando eu ali faz alguns anos, como creio que 
tu também te lembrarás, acabaram-se de todo. Com efeito, os 
pouquíssimos que haviam ficado passaram à Católica, e sua 
igreja, que agora é também famosíssima, a entregaram à 
Católica. Tertuliano, pois, como está em seus escritos, diz que a 
alma certamente é imortal, mas que ela luta por seu corpo, e não 
somente ela, mas até o próprio Deus. Sem embargo, não se 
chama ele de herege por isto. Já que de algum modo se poderia 
pensar que a mesma natureza e substância divina a chama 
corpo, não este corpo cujas partes possam e devam pensar-se 
umas maiores e outras menores, como são os que propriamente 
chamamos corpos, mesmo quando sobre a alma opine alguma 
outra coisa; mas, como dito, se pode por isso pensar que chama 
a Deus corpo porque não é nada, não é vazio, não é qualidade 
do corpo ou da alma, mas tudo em todas partes, e não repartido 
por espaço algum local, permanece imutavelmente em sua 
natureza e substância. Por isto Tertuliano não é herege, mas 
porque, passando-se aos catafrigas, a quem antes havia 
destruído, começou também a condenar as segundas núpcias 
como estupros contra a doutrina apostólica. Depois, separado 
deles, propagou seus grupúsculos. Ademais, também diz que as 
almas dos homens péssimos, depois da morte, convertem-se em 
demônios”. (As Heresias, 86). 
Sobre a citação de Sullivan por parte do autor do blog há um 
ponto que não podemos perder de vista: uma coisa é se afastar 
das estruturas visíveis da Igreja Católica e outra é se afastar da 
Igreja por heresia. Uma pessoa que professa uma heresia, de 
modo pertinaz e não oculta, está fora da Igreja, ainda que 
continue indo à igreja, recebendo os sacramentos e tendo contato 
com os fiéis da paróquia que freqüentava. Desse modo é possível 
interpretar a fala de Francis Sullivan: “não há evidência de que 
tenha deixado a Igreja Católica para se juntar ou formar um 
grupo cismático”. Isso não indica que Tertuliano não possa ter 
se tornado herético, e, portanto, afastado-se da Igreja, Corpo 
Místico de Cristo. O próprio Francis Sullivan também diz em sua 
obra: “Vamos começar a discussão de seus escritos citando 
algumas passagens de duas de suas obras contra hereges: uma 
de seu período Católico, e a outra de seu período Montanista” 
(From Apostles to Bishops: The Development of the Episcopacy 
in the Early Church, pp. 154-155) E pouco antes: ‘Os escritos de 
Tertulianos são divididos entre aqueles de seu período 
totalmente Católico (196-206) e aqueles mostrando a influência 
de sua aderência à "Nova Profecia" ou Montanismo” (p. 154). 
E mais: “Nesta obra de seu período Católico, Tertuliano 
argumentou contra os Gnósticos...” (p. 155) “Escrevendo tanto 
como um Católico(N.do.T: O Pe. Sullivan antes citava um 
escrito de Tertuliano de seu período Católico que defendia a 
sucessão apostólica) quanto como um Montanista, Tertuliano 
fornece uma testemunha importante ao fato de que até o final do 
secundo século cada igreja era liderada por um bispo e que estes 
bispos foram entendidos como os sucessores dos apóstolos” (p. 
160). Em suma: Sullivan parece opinar que Tertuliano 
materialmente nunca deixou as estruturas visíveis da Igreja 
Católica, nem deixou a Igreja Católica para juntar-se ou fundar 
um grupo cismático, mas não nega e mesmo supõe que 
formalmente deixou a Igreja por suas heresia(s) e/ou cisma. 
 
Santo Hipólito de Roma (170 – 235): 
"...corpo de Maria toda santa, sempre virgem, por uma 
concepção imaculada, sem conversão, e se fez homem na 
natureza, mas em separado da maldade: o mesmo era Deus 
perfeito, e o mesmo era o homem perfeito, o mesmo foi na 
natureza em Deus, uma vez perfeito e homem." (As obras e 
fragmentos. Fragmento VIII) 
O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora 
saiba-se que foi discípulo de Santo Irineu de Lião. Seu grande 
conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria 
psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era 
presbítero em Roma, onde Orígenes - durante sua viagem à 
capital do Império - o ouviu pronunciar um sermão. 
Por ocasião do problema da readmissão na Igreja dos que haviam 
apostatado durante alguma perseguição, estourou um grave 
conflito que o colocou em oposição ao Papa Calisto, já que 
Hipólito mostrava-se rigorista neste assunto, ainda que não 
negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados. Tão 
forte foi a oposição, que acabou por se separar da Igreja e, eleito 
bispo de Roma por um reduzido círculo de amigos, tornou-se o 
primeiro antipapa da História. O cisma se prolongou até a morte 
de Calisto, durante o pontificado de seus sucessores Urbano e 
Ponciano. Encerrou-se no ano 235, pela perseguição de 
Maximino, quando Hipólito e o papa legítimo (Ponciano) foram 
desterrados para as minas da Sardenha, onde se reconciliaram. 
Ali os dois renunciaram ao pontificado, para facilitar a 
pacificação da comunidade romana que, deste modo, pôde eleger 
um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano 
quanto Hipólito morreram [ali] no ano 235. 
A impressão do blogueiro está correta quanto a essa obra, 
“Contra os hereges Berão e Félix sobre a doutrina de Deus e a 
encarnação”, ser apócrifa. Sobre ela o Pe. J. A. De De Aldama, 
na obra já citada, comenta em nota de rodapé: 
“Igualmente apócrifo é o texto atribuído a Hipólito, Contra 
Beronem et Heliconem (PG 10, 840A). Cf. BARDENHEWER 2, 
570; HARNACK. Ueberlieferung 1, 664” (p. 290)[12]. 
E Luis M. de Cadiz em História da Literatura Patrística 
concordando que a obra é de autenticidade duvidosa nos 
informa: “do qual nos conserva alguns fragmentos extensos 
Anastásio, o Apocrisiário” (Buenos Aires,1954, p. 262) 
Anastásio, o Apocrisiário, foi um cristão da segunda metade do 
século VII. 
Pode-se objetar, ainda, com certa probabilidade, que a expressão 
“sempre virgem” não quer dizer necessariamente virgindade no 
parto se se toma a palavra “virgem” somente quanto a não haver 
tido relação sexual com um varão (cf. Walter J. Burghardt, Maria 
na patrística oriental, p. 505, nota 94). Adiante, quando tratarmos 
da concepção de Orígenes voltaremos para esse ponto com mais 
explicações. Digo probabilidade, pois, por outro lado, é evidente 
que a expressão foi usada por Santos Padres da Igreja, e mesmo 
por documentos papais, para significar também a integridade 
virginal no parto, enquanto, não conhecemos qualquer prova 
clara dos escritos dos Pais da Igreja que a expressão fosse 
empregada sem supor o parto virginal. 
O autor protestante conclui: “Carol ainda cita vários outros pais 
da igreja e expressa que a virgindade perpétua não encontra 
nenhum testemunho a favor”. Na verdade, o Pe. Philip J. 
Donnely em nenhum momento afirma isso. Pelo contrário. O Pe. 
Philip afirma que a virgindade perpétua de Maria está presente 
no Proto-Evangelho de Tiago e em outros apócrifos: 
“No texto, tal e como se conserva, há um claro reconhecimento 
da virgindade de Nossa Senhora, não só antes do nascimento 
de Cristo, mas também durante o parto e depois dele, o que não 
quer dizer que se professasse esta crença nem se expressasse da 
mesma maneira no original, ou melhor dito nos trabalhos 
originais, cuja compilação no século III – segundo a crítica 
interna afirma – foi origem ao atual Proto-Evangelho. Sem 
embargo, deve haver sido doutrina corrente a da virgindade 
perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam 
em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso 
temos em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele 
atribui a São Pedro e no qual os chamados irmãos do Senhor, 
que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de 
José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de 
Isaías e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a 
apresentar o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há 
razões, portanto, para afirmar que se cria na virgindade 
perpétua de Maria desde o século II” (p. 655-656). 
Também diz: 
“Assim, pois, até o final do século II, somente encontramos 
evidência fragmentária acerca da crença na virgindade 
perpétua de Nossa Senhora; quando mais, nos revelam que 
circulavam então uma série de opiniões interessantes acerca da 
virgindade em e depois do nascimento de Cristo” (p. 656). 
Em relação Clemente de Alexandria, o padre comenta: 
“Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou 
Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente 
de Alexandria,que tinha opiniões muito definidas sobre a 
virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra 
que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século 
II. As alusões de Clemente a Nossa Senhora são breves; mais, se 
a adaptação latina das Adumbrationes in Epistolas Catholicas 
expressam com exatidão as opiniões do autor, certamente 
defendeu a virgindade depois do parto, e talvez fosse ele um dos 
ascetas, citados por Orígenes, que se negavam a aceitar a 
possibilidade que Maria houvesse tido outros filhos depois do 
nascimento de Cristo” (p. 659). 
O padre ao longo do estudo vai citar uma série de Pais da Igreja 
a favor da virgindade perpétua de Nossa Senhora. Quanto aos 
antigos que ele nomeia singularmente (Santo Hipólito, Cipriano, 
Novaciano, Arbonioe, Lactâncio, etc), ele está lamentando que 
não testemunhem claramente sobre o assunto seja a favor ou 
contra, pois no parágrafo anterior ele citava os testemunhos de 
Tertuliano, Orígenes e Clemente que nos ajudam como a 
situação estava em alguns lugares: 
“Sem dúvida que os testemunhos de Tertuliano, Orígenes e 
Clemente, tomados em conjunto e alheio de outras 
considerações, não seriam suficientes para constitui-los em 
testemunhos das crenças de todo o mundo cristão 
contemporâneo, mas nestes três autores temos as três 
personalidades relevantes do pensamento na África, Egito e 
Palestina; indiretamente ao menos, refletem a mentalidade da 
Ásia Menor, se não de todo o Oriente; a própria Roma não pode 
excluir-se, já que Tertuliano era perfeito conhecedor das 
opiniões romanas; Orígenes não somente havia estado em 
Roma, mas havia viajado desde Itália até Arábia passando por 
Grécia. Enquanto a Clemente era também inveterado viajante e 
o foi até o final de seus dias.” (p. 661) 
Outra conclusão do autor do blog foi: “Isso nos permite concluir 
que para os três primeiros séculos do cristianismo não dispomos 
de nenhumtestemunho confiável a favor da virgindade perpétua 
de Maria, muito menos como um artigo de fé obrigatório para 
os cristãos”. 
Os testemunhos dos Apócrifos são claros e se não são confiáveis 
para recebê-los como históricos naquilo que relatam, são 
confiáveis, pelo menos, para conhecer o pensamento dos cristãos 
primitivos. Nem Orígenes, nem Tertuliano, nem Clemente dão 
testemunho histórico de que Maria foi ou não foi sempre virgem. 
Nenhum deles diz estar referindo uma tradição apostólica que 
chegou até eles. O valor histórico deles e dos apócrifos é 
extrínseco, está em mostrar a crença dos cristãos primitivos e não 
outra coisa. Depois de tratarmos dos escritores dos 3 primeiros 
séculos poderemos fazer um balanço dos testemunhos até aqui 
encontrados. 
 
Orígenes (185 - 254): 
“Os meninos varões que eram santos por haver aberto ao seio de 
sua mãe, eram oferecidos diante do altar do Senhor: “Todo filho 
varão que abre o seio”, diz (Ex 34, 23), significa algo sagrado. 
Na realidade, qualquer varão que menciones não abre o seio de 
sua mãe do modo que o Senhor Jesus o fez, considerando que 
não é parto, mas o concurso de varão o que abre o seio das 
mulheres. Mas o seio da Mãe do Senhor estava fechado quando 
chegou a hora do parto; porque antes do alumbramento de Cristo, 
aquele santo seio, digno de toda estima e veneração, não havia 
conhecido o mais ligeiro contato de varão” (Hom. 17 in Lucam) 
"Pois o Legislador acrescentou esta palavra para distinguir 
aquela que "concebeu e deu à luz" sem semente de outras 
mulheres, a fim de não designar como "impura" toda mulher que 
deu à luz, mas a que "deu à luz por receber semente". Também 
pode ser acrescentado a isto o fato de que esta Lei, que trata sobre 
a impureza, pertence às mulheres. Mas a respeito de Maria, diz-
se que "uma virgem" concebeu e deu à luz. Portanto, deixem que 
as mulheres carreguem os fardos da Lei, mas deixem que as 
virgens sejam imunes a elas." (Lev. hom. 8, 2) 
“Chegou-nos a este respeito certa tradição: há no templo um 
lugar onde as virgens se detêm e oram (adoram?) a Deus; mas as 
que conheceram concurso de varão não lhes está permitido 
permanecer ali. Pois bem, depois de dar a luz ao Salvador, Maria 
entrou, adorou e permaneceu naquele lugar reservado às virgens. 
Os que sabiam que havia dado a luz um filho a trataram de retirá-
la dali, mas Zacarias... disse-lhe: “És digna de ocupar o lugar 
reservado às virgens, porque é ainda virgem””. (Comm. In 
Matthaeum ser.25) 
Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. 
Viveu em Alexandria até o ano 231, passando os últimos 20 anos 
de sua vida em Cesaréia Marítima (Palestina) e viajando pelo 
Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de seu 
tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da 
Bíblia. 
Essas passagens fizeram que os especialistas se dividissem 
quanto se Orígenes cria ou não na virgindade de Maria no parto. 
O Dicionário de Mariologia, dirigido por Stefano de Fiores e 
Salvatore Meo, ano 1995, da Paulus, resume bem as posições: 
"Parece, porém, que Orígenes, ao contrário de Tertuliano que 
nega o parto virginal, considera a virgindade permanentemente 
de Maria como dado não contradito por parto normal: "O ventre 
da mãe do Senhor foi aberto no instante em que teve lugar o 
parto". Essa interpretação, aceita e assumida por K. Rahner, J. 
Galot, H. Crouzel e G. Soll, não é compartilhada por F. 
Spedalieri, que observa que Orígenes não considera "pura" uma 
virgem violentada (ainda que não possa chamá-la de 
"impudica" no coração) e, por outro lado, atribui ao corpo de 
Jesus os privilégios próprios do corpo ressuscitado: a abertura 
do ventre exprimiria somente o dar à luz sem especificar o modo 
(F. Spedahert, Maria nella Scriptura e nella tradizione della 
chiesa primitiva, II/1, Herder, Roma, 1968, pp. 304-307). (p. 
1329) 
Entre os partidários da opinião que ele acreditava no parto 
virginal de Maria também estão: Ludwing[13], Emile 
Neubert[14], J. Huhn[15], Lehner[16], Questen[17], 
Roschini[18]. Merkelbach crê que talvez Orígenes mudou de 
opinião (depois do ano de 244) aceitando a virgindade de Maria 
no parto[19]. 
O autor do blog apresenta a seguinte citação do Pe. Philip J. 
Donnelly: “Há uma perspectiva bastante diferente entre 
Tertuliano e Orígenes sobre a virgindade perpétua de Maria. 
Depois de examinar de perto estas divergências e seus 
fundamentos, dificilmente se pode evitar a impressão de que a 
resposta pode ser encontrada em práticas ascéticas cristãs e na 
medida em que elas influenciaram esses dois autores. Tertuliano 
foi, sem dúvida, um asceta, mas como em todas as outras coisas, 
de acordo com suas próprias luzes e temperamento singular”. 
Dela infere: 1) que a crença na virgindade de Maria deriva da 
ideia “errada” da crença do ascetismo da superioridade da 
virgindade e continência frente ao matrimônio e atribui ao Pe. 
Philip o tocar neste “ponto fundamental que explica o principal 
fundamento do aparecimento e desenvolvimento da virgindade 
perpétua na igreja”; 2) Pelo fato de Tertuliano, assim como 
Orígenes, também ser um asceta, mas negar a virgindade pós-
parto de Maria “isso coloca ainda mais peso em seu testemunho, 
pois mostra que não tinha alguma pré-disposição para negar a 
virgindade perpétua”, a pré-disposição seria no sentido 
contrário. 
O autor do blog fala de tal modo que confunde. O leitor é levado 
a pensar que as conclusões do blogueiro também são teses do 
próprio Pe. Philip. O blogueiro mistura as premissas do padre e 
as suas, e daí tira suas conclusões pessoais, mas que dão toda a 
aparência de estarem fundamentadas no escrito do padre pelo 
modo que o autor se expressou e cortou os trechos do padre. 
Primeiro, o Pe. Philip não demonstra ter uma visão negativa do 
ascetismo, pois é na verdade, muito elogioso ao ascetismo e vê 
com bons olhos a influência que o ascetismo teve para o 
desenvolvimento da doutrina da virgindade perpétua de Maria. 
Ele diz: “a prática do ascetismo levado para a virgindade deu 
para aqueles homens luz espiritual e sobrenatural intuição, 
necessária para entender os privilégios de Maria” (p. 678). 
Portanto, a noção de virgindade do ascetismo, de acordo com o 
Pe. Philip, foi algo importante e bom, que fez os seus adeptos 
receberem luz espiritual e intuição sobrenatural para entender os 
privilégios de Maria. Diz ainda: “Gradualmente e com o apoio 
da hierarquia, sempre crescente, começaram a prevalecer as 
opiniões dos ascetas. Sem que fossem infalíveis e em que pese a 
algum que outro erro, tiveram, em geral, mais clara e profunda 
percepção que seus antagonistas” (p. 677). 
Além disso, o ascetismo se define por exercícios espirituais com 
a finalidade de adquirir os hábitos de virtudes. É um esforço, um 
meio, para alcançar a perfeição. Ademais, não se pode confundir 
o ascetismo em si, que teve vários santos Padres da Igreja, com 
excessos ascéticos de indivíduos ou de seitas heréticas. E, 
embora, o ascetismo primitivo (digo, aquele que a Igreja não se 
opunha) pregasse a castidade e o fervor na oração, viviam no 
mundo sem romper necessariamente seus laços e obrigações 
comuns da vida diária. O historiador católico Daniel-Rops, 
citando dois ascetas notórios, explica como era o entendimento 
dos cristãos: 
“A própria mudança se operou na atitude do homem para com 
os bens deste mundo. Não é que, sistematicamente, o fiel devesse 
rechaçá-los. Não temos que representar aos membros desta 
primitiva Igreja como um povo de monges e de ferozes ascetas. 
"Nós temos presente - disse Tertuliano - o reconhecimento quedevemos a Deus. Não recusamos nenhum dos frutos de suas 
obras". O que condenava o Cristianismo era o abuso, era o 
excesso de afeição que o homem punha nestes bens da terra e 
que lhe fazia desconhecer seu verdadeiro sentido e seu limitado 
valor. Clemente de Alexandria e muitos outros Padres 
denunciaram vigorosamente o luxo, os vestidos de ricos 
corantes, "os sapatos bordados de ouro, sobre os quais os 
pregos se enrolam em espirais", e a desmesurada gula dos ricos 
com seus rebuscadas gastronomias e "a vã habilidade dos 
confeiteiros". O ensinamento da Igreja consistia em usar de tudo 
o que Deus deu aos homens com agradecimento e com 
moderação, sem perder de vista as riquezas celestiais, que eram 
as únicas estáveis, e o alimento celeste, que era "o único prazer 
firme e puro". (La Iglesia de los Apóstoles y de los Mártires, 
1955, España, p. 229) 
O Dicionário de Teologia de Heinrich Fries, em seu quinto 
volume, no verbete “virgindade”[20] explica que o ascetismo 
tem uma relação muito íntima com o martírio dos primeiros 
cristãos. Como se vê, mais uma influência benéfica. 
O padre também não diz que o testemunho de Tertuliano, em 
relação ao de Orígenes, teria mais peso em razão do primeiro ser 
asceta e não ter pré-disposição de negar a virgindade perpétua de 
Maria, enquanto Orígenes teria pré-disposição para aceitar a 
virgindade de Maria pós-parto. O padre não faz essas 
considerações. Na verdade, quem ler o estudo do padre verificará 
que ele estava dizendo que Tertuliano estava tratando a questão 
de modo apaixonado e violento, enquanto Orígenes tratou a 
questão sem considerações polêmicas, mas enfrentando o 
problema de forma franca e desinteressada. 
Com o trecho mais completo podemos visualizar bem essa idéia: 
“Entre Tertuliano e Orígenes existe uma grande diferença 
quando tratam da perpétua virgindade de Maria; depois de 
examinar as exigências de opinião e seus fundamentos, 
dificilmente se pode evitar a impressão de que a explicação está 
no grau de influência que as práticas de ascética cristã 
exerceram sobre ambos autores. Tertuliano era 
indubitavelmente um asceta, mas nisto, como em tudo demais, 
seguindo suas próprias luzes e seu temperamento singular; com 
sua crescente tendência montanista seu espírito de controvérsia 
se fez cada vez mais apaixonado, especialmente em seus escritos 
referentes à virgindade de Maria. Neles, sua principal 
preocupação foi descobrir acerados argumentos ad hoc contra 
adversários determinados; daqui os tons e atitudes violentas que 
adota ao falar de Maria, somente com o objeto de inchar sua 
polêmica. Orígenes, por outro lado, ao tratar da virgindade 
perpétua de Maria depois do nascimento de Cristo, o faz sem 
ulteriores considerações polêmicas. Enfrenta-se com o 
problema franca, objetiva e desinteressadamente. Sem embargo, 
e segundo admissão própria, suas soluções se inspiram nas 
opiniões de certos ascetas contemporâneos que levavam a vida 
de virgindade consagrada”. (p. 658) 
Voltando sobre a questão da influência do ascetismo sobre o 
desenvolvimento do dogma, é preciso acrescentar que outros 
teólogos não vêem o ascetismo como a principal influência 
(como o viu o Pe. Philip) para o desenvolvimento do dogma. 
Eamon R. Carrol na mesma obra, no estudo María en el 
magisteiro de la Iglesia, comenta: 
“É certo que se exaltou seu aspecto ascético, sobretudo, por 
respeito ao celibato dos clérigos; mas esse não foi o motivo 
principal da defesa da perpétua virgindade de Maria. Foi mais 
o que impulsionou para apresentar à Igreja uma fórmula que 
definisse a doutrina” (p. 15) 
O Pe. Walter J Burghardt por sua vez, em Maria en la patrística 
oriental, diz: 
“A influência dominante que motivava sua convicção (N.do.T: 
de Orígenes) não eram suas idéias ou ideais ascéticos (que em 
matéria de matrimônio eram muito severos), por muita 
importância que lhes seja concedida; nem os livros apócrifos 
como o Proto-Evangelho de Tiago, por muito que pôde este 
proporcionar uma exegese plausível para os “irmãos”, nem 
ainda o silêncio da Sagrada Escritura acerca das relações de 
Maria e José depois de Belém. A inspiração fundamental que 
sustenta a convicção de Orígenes e muitos contemporâneos 
sobre a virgindade de Maria era puramente teológica: uma 
persuasão fundadíssima de que o corpo de Nossa Senhora foi 
consagrado irrevogavelmente ao Espírito Santo e ao Verbo pela 
encarnação”. (p. 510-511) 
Em relação a outra citação que o blogueiro protestante colocou 
do padre vejamos a última frase: “Jouassard é da opinião que 
Rufino muito provavelmente reescreveu o texto original de 
Orígenes para torná-lo conforme a sua visão pessoal de que 
Maria permaneceu virgem no parto”. Isso é só uma conjectura 
de Jouassard, que não é compartilhada por muitos estudiosos de 
peso como os citados acima. Além disso, o autor protestante não 
acrescentou a frase seguinte que é muito significativa: “J. Huhn 
se opôs recentemente a esta conjectura de Jouassard”.O 
blogueiro silenciou que essa tese de Jouassard foi prontamente 
criticada. Além disso, o blogueiro deixa parecer que o Pe. Philip 
concorda com a opinião de Jouassard. Na verdade, ele não opina 
a que lado está sobre se Rufino reformou ou não o original do 
“Comentário sobre o Levítico” de Orígenes para fazer crer que 
este acreditava na virgindade de Maria no parto. Mais adiante, 
ele acrescentará: “Seja o que for a decisão final dos 
entendidos...” (p. 659) Ele, portanto, não toma partido dessa 
divergência dos teólogos, embora creia que Orígenes expressava 
uma opinião contrária a virgindade de Maria no parto. 
O padre Philip é bem claro que para Orígenes, Maria 
permaneceu virgem toda sua vida: 
“Sustenta, além disso, Orígenes, não somente que Maria 
permaneceu virgem toda sua vida, mas que seus motivos eram 
de uma altíssima virtude e de genuína e excelsa santidade, ainda 
quando tivesse ligeiras deficiências e imperfeições. É verdade 
que Orígenes nunca usa a expressão “sempre virgem” – ao 
menos não no texto que agora possuímos -, mas é indubitável 
que defende a idéia; idéia que tomou, não da tradição 
propriamente dita ou do magistério eclesiástico, mas das 
opiniões de certos apóstolos partidários da virgindade”. (p. 
658) 
Ou seja, mesmo Pe. Philip, que acredita que Orígenes não 
expressava a virgindade do parto de Maria, esclarece que 
Orígenes ainda assim defendia que Maria sempre permaneceu 
virgem. O conceito de virgindade para Orígenes era não ter 
relações sexuais, segundo pensa o estudioso. Orígenes nunca 
diria que Maria “perdeu a virgindade no parto”. Muito menos faz 
sentido imaginar que ele defendia que só antes e depois do parto 
Maria foi virgem (tendo presente o conceito dele de virgindade). 
No ponto de vista dele, Maria nunca perdeu a virgindade porque 
a virgindade não consistia em questões fisiológicas da 
integridade virginal, mas de relações sexuais. É isso que explica 
o Pe. Philip. Até porque é impossível se falar em perda da 
virgindade num momento e depois de virgindade no outro. É 
absurdo! Quem perde a virgindade não a recebe mais. Portanto, 
temos que levar em conta o que Orígenes entende por ‘virgem’ 
se se quer adotar a tese de que ele expressou o contrário do 
nascimento virginal. 
O Pe. Walter J. Burghardt em María en la patrística oriental 
comentando o Comentário de Mateus de Orígenes (texto acima), 
explica com mais precisão: 
“Este texto parece justificar duas conclusões. Primeira, a 
passagem não constitui uma retratação implícita da anterior 
afirmação de Orígenes de que Nossa Senhora havia perdido sua 
integridade física em Belém. Coloca-se aqui “virgens”

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