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A Utopia de Thomas More Resumo

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A Utopia De Thomas More Resumo
Sir Thomas More nasceu em fevereiro de 1478, em Londres, e morreu decapitado em 1535, por ordem de Henrique VIII. Advogado, filósofo e membro do Conselho Secreto do Rei Hanrique VIII, Thomas caiu em desgraça ao não aceitar Henrique VIII como chefe supremo da igreja inglesa – cujo único motivo era o de divorciar-se, atitude renegada pela igreja católica. Mais tarde, em 1935, virou santo. Foi canonizado pela Igreja Católica e seu dia é 6 de julho. Paradoxalmente, Thomas More é considerado um herói na Rússia, onde lhe foi erigida uma estátua, por suas idéias socialistas expostas n’A Utopia. Ainda, em 1508, Erasmo de Roterdam dedicou-lhe sua obra “O Elogio da Loucura”. “A Utopia” foi publicada em 1516, sob o título original de “De Optimo Reipublicae Statu Decque Nova Insula Utopia” – O Tratado Da Melhor Forma De Governo, em latim. Utopia, que significa ‘lugar nenhum’, é baseada na “República” e nas “Leis” – ambas as obras de Platão. A Utopia inspirou Francis Bacon a escrever “Nova Atlântida” e Campanella a escrever “A Cidade Do Sol”. Thomas More lançou as bases do socialismo e criticou a situação de pobreza e miséria que a Inglaterra vivia diante dos abusos da nobreza. Pensando sempre no bem coletivo, More criou sua sociedade ideal baseado em princípios religiosos. É nítida sua influência na coleção de ensaios “A Desobediência Civil” de Henry Thoreau, lançada em 1849, exatos 333 anos depois – Thoreau publicou um texto chamado “Andar à Pé” no qual ele fala do cercamento dos campos, que More critica no ínicio de sua Utopia.
Livro Primeiro
“A Utopia” é uma conversa entre o xerife Thomas Morus e o viajante português Rafael Hitlodeu. Rafael estivera em várias partes do mundo, viajando com Américo Vespúcio, e conhecera diversas culturas e sociedades e “[…] homens vivendo em cidades sabiamente governadas…”. Por isso, para Rafael Hitlodeu era exagerada e descabida a forma como se aplicava a justiça aos ladrões na Inglaterra: a pena de morte fazia com que se visse o enforcamento de dezenas de pessoas todos os meses. No entanto, as pessoas persistiam nesse crime e o número de condenados nunca diminuía, só aumentava. Além de ser a pena desproporcionalmente maior do que o crime, Não resolvia o problema. Os camponeses expulsos do campo, os mutilados de guerra e os refugos da nobreza, todos precisavam comer, precisavam de abrigo para si e para suas famílias, mas não o tinham. A solução era roubar. E para Hitlodeu, o crime, punido com a morte, era imposto pela própria sociedade. A solução portanto, era parar de tirar dos camponeses e das pessoas, seus meios de vida. Era necessário acabar com o desemprego, afinal, ninguém roubaria se pudesse ganhar o próprio sustento. Os nobres exploravam os meeiros de suas terras, as guerras geravam mendigos mutilados e incapazes de tudo, e os próprio nobres, por não saberem gastar seu dinheiro, esbanjadores que eram, empobreciam; e quando um nobre morria, ficava largada à miséria a corte de parasitas que o seguia. Nestes entretanto via-se alguma utilidade, por isso recebiam favores, pois eram úteis como soldados, ao que se diz no discurso de Hitlodeu: “E é preciso considerar muito mais a paz do que a guerra”. Por fim, Rafael fala sobre a devastação e despovoamento dos campos causados pelos criadores de carneiros. A exigência de grandes pastagens para os rebanhos leva ao cercamento das terras, expulsando os camponeses de suas aldeias, inutilizando terras de cultivo e criando desemprego, transformando igrejas em estábulos, tudo em favor do negócio da lã. Sem trabalho, legiões de camponeses, homens, mulheres, velhos e crianças migram para as cidades, onde serão mendigos e ladrões que acabarão balançando uns na ponta da corda, e outros nas prisões, por vadiagem. Assim, a prosperidade na Bretanha torna-se em calamidade. Preços agrícolas sobem por falta de braço e consumo reduzido; sem as granjas, outros produtos também encarecem e até mesmo a lã passa por uma alta de preços – uma alta artificial, pois os produtores preferem armazenar o produto a vendê-lo a preços justos. Por fim, os bares, os bordéis e as casas de jogos arrematavam da população o pouco que lhes sobrava. Invocando a Lei Mosaica, Hitlodeu reforça que a pena de morte é um castigo desproporcional para o roubo, que na Bíblia é punido com multa, e que Deus proíbe aos homens que matem. No caso da pena de morte para o roubo, a consequencia é o aumento de homicídios, uma vez que o ladrão não desejará que hajam testemunhas para seu delito. Na Pérsia, diz Rafael Hitlodeu, os ladrões são presos e condenados a trabalhos forçados, e usam roupas que os diferenciam das pessoas livres.
Diante da sabedoria do protagonista da conversa, More pergunta a Hitlodeu por que motivo ele não trabalha para algum príncipe ou rei, como conselheiro? E é nesse ponto que são citados os Achorianos, vizinhos dos utopianos. Os achorianos, também habitantes da ilha de Utopia, por ordem e vontade de seu rei haviam se posto em guerra pela conquista de um reino cuja posse o rei reclamava para si por direito. Após conquistado o tal reino, problemas de toda ordem começaram a espoucar: rebeliões, guerra interna, pilhagens, banditismo e o fim da paz. A solução foi devolver o reino conquistado à sua antiga condição, para que não se perdesse o primeiro.
Citando Crasso, Hitlodeu esclarece o exemplo anterior, dizendo que não há limites para as ambições de um príncipe, e que no pensamento real, um povo acostumado à miséria e à indigência se satisfaz com pouco e não tem forças para organizar revoltas, apesar de afirmar que “a dignidade real consiste em reinar sobre homens prósperos e felizes, e não sobre mendigos”.
Hitlodeu – continua e cita os macarianos, outro povo vinzinho dos utopianos. Entre os macarianos o rei jura que nunca terá em seus cofres mais do que mil peças de ouro ou seu equivalente em dinheiro.
Qual príncipe ou rei desejaria seguir tais exemplos?, pergunta Hitlodeu, Nenhum, é a resposta. Portanto convém aos sábios que se afastem da política e sigam esse conselho de Platão, para que não façam papel de tolos.
A culpa de tudo está na existência da propriedade privada, diz Hitlodeu. Não existem nem justiça nem prosperidade numa sociedade que avalia tudo com base no dinheiro, pois a concentração de riquezas torna uns miseráveis e outros injustamente ricos e fartos. Este problema não existe entre os utopianos, que não cultivam a propriedade privada e compartilham seus bens, de modo a que todos possuem o suficiente para viver bem. A Constituição de Utopia tem poucas leis e todas voltadas para o bem comum e para a repartição dos bens. Platão compartilhava esse ponto de vista e recusou-se a escrever uma constituição para uma sociedade que mantinha a propriedade particular, um verdadeiro dano ao que é o público, ao que é justo, à igualdade social. A divisão de bens, com igualdade e justiça, é impossível enquanto existir a propriedade privada, graças a ela, a maior parte da população carrega o fardo da miséria, enquanto muito poucos vivem bem, exageradamente bem e na fartura. Na constituição utopiana a divisão de bens é igualitária e não há exclusão. A propriedade privada gera “ricos gananciosos, desonestos e inúteis ao Estado” que se beneficia mais do trabalho dos pobres, que gera a verdadeira riqueza. Mesmo limitando o quanto cada um pode possuir em dinheiro, em terras, cargos importantes, mesmo assim a cura estaria longe sem a supressão da propriedade privada.
Os utopianos nos chamam de ultraquinociais, e sua civilização é bem mais antiga do que a nossa. Conseguem, no entanto, aproveitar nossos bons costumes e práticas, enquanto nós estamos muito longe de imitá-los em seus melhores e mais proveitosos exemplos.
Livro Segundo
Quando o conquistador Utopus tomou posse das terras de Utopia, mandou cortar o istmo de 15 milhas entre Utopia e o continente, trasformando-a numa ilha. Assim, o mar ao redor da ilha esconde rochedos perigosíssimos, tornando o acesso à ilha impossível sem a ajuda de um guia que conheça profundamentea topografia marítima. Isso confere à Utopia um alto grau de segurança. Na ilha existem 54 cidades que compartilham a língua, os costumes, as leis e o aspecto. Amaurota é a capital, mas apenas por estar no centro da ilha e ser de fácil acesso. Todo ano três anciãos, reúnem-se na capital para deliberar sobre assuntos importantes para a ilha. Todas as cidades possuem sua zona de cultivo, na qual os todos os habitantes da cidade revezam-se no trabalho das terras. O ambiente rural é semelhante para todas as cidades e completamente equipado para o cultivo e a produção pecuária. As famílias agrícolas não possuem necessariamente laços de parentesco, pois são temporárias, e para cada grupo de 30 famílias é eleito um filarco. Por dois anos a família permanece a mesma, e ao final desse período seus membros retornam à cidade, sendo substituídos por outros. Apenas alguns permanecerão por mais tempo como instrutores. A produção agropecuária sempre produz um excedente que é dividido entre as cidades vizinhas. Quando a colheita se aproxima, os filarcos das comunidades rurais informam aos dirigentes urbanos o número de pessoas necessárias para o trabalho, e a multidão de ceifeiros que chega consegue realizar a colheita que os abastecerá por meses em apenas um dia.
Todas as cidades são iguais, descrever uma é descrever todas. Amaurota é cercada por uma larga e alta muralha, um fosso seco, também largo e profundo, um grande e impenetrável cinturão de sarça, e por fim um rio. As casas possuem três andares, e duas portas sem fechaduras ou trancas, pois nenhum domínio é privado e seus moradores mudam a cada dez anos. Nos jardins são cultivadas videiras, frutas, legumes e flores. Tudo planejado por Utopus. Toda a história da ilha está registrada em seus anais. Para cada dez filarcos há um protofilarco. As famílias elegem os filarcos, e dos duzentos filarcos um é eleito príncipe com cargo vitalício, a não ser que pise na bola querendo virar tirano. Os demais cargos são anuais. É crime discutir assuntos de interesse público fora do senado ou das assembléias, e os assuntos de particulares são discutidos principalmente entre o príncipe os protofilarcos, depois na assembléia dos filarcos e depois no conselho da ilha e por fim no senado.
A agricultura é a única atividade comum a todos. Todos devem ter um ofício à sua escolha, seja o da tecelagem, de pedreiro, de carpinteiro ou de ferreiro; e cada família fabrica suas próprias roupas.
As crianças, em geral, seguem o ofício dos pais, mas se desejarem podem aprender outra coisa, e serão educadas por outras famílias. Às mulheres são destinadas as tarefas mais leves. Além disso, qualquer um pode aprender mais de um ofício e exercer o que preferir, a menos que o Estado interfira (por necessidade). Os filarcos suprevisionam as atividades, de modo que ninguém fique ocioso nem trabalhe em excesso. O dia de trabalho dos utopianos consiste de três horas de trabalho pela manhã, duas horas de intervalo, três horas de trabalho pela tarde e oito horas de repouso que se iniciam pouco após o anoitecer. Nas horas de lazer, os utopianos estudam ou dão-se a jogos como o xadrez, ou trabalham voluntariamente.
A produção da ilha, apesar da curta jornada de trabalho, é abundante, porque todos trabalham e todos produzem coisas úteis.
Os cargos importantes na administração da ilha são destinados aos mais dedicados sábios e intelectuais; a manutenção dos imóveis é constante; as roupas são feitas para durar, assim como as estradas. Sem o consumismo e tomando-se tudo em conta por sua utilidade, não há futilidade na vida dos utopianos, que conseguem suprir suas necessidades com jornadas de trabalho curtas, divididas por todos na ilha, do maior ao menor.
A população segue um planejamento familiar e as províncias também. Uma família muito numerosa poderá compartilhar seus membros com uma família menor, e o mesmo acontece com a população das províncias: quando um lugar fica superpovoado há uma migração de pessoas para uma província menos populosa, e se fôr necessário – no caso de superpopulação na ilha toda – será solicitado aos índigenas que compartilhem suas terras para a formação de uma nova colônia fora da ilha. Em caso de recusa, os utopianos lutam pelo direito de uso de terras que não estão sendo ocupadas nem aproveitadas, pois acreditam que nesse caso a necessidade se sobrepõe à vontade.
Na família a autoridade é sempre masculina. O homem mais velho – e lúcido – é o que toma as decisões e vai ao mercado buscar os suprimentos para a família. A mulher, quando se casa, passa a morar com a família do marido. No mercado, os escravos sacrificam os animais e providenciam a carne. As refeições, em geral, acontecem em grandes salões feitos para esse fim, com escravos realizando as tarefas mais sujas para os utopianos. Primeiro são servidos os doentes, depois os idosos, e assim por diante. Os adolescentes ocupam-se dessa tarefa. As refeições são equilibradas e servem como ponto de encontro e socialização para os utopianos. Já no campo, as refeições são feitas em casa.
Quem deseja visitar pessoas que moram em outras províncias pede autorização aos filarcos e recebe condução – uma carroça e um escravo para sua empreitada. Não é preciso bagagem, pois nada lhe faltará pelo caminho, será acolhido em qualquer lugar. Em troca, onde parar porá seus serviços à disposição, como se estivesse em sua cidade. Seguindo essa regra podem viajar por todos os territórios de sua região. Em Utopia não há cabarés, nem casas de jogos, nem tavernas, nem nada do tipo. A vida das pessoas é pública, e isso afasta comportamentos reprováveis. O resultado disso é que não existem mendigos nem indigentes.
Utopia faz comércio com o exterior, exporta seus excedentes em troca de alguns poucos produtos escassos na ilha (ferro, por ex.). Uma parte de sua produção é doada aos pobres do país com o qual estão negociando. Os ganhos de suas negociações são destinados a um fundo de guerra que pode ser emprestado a seus vizinhos em caso de necessidade. Os utopianos também empregam seus ganhos no pagamento de soldados estrangeiros contratados, no caso de uma guerra, e não hesitam em aplicar altas somas em espionagem ou para provocar traição entre os oponentes, a fim de derrotarem seus inimigos mais rapidamente e com o menor número de perdas possível, mas não usam a moeda no seu dia-a-dia.
Enquanto seus pratos são de barro, seus urinóis e as correntes que prendem os escravos são de ouro. Os criminosos devem usar anéis e brincos de ouro, o que os identifica; e as crianças são enfeitadas com pérolas. Quando chegaram em Amaurota três embaixadores de Anemolia com um séquito de cem homens, usando roupas suntuosas, ouro e jóias, a população utopiana viu apenas um bando de homens usando objetos que serviam para marcar os infames, os criminosos, e enfeites infantis. O luxo era a própria vergonha.
De nossa cultura, os utopianos pouco sabem. Sua filosofia questiona a essência da felicidade humana, se é una ou múltipla, sempre ligada à religião. Nada sabem nem querem saber de astrologia, mas conhecem bem as mudanças de tempo. Discutem sobre o corpo e a alma, que acreditam ser imortal, acreditam em Deus e na vida após a morte, com recompensas para os bonzinhos e punição para os maus. Seu lema é trabalhar pela comunidade e zelar pelo cumprimento das leis, desde que não tenham sido criadas por tiranos. O bem comum está acima de tudo, e os acordos entre particulares são honrados sempre. A razão e a sabedoria de uma vida regrada, mas não ao extremo, levam ao agradável, que para os utopianos é o mesmo que prazer. Eles combatem a vaidade em favor da pureza, e chamam doidos aos que amam as gemas e a riqueza. Na mesma categoria de doidos também se encaixam os que se acham nobres de herança ou por título deixado, pois trata-se de nobreza imaginária, sem esforço; o entesouramento é uma aberração, visto que acumula-se coisas que jamais serão usadas e ainda por cima causam a privação de outros. Jogar e matar criaturas vivas também são considerados prazeres imagináriose baixos. A natureza do prazer está ligada ao agradável que não causa prejuízo algum, e não podem ser considerados agradáveis hábitos oriundos de julgamentos alterados pela doença. O prazer divide-se em dois grupos, um que atende às necessidades fisiológicas, como a alimentação e a música, e outro que diz respeito ao repouso e ao equilíbrio, ou seja, a saúde, em seu mais alto grau é um prazer. A doença deve ser prevenida, para que se possa apreciar os verdadeiros dons da natureza: a beleza, a força, a agilidade, os prazeres que entram pelos sentidos. Para os utopianos, prazer e dor são inconciliáveis, e aquele que não cuida de si mesmo está no auge da loucura.
Sempre em busca de melhoria de vida, são amigos do progresso, mas não destroem uma floresta sem plantar outra. Seu progresso faz uso do trabalho escravo, mas seus escravos são escravos por terem praticado atos desprezíveis, ou são condenados à morte em outros países, que os utopianos compram para o trabalho. Nunca são os povos conquistados ou subjugados tornados escravos. Também há escravos voluntários, que vêm de outras paragens, e todos são tratados com dignidade e decência pelos utopianos.
Seus doentes são tratados e cuidados até seus últimos minutos de vida, e, apesar de o suicídio ser desprezado pelos utopianos, aqueles acometidos por males terríveis e condenados a uma morte lenta e com pesados suplícios infligidos por doença, estes podem optar antecipar uma morte clemente.
A idade matrimonial é de 22 anos para as mulheres e de 26 para os homens. Amores clandestinos – fora do casamento – são severamente punidos, e as famílias dos culpados caem em descrédito e vergonha. Antes do casamento, diante de testemunhas, o casal pode-se ver nú, pois é considerado um direito saber com quem se viverá para o resto da vida. Após a aceitação de ambas as partes, o casamento não pode mais ser desfeito, e se um dos conjuges ficar desfigurado, o outro terá que tolerá-lo até o fim da vida. Os utopianos são, portanto monógamos; suas uniões só podem ser desfeitas pela morte ou pelo adultério, que é punido com servidão ou morte. O cônjuge inocente pode iniciar uma nova união. Quando é de mútuo acordo, um casal, com o consentimento do senado, pode separar-se.
Não há pena determinada de antemão para outros crimes. Tudo depende do Senado. Os maridos punem as mulheres, os pais punem os filhos, e os crimes mais graves são punidos com escravidão. Os condenados só são mortos em caso de rebelião.
Loucos são reverenciados por serem engraçados, e não se admite zombaria de pessoas com deficiência ou desfiguradas.
Homens eminentes são homenageados com estátuas, porém não há ostentação nenhuma nas vestes dos príncipes. Todos conhecem as leis e os exemplos dos utopianos, que cedem seus magistrados a pedido de povos vizinhos, por serem exemplos de moralidade. Os utopianos possuem poucas leis e não acreditam nem usam advogados: cada um defende sua própria causa diante do juiz, sem o uso de estratagemas e jogos de palavras. Os povos que aceitam utopianos como seus governantes tornam-se seus aliados e têm seu apoio e proteção incondicionais. Tratados são abominados pelos utopianos, pois os povos abaixo da linha do Equador os descumprem com muita facilidade, sua justiça é dúbia: uma para o povo simples e outra para os reis. ” […] os homens se aproximam mais fortemente, mais eficazmente, pela caridade do que por textos, pelo espírito do que por fórmulas.”
A disciplina militar faz parte da vida dos utopianos, que apesar de considerarem a guerra uma bestialidade, sabem muito bem defender-se. Quando envolvem-se em guerra é sempre por um bom motivo, defesa contra injúria ou abuso, ou para proteger seus aliados ou povos que sofrem repressão. Um de seus recursos de guerra é oferecer uma boa recompensa pela cabeça do rei inimigo ( através de seus espiões infiltrados ) que muitas vezes é traído por seus próximos, o que leva ao fim antecipado de uma guerra que poderia ser sangrenta. Caso a recompensa não surta efeito, eles também fomentam a discórdia entre povos vizinhos de modo que outros povos ataquem seus inimigos também. Quando seus aliados precisam de ajuda na guerra, enviam grandes quantidades de ouro e mercenários. Se precisam ir à guerra eles mesmos, podem ser acompanhados de suas esposas, e formam grupos que se ocupam unicamente de perseguir o príncipe inimigo até matá-lo (tropas especiais?). São ótimos estrategistas e respeitadores de tréguas e povos conquistados, mas os perdedores pagam os prejuízos.
Na ilha de Utopia há várias religiões. Uns veneram o Sol ou outro planeta, alguns veneram como deus um homem que tenha se destacado em vida, mas os sábios acreditam num Deus único chamado de Pai, ou Mitra, o criador supremo. Após o contato com os viajantes europeus, aderiram ao cristianismo, mas respeitam todas as religiões e permitem inclusive o ateísmo, desde que os ateus não queiram fazer alarde de seus pontos de vista, pois a religião e a crença na punição pelos erros no pós-morte são uma maneira de controlar a urbe. Além disso, uma das mais antigas leis utopianas proíbe que se fale mal de alguém por causa de sua religião. Alguns utopianos acreditam que os animais também possuem alma imortal, mas isso, de acordo com seus sábios, é um erro. Os mortos circulam entre os vivos, portanto tudo o que se faz é visto. Seus sacerdotes podem se casar ou viver em celibato, e a segunda opção é mais admirada que a primeira. O poder dos sacerdotes é limitado, estando sujeitos ao senado a maioria dos julgamentos e decisões da sociedade utopiana. Os sacerdotes, em seus templos que não contém imagens de deuses, nem símbolos que influenciem a imaginação dos fiéis, podem “excomungar” uma pessoa, mas nada além disso. Nos templos as pessoas usam roupas brancas e a música instrumental que lá é ouvida serve perfeitamente aos propósitos do espírito, pois é o som da perfeição musical que exorta o espírito à contemplação.
Entre os utopianos tudo é de todos e nada falta para ninguém, pois seus celeiros estão sempre cheios e tudo é dividido igualmente. “… não há indigentes, não há mendigos, ninguém possui nada, e no entanto rodos são ricos.”
E por aqui fica o relato de Rafael Hitlodeu, que segue para uma refeição na companhia do cidadão e vice-xerife de Londres, sir Tomás Morus.

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