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Desvendando o mistério da Trindade

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Desvendando o 
mistério da Trindade. 
 
 
 
 
A Estratégia de “um deus”... 
para substituir “O DEUS”. 
 
 
 
 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
2 
 
Dedicatória 
 Dedicado à 
 
EHYEH ASHER EHYEH - EU SOU O QUE SOU 
ELE É 
YHWH - Y'HAWA 
Criador de todas as coisas, em nome de: 
 
YASHUA 
Seu filho unigênito, o Messias. 
 
 
Desvendando o mistério da trindade 
 3 
 
Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-
me de vós nas minhas orações: Para que o Deus de 
nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em 
seu conhecimento o espírito de sabedoria e de 
revelação; Tendo iluminados os olhos do vosso 
entendimento, para que saibais qual seja a esperança 
da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua 
herança nos santos; E qual a sobre-excelente grandeza 
do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a 
operação da força do seu poder, Que manifestou em 
Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à 
sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e 
poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que 
se nomeia, não só neste século, mas também no 
vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre 
todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, 
Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre 
tudo em todos. 
 Shaul Há Shaliach – O apóstolo Paulo 
Carta aos Efésios 1:17 a 23 
Roma - 60 E.C. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
4 
 
SUMÁRIO 
Reflexões página 5 
Introdução página 6 
Mudança de vida e de perspectiva página 11 
Começa a história página 31 
Ireneu de Lyon página 36 
Tertuliano página 46 
Monarquianismo página 56 
Orígenes e Eusébio página 67 
A controvérsia que prenuncia o mistério página 73 
Surgem os Semi-Arianos página 91 
Nasce o mistério (A consolidação da doutrina espúria) página 98 
A Contínua disputa pelo poder (introdução de um novo culto) página 107 
As naturezas de Cristo página 117 
As surpreendentes incongruências dos religiosos página 121 
Como você lê? página 141 
Argumentos bíblicos a favor da trindade página 125 
Comparação entre as visões trinitária e unitária sobre textos página 145 
Epilogo página 243 
 
Desvendando o mistério da trindade 
 5 
 
Reflexões 
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença 
entre dar uma mão e acorrentar uma alma. 
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas 
pessoas não se importam. 
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de 
vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. 
Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas 
segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um 
instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. 
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer 
ser, e que o tempo é curto. 
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em 
algum momento condenado. 
E você aprende que realmente pode suportar...que realmente é forte, 
e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode 
mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante 
da vida! 
Aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria 
opinião. 
E lembre-se: O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. 
William Shakespeare 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
6 
 
INTRODUÇÃO 
 
Há 18 séculos uma diferença de interpretação se transformou 
numa doutrina de difícil compreensão para a mente humana. 
Por falta de uma explicação compreensível desta doutrina seus 
proponentes a simplificaram como sendo um mistério. Esta 
doutrina e sua defesa modificou a vida de bilhões, talvez 
trilhões de pessoas ao longo deste tempo. Homens honestos e 
inteligentes dedicaram a vida para alimentá-lo ou desmerece-
lo, colocando-se em lados opostos da questão. Pessoas que 
deveriam estar unidas pelo ideal de servir a um Deus único, 
cumprindo suas leis, dentre as quais a maior delas o amor, 
digladiavam-se para provar sua visão e entendimento como 
sendo o “verdadeiro”. 
Passados 1800 anos, apesar dos grandes avanços tecnológicos, 
das grandes descobertas, da imensa quantidade de informação 
disponível, este mistério perdura, alimentando a adoção de 
uma falsa doutrina, seja contra ou a favor de sua existência, já 
que, se uma é verdadeira, a outra forçosamente é falsa. 
Trata-se do Dogma da Trindade, a crença que grande parte dos 
cristãos adota sobre a natureza do Deus Todo Poderoso, muitos 
não admitindo contestação, enquanto outros a consideram 
uma heresia. 
Desvendando o mistério da trindade 
 7 
 
A quantidade de material disponível sobre o tema é vasta, o 
conteúdo rebuscado, elaborado com eloquência e terminologia 
incomum por muitos teólogos, de um modo que afasta a 
maioria das pessoas comuns, da compreensão e do 
conhecimento pleno sobre Deus, já que a maioria das pessoas 
nem sequer tenta buscá-lo e quando o fazem se sentem 
frustradas pela falta de conclusão. Esta falta de compreensão e 
conhecimento sobre Deus, dá margem a que se desenvolva 
uma fé cega sobre Aquele a quem se presta adoração. Por isso a 
crença de muitos, na maioria das vezes, é baseada na tradição 
familiar ou social, ao invés de ser uma escolha e decisão 
consciente sobre a quem adorar. 
Mas, se seguir a tradição é muito mais comodo, por que 
alguém se daria ao trabalho de desvendar um mistério, tão 
antigo e tão arraigado na crença de tantas pessoas, como a 
trindade? Não fosse apenas a curiosidade humana, haveria 
motivos válidos para se empenhar em tal tarefa? Existiriam 
evidências que permitiriam esclarecer o significado deste 
mistério de forma objetiva e inequívoca? Que ganhos haveriam 
ao final do processo? 
Jesus Cristo disse: E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, 
como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu 
enviaste. - João 17:3 
Então, de acordo com Cristo, um primeiro motivo para se 
querer conhecer a Deus, é o desejo de ganhar a vida eterna. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
8 
 
Este conhecimento é fundamental para quem exercita a fé 
cristã e na possibilidade de servir a Deus “eternamente”. 
O apóstolo Paulo disse: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão 
de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício 
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E 
não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela 
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a 
boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. — Romanos 12:1, 2 
Mais do que a mera curiosidade, o segundo motivo para se 
conhecer Deus é a necessidade deste culto racional a que Paulo 
faz referência, implica em entender e poder explicar Aquele em 
que se crê, e de acordo com o apóstolo, esta razão ou 
racionalidade é um serviço que prestamos a Este Deus, ao 
apresentar nossos corpos como um sacrifício vivo. 
Se quisermos cultuar a Deus com o nosso raciocínio temos de 
avaliar as seguintes questões: As escolhas que fazemos sobre a 
adoração que prestamos e a quem prestamos, deve se basear 
em tradição? É possível para alguém, com alguma cultura, 
chegar a uma conclusão razoável sobre os muitos lados da 
natureza e identidade de Deus? É possível entender os 
argumentos sobre a existência ou não da trindade? Acima de 
tudo, é possível descobrir se este é um dogma verdadeiro ou 
enganador? 
Quanto às evidências esclarecedoras sobre o tema, a tarefa de 
pesquisá-las e compreendê-las se tornaria mais fácil se ambos 
Desvendando o mistério da trindade 
 9 
 
os argumentos estivessem reunidos lado a lado para análise, o 
que invariavelmente é omitido pelos defensores desta ou 
daquela teologia, pois cada segmento doutrinário, ou linha 
religiosa pretensamente cristã a apresenta de um único modo, 
como a mais absoluta verdade. Aqueles que agem desta forma, 
tratamas pessoas que não aceitam seus argumentos como 
hereges condenados ao inferno (no pior estilo Dantesco para 
alguns, enquanto para outros, signifique a plena extinção da 
pessoa do universo). 
Compreender Deus e conhecê-lo é, portanto, um desafio vital 
para todos que estudam a Bíblia. Nestes dois mil anos muitas 
teorias e modos diferentes de explicá-lo surgiram, desviando o 
foco do verdadeiro ensino bíblico. O desafio é ainda maior para 
os que buscam a ajuda de religiosos, pois a grande maioria 
deles adapta os textos para se conformarem à própria visão que 
têm. Muitos descobrem que a ajuda provida por certos 
religiosos é parecida com a oferta feita por camelôs a crianças: 
“lentes coloridas em óculos de plástico”, para enxergar o 
mundo no tom preferido. Alguns oradores eloquentes e cheios 
de estilo se parecem mais com fotógrafos que modificam a cor 
original de uma paisagem, através de filtros, para realizar uma 
foto próxima do próprio ideal. Não haveria nenhum problema 
neste comportamento, se apenas desejássemos decorar a casa 
ou usar um fundo na tela do computador, mas em se tratando 
de ganhar a vida eterna, deveríamos ser mais seletivos e 
exigentes. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
10 
 
De uma busca pessoal para entender o significado histórico 
desta doutrina, e os argumentos das diversas denominações 
religiosas, contra e à favor do dogma trinitário, nasceu esta 
obra, que objetiva ser um guia introdutório esclarecedor para 
mentes sinceras, que buscam a “profundidade das riquezas e da 
sabedoria”, alardeadas pelo apóstolo Paulo como vindas do 
verdadeiro Deus e, deste modo, aprender Quem é Este Deus e 
adorá-lo como Ele quer e não como as denominações religiosas 
querem. Curiosamente, ao longo do percurso nesta jornada, se 
tornará evidente como a elaboração deste “mistério” serviu às 
artimanhas de um ser poderoso, na tentativa de substituir um 
poder maior. 
Antes de lhe falar o que encontrei, porém, deixe-me contar-lhe 
como e porque iniciei este processo. Que Deus ilumine sua 
jornada, assim como iluminou a minha. 
 
 
 
 
 
 
 
Desvendando o mistério da trindade 
 11 
 
 
CAPÍTULO 1 - Mudança de vida e de 
perspectiva 
 
A decisão que eu estava tomando fazia com que um frio 
percorresse meu estômago de ansiedade. Eu estava inquieto 
pensando no tremendo impacto que ocorreria em minha vida e 
na vida das pessoas que amo, daquele momento em diante. Ao 
mesmo tempo entendia o tamanho da responsabilidade e a 
imensa oportunidade que se abria à minha frente. 
Decidi abandonar o modo de vida que vinha seguindo desde 
que havia nascido há 47 anos e que oficialmente era minha 
obrigação como ministro religioso há 35 anos, desde que me 
batizara aos 12 anos de idade. Não sabia como trilhar este novo 
caminho que se revelava de modo surpreendente a cada nova 
descoberta. 
Pelo menos uma certeza eu tinha: algo maior do que eu estava 
me impulsionando nesta jornada desconhecida e eu não podia 
guardar para mim mesmo as descobertas. 
Haviam se passado três anos desde que começaram profundas 
mudanças em minha vida. Nos 35 anos anteriores eu havia feito 
parte, como membro batizado, de um grupo religioso que me 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
12 
 
mantinha separado do resto do mundo, tornando-me diferente 
de um terço da humanidade, considerado cristão e ainda mais 
estranho para os outros dois terços da humanidade. Eu era uma 
das Testemunhas de Jeová, um grupo que representa 0,1% da 
humanidade, mas que é relativamente conhecido em todo 
planeta pelo incansável esforço de ir de casa em casa, falar às 
pessoas sobre as “verdades” em que creem e sobre como estas 
verdades podem salvar àqueles que aceitam seus ensinos. 
Nunca havia questionado estas chamadas “verdades”, até que a 
percepção da natureza humana e sua busca por poder e 
autoridade, me colocaram diante das questões: Será que os 
homens falham em fazer o que Deus manda e criam situações 
absurdas nas próprias vidas e nas vidas daqueles sobre os quais 
têm influência ou os homens estão sendo mal dirigidos, apenas 
correspondendo e se submetendo ao que se lhes ensina 
dogmaticamente? 
À medida que ia descobrindo a verdade sobre “a verdade”, fui 
me tornando cada vez mais determinado em minha busca por 
respostas, o que era um problema, pois estava ficando isolado, 
já que as Testemunhas de Jeová se gabam de terem todas as 
respostas às questões espirituais. Nesta época comecei a ter 
contato com a história de um homem que havia vivido de 
maneira ainda mais intensa os mesmos dilemas pelos quais eu 
estava passando e tivera de tomar a difícil decisão de romper 
com tudo pelo qual trabalhara durante 40 anos. Este homem 
havia ido bem mais longe do que eu em sua carreira religiosa, 
Desvendando o mistério da trindade 
 13 
 
pois, por 40 anos servira no campo missionário e por 10 anos 
ele pertencera ao núcleo da autoridade controladora da 
organização. Por uma série de descobertas e percepções 
parecidas com as que eu vinha experimentando, rompera com 
tudo, aos quase 70 anos de idade. Sem dúvida, deve ter sido 
bem mais difícil para ele do que vinha sendo para mim. 
Não bastasse os conflitos espirituais e emocionais, no ano de 
2005, eu me recuperava de uma doença hereditária que enchia 
meus rins de cistos, esta doença baixara a minha capacidade 
renal para 20%, muito próximo do percentual que determina o 
tratamento com hemodiálise. Em determinada época eu já não 
conseguia trabalhar direito, não tinha força física e, somado a 
isso, tinha crises de gota periódicas (excesso de ácido úrico que 
inflama as juntas do corpo começando pelos membros 
inferiores como pés e joelhos). 
Minhas finanças estavam péssimas, tive de me desfazer de bens 
para sobreviver e pagar dívidas que se acumulavam, reduzi meu 
padrão de vida e tive de aceitar ajuda de amigos e parentes. 
Manter o equilíbrio emocional nesta fase foi muito difícil. Mas, 
se tinha algo de que não abria mão, era minha responsabilidade 
para com as atividades espirituais. Era um ancião (presbítero) e 
participava ativamente como superintendente (Bispo) da escola 
ministerial (ensino de oratória) na congregação das 
Testemunhas de Jeová a que pertencia. Por 10 anos atuei 
nestas funções lutando para me manter ativo. No entanto, 
minha atitude para com várias questões estava mudando, uma 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
14 
 
delas é que, pela minha própria experiência, vinha me tornando 
mais tolerante para com os membros da congregação, por 
perceber que não podemos avaliar completamente uma pessoa 
pelo que aparece aos olhos, pois falta-nos a capacidade de 
enxergar como as pessoas se sentem por dentro, em função de 
tudo pelo que ela passa, longe dos olhos da comunidade. Ao 
mesmo tempo me tornava menos tolerante para com meus co-
anciãos ao perceber exageros e excesso de zelo da parte de 
alguns que exigiam comportamentos e posturas dos mais fracos 
que estes dificilmente conseguiam corresponder. 
Observar esta atitude exigente em vários homens que deveriam 
ser exemplos para o rebanho dentro das congregações, e que 
muitas vezes deixavam a desejar, de um lado me fazia lembrar 
de situações em que eu mesmo agira assim, fazendo-me 
arrepender de ter sido duro com alguns de meus irmãos, por 
outro lado se tornou um problema para mim, principalmente 
no meu relacionamento com alguns destes homens. Ao 
presenciar seus argumentos e posições sobre os membros da 
congregação ou opiniões sobre problemas a serem resolvidos, 
sem que apoiassem estas opiniões, muitas vezes arrogantes, 
com um texto bíblico sequer, em praticamente todas as 
reuniões que tínhamos, isso me deixava furioso. Nos últimos 
meses de minha atividade como ancião, o desgaste causado 
pelas responsabilidades e essas situações estressantes se 
tornaram uma carga difícil de carregar. Tomei a decisão na 
época de abrir mão do privilégio,alegando que ainda estava em 
fase de recuperação em vários aspectos da minha vida e que ter 
Desvendando o mistério da trindade 
 15 
 
menos responsabilidades na congregação seria útil para minha 
recuperação total. O corpo de anciãos sugeriu diminuir minha 
carga e deixar-me sem tarefas, sem que eu tivesse de abrir mão 
de meus privilégios. Isto havia sido feito com outro ancião bem 
mais jovem que eu, que vinha também passando por 
problemas de saúde e depressão. Não achava justo manter um 
privilégio, sem corresponder com serviço à congregação. 
Considerava que isto poderia dar margem a que alguns 
imaginassem que pudessem fazer menos, me apontando como 
mau exemplo, caso não conhecessem os detalhes de meus 
problemas. Não me sentia confortável de falar de meus 
problemas para todos na congregação, tinha de animá-los e não 
entristecê-los. Diante desta posição o corpo de anciãos, por fim, 
aceitou minha decisão, demonstrando pesar por esta ação. Nos 
meses seguintes à minha saída do corpo de anciãos, assisti com 
calma minhas reuniões e acompanhava com renovada atenção 
a cada argumento usado pelos oradores, querendo aprender 
ainda mais, relembrar pontos esquecidos e rememorar textos 
bíblicos usados para apoiar as nossas doutrinas. 
Surpresa...comecei a perceber que vários textos estavam fora 
do contexto, eram mal aplicados ou distorcidos, coisa que 
nunca antes eu percebera. Comecei a raciocinar que talvez, em 
função de tantas responsabilidades e do puro condicionamento 
eu não tinha como prestar tanta atenção. Aquilo me perturbou 
profundamente, ponderei que talvez estivesse tendo uma crise 
emocional, um desequilíbrio que estivesse me fazendo 
distorcer a realidade. Orei muito nesta época, pedindo ajuda a 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
16 
 
Deus para recuperar o equilíbrio e continuar minha vida em 
paz. 
Em determinada época naquele ano ao visitar um cliente 
acompanhado de dois colegas de trabalho, começamos uma 
conversa sobre nossa fé, pois o cliente manifestara sua 
preocupação em fazer negócios com lisura e correção, tendo 
em vista ser temente a Deus. 
Quando aquele homem se apresentou como Batista, manifestei 
minha alegria de falarmos com um cristão e, tentando 
estabelecer uma base comum, disse a ele que estávamos numa 
roda de homens cristãos, já que um dos colegas também era 
Batista, outro era Adventista e eu era Testemunha de Jeová. Ao 
ouvir a denominação à qual eu pertencia ele disse que de 
todos, eu é quem estava na pior situação, perguntei-lhe porque, 
e ele respondeu que era porque eu não iria para o céu (as TJ´s 
acreditam que apenas 144.000 cristãos ungidos vão para o céu, 
as demais irão viver num paraíso restaurado na terra por Deus). 
Argumentei que não tinha a pretensão de ser um rei no céu e 
que viver num paraíso na terra era mais do que suficiente para 
me fazer esperar com alegria. 
Mas aquela conversa evoluiu para discussões doutrinais e, 
numa troca de e-mails, recebi uma enxurrada de informações 
sobre minha própria religião que eu nunca ouvira antes. 
Interpretações e textos publicados nas nossas literaturas, desde 
a origem de nossa denominação no final do século XIX, quando 
o pastor Charles Taze Russel se juntou a um pequeno grupo de 
Desvendando o mistério da trindade 
 17 
 
estudantes da Bíblia e fundou a religião, hoje conhecida como 
Testemunhas de Jeová. Os escritos em nossas publicações 
daquela época eram absurdos. Interpretações ridículas e 
despropositadas ensinadas com a típica presunção de ser a 
“verdade”. 
Tentei responder a tudo com o máximo de isenção possível, 
demonstrando em meus comentários que havíamos mudado 
muito desde aqueles tempos, há mais de 120 anos, até os dias 
atuais. Naturalmente, fiquei intrigado sobre o fato de os 
batistas terem acumulado tantas informações sobre nossas 
literaturas, desde nossa origem. Comecei a pesquisar qual era a 
fonte daquelas informações tão desconcertantes e logo tive a 
resposta. 
No início da década de 1980 uma revolução aconteceu na sede 
das Testemunhas de Jeová nos Estados Unidos. Depois de uma 
série de mudanças que geraram despedidas de vários membros 
do Betel de Brooklin, a sede mundial das Testemunhas de Jeová 
(Betel significa “casa de Deus” - e é o nome dado às sedes 
administrativas da organização em cada país onde atua), um 
dos membros do corpo governante entregou seu privilégio e 
saiu de Betel (O corpo governante é composto por cerca de 12 
homens, considerados “ungidos” - esse número pode variar. As 
Testemunhas de Jeová creem que estes, pertencem àquela 
classe dos 144.000 escolhidos para serem reis e sacerdotes, 
descritos no livro de apocalipse capítulos 7 e 14. Estes homens 
são os líderes da organização, apesar de chamarem atenção 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
18 
 
para a liderança de Cristo em muitos artigos publicados nas 
literaturas, na prática eles é que lideram a religião e têm 
autoridade sobre toda a obra mundial, não são eleitos, os 
membros deste seleto grupo são escolhidos pelo próprio grupo, 
dentre os cerca de 8.000 membros vivos na terra que também 
se consideram ungidos – esse número ao contrário do que seria 
de se esperar está aumentando somando atualmente mais de 
11.000 - escolhendo aqueles dentre este pequeno grupo que 
estejam extremamente engajados na obra). Este homem 
chamado Raymond Franz, pouco tempo depois de sair de Betel, 
sofreu ainda mais por causa de uma mudança organizacional 
que o afetou diretamente (quem considera esta decisão e a 
forma como foi feita percebe claramente o objetivo e a 
oportunidade dela para os líderes), ele foi desassociado da 
organização (um desassociado – ou excomungado - não 
compartilha mais do convívio das Testemunhas de Jeová, nem 
mesmo com os parentes próximos, que não devem sequer 
cumprimentá-lo). Obviamente ele tentou demonstrar a injustiça 
desta ação e como os critérios usados não podiam 
corresponder ao amor e à justiça que os servos de Deus devem 
demonstrar. Felizmente para muitos, não lhe deram ouvidos, 
nem chances. Felizmente para o mundo cristão e para os 
muitos que sofreram ao descobrirem que algo estava errado 
naquela religião, ele resolveu contar esta e o resto da história 
que conhecia e que o motivara a questionar a forma como as 
coisas eram feitas pela autoridade máxima da religião. 
Escrevendo dois excelentes livros, abriu para o mundo os 
Desvendando o mistério da trindade 
 19 
 
absurdos das decisões da liderança da Torre de Vigia, a 
organização que controla as Testemunhas de Jeová. 
Finalmente eu descobria a fonte das informações que os 
batistas, e obviamente todas as outras religiões, dispunham 
sobre nós. Agora as religiões estavam bem armadas contra nós 
e nós mesmos não sabíamos de nada daquilo, pois, depois de 
tantos anos de doutrinação e de ouvir tantos argumentos 
convincentes e persuasivos, não ousávamos discordar dos 
ensinos da Torre de Vigia, além disso, as coisas desconfortáveis 
e desconcertantes eram sistematicamente empurradas para 
debaixo do tapete, omitidas ou distorcidas. Ao contar a própria 
história para os membros da religião, a organização Torre de 
Vigia, conta somente o que é conveniente, mencionando 
trechos das literaturas antigas com partes habilmente 
selecionadas que contribuam para os objetivos da organização, 
sempre num tom cor de rosa, ou se referindo aos membros da 
época como “tendo expectativas equivocadas” colocando a 
culpa pelos erros nos receptores, ao invés de nos emissores. 
Usam como argumento que os antigos podiam estar errados, 
mas “sempre buscavam a verdade” e eram “orientados por 
Deus” sobre como as coisas deveriam ser corrigidas. 
Curiosamente os que estão lá agora nunca estão errados, 
mesmo que alguns dos atuais membros “coincidentemente 
também fossem dos antigos”. 
Ao ler os livros escritos por Raymond Franz, página a página eu 
concordava com a visão daquelehomem e como vínhamos 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
20 
 
sendo enganados por homens que se consideram deuses, e se 
posicionam desta forma, quando exortam as pessoas a se 
subordinarem ao “escravo fiel e discreto”, citado por Jesus em 
Mateus 24:45 e seu “corpo governante” – este termo não existe 
na Bíblia – (As TJ´s afirmam que aqueles dentre elas que são 
ungidos, são este escravo coletivo, mas na prática o escravo é o 
“corpo governante” que trabalha na sede mundial, já que os 
demais “ungidos” recebem as informações deste pequeno 
grupo nas congregações, do mesmo modo que as demais 
testemunhas, sem poder dar nenhum palpite). Cheguei ao 
ponto de contar em algumas reuniões e congressos o número 
de vezes em que se ensina da tribuna que as Testemunhas 
devem ser obedientes e submissas ao escravo fiel e discreto e 
fiquei abismado quando percebi que o número era muito maior 
do que o ensino sobre a submissão que devíamos ter à 
liderança de Cristo. Depois de 3 meses de muita reflexão e 
oração eu havia tomado minha decisão e agora passava pelos 
momentos de ansiedade que descrevi no início. 
Lidando com a decisão tomada 
Reconhecendo os vários méritos da religião e seu esforço sério 
em muitas áreas para agir com correção e com apego às 
doutrinas bíblicas, conforme interpretado pela Torre de Vigia, 
bem como o esforço sério da maioria das Testemunhas de Jeová 
individualmente em aderir àquele que é considerado por elas 
como o verdadeiro cristianismo, era difícil justificar aos meus 
familiares e amigos a minha decisão de sair da organização. 
Desvendando o mistério da trindade 
 21 
 
Alguns textos foram importantes para nortear esta decisão e 
me ajudar a empreendê-la, por exemplo: Mateus 5:48 – registra 
a Jesus dizendo:”...tendes de ser perfeitos, assim como vosso 
Pai celestial é perfeito.” Se isto fosse impossível dentro da 
relativa capacidade humana, Jesus não o teria dito e a perfeição 
relativa existe. 
Na 1ª carta de Pedro às congregações no capítulo 1 versículo 13 
Pedro diz:”... avigorai as vossas mentes para atividade, 
mantendo inteiramente os vossos sentidos;” Ninguém pode 
delegar a própria compreensão e fé a terceiros, a 
responsabilidade por entender e aplicar a verdade é individual 
e seremos julgados por como a aplicamos individualmente. 
Em Lucas 12:2-4 Jesus diz: ”Mas não há nada cuidadosamente 
oculto que não venha a ser revelado, nem secreto que não 
venha a ser conhecido. Portanto, as coisas que dizeis na 
escuridão, serão ouvidas na luz, e o que sussurrais em salas 
particulares, será pregado dos altos das casas. Além disso, eu 
vos digo, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e 
depois disso não podem fazer mais nada. O fato de que a 
história real das Testemunhas de Jeová e as reais motivações e 
a forma como as decisões do “escravo fiel e discreto” são 
tomadas ao longo do tempo, foram sistematicamente 
suprimidas da comunidade mundial, mas isto de nada adiantou, 
pois agora estão escancaradas na internet. Esta verdade faz 
outro texto se tornar extremamente relevante: 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
22 
 
Lucas 16:10, 13 Jesus diz: “Quem é fiel no mínimo é também 
fiel no muito, e quem é injusto no mínimo, é também injusto no 
muito...Nenhum servo doméstico pode ser escravo de dois 
amos; pois ou há de odiar um e amar o outro, ou se apegará a 
um e desprezará o outro.” 
O escravo não pode ser maior do que o amo (João 13:16) e é 
assim que o escravo fiel e discreto (na verdade o corpo 
governante) se coloca: no “lugar” do amo, salientando em 
todas as literaturas da organização que a submissão e 
obediência ao “escravo” significam obediência a Deus. 
Qualquer leitor honesto e isento pode verificar nas literaturas 
da organização, que se fala mais sobre o que o escravo quer 
que as Testemunhas façam, do que o que Jesus Cristo ordena. 
Basta contar o número de vezes em que se exorta a se 
submeter à liderança do escravo em qualquer literatura e se 
comprovará este fato. Portanto a organização e a autoridade do 
“escravo” se tornaram mais importantes do que seguir a Cristo. 
Infelizmente as próprias Testemunhas de Jeová, apesar de seu 
esforço sincero em cumprir o que creem, por um lado são 
vítimas, por outro tem responsabilidade perante Deus em 
relação à própria vida e à própria crença e por extensão são 
culpadas de perpetuar esta situação corrompida, por 
continuarem a ensinar doutrinas distorcidas e algumas 
falsidades e se recusarem a fazer um exame honesto do que 
aprendem e questionarem o que se lhes ensina como ordena a 
Bíblia: Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. 
Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido 
Desvendando o mistério da trindade 
 23 
 
reprovados! E espero que saibam que nós não fomos reprovados. Agora, 
oramos a Deus para que vocês não pratiquem mal algum. Não para que os 
outros vejam que temos sido aprovados, mas para que vocês façam o que é 
certo, embora pareça que tenhamos falhado. Pois nada podemos contra a 
verdade, mas somente em favor da verdade. 2 Coríntios 13:5-8 - NVI 
Obter conhecimento é bom, mas traz responsabilidade, isto é 
assim para mim, para o corpo governante e para qualquer outra 
pessoa. Paulo afirma em 1 Coríntios 8:1-3: “O conhecimento 
enfuna, mas o amor edifica. Se alguém pensa que tem 
adquirido conhecimento de algo, ele ainda não [o] conhece 
como devia conhecer. Mas, se alguém ama a Deus, este é 
conhecido por ele.” Paulo deu um alerta significativo sobre 
aqueles que tentam se apoderar da mente das ovelhas e se 
comportam como absolutos conhecedores da verdade: 
Portanto, nenhum homem vos julgue...,mas a realidade pertence ao Cristo. 
Nenhum homem vos prive do prêmio, tendo ele deleite numa humildade 
[fingida] e numa forma de adoração dos anjos, “tomando pé nas” coisas que 
viu (citado dos ritos de iniciação dos mistérios pagãos), enfunado sem causa 
devida pela carnalidade de sua mente, ao passo que não se apega à cabeça, 
àquele de quem todo o corpo, suprido e harmoniosamente conjuntado por 
meio de suas juntas e ligamentos, vai crescendo com o desenvolvimento que 
Deus dá. Colossenses 2:16-19 
Ser humilde é reconhecer as próprias limitações e se apegar ao 
cabeça, para suprir o que se carece espiritualmente, 
infelizmente esta não é a postura do corpo governante, que 
como indivíduos parecem pessoas extremamente humildes, 
mas como classe são a arrogância e presunção coletivas, 
tutores da fé do imenso rebanho de Testemunhas de Jeová. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
24 
 
Comportam-se como tutores e donos da fé de seus liderados, 
como se estes fossem crianças imaturas, ao invés de tratá-los 
como adultos na fé, plenamente desenvolvidos. 
E cada uma destas ovelhas aceitam a tutela e se submetem 
como se crianças fossem, sem se dar conta de que, nem o 
corpo governante, nem os anciãos ou qualquer outro ser, 
poderá isentá-las do julgamento a que cada um de nós será 
submetido por Cristo. E ainda imitam aquele escravo em sua 
arrogância e presunção em relação aos demais religiosos, 
membros de outras igrejas, como se aqueles fossem todos 
enganados e cegados pelo diabo, novamente despercebendo a 
imensa trave que têm no próprio olho e como sabem muito 
sobre tão pouco. 
Novamente se esquecem do exemplo negativo exposto por 
Jesus Cristo ao dizer aos fariseus: 
“Para [este] julgamento vim ao mundo: que os que não veem possam ver e 
que os que veem se tornem cegos.” Aqueles dos fariseus que estavam com 
ele ouviram estas coisas e disseram-lhe: “Será que nós também somos 
cegos?” Jesus disse-lhes: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas agora 
dizeis: ‘Nós vemos.’ Vosso pecado permanece.” - João 9:39-41 
Com estas considerações em mente e minha decisão tomada 
ainda tinha questões a resolver: Como eu iria comunicar esta 
decisão à minha família? Como reagiriam minha esposa e meusfamiliares? Eu teria de abandonar não só o estilo de vida que 
tinha, mas os amigos e conhecidos, que numa conta rápida 
somavam mais de três mil pessoas. 
Desvendando o mistério da trindade 
 25 
 
Perguntava-me como serviria a Deus dali para frente, já que 
continuava plenamente convencido sobre quem é Deus, sobre 
seus propósitos claros em execução e também, sobre a 
obrigação que assumi para com Ele quando me batizei. 
Obrigação esta que pretendo cumprir enquanto viver. 
Enquanto avaliava como lidar com estas questões, comecei a 
agir em harmonia com minha decisão. Foi depois do 
rompimento com aquela denominação religiosa e do turbilhão 
de emoções geradas por esta ação, que comecei minha busca 
por respostas espirituais, busca esta que me apresentou a 
maior de todas as oportunidades trazendo-me a este momento. 
Começa minha busca por respostas 
Passado o terremoto de minha saída da congregação, senti a 
necessidade de saber, se aquela não era a “ verdade”, qual era 
afinal? 
Uma das questões que tornavam mais difícil minha busca era a 
principal diferença religiosa entre a religião de que eu fizera 
parte e, quase que, a totalidade das outras denominações 
cristãs: a doutrina da trindade. Necessitava compreender 
“quando” se havia originado tal doutrina, já que todos os 
religiosos, sem exceção, concordam que ela “se desenvolveu ao 
longo dos séculos iniciais da igreja”, e não é prontamente 
identificada na Bíblia. 
Não era possível para mim, depois de tanto estudo a respeito 
deste assunto, ignorar que outros grupos religiosos que visitava 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
26 
 
para conhecê-los, eram inteiramente compostos de pessoas 
que acreditavam na trindade. Como eu poderia ouvir suas 
expressões de louvor e suas orações para um Deus tão 
diferente do que eu conhecia? Como estas pessoas podiam 
conviver com uma doutrina incompreensível para a razão 
humana, ao ponto desta doutrina ser considerada um mistério 
ao longo de dois mil anos, perdurando até o século 21? Como 
era possível que, tendo tanta informação disponível, as pessoas 
não se sentiam motivadas a buscar a verdade sobre isto, 
mesmo tendo tanto acesso à Bíblia, que é tão clara a este 
respeito nas diversas traduções diferentes disponíveis? 
À medida que eu tentava descobrir denominações que tivessem 
doutrinas pelo menos próximas daquelas em que cria, percebia 
a dificuldade de encontrar respostas claras sobre o significado 
desta doutrina, até mesmo entre os adeptos do trinitarismo. 
Ficava surpreso de descobrir que existiam versões muito 
diferentes para a doutrina da trindade e perplexo diante das 
explicações que encontrava, ou das supostas provas de porque 
a doutrina A era mais verdadeira do que B ou C. 
Descobrira que outra denominação, como os Adventistas do 7º 
dia, com a qual as Testemunhas de Jeová haviam flertado em 
sua origem no século XIX, tinham mudado de lado, depois de 
mais de 150 anos crendo num Deus único e em seu Filho como 
pessoas diferentes, agora adotavam a trindade como crença. 
Esta mudança de unitários para trinitários causara um racha em 
suas fileiras, sendo a liderança da igreja acusada por muitos 
Desvendando o mistério da trindade 
 27 
 
dissidentes de apoiar o erro, críticas parecidas com aquelas 
feitas à liderança da Torre de Vigia. 
Agora, via grupos pequenos e independentes pregando coisas 
confusas, com explicações metafísicas, contra e a favor da 
doutrina trinitária. 
Enfim, tinha diante de mim um desafio digno do nome e uma 
oportunidade enorme de obter respostas que até este 
momento nunca haviam me parecido necessárias: Afinal quem 
é Deus? Como Ele É? Como deve ser adorado? Porque um 
mistério como este, a respeito de sua natureza, perdurou 
durante tantos séculos e é tão difícil para a maioria das pessoas 
falar sobre ele? Estas eram perguntas para as quais queria obter 
“verdadeiras respostas”, sem maquiagens ou interpretações de 
terceiros. 
Empreendi o esforço de buscar a linha de desenvolvimento 
desta doutrina, aqueles que debateram para defendê-la, o 
contexto em que viviam, as disputas teológicas, ficando cada 
vez mais encantado com a quantidade enorme de pessoas que 
se envolveram nesta mesma análise, debatendo seus pontos de 
vista com paixão, muitas vezes pondo em risco o conforto, a 
segurança e a própria vida. Evidentemente eu precisava tirar os 
filtros que o método de ensino das Testemunhas de Jeová 
coloca na mente dos seus membros, o que não é nada fácil. 
Desejei acima de tudo honrar meu Criador, esclarecendo a 
verdade sobre como um duelo teológico deu forma à esta 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
28 
 
doutrina ao longo de 4 séculos, e principalmente se esta 
doutrina exprime a verdadeira identidade de Deus, ou ao 
contrário, o transforma numa aberração filosófica. 
Evidentemente orei muito, pedindo a orientação de Deus para 
esta empreitada, confiando em Sua resposta. Iniciei a linha do 
tempo, buscando tornar a abordagem didática e esclarecedora 
e também fugir do lugar comum de usar os mesmos 
argumentos que eu sempre havia ouvido e divulgado em minha 
ex-religião, algo que certamente será difícil em muitos casos. 
Uma consideração importante: espero que as informações 
apresentadas aqui lhe sejam úteis assim como foram para mim. 
Não há nada aqui contido, que, com alguma paciência, não se 
possa encontrar na internet ou em boas bibliotecas. 
Meu trabalho foi ordenar este conteúdo cronologicamente, 
juntar informações dispersas em várias fontes diferentes e 
comentá-las, sempre que possível citando a fonte da 
informação, mas caso você encontre algo que, 
inadvertidamente, não tenha o devido reconhecimento ou 
crédito, por favor, avise-me através dos meios de contato, 
contidos no site: http://www.desvendandomisterio.com.br . 
 
 
 
Desvendando o mistério da trindade 
 29 
 
 
CAPÍTULO 2 - Começa a história 
 
Para compreender as questões relacionadas com a origem da 
doutrina da trindade é necessário entender o contexto em que 
ela foi desenvolvida. 
Imagine o cenário: Numa ilha chamada Patmos, João, o último 
dos 12 apóstolos convocados por Jesus Cristo, ainda vivo aos 96 
anos de idade, se apercebe da necessidade de relatar sua 
experiência com o homem que mudou, em todos os sentidos, a 
sua vida. 
Além das cartas que deseja escrever às congregações e do 
profético livro de Apocalipse, João empreende escrever "A 
história de Jesus Cristo", dando origem ao 4º e último 
evangelho conhecido por nós. Não entro no mérito sobre as 
polêmicas quanto a ter sido João o verdadeiro escritor, já que 
muitos argumentam que o texto é de um período posterior à 
sua morte. 
Para aqueles que creem que João realmente o tenha escrito 
reflito sobre a resistência que este homem de fé demonstrou. 
Tanto ele, quanto os demais apóstolos haviam lutado para 
disseminar os ensinos de seu mestre Jesus e lutado contra os 
ataques à doutrina originalmente ensinada pelo Messias. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
30 
 
Já se passara mais de 26 anos desde que o sistema judaico fora 
destruído, com a queda de Jerusalém às mãos do general Tito 
em 70 E.C., os cristãos haviam saído em massa da cidade cerca 
de 4 anos antes disso, por prestarem atenção a uma das 
profecias de Jesus que os orientava a fazerem isso quando 
vissem Jerusalém cercada por exércitos, mas enfrentavam 
desafios de toda ordem no campo estrangeiro. Eram vistos com 
desconfiança pela comunidade judaica por abraçarem uma 
seita deste tal Jesus, considerado pelos “cristãos” como o 
“messias”, mas por muitos judeus como um rebelde dissidente. 
Eram vistos com desconfiança pelos estrangeiros, que não 
entendiam esta nova crença, de pessoas que nem mesmo 
tinham um templo ou um ídolo para adorar e falavam de um 
homem santo, que era um Deus e morrera para salvar os 
homens. Não tinham recursos, pois haviam abandonado seu 
meio de vida na cidadede origem, portanto apesar de terem 
uma cultura de pessoas trabalhadoras, eram refugiados. 
À medida que estes homens, com sua fé, motivavam os 
moradores das cidades que os recebiam a aprender sobre Jesus 
e tornarem-se cristãos, tinham que cuidar de que não 
houvessem distorções causadas por interpretações 
equivocadas, estimuladas principalmente por homens 
ambiciosos, que adaptavam os ensinos cristãos às suas crenças 
e filosofias dentro das novas congregações. Um atento exame 
das cartas de Paulo, e das do próprio João, demonstram 
claramente como isto vinha ocorrendo com demasiada 
frequência, enquanto os apóstolos ainda estavam vivos. 
Desvendando o mistério da trindade 
 31 
 
Neste contexto era fácil ocorrerem mudanças nos ensinos, 
felizmente o Espírito Santo orientava os apóstolos a escreverem 
cartas que norteavam as congregações sobre como a fé cristã 
devia ser exercida. 
Morre o apóstolo João 
Mas João, o último dos apóstolos de Cristo morre por volta do 
ano 100 E.C. e não há evidências, nem provas, de que 
houvessem sucessores apostólicos, apesar da tradição tentar 
estabelecer este elo, sem fatos que corroborem esta asserção. 
Reflita sobre este fato: se era difícil para os apóstolos manter a 
unidade na fé, imagine como seria sem eles. Não demorou 
muito após a morte de João para um sem número de doutrinas 
estranhas aparecerem dentro das congregações, gerando 
discussões enormes e duradouras, com disputas para se 
estabelecer quem tinha razão, qual era a doutrina correta, além 
disso, o cristianismo começou a se alastrar como uma praga nos 
domínios romanos, interferindo na vida política de vários locais, 
pois ao se tornarem cristãos, os adeptos da nova fé mudavam 
radicalmente de proceder, abandonando hábitos e práticas 
comuns, o que afetava o comércio e incomodava aos pagãos, 
que passavam a criar problemas para a ordem pública com 
protestos a esta nova fé. 
Leia em sua Bíblia os textos de Atos 20:29 e 2 Tessalonicenses 
2:3-5 e confirme como as mudanças doutrinais, adaptações e 
distorções cumpriam com precisão as profecias, tanto de Jesus, 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
32 
 
quanto de Paulo, sobre lobos vorazes adentrarem à 
congregação e não tratarem o rebanho com ternura, impondo 
seu ponto de vista. Apenas para mencionar algumas das formas 
de pensar que assolaram a congregação cristã, note um 
comentário sobre a obra de Ireneu de Lyon, “Contra as 
heresias”: Dessas informações de Irineu e dos outros Padres que também 
tiveram que combater aqueles hereges (especialmente são Hipólito de Roma 
e são Epifanio de Salamina), se deduz que foi tal a quantidade de grupos 
(simonianos, nicolaítas, ofitas, naazenos, setianos, peratas, basilidianos, 
caropocratianos, valencianos, marcosianos) e mestres (Simão, Cerinto, 
Basílides, Carpócrates, Cerdão, Valentim, Tolomeu, Teodato, Herácleo, 
Bardesanes...), que caíram sob a designação de “gnósticos”, e que apenas de 
uma forma muito genérica se lhes pode agrupar sob um qualificativo 
comum. Das obras heréticas “gnósticas” descobertas em 1945 em Hag 
Hammadi (alto Egito) - cerca de quarenta – tira-se uma impressão parecida; 
cada obra contém a sua própria orientação doutrinal herética. 
Fonte: http://www.multimedios.org/docs/d001092/p000002.htm#1-p0.1.2.666 
 
Interpretações diferentes, muitas vezes conflitantes, em 
congregações diferentes, por diferentes homens, foram 
tomando forma e sendo apresentadas como verdade. Uma 
demonstração desta realidade está na comparação entre o 
credo pregado ao novo membro de uma congregação, 
conforme relata Heussi, em seu estudo Kompendium der 
Kirchengeschichte à pg. 44: “Por volta do ano 50, pertencia à 
igreja quem tivesse recebido o batismo e o Espírito Santo e 
atribuísse a Jesus o nome de Senhor. Já por volta de 180, 
membro da igreja era aquele que aceitasse a “regra de fé” 
Desvendando o mistério da trindade 
 33 
 
(credo), o cânon do Novo Testamento e a autoridade dos 
bispos”. Fonte: História da Igreja Cristã: Vol. 1 pg. 88 – Willinston Walker 
Ao longo dos 350 anos seguintes vários destes diferentes 
modos de explicar a divindade de Jesus surgiram e sua 
verdadeira identidade foi se alterando, passando pelo concílio 
de Nicéia e a uma definição, tida como universal pelas igrejas 
dominantes no império Romano, sobre a pessoa de Deus e 
culminando no concílio de Calcedônia. Este período é crucial 
para entender o surgimento desta doutrina estranha e de difícil 
compreensão para uma mente honesta e investigativa. 
Conheça agora um pouco da história daquele que foi, segundo 
os eruditos, o primeiro promotor da trindade: Ireneu de Lyon. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
34 
 
 
CAPÍTULO 3 – Ireneu de Lyon (130-202 E.C.) 
 
De acordo com os defensores da trindade, a introdução de uma 
fórmula trinitária na forma de se referir a Jesus e a Deus ocorre 
80 anos depois da morte do apóstolo João com Ireneu de Lyon, 
no ano 180 E.C. 
Ireneu de Lyon 
Ireneu de Lião, em grego Εἰρηναῖος [pacífico], em latim Irenaeus, (c. 130 — 
202), cristão considerado um dos pais da Igreja, teólogo e escritor que 
nasceu, segundo se crê, na província romana da Ásia Proconsular - a parte 
mais ocidental da atual Turquia - provavelmente Esmirna. Tanto a Igreja 
Católica quanto a Igreja Ortodoxa consideram-no santo.* 
Biografia 
As escassas informações existentes nos informam que ainda muito jovem, 
Ireneu foi discípulo do bispo Policarpo (?-155) em Esmirna o qual, por sua 
vez, segundo uma tradição atestada por Papias, fora discípulo de João 
Evangelista. Durante a perseguição ordenada por Marco Aurélio, Ireneu era 
um presbítero na igreja de Lyon, naquela época chamada Lugdunum, na 
Gália. O clero da cidade, enquanto enfrentava franca perseguição o enviou 
(em 177 ou 178) a Roma, com carta a Eleutério testemunhando sobre os 
muitos méritos do Montanismo. De retorno à Gália, Ireneu sucedeu o mártir 
Potínio como bispo de Lyon. 
*Observação: Não adoto o designativo “Santo” à frente dos nomes, como faz 
a igreja Católica, pois não considero necessária esta designação. 
Naturalmente a igreja ao se referir a “santos” releva a orientação de Deus 
em: Levítico capítulo 11 verso 44 que é dirigido ao povo de Deus e sobre a 
qual o apóstolo Pedro em sua 1ª carta, no capítulo 1 verso 16, lembra aos 
cristãos: ...porque está escrito: “Tendes de ser santos, porque eu sou santo.” 
Desvendando o mistério da trindade 
 35 
 
Portanto creio que todos os cristãos verdadeiros devem ser santos. Não 
apenas os que tiveram destaque por qualquer motivo que seja, portanto não 
há porque exacerbar esta distinção. 
Observe duas coisas curiosas neste trecho de sua biografia: 
1ª Há poucas informações existentes sobre Ireneu e seus 
escritos, mesmo assim, o clero cristão, tanto católico, quanto 
ortodoxo (oriental) e protestante, se refere a ele como o 1º a 
definir e defender “claramente” a trindade, tendo-se passado 
mais de 80 anos da morte de João o último apóstolo. 
2ª Ele vai a Roma com carta que testemunha positivamente 
sobre o Montanismo, uma doutrina estranha aos apóstolos 
originais, mas difundida agora como tendo méritos... 
Neste momento, reflita sobre as influências externas que 
adentraram à congregação cristã e das quais Ireneu, apesar de 
ser um cristão zeloso, involuntariamente se torna promotor, 
apoiador ou mero simpatizante: 
Montanismo é um movimento cristão do segundo século fundado por 
Montano. Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo e, 
por isso, profetizavam. Esse movimento surgiu na Frígia (Ásia Menor 
Romana, hoje Turquia), pelos anos 170 d.C. Havia duas mulheres, Priscila e 
Maximila, que eram as porta-vozes proféticas de Montano e dizia-se que o 
Espírito Santo falava através delas. Fizeram muitas predições proféticas 
enganosas, pois jamais foram cumpridas, como a de que a aldeia de Pepuza, 
na Frígia, seria a Nova Jerusalém. Proibiam certosalimentos, exigiam jejuns 
prolongados e não permitiam o casamento de viúvas, como também 
negavam o perdão de pecados graves ao novo convertido, mesmo após o 
batismo (com confissão e arrependimento). Montano queria fundar uma 
nova ordem e reivindicar seu movimento como sendo um movimento 
especial na história da salvação. O principal motivo de Montano era lutar 
contra a paralisia e o intelectualismo estéril da maioria das igrejas 
organizadas na época. Infelizmente, ele também caiu em extremos 
enganosos. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
36 
 
Esse movimento foi condenado várias vezes por vários sínodos de bispos, 
tanto na Ásia Menor como em outros lugares.- grifo acrescentado. 
A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao norte 
da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano o maior 
teólogo de então. 
Continuando a biografia de Ireneu: 
Durante a trégua religiosa subsequente à perseguição de Marco Aurélio, o 
novo bispo dividiu seu tempo entre deveres como pastor e missionário (do 
que temos poucas e incertas informações) e os seus escritos, quase todos 
dirigidos contra a heresia do Gnosticismo, que começava a se espalhar pela 
Gália. Em 190 ou 191, intercedeu junto a Vitor, líder da igreja em Roma, para 
suspender a sentença de excomunhão imposta sobre as comunidades de 
cristãos na Ásia Menor, que continuavam as práticas dos Quartodecimanos - 
que desejavam celebrar a Páscoa numa data própria. 
Ignora-se a data de sua morte, que deve ter ocorrido no fim do século II ou 
início do século III. Testemunhos isolados e tardios nesse sentido indicam 
seu martírio por volta de 202 d.C. quando do reinado de Setímio Severo ou 
nas mãos de hereges. 
Observe novamente que há uma variedade de doutrinas, 
dissidências e seitas se formando dentro das congregações, isto 
nos faz lembrar o que o apóstolo Paulo disse sobre as seitas em 
sua 1ª carta aos Coríntios, capítulo 11 versos 18 e 19: Pois, em 
primeiro lugar, ouço que, ao vos reunirdes numa congregação, 
existem divisões entre vós; e até certo ponto acredito nisso. 
Porque também tem de haver seitas entre vós, para que os 
aprovados também se tornem manifestos entre vós. 
O primeiro concílio regional a se reunir ocorreu em 197 E.C em 
Cesareia para decidir sobre as chamadas heresias de Marcião, 
Montano e Basílides. 
Ireneu era um dos que viam florescer seitas de vários tipos 
dentro da congregação, que já contava 140 anos das palavras 
Desvendando o mistério da trindade 
 37 
 
de Paulo. Note agora como os historiadores se posicionam 
sobre a obra de Ireneu: 
A Obra Teológica 
Ireneu escreveu em grego a sua obra, que lhe veio assegurar lugar de 
prestígio excepcional na literatura cristã devido, não só, às questões 
religiosas controversas de importância capital que abordou, bem como por 
mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras gerações 
cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas muitos 
fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito de 
Roma e Eusébio de Cesaria. - grifo acrescentado 
Duas de suas principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas 
versões latinas e armênias: a primeira é a "Exposição e refutação do 
pretenso, mas falso conhecimento", em português conhecida como "Contra 
as Heresias" por ser frequentemente conhecida e citada pelo seu nome 
latino de "Adversus Haereses". 
É uma obra para combater o Gnosticismo. Em seus cinco livros, expõe de 
início as doutrinas gnósticas, com referências às suas distintas seitas e 
escolas nascidas nas comunidades cristãs. Ao refutar as versões mais 
importantes (de Valentim, de Basílides e de Marcião) Ireneu frequentemente 
opõe a elas a doutrina da Igreja da sua época, dando-nos, deste modo - pelo 
seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -, testemunhos indiretos e 
diretos relevantes acerca do que então era tido como a "doutrina eclesial". 
Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que dizem 
respeito ao Evangelho de João, à Eucaristia e à primazia da Igreja Romana. 
Ireneu termina esta obra defendendo a ressurreição da carne, escândalo 
máximo para os gnósticos. Dos originais restaram fragmentos, e há 
traduções latinas e armênias. Até a descoberta, em 1945, da chamada 
Biblioteca de Nag Hammadi, esta obra de Ireneu era a melhor descrição das 
correntes gnósticas do início da era cristã. 
A sua segunda obra é a "Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico", 
breve texto, cujo conteúdo corresponde na perfeição ao seu título. Há dela 
uma muito antiga tradução, literal, em armênio. Ireneu não quer nela 
refutar as heresias, mas confirmar aos fiéis a exposição da doutrina cristã, 
sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho por meio de profecias do 
Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já não tenha sido dito 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
38 
 
em "Adversus Haereses", é um documento de grande interesse e magnífico 
testemunho da fé profunda e viva de Ireneu. 
Do restante da sua obra seguinte, apenas existem fragmentos espalhados. 
Muitos só se conhecem por menção a eles feita por outros escritores. São 
eles: 
• Tratado contra os gregos, intitulado "Sobre o Conhecimento", 
mencionado por Eusébio de Cesareia; 
• Documento dirigido ao sacerdote romano Florinus "Sobre a 
Monarquia, ou como Deus não é a causa do Mal" com fragmento na 
"História Eclesiástica" de Eusébio; 
• Documento "Sobre Ogdoad", provavelmente contra o "Ogdoad" do 
gnóstico Valentim escrito para o mesmo supra-citado sacerdote Florinus, 
que aderira à seita dos Valentinianos do qual há fragmento em Eusébio; 
• Tratado sobre o cisma dirigido a Blastus (mencionado por Eusébio); 
• Carta a Vítor contra o sacerdote romano Florinus (fragmento em 
siríaco); 
• Carta a Vítor sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em 
Eusébio); 
• Cartas a vários correspondentes sobre o mesmo tema 
(mencionadas por Eusébio; fragmento preservado em siríaco); 
• Livro com numerosos discursos, provavelmente uma coleção de 
homilias (mencionado por Eusébio); 
Traços de um pensamento 
Para Ireneu, há somente um Deus (Théos) e não um Deus e um demiurgo ou 
"ser divino" (theios) como era propagado pelas correntes gnósticas. Para 
estas, de fato, a Criação é obra do demiurgo - δημιουργός em grego, 
demiurgus em latim – (para os gnósticos Yhawah era o demiurgo, um filho 
de Deus, um Deus menor, seguido pelos judeus) era pois, fruto do seu 
pessimismo diante da matéria criada, não concebiam que a Divindade 
pudesse contatar com a mesma(carne) (Adversus Haereses I, 5, 1-6). Ireneu 
sublinha não só a identidade entre Deus e o Criador (Adversus Haereses V, II, 
1, 1; IV, 5, 2-4) e que, assim, todo o Universo provém do bem e tem em vista 
Desvendando o mistério da trindade 
 39 
 
o bem, mas igualmente que a Criação não era, como diziam os gnósticos, 
fruto de um erro de concepção inicial: «neque per apostasiam et 
defectionem et ignoratiam» (Adversus Haereses II, 3, 2). 
Em defesa da fé em um Deus Criador e com propósitos, 
certamente Ireneu merece elogios pelo seu esforço sincero, 
mas observe que ao realizar sua defesa, ou o que se acredita 
tratar sua defesa, pelos poucos fragmentos existentes do 
conteúdo original, Ireneu incorreu em algumas distorções. Ao 
combater a tese gnóstica de um demiurgo, mesmo buscando 
mostrar a superioridade do Pai, Ireneu dá margem a que seus 
leitores apreendam de seus comentários uma defesa da união 
entre Deus e Cristo, entre o Pai e o Filho como sendo um só 
Deus, não há como validar esta tese por meio da Bíblia e de 
fato ele não o faz, observe: 
Sobre a Trindade 
"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. 
Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de 
toda a criação" (Contra as Heresias IV,20,4). Ireneu afirma a igualdade de 
essência e dignidade entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo (Adv. Haeres., II, 
13, 8). Fonte: http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16232Nos comentários de Ireneu não há uma demonstração 
inequívoca de um único Deus em diferentes hipóstases (palavra 
desconhecida da Bíblia e implantada posteriormente por 
Tertuliano) é mais apropriado dizer que há um erro de 
interpretação sobre as afirmações feitas por Ireneu, pois ao se 
referir a Deus e Cristo estarem juntos e terem a mesma 
dignidade e essência, em nenhuma hipótese isto significa 
“serem” o mesmo ou componentes de uma única deidade. 
Recorrendo a uma análise feita por outro comentarista católico, 
peço que você leitor reflita sobre as alegações feitas por 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
40 
 
eruditos religiosos ao considerarem os escritos de Ireneu como 
“a primeira exposição explícita da trindade”: 
A REGRA DA FÉ 
Nos autores cristãos do fim do século II, encontramos outra forma 
considerável de tradição apostólica. O que eles designam como "regra da fé" 
não abrange o depósito inteiro deixado pelos apóstolos, porém é mais 
preciso na expressão de suas principais linhas doutrinais. 
Autores do fim do século II, como Ireneu de Lião, mencionam, com certa 
frequência, que suas igrejas possuem um conhecido "cânon de verdade", 
isto é, estrutura e conteúdo fixo de ensinamento eclesial ou, mais 
simplesmente, uma "regra de fé" (regula fidei). Alguns desses autores 
fornecem sumários dos ensinamentos principais, expressos em termos 
variáveis, mas com os mesmos traços fundamentais. A regra é crer em Deus, 
Pai onipotente, criador de tudo que existe; crer em Jesus Cristo, o Filho que 
se encarnou para nossa salvação; crer no Espírito Santo, que falou - por meio 
dos profetas - do nascimento, paixão, ressurreição e ascensão de Cristo, da 
futura ressurreição, e da futura manifestação de Cristo na glória, como juiz 
de todos. 
A regra de fé, no final do século II, não era um símbolo ou confissão com 
fórmula de palavras fixas, se bem que confissões mais concisas se estavam 
transformando, em conformidade com a regra. Esta exprime o conteúdo 
central que a fé abraça como proveniente de Cristo, por intermédio de seus 
apóstolos e da Igreja. A fé se torna, pois, uma regra, com a qual devem ser 
confrontadas novas formulações de ensinamento, para verificar a coerência 
destas, pelo menos com os artigos básicos de fé sobre Deus e sua obra. 
Para a teologia, a regra de fé tradicional mostra a unidade da revelação 
bíblica de Deus, de si mesmo e de sua obra salvífica. Mostra que a reflexão 
dos crentes pós-apostólicos não se chocava com fragmentos esparsos de fé, 
mas possuía, ao contrário, uma visão coerente de Deus, da criação e da vida 
humana no mundo. 
Um momento fundamental no trabalho teológico cristão é dar uma 
explicação de Deus e de seu plano para a humanidade. A teologia tem em 
vista uma nova penetração do significado dos artigos de fé e das numerosas 
relações entre eles e com a vida humana do mundo. A teologia também fica 
Desvendando o mistério da trindade 
 41 
 
à procura de uma síntese renovada. Determinada estrutura, porém, e certa 
ordem surgem do interior da própria fé, cujo ato fundamental se apropria de 
uma síntese primordial contida na regra de fé apostólica. 
Fonte: http://www.veritatis.com.br/article/3832. 
 
Se há uma regra de fé a ser defendida, e Ireneu certamente a 
conhecia, era e ainda é, que tudo o que se registrou na Bíblia 
sob orientação de Deus foi preservado para nossa instrução e 
deve ser seguido pelo cristão sem que nenhum dogma 
desenvolvido por homens em qualquer época deva modificá-la. 
Como apropriadamente mencionado no texto de referência 
acima, Ireneu cria que: “A regra é crer em Deus, Pai onipotente, criador 
de tudo que existe; crer em Jesus Cristo, o Filho que se encarnou para 
nossa salvação; crer no Espírito Santo, que falou - por meio dos profetas - 
do nascimento, paixão, ressurreição e ascensão de Cristo, da futura 
ressurreição, e da futura manifestação de Cristo na glória, como juiz de 
todos.” 
Lendo seus escritos com atenção não se encontra em nenhum 
trecho o que lhe atribuem certos eruditos e religiosos: que ele 
defendesse e originasse a doutrina da trindade. Quando Ireneu 
se refere à narrativa bíblica sobre a economia divina, que trata 
assim o fato de que em certos trechos bíblicos só há relatos da 
ação do Pai, ora do Filho, ora do Espírito Santo, Ireneu o faz 
como quem reconhece que tanto Filho, quanto o Espírito Santo 
agem “em nome” ou “sob a autoridade” do Pai e para a glória 
do Pai e em nenhum instante ele inste em que adorar a um, 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
42 
 
seja o mesmo que adorar aos outros ou que um e outro são o 
mesmo em diferentes apresentações. 
Ao contrário são entidades absolutamente distintas e únicas em 
suas próprias características e com personalidades distintas, 
associadas meramente por um único propósito. 
A distorção de suas palavras e a “interpretação de suas teses”, 
mesmo as distantes dos registrados pelos apóstolos, macula a 
memória do cristão zeloso, que certamente Ireneu foi. 
Uma obra de referência comenta: Deus é o Pai de todas as coisas, 
inefavelmente um, e todavia contendo em si mesmo desde toda a 
eternidade a sua Palavra e a sua Sabedoria. Porém, ao dar-se a conhecer ou 
por-se em atividade na criação e na redenção, Deus manifesta esta Palavra e 
esta Sabedoria; como o Filho e o Espírito, elas são as suas mãos, os veículos 
ou formas da sua auto-revelação. A Palavra ou o Verbo é visto como 
Mediador. O Pai esta "acima de tudo", enquanto que a Palavra é 
"através de todas as coisas". O Pai esta de algum modo "fora" do 
mundo e a Palavra parece um poder intermediário através de quem 
Deus se relaciona com o mundo e atua nele. A Palavra é o Mediador da 
revelação: O Deus invisível e incompreensível não é dado a conhecer 
diretamente, mas através da sua Palavra. - grifo acrescentado 
Observe que a dedução é de livre “interpretação” de quem 
concebeu a obra de referência e não do texto de Ireneu e a 
obra continua em sua “interpretação” sobre o significado dos 
comentários dele: 
Irineu não fica inteiramente satisfeito com esta linguagem. A sua oposição 
ao gnosticismo o torna avesso a qualquer sugestão de que existe mais de 
Desvendando o mistério da trindade 
 43 
 
uma substância divina ou de que Deus está de algum modo separado do seu 
mundo. 
Infelizmente não se apresenta aqui nenhuma prova desta 
argumentação vinda diretamente das palavras de Ireneu. 
Continuando: 
Assim, repudia todas as tentativas de se explorar o processo pelo qual o 
Logos/Verbo foi gerado. Tal linguagem parece sugerir que o Logos é um 
estado intermediário entre Deus e a criação e parece implicar em 
distinções de grau dentro da Divindade. 
Qual linguagem? “Parece sugerir” e “parece implicar” para 
quem? O fato de que Ireneu repudiou as tentativas de explorar 
o processo, não faz com que Ireneu proponha uma alternativa 
válida, baseada no texto Bíblico, muito menos invalida o 
processo em si, claramente descrito nas escrituras. Além disso 
se esta inferencia estiver correta, significa que Ireneu 
simplesmente ignorou os textos de Hebreus 1:5 e 5:5, salmo 2:7 
e João 3:16, que demonstram claramente que Jesus é o filho 
unigênito de Deus, ou seja o único filho gerado diretamente por 
Deus. 
 ...Comenta ainda: Irineu também fala do "Pai que planeja tudo bem e dá as 
suas ordens, o Filho que as executa e realiza a obra de criação, e o Espírito 
que nutre e faz crescer..." Vê-se aqui um esforço de preservar a igualdade 
do status divino entre o Filho e O Espirito exigida pela formula triádica. 
- grifo acrescentado 
Quem vê desta forma? Certamente alguém que já tem 
preconcebido na mente o conceito trino, pois um leitor vindo 
de outra cultura não conseguiria formular esta tese ao ler esta 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
44 
 
pequena frase de Ireneu. Pelo contrário discerniria claramente 
a hierarquia e autoridade do Pai sobre o Filho. 
Os Ortodoxos Gregos ao explicitar a própria interpretaçãosobre 
os escritos de Ireneu, abordam a trindade em seus escritos, 
sendo copiados pelos protestantes responsáveis pelo site 
“monergismo.net.br”, ambos baseados na obra de J.N.D.Kelly, 
fazendo-o da seguinte maneira: 
COMENTÁRIO GERAL 
Santo Irineu foi o teólogo que resumiu o pensamento do século segundo e 
dominou a ortodoxia cristã antes de Orígenes. A visão de Irineu da 
Divindade foi a mais completa e a mais explicitamente trinitária antes de 
Tertuliano. 
Conforme veremos, Santo Irineu, seguindo a Teófilo em vez de Justino, 
identificou o Espírito Santo com a Sabedoria divina, com o que pôde 
fortalecer sua doutrina da terceira pessoa com uma base escriturística 
segura. Com isto deixou uma imagem no fim do século segundo da 
Divindade, não de três pessoas co-iguais, mas de um único personagem, o 
Pai, que é a própria divindade, inefavelmente uno, contendo em si mesmo 
desde toda a eternidade o Verbo, sua mente ou racionalidade, e sua 
Sabedoria; o qual, ao manifestar-se, ou ao empenhar-se na Criação e 
Redenção, extrapolou e manifestou a estes como o Filho e o Espírito. 
 
Observe que Ireneu estabelece que O Pai, um único 
personagem é inefavelmente uno “e” contém em si mesmo 
desde toda a eternidade “o verbo” e sua “Sabedoria” o qual “ao 
manifestar-se” ou “empenhar-se na criação extrapolou e 
manifestou a estes...” 
Desvendando o mistério da trindade 
 45 
 
O que implica na geração do Filho que se dá em algum 
momento fora do tempo, esta geração é portanto uma ação do 
Pai, sem a qual não haveria uma pessoa ou hipostáse diferente 
chamada, ao ser transferida por este Pai para o ventre de 
Maria, Jesus Cristo. Portanto novamente há uma interpretação 
por parte dos trinitários, colocando palavras na boca de Ireneu 
que ele não emitiu. 
 
A DOUTRINA DE IRINEU 
Nos escritos de Santo Irineu encontramos que ele aborda Deus sob dois 
ângulos diferentes: Enquanto Ele existe em Seu ser intrínseco, e enquanto 
Ele manifesta a si mesmo na "economia", isto é, no processo ordenado de 
sua auto revelação. 
Do ponto de vista de seu ser intrínseco, Deus é o Pai de todas as coisas, 
inefavelmente uno e contendo em si mesmo desde toda a eternidade seu 
Verbo e sua Sabedoria. 
Do ponto de vista de sua auto-revelação, ou empenhando-se na Criação e 
na Redenção, Deus extrapola ou manifesta o Verbo e a Sabedoria. Estes, 
como Filho e Espírito, são suas "mãos", imagem sem dúvida tirada de Jó 
10,8: "Tuas mãos me fizeram, e me plasmaram todo"; e de Salmos 118,73: 
"Tuas mãos me fizeram e me formaram". 
Assim, Irineu afirma que... 
... "pela própria essência e natureza de Seu ser existe apenas um só Deus", 
enquanto que ao mesmo tempo, "de acordo com a economia de nossa 
Redenção existem tanto o Pai como o Filho", ao que poderia acrescentar: 
"e o Espírito Santo". 
REFERÊNCIAS: 
S. Irineu: Adversus Hereses 4,20,1-3; 
Idem: Demons. Pred. Apost. 47. 
 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
46 
 
Perceba que o extrato acima, contendo o comentário de 
Ireneu, é habilmente selecionado como um pequeno trecho, 
para “traduzir” uma “interpretação doutrinária”. 
 
A GERAÇÃO DO FILHO 
Em Irineu nós temos a concepção familiar aos apologistas do Verbo como 
racionalidade imanente de Deus que Ele extrapola na criação. 
Ao contrário dos apologistas, porém, ele rejeita as tentativas de se explicar 
a geração do Verbo, citando Isaías 53,8: "Sua geração, quem a narrará?" 
Além disso, ele coloca em relevo de uma maneira muito mais explícita a 
coexistência do Verbo com o Pai desde toda a eternidade mas, embora 
pareça claro que ele tenha concebido a existência de uma relação eterna 
do Verbo para com o Pai, em nenhum momento ele chegou a declarar 
que esta seria a geração do Verbo . - grifo acrescentado 
REFERÊNCIAS: 
S. Irineu: Adv. Hereses 2,28,4-6; 2,13,8; 2,30,9; 3,18,1; 4,20,1. 
 
Observe a grande dificuldade em encontrar dentre os 
comentários de Ireneu alguma frase que esclareça o significado 
da “geração” do Verbo, Ireneu rejeita as tentativas de se 
explicar a geração do Verbo, mas não consegue dar uma 
explicação alternativa sobre este fato, o que coloca em cheque 
sua tese quanto a Jesus ter exatamente a mesma essência, 
natureza e eternidade com o Pai, já que pelos seus escritos se 
pode inferir que Jesus “veio a ser” a partir do Verbo, além de 
não constar nenhum texto bíblico em apoio a esta 
argumentação. 
 
AS FUNÇÕES DO VERBO E DO ESPÍRITO SANTO: A CRIAÇÃO 
Desvendando o mistério da trindade 
 47 
 
O Verbo e o Espírito Santo, segundo Santo Irineu, colaboraram no trabalho 
da criação sendo, se tal fosse possível, as "mãos" de Deus, conforme 
vimos acima. 
Foi função do Verbo trazer as criaturas à existência, e do Espírito ordená-
los e adorná-los. 
REFERÊNCIAS: 
S. Irineu: Adv. Hereses 4, pref., 4; 5,1,3; 5,5,1; 5,6,1; 4,20,2; 
Idem: Demonst. 11. 
OUTRAS FUNÇÕES DO VERBO: REVELAR O PAI 
Afirma Irineu que "Deus é inefável, mas o Verbo o declara para nós"; e 
também: "o que é invisível 
no Filho é o Pai, e o que é visível no Pai é o Filho". 
Nas Teofanias do Velho Testamento foi realmente o Verbo que falou com 
os patriarcas. 
REFERÊNCIAS: 
S. Irineu: Adv. Hereses 4,6,3; 4,6,6; 4,9,1; 4,10,1. 
OUTRAS FUNÇÕES DO ESPÍRITO SANTO: INSPIRAR OS PROFETAS, REVELAR 
O VERBO, SANTIFICAR OS JUSTOS 
Afirma Santo Irineu que foi através do Espírito Santo "que os profetas 
profetizaram, e os justos foram levados ao caminho da justiça, e foi ele 
que nos fins dos tempos foi derramado de uma nova maneira, renovando 
o homem para Deus". 
Além disso, sem o espírito Santo, é "impossível ver o Verbo de Deus"; e 
também, "o conhecimento do Pai é o Filho, mas o conhecimento do Filho 
de Deus somente pode ser obtido através do Espírito Santo". 
Nossa santificação é totalmente obra do Espírito Santo, "o qual o Filho 
ministra e dispensa a quem o Pai quer e como quer". 
REFERÊNCIAS: 
S. Irineu: Demonst. 6,7. 
CONCLUSÃO: TRINITARIANISMO ECONÔMICO DE SANTO IRINEU 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
48 
 
É evidente que a abordagem dos apologistas e mesmo de Santo irineu não 
é muito clara quanto à posição do Filho e do Espírito Santo antes de sua 
geração ou emissão.. 
Por causa de sua ênfase na "economia", este tipo de pensamento recebeu 
posteriormente o nome de "Trinitarianismo Econômico". Especialmente 
no caso de Santo Irineu, esta expressão é correta, desde que não se 
presuma que a ênfase na "economia" impediu-o de reconhecer o 
mistério da trindade na unidade na vida interna da Divindade. - Grifo 
acrescentado 
 
Este trecho sem dúvida é auto-explicativo quanto às atribuições 
trinitárias feitas “posteriormente” pelos defensores desta 
doutrina aos comentários de Ireneu. O que me surpreende 
adicionalmente, além destas interpretações forçadas, é ler 
comentários como este: 
Para a teologia, a regra de fé tradicional mostra a unidade da revelação 
bíblica de Deus, de si mesmo e de sua obra salvífica. Mostra que a reflexão 
dos crentes pós-apostólicos não se chocava com fragmentos esparsos de fé, 
mas possuía, ao contrário, uma visão coerente de Deus, da criação e da vida 
humana no mundo. 
E então comparar com a fórmula atual, completamente 
desprovida de unidade com a revelação bíblica, chocando-se 
frontalmente com o que a Bíblia ensina e sem nenhuma 
coerência em seus diversos fragmentos e, principalmente, com 
a fé apostólica como haveremos de demonstrar. 
Ou como este: 
Um momento fundamental no trabalho teológico cristão é dar uma 
explicação de Deus e de seu plano para a humanidade. A teologia tem em 
vista uma nova penetração do significado dos artigos de fé e das numerosas 
relações entre eles e com a vida humana do mundo. A teologia também fica 
à procura de uma síntese renovada. Determinada estrutura, porém, e certa 
Desvendando o mistério da trindade 
 49 
 
ordem surgem do interior da própria fé, cujo ato fundamental se apropria de 
uma síntese primordial contida na regra de fé apostólica. 
E observar que não há uma explicaçãode Deus e seu plano que 
um leigo das principais igrejas da cristandade consigam 
explicitar, pois a “nova penetração do significado dos artigos de 
fé” que a teologia apresenta, apenas confunde as pessoas e as 
afasta da maravilhosa compreensão de seu Criador e do 
Governante empossado por Ele, Jesus Cristo. 
É evidente a um leitor honesto que atribuir-se a Ireneu a 
promoção da trindade é falsidade ideológica, o mesmo não se 
pode dizer de um escritor posterior, vamos conhecê-lo. 
 
Fontes: 
A Divina Tríade: Irineu de Lião e a Doutrina de Deus - Alderi Souza de Matos 
- 1997 
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/a_santissima_trindad
e_nos_escritos_dos_santos_padres_dos_primeiros_seculos.html#I 
 
 
 
 
 
 
 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
50 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 4 – Tertuliano (155-222 E.C.) 
 
No desenvolvimento doutrinário da trindade outro personagem 
relevante, é: Quintus Septimius Florens Tertulianus (155-222). 
Vamos conhecer um pouco de sua história: 
Tertuliano é um dos mais importantes e originais dos escritores latinos, 
tirando Agostinho de Hipona, nasceu por volta de 155, em Cartago, filho de 
pagãos. ...caracterizado como polemista e moralista, de grande produção 
cujos escritos foram fundamentais para fixar o léxico e a doutrina do 
cristianismo ocidental. Dedicado ao estudo das leis, recebeu esmerada 
educação e, aos vinte anos, seguiu para Roma, onde ampliou sua formação 
como jurista, exercendo advocacia. Converteu-se ao Cristianismo entre 190 
e 195, pondo a sua erudição ao serviço da fé. Dedicando-se ao estudo das 
Escrituras, da literatura cristã e profana, e dos tratados gnósticos, voltou à 
Cartago (196) e iniciou uma produtiva atividade literária voltada para a 
consolidação da igreja no norte da África, tornando-se o primeiro escritor 
cristão de sucesso escrevendo em latim. Seus textos e peças teatrais 
dirigiam-se contra os pagãos, idólatras, judeus e heréticos. No final da vida 
abandonou o cristianismo (207/210) e uniu-se à uma seita montanista 
ascetista e, posteriormente, criou seu próprio movimento religioso, o 
Desvendando o mistério da trindade 
 51 
 
tertulianismo, que permaneceu independente até o século V, e morreu em 
Cartago por volta de 222. 
De temperamento violento e enérgico, quase fanático, lutador 
empedernido, todos os seus escritos são polêmicos. Este temperamento, 
impressionado com o exemplo dos mártires, que o levou à conversão, 
permite compreender a sua passagem ao montanismo. 
Obras 
Tertuliano, como todo bom apologeta, experimenta ao mesmo tempo a 
necessidade de comunicar positivamente a essência do cristianismo. Por 
este motivo, adota o método especulativo para ilustrar os fundamentos 
racionais do dogma cristão. Ele os aprofunda de maneira sistemática, 
começando com a descrição do «Deus dos cristãos». «Aquele a quem 
adoramos é um Deus único», testifica o apologeta. E prossegue, utilizando 
os paradoxos característicos de sua linguagem: «Ele é invisível, ainda que 
possa ser visto; inalcançável, ainda que esteja presente através da graça; 
inconcebível, ainda que os sentidos possam concebe-lo; por este motivo é 
verdadeiro e grande» (Apologético 17, 1-2). 
Tertuliano também dá um passo enorme no desenvolvimento do dogma 
trinitário; ele nos deixou a linguagem adequada em latim para expressar 
este grande mistério, introduzindo os termos de «uma substância» e «três 
Pessoas». Também desenvolveu muito a linguagem correta para expressar o 
mistério de Cristo, Filho de Deus e verdadeiro Homem. 
O autor africano fala também do Espírito Santo, demonstrando seu caráter 
pessoal e divino: «Cremos que, segundo sua promessa, Jesus Cristo enviou 
por meio do Pai o Espírito Santo, o Paráclito, o santificador da fé de quem 
crê no Pai, no Filho e no Espírito» (ibidem 2,1). 
Seus 31 tratados preservados são textos fundamentais para a compreensão 
dos primeiros séculos do cristianismo. Podemos dividir o conjunto das suas 
obras em três grandes grupos: 
Escritos apologéticos (de defesa da fé contra os opositores): Aos pagãos, 
Apologeticum (a sua obra mas conhecida), De anima (O testemunho da 
alma), Contra Escápula, Contra os judeus. 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
52 
 
Escritos polêmicos: De praescriptione haereticorum (Sobre a readmissão dos 
heréticos), Adversus Marcionem (Contra Márcion), Adversus Hermogenem 
(Contra Hermógenes), Adversus valentinianos (Contra os valentinianos), O 
batismo, Scorpiace, A carne de Cristo, A ressurreição da carne, Contra 
Práxeas, A alma. 
Escritos disciplinares, morais e ascéticos: Aos mártires, De spectaculis (Sobre 
os espetáculos), O vestido das mulheres, A oração, A paciência, A penitência, 
À esposa, De exhortatione castitatis (A exortação da castidade), A 
monogamia, O véu das virgens, A coroa, A fuga na perseguição, A idolatria, O 
jejum, A pudicícia, O manto. 
Teologia 
Apesar de ser considerado por muitos o fundador da teologia ocidental, a 
verdade é que tal designação é exagerada, porque Tertuliano não tem 
propriamente um sistema teológico. De fato, para isso faltou-lhe o equilíbrio 
necessário para organizar os vários artigos da fé, assim como a preocupação 
pela coerência, pois não era do seu interesse conciliar a fé com a razão 
humana. 
A Fé e a Filosofia 
Para Tertuliano, a questão das relações entre a fé e a filosofia nem sequer se 
colocavam, pois entre ambas nada existia de comum. A filosofia era vista 
como adversária da fé, e os filósofos antigos como patriarcas dos hereges. 
Para ele, de fato, fé e razão opõem-se, e podemos encontrar na filosofia a 
origem de todos os desvios da fé. No entanto, é forçado a reconhecer que 
algumas vezes os filósofos pensaram como os cristãos, e denuncia algumas 
influências de correntes filosóficas antigas, nomeadamente do Estoicismo. 
É bem conhecida a frase credo quia absurdum. Apesar de ela não se 
encontrar nos escritos de Tertuliano, mas apenas algumas semelhantes, ela 
condensa bem o seu pensamento acerca da razão. Note-se que o seu 
Desvendando o mistério da trindade 
 53 
 
significado é não apenas "creio embora seja absurdo", mas sim "creio 
porque é absurdo". A verdadeira fé tem de se opor à razão. 
A teologia e o direito 
Tertuliano era jurista, advogado, e isso refletiu-se na sua teologia e nos seus 
escritos a dois níveis: 
1º no nível do método de argumentação: nascia na Igreja a procura duma 
argumentação precisa e cerrada, sem falhas, à imagem daquela usada nos 
tribunais. Foi Tertuliano que usou contra os hereges o argumento da 
prescriptio, que mostrava que apenas a Igreja unida a Roma provinha das 
origens, enquanto que todos os outros surgiram depois e são, por isso, 
falsificadores; 
2º no nível da linguagem: Tertuliano introduziu na teologia latina, e na da 
Igreja em geral, uma série de termos e conceitos provenientes do direito. 
Concebeu a vida cristã e a salvação à semelhança dum processo penal, em 
que Deus é o legislador, o Evangelho a lei, quem obedece recebe a 
compensação, quem desobedece torna-se culpado e é castigado. Tertuliano 
introduziu ou consagrou algumas distinções importantes, como por exemplo 
a de preceito e conselho evangélico. 
A regra da fé 
Para Tertuliano, a regra da fé constitui-se como lei da fé. Nos seus escritos 
encontramos fórmulas de dois elementos, com menção do Pai e do Filho, e 
outras de três, que acrescentam o Espírito Santo. As várias fórmulas 
apresentadas por Tertuliano, semelhantes entre si na forma e no conteúdo, 
mostram a existência dum resumo da fé próximo do símbolo batismal. 
Agora preste atenção a esta parte da história contada sobre 
este homem: 
A Trindade 
Antônio Rodrigues da Silva Neto 
54 
 
O maior contributo de Tertuliano para a teologia foi a sua reflexão acerca do 
mistério trinitário. Criou um vocabulário que passou a fazer parte da 
linguagem oficial da teologia cristã. Foi ele que introduziu a palavra 
“Trinitas”, como

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